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SALMONELLA

QUALIDADE ALIMENTAR E SAÚDE PÚBLICA


DOCENTE JOANA SANTOS

Joana Lopes, nº 17700

Mestrado em Engenharia Alimentar

2018/19
RESUMO
Este trabalho insere-se na disciplina de Qualidade Alimentar e Saúde Pública, na componente de
Microbiologia.

Como tal, a Salmonella é uma das maiores zoonoses do mundo, e a segunda com mais casos
reportados, tanto em humanos como em animais, na EU. É uma bactérica entérica, Gram (-),
conhecida por causar salmonellose, doença que resulta em graves intoxicações alimentares. A
maior parte das pessoas infetadas com Salmonella desenvolvem diarreia, febre e dores abdominais
12 a 72 horas depois da infeção. As crianças com menos de 5 anos, os idosos e as pessoas com
sistema imunitário debilitado são os grupos mais vulneráveis a esta bactéria.

De acordo com os relatórios da EFSA sobre zoonoses, agentes zoonóticos e surtos de origem
alimentar, tem-se observado uma tendência decrescente do número de casos reportados de
Salmonella, desde 2008, porém, no últimos, essa tendência não tem mostrado nem um aumento
nem diminuição estatisticamente significativo.

Além da análise aos relatórios sumários da EFSA desde 2006, este trabalho também aborda a
temática dos ovos como veículo de transmissão e as implicações da resistência antimicrobiana. Este
último, é um tema que é necessário ser mais estudado e acompanhado, pois cada vez mais surgem
serotipos multirresistentes a antibióticos, resultantes do uso inadequado de medicamentos e, deste
modo, a escolha de agentes antimicrobianos para o tratamento de infeções sistémicas é cada vez
mais restrita a um grupo cada vez menor de medicamentos.

Com este trabalho, podemos concluir que são necessárias ações rápidas e eficientes para que os
níveis de casos reportados e mortes por Salmonella diminuam. É muito importante fornecer
informações sobre esta bactéria aos consumidores, para que estes tenham consciência do perigo
quando ingerem e manuseiam este tipo de produtos. É também necessário tomar medidas para que
haja um maior controlo sobre o uso de antibióticos, de modo a tentar diminuir ou travar a
disseminação de serotipos com resistência antimicrobiana.

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ÍNDICE
Resumo.............................................................................................................................................. 1
Introdução .......................................................................................................................................... 3
Estudos sobre a Salmonella ............................................................................................................... 4
Relatórios sumários da EFSA sobre zoonoses, agentes zoonóticos e surtos de origem alimentar
.................................................................................................................................................... 4
Salmonella spp.: o ovo como veículo de transmissão e as implicações da resistência
antimicrobiana para a saúde pública ........................................................................................... 6
Prevalência de Salmonella em produtos de frango e ovos de galinha comercializados em
Pelotas, Brasil ............................................................................................................................. 8
Conclusões ........................................................................................................................................ 9

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INTRODUÇÃO
A Salmonella é uma bactéria que foi descoberta por um cientista americano chamado Daniel
Salmon. Esta bactéria é conhecida por causar doença há mais de 130 anos, doença essa chamada
salmonellose (FDA, 2017).

A Salmonella é um tema de interesse pois é uma bactéria entérica, Gram (-), responsável por
graves intoxicações alimentares, sendo um dos principais agentes envolvidos em surtos em vários
países (Shinohara et al., 2008). A maior parte das pessoas infetadas com Salmonella desenvolvem
diarreia, febre e dores abdominais 12 a 72 horas depois da infeção. A doença dura entre 4 a 7 dias
e grande parte dos doentes recuperam sem tratamento. Em alguns casos, a diarreia é muito
severa, levando os pacientes a serem hospitalizados. Nesses pacientes, a infeção pode espalhar-
se a partir dos intestinos para o sistema sanguíneo, e depois para outras partes do corpo. Nestes
casos, a Salmonella pode ser causa de morte, a menos que a pessoa seja tratada prontamente
com antibióticos adequados (CDC, 2019).

Segundo dados do relatório de vigilância de doenças transmitidas por origem alimentar de 2012 dos
U.S., as crianças com 5 ou menos anos de idade têm um risco mais elevado de infeção por
Salmonella do que qualquer outro grupo etário. Crianças, idosos e pessoas com sistema imunitário
debilitado são as mais suscetíveis de ter infeções severas (CDC, 2019).

O CDC estima que a Salmonella causa cerca de 1.2 milhões de doenças, 23000 hospitalizações e
450 mortes nos Estados Unidos, todos os anos. Os alimentos são a fonte para cerca de 1 milhão
dessas doenças (CDC, 2019). Na europa, segundo a EFSA (2018), 91662 casos de salmonellose
foram reportados em 2017, tendo havido um decréscimo de 2.9% relativamente ao ano anterior.

Entre os alimentos ditos como principais veículos de transmissão de Salmonella, estão os ovos, os
seus derivados e a carne de frango, sendo as aves consideradas o reservatório mais relevante
desta bactéria (Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira, 2005).

Vários são os fatores que contribuem para o aparecimento ou aumento da patogenicidade de várias
doenças. Entre eles, destacam-se o crescente aumento da população, grupos populacionais mais
vulneráveis e a necessidade de produção em grande escala de alimentos (Shinohara et al., 2008).

A principal preocupação e desafio, atualmente, é o aparecimento de serotipos multirresistentes a


antibióticos, resultantes do uso inadequado de medicamentos. Alterações nos serotipos refletem
mudanças na criação do animal e a disseminação de novos serotipos devido ao grande fluxo do
comércio mundial (Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira, 2005).

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ESTUDOS SOBRE A SALMONELLA
RELATÓRIOS SUMÁRIOS DA EFSA SOBRE ZOONOSES, AGENTES ZOONÓTICOS E SURTOS
DE ORIGEM ALIMENTAR
Fontes: EFSA (2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015a, 2015b, 2016, 2017, 2018)

TABELA 1 - RESUMO DOS RELATÓRIOS DA EFSA SOBRE ZOONOSES, AGENTES ZOONÓTICOS E SURTOS DE
ORIGEM ALIMENTAR, DESDE 2006 ATÉ 2017

Animais
Faixa Alimentos
Nº Nº Mortes Principal mais
etária com Serotipos mais
Ano casos/ casos/100000 reportadas origem dos reportado
mais mais comuns reportados
100000 em Portugal na EU casos na EU1 s pelos
incidência pelos MS2
MS
Carne de Galinhas
Sem Enteritidis Domésticos
2006 34.6 3.7 0-4 frango (21 poedeiras
informação Typhimurium (63.5%)
MS) (22 MS)
Sem Enteritidis Doméstica Carne de Reprodutor
2007 31.1 4.5 0-4
informação Typhimurium (65.1%) frango (20) es (23)
Galinhas
Sem Enteritidis Doméstica Carne de
2008 26.4 3.1 0-4 poedeiras
informação Typhimurium (63.6%) frango (25)
(26)
Galinhas
Enteritidis Doméstica Carne de poedeiras
2009 23.7 2.1 0-4 62
Typhimurium (62.4%) frango (24) e frangos
(27)
Galinhas
Sem Enteritidis Doméstica Carne de
2010 21.5 1.9 0-4 poedeiras
informação Typhimurium (63.1%) frango (25)
(27)
Carne de Galinhas
Enteritidis Sem
2011 20.7 1.6 0-4 56 frango, porco poedeiras
Typhimurium informação
e bovino (25) (27)
Galinhas
Enteritidis Carne de poedeiras
2012 22.2 1.8 0-4 61 Doméstica
Typhimurium frango (25) e frangos
(27)
Enteritidis Doméstica Carne de
2013 20.4 1.6 0-4 59 Galos (28)
Typhimurium (57.7%) porco (27)
Enteritidis Sem Carne de
2014 23.4 2.5 0-4 15 Galos (26)
Typhimurium informação frango (23)
Enteritidis Sem Carne de
2015 21.2 3.1 0-4 126 Galos (28)
Typhimurium informação porco (27)
Carne de
Enteritidis Sem
2016 20.4 3.6 0-4 128 frango e Galos (27)
Typhimurium informação
porco (26)
Carne de
Enteritidis Doméstica
2017 19.7 4.5 0-4 156 frango e Galos (27)
Typhimurium (57.7%)
porco (26)
Fontes: EFSA (2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015a, 2015b, 2016, 2017, 2018)

1 EU é abreviatura para União Europeia.


2 MS é abreviatura para Estados Membros.

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Foi criada uma tabela que sintetiza a informação sobre a Salmonella, dada pelos relatórios da EFSA
em relação às tendências e fontes de zoonoses, agentes zoonóticos e surtos de origem alimentar,
entre os anos 2006 e 2017 (tabela 1). Esta tabela foi divida em 6 colunas – ano, número de casos
por 100000 habitantes, número de casos por 100000 habitantes em Portugal, faixa etária com mais
incidência, serotipos mais comuns, principal origem dos casos na EU, alimentos e animais mais
reportados pelos MS.

Assim, segundo as informações recolhidas dos relatórios da EFSA e juntamente com a tabela 1,
vemos que 2006 foi o ano com maior número de casos reportados na EU (34.6). Ao longo destes 11
anos, tem-se observado uma tendência de decréscimo deste valor estatisticamente significativa,
apesar do número de casos reportados em 2014 (23.4). Contudo, durante os últimos 6 anos, essa
tendência não tem mostrado nenhum aumento ou decréscimo estatisticamente significativo.

Em relação ao número de casos por 100000 habitantes em Portugal, vê-se que este é muito
instável. Isto deve-se, possivelmente, ao facto de Portugal não declarar correta e devidamente os
dados das Doenças de Declaração Obrigatória (DDO), gerando erros epidemiológicos.

A partir da tabela 1, observamos que a faixa etária mais suscetível à salmonellose é dos 0-4 anos,
sendo que os idosos e pessoas com sistema imunitário debilitado também são bastante vulneráveis.

Apesar de não serem os alimentos mais reportados pelos MS, os ovos continuam a ser os veículos
alimentares mais importantes. Esses surtos são maioritariamente causados por S. Enteritidis, que é
um dos serotipos mais frequentes nos casos de salmonellose, na EU. A carne de porco é também
um veículo alimentar importante, e está particularmente relacionada com surtos de S. Typhimurium,
que é outro dos serotipos mais frequentes. Isto faz com que os animais e alimentos mais reportados
pelos MS sejam galinhas poedeiras, galos, carne de frango e porco.

De acordo com a figura 1, abaixo representada, podemos afirmar que existe uma tendência sazonal
de casos de salmonellose confirmados, com mais casos reportados durante os meses de verão.
Existe uma tendência de decréscimo significativa entre 2008 – 2017, contudo, esta tendência não
mostrou qualquer aumento ou decréscimo nos últimos 5 anos (2013-2017).

Fonte: EFSA (2018)


FIGURA 1 - TENDÊNCIA EM CASOS DE SALMONELLOSE CONFIRMADOS, POR MÊS, DE 2008 ATÉ 2017

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A partir de 1 de janeiro de 2009, de acordo com a legislação europeia – Regulamento (CE) nº
1237/2007 3 , os ovos não devem ser utilizados para consumo humano direto, como ovos para
consumo, a menos que provenham de um bando comercial de galinhas poedeiras sujeito a um
programa nacional de controlo estabelecido nos termos do artigo 5º.

Apesar da tendência de decréscimo de casos de salmonellose reportados na EU, o número de


mortes registadas é cada vez maior. Em 2017 foram registadas 156 mortes, no ano anterior 128, e
em 2009 62. Apenas em 2014 é que este número reduziu (drasticamente) para 15 mortes. Estes
números elevados, como do ano de 2017, podem ser resultado de um maior controlo e rigor na
comunicação e registo das DDO nos sistemas, que antes certamente não acontecia na maioria dos
países, nomeadamente em Portugal.

Segundo os dados da EFSA, a principal origem dos surtos é doméstica e apenas uma pequena
parte importada.

Em conclusão, esta visão geral sobre a presença de Salmonella na EU mostra que são necessárias
mais ações para que os seus níveis diminuam ainda mais pois, apesar da tendência de decréscimo
desde 2008, a Salmonella continua a ser uma das zoonoses mais comuns nos humanos e animais,
na EU. É importante que a população esteja informada e a par deste risco e dos efeitos,
principalmente os grupos mais suscetíveis.

SALMONELLA SPP.: O OVO COMO VEÍCULO DE TRANSMISSÃO E AS IMPLICAÇÕES DA


RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA PARA A SAÚDE PÚBLICA
Fonte: Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira (2005)

Este artigo fala sobre os ovos e os seus derivados como sendo um dos maiores e mais
importantes veículos de transmissão de salmonellose. Além deste ponto importante, também
fazem referência ao uso de antibióticos na produção animal, com objetivos preventivos, terapêuticos
e/ou de promoção do crescimento, que têm contribuído para o desenvolvimento de estirpes de
Salmonella resistentes a estes medicamentos, dificultando, assim, o tratamento de infeções extra-
intestinais causadas por esta bactéria (Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira, 2005).

De acordo com Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira (2005), os alimentos que têm sido mais
associados a surtos de salmonellose são os ovos, os seus derivados e carne de aves. Fatores como
as mudanças dos hábitos alimentares, serem fonte de proteína de alta qualidade e terem um custo
relativamente baixo contribuem para o aumento do seu consumo.

Os mesmos autores relatam que devido à capacidade de transmissão vertical e horizontal da S.


Enteritidis, esta tem-se dispersado amplamente e persistido na indústria avícola. Os ovos, uma vez
contaminados com este serotipo, e expostos a temperaturas favoráveis à sua multiplicação, podem
apresentar um grande número de bactérias aquando do seu consumo.

Este artigo refere que alguns fatores intrínsecos presentes nos ovos os protegem da transmissão
vertical e horizontal, tais como a cutícula que cobre a casca, a própria casca e as suas membranas,
que funcionam como uma barreira mecânica eficiente contra os microrganismos. Contudo, as
estruturas da casca são vulneráveis logo após a postura do ovo, ou seja, antes de ocorrer a
secagem da cutícula. Pesquisas referenciadas neste estudo mostram que ovos sem cutícula e com
cascas experimentalmente inoculadas apresentam uma contaminação interna maior do que os que

3
Regulamento (CE) nº 1237/2007, que diz respeito à colocação no mercado de ovos provenientes de bandos
de galinhas poedeiras infetadas com Salmonella.

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tinham cutícula. Com estas afirmações pode-se dizer que a qualidade da casca determina o grau de
dificuldade da S. Enteritidis penetrar nos ovos.

Uma vez que os microrganismos penetram a casca, estes encontram na clara outras barreiras à sua
multiplicação e sobrevivência. A avidina, por exemplo, forma um complexo com a biotina, tornando-a
indisponível, dificultando a proliferação contra bactérias Gram (-), como é o caso da Salmonella.
Porém, quando o ferro chega à clara, vindo da gema, ou quando a bactéria penetra na gema, pelo
enfraquecimento da membrana vitelina, a multiplicação ocorre rapidamente. Uma vez na gema, a
Salmonella pode multiplicar-se entre 10 – 25ºC, sendo a que 25ºC o número de bactérias pode
aumentar rapidamente. Esta bactéria pode estar também presente naturalmente na gema, devido a
transmissão vertical (Arruda Téo & Rocha Moreira de Oliveira, 2005).

É muito importante fornecer estas informações aos consumidores, para que estes tenham
consciência do perigo quando ingerem e manuseiam incorretamente este tipo de produtos. Os
consumidores devem saber como manipular os alimentos, evitando contaminações cruzadas, e
devem ainda ter noção dos tempos ideais de cozedura, uma vez que poderá haver sobrevivência ao
processamento térmico se este for inadequado.

Deste modo, surgem medidas como a pasteurização do ovo, o arrefecimento rápido, o


armazenamento em refrigeração e em atmosfera modificada (com CO 2), e medidas educativas e
informativas para os consumidores.

Este artigo também dá enfase ao tema da resistência antimicrobiana da Salmonella. Os


antimicrobianos são utilizados para fins terapêuticos e de prevenção em humanos e animais, além
de serem adicionados às raçoes com o objetivo de melhorar o crescimento. A causa mais provável
para o aparecimento de estirpes resistentes é a utilização de agentes antimicrobianos em animais
destinados à alimentação humana. As bactérias resistentes podem colonizar o seu novo hospedeiro
e transferir genes de resistência às bactérias presentes na microbiota do hospedeiro. (Arruda Téo &
Rocha Moreira de Oliveira, 2005).

No entanto, o uso inadequado destes medicamentos resulta numa seleção e expansão de estirpes
resistentes de vários microrganismos. Embora grande parte dos problemas de resistência resultam
do mau uso de antibióticos em humanos, existem evidências crescentes de que o uso de antibióticos
na agropecuária esteja a contribuir para este problema de resistência, o que levou a Organização
Mundial de Saúde a recomentar o controlo e restrição da sua utilização na produção animal.

Foi observado que a introdução de medidas restritivas ao uso de antibióticos na produção animal
coincidiu com a estabilidade da resistência de S. Enteritidis aos antimicrobianos. Este serotipo é o
que apresenta resistência a mais que um antibiótico, o que tem implicações epidemiológicas
consideráveis na saúde pública, dada a prevalência de Enteritidis nas infeções humanas.

Em suma, é necessário tomar ações práticas para a saúde pública a curto e médio prazo, a partir do
conhecimento da incidência, prevalência e das consequências da resistência antimicrobiana.

A resistência microbiana é um problema global, que precisa de ser mais explorado para ser
combatido. Recentemente, de uma forma geral, já se tem recomendado e incentivado o
desenvolvimento de programas de monitorização à resistência antimicrobiana tanto em origem
humana como animal. A Salmonella, devido às suas características, tem sido um indicador para
estudos de resistência.

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PREVALÊNCIA DE SALMONELLA EM PRODUTOS DE FRANGO E OVOS DE GALINHA
COMERCIALIZADOS EM PELOTAS, BRASIL
Fonte: Baú, Beiro Carvalhal, & Guimarães Aleixo (2001)

Foi investigada, no Brasil, a prevalência de Salmonella em produtos de frango e ovos de galinha, os


serotipos mais comuns e a sua sensibilidade a antimicrobianos. 124 amostras de produtos de frango
foram obtidas em supermercados e talhos, e 94 amostras de ovos de galinha foram obtidas em
supermercados e feiras. Estas amostras foram analisadas através do método convencional de
cultivo. Entre as amostras de frango, 13 continham Salmonellas, e foram encontrados serotipos
como Enteritidis, Entérica e Anatum.

As amostras de frango, já em laboratório, foram divididas em 3 grupos. As amostras de ovos, com


um total de 564 ovos, foram analisados em dois tipos: produzidos em granjas (46 amostras) e
produzidos em pequenas propriedades da região (48 amostras).

Para o isolamento de Salmonellas nos produtos de frango, pré-enriqueceram as amostras dos


grupos 1, 2 e 3, e, posteriormente, isolaram-se as colónias. As estirpes que apresentaram
comportamento bioquímico característico da Salmonella foram submetidas à prova de
seroaglutinação rápida em lâmina, e, posteriormente, soros monovalentes para identificação do
serogrupo.

Para o isolamento de Salmonellas em ovos, estes foram analisados em grupos de 6, sendo


recolhido material da superfície e do interior, para análise. Depois de lavados e colocados numa
solução de Cloreto de mercúrio 0,1% e de etanol a 70%, os ovos foram quebrados asseticamente e
o seu conteúdo misturado num frasco estéril.

Para o teste da sensibilidade a antibióticos, foram colocados discos de papel de filtro, contendo
agentes antimicrobianos, em placas contendo meio de Mueller-Hinton inoculado com culturas das
estirpes isoladas. Estas placas foram incubadas por 24h, à temperatura de 37ºC.

Foram encontradas 13 amostras contaminadas para os produtos de frango, sendo que as amostras
do grupo 2 e 4 apresentaram maior contaminação. Observou-se também uma maior contaminação
nos produtos à venda em talhos do que nos supermercados. Nestes últimos, os produtos de frango
estão embalados e bem refrigerados ou congelados, o que reduz a contaminação cruzada e retarda
a multiplicação microbiana.

O teste de resistência antimicrobiana mostrou que todas as estirpes isoladas foram resistentes à
penicilina G. O perfil da resistência antimicrobiana, além de ser um importante marcador
epidemiológico, serve para orientar procedimentos terapêuticos, tanto nos humanos como nos
animais.

As 94 amostras de ovos de galinha não apresentaram contaminação com Salmonella. Porém,


noutros estudos, foram encontradas contaminações por Salmonella entre 3 e 10%, em amostras de
superfície, e 4% em amostras do conteúdo dos ovos. Estes resultados sugerem que os ovos vinham
de lotes de animais já infetados.

Em suma, estes resultados indicam que em muitos produtos de frango comercializados, encontram-
se contaminados com diferentes serotipos, devendo sofrer cocção e manipulação correta para a
prevenção de surtos de salmonelose.

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CONCLUSÕES
A Salmonella, sendo uma das zoonoses mais frequentes na Europa, requer especial atenção e
conhecimento daquilo que ela pode provocar. É uma bactéria entérica responsável por graves
intoxicações alimentares

Mesmo não sendo os mais reportados pelos MS, os alimentos ditos como principais veículos de
transmissão de Salmonella são os ovos, os seus derivados e a carne de frango, sendo as aves
consideradas o reservatório mais relevante desta bactéria.

A partir da análise da EFSA, percebemos que, mesmo com a tendência de decréscimo dos casos
reportados, ainda há um longo caminho de estudo e ação a percorrer, pois a Salmonella ainda
continua a ser a segunda zoonose que atinge mais população e animais na EU.

A informação da população sobre esta bactéria e os seus perigos é essencial. É necessário que
ocorram ações educativas direcionadas à população, em geral, e estabelecimentos. Estes devem
saber como manipular os alimentos, evitando as contaminações cruzadas, e devem ainda ter noção
dos tempos ideais de cozedura, uma vez que poderá haver sobrevivência ao processamento térmico
se este for inadequado.

A resistência antimicrobiana é outro ponto com bastante importância. A utilização de antibióticos na


produção animal, com objetivos preventivos, terapêuticos ou de promoção de crescimento, tem
contribuído para o aparecimento de estirpes de Salmonella resistentes a estes medicamentos, que
dificulta o tratamento de infeções causadas pela bactéria. Deste modo, a escolha de agentes
antimicrobianos para o tratamento de infeções sistémicas é cada vez mais restrita a um grupo cada
vez menor de medicamentos, devido a esta crescente resistência.

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REFERÊNCIAS

Arruda Téo, C. R. P., & Rocha Moreira de Oliveira, T. C. (2005). Salmonella spp.: The egg as vehicle of
transmission and the implications of antimicrobial resistance for public health. Semina: Ciências
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