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Magia audiovisual: 4 maneiras pelas quais a paleta de

cores pode transformar seu trabalho

 Você já deve conhecer a Palette, a ferramenta de busca do Shutterstock Labs que


permite você explorar e descobrir imagens com base em esquemas de cores
personalizados. Em homenagem a essa ferramenta, resolvemos fazer um repost de um
artigo que bombou muito no nosso blog e que trata justamente de como trabalhar com
paletas de cores. Leia abaixo a história completa para refrescar sua memória e depois
veja como o Palette pode te ajudar a refinar suas buscas e reinventar seu trabalho.

Em seu blog Movies in Color, a designer gráfica Roxy Radulescu mapeia a paleta de cores


de cenas de um filme diferente por dia, oferecendo uma fonte de inspiração e ideias para
outros artistas. Pedimos a ela para contar mais sobre o seu processo criativo e falar sobre
o uso intencional de cor em cinema.

Como sou uma designer gráfica, a melhor maneira de descrever minha relação com cor é:
complicada! Já passei incontáveis minutos encarando um catálogo Pantone, ou clicando
por todo o espectro de cores do Photoshop no meu computador, procurando pelo tom
perfeito de azul/verde/laranja/vermelho que faria com que aquele layout realmente
“saltasse aos olhos”, como geralmente pedem os clientes.

Ao me esforçar para aprender e tentar transformar minha relação com as cores de algo
difícil para uma parceria produtiva, decidi começar um projeto focado em cor. A ideia
veio do nada em uma noite qualquer, como geralmente acontecem com as ideias boas.
Naquela noite, eu estava assistindo 007 – Operação Skyfall. A cinematografia do filme e
o uso da cor chamaram minha atenção e, de repente, tudo fez sentido. Eu queria
descobrir que cores compunham certas partes de um filme e logo me toquei de que, nessa
era de cultura de compartilhamento na internet, essa tarefa seria até bem fácil.
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07 – Operação Skyfall, 2012    Direção: Sam Mendes    Cinematografia: Roger Deakins

Eu rapidamente consegui encontrar imagens still do filme e extrair cores delas com uma
combinação de um gerador de cores e de trabalho manual no Photoshop. Descobri que
essa combinação é a que funciona melhor, já que muitos geradores de cor tendem a
deixar passar algumas cores que podem tornar uma paleta interessante, além de
possibilitar que eu seja criativa e tome decisões no processo de alcançar uma paleta final.
Decidi levar esse projeto adiante e fazer o mesmo com diversos filmes, e assim nasceu o
blog Movies in Color.

Com o tempo, passei a usar o blog para manter um arquivo de paletas de cor as quais eu
poderia usar em projetos futuros, que poderiam servir de referência para combinações de
cor interessantes. Fiquei feliz ao descobrir que outros artistas também acharam as
referências úteis para seu trabalho. Por enquanto, este projeto tem sido não apenas
estético, mas também educativo. De forma geral, trata-se de um estudo da cor em filmes,
mas que acaba tendo outros usos e aplicações. Um dos objetivos é oferecer a designers e
artistas paletas de cores as quais eles podem usar em suas pinturas, filmes, vídeos,
designs gráficos etc.

Gostaria de aprofundar o assunto do uso de cor em filmes, baseado em minha pesquisa


individual para o meu blog. Ao longo da existência do blog, tive a oportunidade de
publicar vários filmes clássicos, de cineastas famosos, e me diverti extraindo minha
própria paleta de cores das imagens still que encontrei destes filmes. Procurei escolher
imagens com composições interessantes e com cores que chamaram minha atenção.
Apesar de minha intenção ser apenas de “praticar” o uso da cor e vê-la em ação no meio
cinematográfico, eu logo descobri que estava formando uma opinião sobre o que cada
esquema de cores representava e porque certas cores eram utilizadas. Em alguns casos, a
paleta de cores usada é totalmente intencional, mas muitas vezes a intenção varia de
filme a filme. Gosto de pensar que certas cenas são planejadas com a cor em mente para
alterar o clima e destacar visualmente as emoções do personagem. Também é
interessante observar que o cineasta pode influenciar a paleta de cores de uma cena ao
manipular o enquadramento e a iluminação.

Ao fazer paletas para meu blog, encontrei a minha ideia do que seriam as quatro razões
principais para se usar cor com uma intenção específica.

Sunshine, Alerta Solar, 2007 Direção: Danny Boyle  Cinematografia: Alwin Kuchler

1. Contraste

O uso de correção de cor digital vem influenciando o visual de produções desde o filme E
Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, de 2000. Uma vantagem da correção digital é que a mesma
contribui para que o filme seja consistente de uma cena à outra, sem mudanças bruscas
de cor. Porém, atualmente se nota uma predominância das cores azul e laranja sendo
cada vez mais usadas, com o objetivo de se criar um contraste de cores interessante.
Como a pele humana geralmente possui um tom quente, laranja torna-se a cor mais
próxima do que seria um tom de pele. No espectro de cores, o azul é a cor diretamente
oposta ao laranja – e cores opostas (ou complementares, como usa-se em teoria de cores)
são usadas para se criar um contraste maior. Em alguns casos, essa prática permanece
relativamente sutil, como na imagem acima, tirada do filme Sunshine – Alerta Solar.
Outras vezes, a correção torna-se exagerada e faz parecer que os atores passaram um
bom tempo fazendo bronzeamento artificial.
O fenômeno do laranja/azul aparece muito frequentemente em grandes produções de
Hollywood e campeões de bilheteria, e é usado para destacar as pessoas em meio às
imagens de fundo. Porém, algumas vezes o uso dessas cores também pode ter um
significado. O filme Além da Escuridão – Star Trek, uma produção carregada de laranja
e azul, é um exemplo. Essa composição de cores pode ser representativa de quente/frio,
perigo/segurança, ou apenas uma escolha estilística bonita de se ver numa tela grande.

Além da Escuridão – Star Trek, 2013 Direção: J.J. Abrams  Cinematografia: Daniel Mindel

Alguns diretores usaram contraste para criar paletas de cores ricas e interessantes. O
diretor Jean-Pierre Jeunet usa cores opostas e complementares na maior parte de seus
filmes, acrescentando aos mesmos com suas paletas vibrantes e excêntricas um senso de
surrealismo estilizado. Vermelho e verde são utilizados abundantemente em O Fabuloso
Destino de Amelie Poulain e Delicatessen para enfatizar cenas surreais – como quando o
abajur de porco da Amelie conversa com ela.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001  Direção: Jean-Pierre Jeunet  Cinematografia: Bruno Delbonnel

Delicatessen, 1991 Direção: Jean-Pierre Jeunet Cinematografia: Darius Khondji

Contraste é muitas vezes utilizado deliberadamente e, ainda que as cores possam ser
manipuladas digitalmente, imagino que ainda exista muito planejamento envolvendo a
criação da paleta principal de cores de um filme. Diversos fatores podem influenciar a
escolha de uma paleta específica, desde uma busca forte de consistência ao longo do
filme (com ou sem um significado específico), até o seu uso em partes específicas com o
objetivo de se destacar cenas, personagens ou objetos, como podemos notar na imagem
abaixo, do filme Hellboy.

Hellboy, 2004 Direção: Guillermo Del Toro Cinematografia: Guillermo Navarro

2. Época

Muitas vezes, a paleta de cores pode remeter fácil e eficazmente a um período específico
na história. Pela minha experiência, filmes que se passam nos anos 60 e 70 tendem a ter
tons mais laranja, amarelo e marrom, e cores mais quentes de forma geral, como em As
Virgens Suicidas e Sonata de Outono.
As Virgens Suicidas, 1999 Direção: Sofia Coppola Cinematografia: Edward Lachman

Sonata de Outono, 1978 Direção: Ingmar Bergman Cinematografia: Sven Nykvist

A paleta de cor também pode ser inspirada por outras obras de arte. No caso do
filmeSombras de Goya, de Milos Forman, o cinematógrafo Javier Aguirresarobe
considerou especificamente as tonalidades observadas no trabalho de pintores clássicos.
Sua paleta, fortemente influenciada pelo artista Ribera, foca na luz e na expressão, com
ênfase em luzes e cores quentes e densidades escuras.

Sombras de Goya, 2006  Direção: Milos Forman Cinematografia: Javier Aguirresarobe

3. Clima

A cor é muito usada também para denotar um clima ou humor de uma cena, ajudando o
espectador a sentir uma emoção específica. A paleta de cor do filme A Fantástica
Fábrica de Chocolate, de Tim Burton, enfatiza um clima meio esquisito de uma maneira
sutil. O estilo de Tim Burton prepara o espectador para cores vibrantes. Porém, algo
incomoda no fato de que seus personagens principais sejam pálidos e meio sombrios em
meio a tanta luminosidade e cores fortes.
A Fantástica Fábrica de Chocolate, 2005  Direção: Tim Burton Cinematografia: Philippe Rousselot

O diretor David Fincher consegue manter um visual semelhante em muitos de seus


filmes graças à ajuda de seu cinematógrafo, Jeff Cronenweth. Em O Clube da
Luta eMillennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, muitas cenas são
escuras, mas contêm os mesmos tons de verde e amarelo. Geralmente uma cor alegre, o
amarelo em seus filmes lembra monotomia, doença e denotam um ambiente angustiante.
O Clube da Luta, 1999 Direção: David Fincher Cinematografia: Jeff Cronenweth

Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, 2011 Direção: David Fincher Cinematografia: Jeff
Cronenweth
4. Significado

A cor também liga-se muito frequentemente ao significado de uma cena, sendo usada
para enfatizar emoções ou decisões dos personagens. No filme Caminhos Perigosos, por
exemplo, a casa de striptease e local de encontro dos criminosos é sempre lavada em tons
de vermelho – a cor da luxúria, sangue e culpa. Esse local é geralmente a origem das
atividades mais pecaminosas do personagem Charlie. Um cristão devoto, ele fica bêbado,
mete-se em brigas, testemunha uso de drogas e expressa seu desejo sexual pelas
mulheres neste local. Vermelho também simboliza pecado, e a paixão de Charlie pela
vida criminosa é representada pelo tom avermelhado que predomina nas imagens. Em
contraste, o mundo lá fora sempre parece mais frio e escuro.

Caminhos Perigosos, 1973 Direção: Martin Scorsese Cinematografia: Kent Wakeford

Amor à Flor da Pele é outro exemplo. Tons de vermelho e rosa são usados tanto para
denotar pecado quanto amor, no contexto da conservadora sociedade de Hong Kong
mostrada no filme. Chow and Su estão frequentemente solitários e deixados de lado por
seus companheiros, que os traem. No tempo em que se passa o filme, amizades entre
homem e mulher eram criticadas, e os dois personagens passam a perceber esse fato,
principalmente à medida em que os sentimentos de um pelo outro crescem.
Amo
r à Flor da Pele, 2000 Direção: Wong Kar-Wai Cinematografia: Christopher Doyle, Pung-Leung Kwan, Ping
Bin Lee

O uso de cor em qualquer meio – fotografia, filme, design gráfico ou arte – nunca é livre
de sentido, seja ele intencional ou atribuído por outros. Aprendi que a cor é algo muito
importante a ser considerado ao trabalhar em meus projetos, especialmente nas ocasiões
em que tenho mais liberdade criativa. Apesar de que continuarei utilizando meu blog
Movies in Color como fonte de inspiração para combinações de cores interessantes, ao
desenvolver esse trabalho, tornei-me mais atenta às cores em minha volta e, mais
especificamente, a como a cor é usada em design gráfico e cinema. Aprendi que é
necessário um olhar perspicaz para se observar e entender o que é relevante em termos
de cor para um projeto. Espero que minhas ideias possam te ajudar e inspirar também!

– Este artigo foi originalmente publicado no dia 30 de outubro de 2013.

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