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Ramiro Gama - Lindos Casos de Chico Xavier PDF
Ramiro Gama - Lindos Casos de Chico Xavier PDF
LINDOS CASOS DE
CHICO
XAVIER
2 – Ramir o Gama
LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Ramiro Gama (1898 1981)
Publicado pela LAKE Editora
Digitalizada por:
L. Neilmoris
© 2009 Brasil
www.luzespirita.org.br
3 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
LINDOS CASOS DE
CHICO
XAVIER
Ramiro Gama
4 – Ramir o Gama
CONVITE:
Convidamos você, que teve a opor tunidade de ler
livr emente esta obr a, a par ticipar da nossa campanha de
SEMEADURA DE LETRAS, que consiste em cada qual
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e incentivando as pessoas à boa leitur a.
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5 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Índice
Pr imeir a Par te – Palavras necessárias
37 – O lado direito
38 – Primeiras graças recebidas
39 – A gargalhada do rio...
40 – A morte do cão lorde
41 – Orgulho ou distração...
42 – Quem dera que você fosse o chico...
43 – A cruz de ouro e a cruz de palha
44 – Viajando com um irmão sacerdote
45 – “Nossos caricaturistas...”
46 – Moirões juntos...
47 – Um relógio ao doente
48 – Obrigado, Chico...
49 – Palavras aos enfermos
50 – Sonhando com um lar
51 – Indispensável
52 – Não desejo dar coices
53 – Conversa ou trabalho
54 – Aviso oportuno
55 – As aparências enganam
56 – Sábia resposta
57 – O lavrador e a enxada
58 – O Chico na opinião de uma criança
59 – Olhando as pessoas, leio seus nomes
60 – Uma “pergunta” da terra e uma “resposta” do céu...
61 – Dom Negrito
62 – Na defesa do verme
63 – Uma lição sobre a fé
64 – Bondade para com todos
65 – Quem escreve
66 – Lembrando os fenômenos de licantropia...
67 – Então, desejo ser o burrinho...
68 – A lição dos chuchus...
69 –“Os mortos estão de pé...”
70 – Oração da filha de deus
71 – Casos de m. quintão
72 – Um morto ilustre descreve o próprio enterro
73 – Programa cristão
74 – Solilóquio de um suicida
75 – Oferenda às crianças
76 – Uma visita de Cruz e Souza
77 – O culto doméstico do Evangelho
78 – O hino do repouso
79 – Uma visita de Luiz Guimarães
80 – O tesouro da fraternidade
81 – Saldo e extra
82 – Ao irmão mais velho
7 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
83 – Aprender com sabedoria e servir com amor
84 – Decálogo para estudos evangélicos
85 – O livro divino
86 – O prestígio do Chico
87 – O dia começa ao amanhecer
88 – Mensagem de bom ânimo
89 – Apelo ao trabalho maior
90 – A verdade ë como o diamante
91 – A lição do prédio que se inclinara
92 – O hábito de fumar
93 – Ouro e experiência
94 – Que seria da pedra sem o martelo?...
95 – A lição do bilhar
96 – Uma advertência e um ensino
97 – Receita para melhorar
98 – O homem dos vinte contos
99 – As cartas do Dr. Guillon Ribeiro (1)
100 – Flores do coração
101 – Perdoar e esquecer
102 – As cartas do Dr. Guillon Ribeiro (2)
103 – Professora Rosália Laranjeiras
104 – Humildade ou sem vergonha?
105 – O melhor dos presentes
106 – Vendo mais além...
107 – Cisco
108 – A terra vai tremer...
109 – Casos dos casos de Chico...
110 – O remédio...
111 – Intuição através do sonho
112 – Vá com deus! Fique com deus!
113 – Antena de luz
114 – O previsto aconteceu...
115 – Estava doente e não sabia...
116 – O hotel Diniz não deve morrer...
117 – Visita medicamentosa...
118 – Graças sobre graças!
119 – Irmãos Carlitinhos e Zezé
120 – Maria Luiza, tio Tonio, Martinho Rocha e Antonieta
121 – Com a vida por um fio
122 – Irmã Noêmia Nóvoa
123 – Desejo correcional
124 – é outro Kardec
125 – Para andar com cuidado e sem vaidade...
126 – Ver a morte
127 – Chapéu a prestação
128 – Não posso aceitar dinheiro
8 – Ramir o Gama
129 – Uma lição para os médiuns...
130 – Quanta experimentação!
131 – Para não perder o clima
132 – Dinheiro bem ganho e gasto
133 – Lembrando deveres...
134 – Em dois jejuns permanentes
135 – A influência do pensamento
136 – Conselhos rápidos e abençoados
137 – Wanda Müller
138 – Irmão Francisco Portugal
139 – Não há glória maior
140 – Duas pequenas histórias
141 – Lição preciosa
142 – O ateu
143 – A lição foi também para nós...
144 – Tudo se paga...
145 – Com o açoite no braço...
146 – Prova de isolamento...
147 – Nos domínios da palavra
148 – Agora
149 – Cristo em casa
150 – Sebastião Carolino dos Santos
151 – Beijou o burrinho...
152 – Setenta vezes sete...
153 – O cacho de bananas
154 – Na curva do caminho...
155 – Mãe Cidália
156 – O benfeitor Júlio Maria
157 – Pregar e exemplificar...
158 – Lembrando Dante e seu inferno...
159 – Representante do ideal cristão
160 – Maravilhosas visões
161 – Com uma estrela no coração
162 – Remédio para arrependimento...
163 – Remédio para febre
164 – A barata na sopa...
165 – Vá com deus
166 – Amar ao inimigo...
167 – A prece dos criminosos
168 – O supérfluo
169 – Irmão Cirilo Pinto
170 – Irmã Terezinha
9 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
PRIMEIRA PARTE
PALAVRAS NECESSÁRIAS
Em 1931, residíamos em Três Rios, no Estado do Rio, e éramos o Presidente do “Grupo
Espírita Fé E Esperança”. Por este motivo, carteávamonos com M. Quintão e Dr. Guillon Ribeiro
— este, Presidente e, aquele, Vice Presidente da Federação Espírita Brasileira.
Como gratidão ao muito que estes grandes amigos nos davam, através de suas
correspondências verdadeiramente evangélicas, que muito nos esclareceram, oferecemolhes nossa
monografia sobre “Augusto dos Anjos” com a qual tomamos posse na “Academia Pedro II”, hoje
“Carioca de Letras”. Em troca, recebemos, do primeiro, uma carta encomiando nosso humilde
trabalho literário e, do segundo, outra não menos encomiástica, acompanhada de um exemplar do
REFORMADOR, registrando poesias psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier e
assinadas por “Augusto dos Anjos”, — com um pedido para que fizéssemos uma crônica, dando
lhes nossa impressão sobre o grande trabalho que se iniciava no mediunismo dos nossos dias, em
terras do Brasil.
* * *
Nossos olhos caíram sobre o poema “Vozes de uma sombra” e se maravilharam. Aquilo
era mesmo, todo inteiro, de Augusto dos Anjos, mas de um Augusto dos Anjos melhorado, mais
crente e menos pessimista. Seu poema era bem um Hino à Verdade do Homem Eterno e Redimido
e, ao mesmo tempo, uma resposta cabal ao materialismo doentio do seu “Poema negro”, escrito
quando encarnado.
* * *
Mas uma dúvida envolvia nosso pensamento. Dizíamos de nós para conosco: por que o
inimitável burilador do “Eu”, logo que sentira a justiça da imortalidade do Espírito, para melhor
identificarse, não se dera pressa em desmentir, como um ato de gratidão a Deus, o malentendido
que nos deixou com seu “Último número”, feito 15 minutos antes de desencarnar?
Escrevemos, então, aos caros amigos da Casa de Ismael, dizendolhes da nossa dúvida e
da nossa descoberta. E, dias depois, recebíamos, pelo correio, como a melhor das respostas, um
exemplar do PARNASO DE ALÉMTÚMULO.
Folheandolhe as páginas, famintamente, surpreendemonos com uma infinidade de
poesias de vários poetas. E, procurando, com ânsia e mais famintamente, o lugar em que se
10 – Ramir o Gama
achavam as de Augusto dos Anjos, mais ainda nos surpreendemos em encontrar, logo de começo,
o “Número infinito”. Jubilamonos aliviados; então, Augusto dos Anjos, o mágico criador de
imagens emocionantes e inéditas, lera nosso pensamento, traduzira nossa dúvida, e ali estava
atendendonos e comovendonos, sobremodo...
* * *
“Gloria In Excelsis”! Os mortos estavam mesmo de pé e, pelo seu grande médium
Francisco Cândido Xavier, iriam falar aos vivos da terra! E escrevemos a crônica abaixo que
constou de O REFORMADOR de 8 setembro de 1932 e que diz bem de nosso estado de alma e de
como recebemos o maravilhoso livro:
“PARNASO DE ALÉMTÚMULO”
Esta criatura simples e boa que se chama Francisco Cândido Xavier, graças à
misericórdia de Deus, acaba de dar significativo e lindo presente ao Espiritismo hodierno,
oferecendolhe um livro de poesias de poetas de alémtúmulo, que a sua mediunidade
limpa e segura psicografou.
E tanto mais valioso o seu livro à Doutrina de Jesus quanto se sabe que,
emparedado no seu próprio sonho de ser humilde e bom, dono de uma instrução mediana,
e, mesmo assim, obtida a golpes de esforço próprio — Francisco Cândido Xavier obteve
(e obterá se Deus quiser) poesia do além, sintetizando culturas variadas e,
confessadamente por ele, acima da que possui, e cuja autenticidade assombra pela forma
estilar, valor idealístico e sentido característico dos que as assinam.
O Espiritismo precisava deste livro. Ele só, estou certo, dará muito que pensar
aos orgulhosos e infelizes materialistas... Ele é e será, já agora, a delenda est cartago da
crítica —, apaixonada, ou dos fanáticos das religiões sem asas; mas também, sem dúvida
é e será um dique formidável às marés da incredulidade. Lendoo, mesmo sem se
conhecer o médium e a sua cultura, temse um consolo e uma certeza imensos: Francisco
Cândido Xavier é um instrumento limpo, uma harpa afinada e de ouro dos irmãos do
espaço. E o Espiritismo, mais uma vez, se afirma neste princípio soberano e tão discutido
—, e ainda pouco acreditado ou compreendido: os mortos vivem, melhor e mais do que
nós, e podem falar e escrever por nosso intermédio, tanto ou melhor, como se vivos
fossem na terra.
Nós, que militamos — graças a Deus — no campo espírita e que até há bem
pouco militávamos na corrente literária da nova geração, perfilando figuras do Brasil
mental, entre as quais a de Augusto dos Anjos, — podemos em verdade dizer da alegria
boa e sincera, grande e confortadora, que nos invadiu a alma, ao certificarmonos de que
todos os versos do PARNASO DE ALÉMTÚMULO são, de fato, dos poetas que os
assinam.
Dos versos de Augusto dos Anjos, psicografados por Francisco Cândido Xavier,
então, fora um sacrilégio pensar ao contrário. São bem dele, mas de um Augusto dos
Anjos já bem mais espiritualizado, piedoso, cristão e senhor da Verdade Única do
Evangelho de Jesus e ventilador de temas mais dignos da sua imensa cultura filosófica.
* * *
11 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Nós, que lhe conhecemos todos os versos, linha a linha, que lhe decoramos os
ritmos, que nos extasiamos com seu verbalismo individual e único, tão decantado por
Euclides da Cunha, integrandonos naquele Amazonas de belezas, confessamos: ao ler,
em “Vozes de uma sombra” , ficamos profundamente encantados.
O poeta científico do “Eu” , “O torturado” , “O armazenador de dores” , o
jeremiador pessimista, que foi, — consanguíneo mental dos Carlyle, dos Dante, dos
Pascal, dos Pöe e dos Spencer, hoje, é mais humanista, mais geral e nos parece o mesmo
na pujança mental, no verbalismo galhardo na qualidade e quantidade esplendorosas dos
seus conceitos, mas tão diferente do seu “sentir” de encarnado. Graças a Deus! Ganhou o
que lhe faltava para ser maior e despertar em si o Anjo, que possuía e não sabia ver,
quando na terra.
* * *
Vejamos como progrediu, moral e intelectualmente. No seu verso: “Hino á dor”,
ele cantava, quando encarnado:
A dor... Nasce de um desígnio divino...
Dor! Saúde dos seres que se fanam,
Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam...
* * *
Mas esqueciase de dizer que ela não nasce de um “desígnio divino” como
muitos acreditam. Calavase e, às vezes, se revoltava, como no “Poema negro” , contra os
seus males, na maioria, provindos da falta de resignação e da dúvida mantida com seu
ateísmo, conforme o perfilamos.
Agora, porém, serena, culta e cristãmente, ele nos afirma:
A DOR... Não nasce de um “desígnio divino”,
Nem da fatalidade do destino
Que destrói nossas células sensitivas;
Vemnos dos próprios males que engendramos
Em cujo ignoto báratro afundamos,
Através de existências sucessivas
Na Terra dissera:
O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto
Uma feição humana e outra divina...
* * *
Assim também, em “Número Infinito” , que é um continuador expressivo do
“Último Número” , — feito 15 minutos antes de desencarnar — Neste, como encarnado,
dizia que tudo morre, pensando ser o seu Último Número... Agora, desencarnado.
certificase de que ele é infinito...
ÚLTIMO NÚMERO (feito como encarnado)
Hora de minha morte. Hirta, ao meu lado,
A ideia exterloravase.... No fundo
Do meu entendimento moribundo
Jazia o “ÚLTIMO NÚMERO” cansado.
Era de vêlo, imóvel, resignado,
Tragicamente de si mesmo oriundo
Fora da sucessão, estranho ao mundo,
Com o reflexo fúnebre de Incriado.
Bradei: — Que fazes ainda no meu crânio?...
E o “ÚLTIMO NÚMERO”, atro e subterrâneo,
Parecia dizerme: É tarde, amigo,
Pois que a minha antogênica grandeza
Nunca vibrou em tua língua presa,
Não te abandono mais! Morro contigo!
NÚMERO INFINITO (feito como desencarnado)
Sístoles e diástoles derradeiras
No Hirto peito, rígido e gelado.
E eu via o “ÚLTIMO NÚMERO” extenuado
Extertorando sobre as montureiras.
Escuridão, ânsias e inferneiras.
Depois o ar, o oxigênio eterizado.
E depois do oxigênio o ilimitado,
Resplendente clarão de horas primeiras.
Busquei a última visão das vistas foscas.
O derradeiro Número entre as moscas,
À camada telúrica adstrito.
E eu vi, vítima dúctil da desgraça,
Vi que cada minuto que se passa
É nova luz do Número Infinito.
* * *
13 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
E assim, continua o nosso Augusto dos Anjos, melhorado, colocando sua vasta
inteligência a serviço da Causa da Verdade. E, humanizado e piedoso, menos herético,
mais sábio e esclarecido sobre o donde viemos e par a onde vamos, mostrandonos ser
um escafandrista dos mares da Verdade e um pesquisador mais seguro das coisas do
Infinito — dá pensamento às árvores, humaniza as sombras, penetra a alma do éter e
ministra ao mundo incrédulo, lições magníficas da imortalidade da alma e da pluralidade
das existências e dos mundos habitados, através dos versos de ouro do PARNASO DE
ALÉMTÚMULO: “Voz do Infinito” , “Voz Humana” , “Alma” , “Análise” , “Evolução” ,
“Homo” , “Incógnita” , e “Ego Sum” , — que bem poderiam ser enfeixados, sozinhos,
num livro, que excederia de muito o primeiro “Eu” .
Sentimos não poder transcrever aqui todos eles. Pois, tão belos, em parte, quanto
esses seus últimos versos, só, justamente, os versos famosos do “Eu” . Bem nos mostra,
no Além, que a Arte continua sendo para sua inteligência, o que lhe foi na terra: — um
espelho de Anel, a refletir sempre a beleza e a Grandeza das Obras de Jesus!
Graças damos ao Criador por permitir tal graça: qual a de lermos autênticos
versos de Poetas de AlémTúmulo, como os de Augusto dos Anjos. E abençoada seja,
para todo o sempre, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier!
* * *
Para finalizar, passamos, agora, a falar, em síntese, dos demais Poetas do livro
magnífico, que se autenticam através do ritmo, do modo característico de versejar e do
individualismo da forma e do fundo dos seus trabalhos psicografados.
Casimiro de Abreu, o nosso Alfred de Musset, menos genial, porém mais
sentidor da grandeza de DEUS, com aquela maneira espontânea de produzir belezas,
como uma fonte produz água; poeta que pouco se preocupou com as molduras de seus
quadros, porque era um pássaro que gorjeava e sabia que o tom de sua voz lhe vinha do
coração e por isso comovia e encantava, como comove e encanta; — em PARNASO DE
ALÉMTÚMULO é sempre o mesmo amante da natureza de sua terra, o mesmo
sentimental, o Poeta ingênuo e doce, comovedor e manso, como as crianças.
Os versos: “À Minha Terra” , “À Terra” e “Lembranças” , são dele e repetições
da música do estilo e da beleza de “Meus Oito Anos” . No todo, a sua poesia de agora é
mais uma renda, uma rosa de espuma, uma sinfonia em lá menor, um acervo de verdades
espíritas, verdadeira oração à natureza fecunda do Brasil, uma árvore verde, enfim, cheia
de ninhos e de favos de mel, tal como a de “Primaveras” . Quem se lembra de:
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Daquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais...
Deve alegrarse com:
Que terno sonho dourado
Das minhas horas fagueiras,
14 – Ramir o Gama
No recanto das palmeiras
Do meu querido Brasil!
A vida era um dia lindo,
Num vergel cheio de flores
Cheio de aromas e esplendores
Sob um céu primaveril.
* * *
Vemos que, quer um quer outro se parecem no ritmo e na beleza. O primeiro,
escrito na terra, o segundo no espaço.
Quantos não ficarão de pálpebras umedecidas à leitura dos últimos versos de “À
Minha Terra” , principalmente, se com sinceridade, já os souberam sentir e amar no seu
ideal, na sua dor, na sua resignação, nas suas “Primaveras” :
Se a morte aniquila o corpo
Não aniquila a lembrança;
Jamais se extingue a esperança
Nunca se extingue o sonhar!
E à minha terra querida,
Recortada de palmeiras,
Espero em horas fagueiras
Um dia, poder voltar.
* * *
Que o bondoso Pai te atenda, grande Casimiro e possas vir, ainda, ao nosso meio,
nobilitar a tua gente e engrandecer a nossa época.
Agora, Castro Alves — a grande orquestra de seu tempo, — o nosso papai
“Hugo”, de quem foi discípulo mental, nos aparece no livro de Francisco Xavier com
aquele mesmo seu messianismo humanitário, sempre épico, dentro daquela escola
condoreira, que ele e Tobias Barreto introduziram no Brasil e com a qual morreram.
“Marchemos’, por exemplo, vale por um livro, emparelhase com “Vozes D’África” , com
aquele mesmo tom oratório e profético, aquela mesma beleza fraseológica, única,
castroalveana.
Por falta de espaço, leiamos apenas alguns versos:
Tudo evolui, tudo sonha
Na imortal ânsia risonha
De mais subir, mais galgar.
A vida é luz, é esplendor,
Deus somente é seu amor,
O Universo é o seu altar.
É o sofrimento de Cristo,
Portentoso, jamais visto,
No sacrifício da cruz,
Sintetizando a Piedade,
E cujo amor à verdade
15 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Nenhuma pena traduz.
É Sócrates e a cicuta
É César trazendo a luta
Tirânico e lutador;
É Celini com sua arte,
Ou a espada de Bonaparte...
O grande conquistador.
É Anchieta dominando,
A ensinar catequizando
O selvagem infeliz;
É a lição de humildade,
De extremosa caridade
Do pobrezinho de Assis.
* * *
Mais não é preciso, cremos, para demonstrarmos a utilidade e a beleza do, como
dissemos, significativo e lindo presente que Francisco Cândido Xavier acaba de fazer ao
Espiritismo.
Todos os Poetas que lhe deram poesias o fizeram de maneira limpa e única,
porque são bem autênticas.
Longe iríamos se procurássemos falar de João de Deus, o cinzelador de velhas
imagens; de “Junqueiro” — dono de imagens bravias e chamejantes —, que, quando
predica a verdade, é como o raio que amedronta e convida à concentração, ao estudo e à
prática das coisas de Deus; de Antero, o “Santo Antero”, como lhe chamava o grande Eça
de Queiroz — com sua maneira simples e talentosa de ver a vida; de Cruz e Souza,
introdutor no Brasil da poesia simbolista —, o negro poeta, humanista e sofredor, bom
amigo e mansa criatura; de Pedro de Alcântara, o nosso Imperador tuósofo, que nunca
esquecia os seus pobrezinhos, que sabia, como ainda sabe, mais viver pelos outros do que
por si mesmo; e de Souza Caldas, Júlio Diniz, Casimiro Cunha, Auta de Souza e
Bittencourt Sampaio. Todos se atestam. Quem duvidar, que compare a poesia de cada
qual, como encarnado, e, agora como desencarnado.
* * *
PARNASO DE ALÉMTÚMULO veio dar (permitanos a imagem) uma vassourada
enérgica nos cérebros endurecidos dos que, nem vendo, acreditam. Tem a propriedade de
alertar os espíritos terrenos, chamandoos ao raciocínio da Verdade. Nele não
encontramos versos frouxos, nem rimas com assonâncias, impropriedades de linguagem,
insignificância vocabular, ou deslizes de vernaculidade, por parte daqueles que aqui não
os tinham.
* * *
magnífico espetáculo da inteligência, melhorada de poetas desencarnados e da qualidade
boa do instrumento mediúnico. Francisco Cândido Xavier (que ele nos perdoe contrariar a
sua modéstia e a sua grande alma) é um atestado vivo da Verdade Espírita. Marca um dos
momentos mais expressivos do nosso progresso mediúnico e avulta como um dos cimos
espirituais da doutrina santa e verdadeira de Jesus, codificada por Allan Kardec.
* * *
Com uma cópia da nossa crônica, mandamos uma carta ao humilde e abnegado
médium. A resposta que recebemos de Francisco Cândido Xavier fêznos chorar de
emoção. Conhecêramos, pela carta recebida, que nos achávamos diante de uma Grande
Alma a Serviço do Senhor.
Desde daí, começamos uma correspondência que, interrompida às vezes, a
benefício do extraordinário polígrafo de Pedro Leopoldo, chega até hoje, para nosso
enlevo e para que, ainda, de quando em quando, vivamos horas de Encantamento, em
contato com os Ensinos Vivos e Salvadores do Divino Amigo, na pessoa de seu leal
servidor.
* * *
Em novembro de 1944, já residindo aqui, no Distrito Federal, depois de uma
convivência de 13 anos pelo fio do pensamento, fomos visitálo. Chico Xavier vivia seus
grandes dias de apreensões e de dores, “o caso Humberto de Campos” estava em foco.
Era o assunto do dia. A imprensa daqui e do interior, através de seus repórteres mais
atilados, estava em Pedro Leopoldo. Chico era descoberto e experimentado por todos os
meios. O repórter de uma revista carioca, mais bisbilhoteiro e catador de novidades e não
muito amigo das verdades apuradas, tanto mais quando estas lhe contrariavam seus
acanhados pontos de vista, fêlo chorar lágrimas amargas, que ele derramou em silêncio
para que ninguém, em seu redor, as notasse e com ele sofresse.
Em Belo Horizonte, antes de tomarmos a camioneta que nos levaria a Pedro
Leopoldo, lemos num jornal local a resposta que dera a quantos o visitavam para o animar
e prestarlhe solidariedade: “creio em Jesus”.
E disse tudo, mostrandonos uma alma cristianizada e ligada ao Seu e Nosso
Mestre, confiante naquele que tudo é e pode, Advogado de seus veros servidores junto ao
Grande Juiz, que é Deus.
* * *
Em Pedro Leopoldo chegamos, pois, dentro de um clima de apreensões.
Soavam aos nossos ouvidos as palavras inspiradas de Emmanuel, seu amoroso
Guia: Ganhando, às vezes, perdemos. Perdendo, quase sempre ganhamos. Sim, com
Jesus. E, de fato, mais tarde sucedeu o que previra o esclarecido autor de HÁ DOIS MIL
ANOS...: — Chico perdeu para os homens, humilhandose, sofrendo, testemunhando os
Ensinos do Amigo Celeste, em atos, em ações e, para Jesus, ganhou uma Grande Batalha.
17 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
OS PRIMEIROS LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Para vermos Chico Xavier tivemos de vencer muitos obstáculos e amargamos uma
viagem exaustiva de 20 horas de trem. Fomos, no entanto, recompensados, de vez que pudemos
abraçar o querido médium, falarlhe, sentilo e encher o coração de Lindos Casos seus.
Chico Xavier é mesmo uma criatura adorável. Assim nos recebe, e põe logo à vontade e
desconstrange, fazendo crer que somos velhos amigos, irmãos muito chegados ao seu coração.
Tivemos vontade de ficar a vida inteira a ouvilo, a conversar com ele, tanto bemestar nos dá e
nos proporciona.
Contanos os primeiros lindos casos de sua infância, ao lado da progenitora, um coração
grandioso de mulher, um exemplar edificante de verdadeira mãe. Foi seu amparo, seu anjo tutelar
até os 5 anos de idade, quando desencarnou, deixandoo órfão. Aí começaram os primeiros
sofrimentos, que lhe burilaram a alma, preparandoa para o cumprimento de sua grandiosa Missão.
Dos 5 aos 7 anos, foi confiado a uma mulher obsidiada, (ele diz que foi sua Educadora) que o
surrava três vezes por dia. Tão obsidiada que lhe aplicava garfos ao ventre, ferindoo bastante, daí
provindo uma chaga que lhe deu longo sofrimento. Tão obsidiada que o fez lamber a ferida de um
sobrinho, porque lhe disseram que, com esta “simpatia”, o rapaz ficaria curado, como de fato
ficou.
* * *
Numa tarde, foi chamado à casa do pai, que se casara pela segunda vez com uma mulher
muito meiga e por isto, bela, afirma o Chico. Inspirada, talvez pela falecida genitora do humilde
médium, essa senhora impõe uma condição ao casamento: que o pai do Chico reunisse de novo os
filhos, a fim de que ela os acabasse de criar. E Chico, quando se viu à frente dessa criatura, quando
soube do seu nobilitante gesto, quando sentiu no pescoço a carícia de seus braços carinhosos, não
se conteve, beijoulhe sentida e gratamente a barra da saia e votoulhe, daí por diante, intensa e
sincera amizade de verdadeiro filho.
Em correspondência a esse afeto, essa segunda mãe o ensinou a orar, a sentir Deus, a
achar bela a vida, a trabalhar e a procurar ser útil aos outros. Contava 17 anos e era feliz, quando a
segunda mãe, de repente, adoece e desencarna, tendolhe antes feito prometer, à beira do leito,
tomar a si o encargo de continuar com a casa e não permitir que fossem os irmãos, novamente,
entregues a estranhos. E assim fez. Empregouse. Ganhava 60 cruzeiros por mês. Era pouco, mas
com Deus era muito; dava para as despesas e ninguém passava fome. Todos viviam satisfeitos.
Aprendera a cozinhar e, auxiliado por uma irmãzinha, conservava em dia o expediente do lar.
Ganhava corpo, neste ínterim, a sua preciosa mediunidade. Recebe o PARNASO DE ALÉM
TÚMULO; tornase conhecido no Brasil e mundo afora. Seu patrão, dono de um pobre armazém de
secos e molhados, local em que foi planejado o “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, começa a ser
perseguido, porque diziam, abrigava um “feiticeiro”, que falava com os Espíritos, e, tempos
depois, acabou falindo, caindo em extrema pobreza, precisando esmolar para viver... E Chico,
também desempregado, sofre com isso e procura novo emprego numa fazenda distante dois
quilômetros de Pedro Leopoldo, pertencente ao Ministério da Agricultura, e onde está até hoje.
Outros muitos casos, casos lindos, nos vai contando o Chico, estimulado pela nossa emoção e pelo
nosso interesse. Sentimos não poder guardálos todos, tão belas lições nos oferecem. Falanos da
morte de seu querido mano José, que presidia o Centro na sua própria casa, e que lhe deixou
“dividas”, todas elas pagas por uma verdadeira “ajuda do alto”; da obsessão de uma parenta, das
graças que recebeu e da morte de seu segundo irmão, Raimundo; do progresso de sua
18 – Ramir o Gama
mediunidade, dos livros mediúnicos, recebidos em prosa e verso, crônicas, mensagens, romances,
contos, reportagens, sobre ciência, filosofia e religião, um acervo imenso e verdade, até que chega
o ano de 1940 e adoece gravemente, sentidose in extremis. Para mais o entristecer, o expatrão
desencarna na miséria, sem ter sequer um caixão para ser enterrado. Chora o Chico e realiza um
dos seus grandes gestos de gratidão e de humildade, coisa que surpreende e emociona todos os
pedroleopoldenses. Quer sentir o que seu expatrão “sentiu”, quer lhe prestar, ao menos, essa
homenagem. E vence, pois vai de porta em porta “esmolar” dinheiro para enterrar o velho “patrão”
e amigo. Até um cego, sabendo do acontecido, procurao e lhe dá tudo quanto recolhera. Este
Caso, contado com todos os pormenores, emociona, tão expressivo ele é, revelandonos ao vivo a
alma humilde e boa do abnegado médium.
* * *
Pelos médicos locais é considerado tuberculoso, tão fraco está e febril. E, em certa manhã
ensolarada, vendoo tão triste, sentado à entrada da porta, Emmanuel seu dedicado Guia, põelhe a
mão no ombro e diz: “Chico, procure reagir, senão você falirá e se chegar agora aqui,
desencarnado, chegará inegavelmente como um homem de bem, porque já realizou algo, mas
deixará por fazer muita coisa prometida e nos colocará em situação sobremodo delicada, pois que
levamos anos a organizar os planos de sua reencarnação. Procure, pois, reagir. a tristeza, meu
filho, é cupim do coração, traz moléstia grave. Muitas doenças têm como causa um movimento
explosivo de cólera, um aborrecimento, um atrito, um ato de revolta, um desejo insatisfeito. São os
rins que se tocam; é o coração que recebe, em cheio, a punhalada de um ódio; é o fígado que todo
se ingurgita com a angústia de um orgulho ofendido; são os pulmões que se mostram
enfraquecidos, por falta do oxigênio de nosso otimismo, da nossa confiança em nós mesmos e em
Deus. Amanhã irei mostrarlhe a fazenda do pai, a natureza , para que você a sinta, compreenda e
possa dela traduzir a mensagem amorosa e retirar os remédios mais santos e eficientes para curar
se, ser mais útil e feliz. E se você como penso, assimilar o que lhe vou mostrar, para certificarse
de que o bem que fazemos é o nosso bem, que quem dá recebe mais, ficará curado, porque vai
mudar de vida, agir de outra forma”.
E na manhã seguinte, de fato, Emmanuel ensinou ao Chico, primeiramente, a orar, mesmo
com o rádio trabalhando alto, rádio com que o presenteara o saudoso irmão Figner. Ensinoulhe,
depois, a tomar vagarosamente o café da manhã, a fim de “sentilo” e analisar seu plantio, a sua
colheita, a sua história, tocante; e assim fez com o pão, traduzindolhe a lição magistral. Depois
partiu para o trabalho, ainda acompanhado do bondoso Conselheiro e Amigo, atendendo e
correspondendo, atenciosa e alegremente, como era aconselhado, a todos os cumprimentos,
principalmente quando de um “vá com Deus”, “Deus lhe pague”, “Deus lhe ajude”, saídos dos
corações que beneficiamos e que são luzes que entram pela nossa alma, sentimentos de Paz que
chegam ao nosso coração como remédios curadores. E caminho afora, nessa manhã clara de sol, o
abnegado Emmanuel foi mostrandolhe todos os valores da “Fazenda do Pai”. Cada pormenor do
valioso patrimônio apresentava, com a explicação dada, uma significação particular. A árvore, o
caminho, a nuvem, a poeira, que é o “mataborrão” dos charcos, simbolizando uns o desvelo do
homem e, outros, a misericórdia de Deus; o frio, a ponte, que serve a pobres e ricos, a maus e
bons, que tem uma serventia.
— Chico, você já foi ponte para alguém? — perguntalhe o caro Emmanuel.
E ele, sem saber como responder ao iluminado Guia, calase e vai guardando os ensinos
recebidos, com amor, atenção e respeito. Em sonho, recebe a graça final. E dias depois, como
previra Emmanuel, o querido irmão está curado, forte, alegre e feliz.
19 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Foi após repletarnos a alma desses Lindos Casos, que Chico nos levou ao interior de sua
singela casinha, a participar da Sessão em que recebemos mensagens tocantes de nossa irmãzinha
Wanda, outra de Emmanuel, respondendonos a questões, uma “poesia” sentida e bela de
CASIMIRO CUNHA, que nos arrancou lágrimas, e um Soneto de Augusto dos Anjos, em que se
mostra pela primeira vez, com seu régio Presente, mais sentimental, falando do Amor, que ele já
sabe sentir, votivo aos pequenos e humildes, sofredores e paupérrimos. Foi uma Sessão de 4 horas,
que nos emocionou bastante e na qual ganhamos Graças que jamais prevíramos, em nossa vida.
Graças a Deus! Terminada a Sessão, o Chico, sempre amável, acompanhounos ao hotel,
prometendo levarnos na manhã seguinte ao seu posto de serviço, a fim de gozarmos, como
gozamos, um belo passeio matinal.
Dormimos e acordamos bem cedo, demandamos à Fazenda do Ministério da Agricultura,
onde Chico trabalha e é estimadíssimo. Ë ali, no seio de uma Natureza festiva, de um sol sempre
vivo e caricioso, sob um dossel de nuvens garças, afagado por brisa leve e benfazeja, sentindo a
música dolente dos pássaros livres e felizes, brincando à nossa frente, como a nos saudarem, que o
Chico demonstra sua admiração pela natureza e onde melhor o conhecemos.
Atendendo ao apelo de um poeta, e visto que também o é, “ama até as pedras e os montes
pensativos”, vendo em tudo poesia e oração, arte, lições num grande livro aberto; trata as árvores
como irmãs, com graça e doçura; compreende como poucos, a alma do “grande todo”, e, qual
Pitágoras redivivo, “tudo sente”; humaniza as sombras, penetra o âmago das Coisas, ouve a voz do
silêncio. Para ele as águas falam e ele as entende; a cachoeira barulhenta e a quietude profunda dos
rios têm semelhança com certas criaturas. Um raio de luz, uma carícia, um inseto que voeja, lhe
chamam a atenção, fazemno pensar e lhe arrancam sorrisos dos lábios e fulgurações dos olhos
vivos, ternos e mansos. Em tudo vê poesia e vida, verdade e luz, beleza e amor, e, acima de tudo, a
presença de Deus! Que sensibilidade apuradíssima: que coração grandioso lhe bate dentro do
peito, capaz dos maiores gestos de bondade, de renúncia, de gratidão, de piedade e de humildade!
Contanos, a passo vagaroso, lindos casos. E já na hora da despedida é que Chico nos
revela qual o desejo maior que afagou em toda a sua vida de encarnado, e que recentemente lhe foi
satisfeito: ter um quarto seu com uma janela toda de vidro para poder ver o céu, de noite, cheio de
estrelas, sentir os mundos imensos que estão rolando pelo infinito como lenços a nos acenar, a nos
chamar e pedir que lutemos para os merecer. Quer ver o céu ainda para ver os Espíritos que vêm e
vão...
Foi Flammarion quem disse que precisamos olhar menos para a Terra e mais para o Céu,
porque o silêncio do Céu é mais eloquente que todas as vozes humanas. O aspecto de sua abóbada
celeste nos enche de admiração e falanos de Deus, mas de um Deus verdadeiro. Por que o Deus
dos Espíritos não é o Deus dos exércitos de Felipe II; não derrama sangue, não fala de guerras, não
anda a vencer batalhas, não conduz às infâmias da Inquisição, não faz queimar vivos, como
heréticos, irmãos outros que tenham religiões diferentes da nossa; não aprova a matança de S.
Bartolomeu, não sustenta o erro; não condena Copérnico e Galileu, porque esse Deus que o Céu
nos mostra é a Suprema Justiça, a Suprema Verdade, o Amor mesmo, e paira, impecável e sereno,
na Sua Luz e no Seu poder! As criaturas que olham para o Céu, que gostam do Céu, que falam
com o Céu, são criaturas diferentes, estão de passagem por aqui, em Missões; e, sentindo Saudades
da Pátria Verdadeira, distante, procuram minorar essa Saudade olhando o Infinito, traduzindolhe a
Mensagem silenciosa e linda, que Irmãos Maiores lhes enviam.
Chico Xavier é, assim, uma criatura do Céu!
20 – Ramir o Gama
LINDOS CASOS QUE CHICO NÃO CONTOU
De quantos visitaram e têm visitado o Chico, segundo sua própria observação, somos dos
que mais têm apreciado seus casos. E é uma verdade, porque neles verificamos lições preciosas do
Evangelho e verdadeiras carapuças para todos os chamados ao serviço do Senhor para, um dia,
serem “escolhidos”.
E assim sucedeu que, nas demais vezes que o visitamos, procurou ele aproveitar os
momentos raros de suas folgas para nos contar seus lindos casos, isto porque nolos via anotando
os, entre comovido e alegre, validandolhe o tempo e dando graças a Deus pelas premissas
recebidas.
* * *
Em começo de 1948 e fins de 1949, rapidamente, o procuramos. Falamoslhe apenas
minutos antes da Sessão do “Luiz Gonzaga”. Respeitamos sua valiosa ocupação e, visto que
espontaneamente não nos procurou, concluímos que atravessava momentos aproveitáveis à
recepção de alguns livros. E, como em tudo há providencialidade, em relação aos nossos esforços,
vários de seus amigos, como André, Ataliba, José Machado, Luiz Pachequinho, professor Lauro
Pastor e sua esposa D. Daisy, e D. Naná, proprietária do hotel, onde nos hospedamos,
encontraramse conosco e contaramnos muitos novos e lindos Casos sobre o Chico.
Em agosto de 1951, voltamos a Pedro Leopoldo. A convite do Dr. Rômulo Joviano, que
era o Diretor da Fazenda, visitamos demoradamente as obras valiosas que o Ministério da
Agricultura ali construiu para abrigar animais reprodutores e selecionados. O Dr. Franco deunos
uma bela aula sobre a vida das abelhas. Depois avistamonos com o Dr. Darwin, seu leal
colaborador, e, em seguida, com o Chico e dele ouvimos outros comentários. À noite, na Sessão
do “Luiz Gonzaga”, psicografa uma linda mensagem de João Pinto De Souza, o fundador da “Hora
Espiritualista” — Mensagem apreciando nossa Campanha de Educação de adultos na Central do
Brasil, com a qual, com auxilio de professores voluntários, conseguimos, numa massa de doze mil
ferroviários, alfabetizar cerca de onze mil.
* * *
Passados dois anos, numa tarde de agosto de 1953, falamos à esposa: “vamos a Pedro
Leopoldo buscar uma mensagem de bom ânimo”. Carecíamos de algo que nos animasse.
Achávamonos doentes do corpo e da alma. E, assim, no dia seguinte, chegávamos à Terra do
querido Chico Xavier. Era uma quintafeira. O “Centro Espírita Luiz Gonzaga” realiza suas
sessões às segundas e sextasfeiras. Dormimos, pois, meio decepcionados, mas confiantes.
Acordamos numa manhã cheia de sol e recebendo uma graça: a visita do Chico, que fora avisado
de nossa chegada pelo seu bondoso irmão André, que conosco viajara. Partimos, com ele, numa
charrete, para a fazenda. Em caminho conversamos longamente.
À noite, a sessão no “Luiz Gonzaga” começou às 21 horas com o salão superlotado de
irmãos, na maioria, vindos de lugares circunvizinhos. Terminou às 2 da madrugada, sem que
ninguém se sentisse cansado. Todas as orientações que pedimos, por escrito, ao Espírito querido de
Emmanuel, foram atendidas. A nosso favor, pedimos algo em pensamento. E, quando concluíamos
que nada receberíamos, Chico lê: “Mensagem De Bom Ânimo” , de Amaral Ornellas e a nós
21 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
dedicada. Linimentados com o belíssimo alexandrino, choramos de emoção, tanto mais quanto não
esperávamos receber tão grande dádiva.
* * *
Em começo de dezembro do mesmo ano, a serviço de nossa Campanha Educacional,
depois de inaugurarmos dois cursos em Pedro Leopoldo, às 21 horas, fomos assistir à sessão do
“Luiz Gonzaga”. E, aí, por acréscimo de misericórdia, recebemos, no fim da sessão, pelo Chico,
uma erudita mensagem de Braga Neto, o saudoso secretário de nossa Revista O NOSSO GUIA —
Mensagem que reflete seu lastro espiritual já bem volumoso, digna de meditação que tanto se
atualiza aos nossos dias.
* * *
Em março de 1954, fomos assistir à entrega de Certificados aos adultos ferroviários de
nossos Cursos de Alfabetização de Horto Florestal, em Belo Horizonte. Aproveitamos o ensejo e
fomos ver o Chico. Encontramolo bem doente. Mesmo assim, a nosso pedido, atende a três
cadetes que ali foram convidálo para uma festa em Agulhas Negras, na sede da Academia Militar.
* * *
Em todas essas ocasiões colhemos e anotamos novos casos.
Meses depois, nossa abençoada Campanha levounos à cidade de Sabará e a todo seu
ramal, onde temos Cursos. Na volta, aflitos pela saúde do grande médium, fomos visitálo, ainda
com o propósito de lhe pedir autorização para publicar os lindos casos, que nos contou, a benefício
de uma obra educacional espírita. Chico surpreendese, nem de leve calcula o que ouvimos e
anotamos. Supõe que apenas guardávamos, na pressa com que foram contados, uma meia dúzia de
casos, coisa sem importância... Assistimos à sessão e Emmanuel nos envia pequena mensagem,
muito expressiva para nós.
* * *
Na noite de 15 para 16 de maio de 1954, datilografamos o presente trabalho, em sua
primeira parte. Fizemolo até a parte acima. Cansados, deixamolo para terminar no dia seguinte. E
sonhamos com o caro Chico, sonho consolador, esclarecedor, emocionante. Certamente o Chico
sentia, de longe, nosso trabalho. Pois em sonho, vendoo de longe, ouvimos que falava e, por ele,
seu querido e iluminado “Guia”, dandonos uma como mensagem para o final da parte 1ª de nosso
Livro: “Que fazes de teus pés, de tuas mãos, de teus olhos, de teu cérebro? Sabes que esses
poderes te foram confiados para honrar o Senhor iluminando a ti mesmo? Medita nestas
interrogações e santifica teu corpo, nele encontrando o tempo divino”. Foi o que fizera o Chico no
início de sua mediunidade, depois de haver a convite de Emmanuel, visitado a Fazenda do Pai e se
inteirado do Serviço que cada coisa faz em santificação de si mesma. E traduzimos a belíssima e
oportuna mensagem, lembrando o que poderemos fazer com as mãos, com os pés, com o cérebro,
com o coração, com os olhos, a benefício de nosso espírito. E verificamos que Jesus escreve pelas
nossas mãos, sente e ama pelo nosso coração como no caso da belíssima lição Evangélica, olha
22 – Ramir o Gama
pelas Visões Maravilhosas de um servidor, anda pelos pés dos que caminham nas sendas do Bem e
pensa e serve amando e ensinando através daqueles que O seguem.
* * *
A mensagem ainda nos fez lembrar de “Mãe Ritinha”, uma irmã mensageira do Amor
que, em Três Rios, no fim de sua bela existência, com os pés inchados, com os olhos já cansados,
com o coração gasto de fazer o bem, com o cérebro cheio de luz, caminhou caminhos estreitos e
íngremes, visitou aflitos, atendeu a infinidades de criaturas, encaminhandoas ao Grande Roteiro e,
por fim, em pleno serviço de dar sem receber, desencarnou, santificando seu corpo na sublimação
do seu Espírito.
* * *
Que os Lindos Casos que ouvimos de tantos irmãos ligados ao querido Chico Xavier e
apresentados e vestidos com a roupagem não menos simplória e humilde de nosso espírito, façam
o bem a quantos os lerem. São partes integrantes da vida de um vero servidor. E um benefício
imenso nos prestaram: fizeram com que pensássemos na responsabilidade que temos: olhando a do
humilde médium de Pedro Leopoldo, e esforçandonos por imitálo, para que no serviço
salvacionista do Espiritismo se multipliquem os Chicos Xavier e a “terceira Revelação”, através
dos bons exemplos de seus verdadeiros trabalhadores, por ela reformados, acorde os que
“dormem” e lhes mostre que somente Jesus é Caminho, Verdade e Vida, e que somente nos
salvaremos caminhando pelas Suas Pegadas de Amor, vivendo a Verdade e a Vida Verdadeira que
Ele imortalizou no Amor, porque Ele é o Caminho para Deus, a Verdade que Ama e salva e a Vida
que não morre nunca.
23 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
SEGUNDA PARTE
1
TENHA PACIÊNCIA, MEU FILHO!
Quando Dona Maria João de Deus desencarnou, em 29 de setembro de 1915, Chico
Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona Rita de Cássia, velha amiga e
madrinha da criança.
Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se destemperava, irritadiça.
Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de marmeleiro,
recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa
senhora inventara esse estranho processo de torturar.
O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas, com os garfos dependurados na
carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de desabafar e, porque a madrinha repetia,
nervosa:
— Este menino tem o diabo no corpo.
Um dia, lembrouse a criança de que a Mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando
o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar.
Ajoelhouse sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera
dos lábios maternais. Quando terminou, oh! Maravilha! Sua progenitora, Dona Maria João de
Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado. Chico, que ainda não lidara com as negações e
dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras
da morte. Abraçoua, feliz, e gritou:
— Mamãe, não me deixe aqui... Carregueme com a senhora...
— Não posso, — disse a entidade, triste.
— Estou apanhando muito, mamãe!
Dona Maria acariciouo e explicou:
— Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem
não sofre não aprende a lutar.
— Mas, — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo.
— Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais reclamar, se você
tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
Em seguida, desapareceu.
O pequeno, aflito, chamoua em vão.
24 – Ramir o Gama
Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos sem revolta e sem
lágrimas.
— Chico é tão cínico — dizia Dona Rita, exasperada, — que não chora, nem mesmo a
pescoção.
Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem
chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um “menino aluado”.
E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correrlhe em
pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim
de reencontrar a mãezinha querida, sob as velhas árvores, vendoa e ouvindoa, depois da oração.
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos.
2
O VALOR DA ORAÇÃO
A madrinha do Chico, por vezes, passava tempos entregue a obsessão. Assim é que,
nessas fases, a exasperação dela era mais forte. Em algumas ocasiões, por isso, condenava o
menino a vários dias de fome.
Certa feita, já fazia três dias que a criança permanecia em completo jejum. À tarde, na
hora da prece, encontrou a mãezinha desencarnada que lhe perguntou o motivo da tristeza com a
qual se apresentava.
— Então, a senhora não sabe — explicou o Chico — tenho passado muita fome. — Ora,
você está reclamando muito, meu filho! — disse Dona Maria João de Deus — menino guloso tem
sempre indigestão.
— Mas hoje bem que eu queria comer alguma coisa...
A mãezinha abraçouo e recomendou:
— Continue na oração e espere um pouco.
O menino ficou repetindo as palavras do Pai Nosso e daí a instantes um grande cão da rua
penetrou o quintal. Aproximouse dele e deixou cair da bocarra um objeto escuro. Era um jatobá
saboroso...
Chico recolheu, alegre, O pesado fruto, ao mesmo tempo em que reviu a mãezinha ao seu
lado, acrescentando.
— Misture o jatobá com água e você terá um bom alimento.
E, despedindose da criança, acentuou:
— Como você observa, meu filho, quando oramos com fé viva até um cão pode nos
ajudar, em nome de Jesus.
3
CONSELHO MATERNO
D. Rita de Cássia criava em sua casa, como filho adotivo, um sobrinho de nome Moacir,
menino de onze a doze anos de idade. Moacir trazia larga ferida na perna, quando a dona da casa
mandou chamar D. Ana Batista, antiga benzedeira da localidade denominada Matuto, hoje Santo
Antonio da Barra, nos arredores de Pedro Leopoldo.
D. Ana examinou a úlcera e informou:
25 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Aqui só uma “simpatia” dará resultado.
— Qual? — perguntou a madrinha do Chico.
— Uma criança deve lamber a ferida por três sextasfeiras continuadas, pela manhã, em
jejum.
E D. Rita perguntou:
— Chico serve?
A benzedeira observou e declarou:
— Muito bem lembrado.
Isso ocorria numa quintafeira. À tarde, quando o menino foi à prece, sob as árvores,
encontrou D. Maria João de Deus, em espírito, e contoulhe, chorando, que no dia seguinte ele
deveria tomar parte na “simpatia”.
— Você deve obedecer, meu filho.
— A senhora acha que eu devo lamber a ferida do Moacir?
— Mais vale lamber feridas que fazer aborrecimentos nos outros — falou o espírito
maternal, — você é uma criança e não deve contrariar sua madrinha.
— E a senhora crê que isso poderá curar o doente?
— Não. Isso não é remédio? Mas dará bom resultado para você mesmo, porque sua
obediência dará tranquilidade à sua madrinha.
E, vendo que o menino hesitava, continuou:
— Seja humilde, meu filho. Se você ajudar a paz de que precisamos, você lamberá a
ferida e nós faremos o remédio para curála.
No outro dia, Chico obedeceu à ordem.
Na sextafeira imediata repetiu a estranha operação e a úlcera desapareceu.
Quando lambeu a ferida pela terceira vez, viu o Espírito de sua mãe, sorridente, ao seu
lado. Extático, viua abraçar Dona Rita. E Dona Rita, transformada, acariciouo, pela primeira vez,
e disselhe, bondosa:
— Muito bem, Chico. Você obedeceu direitinho. Louvado seja Deus!
E depois de dois anos de flagelação, o Chico teve a felicidade de passar uma semana
inteira sem garfadas e sem vergões.
4
O ANJO BOM
Dois anos de surras incessantes.
Dois anos vivera o Chico junto da madrinha.
Numa tarde muito fria, quando entrou em colóquio com Dona Maria João de Deus, Chico
implorou:
— Mamãe, se a senhora vem nos ver, porque não me retira daqui?
O Espírito carinhoso afagouo e perguntou:
— Por que está você tão aflito? Tudo, no mundo, obedece à vontade de Deus.
— Mas a senhora sabe que nos faz muita falta...
A Mãezinha consolouo e explicou:
— Não perca a paciência. Pedi a Jesus para enviar um anjo bom que tome conta de vocês
todos.
E sempre que revia a progenitora, o menino indagava:
26 – Ramir o Gama
— Mamãe, quando é que o anjo chegará?
— Espere, meu filho! — era a resposta de sempre.
Decorridos dois meses, o Sr. João Cândido Xavier resolveu casarse em segundas
núpcias. E Dona Cidália Batista, a segunda esposa, reclamou os filhos de Dona Maria João de
Deus, que se achavam espalhados em casas diversas.
Foi assim que a nobre senhora mandou buscar também o Chico. Quando a criança voltou
ao antigo lar contemplou a madrasta que lhe estendia as mãos.
Dona Cidália abraçouo e beijouo com ternura e perguntou:
— Meu Deus, onde estava este menino com a barriga deste jeito?
Chico, encorajado com o carinho dela, abraçoua também, como o pássaro que sentia
saudades do ninho perdido.
A madrasta bondosa fitouo bem nos olhos e indagou:
— Você sabe quem sou, meu filho?
— Sei sim. A senhora é o anjo bom de que minha mãe já falou...
E, desde então, entre os dois, brilhou o amor puro com que o Chico seguiu a segunda
mãe, até à morte.
5
A HORTA EDUCATIVA
Quando Dona Cidália reuniu os filhos menores de Dona Maria João de Deus, observou
que eles precisavam do grupo escolar.
O Sr. Cândido Xavier, pai da numerosa família, foi consultado.
Entretanto, a situação era difícil. 1918, a época a que nos referimos, marcara a passagem
da gripe espanhola. Tudo era crise, embaraço. E o salário, no fim de mês, dava escassamente para
o necessário. Não havia dinheiro para cadernos, lápis e livros.
A madrasta, alma generosa e amiga, chamou o enteado e lembrou:
— Chico, vocês precisam ir à escola. E como não há recurso para isso, vamos plantar uma
horta. Adubaremos a terra, plantarei os legumes e você fará a venda na rua... Com o resultado,
espero que tudo se arranje.
— A senhora pode contar comigo, — prometeu o menino.
A horta foi plantada.
Em algumas semanas, Chico já podia sair à rua com o cesto de verduras.
— Olhem a couve, a alface! Almeirão e repolho!...
E o povo comprava.
Cada molho de couve ou cada repolho valia um tostão.
Dona Cidália guardava o produto financeiro num cofre. Quando abriram o cofre, Dona
Cidália, feliz falou para o enteado:
— Você está vendo o valor do serviço? Agora vocês já podem frequentar as aulas do
grupo.
E foi assim que, em janeiro de 1919, Chico Xavier começou o ABC.
27 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
6
A HISTÓRIA DA CHAVE
Com a saída do chefe da casa e dos filhos mais velhos para o trabalho e com a ausência
das crianças na escola, Dona Cidália era obrigada, por vezes, a deixar a casa, a sós, porque devia
buscar lenha, à distância. Aí começou uma dificuldade. Certa vizinha, vendo a casa fechada, ia ao
quintal e colhia as verduras.
A madrasta bondosa preocupouse. Sem verduras não haveria dinheiro para o serviço
escolar.
Dona Cidália observou... Observou... E ficou sabendo que lhes subtraía os recursos da
horta; entretanto, repugnavalhe a ideia de ofender uma pessoa amiga por causa de repolhos e
alfaces.
Chamou, então, o Chico e lembrou.
— Meu filho, você diz que, às vezes, encontra o Espírito de Dona Maria. Peçalhe um
conselho. Nossa horta está desaparecendo e, sem ela, como sustentar o serviço da escola?
Chico procurou o quintal à tardinha e rezou e, como das outras vezes, a mãezinha
apareceu. O menino contoulhe o que se passava e pediulhe socorro.
D. Maria então lhe disse:
— Você diga à Cidália que realmente não devemos brigar com os vizinhos que são
sempre pessoas de quem necessitamos. Será então aconselhável que ela dê a chave da casa à amiga
que vem talando a horta, sempre que precise ausentarse, porque, desse modo a vizinha, ao invés
de prejudicar os legumes, nos ajudará a tomar conta deles.
Dona Cidália achou o conselho excelente e cumpriu a determinação.
Foi assim que a vizinha não mais tocou nas hortaliças, porque passou a responsabilizarse
pela casa inteira.
7
A LIÇÃO DA OBEDIÊNCIA
De novo reunido à família, Chico Xavier, fosse por que tivesse retornado à tranquilidade
ou por que houvesse ingressado na escola, não mais viu o Espírito da mãezinha desencarnada.
Entretanto, passou a ter sonhos.
À noite, no repouso, agitado, levantavase do leito, conversava com interlocutores
invisíveis e, muitas vezes, despertava pela manhã, trazendo notícias de parentes mortos, contando
peripécias ou narrando sucesso que ninguém podia compreender.
João Cândido Xavier, a conselho da segunda esposa, que se interessava maternalmente
pela criança, conduziu Chico ao padre Sebastião Scarzelli, antigo vigário da cidade de Matozinhos,
nas vizinhanças de Pedro Leopoldo, que depois de ouvir o menino, por algumas vezes, em
confissão, aconselhou João Cândido a impedir que o rapazelho lesse jornais, livros ou revistas.
— Chico devia estar impressionado com más leituras — dizia o sacerdote — aqueles
sonhos não eram outra coisa senão perturbações, porque as almas não voltam do outro mundo...
Intrigado por ver que ninguém dava crédito ao que via e escutava, em sonhos, certa noite,
rogou, em lágrimas, alguma explicação da progenitora de quem não se esquecia.
Dona Maria João de Deus apareceulhe no sonho, calma e bondosa, e o Chico deulhe a
conhecer as dificuldades em que vivia.
28 – Ramir o Gama
Ninguém acreditava nele — clamou. Mas o conselho maternal veio logo:
— Você não deve exasperarse. Sem humildade, é impossível cumprir uma boa tarefa.
— Mas, mamãe, ninguém acredita em mim...
— Que tem isso, meu filho?
— Mas eu digo a verdade.
— A verdade é de Deus, e Deus sabe o que faz, — disse a generosa entidade.
Chico, porém, choramingou:
— Não sei se a senhora sabe, papai e o padre estão contra mim... Dizem que estou
perturbado...
Dona Maria abraçouo e disse:
— Modifique seus pensamentos. Você é ainda uma criança e uma criança indisciplinada
cresce com a desconfiança e com a antipatia dos outros. Não falte ao respeito para com seu pai e
para com o padre. Eles são mais velhos e nos desejam todo o bem. Aprenda a calarse. Quando
você lembrar alguma lição ou alguma experiência recebidas em sonho, fique em silêncio. Se for
permitido por Jesus, então, mais tarde virá o tempo em que você poderá falar. Por enquanto, você
precisa aprender a obediência para que Deus, um dia, conceda ao seu caminho a confiança dos
outros.
Desde essa noite, Chico calouse e Dona Maria João de Deus passou algum tempo sem
fazerse visível.
8
TEMPORÁRIA SEPARAÇÃO
Continuando os desequilíbrios do Chico, em janeiro de 1920, João Cândido Xavier, seu
pai, pediu ao padre que fosse mais exigente com a criança, no confessionário.
O sacerdote concordou com a sugestão...
Quando o vigário lhe ouvia as referências sobre as rápidas entrevistas com Dona Maria
João de Deus, desencarnada desde 1915, faloulhe francamente:
— Não, meu filho. Isso não pode ser. Ninguém volta a conversar depois da morte. O
demônio procura perturbarlhe o caminho...
— Mas, padre, foi minha mãe quem veio...
— Foi o demônio.
Severamente repreendido pelo vigário, o menino calouse, chorando muito.
O Sr. João Cândido, católico de Santa Luzia do Rio das Velhas deu razão ao padre.
— Aquilo só podia ser o demônio.
Chico refugiouse no carinho da madrasta, alma compreensiva e boa.
E Dona Cidália lhe disse:
— Você não deve chorar, meu filho. Ninguém pode dizer que você esteja perseguido pelo
demônio. Se for realmente sua mãezinha quem veio conversar com você, naturalmente isso
acontece porque Deus permite. É Deus estando no assunto ajudará para que isso tudo fique
esclarecido.
À noite desse dia, Chico sonhou que reencontrava a progenitora.
Dona Maria abraçouo e recomendou:
29 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Repito que você deve obedecer a seu pai e ao vigário. Não brigue por minha causa. Por
algum tempo você não mais me verá, contudo, se Jesus permitir, mais tarde estaremos mais juntos.
Não perca a paciência e esperemos o tempo.
Chico acorda em pranto.
Enxugou os olhos, resignado.
E, por sete anos consecutivos, não mais teve qualquer contacto pessoal com a mãezinha,
para somente receberlhe as mensagens psicografadas em 1927 e revêla, de novo, pela vidência
mais clara e mais segura, em 1931, quando mais familiarizado com o serviço mediúnico, ao qual
se entregara de coração.
9
A PRIMEIRA SESSÃO
De princípios de 1920 a 1927, Chico não mais conseguiu avistarse pessoalmente com o
Espírito de Dona Maria João de Deus.
Integrado na comunidade católica, obedecia às obrigações que lhe eram indicadas pela
Igreja. Confessavase, comungava, comparecia pontualmente à missa e acompanhava as
procissões. Terminara o curso primário no Grupo Escolar “São José”, de Pedro Leopoldo em 1923,
levantandose às seis da manhã para começar às sete as tarefas escolares e entrando para o serviço
da fábrica às três da tarde para sair às onze da noite.
O trabalho, porém, era exaustivo e, em 1925 deixou a fábrica, empregandose na venda
do Sr. José Felizardo Sobrinho, onde o trabalho ia das seis e meia da manhã às oito da noite, com o
salário de treze cruzeiros por mês. Entretanto, continuavam as perturbações noturnas.
Depois de dormir, caía em transes surpreendentes. Perambulava pela casa, falava em voz
alta, dava notícias de pessoas que sofriam no Além, mantinha longas conversações, cujo fio era
impenetrável aos familiares aflitos.
Em 1927, porém, eis que a sua irmã D. Maria da Conceição Xavier, hoje mãe de família,
cai doente. Era um doloroso processo de obsessão.
Tratada carinhosamente pelo confrade Sr. José Hermínio Perácio, que atualmente reside
em Belo Horizonte, a jovem curouse.
Foi assim que se realizou a primeira sessão espírita no lar da família Xavier, em Pedro
Leopoldo. Perácio, na direção, pronunciava vibrante prece. Na mesa, dois livros. Eram eles O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO e O LIVRO DOS ESPÍRITOS, de Allan Kardec.
O Espírito de Dona Maria João de Deus comparece e grafa longa mensagem aos filhos
presentes, através da médium D. Carmem Pena Perácio, devotada esposa do companheiro a que
nos referimos. Reportase a cada filho, de maneira particular. E, dirigindose ao Chico, comoveo,
escrevendo:
— Chico, meu filho, eis que nos achamos mais juntos, novamente. Os livros à nossa
frente são dois tesouros de luz. Estudeos, cumpra os seus deveres e, em breve, a Bondade Divina
nos permitirá mostrar a você os seus novos caminhos.
E assim realmente aconteceu.
30 – Ramir o Gama
10
O PRESIDENTE FRUSTRADO
A primeira sessão espírita no lar dos Xavier realizouse em maio de 1927.
Em junho do mesmo ano, os companheiros dessa reunião cogitavam de fundar um núcleo
doutrinário. Era preciso fundar um Centro — diziam. E, certa noite, num velho cômodo junto à
venda de José Felizardo, onde o Chico era empregado, o assunto voltou a debate.
Na assembléia, estavam apenas dois companheiros espíritas, contudo, junto deles, umas
dez pessoas, sentadas, bebiam e comiam animadamente.
— Ah! Um Centro Espírita? Boa ideia! — comentavase.
— Apressemos a fundação!
— Faremos tudo por ajudar.
— Será para nós um sinal de progresso.
E, dentre as exclamações entusiásticas que explodiam surgiu a palavra de um cavalheiro
respeitável, pedindo para que o Centro fosse instituído ali mesmo. Quem seria o Presidente? José
Hermínio Perácio, o companheiro que acendera aquela nova luz do Espiritismo em Pedro
Leopoldo, morava longe, a cem quilômetros de distância.
Mas o cavalheiro de faces avermelhadas prometeu solene:
— Assumo a responsabilidade. A fundação ficará por minha conta. Chamem o Chico. Ele
poderá lavrar a ata de fundação. Serei o Presidente e ele terá as funções de Secretário.
Depois de breve conversação, o grupo recebeu o nome de “Centro Espírita Luiz
Gonzaga”.
Chico lavrou a ata que todos presentes assinaram.
Mas, na manhã imediata, o cavalheiro que chamara a si a Presidência, voltou à venda de
José Felizardo e pediu para que seu nome fosse retirado da ata, alegando:
— Chico você sabe que sou de família católica e tenho meus deveres sociais. Ontem,
aquele meu entusiasmo pelo Espiritismo era efeito do vinho. Se vocês precisarem de mim, estou
pronto para auxiliar, contudo, não posso aceitar o encargo de Presidente.
— Mas, e como ficaremos? — perguntou o Chico — eu sou apenas o Secretário.
— Você faça como achar melhor, mas não conte comigo.
E o Presidente saiu, deixando o Chico a pensar.
11
O ENTUSIASMO APAGADO
Em fins de 1927, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, então sediado na residência de José
Cândido Xavier, que se fez Presidente da instituição, estava bem frequentado.
Muita gente.
Muitos candidatos ao serviço da mediunidade.
Muitas promessas.
José era irmão do Chico e na residência dele realizavamse as sessões públicas nas noites
de segundas e sextasfeiras. Em cada reunião, ouviamse exclamações como esta:
— Quero ser médium psicógrafo!...
— Quero desenvolverme na incorporação!...
— Precisamos trabalhar muito...
31 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Não será interessante fundar um abrigo ou um hospital?
O entusiasmo era grande quando, em outubro do mesmo ano, chegou a Pedro Leopoldo,
Dona Rita Silva, sofredora mãe com quatro filhas obsidiadas. Vinham ela e o irmão Saul, tio das
doentes, da região de Pirapora, zona do Rio São Francisco, no norte mineiro. As moças, em plena
alienação mental, inspiravam compaixão. Tinham crises de loucura completa. Mordiamse umas às
outras. Gritavam blasfêmias. Uma delas chegara acorrentada, tal a violência da perturbação de que
era vítima.
O Espírito de Dona Maria João de Deus explicou pela mão do Chico:
— Meus amigos, temos desejado o trabalho e o trabalho nos foi enviado por Jesus.
Nossas irmãs doentes devem ser amparadas aqui no Centro. A fraternidade é a luz do Espiritismo.
Procuremos servir com Jesus.
Isso aconteceu numa noite de segundafeira. Quando chegou a reunião da sexta, José e
Chico Xavier estavam em companhia das obsidiadas sem mais ninguém.
12
A SURRA DE BÍBLIA
Lutando no tratamento das irmãs obsidiadas, José e Chico Xavier gastaram alguns meses
até que surgisse a cura completa. No princípio, porém, da tarefa assistencial houve uma noite em
que José foi obrigado a viajar em serviço da sua profissão de seleiro. Mudarase para Pedro
Leopoldo um homem bom e rústico, de nome Manuel, que o povo dizia muito experimentado em
doutrinar espíritos das trevas. O irmão do Chico não hesitou e resolveu visitálo, pedindo
cooperação. Necessitava ausentarse, mas o socorro às doentes não deveria ser interrompido.
“Seu” Manuel aceitou o convite e, na hora aprazada, compareceu ao “Centro Espírita Luiz
Gonzaga”, com uma Bíblia antiga sob o braço direito.
A sessão começou eficiente e pacífica. Como de outras vezes, depois das preces e
instruções de abertura, o Chico seria o médium para a doutrinação dos obsessores. Um dos
espíritos amigos incorporouse, por intermédio dele, fornecendo a precisa orientação e disse ao
“seu” Manuel entre outras coisas:
— Meu amigo, quando o perseguidor infeliz apossarse do médium, aplique o Evangelho
com veemência.
— Pois não, — respondeu o diretor muito calmo, — a vossa ordem será obedecida.
E quando a primeira das entidades perturbadas assenhoreou o aparelho mediúnico,
exigindo assistência evangelizante, “seu” Manuel tomou a Bíblia de grande formato e bateu, com
ela, muitas vezes, sobre o crânio do Chico, exclamando, irritadiço:
— Tome Evangelho! Tome Evangelho!...
O obsessor, sob a influência de benfeitores espirituais da casa, afastouse, de imediato, e a
sessão foi encerrada. Mas o Chico sofreu intensa torção no pescoço e esteve seis dias de cama para
curar o torcicolo doloroso. E, ainda hoje, ele afirma satisfeito que será talvez das poucas pessoas
do mundo que terão tomado “uma surra de Bíblia”...
13
MESA DE CR$ 15,00...
O Chico estava empregado na venda do Sr. José Felizardo.
32 – Ramir o Gama
Ganhava Cr$ 60,00 por mês (sessenta cruzeiros). Mal dava para ajudar a família. Apenas
lhe sobrava, quando sobrava, meia dúzia de centavos.
Uma de suas irmãs, que o auxiliava no expediente do lar, faloulhe, certa vez, da
necessidade que estavam de uma mesa para a sala de jantar, pois a que possuíam era pequena e
estava velha, a pedir substituição. E alvitroulhe:
— A vizinha do lado tem uma que nos serve. Vendea por Cr$ 15,00. Mas como a
pagaremos se não possuo e nem me sobra esta quantia, no fim de cada mês?
A vizinha, dona da mesa, soube das dificuldades do Chico e. desejando ajudálo, propôs
lhe vender o entressonhado móvel à razão de 1 cruzeiro por mês, em quinze prestações mensais.
O Chico aceitou e a mesa foi comprada. Pagoua com sacrifício.
Ficou sendo uma mesa abençoada.
E foi sobre ela que, mais tarde, entendeu com Emmanuel a lição do pão e dos demais
alimentos, verificando em tudo a felicidade do pouco com Deus.
14
UM ENSINAMENTO QUE FICOU
A luta ia acesa.
Trabalhos. Dificuldades. Incompreensões.
Chico, ao lado de José Xavier, perseverava...
Uma noite, porém, experimentava enorme fadiga. E à hora da reunião, perguntava a si
mesmo:
— Valia a pena combater? Por que dedicarse à mediunidade se Jesus já estivera no
mundo e, tudo ensinando, não fora compreendido? Não seria melhor entregar a Nosso Senhor a
Terra com tudo o que pertence à vida dos homens?
Foi então que a mãezinha desencarnada recomendoulhe que abrisse o Novo Testamento,
o que Chico fez pela primeira vez, esclarecendolhe que o Evangelho tem sempre uma resposta
para nossas dúvidas.
O filho abriu o Código Divino, ao acaso, e leu no versículo 1, do livro dos Atos dos
Apóstolos; “... no primeiro livro, ó Teófilo, relatei todas as coisas que Jesus começou a fazer e
ensinar”.
A entidade carinhosa, acordandoo para o dever a cumprir, observou:
— Reparou, meu filho? Pela narração dos Apóstolos, ficamos sabendo que o Evangelho
relata as maravilhas que Jesus começou a fazer e a ensinar... Aprendamos a cooperar com Ele,
porque ainda estamos muito longe da conclusão do Reino de Deus na Terra que Nosso Senhor está
construindo.
E o ensinamento ficou, exigindo meditação...
15
A LIÇÃO DA SÚPLICA
Certa noite, o Chico alquebrado pelos obstáculos, orava, antes do sono, rogando a Jesus
múltiplas medidas e soluções para os problemas que o apoquentavam. Mais de quarenta minutos já
havia empregado no petitório, quando lhe surgiu Dona Maria João de Deus que lhe falou bondosa:
33 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Meu filho, faça suas orações, porque sem a prece não conseguimos a renovação de
nossas forças espirituais, entretanto, não será por muito falar que você será atendido.
— Então, como devo fazer em minhas súplicas? — perguntou o Médium desapontado.
— Você sabe que Jesus também pede alguma coisa de nós... — disse o espírito maternal.
— Sim, Nosso Senhor recomendanos humildade, paciência, fé, bom ânimo, caridade e
amor ao próximo no cumprimento de nossos deveres.
— Pois, façamos o que Jesus nos pede e Jesus fará por nós o que lhe pedimos. Está certo?
E o Chico recebendo a lição aprendeu que orar não é falar e mover os lábios,
indefinidamente.
16
A CARIDADE E A ORAÇÃO
“O Centro Espírita Luiz Gonzaga” ia seguindo para a frente... Certa feita, alguns
populares chegaram à reunião pedindo socorro para um cego acidentado.
O pobre mendigo, mal guiado por um companheiro ébrio, caíra sob o viaduto da Central
do Brasil, na saída de Pedro Leopoldo para Matozinhos, precipitandose ao solo, de uma altura de
quatro metros. O guia desaparecera e o cego vertia sangue pela boca. Sozinho, sem ninguém...
Chico alugou pequeno pardieiro, onde o enfermo foi asilado para tratamento médico.
Curioso facultativo receitou, graciosamente.
Mas o velhinho precisava de enfermagem.
O médium velava junto dele à noite, mas durante o dia precisava atender às próprias
obrigações na condição de caixeiro do Sr. José Felizardo.
Havia, por essa época, 1928, uma pequena folha semanal, em Pedro Leopoldo. E Chico
providenciou para que fosse publicada uma solicitação, rogando o concurso de alguém que
pudesse prestar serviços ao cego Cecílio, durante o dia, porque à noite, ele próprio se
responsabilizaria pelo doente. Alguém que pudesse ajudar. Não importava que o auxílio viesse de
espíritas, católicos ou ateus.
Seis dias se passaram sem que ninguém se oferecesse.
Ao fim da semana, porém, duas meretrizes muito conhecidas na cidade se apresentaram e
disseramlhe:
— Chico, lemos o pedido e aqui estamos. Se pudermos servir...
— Ah! Como não? — replicou o médium — Entrem, irmãs! Jesus há de abençoarlhes a
caridade.
Todas as noites, antes de sair, as mulheres oravam com o Chico, ao pé do enfermo.
Decorrido um mês, quando o cego se restabeleceu, reuniramse pela derradeira vez, em
prece, com o velhinho feliz.
Quando o Chico terminou a oração de agradecimento a Jesus, os quatro choravam.
Então, uma delas disse ao médium:
— Chico, a prece modificou a nossa vida. Estamos a despedirnos. Mudamonos para
Belo Horizonte, a fim de trabalhar.
E uma passou a servir numa tinturaria, desencarnando anos depois e a outra conquistou o
título de enfermeira, vivendo, ainda hoje, respeitada e feliz.
34 – Ramir o Gama
17
A PERGUNTA DE TIMBIRA
Joaquim Tímbira era uma das entidades que se comunicavam frequentemente nas sessões
dos irmãos Xavier. Companheiro espiritual, simples e bom, estava sempre disposto a auxiliar com
a sua experiência nos trabalhos, em favor dos obsidiados.
Houve uma ocasião em que apareceu uma jovem perseguida por diversas entidades da
sombra e, à noite, obsessores, em falanges, tomavamlhe a boca, derramando fel e veneno em
forma de palavras.
José doutrinava os visitantes conturbados. Iam muitos e muitos vinham. E o dirigente
conversava, conversava. Numa das reuniões, Joaquim Timbira incorporase no Chico e aconselha:
— José, meu filho, convém ensinar o bom caminho aos irmãos sofredores, entretanto, é
preciso doutrinar igualmente a médium. É necessário que a mocinha estude, compenetrandose dos
seus deveres.
— Mas não será caridade necessária doutrinar os espíritos infelizes?
— Sim, sim...
— Então? — insistiu José Xavier — penso que estou certo, procurando encaminhar à
verdade nossos irmãos vitimados pela ignorância e pelo sofrimento. Devem eles ser atendidos em
primeiro lugar.
Joaquim Timbira fez uma longa pausa como quem refletia com segurança para responder
e considerou:
— José, toda a caridade feita com boa intenção é louvável diante do Céu, mas que será
melhor? Curar feridas ou espantar moscas?
E a pergunta do amigo espiritual ficou gravada por valiosa lição.
18
O REMÉDIO
E, depois de semelhante receita, o Espírito de Dona Maria retirouse como quem não
tinha outro remédio a ensinar.
19
A ÁGUA DA PAZ
Em torno da mediunidade, improvisamse, ao redor do Chico, acesas discussões.
É, não é. Viu, não viu.
E o médium sofria, por vezes, longas irritações, a fim de explicar sem ser compreendido.
Por isso, à hora da prece, achavase quase sempre, desanimado e aflito.
Certa feita, o Espírito de Dona Maria João de Deus compareceu e aconselhoulhe:
— Meu filho, para curar essas inquietações você deve usar a Água da Paz.
O Médium, satisfeito, procurou o medicamento em todas as farmácias de Pedro Leopoldo.
Não o encontrou. Recorreu a Belo Horizonte. Nada. Ao fim de duas semanas, comunicou à
progenitora desencarnada o fracasso da busca.
Dona Maria sorriu e informou:
— Não precisa viajar em semelhante procura. Você poderá obter o remédio em casa
mesmo. A Água da Paz pode ser a água do pote. Quando alguém lhe trouxer provocações com a
palavra, beba um pouco de água pura e conservea na boca. Não a lance fora, nem a engula.
Enquanto perdurar a tentação de responder, guarde a água da paz, banhando a língua.
O Médium baixou, então, os olhos, desapontado. Compreendera que a mãezinha lhe
chamava o espírito à lição da humildade e do silêncio.
20
A VISITA DE CASIMIRO
Depois do conselho de D. Maria João de Deus com respeito à Água da Paz, Chico sentiu
o braço visitado pela influência de um novo amigo invisível. Tomou o lápis e o visitante escreveu
para ele em Caracteres bem traçados e firmes:
Meu amigo, se desejas
Paz crescente e guerra pouca,
Ajuda sem reclamar
E aprende a calar a boca.
Quem seria o comunicante?
Depois de alguns momentos, o amigo espiritual identificouse, assinando: Casimiro
Cunha. Foi este o primeiro contacto entre o Médium e o mavioso poeta vassourense.
21
A MEDICAÇÃO PELA FÉ
A moça abatida, num acesso de tosse, chegara ao “Luiz Gonzaga” com a receita médica.
Estava tuberculosa. Duas hemoptises já haviam surgido como horrível prenúncio.
O doutor indicara remédios, entretanto...
36 – Ramir o Gama
22
HUMORISMO MATERNO
Em 1931, “mandar alguém para o inferno” constituía grave ofensa.
E um dos missionários católicos que visitaram Pedro Leopoldo naquela época, no zelo
com que defendia a Igreja Romana, falou do púlpito que o Chico, o Médium espírita que se
desenvolvia na cidade, devia ir para o inferno.
Chico, que frequentara a Igreja desde a infância, ficou muito chocado.
À noite, na reunião costumeira, aparece a progenitora desencarnada e, reparandolhe a
inquietude, perguntalhe, bondosa o motivo da aflição que trazia.
— Ah! Estou muito triste! — disse o rapaz.
— Por que?
— Ora, o padre me xingou muito...
— Que tem isso? Cada pessoa fala daquilo que tem ou daquilo que sabe.
— Mas a senhora imagine — clamou o Chico — que ele me mandou para o inferno...
O Espírito de Dona Maria sorriu e falou:
— Ele mandou você para o inferno, mas você não vai. Fique na Terra mesmo.
O Médium, ante o bom humor daquelas palavras, compreendeu que não convinha dar
ouvidos às condenações descabidas. E o serviço da noite desdobrouse em paz.
37 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
23
O CASO DA BESTA
Em 1931, quando o Chico passou a receber as primeiras poesias do PARNASO DE ALÉM
TÚMULO, um cavalheiro de Pedro Leopoldo, muito impressionado com os versos, resolveu
apresentar o Médium e os poemas a certo escritor mineiro, de passagem pela cidade.
O filho de João Cândido vestiu a melhor roupa que possuía e, com a pasta de mensagens
debaixo do braço, foi ao encontro marcado.
O conterrâneo do médium, embora católico romano, apresentou o Chico, entusiasmado:
— Este é o médium de quem lhe falei.
O escritor cumprimentou o rapaz e entregouse à leitura dos versos.
Sonetos de Augusto dos Anjos, poemetos de Casimiro Cunha, quadras de João de Deus...
Depois de rápida leitura, o literato sentenciou:
— Isso tudo é bobagem.
E mirando o Chico, rematou:
— Este rapaz é uma besta.
— Mas, doutor — disse, agastado, o conterrâneo do Chico —, o rapaz tem convicções e
abraça o Espiritismo como Doutrina.
— Pois, então, deve ser uma besta espírita! — declarou o escritor.
Bastante desapontado, o médium despediuse.
Em casa, durante a oração, a progenitora apareceu.
— A senhora viu como fui insultado? — perguntou o Chico.
E porque Dona Maria se revelasse alheia ao assunto, o filho contoulhe o caso.
A entidade sorriu e disse:
— Não vejo insulto algum. Creio até que você foi muito honrado. Uma besta é um animal
de trabalho...
— Mas o homem me apelidou por “besta espírita”.
— Isso não tem importância.— exclamou a mãezinha desencarnada — Imaginese como
sendo uma besta em serviço do Espiritismo. Se a besta não dá coices, convertese num elemento
valioso e útil.
Porque o filho silenciasse, Dona Maria acrescentou:
— Você não acha que é bem assim?
Chico refletiu e respondeu:
— É... pensando bem, é isso mesmo.
E o assunto ficou sem alteração.
24
UMA BOA LIÇÃO
Adoecera um dos irmãos do grupo. Reumatismo complicado e renitente.
Um amigo ensinou a aplicação de uma erva que somente se desenvolve em cavernas do
subsolo.
Chico e José Xavier, tendo por acompanhante um belo cão que lhes pertencia, de nome
Lorde, vão a uma grande lapa, das muitas que existem nas cercanias de Pedro Leopoldo; em
caminho começam a conversar.
Falavam a respeito de certos amigos e comentavam:
38 – Ramir o Gama
— Beltrano não serve.
— Fulano é muito esquisito.
— Sicrano é imprestável.
Quando as críticas iam inflamadas, o Espírito de Dona Maria João de Deus aparece ao
Chico e aconselha:
— Vocês não devem falar mal de ninguém. Todos necessitamos uns dos outros. Julgar
pelas aparências é péssimo hábito. Sempre chega um momento na vida em que precisamos de
amparo de criaturas que supomos desprezíveis.
O médium transmitiu ao irmão quanto ouvira e calaramse ambos.
Chegaram à caverna e José, segurando Lorde por uma corda, desceu à frente. Depois de
longa busca, encontraram a erva medicinal. Contudo, quando se voltavam para o retorno, perderam
a noção do caminho sob as grandes abóbadas de pedra. De vela acesa, procuraram debalde a saída.
Gritaram, mas receberam o eco da própria voz.
Quando a luz se mostrava quase extinta, recordaramse da prece.
Oraram.
Dona Maria João de Deus apareceu ao médium e considerou:
— Temos agora a prática do ensinamento a que nos reportamos na estrada. Vocês podem
saber muita coisa, mas agora precisam do cão. Soltem o Lorde e sigamlhe os passos. Ele sabe o
caminho da volta.
Assim fizeram. E acompanhando o animal, venceram o labirinto em alguns minutos.
Lá fora, à luz do dia, entreolharamse surpresos, meditaram na lição recebida e renderam
graças a Deus.
25
O INESPERADO BENFEITOR
A venda de José Felizardo, onde o Chico era empregado, vivia repleta.
Entre os que a frequentavam estava um homem rude, de nome Honorato, que era perito
em provocar a antipatia dos outros.
Dizia palavrões. Embriagavase. Por qualquer “dá cá uma palha” exibia um punhal.
Chico também não simpatizava com ele. E quando estava à beira de uma discussão
desagradável com o pobre beberrão, lembrouse da prece e calouse.
Em plena oração, viu Dona Maria João de Deus, que o advertiu:
— Meu filho, evite contendas. Hoje esse homem pode ser antipático aos seus olhos.
Amanhã, talvez poderá ser um benfeitor em nossas necessidades.
Meses passaram.
Num domingo, José e Chico Xavier foram, de manhãzinha, ao campo em busca de ervas
medicinais para socorro a irmãos doentes. Andaram muito à procura do velame, da carqueja e dos
grelos de samambaia. Quando se dispunham ao regresso, larga nuvem de neblina desceu sobre a
região. Por muito que se esforçassem não reencontraram o trilho de volta. Por mais de duas horas
erraram no mato agreste. Muito aflitos, oraram juntos, pedindo socorro. Os amigos espirituais
pareciam ausentes e o nevoeiro aumentava cada vez mais. Continuaram andando, fatigados,
quando viram uma casinha à pequena distância. Bateram à porta e a porta abriuse. Uma voz
alegre e acolhedora gritou lá de dentro:
— Oh! Chico, você aqui?
39 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Era o Honorato, que os abraçou com satisfação, oferecendolhes alimento e guiandoos ao
caminho de retorno.
Quando o benfeitor se despediu, deixandoos tranquilos, a progenitora desencarnada
apareceu ao médium e disselhe:
— Compreendeu, Chico?
E o Chico, impressionado, respondeu:
— Compreendi, sim. A senhora tem razão.
26
HISTÓRIA DE UM SONETO
Em 1931, desencarnara um amigo do Chico, em Pedro Leopoldo. Cavalheiro digno,
católico muito distinto e pai de família exemplar. O médium acompanha o enterro.
Na cidade, da igreja ao Cemitério, é longo o percurso. Um padre presente abeirase do
rapaz e pergunta:
— Então, Chico, dizem que você anda recebendo mensagens do outro mundo...
— É verdade, reverendo. Sinto que alguém me ocupa o braço e se serve de mim para
escrever...
— Tome cuidado. Lembrese de que o Espírito das Trevas tem grande poder para o mal.
— Entretanto, padre, os Espíritos que se comunicam somente nos ensinam o bem.
O sacerdote retirou um papel em branco da intimidade de um livro que sobraçava e
convidou:
— Bem, Chico, estamos no Cemitério, acompanhando um amigo morto... Tente alguma
coisa. Vejamos se há aqui algum Espírito desejando escrever.
Chico recebe o papel e concentrase.
Em poucos instantes, sente o braço tomado pela força espiritual e psicografa a poesia aqui
transcrita:
ADEUS
O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.
Geme a viuvez, lamentase a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade...
“Adeus, Terra das minhas desventuras...
Adeus, amados meus...“ — diz nas alturas...
A alma liberta, o azul do céu singrando...
— Adeus... — choram as rosas desfolhadas,
— Adeus... — clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando...
Auta de Souza
Este soneto foi incorporado ao PARNASO DE ALÉMTÚMULO.
27
40 – Ramir o Gama
DISCIPLINA
Nos fins de 1931, Chico, à tardinha, orava sob uma árvore junto ao açude, pitoresco local
na saída de Pedro Leopoldo para o norte, quando viu, à pequena distância uma grande cruz
luminosa. Pouco a pouco, dentre os raios que formava, surgiu alguém. Era um Espírito simpático,
envergando túnica semelhante à dos sacerdotes, que lhe dirigiu a palavra com carinho.
Não se sabe o que teriam conversado naquele crepúsculo, mas conta o médium que foi
esse o seu primeiro encontro com Emmanuel, na vida presente. E acentua que em certo ponto do
entendimento, o orientador espiritual perguntoulhe:
— Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com o Evangelho de Jesus?
— Sim, se os bons Espíritos não me abandonarem... — respondeu o médium.
— Não será você desamparado — disselhe Emmanuel —, mas para isso é preciso que
você trabalhe, estude e se esforce no bem.
— E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? — tomou o
Chico.
— Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o serviço.
Porque o protetor se calasse, o rapaz perguntou:
— Qual é o primeiro?
A resposta veio firme:
— Disciplina.
— E o segundo?
— Disciplina.
— E o terceiro?
— Disciplina.
O Espírito amigo despediuse e o Médium teve consciência de que para ele ia começar
uma nova tarefa.
28
A INESQUECÍVEL PERGUNTA
O PARNASO DE ALÉM TÚMULO, com carinhoso entusiasmo de Manoel Quintão, foi
lançado em julho de 1932. E no mesmo mês, o padre Júlio Maria, de Manhumirim, em Minas, no
seu jornal “O Lutador ”, escreveu áspera crítica, condenando o livro e o médium. Dentre outras
coisas dizia que o Chico devia possuir uma pele de rinoceronte para caber tantos Espíritos.
Os comentários irônicos e as acusações gratuitas eram tantos que o médium, inexperiente
e muito jovem ainda, se sentiu demasiadamente chocado e foi constrangido a buscar o leito.
“Então, a luta era aquela? — pensava, com dor de cabeça. —Valia a pena ser médium e
ficar exposto, assim, ao juízo temerário dos outros? Seria justo agüentar aqueles xingatórios
quando estava possuído das melhores intenções?”
Por mais de duas horas se via em semelhante contenda íntima, quando viu Emmanuel ao
seu lado. Contou ao Mentor o que se passava e supôs que o espírito amigo o acariciaria sem
restrições.
Emmanuel, porém, de pé, com severa fisionomia, faloulhe firme:
— Mas eu não vejo razão para solenizar este assunto.
41 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Entretanto, o senhor está vendo... O padre disse que eu tenho uma pele de
rinoceronte... — clamou o Médium.
— Se não tem, precisa ter — disselhe o protetor — porque se você quiser cultivar uma
pele muito frágil, cairá sempre com qualquer alfinetada e não nos seria possível a viagem da
mediunidade nos caminhos do mundo...
— Contudo, temos o nosso brio, a nossa dignidade — acrescentou o Chico — e é difícil
viver com o desrespeito público.
Foi então que Emmanuel o fitou com mais firmeza e exclamou:
— Escute. Se Jesus que era Jesus, saiu da Terra pelos braços da cruz, você é que está
esperando uma carruagem para viver entre os homens?
Quando ouviu a pergunta, o Chico levantouse de um pulo e começou a reajustarse.
29
SOLIDÃO APARENTE
Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de
cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier
e o Chico. Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras,
desapareciam como por encanto.
Perácio e senhora, contudo, precisavam transferirse para Belo Horizonte por impositivos
da vida familiar. O grupo ficou limitado a três companheiros.
D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa passou a contar apenas com os
dois irmãos. José, no entanto, era seleiro e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe
vendia couros, credor esse que insistia em receberlhe os serviços noturnos, numa oficina de
arreios, em forma de pagamento. Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a
frequência ao grupo, pelo menos, por alguns meses.
Vendose sozinho, o médium também quis ausentarse.
Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir,
Emmanuel apareceulhe e disse:
— Você não pode afastarse. Prossigamos em serviço.
— Continuar como? Não temos frequentadores...
— E nós? — disse o Espírito amigo. — Nós também precisamos ouvir o Evangelho para
reduzir nossos erros. E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de
esclarecimento e consolo. Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do
Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.
Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do
Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto.
Em seguida, abria O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, ao acaso e lia essa ou
aquela instrução, comentandoa em voz alta.
Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez.
Via e ouvia dezenas de almas desencarnadas e sofredoras que iam até o grupo, à procura
de paz e refazimento. Escutavalhes as perguntas e davalhes respostas sob a inspiração direta de
Emmanuel. Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho...
E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas
iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextasfeiras.
42 – Ramir o Gama
30
A SEGURANÇA DO TRABALHO
Atendendo a instruções de Emmanuel, Chico iniciava os trabalhos no “Centro Espírita
Luiz Gonzaga” às oito da noite, encerrandoos às dez horas, enquanto frequentou sozinho a
instituição. Fazia a prece de abertura, orava e, depois, lia páginas de O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO, de Allan Kardec, comentandoas, em voz alta, para os desencarnados.
Pessoas da família indagavam sobre aquela resolução de “falar sozinho”, entretanto, o
médium explicava:
— Há muitos Espíritos frequentando a casa. Chegam desconsolados e tristes e Emmanuel
afirma que a obra de evangelização é necessária a todos nós. Não podemos parar...
Certa noite, uma senhora desencarnada em Pedro Leopoldo conversava com o Chico no
salão do Centro, em que ele se achava aparentemente sozinho e o diálogo seguia, curioso:
— Tenhamos fé em Jesus, minha irmã... Não desespere. Com a paciência alcançaremos a
paz... Sem calma, tudo piora... Com o tempo, a senhora, verá que tudo está certo como está.
A conversação prosseguia assim, quando uma das irmãs do médium, escutandolhe a
palavra, debruçada em janela próxima, perguntoulhe em voz alta:
— Chico, quem está conversando com você?
— Dona Chiquinha de Paula.
— Que história é esta? Dona Chiquinha já morreu...
— Ah! Você é que pensa... Ela está bem viva.
A irmã do rapaz, alvoroçada, comunicou aos familiares o que ocorria.
Chico devia estar maluco. Era preciso medicálo, socorrêlo.
Outras irmãs do Médium, porém, apressaramse a observar que ele trabalhava,
corretamente, todos os dias.
Seria justo dar por louco um irmão que era amigo e útil?
Ficou então estabelecido em família que, enquanto o Chico estivesse firme no serviço,
ninguém cogitaria de considerálo um alienado mental.
Desse modo, o Chico Xavier costuma dizer que o trabalho de cada dia, com a bênção de
Deus, tem sido para ele a melhor segurança.
31
UMA DÍVIDA PAGA PELO ALTO...
José, o irmão de Chico, que fora por muito tempo seu orientador e dirigia as sessões do
“Luiz Gonzaga”, adoece gravemente, e, sob a surpresa de seus caros entes familiares, desencarna,
deixando ao irmão o encargo de lhe amparar a família. Dias depois, o Chico verifica que o José lhe
deixara também uma dívida, pois esquecera de pagar a conta da luz, na importância de onze
cruzeiros. Isto era muito para o pobre médium, pois no fim de cada mês nada lhe sobrava do
ordenado.
Pensativo, sentouse à soleira da porta de sua casinha rústica e abençoada.
Emmanuel lhe diz:
— Não se apoquente, confie e espere.
Horas depois, alguém lhe bate à porta. Vai ver.
Era um senhor da roça.
43 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— O senhor é o seu Chico Xavier?
— Sim. Às suas ordens, meu irmão.
— Soube que seu irmão José morreu. E vim aqui pagarlhe uma bainha de faca que ele
me fez há tempos. E aqui está a importância combinada.
Chico agradeceulhe.
E ficando só, abriu o envelope. Dentro estavam onze cruzeiros... para pagar a luz.
Sorriu, descansado, livre de um peso.
E concluiu para nós: — “Que bela lição ganhei”. E nós: — Também para os que sabem
olhar para os lírios dos campos, que não temem o amanhã, porque sabem que ele pertence a Deus.
32
IN EXTREMIS... (PENSAVA QUE IA MORRER...)
Em 1940, ficou gravemente enfermo. O médico que lhe assistia fez o diagnóstico,
prevendo um ataque de uremia. Se a retenção perdurasse por mais 24 horas, teria o Chico um
colapso e desencarnaria. Assim lhe dissera o médico, colocandoo a par da realidade dolorosa.
O facultativo saiu e Chico notou que, do Alto, Bezerra de Menezes, André Luiz e
Emmanuel providenciavamlhe recursos, entremostrandolhe que era grave seu estado. Preparou
se, então, para morrer bem. Pediu, em prece sentida, a Emmanuel, que o recebesse na
Espiritualidade.
Seu amoroso Guia, sentindolhe a intenção, considerou:
— Não posso, Chico, auxiliálo no seu desencarne. Tenho muito que fazer. Mas se você
sentir que a hora chegou, recorra aos amigos do “Luiz Gonzaga”. Você não é melhor que os
outros.
E, com esse ensinamento, o médium recebeu uma bela lição.
33
PEDINDO ESMOLA PARA ENTERRAR O EXPATRÃO
Chico levantarase cedo e, ao sair, de charrete, para a Fazenda, encontrase no caminho
com o Flaviano, que lhe diz:
— Sabe quem morreu?
— Não!...
— O Juca, seu expatrão. Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer.
— Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.
— A que horas é o enterro?
— Creio que vão enterrálo a qualquer hora, como indigente, no caixão da Prefeitura, isto
é, no rabecão...
Chico medita, emocionado, e pede:
— Flaviano, façame um favor: vá à casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um
pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.
Flaviano despedese e parte.
Chico desce da charrete. Manda um recado para seu Chefe.
44 – Ramir o Gama
Recorda seu expatrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali
mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus:
“Senhor, tratase de meu expatrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos
mais angustiosos; que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por
minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajudeme, Senhor”.
E, tirando o chapéu da cabeça e virandoo de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater
de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo.
Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida
com o ato do Chico.
Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovêlo daquele peditório.
— Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou
conosco.
Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do
Chico, a quem estima.
Esbarra com ele:
— Por que tanta pressa, Chico?
— Meu nêgo, estou pedindo esmolas para enterrar meu expatrão.
— Seu Juca? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, então, Chico. Tenho aqui algum
dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje.
E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado ate ali. Chico olhoulhe os
olhos mortos e sem luz. Viuos cheios de lágrimas.
Comoveuse mais.
— Obrigado, meu nêgo! Que Jesus lhe pague o sacrifício.
Comprou com o dinheiro esmolado o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhouo até
o cemitério. E já tarde, regressou à casa.
Tinha vivido um grande dia.
Sentouse à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai, observavamno comovidos.
Em prece muda, agradeceu a Jesus. Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso de seu bondoso
Guia lhe diz tudo. Chico o entende.
Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e
de amor ao Divino Mestre.
34
EM VISITA Á FAZENDA DO PAI
Em 1946, adoece de novo, gravemente. Gastara demais o corpo.
Achavase esgotadíssimo, fraco, febril. Os médicos, consultados, dãono como
tuberculoso.E em certa manhã ensolarada, vendoo sentado, muito triste, à porta da casa,
Emmanuel, seu dedicado Guia, põelhe a mão no ombro e lhe diz:
— Chico, procure reagir, senão você falirá. Sua enfermidade é tanto do corpo como do
espírito. Mas não desanime. Vai ficar bom, se Deus quiser.
E, depois de lhe dar uma bela aula sobre os males do desânimo, da tristeza e das mágoas
recolhidas, ampliadas pelo nosso pessimismo, dizlhe:
— Logo, ao dormir, lembrese de mim. Vou levar seu espírito a um lugar muito lindo e
onde será medicado.
45 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
35
VÁ COM DEUS
Eram oito horas da manhã de um sábado de maio. Chico levantarase apressado. Dormira
demais. Trabalhara muito na véspera, psicografando uma obra erudita de Emmanuel.
Não esperara a charrete. Fora mesmo a pé para o escritório da Fazenda. Não andava,
voava, tão velozmente caminhava.
Ao passar defronte à casa de D. Alice, esta o chama:
— Chico, estou esperandoo desde às seis horas. Desejolhe uma explicação.
— Estou muito atrasado, D. Alice. Logo na hora do almoço, lhe atenderei.
D. Alice fica triste e olha o irmão, que retomara os passos ligeiros a caminho do serviço.
Um pouco adiante, Emmanuel lhe diz:
— Volte, Chico, atende à irmã Alice. Gastará apenas cinco minutos, que não irão
prejudicálo.
Chico volta e atende.
— Sabia que você voltava, conheço seu coração.
E pedelhe explicação como tomar determinado remédio homeopático que o caroável Dr.
Bezerra de Menezes lhe receitara, por intermédio do abnegado médium.
Atendida, toda se alegra. E despedindose:
— Obrigada, Chico. Deus lhe pague! Vá com Deus!
Chico parte apressado. Quer recobrar os minutos perdidos.
Quando andara uns cem metros, Emmanuel, sempre amoroso, lhe pede:
46 – Ramir o Gama
— Pare um pouco e olhe para trás e veja o que está saindo dos lábios de D. Alice e
caminhando para você.
Chico para e olha: uma massa branca de fluidos luminosos sai da boca da irmã atendida e
encaminhase para ele e entralhe no corpo...
— Viu, Chico, o resultado que obtemos quando somos serviçais, quando possibilitamos a
alegria cristã aos nossos irmãos?
E concluiu:
— Imagine se, ao invés de vá com deus, dissesse, magoada, “vá com o diabo”. Dos seus
lábios estariam saindo coisas diferentes, como cinzas, ciscos, algo pior..
E Chico, andando agora naturalmente, sem receio de perder o dia, sorri satisfeito com a
lição recebida, entendendo em tudo e por tudo o ser viço do Senhor , refletido nos menores gestos,
com os nomes de Gentileza, Tolerância, Afabilidade, Doçura, Amor.
36
VOCÊ J Á SERVIU DE PONTE, CHICO?
Bem ensina Emmanuel: — “A Natureza é sempre o celeiro abençoado de lições
maternais. Em seus círculos de serviço, coisa alguma permanece sem propósito, sem finalidade
justa”.
Nela vemos o ensino de tudo; qualquer elemento, qualquer coisa, o quadro de uma
paisagem, a árvore, o rio, a fonte, o próprio estrume, tudo nos dá lições, quando vestidos com a
virtude da humildade, sem visões estreitas, lemos o Livro de Deus.
Falávamos ao Chico sobre esses assuntos ao passarmos sobre uma ponte. E ele lembrou
Casimiro Cunha, em sua maravilhosa CARTILHA DA NATUREZA, que ele psicografou, dizendo:
“Ponte silenciosa,
No esforço fiel e ativo,
É um apelo à lei de amor,
Sempre novo, sempre vivo.”
“Vendoa nobre e generosa,
Servindo sem altivez,
Convém saber se já fomos
Como a Ponte alguma vez”.
Lembrouse também de haver Emmanuel lhe perguntado, um dia: — Você já serviu de
ponte alguma vez, Chico? E que ele silenciara.
Mas, dias depois, viajando com um sacerdote, de Pedro Leopoldo para Belo Horizonte,
num ônibus, recordara da pergunta de seu querido Guia, e servira de ponte. Com uma hora de boa
conversa, repartiu com o irmão e companheiro de viagem o que já havia ganho. Sentiu que fora
ponte, para que o servo do Cristo, em tarefa testemunhal, ganhasse a outra margem do
conhecimento novo com o Amigo Celeste e se sentisse maravilhado.
Quantas vezes podemos ser pontes e deixamos passar a oportunidade...
Que a lição nos sirva.
Abençoada lição de Emmanuel e Casimiro Cunha!
47 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
37
O LADO DIREITO
Todas as coisas têm seu lado direito e esquerdo, como temos nossas mãos direita e
esquerda. Tudo quanto fazemos com a direita sai mais ou menos certo; com a esquerda, sai mais
ou menos errado.
Pedro, apóstolo pescador de peixes e de almas, quando pescava no Lago Genesaré
juntamente com outros pescadores, lançava a rede pelo lado esquerdo e não apanhava nenhum
peixe. Apareceulhe, então, Jesus e mandou que a lançasse, de novo, mas pelo lado direito, e a rede
se rompeu de tanto peixe.
Na própria escolha dos premiados, que saem vitoriosos de suas provas, o Mestre os separa
dos fracassados, passando os primeiros para a sua direita e os segundos para a esquerda.
O lado direito é, pois, o da Justiça, do Bom Combate, do Bom Caminho, da Vereda Certa,
da Vida Verdadeira, da Verdade mesma.
Assim conversávamos com o Chico, em caminho da Fazenda do M. da Agricultura, em
Pedro Leopoldo, quando o Médium conclui:
— O lado direito é o lado de Deus. O esquerdo o de César.
O primeiro é o dos que vivem com Deus, cumprindolhe a Lei. O segundo é o dos que
estão apenas vivendo para o mundo e desejando o muito sem Deus.
38
PRIMEIRAS GRAÇAS RECEBIDAS
Em 4 de novembro de 1944, data de nossa primeira visita ao Chico, ele, depois de
repletarnos com os lindos casos, levounos ao interior de sua singela casinha, a participar de uma
sessão em que recebemos mensagens tocantes de Emmanuel e de nossa cunhada Wanda, uma
delicada ave do céu, muito cedo chamada à Pátria Espiritual, e as duas poesias abaixo, que nos
arrancaram lágrimas de emoção, tanto nos falaram ao coração, visto que navegávamos num mar de
prantos ou observávamos cardos brotando em nossos caminhos com pretensão de ferirnos.
DE IRMÃO PARA IRMÃO
I
No caminho que a treva encheu de horrores,
Passa a turba infeliz, exausta e cega,
— É a humanidade que se desagrega
No apodrecido ergástulo das dores!
Ouvemse gritos escarnecedores.
É Caim que, de novo, se renega,
Transborda o mar de pranto onde navega
A esperança dos seres sofredores!
E neste abismo de miséria e ruínas,
Que estenderás, amigo, as mãos divinas,
Como estrelas brilhando sobre as cruzes.
Vai, cirineu da luz que santifica,
Que o Senhor abençoa e multiplica
O pão da caridade que produzes.
Augusto Dos Anjos
48 – Ramir o Gama
BILHETE A UM LUTADOR
II
Meu caro Ramiro Gama,
Os benfeitores do Além
Colaboram nas tarefas
De tua missão no bem.
Açoites surgem na estrada?
Jamais sofras, meu irmão!
O Senhor da Luz Divina
Amparate o coração.
Brotam cardos nos caminhos,
Com pretensões de ferir?
Toleraos resignado
E espera o Sol do Porvir.
Há difíceis testemunhos?
Não temas perturbações,
Pois toda cruz é caminho
De santas renovações.
Ramiro, Deus te ilumine,
No esforço que te conduz
Da sombra espessa da Terra
A redenção com Jesus.
Casimiro Cunha
39
A GARGALHADA DO RIO...
Passávamos os três sobre uma ponte: nós, nossa esposa e o Chico. Lá em baixo, um rio
encachoeirado sorria e gargalhava. Paramos para melhor sentirLhe a Mensagem.
Nossa companheira recordanos uma cena do livro A CIDADE E AS SERRAS, de Eça de
Queiroz, em que Jacinto, o principal personagem, cansado da vida barulhenta das cidades, mudase
para a roça, a fim de gozar o silêncio das serras e medicarse com o ar puro dos ambientes
campestres.
Lá, na sua propriedade, providencia uma série de medidas higiênicas favoráveis a seus
empregados. Coloca banheiras nas casas dos roceiros, esta a primeira providência, por achar que a
falta de banho concorria para multiplicar as enfermidades.
Seu companheiro de jornada rise desta preocupação. E, ambos, ao passarem sobre uma
ponte, debaixo da qual corre um rio marulhante, reparam que ali passam muitos de seus
assalariados com as vestes sujas e a peleencardida por falta de banhos.
— Veja, Jacinto, exclama o companheiro, vivem sujos porque querem. Não parece que o
rio está dando gargalhadas?...
E Chico concluindo a cena que a companheira memorara:
— Tem razão. O rio está, até hoje, dando gargalhadas, rindose ao verse com tanta água
e apelando para nós, a fim de que não venhamos a mergulhar na sujeira de nosso próprio pretérito.
49 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
40
A MORTE DO CÃO LORDE
José e Chico Xavier possuíam um lindo cão. Chamavase Lorde.
Era diferente de outros cães. Possuía até dons mediúnicos.
Conhecia, nas pessoas que visitavam seus donos, quais os bem intencionados, quais os
curiosos e aproveitadores. Dava logo sinal, latindo insistentemente ou mudamente balançando a
cauda, à chegada de alguém, dizendo nesse sinal se a visita vinha para o bem ou para o mal...
Chico contanos casos lindos sobre seu saudoso cão. Depois, tristemente, acrescenta:
— Sentilhe, sobremodo, a morte. Fezme grande falta. Era meu inseparável companheiro
de oração. Toda manhã e à noite, em determinada hora, dirigiame para o quarto para orar. Lorde
chegava logo em seguida. Punha as mãos sobre a cama, abaixava a cabeça e ficava assim em
atitude de recolhimento, orando comigo. Quando eu acabava, ele também acabava e ia deitarse a
um canto do quarto. Em minhas preces mais sentidas, Lorde levantava a cabeça e enviavame seus
olhares meigos, compreensivos, às vezes cheios de lágrimas, como a dizer que me conhecia o
íntimo, ligandose a meu coração. Desencarnou. Enterreio no quintal lá de casa.
Lembramos ao Chico o Sultão, inteligente cão do Padre Germano. Igual ao Lorde.
Falamoslhe de um cão que possuímos e se chamava Sultão, em homenagem ao padre Germano.
Contounos casos do Lorde; contamoslhe outros do Sultão. E, em pouco, estávamos
emocionados.
Ah! Sim, os animais também têm alma e valem pelos melhores amigos!
41
ORGULHO OU DISTRAÇÃO...
QUEM DERA QUE VOCÊ FOSSE O CHICO...
Numa livraria de Belo Horizonte, servia um irmão que, pelo hábito de ouvir constantes
elogios ao Chico Xavier, tomouse de admiração pelo médium.
Leu, pois, com interesse, todos os livros de Emmanuel, André Luiz, Néio Lúcio, Irmão
10º e desejou, insistentemente, conhecer o psicógrafo de Pedro Leopoldo.
E aos fregueses pedia, de quando em quando:
— Façamme o grande favor de me apresentar o Chico, logo aqui apareça.
Numa tarde, quando o Aloísio, pois assim se chamava o empregado, reiterava a alguém o
pedido, o Chico entra na Livraria. Todos os presentes, menos o Aloísio, se surpreendem e se
alegram. Abraçam o médium, indagamlhe as novidades recebidas. E depois, um deles se dirige ao
Aloísio:
— Você não desejava ansiosamente conhecer o nosso Chico?
— Sim, ando atrás desse momento de felicidade...
— Pois aqui o tem.
Aloísio o examina; vêo tão sobriamente vestido, tão simples, tão decepcionante. E
correspondendo ao abraço do admirado psicógrafo, com ar de quem falava uma verdade e não era
nenhum tolo, para acreditar em tamanho absurdo:
— Quem dera que você fosse o Chico, quem dera!...
E Chico, compreendendo, que Aloísio não pudera acreditar que fosse ele o Chico pela
maneira como se apresentava, respondelhe, candidamente:
— É mesmo, quem me dera...
E, despedindose, partiu com simplicidade e bonomia, deixando no ambiente uma lição,
uma grande lição, que ia depois ser melhormente traduzida por todos, e, muito especialmente, pelo
Aloísio...
43
A CRUZ DE OURO E A CRUZ DE PALHA
Alguns membros da Juventude Espírita do Distrito Federal e de Belo Horizonte visitavam
o Chico. Antes de começar a sessão do “Luiz Gonzaga”, palestravam animadamente sobre assunto
de Doutrina e a tarefa destinada aos moços espíritas.
Uma jovem inteligente, desejando orientação e estímulo, colocou o Chico a par das
dificuldades encontradas para vencerem o pessimismo de uns, a quietude e a incompreensão de
muitos. Poucos queriam trabalho sacrificial, testemunhador do Roteiro evangélico, que estava a
exigir dos jovens uma vida limpa, correta, vestida de abnegação e renúncia.
Desejavam colher sem semear.
O Chico ouviu e considerou:
— O trabalho das juventudes, com Jesus, tem que ser mesmo diferente. Sua missão será
muito difícil e por isso gloriosa. E recebe de Emmanuel esta elucidação envolvida na roupagem
pobre de nosso pensamento: Há a cruz de ouro e a cruz de palha, simbolizando nossas Tarefas. A
de ouro, a mais procurada, pertence aos que querem brilhar, ver seus nomes nos jornais, citados,
apontados, elogiados, como beneméritos. Querem simpatia e bom conceito. Se tomam parte em
alguma Instituição, desejam, nela, os lugares de mando e de evidência. Querem cargos e não
encargos. A de palha, a menos procurada, no entanto, pertence aos que trabalham como as abelhas,
51 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
escondidamente e em silêncio. Lutam e caminham, com humildade, na certeza de que por muito
que façam, mais poderiam fazer. Não se ensoberbecem dos triunfos, antes se estimulam e se
defendem com oração e vigilância, sentindo a responsabilidade que assumiram como chamados,
por Jesus, à tarefa diferente. Entendem a serventia das mãos e dos pés, dos olhos e da mente, do
coração, enfim, colocando amor e humildade em seus atos, nos serviços que realizam. Por
carregarem a cruz de palha, toleram o vômito de um, o insulto de mais outro, a incompreensão de
muitos, testemunhando a caridade desconhecida, oferecendo, com o sofrimento e a renúncia, com
o silêncio e o bom exemplo, remédios salvadores aos companheiros que os adversam, os ferem e
desconhecem a vitória da “segunda milha”.
Os jovens presentes estavam satisfeitos. De seus olhos, órgãos musicais da alma, saíam
notas gratulatórias exornando o ambiente feliz que viviam.
De mais não precisavam.
Entenderam o trabalho que lhes cabia realizar nas Terras do Brasil, o Coração do Mundo
e a Pátria do Evangelho.
Linda lição com vista também aos velhos, a todos que conseguem ouvir Jesus na hora em
que poucos O ouvem.
44
VIAJ ANDO COM UM IRMÃO SACERDOTE
Sentado no ônibus que o levaria a Belo Horizonte, Chico notou que seu companheiro de
banco era um irmão sacerdote. Cumprimentouo e entregouse à leitura de um bom livro. O
sacerdote, também, correspondeulhe o cumprimento, abrira um livro sagrado e ficara a lêlo.
Em meio à viagem, passou o ônibus perto de um lugarejo embandeirado, que
comemorava o dia de S. Pedro e S. Paulo. O Sacerdote observou aquilo e, depois, virandose para
o Chico comentou:
— Vejo esta festividade em honra de dois grandes Santos, e neste livro, leio a história de
S. Paulo, cujo autor lhe dá proeminência sobre S. Pedro. Não se pode concordar com isto. S. Paulo
é o Príncipe dos Apóstolos, aquele que recebeu de Jesus as chaves da Igreja.
O Chico, delicadamente, deu sua opinião, e o fez de forma tão simples, revelando grande
cultura, que o Sacerdote, que não sabia com quem dialogava, surpreendeuse e lhe perguntou.
— O Senhor é formado em Teologia, ou possui algum curso superior?
— Não. Apenas cursei até o quarto ano da instrução primária...
— Mas como sabe tanta coisa da vida dos santos, principalmente de S. Paulo, de S.
Estevão, de S. Pedro, e de outros, realçandolhes fatos que ignoro?.
— Sou médium...
— Então, o senhor é o Chico Xavier, de Pedro Leopoldo?
— Sim, para o servir.
— Então, permitame que lhe escreva e prometame responder minhas cartas, pois tenho
muita coisa para lhe perguntar. Façame este favor. Afinal, verifico que Deus nos pertence.
— Pode escrever; de bom grado responderlheei. Assim trabalharemos não apenas para
que Deus nos pertença, mas para que pertençamos também a Deus, como nos ensina o nosso
benfeitor Emmanuel.
E, até hoje, Chico recebe cartas de Irmãos de todas as crenças, particularmente de
Sacerdotes bem intencionados, como o irmão com quem viajou e de quem se tornou amigo.
52 – Ramir o Gama
E, tanto quanto lhe permite o tempo, lhes responde e nas respostas vai distribuindo o Pão
Espiritual a todos os famintos, ovelhas do grande redil, em busca do amoroso e Divino Pastor, que
é Jesus.
45
“NOSSOS CARICATURISTAS...”
Em casa de Dona Naná, proprietária do Hotel Diniz, o Chico chegou para consolála, em
virtude de estar passando por provas dolorosas e para lhe dar o resultado auspicioso de uma sessão
que fizera na qual recebera um expressivo esclarecimento para aquela irmã.
O Chico, orientado pelos seus Amigos de mais Alto, à frente seu abnegado Guia, ajuda e
passa, ampara em silêncio, colabora com todos, sem ferir, sem magoar.
Deixando com a cara irmã, mãe extremosa e leal servidora do Cristo, uma réstia de luz,
uma palavra de bom ânimo, partiu conosco para a Fazenda.
No caminho, revelounos suas observações, suas inquietações pela hora que vivemos.
Na sessão feita, a benefício de irmãos desencarnados, aparecemlhe Espíritos turbulentos,
insensíveis aos sofrimentos alheios e que, formando legiões, agem aqui e ali, neste e naquele lar,
agravandolhes as provas.
— Precisamos orar por eles — diznos o Chico —, e, se possível, amálos com
sinceridade. Quando em contacto conosco, precisamos auxiliálos, oferecendolhes nossa ajuda.
Não sabem o que fazem. Moços, na flor da idade, instrumentais mediúnicos incontroláveis, sem
convicções sinceras em matéria de fé, vivem por aí, presos aos seus interesses, atarantados,
atristando os corações maternos, tornandose vítimas fáceis daqueles Espíritos.
Lembramos ao Chico o caso dos “Caricaturistas”, retratados nesses Espíritos, que nos
experimentam e são como que nossos caricaturistas, pois que aumentam os nossos defeitos de
forma tal, que, quando com e por eles falimos, ficamos de tal forma derrotados, sentindo nossos
defeitos, que nos propomos a corrigirnos incontinentemente...
Chico sorriu e objetounos:
— Mas precisamos amar a esses caricaturistas, desejarlhes todo o bem possível para
neutralizarlhes todo o mal e os encaminharmos ao bem. Um favor que fazemos a um seu parente
encarnado constitui já um motivo para lhes fazer parar os golpes contra nós e despertarlhes um
pouco de carinho em nosso benefício. Ajudemolos com as nossas orações. Auxiliemolos com
nossos pensamentos de amor. Ensinemolos com nossas boas ações e Jesus finalizará o nosso
começo.
46
MOIRÕES J UNTOS...
Alguns confrades do Estado de S. Paulo visitaram o Chico e, por alguns dias, gozaram de
sua convivência amável e instrutiva. Um deles mais entusiasmado com os fenômenos a que
assistira, admirando a vida simples dos habitantes de Pedro Leopoldo, em nome dos
companheiros, disse ao Chico:
53 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Vamos voltar para S. Paulo, vender tudo que temos e, depois, com nossas famílias,
viver definitivamente nesta bela cidade, em sua companhia. Assim, acabaremos felizes os nossos
dias e poderemos ser mais úteis ao próximo e desenvolver nossos dons mediúnicos..
O Chico ouviuo com atenção e, amorosamente, lembroulhe:
— Talvez não dê certo, caro irmão. O melhor é ficarem onde estão. Depois... Emmanuel
está dizendome ao ouvido que muitos moirões juntos não fazem boa cerca...
E os moirões voltaram para S. Paulo e foram segurar suas cercas que sentiam suas
ausências.
47
UM RELÓGIO AO DOENTE
Um confrade presenteou o Chico com um belo relógio de pulso. Aceitouo, porque o
confrade insistiu muito. Andou vários dias com ele, admirandolhe a pontualidade. Mas um dia, a
caminho do serviço, lembrouse de saber, rapidamente, como ia Dona Glória, a quem na véspera
dera um passe e para quem Bezerra receitara uns remédios homeopáticos.
— Então, está melhor, Dona Glória. Tomou pontualmente os remédios?
— Um pouco melhor, Chico. Só não tenho tomado os remédios com pontualidade,
porque, como você sabe, sou pobre e ainda não pude comprar um relógio...
— Por isto não.
E tirando do pulso o relógio que ganhara, disselhe sem mais delongas:
— Fique com este como lembrança.
E deixando a irmã surpresa e emocionada, o médium partiu, dizendolhe na costumeira
despedida:
— Fique com Deus! Deus a proteja!
Como a senhora está precisando de relógio, este deve ser seu.
48
OBRIGADO, CHICO...
Estava o Chico parado defronte do correio, conversando com seu irmão André, quando
um guarda policial passalhe por perto e, colocando o braço direito sobre seu ombro, lhe diz:
— Muito obrigado, Chico!
E foi andando.
O Chico ficou intrigado com aquele agradecimento. Não podia atinar com sua causa.
À tarde, ao regressar do serviço, viu defronte a um bar um bloco de trabalhadores da
fábrica e, no meio deles, o guarda que o abraçara pela manhã. Passou mais por perto e observou
que o guarda tentava desapartar uma briga entre dois irmãos que se malquistaram por coisas de
somenos. O guarda, vendo inúteis seus esforços e porque a discussão já se generalizava
envolvendo todo o bloco, tirou da cintura o revólver e ia usálo para impor sua autoridade.
O Chico mais que depressa chegoulhe perto e pediulhe:
— Calma, meu irmão.
O guarda voltouse contrariado, mas reconhecendo o Chico, como que envergonhado do
seu ato, exclamou:
54 – Ramir o Gama
— Muito obrigado, Chico!
Controlouse, usou da palavra, aconselhou e o bloco foi desfeito com o arrefecimento dos
ânimos...
À noite, indo o Chico para o “Luiz Gonzaga”, encontrouse com o guarda:
— Chico, ia procurálo e agradecerlhe, muito de coração, o bem que você me fez, por
duas vezes.
— Por duas vezes? Como?
— Anteontem sonhei com você, que me dizia: “Cuidado, não saia de casa carregando
arma à cintura como sempre o faz. Evite isto por uns dias. Por isto é que lhe disse, hoje, pela
manhã: “Obrigado, Chico!” Referiame ao sonho, ao seu aviso. Mas esquecime de atendêlo, pois
saí armado e, se não fosse o concurso de nossos amigos espirituais na hora justa teria feito hoje
uma grande asneira, poderia até ter matado alguém... Mas a lição ficou, Chico.
— Muito obrigado, Deus nos ajude sempre!...
49
PALAVRAS AOS ENFERMOS
Os doentes eram tantos em Pedro Leopoldo, noite a noite, que o Espírito de Néio Lúcio,
compadecendose dos sofredores, endereçoulhes a mensagem que transcrevemos abaixo:
“Palavras aos Enfermos”
Toda enfermidade do corpo é processo educativo para a alma. Receber, porém, a
visitação benéfica entre manifestações de revolta é o mesmo que recusar as vantagens da lição,
rasgando o livro que nola transmite.
A dor física, pacientemente suportada, é golpe de buril divino, realizando o
aperfeiçoamento espiritual.
Tenho encontrado companheiros a irradiarem sublime luz do peito, como se guardassem
lâmpadas acesas dentro do tórax. Em maior parte, são irmãos que aceitaram, com serenidade, as
dores longas que a Providência lhes endereçou, a benefício deles mesmos.
Em compensação, tenho sido defrontado por grande número de extuberculosos e ex
leprosos, em lamentável posição de desequilíbrio, afundados muitos deles em charcos de treva,
porque a moléstia lhes constituiu tão somente motivo à insubmissão.
O doente desesperado é sempre digno de piedade, porque não existe sofrimento sem
finalidade de purificação e elevação.
A enfermidade ligeira é aviso.
A queda violenta das forças é advertência.
A doença prolongada é sempre renovação de caminho para o bem.
A moléstia incurável no corpo é reajustamento da alma eterna.
Todos os padecimentos da carne se convertem, com o tempo, em claridade interior,
quando o enfermo sabe manter a paciência, aceitando o trabalho regenerativo por bênção da
Infinita Bondade.
Quem sustenta a calma e a fé, nos dias de aflição, encontrará a paz com brevidade e
segurança, porque a dor, em todas as ocasiões, é a serva bendita de Deus, que nos procura, em
nome dele a fim de levar a efeito, dentro de nós, o serviço da perfeição que ainda não sabemos
realizar.
Néio Lúcio
Cremos que a leitura desta página nos oferece confortadores pensamentos de paz,
consolação, disciplina e esperança.
55 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
50
SONHANDO COM UM LAR
O Chico é muito estimado por todos em Pedro Leopoldo. Todos lhe querem bem,
homens, mulheres e crianças.
Um grupo de senhoras comentava a solteirice do Chico, quando ele passava. E uma delas:
— Falávamos coisas boas de você, Chico. Que você deveria casarse, ter uma
companheira, um lar seu, viver assim diretamente para alguém...
— Agradeçolhes muito, mas, minhas irmãs, cada um tem a missão que pediu.
Abraçouas satisfeito e partiu.
E foi pensando no que lhe disseram as caras irmãs.
À noite, a sós, no seu quarto, veiolhe à lembrança, de novo, aquele assunto de
casamento. Entrando em colóquio com a sua consciência, entendeu que era de fato, muito infeliz.
Escreveu uma carta ao seu grande amigo Manoel Quintão e nela exteriorizou seu estado
de alma combalido. Era ele, terminava, como uma árvore seca, de galhos mirrados, sem ninhos,
sem flores, sem frutos.
E dormiu.
Sonhara um lindo sonho. Alguém, com quem conversava, certamente inspirado pelo seu
querido Guia, explicavalhe:
— Chico, você sabe bem entender a lição do perfume no vaso. Enquanto aí está, apenas
beneficia o vidro que o prende. Fora do vidro, perfuma a tudo e a todos. Você, Chico, procure
viver não apenas para uma pessoa, mas sim para muitos. E na tarefa, com Jesus, você não se
pertencerá porque estará a serviço dele. Lembrese de que o perfume do Evangelho pertence a
todos.
E Chico acordou mais alegre.
Ficou satisfeito com a sua tarefa; apenas não pode acreditar que seja perfume...
Mas sua irmã Geralda, a quem conhecêramos em Belo Horizonte, justificando os elogios
que lhe fazíamos do irmão, dizianos:
— Não, ele não é nosso irmão apenas. Foi, tem sido e é: — a nossa Mãe.
51
INDISPENSÁVEL
O Chico recebera um convite reiterado para assistir a uma solenidade que um Centro
Espírita de determinado lugar, um pouco distante de Belo Horizonte, realizaria. A cartaconvite,
assinada pelos diretores do Centro, contendo encômios à pessoa do médium, dizia que sua
presença era indispensável...
O Chico pensou muito naquele adjetivo, sentiu a preocupação dos irmãos distantes,
ansiosos pela sua presença. Certamente iria realizar uma grande missão. E não relutou mais.
Junto ao seu bondoso chefe, justificou sua ausência por dois dias, comprou passagem na
Central do Brasil e partiu. No meio da viagem, quando já sonhava com a chegada, antes sentindo a
alegria dos irmãos, Emmanuel lhe aparece e diz:
— Então, você se julga indispensável e, por isto, rompeu todos os obstáculos e viaja
assim como quem, por isto mesmo, vai realizar uma importante tarefa... Já refletiu, Chico, que o
serviço do ganhapão é indispensável a você? Pense bem...
O Chico pensou... E, na próxima estação, desceu do trem e tomou outro de volta...
56 – Ramir o Gama
A lição foi compreendida.
Seus irmãos de mais longe, com seu não comparecimento, compreenderamna também...
52
NÃO DESEJO DAR COICES
Alguém aconselhou ao Chico sair por uns tempos de Pedro Leopoldo para descansar,
arejar as ideias e gozar um pouco a vida.
Esta foi a sua resposta, que vale também por uma lição:
— Não posso sair daqui. Neste abençoado lugar, vivi como um burro bem vigiado e por
isso meus coices são bem controlados... Mas, se sair, vou dar coices a torto e a direito... Não.
Deixem o burro preso e feliz onde está...
53
CONVERSA OU TRABALHO
Numa singela sala residencial, em Pedro Leopoldo, a conversação ia animada. Muitos
assuntos. Muitas referências.
A palestra começara às cinco da tarde e o relógio anunciava onze da noite. Chico ia
começar uma variação de tema, quando viu Emmanuel a chamálo para o interior doméstico.
O médium pediu licença e foi atender.
— Você sabe que hoje temos a tarefa do livro em recepção e já estamos atrasados... —
falou o amigo espiritual.
— É verdade — concordou o Chico —, entretanto, tenho visitas e estamos conversando.
— Sem dúvida — considerou o Guia — compreendemos a oportunidade de uma a duas
horas de entendimento fraterno para atender aos irmãos sem objetivo, porque, às vezes, através da
banalidade, podemos algo fazer na sementeira de luz... Mas não entendo, seis horas a fio de
conversação sem proveito.
O médium nada respondeu.
Indeciso, deixara correr os minutos, quando Emmanuel lhe disse:
— Bem, eu não disponho de mais tempo. Você decide. Converse ou trabalhe.
Chico não mais vacilou. Deixou a palestração que prosseguia, cada vez mais acesa na sala
e confiouse à tarefa que o aguardava com a assistência generosa do benfeitor espiritual.
54
AVISO OPORTUNO
Um grupo de irmãos, reunidos em estudos doutrinários, solicitou de Emmanuel um
conselho sobre o melhor modo de evitar a conversação viciosa e inútil.
E o Amigo espiritual respondeu por intermédio do Chico:
— Vocês observem qual é o rendimento espiritual da palestração. Quando tiverem gasto
40 a 60 minutos de palavras em assuntos que não digam respeito à nossa própria edificação
espiritual, através de nossa melhoria pelo estudo ou de nossa regeneração pessoal com Jesus,
57 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
55
AS APARÊNCIAS ENGANAM
56
SÁBIA RESPOSTA
Há tempos, Chico passou a frequentar certa casa de pessoas amigas, mais que de costume.
E essa casa, que se rodeava de muitos observadores, não era vista com bons olhos.
— Chico não devia entrar ali — diziam uns.
— Aquela gente é perigosa — clamavam outros.
A coisa ia nesse ponto, quando um irmão lembrou ao Chico a inconveniência a que se
expunha.
O médium, muito preocupado, em prece, expôs a Emmanuel o que se passava e
perguntoulhe:
— O senhor acha então que não devo entrar lá?
E o protetor, sorrindo, deulhe esta sábia resposta:
— Você pode entrar lá quando quiser. Somente desejo saber se você pode sair.
57
O LAVRADOR E A ENXADA
58 – Ramir o Gama
Chico Xavier, ainda hoje e há mais de vinte anos, é empregado na Fazenda de Criação do
Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo. Certa manhã, caminhava para o trabalho,
atravessando largo trecho de campo no rumo do escritório, meditando sobre os trabalhos
mediúnicos a que se confiava.
As exigências eram sempre muitas. Como agir para equilibrarse na tarefa? Surgiam
doentes, pedindo socorro... Aflitos rogavam consolação. Curiosos reclamavam esclarecimentos...
Ateus insistiam pela obtenção de fé. Os problemas eram tantos! Quando curvava a cabeça,
desanimado, aparecelhe Emmanuel e apontalhe um quadro a pequena distância.
Era um lavrador ativo, manejando uma enxada ao sol nascente.
— Reparou? — disse ele ao médium — guiada pelo cultivador, a enxada apenas procura
servir. Não pergunta se o terreno é seco ou pantanoso, se vai tocar o lodo ou ferirse entre as
pedras... Não indaga, se vai cooperar em sementeira de flores, batatas, milho ou feijão... Obedece
ao lavrador e ajuda sempre.
Logo, após, fez uma pausa, e considerou:
— Nós somos a enxada nas mãos de Jesus, o Divino Semeador. Aprendamos a servir sem
indagar.
Chico, tocado pelo ensinamento, experimentou iluminada renovação interior, e disse:
— É verdade! O desânimo é um veneno...
— Sim — concluiu o orientador —, a enxada que foge à glória do trabalho, cai na
tragédia da ferrugem. Essa é a Lei.
O benfeitor despediuse e o médium abraçou o trabalho, naquele dia, de coração feliz e a
alma nova.
58
O CHICO NA OPINIÃO DE UMA CRIANÇA
Eni, a inteligente filha do distinto casal Jaime Rolemberg e Elza Lima, enviou ao Chico
seu “álbum”, em forma de um trevo de quatro folhas, para que o querido médium lhe colocasse nas
páginas um pensamento. E o Chico atendeulhe, escrevendo:
“Eni, minha bondosa irmã, quando seu afetivo coração estiver em prece não se esqueça de
mim, seu irmão, que pede a Jesus por sua felicidade perfeita hoje e sempre. Pedro Leopoldo,
14/6/1954, Chico”.
E Eni, quando leu isto, com lágrimas doces e luminosas nos olhos, exclamou
espontaneamente.
— O Chico é uma maravilha!
E é mesmo, dizemos nós, pois o pensamento acima refletelhe a alma cândida e
maravilhosa.
E por sentirlhe a felicidade da expressão escrevendolhe ao “álbum”:
Eni, que muito promete
Na Doutrina de Jesus,
Que os Céus concedam a luz
Ao teu Roteiro cristão.
Que no teu Lar sempre sejas
Elemento de valor,
A realidade do Amor
No Templo do coração.
59 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
59
OLHANDO AS PESSOAS, LEIO SEUS NOMES
Visitamos o simpático casal Lauro e Dayse Pastor Almeida. Ambos admiram o Chico
com bastante sinceridade. Sabem alguns casos lindos do médium, e, por isto, fomos visitálos.
Dona Dayse contanos o que lhes sucedeu ao verem o Chico pela primeira vez, quando
visitavam Belo Horizonte:
— Tínhamos uma vontade imensa de conhecêlo. Mas achamos isto tão impossível que
nada tentamos para ir a Pedro Leopoldo. Mas, uma noite, às vésperas de regressarmos ao Rio,
quando Lauro Pastor acabara sua conferência, finalizando a Semana do Livro Espírita, é que vimos
o grande médium sentado junto aos que compunham a mesa da magnânima sessão. Quando tudo
terminou, espontaneamente, vem ao nosso encontro o Chico, numa atitude tão simples e tão
fraterna, como se nos conhecesse há anos. Olha para mim e pronuncia meu nome: D. Dayse.
Delicadamente corrijolhe a pronúncia, verificando que nada sabe de inglês. E ele, natural e
humildemente, justificase: “É que estou lendo seu nome como ele é escrito”. Mais tarde,
verificamos que, de fato, olhando às pessoas, lê seus nomes.
Na sessão do “Luiz Gonzaga” chegam irmãos que passaram anos sem vêlo e ele, Chico,
lhes pronuncia os nomes, particulariza casos, como aconteceu com o Cadete Uliséia, a quem só viu
uma vez. Decorridos três anos, quando o viu entre muitos, citoulhe o nome, o que surpreendeu e
encantou o jovem militar espírita. Agradecidos ao querido casal pela dádiva que nos deu,
escrevemoslhe no “álbum”, à saída:
Com Jesus e por Jesus
Entramos na sua casa,
Sentindo que nos abrasa
Sua Paz interior.
Ave, Cristo, bendizemos.
Dizendo de coração:
Que vivam nesta Oração
A Tarefa do Senhor.
60
UMA “PERGUNTA” DA TERRA E UMA “RESPOSTA” DO CÉU...
O nosso caro irmão Flávio de Souza Pereira andava apreensivo com relação às visitas que
fazia aos irmãos enfermos, portadores de moléstias contagiosas, como a lepra e a tuberculose, visto
que vivia sempre recebendo de parentes e amigos menos crentes constantes advertências:
— Olhe lá, cuidado senão você acabará também com a moléstia.
Indo a Pedro Leopoldo, não se conteve e, na sessão a que assistira, com sincera atitude de
crente, fez a pergunta:
“— Diante da necessidade de assistência direta a um irmão nosso em humanidade,
portador de uma moléstia contagiosa como a tuberculose, a lepra, etc., como devemos proceder?”
E Chico recebeu do caroável Bezerra de Menezes a seguinte e expressiva resposta:
“— Cremos que a higiene não deve funcionar em vão, por isso, mesmo não vemos
qualquer motivo de ausência do nosso esforço fraterno, quanto aos nossos irmãos enfermos, a
pretexto de preservarmos a nossa saúde, de vez que, também de nós mesmos, temos ainda pesados
débitos para resgatar. Evitar o abuso é dever, mas acima de quaisquer impulsos de autodefesa em
nossa vida, prevalece a caridade, com seu mandamento de amor, sacrifício e luz”.
60 – Ramir o Gama
61
DOM NEGRITO
Este é o nome de um cãozinho preto, luzidio, simpático, para não dizermos
espiritualizado, que, recente e espontaneamente, aparece as sessões públicas do “Luiz Gonzaga”:
chega, vagarosa e respeitosamente, dirigese para o canto em que está o Chico e ali fica, como em
estado de concentração e prece, até ao fim dos trabalhos.
A dona do D. Negrito encontrouse com Chico e lhe disse:
— Imagine, Chico, o Negrito às segundas e sextasfeiras desaparece das 20 às 2 horas da
madrugada. E, agora, há pouco, é que soube para onde vai: às sessões do “Luiz Gonzaga”. Isto tem
graça. Ele, que é um cão, consegue vencer os obstáculos e procurar os bons ambientes e eu, que
sou sua dona, por mais que me esforce, nada consigo...
E o Chico, como sempre útil e bom, a consola:
— Isto tem graça e é uma bela lição. Mas, não fique desanimada por isto; Dom Negrito
vem buscar e leva um pouquinho para sua dona e um dia há de trazêla aqui. Jesus há de ajudar.
Os tempos estão chegados, é uma verdade. Até os cães estão dando lições e empurrões nos seus
donos, encaminhandoos com seus testemunhos, à Vereda da Verdade, por meio do Espiritismo,
que esclarece, medica, consola e salva.
62
NA DEFESA DO VERME
Um confrade entusiasta elogiava o Chico à queimaroupa, ao fim de movimentada sessão
pública, e o médium desapontado, exclamou:
— Não me elogie desta maneira. Isso é desconcertante. Não passo de um verme neste
mundo.
Emmanuel, junto dele, ouvindo a afirmação, faloulhe paternal:
— O verme é um excelente funcionário da Lei, preparando o êxito da sementeira pelo
trabalho constante no solo e funciona, ativo, na transmutação dos detritos da terra, com extrema
fidelidade ao papel de humilde e valioso servidor da natureza... Não insulte o verme, pois,
comparandose a ele, porquanto muito nos cabe ainda aprender para sermos fiéis a Deus, na
posição evolutiva que já conseguimos alcançar...
O médium transmitiu aos circunstantes o ensinamento que recebeu, ensinamento esse que
tem sido igualmente assunto de interesse em nossas meditações.
63
UMA LIÇÃO SOBRE A FÉ
Um simpatizante do Espiritismo, residente em Santos, Estado de São Paulo, veio a Pedro
Leopoldo, asseverando desejar conhecer o Chico para melhor acertar os seus problemas de fé.
O médium, no entanto, empregado de uma repartição, não dispõe do tempo como deseja
e, por determinação de sua Chefia, estava ausente de casa.
O visitante insistiu, insistiu. E como não podia deterse por muitos dias, regressou a
Penates, dizendo a vários amigos:
61 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Duvido muito da mediunidade. Imaginem meu caso com o Chico Xavier. Viajo para
Pedro Leopoldo com sacrifício de tempo e dinheiro. Chego à cidade e informamme, sem mais
aquela, que o médium estava ausente. Perdi minha fé, pois tenho a ideia de que tudo seja simples
fraude e estou convencido de que o Chico se esconde para melhor sustentar a mistificação.
Um dos companheiros de ideal escreve, aflito, ao Chico, relatandolhe a ocorrência.
Não seria aconselhável procurar o queixoso e atendêlo? O pobre homem parecia haver
perdido a confiança no Espiritismo.
O médium, muito preocupado pede o parecer de Emmanuel e o devotado orientador
respondelhe, com serena precisão:
— Deixe este caso para traz. Se a fé nesse homem for erguida sobre você é melhor que
ele a perca desde já, porque nós todos somos criaturas falíveis. A fé para ele e para nós deve ser
construída em Jesus, porque, somente confiando em Jesus e imitandolhe os exemplos, é que
poderemos seguir para Deus.
64
BONDADE PARA COM TODOS
Vários materialistas chegaram a Pedro Leopoldo, para assistir à sessão pública do “Luiz
Gonzaga”, numa noite de sextafeira. E, desrespeitosos, começaram por dizer que não acreditavam
na Doutrina do Espiritismo e que a mediunidade era pura mistificação quando não fosse
simplesmente loucura. Ainda assim, queriam ver os trabalhos do Chico.
O Médium, em concentração, perguntou a Emmanuel:
— O senhor não julga melhor convidarmos esses homens à retirada? Afinal de contas,
não admitem nem mesmo a existência de Deus...
— Não pense nisso — exclamou o orientador —, são nossos irmãos. Precisamos recebê
los com bondade e serlhes úteis, tanto quanto nos seja possível.
— Mas — ponderou o Chico —, Jesus recomendounos não atirar pérolas aos porcos.
— Sim — disse Emmanuel com serenidade e compreensão —, o Mestre determinou, não
atiremos pérolas aos porcos, todavia não nos proibiu de oferecerlhes a alimentação compatível
com as necessidades que lhes são próprias... Procuremos ajudar a todos e o senhor fará por nós
todos o que seja acertado e justo.
E o médium, emocionado, guardou a formosa lição.
65
QUEM ESCREVE
Um grupo de amigos de Belo Horizonte conversava, em Pedro Leopoldo, sobre as
responsabilidades da palavra escrita, comentando a leviandade de muita gente que usa o lápis e a
pena no campo da maldade e da calúnia...
Daí a instantes, quando os nossos confrades entraram em oração, junto do Chico, aparece
o Espírito da Poetisa Carmen Cinira, endereçandolhes a seguinte Mensagem.
“Quem Escreve”
62 – Ramir o Gama
Quem escreve no mundo
É como quem semeia
Sobre o solo fecundo.
A inteligência brilha sempre cheia
De possibilidades infinitas.
Planta
Uma ideia qualquer onde te agitas,
Sem ela essa ideia pecadora ou santa,
E vêlaás, a todos extensiva,
Multiplicarse milagrosa e viva.
Sem tanger as feridas e as arestas,
Conduze com cuidado
A pena pequenina em que te manifestas!
Foge à volúpia das maldades nuas,
Não condenes, não firas, não destruas...
Porque o verbo falado
Muita vez é disperso
Pelo vento que flui da Fonte do Universo.
Mas a palavra escrita
Guarda a força infinita,
Que traz resposta à toda a sementeira,
Em frutos de beleza e de alegria
Ou de mágoa sombria,
Para os caminhos de uma vida inteira.
Carmen Cinira
66
LEMBRANDO OS FENÔMENOS DE LICANTROPIA
Falando das obras magistrais de André Luiz, particularizamos seu belo livro
LIBERTAÇÃO, lembrando os fenômenos de Licantropia, que é um problema de sintonia. Onde
colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida. O nosso tesouro está onde está o
nosso coração. Recordamos Nabucodonosor, o rei poderoso, a que se refere a Bíblia, que, nos
últimos sete anos de existência, viveu sentindose animal. Andava de quatro e comia ervas
rasteiras ou roia ossos como um cão.
E Chico, citando André Luiz, estendendose em considerações interessantes, citounos
casos outros de Licantropia, inextrincáveis, ainda, para a investigação dos médicos encarnados,
conforme ponderou o esclarecido autor de NOSSO LAR, dizendonos:
— Andando, às vezes, por aqui e por ali, encontrome com vários irmãos e neles,
observando bem, descubro em cada qual duas fisionomias, uma que tem e outra que molda com
seus pensamentos e, sentimentos... Por isto, vez por outra, vejo moças, com fisionomias angelicais,
e, nos elementos plásticos de seus perispíritos, cobrinhas, aranhas, gatos, etc., simbolizandolhes
as tendências... E também observo em fisionomias fechadas, carrancudas, feias, pássaros, libélulas,
carneiros, pombas mansas... Isso acontece comigo mesmo, pois descubro muitos animais em mim
próprio... Como colaboração ao belo assunto, lembramoslhe um lume a que assistíramos, há
63 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
tempos: O Pintor De Almas. O filme revelou um caso verídico da História e o pintor existiu. De
uma feita, pintou o retrato de uma Imperatriz e a fez menos bela do que era e até com sinais
grosseiros no semblante. Com a sua dama de companhia, fisicamente feia, pintoua diferente, bela.
Chamado a explicarse, justificouse dizendo: “Vejoas assim, espiritualmente. Uma a meu ver, é
feia e má, a outra, bela e caridosa”. E dizia uma verdade.
O Chico deu uma de suas gostosas gargalhadas e mudamos de assunto, receosos de que o
vidente de Pedro Leopoldo observasse, escondido em nós, algum animal ferocíssimo...
67
ENTÃO, DESEJO SER O BURRINHO...
O Chico acabava de ver sair à publicidade mais um dos belos e úteis livros psicografados
pelas suas mãos abençoadas. E, além de cartas elogiosas ao seu trabalho, recebia pessoalmente em
Pedro Leopoldo e em Belo Horizonte, quando lá comparecia, louvores e mais louvores de
confrades e irmãos outros simpáticos ao Espiritismo. E cada qual lhe citava um fato que mais lhe
agradou, realçando o valor do livro neste e naquele aspecto.
O Chico andava atrapalhado com tantos confetes sobre sua pessoa. E, em casa, sossegado
dos aplausos, dizia de si para consigo:
— Vou deixar de psicografar, pois sou um verdadeiro ladrão roubando referências
honrosas que não me pertencem. Os abraços, os parabéns, os elogios que recebo cabem aos
Espíritos de Emmanuel, André Luiz, Néio Lúcio e de outros, que são legitimamente os autores dos
livros magníficos. Preciso dar um jeito nisto...
Néio Lúcio, que lhe traduzia o pensamento, que lhe verificara os propósitos, sorrindo, lhe
aparece e diz:
— Não há razão, Chico, para sentirse você magoado com os elogios. Também os
merece.
— Não, Néio Lúcio, sintome como um ingrato, ladrão, indigno...
— Bem, Chico, vou contarlhe uma pequena história: em certo município, dois distritos
se defrontavam, separados apenas por pequena distância. Um, com a população quase toda
enfermada, sem recurso de espécie alguma. O outro, cheio de vida, víveres, remédios. Apenas
faltava um agente intermediário entre os dois. Ninguém queria servir de ligação, realizar o trabalho
socorrista. Foi quando, como mandado do céu, apareceu um burrinho humilde, manso, que, com
pouco trabalho, tomouse “apiado”, obediente, capaz de levar, sem ninguém, do distrito rico ao
distrito pobre, os recursos de que careciam os irmãos enfermos e sofredores. O burrinho, tendo ao
lombo dois jacás, um de cada lado, foi recebendo as dádivas: Um colocava alimento, outro
remédio, mais outro, roupas. Colocavamno à trilha, e ele, automaticamente, lá ia para o distrito
lazarento e faminto. Em pouco, era esvaziada toda a carga e voltava, como fora, alegre, satisfeito
por haver cumprido um serviço salvacionista, abençoado, para repetir, noutras vezes, quando
necessário, a mesma tarefa cristã.
E, antes que Néio Lúcio concluísse, o Chico exclamou:
— Está bem, Néio Lúcio, então, como burrinho, aceito o serviço. E nunca mais se
importou com louvores, certo de que agora sabe qual a missão que realiza, entre a terra e o céu,
junto à Grande Causa.
Lição de humildade, de conhecimento de si mesmo. Lição para nós todos...
64 – Ramir o Gama
68
A LIÇÃO DOS CHUCHUS...
Dona Maria Pena, que era viúva do Raimundo, irmão do Chico, julgava que este era um
mão aberta. Não era muito crente do dar sem receber. E, certa manhã, em que, sobremodo, sentia a
missão do Médium, que muito estimava, disselhe:
— Chico, não acredito muito nas suas teorias de servir, de ajudar, de dar e dar sempre,
sem uma recompensa. Não vejo nada que você recebe em troca do que faz, do que dá, do que
realiza.
— Mas, tudo quanto fazemos com sinceridade e amor no coração, Deus abençoa. E,
sempre que distribuímos, que damos com a direita sem a esquerda ver, fazemos uma boa ação e,
mais cedo ou mais tarde, receberemos a resposta do Pai. Pode crer que quem faz o bem, além de
viver no bem, colhe o bem.
— Então, vamos experimentar. Tenho aqui dois chuchus. Se alguém aqui aparecer, vou
lhos dar e quero ver se, depois, recebo outros dois.
Ainda bem não acabara de falar, quando a vizinha do lado esquerdo, pelo muro, chama:
— Dona Maria, pode me dar ou emprestar uns dois chuchus?
— Pois não, minha amiga, aqui os tem, faça deles um bom guisado.
Daí a instante, sem que pudesse refazerse da surpresa que tivera, a vizinha do lado
direito, também pelo muro, ofereceu quatro chuchus a D. Maria. Meia hora depois, a vizinha dos
fundos pede a D. Maria uns chuchus e esta a presenteia com os quatro que ganhara. A vizinha da
frente, quase em seguida, sem que soubesse o que acontecia, oferece à cunhada do nosso querido
Médium, oito chuchus.
Por fim, já sentindo a lição e agindo seriamente, D. Maria é visitada por uma amiga de
poucos recursos econômicos. Demorase um pouco, o tempo bastante para desabafar sua pobreza.
À saída, recebe, com outros mantimentos, os oito chuchus...
E dona Maria diz para o Chico:
— Agora quero ver se ganho dezesseis chuchus, era só o que faltava para completar essa
brincadeira...
Já era tarde.
Estava na hora de regressar ao serviço e Chico partiu, tendo antes enviado à prezada irmã
um sorriso amigo e confiante, como a dizerlhe: — “Espere e verá”.
Aí pelas dezoito horas, regressou o Chico à casa. Nada havia sucedido com relação aos
chuchus. Dona Maria olhava para o Chico com ar de quem queria dizer: “Ganhei ou não?”
Às vinte horas, todos na sala, juntamente com o Chico, conversam e nem se lembram
mais do caso dos chuchus, quando alguém bate à porta. Dona Maria atende.
Era um senhor idoso, residente na roça. Trazia no seu burrinho uns pequenos presentes
para Dona Maria, em retribuição às refeições que sempre lhe dá, quando vem à cidade. Colocou à
porta um pequeno saco. Dona Maria abreo nervosa e curiosamente. Estava repleto de chuchus.
Contouos: sessenta e quatro: Oito vezes mais do que havia, ultimamente, dado...
Era demais.
A graça, em forma de lição, excedia à expectativa, era mais do que esperava. E, daí por
diante, Dona Maria compreendeu que aquele que dá recebe sempre mais.
65 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
69
“OS MORTOS ESTÃO DE PÉ...”
Gastão Penalva, escritor de raça, pseudônimo de conhecido e estimado oficial de nossa
Marinha de Guerra, há pouco desencarnado, pelo “Jornal do Brasil”, de 4 de outubro de 1939,
escreveu, com o título: “A HUMBERTO DE CAMPOS, onde estiver”, uma bela página literária, em
que, exteriorizando seu estado de alma de homem bom e incompreendido, reviveu para o grande
colega de Arte, agora na espiritualidade, o programa doentio da Terra. Terminou a carta literária
pedindolhe desculpas por haverlhe perturbado o sono. E deulhe um saudoso até logo.
Pois bem, no dia 6 do mesmo mês e ano, Chico, que nada leu e de nada sabia, recebeu a
resposta de Humberto de Campos para seu querido amigo Gastão Penalva.
Tratase de uma página linda, toda ela, em que, identificandose pelo estilo e pela sua
cultura variada e segura, o mágico escritor maranhense justifica a doença da Terra e lhe oferece o
remédio curador e salvador, que nos veio há dois mil anos pelas mãos santas de Jesus. É uma
página magistral, como somente ele, Humberto, sabia e sabe escrever.
Chico a enviou à FEB, por intermédio de M. Quintão, que lhe tirou uma cópia e fez
chegar o original às mãos do destinatário.
Gastão Penalva, segundo se soube, surpreendeuse ao recebêla e, quando a leu toda,
chorou de alegria e consolação, tanto mais por identificar seu querido colega morto, e ganhar, aí, a
certeza de que a imortalidade é um fato. As duas cartas literárias constam do magnífico livro
NOVAS MENSAGENS, editado pela FEB.
Gastão Penalva, mais tarde, espalhou a notícia e, particularmente, contou o caso, com
minudências, ao seu colega João Luso, descrente das verdades espíritas, que, logo depois de ouvi
lo, disselhe:
— Isto é um sonho, não acredito que os mortos vivam...
— Bem — retrucoulhe Gastão Penalva —, um dia você terá uma prova. Espere e vera...
Passouse o tempo. Ambos ficaram doentes e Gastão, sem que João Luso soubesse,
desencarnou.
Logo que melhorou e pôde sair, João Luso foi ao “Jornal do Brasil”, de que era
colaborador, para pôr em dia seus escritos. À entrada, vemlhe ao encontro alguém que o abraça e
lhe aperta as mãos.
E João Luso despedese do amigo, apreensivo, por verificar que ele estava pálido e com
as mãos geladas. Entra na redação e exclama:
— Imaginem, acabo de abraçar o querido Gastão Penalva, que não via há muito, mas
verifico que está muito doente, pálido, de mãos frias.
O pessoal da redação se entreolha admirado, e um, dentre todos, diz:
— Não é possível, João Luso, pois ele morreu há quinze dias...
— Há quinze dias? Então é verdade! Os mor tos estão mesmo de pé! Prometeume o
Gastão uma prova e veio cumprir sua palavra... Graças a Deus!
Abaixou a cabeça.
De seus olhos rolavam lágrimas.
Hoje, João Luso já está na Espiritualidade e poderá, melhormente, verificar, em espírito e
verdade, que, de fato, os mortos, tendo à frente o Espírito Humberto de Campos, vivem e estão
mesmo de pé...
66 – Ramir o Gama
70
ORAÇÃO DA FILHA DE DEUS
Nelma era uma sobrinha do Chico, a qual desencarnou em Belo Horizonte, em junho de
1944. Dias antes de partir, a doente, jovem recémcasada, de vinte anos, pediu a Emmanuel lhe
desse uma oração para ir repetindoa, de memória. Sabiase no fim do corpo e desejava uma
oração que lhe desse forças para a grande viagem.
E a prece veio.
Pelas mãos do Chico, o orientador espiritual escreveu a seguinte rogativa:
Oração Da Filha De Deus
Meu Deus, deponho aos teus pés
Meu vestido de noivado.
Meus prazeres do passado
E as rosas do meu Jardim...
Pois, agora, Pai Querido,
Somente vibra, em meu peito,
Teu Amor Santo e Perfeito,
Teu Amor puro e sem fim.
Ah! Meu Pai, guarda contigo
Meu cofre de arminho e ouro,
Onde eu guardava o tesouro
Que me deste ao coração.
Entregote as minhas horas,
Meus sonhos e meus castelos,
Meus anseios mais singelos,
Minhas capas de ilusão!...
Pai dos Céus, guarda a coroa
Das flores de laranjeira
Que eu tecia a vida inteira
Como pássaro a cantar!
Oh! Meu Senhor, como é doce
Partir os grilhões do mundo
E esperarte o amor profundo
Nas bênçãos do Eterno Lar!...
Em troca, meu Pai, concede,
Agora que me levanto,
Que a lã do Cordeiro Santo
Me agasalhe o coração!
Que eu calce a sandália pobre
Para a grande caminhada,
Que me conduz à Morada
Da Paz e da Redenção!
67 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
71
CASOS DE M. QUINTÃO
Numa sextafeira do mês de maio de 1945, M. Quintão, na varanda de sua aprazível
vivenda, no Méier, conversava animadamente com o confrade Meireles, quando sua cara
companheira o chama para nivelar o piano, isto é, acertálo nos pisos. Com o auxílio do irmão
Meireles, pegou na alça do piano e, fazendo força para levantálo, sentiu uma torção nos rins,
sobrevindolhe intensa dor que o obrigou a acamarse.
O caso, que antes parecia sem importância, agravouse, impossibilitandoo de ir à Casa de
Ismael presidir à sessão pública das 19:30. D. Alzira, sua esposa, alvitrou que telegrafasse ao
Chico respondendolhe M. Quintão:
— Não convém, isto vai alarmar e nada produzirá, de vez que, se for permitido, mesmo
de longe ou daqui de perto, receberei o remédio de que careço. Esperemos até domingo, se não
melhorar, escreveremos ao Chico.
E, por intuição, foi medicandose.
Domingo, pela manhã, o correio traz uma carta.
Abremna.
É do Chico Xavier, com uma mensagem de Emmanuel, que logo de início, diz:
— Antes de tudo, desejo identificarme, dizendolhe que, em verdade, o telegrama antes
alarma e nada beneficia. Desde que sofreu o acidente, estamos medicandoo. E continue tomando
os remédios que, por via intuitiva, já lhe receitamos.
Dias depois, o nosso caro irmão ficou restabelecido.
Procurou a mensagem para nos dar, mas não a encontrou.
Que pena!
Seria mais um clichê documentativo para o nosso Livro!
Também, em começo de abril de 1947, o mesmo confrade sonha com a data de 18.
Constou esse sonho de seu magnífico livro CINZAS DE MEU CINZEIRO. Depois de várias
considerações sobre sonhos, dissenos:
— Despertei alta noite, a tracejar uma folha de calendário do ano de 1947. Era uma
dessas folhinhas de parede, modelo comercial, que eu esboçava com requintes de meticulosidade,
à tinta encarnada, assim: 1947, 18 de abril, sextafeira. E a impressão era tão viva que não resisti
ao desejo de grafála imediatamente no meu calepino; nem sopitava a freima de transmitila aos
confrades mais íntimos. E não faltou quem sorrisse de minha puerilidade. “Ora para que havia de
dar o Quintão no crepúsculo da vida!” Um houve, que identificou a efeméride com a primeira
edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS: em outros eu pressentia o palpite piedoso da minha
desencarnação. Em matéria de sonhos o campo é livre e infinito, e como lá diz: — “O melhor da
festa é esperar por ela”, a festa veio no dia 18 de abril passado; o nosso nunca assaz e lembrado
Chico Xavier viajou a serviço, de Pedro Leopoldo para Juiz de Fora, e, porque não nos víamos
havia três anos, aproveitou o ensejo para uma surpresa de arromba. De arromba, porque me
chegou a Penates às 22 horas, debaixo de chuva. Era só para matar saudades, num fugaz e furtivo
abraço. Não podia demorar, regressaria no primeiro trem da manhã, precisava parar ainda em Juiz
de Fora e estar a tempo em Pedro Leopoldo, a fim de, na próxima terçafeira, seguir para a feira
pecuária de Uberaba. Serviço é Lei, manda quem pode. Repousar? Dormir? Não. Poderia perder o
trem... Candura do Chico! — Vamos, então, “bater papo” toda a noite, enquanto chove grosso lá
fora. Mesa posta, café, biscoitos e um mundo de ideias, comentários, recordações. O velho Kronos
se eclipsa, envergonhado talvez, e Morfeu vailhe na pegada com as suas papoulas... As quatro da
68 – Ramir o Gama
madrugada canta o galo. Minha mulher pede ao Chico uma indicação, um conselho mediúnico...
— Deixate disso, o Chico está fatigado, exausto mesmo; de resto, eu sempre fui infenso a
comunicações preconcebidas. O médium, porém, não recalcitrou, toma lesto da lapiseira e sem
pestanejar escreve de jato:
Ave, Maria!
No primeiro aniversário
De minha libertação,
Em teu lar, Quintão amigo,
Procuro o altar da oração.
Ave, Maria! Mãe que por nós velas
Do teu trono de ternos resplendores,
Auxilia os teus filhos sofredores,
Que padecem a fúria das procelas.
Cheia de graça, estrela entre as mais belas,
Anjo excelso dos pobres pecadores,
Balsamiza, Senhora, as nossas dores,
Tu, que por nossas almas te desvelas.
O Senhor é contigo, Soberana,
Astro sublime sobre a noite humana,
Sol que infinitos dons de Deus encerra!
Bendita és para sempre, Mãe querida,
Por teus braços de amor, ternura e vida,
Por teu manto de luz que ampara a terra!
Br aga Neto
Isto, continua M. Quintão, com a lapiseira que guardo como lembrança do saudoso e
inesperado visitante. Juro que não me lembrava, absolutamente, do seu transpasse nesta data. Nem
o médium, têloia de memória, tão pouco E aqui fica mais um lindo caso de um sonho
premonitório, para cuja realização o caro Chico foi o instrumento feliz.
72
UM MORTO ILUSTRE DESCREVE O PRÓPRIO ENTERRO
Noite de 17 de junho de 1945. Chico Xavier, a serviço da repartição da qual é empregado,
achavase na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais, numa exposição agropecuária. Findo o labor
do dia, foi visitar o “Centro Espírita Amor ao Próximo”, daquela cidade.
Como se sabe, naquela cidade mineira, desencarnou o poeta Augusto dos Anjos, cujos
despojos, até hoje, ainda lá se encontram.
Alguém, na reunião, que se compunha de mais de cem pessoas, Comentou:
— Ora essa! Se os Espíritos se comunicam conosco, seria interessante que o Augusto dos
Anjos nos viesse contar, em versos, como foi o seu enterro.
E o poeta veio mesmo.
Em concentração junto à mesa que dirigia os trabalhos da noite, Chico psicografou a
interessante Mensagem que transcrevemos:
69 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Recordações Em Leopoldina
A sombra amiga destes montes calmos,
Meu pobre coração de anacoreta,
Amortalhado em fina roupa preta
Desceu à escuridão dos sete palmos.
Viera o fim dos sonhos intranquilos
Entre grandes e estranhos pesadelos,
Satisfazendo aos trágicos apelos
Da guerra inexorável dos bacilos.
A morte terminara o horrendo cerco,
Sufocando as moléculas madrastas...
Eram milhões de células nefastas,
Voltando à paz do túmulo de esterco.
Indiferente aos últimos perigos,
Meu corpo recebeu o último beijo
E comecei o lúgubre cortejo,
Sustentado nos braços dos amigos.
Em triste solilóquio no trajeto,
Espantado, fitando as mãos de cera,
Rememorava o tempo que perdera,
Desde as primárias convulsões do feto.
Por que morrer amando e haver descrido
Do Eterno Sol, do qual vivera em fuga?
Como é sombrio o pranto que se enxuga
Pelo infinito horror de haver nascido!...
Depois, vime no campo onde a dor medra,
Ao contacto do chão frio e profundo,
Chegara para mim o fim do mundo,
Entre as cruzes e os dísticos de pedra.
Terrível comoção pintoume a cara,
Na escabrosa cidade dos pés juntos,
Tornarase defunta, entre os defuntos,
Toda a ciência de que me orgulhara.
Trêmulo e só, no leito subterrâneo,
Sentia, frente à lógica dos fatos,
O pavor dos morcegos e dos ratos,
Dominar os abismos de meu crânio.
Meus ideais mais puros, meus lamentos,
E a minha vocação para a desgraça
Reduziamse à mísera carcaça
Para o açougue dos vermes famulentos.
Em seguida o abandono, enfim, do plasma,
Os micróbios gritando independência...
E tomei nova forma de existência
Sob a fisiologia do fantasma.
Fugindo então ao gelo, à sombra e à ruína
70 – Ramir o Gama
Do caos sinistro em que vive submerso
Revelouseme a glória do universo,
Santificado pela Luz Divina.
Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços,
Nem arranque meu corpo à última furna,
É Leopoldina, a generosa urna,
Que, acolhedora, me resguarda os ossos.
Beije minhalma, alegre, o pó da rua
Deste painel bucórico e risonho,
Onde aprendi, no derradeiro sonho,
Que o mistério da vida continua...
Bendita sela a Terra, augusta e forte,
Onde, através das vascas da agonia,
Encontrei a mim mesmo, em novo dia,
Pelas revelações de luz da morte.
Augusto dos Anjos
O experimentador, que duvidava da comunicação dos Espíritos, ao escutar a Mensagem,
franziu a testa e, com toda a assembléia, ficou meditando...
73
PROGRAMA CRISTÃO
Em 11 de outubro de 1947, estavam reunidos diversos companheiros da Mocidade
Espírita de Petrópolis, em Pedro Leopoldo. Depois de vários apontamentos doutrinários, a
senhorita Zilda Portugal pediu a Emmanuel um programa destinado aos jovens espíritas e, pela
mão do Chico, o querido benfeitor escreveu o seguinte:
Programa Cristão
Aceitar a direção de Jesus.
Consagrarse ao Evangelho Redentor.
Dominar a si mesmo.
Desenvolver os sentimentos superiores.
Acentuar as qualidades nobres.
Sublimar aspirações e desejos.
Combater as paixões desordenadas no campo íntimo.
Acrisolar a virtude.
Intensificar a cultura, melhorando conhecimentos e aprimorando aptidões.
Iluminar o raciocínio.
Fortalecer a fé.
Dilatar a esperança.
Cultivar o bem.
Semear a verdade.
Renovar o próprio caminho, pavimentandoo com o trabalho digno.
Renunciar ao menor esforço.
71 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Apagar os pretextos que costumam adiar os serviços nobres.
Estender o espírito de serviço, secretariando as próprias edificações.
Realizar a bondade, antes de ensinála aos outros.
Concretizar os ideais elevados que norteiam a crença.
Esquecer o perigo no socorro aos semelhantes.
Colocarse em esfera superior ao plano
Ganhar tempo, aproveitando as horas
Enfrentar corajosamente os problemas humana.
Amparar os ignorantes e os maus.
Auxiliar os doentes e os fracos.
Acender a lâmpada da boa vontade onde haja sombras e incompreensão.
Encontrar nos obstáculos os necessários recursos à superação de si próprio.
Perseverar no bem até o fim da luta.
Situar a reforma de si mesmo, em Jesus Cristo, acima de todas as
exigências da vida terrestre.
Emmanuel
O programa está aí.
Deus nos ajude a cumprilo.
74
SOLILÓQUIO DE UM SUICIDA
Na noite de 7 de março de 1948, Chico Xavier encontravase com alguns amigos no Alto
do Cruzeiro, em Belo Horizonte. Desse ponto admirável, extenso panorama se descortinava...
Noite clara e suave.
Um amigo lembra a prece e o grupo ora.
— Alguém da vida espiritual conosco, Chico? — interrogou um companheiro do Sul de
Minas, depois da oração.
— Sim — disse o médium —, vejo um homem chorando ao seu lado.
— O nome dele?
— João Guedes.
— Sim, conheci. Era um pobre moço, poeta, que morreu por suicídio, em minha terra.
Desejará alguma coisa?
— Sim, ele diz que pretende deixarnos uma lembrança. Alguém traz consigo papel e
lápis?
Um dos companheiros presentes estende ao médium o material solicitado.
E, apoiandose num poste de iluminação pública, Chico escreve o que lhe dita o visitante
do Além. Quando terminou, estava grafada a seguinte poesia:
Os torvos corações, náufragos de mil vidas,
Distantes de Jesus, que nos salva e aprimora,
Sob o guante da dor, caminham de hora a hora,
Para o inferno abismal das almas consumidas...
Sementeiras de pranto, aflições e feridas,
No pecado revel que os requeima e devora...
72 – Ramir o Gama
Depois, a escuridão da noite sem aurora
E o sarcasmo cruel das ilusões perdidas...
Alma triste que eu trago, ensandecida e errante,
Por que fugiste, assim, no milagroso instante?
Por que rogar mais luz, se, estranha, te sublevas?
Ah! Mísera que foste, hesitante e covarde.
Não lamentes em vão, nem soluces tão tarde...
Procuremos Jesus, além de nossas trevas!
J oão Guedes
O moço, amigo do Poeta desencarnado, recebeu a página e guardoua, enxugando as
lágrimas.
75
OFERENDA ÀS CRIANÇAS
Na noite de 16 de julho de 1948, algumas irmãs do Distrito Federal se achavam em Pedro
Leopoldo, e, algumas delas, em oração, pediram aos Amigos Espirituais uma lembrança para as
criancinhas do “Centro Espírita Discípulos de Jesus”, do Rio de Janeiro.
Foi João de Deus, o suave lírico de Portugal, quem veio e atendeu pela mediunidade do
Chico, dedicando aos meninos da referida instituição a poesia que transcrevemos:
O Caminho Do Céu
Ouve, agora, meu anjinho,
Se procuras o caminho
Do Paraíso no Além,
Cultiva o jardim do amor,
Trabalha e atende ao Senhor
Sem fazer mal a ninguém.
Sê bondoso e diligente,
Serve ao mundo alegremente,
Apegate aos homens bons;
Foge à discórdia que exalta
A treva, à revolta, à falta,
E busca os divinos dons.
Depois, filhinho, mais tarde,
Entenderás, sem alarde,
Que a senda de perfeição
Para toda criatura
Começa, risonha e pura,
Por dentro do coração.
J oão de Deus
Lembramonos de registrar aqui a presente recordação como oferenda às criancinhas.
73 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
76
UMA VISITA DE CRUZ E SOUZA
O confrade Izaltino Silveira Filho, digno companheiro nosso em Juiz de Fora, achavase
em prece com o Chico, em Pedro Leopoldo, na noite de 11 de setembro de 1948, quando ele e o
médium registraram a presença de alguns amigos espirituais.
Concentraramse e, dentre as Mensagens recebidas, veio o seguinte soneto de Cruz e
Souza pelas mãos do médium, dedicado ao irmão acima referido:
Segue
Segue gemendo no caminho estreito,
De pé sangrando em chagas dolorosas,
Sustentando alegrias que não gozas,
À renúncia rendendo excelso preito.
Na cruz pesada que te oprime o peito,
Encontrarás estrelas milagrosas,
Sob chuvas de bênçãos e de rosas,
Que dimanam do amor santo e perfeito.
Se o temporal de lágrimas te encharca,
Seja a esperança a luminosa marca
Que te assinale as súplicas sinceras!
Somente a dor na terra estranha e escura
Apaga na corrente da amargura
Os erros que trazemos de outras eras...
Cruz e Souza
Assinalamos aqui esse soneto, não só por sua beleza, mas também pela exatidão do estilo
que caracteriza o grande e inesquecível poeta.
77
O CULTO DOMÉSTICO DO EVANGELHO
Explicandose, com singeleza e segurança, pelo lápis do Chico, na noite de 16 de
dezembro de 1948, assim se expressou Casimiro Cunha sobre o culto doméstico do Evangelho:
Culto Doméstico
Quando o culto do Evangelho
Brilha no centro do Lar,
A luta de cada dia
Começa a santificar.
Onde a língua tresloucada
Dilacera e calunia,
74 – Ramir o Gama
Brotam flores luminosas
De sacrossanta alegria.
No lugar em que a mentira
Faz guerra de incompreensão,
A verdade estabelece
O império do Amor cristão.
Onde a ira ruge e morde,
Qual rude e invisível lera,
Surge o silêncio amoroso
Que entende, respeita e espera,
A mente dos aprendizes,
Bebe luz em pleno ar,
Todos disputam contentes,
A glória do verbo dar.
A bênção do culto aberto
Na Divina diretriz,
Conversa Jesus com todos
E a casa vive feliz.
Quem traz consigo a alegria
Combatendo a treva e o mal,
Encontra a porta sublime
Do Reino Celestial.
Casimiro Cunha
78
O HINO DO REPOUSO
Na noite de 10 de março de 1949, D. Maria Pena Xavier, uma das cunhadas do Chico,
entrou em longa e comovedora agonia, depois de persistente enfermidade.
O médium, acompanhado de vários familiares, entra em oração. E o Chico vê o quarto
humilde povoarse de numerosas crianças desencarnadas. E elas cantam delicado hino, como que
embalando a enferma a desencarnar.
O médium roga a um dos Espíritos Amigos presentes que lhe dê, por generosidade, a letra
do hino e o Amigo dita, verso a verso. Em breves momentos, a composição, abaixo transcrita, está
perfeita no papel em que o médium está escrevendo o que ouve:
Hino Do Repouso
Rasgaramse os véus da noite...
Novo dia resplandece.
Viajor, descansa em prece
Ao lado da própria cruz.
No firmamento dourado
75 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Rebrilha a aurora divina,
Porque a morte descortina
Vida nova com Jesus.
Esquece a aflição do mundo!
No seio da crença, olvida
Todas as sombras da vida,
Todo sonho enganador.
Sob a bênção da alegria,
És a andorinha celeste
Na esperança que te veste,
Voltando ao ninho de amor.
Repete, agora, conosco:
“Bendita a dor santa e pura
Que me deu tanta amargura
E tanta consolação”.
E orando, em paz, no repouso,
De alma robusta e contente,
Agradece alegremente
A própria libertação.
Descansa! Que além da sombra,
Outra alvorada te espera!
Abençoa a nova esfera
A que o Senhor nos conduz.
Dilatarás, muito em breve,
Todo o júbilo que vazas,
Desdobrando as próprias asas
No Reino da eterna Luz!
Decorridos instantes, D. Maria desencarnou e até hoje não se sabe a autoria do belo hino
cantado pelos Espíritos Amigos junto à humilde viúva, em seu leito de morte.
Esta linda página consta do livro CARTAS DO CORAÇÃO, publicado em benefício das
obras do “Centro Espírita Aliança do Divino Pastor”, sediado no Leblon, no Rio.
79
UMA VISITA DE LUIZ GUIMARÃES
Grande número de irmãos se reunia na residência do nosso confrade Luiz Mescolin, na
cidade de Juiz de Fora, em Minas, na noite de 12 de junho de 1949, palestrando sobre Espiritismo
e poesia, quando alguém lembrou a suavidade das produções de Luiz Guimarães.
E se o poeta viesse escrever algo?
Depois de alguns momentos, congregaramse os circunstantes num círculo de oração e o
Poeta lembrado apareceu, escrevendo pelo Chico o seguinte soneto:
76 – Ramir o Gama
Cartão Fraterno
Abre teu coração à luz divina
Para que a luz do amor em ti desponte.
E subirás, cantando, o excelso monte
Que de bênçãos celestes se ilumina.
Honra a luta na terra que te inclina
À sublime largueza de horizonte.
A nossa dor é a nossa própria fonte
De profunda verdade cristalina.
Quebra a escura cadeia que te isola!
Faze de teu caminho a grande escola
De renascente amor, puro e fecundo!
Deixa que o Cristo te penetre a vida
E que sejas do Mestre a chama erguida
À luminosa redenção do mundo.
Luiz Guimarães
Esta produção mediúnica está publicada na revista espírita O Médium, da referida cidade,
em seu número de junho de 1949.
80
O TESOURO DA FRATERNIDADE
Na noite do Ano Bom de 1950, vários irmãos de Belo Horizonte, reunidos em Pedro
Leopoldo, em companhia do Chico, comentavam a importância das riquezas para a extensão do
bem: Aqui, desejavase o salário farto... Acolá, falavase em dinheiro da loteria...
Chegada a hora da prece, Emmanuel, pelo lápis do médium, endereça aos presentes a
seguinte Mensagem:
O Tesouro Da Fraternidade
Não desprezes as pequeninas parcelas de carinho para que atinjas o
tesouro da fraternidade.
Uma palavra confortadora.
O gesto de compreensão e ternura.
A frase de incentivo.
O presente de um livro.
A lembrança de uma flor.
Cinco minutos da palestra edificante.
O sorriso do estímulo.
A gota de remédio.
A informação prestada alegremente.
O pão repartido.
A visita espontânea.
77 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Uma carta de entendimento e amizade.
O abraço de irmão.
O singelo serviço em viagem.
Um ligeiro sinal de cooperação.
Não é com o ouro fácil que descobrirás os mananciais ignorados e
profundos da alma.
Não é com a autoridade do mundo que conquistarás a renovação real
de um amigo.
Não é com a inteligência poderosa que colherás as flores ocultas da
confiança.
Mas sempre que o teu coração se inclinar para um mendigo ou para um
príncipe, envolvido na luz sublime da boa vontade, ajudando e servindo em
nome do Bem, olvidando a ti mesmo para que outros se elevem e se rejubilem,
guarda a certeza de que tocaste o coração do próximo com as santas irradiações
das tuas pérolas de bondade, e caminharás no mundo, sob a invencível couraça
da simpatia, para encontrar o divino tesouro da fraternidade em plenos céus.
Emmanuel
Quem puder ajuntar esse tesouro, decerto, comprará com facilidade um passaporte para o
Céu.
81
SALDO E EXTRA
Na noite de 13 de março de 1950, alguns amigos conversavam sobre os problemas do
homem na Terra, quando, iniciados os trabalhos, André Luiz veio à assembléia e escreveu a
seguinte Mensagem pelo lápis do Chico:
Saldo E Extra
O homem comum, em todas as latitudes da Terra, guarda,
habitualmente, o mesmo padrão de atividade normal.
Alimentase. Vestese. Descansa. Dorme. Pensa. Fala. Grita. Procria.
Indaga. Pede. Reclama. Agitase.
Em suma, consome e, muitas vezes, usurpa a vitalidade dos reinos que
se lhe revelam inferiores.
É o serviço da evolução.
Para isso, concedelhe o Senhor grande quota de tempo.
Cada semana de serviço útil, considerada em seis dias ativos, é
constituída de 144 horas, das quais as criaturas mais excepcionalmente
consagradas à responsabilidade gastam 48 em trabalho regular.
Nessa curiosa balança, a mente encarnada recebe um saldo de 96
horas, em seis dias, relativamente ao qual raríssimas pessoas guardam noção de
consciência.
Por semelhante motivo, a sementeira gratuita da fraternidade e da luz,
para o seguidor de Cristo se reveste de especial significação.
78 – Ramir o Gama
Enorme saldo de tempo exige avultado serviço extra.
Em razão disso, às portas da Vida Eterna, quando a alma do aprendiz,
no exame de aproveitamento além da morte, alega cansaço e se reporta aos
trabalhos triviais que desenvolveu no mundo, a palavra do Senhor sempre
interrogará, inquebrantável e firme:
— “Que fizeste de mais?”
André Luiz
Oferecemos esta Mensagem aos nossos leitores para as nossas meditações.
82
PÁGINA AO IRMÃO MAIS VELHO
Quando da realização da 1ª Semana do Moço Espírita de Minas Gerais, em Belo
Horizonte, em julho de 1950, todos os trabalhos se desdobravam em torno dos jovens, mas
Emmanuel se manifestou pelo Chico e escreveu esta “Página ao irmão mais velho”, que
oferecemos também aos nossos leitores:
Página Ao Irmão Mais Velho
Ajuda a teu filho enquanto é tempo.
A existência na Terra é a vinha de Jesus, em que nascemos e
renascemos.
Quantos olvidam seus filhinhos, a pretexto de auxílio ao próximo e
acabam por fardos pesados a toda gente!
Quantos se dizem portadores da caridade para o mundo e relegam o lar
ao desespero e ao abandono?
Não convertas o companheiro inexperiente em ornamento inútil, na
galeria da vaidade, nem lhe armes um cárcere no egoísmo, arrebatandoo à
realidade, dentro da qual deve marchar em companhia de todos.
Dálhe, sempre que possível a bênção dos recursos acadêmicos;
contudo, antes disso, abrelhe os tesouros da alma, para que não se iluda com as
fantasias da inteligência quando procura agir sem Deus. Ensinalhe a lição do
trabalho, preparandoo simultaneamente na arte de ser útil, a fim de que não se
transforme em alimária inconsciente.
Os pais são os ourives da beleza interior.
O buril do exemplo e a lâmpada sublime da bondade são os divinos
instrumentos de tua obra.
Não imponhas à formação juvenil os ídolos do dinheiro e da força.
A bolsa farta de moedas, na alma vazia de educação, é roteiro seguro
para a morte dos valores espirituais.
O poder sem amor gera fantoches que a verdade destrói no momento
preciso.
Garante a infância e a juventude para a vida honrada e pacífica.
Que seria do celeiro se o lavrador não preservasse a semente?
Quem despreza o grelo frágil é indigno do fruto.
79 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Faze de teu filho o melhor amigo, se desejas um continuador para os
teus ideais.
Que será de ti se depois de tua passagem pela carne não houver um
cântico singelo de agradecimento endereçado ao teu espírito, por parte daqueles
que deves amar? Que recolherás na seara da vida, se não plantares o carinho e
o respeito, a harmonia e solidariedade, nem mesmo um pequenino canteiro
doméstico?
Não reproves a esmo. A tua segurança de hoje lança raízes na
tolerância de teu pai e na doçura das mãos enrugadas e ternas de tua mãe.
Esquece a cartilha escura da violência. Que seria de ti sem a paciência
de algum velho amigo ou de algum mestre esquecido que te ensinaram a
caminhar?
O destino é um campo restituindo invariavelmente o que recebe.
Ama teu filho e faze dele o teu confidente. E quanto puderes, com o teu
entendimento e com o teu coração, ajudao, cada dia, para que não te falte a
visão consoladora da noite estrelada na hora do repouso e para que te
glorifiques, em plena luz, no instante bendito do sublime despertar.
Emmanuel
83
APRENDER COM SABEDORIA E SERVIR COM AMOR
Na noite de 31 de agosto de 1951, estivemos em Pedro Leopoldo e, em prece com o
Chico, recebemos a linda mensagem de João Pinto de Souza, o criador da Hora Espiritualista ,
apreciando nossa Campanha de Alfabetização, mensagem essa que aqui transcrevemos:
Hoje, mais do que nunca, entendo que o Espiritismo, qual é aceito e
compreendido entre nós, pode ser definido como sendo Caridade e Educação.
Através do bem, melhoramos a vida fora de nós, em favor de nossa própria
felicidade e, por intermédio do Ensino, aprimoramos a vida igualmente, dentro de nós,
para que nossa atuação no mundo se enriqueça de bênçãos.
Enquanto aí, por maiores que se revelem as demonstrações de nossa fé, não
chegaremos realmente a apreender toda a extensão e toda a grandeza do tesouro que o
Alto nos confia, nos valores que a Doutrina Consoladora dos Espíritos nos oferece. É
preciso cerrar os olhos no campo denso da carne, para reconhecer, em verdade, as
riquezas imperecíveis de que fomos dotados pelo Espiritismo Evangélico, porque as
oportunidades de elevação para nós todos fluem, com abundância e beleza, de todos os
ângulos da luta humana, convidandonos a aprender com sabedoria e a servir com amor,
a benefício de nossa ascensão no caminho do reajuste.
Assim, pois, quanto puderem vocês, que ainda estão retendo a graça do corpo
físico para engrandecer os interesses de Deus entre os homens, aproveitem o ensejo de
lutar e sofrer, ajudar e edificar em nome do Senhor, principalmente na esfera da
sementeira cristã que a propaganda espírita possibilita a nós todos, como sublime
construção da Mente Nova do Mundo sob a inspiração da BoaNova, sentida e realizada,
nos círculos de ação em que evoluímos para a frente.
80 – Ramir o Gama
84
DECÁLOGO PARA ESTUDOS EVANGÉLICOS
Na noite de 21 de março de 1952, no “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, em Pedro
Leopoldo, discutiase sobre a melhor maneira de orientar a pregação espírita cristã, quando André
Luiz externouse acerca do assunto, com a seguinte página:
DECÁLOGO PARA ESTUDOS EVANGÉLICOS
1 — Peça a inspiração divina e escolha o tema evangélico destinado aos estudos
e comentários da noite.
2 — Não fuja ao espírito do texto lido.
3 — Fale com naturalidade.
4 — Não critique, a fim de que a sua palavra possa construir para o bem.
5 — Não pronuncie palavras reprováveis ou inoportunas, suscetíveis de criar
imagens mentais de tristeza, ironia, revolta ou desconfiança.
6 — Não faça leitura, em voz alta, além de cinco minutos, para não cansar os
ouvintes.
7 — Converse ajudando aos companheiros, usando caridade e Compreensão.
8 — Não faça comparações, a fim de que seu verbo não venha ferir alguém.
9 — Guarde tolerância e ponderação.
10 — Não tenha indefinidamente a palavra; outros companheiros precisam falar
na sementeira do Bem.
André Luiz
85
O LIVRO DIVINO
O professor Lauro Pastor acabava de fazer uma interessante conferência na Secretaria de
Saúde e Assistência, de Belo Horizonte, em 20 de abril de 1952, quando ali era comemorado o
livro Espírita, tecendo comentários muito oportunos sobre o LIVRO DIVINO, visto que acabou
rematando sua palestra realçando o Evangelho.
Sua palestra foi toda gravada e ele falou, inspiradamente, de improviso. No fim, achando
se presente o Chico Xavier, este, enquanto o Professor Lauro falava, recebeu a bela poesia de
Castro Alves, que transcrevemos aqui, como um presente aos leitores:
O LIVRO DIVINO
Gemia a Terra humilhada,
A noite do cativeiro
Dominava o mundo inteiro
Sob o carro da opressão;
Com mandíbulas vorazes
De loba que se subleva,
Roma, encharcada de treva,
Estendia a escravidão.
Entre as águias poderosas,
Jazia Atenas vencida,
Carpia Cartago a vida
Ligada a griihão cruel.
Na Capadócia, na Trácia,
Na Mauritânia e no Egito,
O povo chorava aflito,
Tragando cicuta e lei.
O frio invadira os templos,
Não mais Eros de olhar brando,
Nem bela Afrodite amando,
Nem Apolo encantador;
O Olimpo dormira em sombra,
Cessara a graça de Elêusis,
Não surgiam outros deuses,
Que não fossem do terror.
Mas quando o mal atingira
O apogeu da indiferença,
Disse Deus na altura imensa:
“Façase agora mais luz!”
E um livro desceu brilhando,
Para a História envilecida:
Era o Evangelho da Vida,
Sob as lições de Jesus.
Tremeram dourados sólios,
O orgulho caiu de rastros;
82 – Ramir o Gama
Arcanjos vinham dos astros
Em cânticos de louvor.
Mas ao invés da vingança,
Contra o ódio, contra a guerra,
O Livro pedia à Terra:
Bondade, Perdão e Amor...
Começou o novo Reino...
Horizontes infinitos
Descerraramse aos aflitos,
Perdidos nos escarcéus;
Os fracos e os desditosos,
Os tristes e os deserdados,
Contemplaram, deslumbrados,
Novos mundos, novos céus.
Desde então a Humanidade
Trabalha, cresce, por lia,
Ao clarão do novo dia,
Por escalar outros sóis;
E a Mensagem continua,
Em sublimes resplendores,
Formando Renovadores,
Artistas, Santos e Heróis.
Espíritas, companheiros
Da grande Luz Restaurada,
Tracemos a nossa estrada,
Na glória do amor cristão;
E servindo alegremente
Na luta, na dor, na prova,
Busquemos na BoaNova
O Livro da Redenção!
86
O PRESTÍGIO DO CHICO
O professor Lauro Pastor e sua digna esposa, D. Dayse, e o Professor Pastorino passaram
uns dias em Pedro Leopoldo. Numa tarde, dia de sessão, acompanhados do Chico, dirigiamse ao
“Luiz Gonzaga”.
Na rua principal, esquina do Centro, esbarraram com um rapaz embriagado, O Chico, ao
vêlo:
— Como vai, meu amigo? Fique com Deus!
— Vai também com Deus, Chico, que eu não sei com quem vou...
Terminada a sessão, o Professor Pastor, sua esposa e o Professor Pastorino, agora
desacompanhados do Chico, caminhavam para o Hotel, onde se achavam hospedados, quando
veem o moço, agora bem pior, xingando a todos os que lhe passavam perto. Receosos de serem
molestados, passaram de mansinho, para não serem percebidos. Mas foram por ele vistos e
83 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
reconhecidos. E, ante a surpresa dos que o rodeavam, do Professor Pastorino e do próprio casal, o
moço ébrio fez um grande gesto para abrir caminho e exclamou bem alto:
— Abram alas, companheiros. Deixem estes passar, isto é gente do Chico!
87
O DIA COMEÇA AO AMANHECER
O DIA COMEÇA AO AMANHECER
Compadecete da criança que surge ao teu lado.
O dia começa ao amanhecer.
Pai, mãe, irmão ou amigo, ajudaa com teu coração, se pretendes
alcançar a Terra melhor.
Lembrate das vozes amigas que te induziram ao bem, das mãos que te
guiaram para o trabalho e para o conhecimento.
Por que não amparar, ainda hoje, aqueles que serão, amanhã, os
orientadores do mundo? Em pleno santuário da natureza, quantas árvores
generosas são asfixiadas no berço? Quanta colheita prematuramente morta
pelos vermes da crueldade?
A vida é também um campo divino, onde a infância é a germinação da
Humanidade.
Já meditaste nas esperanças aniquiladas ao alvorecer? Já refletiste nas
flores estranguladas pelas pedras do sofrimento, ante o sublime esplendor da
aurora?
Provavelmente dirás — “como impedirei o sofrimento de milhares”?
Ninguém te pede, porém, que te convertas num salvador apressado, cheio de
ouro e de poder.
Basta que abras o teu coração, com as chaves da bondade, em favor
dos meninos de agora, para que os homens do futuro te bendigam.
Quando a escola estiver brilhando em todas as regiões e quando cada
lar de uma cidade puder acolher uma criança perdida — ninho abençoado a
descerrarse, carinhoso, para a ave estrangeira — teremos realmente
alcançado, com Jesus, o trabalho fundamental da construção do Reino de Deus.
Meimei
88
MENSAGEM DE BOM ÂNIMO
Em 5 de agosto de 1953, estávamos no “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, em Pedro
Leopoldo, junto do Chico. E sinceramente, no íntimo, desejávamos receber alguma palavra de
estímulo dos Amigos Espirituais.
84 – Ramir o Gama
E essa palavra veio no soneto intitulado “Mensagem de Bom Ânimo”, abaixo transcrito,
que nos foi endereçado:
MENSAGEM DE BOM ÂNIMO
Enquanto o mundo hostil ruge e se desatina
No mal com que a si mesmo alanceia e atraiçoa:
Guarda contigo a paz risonha, amiga e boa
E avança com Jesus na jornada divina.
Segue ostentando na alma a rútila coroa
Da humildade e do amor, na fé que te ilumina.
E, abrindo o coração qual fonte cristalina,
Aprende, aluda e crê. Serve, luta e perdoa...
Fita o Mestre na cruz e segueO monte acima
Recebe, jubiloso, a dor que te sublima
E abraça na bondade a senda meritória.
E, embora a tempestade em que a terra se agita.
Terás contigo mesmo a beleza infinita
Da Suprema Alegria em Suprema Vitória!
Amaral Ornelas
89
APELO AO TRABALHO MAIOR
Em 1 de dezembro de 1953, de volta a Pedro Leopoldo, recebemos, pela mão do Chico, a
seguinte mensagem do nosso caro companheiro Braga Neto, que oferecemos aos nossos leitores:
“Aí vai o nosso apelo ao Trabalho Incessante e Maior.
Hoje entendo que o Espiritismo é muito mais que uma Doutrina para o nosso
modo de crer, muito mais que um sistema de indagação da fé...
Representa, acima de tudo, uma luz para o coração e para a inteligência,
requisitandonos todas as possibilidades para expressarse em serviço aos nossos
semelhantes que, no fundo, é sempre socorro e assistência a nós mesmos.
Um corpo carnal é um templo vivo, onde nosso espírito consegue furtarse às
escuras reminiscências do passado culposo e, simultaneamente, em que nos cabe
aproveitar o presente na estruturação do futuro.
Por mais que se nos agigante o entendimento no mundo, no estado atual de
nossa evolução, não compreendemos a riqueza da reencarnação, em todo o sentido que
lhe diz respeito. A existência física é dádiva das mais preciosas, de vez que, por ela, é
possível renovar o caminho de nosso espírito para a imortalidade vitoriosa. A Terra é
uma escola onde conseguimos recapitular o pretérito mal vivido, repetindo lições
necessárias ao nosso reajuste. Por isso é imprescindível procurar, enquanto aí, o
aproveitamento individual da oportunidade, disputando, em nosso benefício, os louros do
85 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
aprendiz aplicado aos ensinamentos que recolhe... Muito nos pesa reconhecer valiosos
companheiros nossos mergulhados na corrente agitada de velhas discussões que, a rigor
não edificam, perdendose elevado patrimônio de tempo e de empréstimo ao Senhor.
O rótulo não define a substância. O título, entre os homens, nem sempre se
reveste do valor que lhe corresponde. Palavras precisam de base para o auxilio a que se
destinam. Do que posso agora observar, à distância do turbilhão, destacase o
reconhecimento das horas perdidas, de mil modos diferentes, no curso de nosso breve
aprendizado, na experiência física, que, em não nos pertencendo, já que o tempo é um
depósito do Senhor, nos agravam os compromissos. Tudo na face do planeta é pura
transformação. Os dias se sucedem uns aos outros, mas não são iguais. A infância de
hoje é juventude amanhã, tanto quanto a mocidade de agora é madureza depois. Mais
que parece, voa o século e, com ele, se apaga o ensejo de ressurreição espiritual, dentro
de nós mesmos, se não soubermos gastar sabiamente o crédito que Jesus nos empresta,
em precioso adiantamento, no santuário da confiança.
Aproveitemos, desse modo, a Mensagem do Evangelho por norma de luz, no imo
da própria consciência, a fim de que a libertação definitiva surja para nós na vida
eterna. Enquanto a perturbação palavrosa se alonga nas linhas da luta a que fomos
chamados, saibamos construir em nós mesmos o altar de serviço ao próximo para
receber a Divina Vontade, oferecendolhe a execução.
Continuemos em nosso antigo passado, buscando dessedentar a própria alma na
fonte da humildade e da oração. A subida com Jesus é sacrifício na marcha da renúncia
a nós próprios. Na Jerusalém convulsionada do mundo, autoridades e poderes,
sacerdotes e doutores, filósofos e cientistas, homens e mulheres ainda se aglomeram ao
pé da cruz, indiferentes à sorte do Divino Emissário, hoje personificado em seus
princípios, que sofrem menosprezo em quase todas as direções; mas o discípulo sincero
não ignora que o Mestre não somente escalou o Monte do testemunho, mas além do
Monte, escalou o madeiro de martírio e perdão, para ressurgir triunfante, enfim...
Não esmoreçamos.
Prossigamos com Jesus, hoje amanhã e sempre.
Braga Netto
90
A VERDADE Ë COMO O DIAMANTE
Uma irmã, companheira de viagem, conversava conosco no Hotel Diniz, em Pedro
Leopoldo, sobre um assunto familiar. De uma feita, foi obrigada a dizer a verdade nua e crua a
uma parenta, como uma advertência ao seu mau gênio e por haver incidido num erro grave.
Delicadamente, contrariamos seu ponto de vista afirmandolhe:
— Que ninguém ensina ferindo, como nos lembra André Luiz num de seus poemas de
AGENDA CRISTÃ.
A irmã considerouse vencida mas não convencida.
Fomos à casa do irmão André, onde o querido Chico nos esperava.
Depois dos abraços, já sentados e atentos à palavra do benquisto médium, sob nossa
surpresa, contanos, logo de início:
— Emmanuel, uma vez, me disse que a Verdade é como o diamante.
86 – Ramir o Gama
Olhamos para a irmã, convencidos de que os Espíritos ouviram a nossa conversa no
Hotel. E o médium prosseguiu:
— Oferecemos o diamante a uma moça e ela, com a pedra preciosa, transformaa numa
jóia de realce à sua beleza; oferecemos o mesmo diamante a um pobre irmão enfermo e, ele
satisfeito, trocao por dinheiro, com que compra alimento e remédio. Mas, numa hora de
descontrole moral, jogandoo à face de alguém, esse alguém todo se envergonha e envianos um
olhar cheio de vingança e de ódio... Então, a verdade deve ser dosada. Não deve ser dita nua e
crua, senão, ao invés de bem, fará mal...
A caríssima irmã, companheira de viagem, considerouse afinal convencida.
A vitória era de Jesus, nas lições de seu Evangelho.
91
A LIÇÃO DO PRÉDIO QUE SE INCLINARA
A imprensa belorizontina noticiara, com alarde, que um prédio de 10 andares, depois de
pronto e com o habitese, inclinarase visivelmente. Em redor, aglomeravamse muitas pessoas
curiosas, comentando o erro de cálculo do Engenheiro construtor.
O Chico por ali, passa, vira o prédio interditado e ouvia as diversas críticas. Emmanuel a
seu lado, lhe diz:
— Veja e medite. Por um erro de cálculo perdese um prédio de dez andares: também em
nossa existência, por um erro, consequente da falta de oração e vigilância, inclinamos, tombamos,
inutilizando muitos séculos de nosso edifício espírita!...
92
O HÁBITO DE FUMAR
Um irmão, que fumava 100 cigarros por dia, pediu um conselho ao Espírito de Emmanuel
sobre o hábito pernicioso a que se entregava, e o mentor espiritual atendeuo, exclamando:
— Melhoremos a nós mesmos, meu filho.
Disse o consulente:
— Eu desejava um conselho mais direto.
— Fume menos...
— Ora essa! O que desejo é uma resposta positiva...
Emmanuel, então, endereçoulhe as seguintes palavras:
— Meu amigo, entre fumar e não fumar, é melhor não fumar. Entretanto, se você
pretende fazer alguma coisa pior, continue fumando...
93
OURO E EXPERIÊNCIA
O Chico, em excursão com seu chefe de serviço, expondo aqui e ali apuradas amostras de
gado, passou por Sabará e, dali, pelas Minas de Morro Velho.
Visitouas por horas e deslumbrouse com o que viu.
87 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
O trabalho afanoso e sacrificial da extração do ouro, sua busca, em cascalhos, no seio da
terra, numa profundidade e distância incomensuráveis, causoulhe assombro inopinado.
Observou um irmão idoso, calejado naquele serviço, a que dera toda sua existência, e
perguntoulhe:
— Amigo, o ouro é extraído com facilidade?
— Nada disso, moço. Em 40 toneladas de pedra, encontramos, às vezes, tão somente 100
a 200 gramas de ouro.
E Emmanuel, que tudo ouvia, comentou:
— Assim, Chico, sucede na vida. Precisamos, quase sempre, de 40 toneladas de
aborrecimentos bem suportados para obtermos 100 a 200 gramas de conhecimentos e experiência.
94
QUE SERIA DA PEDRA SEM O MARTELO?...
Na sua profissão de serventuário público, o Chico, certa vez, foi visitar um companheiro,
que residia a alguns quilômetros além de Pedro Leopoldo.
O companheiro, intempestivamente, o recebe com duas pedras na mão. Xingao a valer e
quando o Chico tentava responder, delicadamente, Emmanuel intervém, dizendolhe:
— Não diga nada, exemplifique a própria fé, suportandolhe a injustiça e os desabafos.
Ele sofre do fígado, e há dias que vem sentindo cólicas hepáticas. Não revide a insultos e
exacerbações. Ele precisa exteriorizar os venenos que lhe estão na alma e no corpo e, você, de
limarse, apurarse e burilarse, silenciando...
E com um sorriso doce, o bondoso mentor rematou o assunto com esta pergunta:
— Ademais, que seria da pedra sem o martelo?...
95
A LIÇÃO DO BILHAR
Num domingo em que estava de plantão no estabelecimento do qual é empregado, Chico
levantarase cedo e foi a pé para seu escritório. Ao passar, às 7 horas da manhã, defronte de um
bar, admirouse por ver, tão cedo, um grupo de rapazes jogando bilhar. Na hora do almoço, os
mesmos rapazes jogavam bilhar. De tarde, às 17 horas, veio para jantar, e, de volta, reparou que o
mesmo grupo ali estava, no bar, carambolando. Por fim, às 22 horas, ao regressar à casa, acabada
sua tarefa, passou de novo pelo mesmo local e, surpreso, verificou que o mesmo conjunto de
jovens ali estava ainda no mesmo entretenimento.
Exclamou consigo mesmo: — Meu Deus, será possível o que vejo? Tenho tanto trabalho,
não me sobra tempo para perdêlo. No entanto, esses moços atravessaram o dia inteiro em
passatempo inútil...
De imediato, porém, ouviu a palavra de Emmanuel, a dizerlhe:
— O bilhar também é uma criação de Deus. Detém os espíritos para que não sigam o
caminho das trevas. Enquanto estes jovens se divertem, não mentalizam crimes, não aumentam as
próprias faltas e nem dão acesso aos pensamentos tenebrosos dos Espíritos cristalizados na
delinquência. Aprendamos, desse modo, a respeitar a Bondade de Deus.
96
88 – Ramir o Gama
UMA ADVERTÊNCIA E UM ENSINO
O Chico, em certa noite de sessão pública, no “Luiz Gonzaga”, achavase muito triste.
Um jornal atiraralhe ao nome acusações descabidas. A maledicência, crescera, abundante.
Casimiro Cunha, porém, aparecelhe, sorri com bondade e escreve, tomandolhe as mãos:
Homem com pressa no bem,
Cujo passo não recua,
Não consegue reparar
O cão que ladra na rua.
O médium lê e sorri.
Consolado, retorna ao serviço da noite e segue para frente. E a quadra ficou valendo por
um ensino, podendo ser encontrada no livro GOTAS DE LUZ.
97
RECEITA PARA MELHORAR
Em julho de 1948, o nosso confrade Jacques Aboad, de passagem por Pedro Leopoldo,
conversava, ao lado de outros confrades, em companhia do Chico, sobre os trabalhos de
aperfeiçoamento da alma.
A conversação deu lugar à prece em conjunto. E, manifestandose, pelo médium, José
Grosso, dedicado e alegre companheiro desencarnado, dedicou aos presentes os seguintes
apontamentos:
RECEITA PARA MELHORAR
Dez gramas de juízo na cabeça.
Serenidade na mente.
Equilíbrio nos raciocínios
Elevação nos sentimentos.
Pureza nos olhos.
Vigilância nos ouvidos.
Lubrificante na cerviz.
Interruptor na língua.
Amor no coração.
Serviço útil e incessante nos braços,
Simplicidade no estômago.
Boa direção nos pés.
Uso diário em temperatura de boavontade.
J osé Grosso
98
O HOMEM DOS VINTE CONTOS
Um amigo de Belo Horizonte disse, um dia, ao Chico:
— Tenho ido ao Centro “Luiz Gonzaga”, sempre que me é possível, e, nas preces, tenho
rogado a Loteria.
E vendo a estranheza do médium acentuou:
— Se eu ganhar, darei ao “Luiz Gonzaga” vinte contos.
Os dias correram e o homem ganhou a sorte grande. Duzentos mil cruzeiros.
Quando isso aconteceu, sumiu de Pedro Leopoldo...
Se via o Chico por Belo Horizonte, evitavalhe a presença.
— Imaginem! — costumava dizer na prosperidade crescente que o Céu lhe concedera —
em minha ingenuidade, prometi uma dádiva a um Centro Espírita, se melhorasse de sorte! Quanta
asneira falamos sem perceber!
Catorze anos rolaram e o homem da sorte grande morreu... Passados alguns dias,
apareceu, em Espírito, numa das sessões do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”.
— Chico! Chico! — disse ao médium, buscando abraçálo — preciso pagar a minha
dívida! Estou devendo vinte contos ao “Luiz Gonzaga” e vou trazer o dinheiro...
— Acalmese, meu amigo, agora é tarde — respondeu o médium, — o câmbio mudou
para você. Não se preocupe. A sua fortuna está em outras mãos.
— Por que? Nada disso... O dinheiro é meu...
— Já foi, meu irmão! Você está desencarnado.
A entidade gritou... gritou... e acabou perguntando em lágrimas:
— E, agora, que fazer?
Mas o Chico lhe respondeu:
— Esqueçase da Terra, meu amigo. Nós todos somos devedores de Jesus. Paguemos a
Jesus nossas contas e tudo estará bem.
Amparado pelos benfeitores espirituais da casa, o homem dos vinte contos, já
desencarnado, retirouse chorando.
99
AS CARTAS DO DR. GUILLON RIBEIRO (1)
Conversávamos com o Chico Xavier o assunto das cartas, focando os irmãos que se
utilizam das mãos para abençoar e escrever e, assim, consolam e medicam. Abençoadamente,
escrevem cartas que nos levantam de situações delicadas, cartas que afagam, que são como raios
de sol penetrando às sombras de nossos corações doentes.
Lembrávamoslhe de outras contendo reprimendas, asilando estados de cólera, carregando
venenos, bombas, derruindo lares, adoecendo almas e corpos, semeando o mal.
Humberto de Campos, o mago do conto e da crônica, em uma de suas inspiradas
“Reportagens de AlémTúmulo”, citanos o mal que uma dessas cartas fez.
Então, o nome querido do saudoso Dr. Guillon Ribeiro vem à tona. E Chico citanos o
bem que lhe fizeram as cartas do bondoso e culto Espírito, que, por muitos anos, a contento geral,
foi o Presidente da Casa de Ismael. Citamoslhe também os nossos casos, pois que os temos
muitos, e graças outras obtidas pelas cartas do esclarecido autor do belo livro NEM HOMEM NEM
90 – Ramir o Gama
100
FLORES DO CORAÇÃO
Em Pedro Leopoldo, numa sessão do LUIZ GONZAGA, em fevereiro de 1956,
assistimos ao seguinte: um auditório numeroso superlotava o Centro.
Perto do Chico, um grupo de mães sofredoras e pesarosas, chorando o decesso de seus
filhos amados. O querido médium ouviuas com atenção e considerou amorosamente: Minhas
irmãs, consolaivos com esta verdade: um dia vereis, na Pátria Espiritual, os vossos filhos, todos
os vossos entes familiares. É preciso, no entanto, que daqui partais triunfantes para vêlos também
triunfantes. E, para sairdes daqui triunfantes, fazse mister que luteis, que não deixeis de lutar.
Transformai, pois, esta tristeza do mundo, que vos adoece, pela Tristeza segundo Deus, que tudo
sabe. A luta é redentora. É ela que nos fará vencer a morte em busca da vida verdadeira. Estou há
28 anos no exercício da mediunidade. Ainda não passei um dia sem sofrer e chorar. Posso morrer,
tenho este direito e isto me consola, mas ficar triste e parar de lutar, nunca. Nosso Dever é lutar,
com fé, como uma gratidão a Jesus, que até hoje luta e sofre por nós.
Todos os olhos cheios de lágrimas das mães presentes deixavam de chorar e encheramse
de um novo brilho. Consolaramse. Em seus corações caíram luzes esclarecedoras, flores do
coração de um vero servidor de Nosso Senhor Jesus Cristo!
101
PERDOAR E ESQUECER
Alguém já disse que a falta de perdão e de esquecimento de injúrias tem sido a causa de
muito fracasso na prova de todos nós. Muitos irmãos perdoam, dizem, mas não esquecem as
ofensas recebidas. Não sabem ou não podem esquecer. Por mais que façam por onde, a ofensa, a
ingratidão, a injustiça, que ferem e magoam, não saem de suas mentes e de seus corações.
Conversamos assim, em Pedro Leopoldo, com alguns confrades, após havermos
participado da sessão do Luiz Gonzaga, que fora como sempre tão instrutiva. Nela, diante de uma
91 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
assistência quantiosa, caiu, por sorte, a lição evangélica: o per dão e o esquecimento das ofensas,
que foi comentado por parte dos irmãos que tomaram parte na mesa.
Em caminho para a casa do caro Irmão André, o Chico, que ouvira a nossa conversa,
contounos: há tempos, há uns 20 anos ou menos, recebi uma grande ofensa por parte de alguém a
quem muito beneficiara. Caleime, tendo pedido a Jesus para me ajudar a não guardar mágoa pelo
ofensor, a não lhe querer mal e a esquecer a ofensa recebida.
O ofensor mudouse de Pedro Leopoldo e não lhe soube mais notícias.
Esquecio de fato.
Passado muito tempo, observei que um irmão, daqui não me era estranho, e, logo assim
me via, escondiase, fugia de mim. Fiquei preocupado: teria eu lhe feito algum mal!... E esperei.
Numa tarde, numa esquina de rua, encontramonos e fui ao seu encontro e o abracei, dizendolhe:
que é isto, por que foge de mim, será que o molestei alguma vez? O irmão, mostrando nos olhos
grande surpresa e comoção, me respondeu:
— Eu é que estou arrependido da ofensa que lhe fiz...
— Ofensa, não me lembro, quando, em que lugar?
— Há uns 20 anos atrás, ali no bar.
Foi, então, que me lembrei da ofensa, que, dentro de mim, estava morta, porque Jesus me
ajudara a esquecêla... Abraçamonos. E, de novo, caminhamos como bons irmãos.
A lição do Caso nos comoveu, perguntounos o espírito e valeu pela mais linda das lições
e pelo melhor dos remédios à nossa doença de não querermos perdoar ou de não sabermos ou
querermos esquecer ofensas recebidas.
102
AS CARTAS DO DR. GUILLON RIBEIRO (2)
Nosso distinto confrade Thomas Menezes, estimado Espírita da cidade de Petrópolis,
onde dirige, com segurança, o Centro Bezerra de Menezes, compareceu à nossa residência
especialmente para louvar os lindos casos de Chico Xavier, que, ao seu dizer, lhe confortavam
muito, e para nos mostrar, dentre outras, uma carta do Dr. Guillon Ribeiro, que transcrevemos
abaixo, como testemunho do que afirmamos: que esse nosso saudoso irmão, através de suas cartas,
evangelizou muitos corações e resolveu de muitos irmãos casos dolorosos. Nosso caro irmão
Thomaz Menezes, em 1933, atravessava uma quadra difícil; como se compreenderá da resposta
que recebeu. Pôs em prática os conselhos recebidos e conseguiu solucionar sua situação.
E, hoje, decorridos 26 anos, pode afirmar que Jesus, por intermédio do Dr. Guillon
Ribeiro, o ajudou, e lhe deu o remédio de que precisava. Leiamos, pois, a carta, com atenção e
carinho, tanto mais que revela lições importantes e que se atualizam com os nossos dias:
Rio, 31/1/1933.
Prezado irmão Thomaz Menezes.
Paz em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Recebi sua estimada carta de 14 do corrente e vivamente me penalizaram as
rudes provas por que tem passado pessoalmente, bem como os demais membros da sua
família, provas de que nela me informa e que culminaram e ficar o seu irmão Eugênio
com as faculdades mentais perturbadas.
Não sei se o amigo conhece alguma coisa da Doutrina Espírita. Como quer que
seja, procure conhecêla bem, porque só ela explica racionalmente essas e todas as
92 – Ramir o Gama
outras vicissitudes de ser das dores e dos sofrimentos que lhe são peculiares, em face da
justiça, da misericórdia e do amor infinito de Deus, nosso Criador e Pai. Só ela nos dá a
conhecer o que é a existência corpórea, em seu verdadeiro significado, o que representa,
como fator do progresso de nossos Espíritos, objetivando a realização do destino único
para que ele nos criou a todos — a suprema felicidade, que alcançaremos quando
chegarmos à perfeição moral. Ainda mais: só por ela conhecerá todo o valor da prece e
aprenderá a valerse desta, para atrair o amparo, a assistência, e o auxílio dos bons
Espíritos que, como mensageiros do Senhor, são os distribuidores das esmolas do seu
coração boníssimo.
Digolhe isto, porque na prece, feita de coração, com fervor e humildade, é que
o amigo e os que o rodeiam encontrarão o conforto de que necessitam, o bálsamo para as
feridas que se lhes tem aberto na alma e as energias morais indispensáveis a enfrentarem
com paciência, resignação e humildade as provações que ainda lhes estejam reservadas,
certos de que, se Deus, que é bom, que é infinitamente bom, permite que as soframos, Ele
a cuja revelia não cai um só cabelo das nossas cabeças, é que elas são úteis e
necessárias aos nossos Espíritos, a fim de que estes sejam o que devem ser,
correspondendo aos seus desígnios, isto é, verdadeiros filhos seus, pela observância da
lei suprema, que enfeixa em si todas as leis emanadas da sua onisciência, a que nos
prescreve amáLO acima de todas as coisas, amando ao próximo como a nós mesmos,
perdoando a todos e sempre para sermos perdoados de nossos erros, culpas, faltas e
crimes, oriundos todos do orgulho e do egoísmo, que são os nossos maiores inimigos.
Fazendonos ter olhos de ver somente as coisas da vida material, em detrimento da vida
espiritual, que é a verdadeira vida, o orgulho e o egoísmo são a causa principal das
nossas decepções, aflições e amarguras. E a força nos faltará sempre para combatêlos,
para deixarmos de ser escravos, para deixarmos de ser, pelo ascendente deles, filhos do
pecado e nos tornamos filhos de Deus pela posse das virtudes que lhe são opostas, se não
recorrermos continuamente à prece, entendendoa no seu verdadeiro significado e
fazendoa, não de lábios apenas, mas com verdadeiro sentimento cristão. Ponha em
prática estes conselhos e verá como a alegria sã voltará ao seu Espírito e dos que lhe são
caros.
Quanto ao seu irmão Eugênio, o Espírito amigo a quem consultei sobre ele,
respondeu o seguinte: “Alma sem a força da fé, não resistiu à prova. Só um trabalho
espiritual, feito com a unção do sentimento da caridade, e com absoluta confiança em
Deus, poderá curála. Mas, para isso, é indispensável que ele esteja num meio afetuoso e
calmo, sem o que não haverá possibilidade de bom êxito. Lá onde se acha não
melhorará, ao contrário, piorará cada vez mais.
Para os membros da sua família, imploro a Deus coragem e resignação nas suas
provas”.
A isso, nada me resta acrescentar, depois do que acima deixei dito.
O que lhe posso afirmar é que a Jesus e à nossa Mãe Santíssima rogarei com
fervor o bálsamo do amor e da misericórdia de seus corações amantíssimos, para o
amigo e para todos os membros da sua família.
Paz, humildade e fé.
Fraternas e cordiais saudações do irmão e amigo Guillon Ribeiro
93 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
103
PROFESSORA ROSÁLIA LARANJEIRAS
A prezada irmã Naná, proprietária do Hotel Diniz — posto seguro de descanso e
fraternidade para os espiritistas que chegam a Pedro Leopoldo, visto que, nele, ela mantém, com
sua boa conversa e seu espírito evangelizado um clima de paz e boa vizinhança —, contounos o
seguinte: D. Rosália Laranjeiras morreu no ano passado em Belo Horizonte. Era uma boa criatura,
muito abnegada, sincera e serviçal. Foi a primeira e única Professora do Chico no Grupo Escolar
desta localidade. Foi quem descobriu a mediunidade notável de nosso bondoso Francisco Cândido
Xavier. Fazia convescotes, passeios campestres com os alunos, uma vez por semana,
possibilitandolhes sentirem a natureza, traduziremlhe a Mensagem de amor, viverem um dia de
primavera.
No dia seguinte, no entanto, teriam de darlhe por escrito, a impressão do passeio. O
Chico, nas descrições, tirava sempre o primeiro lugar. Era dele a composição melhor. E isto foi
chamando a atenção de todos e dela mesmo.
Não era possível. O Chico deveria ter de cór o que escrevia porque excedia e muito o que
aprendera. E assim pensando, preparoulhe uma armadilha.
Realizou um passeio mais cedo e na volta encaminhou todos os alunos para o Grupo.
Desejava ali, naquele mesmo dia, a impressão. Distribuiulhes o papel e esperou. No julgamento, o
Chico tirou, de novo, o primeiro lugar: escrevendo uma verdadeira página literária sobre o
amanhecer e daí tirando conclusões evangélicas. D. Rosália mandou os alunos para casa e foi
mostrar aos seus amigos íntimos a composição do Chico e todos foram acordes em reconhecer que
aquilo ou fora copiado ou, então, era dos espíritos. Cheirava mediunidade... E, desta forma, o
querido Médium ficou sob observação e sendo o assunto do dia como até hoje ele o é...
Depois, alguém apareceu na sua Estrada. As primeiras sessões foram feitas, PARNASO DE
ALÉMTÚMULO foi iniciado. A Fonte começou a jorrar e tornouse com o tempo, por graças de
Deus, uma corrente de água pura, maravilhandonos e dessedentandonos. Que o Divino Mestre dê
hoje e sempre bastante Luz, Força, Paz e Proteção ao seu vero servidor que lhe exemplifica o
Apostolado e nos mostra, como modelo, como devemos servilo.
104
HUMILDADE OU SEM VERGONHA?
O Chico, num momento de distração, em que se sentia fisicamente desgastado, pois já
havia atendido cerca de 80 casos, cada qual mais doloroso, como sucede diariamente, foi
procurado por um irmão que o caceteou por mais de duas horas. O boníssimo Médium sentiase
experimentado em demasia. Tratavase de um desses casos para o qual o saudoso Dr. Bezerra
receitara prisão em vez de oração, por se tratar de espíritos abusadores. E, num momento de
descuido, deixou o importuno irmão falando sozinho, dizendolhe: não me amole e até logo... Isto
foi o bastante para criar um desafeto que passou, daí em diante, a não corresponder ao seu
cumprimento.
O Chico sentiu o caso. Nunca fizera desafetos. Possuía, como possui, a sua estrada livre,
sem inimigos. E procurou resolvêlo cristãmente. E, numa tarde, pondo a vergonha de lado e
vestindose de bastante humildade, procurou o inimigo. E esse, atendendo ao Chico e à sua
justificativa, saiuse com esta: Chico, você me procura por ser humilde ou sem vergonha?
94 – Ramir o Gama
— Por ser sem vergonha...
— Ah! Então aceito o seu gesto de amizade, porque vejo que você é mesmo sincero... E
tornaramse, de novo, bons amigos.
105
O MELHOR DOS PRESENTES
Nosso caro irmão Agostinho João de Deus residiu em Sabará, no Estado de Minas, entre
os anos de 1940 a 1946, em cuja estação da Central exerceu a função de Auxiliar de Agente. Neste
período, prestou ótima colaboração à nossa Campanha de Alfabetização. Hoje, reside no Rio e,
como é sincero admirador de Francisco Cândido Xavier, a quem visitava semanalmente e de quem
recebeu muitos benefícios, contounos os dois Casos abaixo:
Durante 6 anos seguidos, uma vez por semana, visitou o Chico Xavier e, muito
especialmente, em 2 de abril de cada ano, data do seu aniversário natalício.
Em 2 de abril de 1945, compareceu a Pedro Leopoldo, levando apenas, como presente
para o Chico, um pequeno ramalhete de rosas vermelhas, visto que seu pequeno ordenado de
ferroviário não lhe permitia comprar algo melhor. Humildemente, deixouo com a bondosa
Geralda, irmã do estimado médium e, ela sem que o Chico soubesse, colocouo numa jarra da
mesa do Centro Espírita Luiz Gonzaga, momentos antes da sessão.
O Chico, às voltas com os abraços dos muitos amigos, que o felicitavam pela grande data,
somente conseguiu ver e abraçar o Agostinho no término da reunião.
E, como a provarlhe de que não se esquece de ninguém, não faz pouco caso de nenhum
irmão, acercouse dele e foi dizendolhe, sob sua surpresa e emoção: Agostinho, Emmanuel pede
me que lhe agradeça as lindas rosas. Trazem algo de você e enfeitaram a nossa reunião. E acredite:
foi o melhor dos presentes que recebi.
106
VENDO MAIS ALÉM...
Em fins de 1945, o irmão Agostinho João de Deus adquirira a maleita. E foi a Pedro
Leopoldo pedir ao Chico uma receita. O Chico o atendeu prontamente. Na receita vinha o
medicamento atebrina . E, ao entregarlhe a receita, considerou:
— Agostinho, este remédio é alemão e, em virtude da guerra mundial, está muito escasso
nas farmácias. Pensou um pouco e, como quem procurava ver mais além. Mas você vai encontrá
lo numa das farmácias de Sabará, que ainda possui meia dúzia dele.
Agostinho agradeceu ao Chico e partiu... Em Belo Horizonte procurouo em várias
drogarias e farmácias e não o encontrou. Em chegando a Sabará, foi incontinenti procurálo. E, de
fato, numa das três farmácias existentes, encontrou meia dúzia de vidros de Atebrina ...
Tomouo e, graças a Deus, com um só vidro, ficou curado.
107
CISCO
Falávamos ao Chico dos nomes e suas traduções, particularizando alguns de nosso
conhecimento. Lembramos de um caro irmão, hoje na Espiritualidade, e com quem trabalhamos na
95 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Central do Brasil. Chamavase Julemo e seu nome veio de Juvenal, seu pai, Leonor, sua
progenitora, e Morais, o sobrenome de ambos.
O Chico sorriu e saiuse com esta, revelandonos a alma cândida e humilde:
— Então, meu nome não serve para nada, porque termina em cisco...
108
A TERRA VAI TREMER...
Nossos irmãos protestantes, numa segundafeira de agosto de 1951, distribuíram em
Pedro Leopoldo uns panfletos em que pediam à população para comparecer ao seu templo, a fim
de orar e se preparar para os momentos difíceis anunciados. Finalizavam prenunciando que a terra
ia tremer como um aviso premonitório à recomendação das Escrituras.
À noite, na sessão do Luiz Gonzaga, o Chico, quando psicografava, viu dois Espíritos
comentando:
— Você leu o que dizem os protestantes?
— Não, que foi?
— Anunciaram que a terra vai tremer...
— Pois treme tarde, respondeulhe o outro, sob o riso velado de outros Espíritos
presentes.
Felizmente, durante a sessão, por vários oradores, foi prelecionado, a contento, o tema do
Evangelho sobre os tempos chegados, para que todos ficássemos a tremer de medo, não porque a
terra vai tremer, mas pelos nossos quantiosos e seculares vícios e pelas responsabilidades que
temos conosco, com Jesus e Deus!
109
CASOS DOS CASOS DE CHICO...
O prezado confrade Manoel Franco, Presidente do Centro Espírita Filhos De Deus, da
Colônia de Curicica, desta Capital, Contounos:
Li e reli, com prazer e emoção, os LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER. Viajando, há dias,
num trem da Central, no ramal da Linha Auxiliar, observei que uma senhora, a meu lado,
lastimavase, junto a uma companheira, porque residia perto de uma vizinha, que, na sua ausência,
lhe roubava as galinhas.
Lembrandome do caso da historia da chave dos lindos casos, conteio à irmã para que o
experimentasse. Aceitou meu conselho. E, dias depois, veio dizerme, encantada, que a História da
Chave, que ela procura adaptar ao seu caso, dera um ótimo resultado. Todas às vezes que sai, dá a
chave da casa à vizinha. E, até hoje, as galinhas deixaram de desaparecer e nunca sua residência
ficou tão bem guardada.
110
O REMÉDIO...
96 – Ramir o Gama
Em julho de 1957, fomos a Natal, no Rio Grande do Norte, a fim de assistir ao casamento
de um filho. Chegamos às 14 horas, numa sextafeira, e, às 19, depois do jantar, fomos visitar a
Federação Espírita, que tinha como Presidente o distinto confrade, Professor Abdias Antônio de
Oliveira, já desencarnado.
Foi uma festa de corações afins, que se estimam e sentem as mesmas responsabilidades
junto ao Cristo. Tomamos, parte na sessão doutrinária, que começou às 19:30. Instado pelo
Presidente e sentindo a elevação do ambiente, falamos aos caros irmãos nordestinos. Quando
terminamos, a prezada irmã, D. Dagmar Melo, VicePresidente da Federação, visivelmente
emocionada, contounos:
— Há dias, antes de sua chegada, recebi do Sr. Abdias um exemplar do magnífico livro
LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER. Leveio para casa e, a noite, li, comovendome e
esclarecendome com alguns Casos. E, imediatamente, escrevi uma carta ao querido Chico Xavier,
fazendolhe uma consulta sobre um problema do lar. Terminada a carta, dobreia e a coloquei
numa página do livro. Dormi e sonhei com o abnegado Médium, que me dizia bondosamente:
— Irmã Dagmar, não precisa me mandar a carta, pois a resposta que me pede está na
página em que a colocou. Nessa página encontrará a solução para seu problema.
Acordei, abri o livro e li, entre lágrimas, o Lindo Caso: — O Remédio.
Quando acabei, sentime esclarecida. Chamei meu marido, colocandoo a par do
sucedido. No dia seguinte, pusemos em prática o conselho recebido, servimos, tomamos o remédio
oferecido pelas mãos abençoadas do Chico, e, graças a Deus, resolvemos nosso problema e nos
sentimos curados de velhas e graves enfermidades...
111
INTUIÇÃO ATRAVÉS DO SONHO
Nossa irmã Olinda Marques servia de enfermeira a uma senhora idosa, paralítica e um
pouco desmemoriada. Sabendo que íamos visitar o Chico, pediunos obtivéssemos dele uma
orientação. A resposta foi:
— Diga à nossa irmã Olinda que lhe darei uma intuição em sonho...
Em chegando aqui, nossa companheira Zezé Gama encontrouse, casualmente, com D.
Elvira Freitas. Presidente do Centro Espírita Amaral Ornelas, que ia fazer uma visita à sua
consóror Olinda, e deulhe a resposta do Chico.
D. Elvira chega à casa de Olinda e não consegue falarlhe, porque esta, logo que a vê, lhe
diz enlevada:
— Imagine, D. Elvira, que sonhei com o Chico na noite de ontem. Ele me mostrava dois
cérebros, um sadio e outro doente e dizia: o cérebro são deve tratar do cérebro doente, com
paciência e amor.
E recebendo depois, o recado do Chico, ficou emocionada e seu caso esclarecido. E isto
dentro de um ambiente de ternura e ajuda espiritual para que se patenteasse, ali, mais um Serviço
do Senhor com vistas ao engrandecimento iluminativo dos corações chamados à Tarefa do Amor e
da Luz!
97 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
112
VÁ COM DEUS! FIQUE COM DEUS!
Temos notado que, ultimamente, em nossos meios espíritas, principalmente, por parte de
confrades que têm visitado o Chico ou lido os seus Lindos Casos, efetivase esta saudação entre os
que ficam e os que partem:
Vá com deus! Fique com Deus!
Deo gratia!
113
ANTENA DE LUZ
O estimadíssimo polígrafo de Pedro Leopoldo é, em verdade, uma Antena de Luz
captando de mais Alto, esclarecimentos, benefícios, consolação para seus irmãos da Terra.
Não podemos contar tudo quanto ouvimos do Chico ou lhe descobrimos em redor,
revelando graças de Deus. Infinidades de Casos particularizam problemas íntimos e se referem a
irmãos infensos à publicidade...
Ah! Se pudéssemos colocar aqui, como foram ouvidos e sentidos, todos os Lindos Casos,
cada qual mais emocionante!
* * *
Ah! Pudesse o Chico revelar tudo o que vê, o que observa, no ar, junto às pessoas, dentro
dos lares, em plena sessão do Luiz Gonzaga, e quantas lições viriam à luz para alegria de poucos e
contrariedade de muitos!
E, desta forma, somente de leve, registramos aqueles que não firam a modéstia do
médium e nem lhe tragam sofrimentos.
* * *
Pelo menos, citaremos os títulos de alguns, que guardam preciosas lições Evangélicas: —
Comerciando com Deus; Boaventurices; O homem do Sedan; Uma flor e uma Prece; Vida
Noturna; A coisa mais difícil; A escolha das rezes; Guia atrasado, Colaboradores dedicados; Meu
Deus é outro; Se esperasse; A máquina de escrever; Seu desejo maior; A lição do bife; Mau
alimento e mágoa; Parafuso pedindo férias; Conheçamos a nós mesmos; Datilógrafo da
Espiritualidade; Trabalhite aguda; A grande socada; Se fosse preso; A arte não é para mim; Chico
Xavier é preso, por engano; Depois ficou pior; Água e Conselho; Seremos uma Estrela de Cinco
Raios; Remédio contra a Vaidade; Cachorro espírito; Uma flor murcha que revive; O
contaminador; Bela Lição evangélica e muitos e muitos outros, que somente virão à publicidade se
o abnegado Servidor de Cristo, que é Chico Xavier, nos autorizar.
114
O PREVISTO ACONTECEU...
Alguém procurao em prantos, porque fora vítima de uma maledicência, da vingança de
um adversário e citalhe o nome... E o caríssimo médium, estuário de infinidades de problemas, de
queixas, de anseios os mais extravagantes, sofre e chora para, daí a instante, prelecionar:
98 – Ramir o Gama
— Perdoe, minha irmã, seu ofensor. Procure ter dó, comiseração de seu adversário,
porque daqui a uns quinze dias, ele vai sofrer mais do que você. Vai passar por uma prova tão
dolorosa, visto que apenas tem semeado espinhos em sua estrada, que você vai comiserarse dele e
esquecer o mal que lhe fez. Não procure, pois, vingar, revidar o insulto recebido. Deixe que cada
um seja vingado por si mesmo, até compreender, com Jesus, o benefício do Perdão e o
esquecimento das ofensas.
O previsto aconteceu. O ofensor, 15 dias depois, colheu o que semeara.
Sofreu tanto que o povo do lugar em que residia soube e, dele, se comiserou, inclusive
nossa irmã a quem tanto fizera mal. E mais uma Lição do Perdão vitoriou os princípios salvadores
do Evangelho!
115
ESTAVA DOENTE E NÃO SABIA...
Nossa querida irmã Naná, proprietária do Hotel Diniz, possui uma série de Lindos Casos
do Chico. Apenas estes nos autorizou a publicar:
Em 1943, em dias do mês de julho, achavase gravemente enferma e não sabia. A lida do
hotel era muita e não havia tempo para pensar em seu corpo. E encontrouse com Chico, na porta
do Correio, que lhe diz:
— Naná, o Espírito de sua mãe esteve comigo há pouco e pede para você urgentemente,
procurar o Dr. José de Carvalho, pois você está muito doente e não sabe e pode, de um momento
para outro, desencarnar e partir fora do tempo...
Dona Naná procurou o médico, que era de confiança de sua família, que lhe diagnosticou:
apendicite em supuração. Foi imediatamente hospitalizada e operada horas depois, no momento
exato. Se passasse um dia, talvez seu Espírito tivesse desencarnado.
116
O HOTEL DINIZ NÃO DEVE MORRER...
No ano de 1956, visto que seu Hotel estava condenado pela Prefeitura local, que
planejava cortarlhe a frente para prolongar a rua Herbster, paralela à estação, resolve não tirar a
licença para o ano de 1957. Isto em novembro, no mês dedicado a este mister.
Achavase neste propósito, quando na varanda de sua casa, chega o Fiscal Municipal com
a petição para ela assinar, pedindo a licença. Algo estranho sucedeu com ela. Esqueceu de tudo e,
com as mãos trêmulas, assinou a petição com uma letra bem diferente.
Daí a instante, o Chico apareceulhe e dizlhe:
— Naná, sua mãe me apareceu e pede para você não abandonar esta casa. O Hotel Diniz
não deve morrer. E a rua não vai passar por aqui. Você pode fazer as reparações desejadas. O
dinheiro vai aparecer, abençoadamente. E foi sua mãe quem fez você assinar o pedido da licença...
E tudo sucedeu com o Chico prenunciara. E até o dinheiro, que não sabia donde tirar para
reparar sua casa, como que veio do céu, abençoadamente.
Vários quinquênios atrasados da Prefeitura, de que é Professora, vieram sem que os
esperasse e, com eles, vai resolvendo seu caso. Graças a Deus!
99 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
117
VISITA MEDICAMENTOSA...
Numa quintafeira do mês de agosto de 1946, D. Naná acordou assustada ouvindo a voz
do Espírito de sua progenitora, que lhe dizia:
— Levantate e vai visitar tua irmã Santinha, em Barbacena, que está muito mal.
Levantouse e saiu para a rua. Encontrouse com o Chico, que lhe diz:
— Naná, sua mãe lhe manda dizer para você embarcar, imediatamente, para Barbacena, a
fim de cuidar de sua irmã. Seus familiares e o médico da casa creem que ela está na hora da morte.
Mas ainda não vai desta vez. E sua chegada vai ser um remédio para a doente que, com isto, vai
melhorar para daqui a alguns dias, levantarse salva.
Horas depois, D. Naná recebe um telegrama de Barbacena, dizendo: sua irmã Santinha
gravemente enferma. Venha com urgência.
D. Naná embarcou, horas depois, para Barbacena. Lá sucedeu o que Chico lhe dissera.
Com sua chegada, a doente melhorou. E, dias depois, estava salva.
Gratos à sua hospitalidade cristã, escrevemoslhe no Álbum, em 8/11/1957, quando a
visitamos com o distinto casal: José Carlos e Marcele Moreira Guimarães e a Professora Carlinda
Guimarães:
SONETO
À Cara Irmã Naná
Nesta casa cristã, que há anos visitamos,
Naná aos seus irmãos banquetes oferece,
Com os quais a alma e corpo repletamos
De força e de alegria, de alimento e prece.
Numa conversação confortante ficamos;
Quando viemos aqui, isto sempre acontece;
E o nosso coração doente medicamos
E a nossa alma sem luz na Luz se reabastece.
É uma Ponte para o Chico a Casa da Naná;
É Posto assistencial ás nossas santas dores;
É um lugar de repouso e uma Fonte de Luz;
Que Jesus abençoe a Casa que nos dá;
Alívio espiritual, remédios salvadores;
O Roteiro do Chico em busca de Jesus!
118
GRAÇAS SOBRE GRAÇAS!
Conhecemos, sobremodo, a Missão trabalhosa e beneficial do Chico. Sabendo como vive,
porque vive e sempre em permanente jejum e oração, alimentandose apenas uma vez por dia e,
100 – Ramir o Gama
mesmo assim, com uma refeição sóbria, de verduras e pouca carne, feita com pouco sal, evitamos,
quando o visitamos, procurálo fora das sessões do Luiz Gonzaga.
Tem, em cada dia, as horas tomadas. O tempo lhe é um patrimônio sagrado e sabe validar
até a bênção dos minutos. Levantase cedo e vai para o Escritório da Fazenda Modelo, onde
trabalha até às 17 horas, vindo à casa apenas para o almoço. À tarde, se não há nenhuma sessão no
Luiz Gonzaga ou no Centro Meimei, aproveitaa, para atender à recepção de algum livro, para
responder cartas, visita, algum doente. Seu tempo é, pois, todo repletado de bons exemplos.
Não fazemos parte dos que o procuram para satisfazer curiosidade ou darlhe sofrimento
com palestras contrárias às normas cristãs, ou ainda, para lhe pedir a solução de assuntos pessoais,
que devem ser solucionados pelos seus respectivos donos.
Nossas visitas trazem sempre o imperativo da necessidade de um esclarecimento
doutrinário e o benefício de nosso próximo ou a possibilidade de consolo para irmãos
necessitantes, vivendo os dramas dolorosos do desencarne de entes amados.
119
IRMÃOS CARLITINHOS E ZEZÉ
E, por isso, temos sido bem sucedidos, graças a Deus!
Em maio de 1956, levamos conosco o General Carlos Gomes e sua prezada esposa. Havia
uma necessidade. O trabalho era cristão. Nossos caros irmãos sofreram o golpe do desencarne de
seu filho único, Carlitinhos, de 24 anos, que se deu em plena robustez física, quando cursava o
sexto ano de medicina. Tinham os nossos amigos de infância de suportar aquela prova crucial em
sua vida e somente o conseguiram indo conosco a Pedro Leopoldo, onde receberam a elucidação
do homicídio espiritual, de que seu filho fora vítima, — aquilo que não compreendemos, pobres
que somos das luzes celestiais e que vive, justificado, nas Leis de Deus.
Fomos todos obsequiados com a graça do Pai! Pela mediunidade de Chico Xavier, nossos
amigos receberam uma mensagem esclarecedora e cheia de ensinos evangélicos de seu saudoso
filho, que se mostrava mais vivo nos seus conceitos, nos seus anseios, na sua identificação
preciosa, comovedora. O Chico viu perto do General dois de seus queridos colegas de Exército,
hoje na Espiritualidade. Ilha Moreira e Marçal Nonato de Faria. Depois, no momento em que
dedicava vários exemplares do Evangelho aos familiares do General, o querido Médium para, um
instante, para lhe dizer:
— General, a seu lado, entre outros amigos, está o Espírito de seu irmão Zezé, que vem
assistir ao ato fraterno da oferenda desse livro à sua esposa: Marina e aos seus filhos: José Carlos e
Maria Cândida.
O General Carlos Gomes, sua esposa e todos nós ficamos sensibilizados, porque o Chico
não sabia que, no Além, havia um irmão do nosso Amigo e que se chamava José e era, na
intimidade, tratado por Zezé...
Outras graças vieram e pudemos descer de Pedro Leopoldo para o Rio trazendo os
corações agraciados e os nossos companheiros de viagem consoladíssimos, traindo nas fisionomias
e, por certo, nos corações, uma nova compreensão, quanto aos justos desígnios de Deus.
101 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
120
MARIA LUIZA, TIO TONIO, MARTINHO ROCHA E ANTONIETA
De outra vez, comparecemos em Pedro Leopoldo com Moreira Guimarães, sua cara
esposa D. Marcele e a Professora Carlinda Guimarães. Vivemos também momentos de rara
emoção.
Todos recebemos graças inesperadas. A irmã Marcele, que veio da França, em plena
guerra mundial, em 1945, acompanhada de uma senhora cega e íntima de sua família, recebeu algo
que a fez chorar, quando o Chico lhe dizia:
— Irmã Marcele, a seu lado está o Espírito de uma senhora, que se chama Maria Luiza,
que era cega, quando na Terra, e que, segundo me diz, a trouxe da França para o Brasil... Moreira
recebe notícias de um irmão, de confrades da velha guarda, no Além, como de Inácio Bittencourt e
outros. A Professora Carlinda também ganha algo para seu nobre coração de mãe abnegada,
criando filhos alheios. E, por fim, quando menos esperávamos, o Chico diz: irmã Zezé, a seu lado
está um senhor, que quer se identificar por Tio Tônio. Tratavase do Dr. Antonio Costa, tio de
nossa esposa, estimado e culto advogado, homem de bem, desencarnado recentemente.
E, para nós:
— Ramiro, há um Espírito aqui, que desencarnou em Três Rios, meses atrás, e mandalhe
um abraço.
Chamase Martinho Martins da Rocha. Referiase a um confrade Espírita com que
trabalhamos no Fé E Esperança, na querida localidade fluminense e que desencarnara sem que o
soubéssemos.
E, finalizando, dirigese ainda à irmã Zezé:
— Aqui está o Espírito de D. Antonieta. A irmã Zezé lembrase de uma pessoa da família
mas o Chico retruca:
— Não é esta, mas sim D. Antonieta, aquela que foi sua vizinha e que morava defronte à
sua casa. A irmã Zezé chora de emoção. Pois nem de leve se lembrava dessa vizinha, que
desencarnara meses atrás, se bem houvesse recebido de sua família, ao embarcar, um pedido de
prece para esse Espírito.
E, assim, graças sobre graças recebemos e longe iríamos se fôssemos registrar aqui o que
temos ganho e, conosco, nossos companheiros de viagem, junto à mediunidade abençoada de
Chico Xavier.
Que Jesus sempre e cada vez mais o ilumine, pois, em verdade, é uma Antena de Luz por
onde o Divino Mestre vem consolando, esclarecendo e medicando seus irmãos sofredores da
Terra.
121
COM A VIDA POR UM FIO
Falávamos ao Chico, de criaturas enfermas que anseiam por vêlo e abraçálo e de outras
que, para o mesmo fim, têm logrado vêlo e realizam sacrifícios indescritíveis jogando com a
própria vida e quase desencarnam em plena sessão do Luiz Gonzaga...
E o psicógrafo de PARNASO DE ALÉMTÚMULO contanos:
— Há tempos, numa sessão do Luiz Gonzaga, quando estávamos psicografando e na fase
final, observei que um irmão na assistência trazia o coração por um fio. Tratavase de alguém,
102 – Ramir o Gama
residente em Belo Horizonte, que viera verme, se bem que se achasse gravemente enfermo.
Apelei para o bondoso Emmanuel para que não deixasse o querido companheiro desencarnar ali,
em plena sessão, o que iria trazer certa emoção para os presentes e, talvez, motivos para os
adversários do Espiritismo culparemno como o causador de tudo... Observei que os caros
Mentores, à frente meu Guia, começaram a medicar o irmão enfermado. Terminada a reunião, foi
o mesmo amparado pelos companheiros da Terra e do Espaço para a gare da Estação local.
Quando lhe transpunha a roleta, caiu fulminado por uma síncope cardíaca e desencarnou.
Os irmãos do Alto deramlhe assistência e evitaramnos possíveis e graves complicações.
122
IRMÃ NOÊMIA NÓVOA
Lembrounos mais: de que uma nossa conhecida e prezada consóror, D. Noêmia Nóvoa,
esposa do nosso confrade Amadeu Nóvoa, parente do confrade Flávio Pereira, residentes no rio,
comparecera em Pedro Leopoldo, gravemente enferma, com o coração também por um fio.
Hospedarase na residência de nosso caro Ataliba Alves Sobrinho. Assistiu às sessões do Luiz
Gonzaga, durante umas 4 vezes. E o Chico sempre a lhe observar o coração suspenso apenas por
um fio, pára não pára. E a orar, com fervor, junto aos Mentores, para que a cara irmã não
desencarnasse na sala de sessões do Centro.
Felizmente, regressou ao Rio, satisfeita por haver conhecido e abraçado o Chico, e, um
dia depois, desencarnou, feliz.
Como não deve sofrer o nosso abnegado médium! Vê e sente coisas que nem sempre
pode contar. Tem de calarse, orar e esperar que da misericórdia infinita de Deus venha o socorro,
algo que faça com que todos que ali cheguem saiam aliviados, contentes, esclarecidos, com a Paz
de Nosso Senhor Jesus Cristo no coração.
E, graças a Deus, sempre o tem conseguido!
123
DESEJ O CORRECIONAL
Um irmão, residente em Pedro Leopoldo, encontravase com o Chico, à beira do caminho
da Fazenda Modelo, vez por outra.
Era um obstinado. Como que procurava o Médium para lhe experimentar a paciência.
Não acreditava na reencarnação. E apresentava seus argumentos ilógicos. E atrás deste, outros
assuntos vinham à tona, obstinandose o nosso irmão nos seus pontos de vista incoerentes...
O Chico, humildemente, lhe explicava o erro em que insistia e, principalmente, o de não
querer esquecer mágoas e perdoar seus adversários, que ele mesmo os arranjava com sua teimosia
irreverente...
Os conselhos, a paciência entremostrada, nada convencia o inveterado birrento, que tinha
lá seu modo diferente de ver as coisas e assim ficava e com isto experimentava os nervos de seus
irmãos de trabalho.
Um dia, já cansado de ser tentado e, entrevendo no encontro provocado, um abuso, disse
lhe o Chico, séria e amorosamente:
103 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Sabe de uma coisa, vim pelo caminho pensando em você e desejandolhe um bom
remédio, isto é: uma reencarnação na qual tenha uma progenitora bem brava para lhe dar, de
quando em quando, umas boas chineladas, a fim de deixar de ser tão teimoso com as coisas santas.
O desejo correcional fez sorrir o irmão obstinado, que acabou sentindolhe a sinceridade e
deixando de ser teimoso e estorvo no caminho do querido médium.
Este caso contounos o Irmão Manoel Diniz.
124
É OUTRO KARDEC
De quando em quando, em alguns Centros Espíritas onde vamos falar das Lições de
Jesus, observamos médiuns, bem orientados, recebendo Mensagens assinadas por Allan Kardec.
Ficamos em dúvida lembrando que, em OBRAS PÓSTUMAS, do Codificador, há uma
amorosa advertência de um de seus Guias lembrandolhe o aproveitamento do tempo na conclusão
de suas obras e de que, como fora previsto, seu desencarne estava próximo e que iria ficar no
Espaço cerca de 40 anos para, depois, voltar à Terra e completar sua Missão junto ao Espiritismo.
Verificando o ano de seu descesso, 1869, deveria estar entre nós, mais ou menos, entre os
anos de 1909 e 1910... E, segundo ouvimos de uma vez, de M. Quintão, quando entre nós, Allan
Kardec dera na Federação Espírita Brasileira sua última comunicação em 1902. Daí, por diante,
silenciara.
Como explicar as Mensagens assinadas com seu nome? Talvez, justificamos, sejam de
seu representante, alguém credenciado, preposto ao seu valioso Trabalho. Porque ele, Kardec, ou
deveria estar entre nós ou em esferas mais elevadas, em serviços de grande relevância espiritual,
incapaz, pois, de se revelar a não ser através de terceiros. Se não, porque não tem dado sua
presença pelo nosso querido médium de Pedro Leopoldo?
De uma feita, sozinhos com o Chico, pedimoslhe uma explicação. E o médium humilde,
primeiramente, mostrouse surpreso, meio contrariado com o grave assunto.
Depois, sorriu e respondeunos:
— É, deve ser outro Kardec, pois não tem aparecido por aí, tantos Andrés Luizes e
Emmanuéis?...
Ficamos satisfeitos com a explicação recebida, que, desta maneira, não deixa os
recebedores das mensagens em situação delicada.
* * *
Vale dizer que esta é uma explicação pessoal do médium, porque, em novembro de 1957,
um grupo de irmãos de França, em nossa presença, entrevistandoo, sem antes lhe haver submetido
as perguntas à sua aprovação, a respeito do assunto em causa, pediulhe que ouvisse seu Guia e,
ele, assim se houve:
— Nossos mentores espirituais até hoje não têm tocado no assunto.
Talvez, algum dia, o façam...
104 – Ramir o Gama
125
PARA ANDAR COM CUIDADO E SEM VAIDADE...
O Manoel Pereira, amigo de há muito anos do Chico, contounos também vários Lindos
Casos e pediunos apenas publicássemos este:
Um confrade de S. Paulo foi a Pedro Leopoldo para ver o famoso médium.
Encontrao numa esquina de rua, no meio de muitos Irmãos do Rio e de Belo Horizonte.
E, abraçandoo, realçalhe, em altas vozes, os dons mediúnicos, comparandoo com Anjos e
Apóstolos. O Chico ouveo apiedadamente, complacentemente, chorando por dentro e, numa
atitude de quem ora em silêncio para livrarse do veneno das lisonjas, com a certeza de quem já
traduziu o in te descendi dos gregos, respondeulhe:
— Eu sou é um verdadeiro sapo, que traz às costas uma vela acesa. Beneficiase com a
claridade mas, para a possuir, constantemente, tem que sofrer com a cera derretida que lhe cai
sobre a pele, queimandoa, como a lhe recordar de que é preciso andar com cuidado e sem vaidade
se quiser chegar ao fim da jornada...
Os irmãos presentes deixaram de rir e entenderam o que seja a tarefa mediúnica a serviço
de Jesus. Observaram mais: que o psicógrafo pedroleopoldinense é, de fato, um instrumental
mediúnico seguro e humilde, por onde o Pai do Céu nos vem enviando, de forma mais
compreensível e inédita, os Ensinos de Seu Filho Amado, Nosso Senhor Jesus Cristo. E que nem
todos os irmãos, esclarecidos pela Terceira Revelação, aprendem com que sacrifício ele, Chico,
realiza sua tarefa e quantos esforços faz para se manter de pé, no clima das incompreensões, dentro
da luta com as tempestades, os coriscos, os trovões das lisonjas, dos elogios, de todas as
experimentações, e conseguir atender aos imperativos sagrados da sua Missão junto ao Grande
incompreendido e ainda pouco conhecido, que é Jesus.
126
VER A MORTE
Antes da sessão do Luiz Gonzaga, alguém comentava o desencarne de um parente e o
Chico perguntalhe:
— Ele viu a morte?
Todos se entreolharam sem saber o que responder. Perguntamoslhe, então, meio
curiosos:
— Que quer dizer, Chico, ver a morte?
Respondenos o bondoso médium:
— É saber o enfermo que vai morrer. Partirá assim mais preparado para despertar, na
Espiritualidade, sem outras ilusões. Falamoslhe do nosso querido progenitor, cujo decesso se dera
a 5 de maio de 1955, e que, dias antes de partir para o Além, tinha a intuição de sua morte e a
recebeu serenamente como serenamente vivera.
— Sim, concluiunos o Chico, terá sempre uma boa morte quem possuir uma consciência
boa, pura, sem remorsos de haver malbaratado a bênção do tempo.
E ficamos a nos lembrar, dando razões ao querido Padre Germano, quando afirmava: é
preciso viver bem e no bem para morrer bem, ver a morte e ter um feliz despertar na
Espiritualidade.
105 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
127
CHAPÉU A PRESTAÇÃO
O sr. Armandinho é um dos habitantes mais velhos de Pedro Leopoldo. Foi companheiro
de infância do Sr. João Cândido, progenitor do Chico. Possui uma bem sortida casa de negócio,
que defronta com o Hotel Diniz.
Contounos Lindos Casos do querido médium, que ele conheceu desde criança, tendo
acompanhado todas as fases boas ou dolorosas de sua vida.
Estimao como a um filho. E, dentre muitos, Contounos, para publicar, estes dois: O
Chico foi sempre uma criatura bondosa, prestativa, humilde, pobre e honestíssima. Numa ocasião,
deveria ele acompanhar o Dr. Rômulo Joviano, seu Chefe, a uma excursão longe de Pedro
Leopoldo. E, porque não possuía um chapéu, procuroume. Como sabe, meu negócio tem de tudo,
desde o alimento ao vestuário. E pediume, humildemente, para lhe vender um chapéu a prestação.
De outra maneira não poderia pagálo. Atendio com alegria, pois tudo que me comprova pagava
me pontualmente. Vendilhe um chapéu por Cr$ 40,00, em 8 prestações, isto é: Cr$ 5,00 por mês.
Ficou satisfeito e fechou o negócio, porque, dizia, estava dentro das possibilidades de seu pequeno
salário. Pagoume durante 8 meses os 5 cruzeiros. Por isto, tem ele comigo um crédito
extraordinário.
Encontramos com o médium e lhe falamos sobre o caso do chapéu. Sorriu e respondeu
nos:
— É verdade e hoje tenho até chapéus demais; o que está faltandome agora é cabeça.
128
NÃO POSSO ACEITAR DINHEIRO
Uma senhora, residente em Belo Horizonte, casada com um alto funcionário do Estado,
por ser parente do Sr. Armandinho, procurouo para, por seu intermédio, falar ao Chico.
Atravessava uma quadra de sofrimentos. Havia perdido o pai e um ente familiar achavase
gravemente enfermo. O Sr. Armandinho levoua à casa do médium, que resolveu,
satisfatoriamente, o seu caso, e, ainda, possibilitoulhe recebesse uma Mensagem do progenitor,
que se autenticara pela letra, pelo assunto e pela espontaneidade com que fora recebida.
Agradecida e emocionada com o que recebera do seu pai, tanto mais que o Chico ignorava o que
se passava, pegou uma cédula de 200 cruzeiros e a ofereceu ao Médium como gratidão e para que
comprasse um presente.
E escusandose delicada e humildemente, o Chico a abraçou, dizendolhe:
— Não posso aceitar, minha irmã, nenhum dinheiro. Tudo que recebo é de graça, vem de
mais Alto, por misericórdia imensa do Pai; devo também dar de graça para continuar digno do
Amparo que lhe recebo.
A senhora, concluiu o Sr. Armandinho, despediuse surpresa, agradecida e emocionada,
por ver um rapaz tão pobre, tão bondoso, portador de tanta virtude, inclusive da que o fazia
renunciar ao dinheiro. E exclamou: Ele é mesmo digno da Missão que possui! Que Jesus o proteja!
E partiu feliz pelo exemplo a que assistira e pelo bem que recebera.
106 – Ramir o Gama
129
UMA LIÇÃO PARA OS MÉDIUNS...
Às quartasfeiras, de preferência, à tarde, o Chico, durante os anos de 1955 e 1956,
espiritualmente se preparava para as sessões de quintafeira, no Grupo Meimei. Era uma sessão de
grande responsabilidade, pois que se destinava aos obsedados. Numa quartafeira, José Xavier, que
fora irmão do Chico, e que, hoje, na Espiritualidade, é um dos seus abnegados colaboradores,
pedelhe para se preparar, abstendose de alimentos pesados, e, mais do que em outros dias, viver
com o Evangelho às mãos, pois que iria receber, na sessão seguinte, o luminoso Espírito de Frei
Eustáquio.
E o caro médium atende. Viveu, toda a quartafeira, pela tarde, e todo o dia seguinte, em
quase jejum e em permanente oração e vigilância. À noite, de fato, recebe de Frei Eustáquio uma
bela e instrutiva Mensagem, que emocionou os companheiros presentes. Essa Mensagem consta do
livro INSTRUÇÕES PSICOFÔNICAS.
Estávamos, nesta ocasião, em Pedro Leopoldo e tivemos a ocasião de ouvila na máquina
que a gravou. É, realmente, emocionante e instrutiva. Em aqui chegando, encontramonos com
alguns companheiros pertencentes a um Grupo Espírita dos subúrbios. E, um deles, nos falou:
— Ontem, em nosso Grupo, recebemos uma comunicação lindíssima de Joana D’Arc, e
apontounos o médium presente que a recebera, acrescentando: ele fez um grande esforço para ir
ao Grupo, chegou até a brigar com seus familiares... Se não fosse, não teria sido o instrumental de
tão bela Mensagem.
* * *
O Chico, para receber Frei Eustáquio, teve de prepararse, ele que vive, constantemente
preparado. No entanto, aqui, outro irmão, sem nenhum preparo espiritual e quando até brigou com
os familiares, recebe Joana D’Arc!
Que a lição nos sirva e trabalhe nossos pobres espíritos avessos aos sacrifícios morais, —
únicos meios pelos quais poderemos penetrar o Templo sagrado das Verdades do Mestre,
Caminho, Verdade e Vida para nossa salvação!
130
QUANTA EXPERIMENTAÇÃO!
O Chico faz a sua Prece antes e depois das Sessões do Luiz Gonzaga.
Quando termina sua tarefa, que vai das 9 da noite às 2 da madrugada, depois de atender
para mais de 2 mil pedidos de receitas, está esgotadíssimo e como quem, no seu dizer, houvesse
levado uma grande surra de pau. Todavia, com o auxílio de seus Amigos da Espiritualidade, se
refaz e melhora.
Contanos, para que lhe sintamos a responsabilidade e o ajudemos, que, em meio às
Sessões, sem que ninguém observe, espíritos zombeteiros procuram obscurantizarlhe o Serviço,
tentando contarlhe histórias de crimes tenebrosos para que fracasse no seu desiderando cristão. E
é preciso um grande esforço seu para se livrar de uma derrota. É por isso que os seus Guias
recomendam, por ele, aos assistentes, uma concentração homogênea, sadia, e, aos comentadores da
107 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Lição, extraída do Evangelho, uma explanação sincera, feita com humildade sem louvaminhas ao
pobre médium ou alusão a assuntos sem seiva evangélica.
E, no dia seguinte, como acabamento à experimentação da véspera, ao ir de charrete para
a Fazenda Modelo, ainda é tentado. Espíritos, que ainda não ouviram a Voz do Divino Amigo e se
perdem na estrada larga dos vícios, da provocação e do mal, procuram fazêlo parar para lhes ouvir
a continuação das histórias... E é orando e vigiando, pensando no Bem e na responsabilidade de
servidor de Cristo, que consegue passar e se ver livre das ciladas... Se parar, se se descuidar de orar
e vigiar, perderá seu dia e dará de si um sinal de fraqueza.
Aí está mais um belo exemplo, revelando a vitória da oração e vigilância, quando
realizadas com o coração suspenso e voltado para Jesus.
131
PARA NÃO PERDER O CLIMA
Os médicos da Terra e do Espaço aconselham ao Chico para que tenha repouso e dó do
seu corpo. Vai, às vezes, forçado pelos amigos, para uma pensão, localizada à beira do mar, no
Estado do Rio, a fim de buscar melhoras para a vista e o ouvido. Chega lá, e na hora em que todos
descansam, põese, descuidadamente, a trabalhar, a receber as Mensagens dos Espíritos queridos.
E, quando é advertido amorosamente pelos seus colegas de repouso, justifica—se:
— Se não trabalhar, sofrerei mais e perderei o clima de Bom Ânimo e ajuda em que vivo.
132
DINHEIRO BEM GANHO E GASTO
O Chico recebe um pequeno ordenado como datilógrafo da Fazenda Modelo, pertencente
ao Ministério da Agricultura. Mesmo assim, afirmanos que seu salário é demais para ele, que
recebe além do que merece. Ganhao, todavia, abençoadamente, visto que não falta um dia ao
serviço e gastao, abençoadamente, menos consigo e mais com seu próximo. Vestese pobremente
e alimentase pouco. Recebe, por semana, umas quinhentas cartas pedindolhe receita. E, dessas,
muitas vem sem o selo para a resposta.
E o pobre Médium tira de seu pequeno salário a importância dos selos. Antigamente o
selo de uma carta custava 30 centavos. Hoje, custa 50...
133
LEMBRANDO DEVERES...
Há pessoas que se sentem mal com as visitas dos que são verdadeiras cartas vivas do
Cristo, porque suas presenças lembramlhes deveres que não cumprem, visto que vivem fora do
Roteiro cristão. Justificase, portanto, a aversão e, em seguida, o remorso, que alguns irmãos têm
quando vêm aqueles que palmilham caminhos estreitos e procuram seguir o Mestre de perto,
testemunhandolhe os Ensinos salvadores.
Uma criatura, que estimamos, evitanos a presença, porque nos poucos momentos em que
nos encontramos, a conversa é toda referente ao Amigo Celeste, lembrandonos o tempo perdido,
108 – Ramir o Gama
os erros, disseminados, os deveres que temos, por havermos lhe ouvido a Voz e atendido o
chamado aos Seus Serviços.
Se tal se dá conosco, que não temos as virtudes do Chico, quanto não sofrerá, por isso, o
nosso queridíssimo Médium, que vive em Pedro Leopoldo com a sua liberdade limitada, porque
sua presença, para os que desejam da vida apenas direitos, lembralhes deveres libertadores, que
vão deixando de cumprir junto à Realidade Viva, que é Jesus, o qual hoje ainda cumpre Deveres
junto a Deus a benefício de todos nós.
134
EM DOIS JEJ UNS PERMANENTES
Se faz jejum espiritual constantemente, refreando a língua, cuidando do pensamento,
vigiando os olhos e demais sentidos, para não perder a assistência de seus Mentores, o Chico
também faz o jejum material abstendose de comer o que gosta e lhe faz mal.
Há tempos, foi vítima de uma cólica hepática que lhe amargou a existência por dois
meses e fêlo rolar de dor, no quintal de sua casa. José Xavier, que foi seu irmão na Terra e que,
hoje, no além, o ajuda na missão mediúnica, recomendoulhe que se alimentasse uma só vez por
dia e mesmo assim de chuchus, batatas, pouquíssima carne e cozida em água e sal, e, à tarde, que
tomasse, tão somente, uma chavena de chá com uma bolacha apenas.
Sofreu o Chico bastante com a dieta recomendada. Uma de suas irmãs, às vezes, tentavao
com lhe oferecer um pastel delicioso. Ele aceitavao, esfregavao nos lábios e, depois, arrependido,
jogavao às galinhas.
Hoje, graças ao seu poder de vontade e à ajuda de seus Amigos da Espiritualidade, está
curado. Venceu a dolorosa prova da alimentação. De 99 quilos passou para 74. Sentese mais leve,
com melhor saúde e sem a repetição das cólicas.
Deus ajuda quem faz por onde.
Belo exemplo, para todos nós, que nos achamos apegados a tantas coisas inúteis e nem
sempre damos o primeiro passo para delas nos libertarmos como um preparo à vida espiritual, que
nos espera e onde tudo é espiritualidade.
135
A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO
Palestrávamos com o Chico a respeito de enfermidades graves e da influência que tem o
Pensamento sobre elas. E citounos o médium um caso: uma sua conhecida era portadora de um
câncer no útero e de nada sabia. A medicina da Terra sentiuse impotente para curála. Emmanuel,
colocado a par da situação, alvitrou: vamos, com a ajuda de Deus, medicála. É preciso, todavia,
que ela continue ignorando sua enfermidade. Se souber, seu mal agravarseá e neutralizará todo o
nosso esforço. O tratamento foi feito e, por misericórdia de Deus, a doente, que sempre ignorou
seu padecimento, melhorou e, hoje, está completamente curada.
Lembramonos de um doente, vítima do câncer, que se localizara na uretra, que vivia
regularmente bem e sob tratamento médico, enquanto ignorava a causa da sua enfermidade. Mas,
de repente, por descuido de um parente, veio a saber de sua moléstia. Alarmouse. O Pensamento
refletiu seu pavor na doença e influiu na sua piora. E desencarnou dias depois.
109 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
136
CONSELHOS RÁPIDOS E ABENÇOADOS
Cerca de 300 lindos casos, que temos do Chico Xavier, foram, em grande parte, obtidos
quando o vimos em palestra com os assistentes do “Luiz Gonzaga”, respondendo a consultas,
resolvendo problemas íntimos, consolando o desencarne de entes amados.
Nas respostas dadas, nos conselhos ministrados, nas consolações distribuídas, observamos
dádivas de Deus, lições evangélicas, que devem ser divulgadas para beneficiarem a outros irmãos
portadores de iguais problemas e vivendo idênticas provas dolorosas. Até conselhos rápidos e
abençoados guardamos do querido médium.
Nossa ida a Pedro Leopoldo é, pois, benéfica, para nós, e nosso próximo, porque, depois,
escrevendo ou falando, vamos, com seus lindos casos, objetivar e documentar lições magistrais do
Evangelho, com vistas às nossas Tarefas, aos nossos deveres, aos nossos interesses, à nossa
melhoria moral.
137
WANDA MÜLLER
Nossa irmã Wanda, abnegada esposa do nosso querido amigo Helio Müller, residente em
Petrópolis, pede ao Chico algo sobre sua mediunidade de desdobramento, em início, tanto mais
que já houvera obtido um fenômeno de bicorporeidade.
E a resposta veio: Você, irmã Wanda, tem, de fato, esse dom mediúnico. Mas a
maternidade fêlo parar, por enquanto, porque há nela algo de sagrado, mais importante no
momento. Quando você ficar mais idosa, sua mediunidade vai reaparecer mais desenvolvida, com
possibilidade de lhe ser e aos seus familiares mais útil.
138
IRMÃO FRANCISCO PORTUGAL
Nosso prezado irmão Francisco Portugal sentarase a nosso lado e dizianos, entristecido,
não ter ainda uma possibilidade para abraçar o Chico e falarlhe. E, em virtude de ver tanta gente
na sessão e em redor do médium, calculava que seu desejo não seria satisfeito. Teria de assistir à
sessão e regressar no sábado à Petrópolis, onde reside, sem ao menos receber algo de que carecia,
principalmente com relação a um irmão desencarnado. Rápido como um relâmpago, o Chico
captou o anseio do seu irmão, pois, deixando de lado alguns amigos, já atendidos, chegouse perto
de nós e disse:
— Irmão Portugal, então, você pensava que não o abraçaria, que não o tinha visto! Está
enganado, você, como outros Irmãos, está também dentro de meu coração.
Nosso caro irmão Portugal chorou de emoção. Depois da sessão, o Chico lhe deu uma
mensagem que recebeu. Mais se comoveu, o nosso irmão de Petrópolis, pois era de seu Irmão
desencarnado, que lhe veio contar particularidades de sua vida quando na Terra e agora no Espaço,
dandonos, com isto, uma prova real da sua imortalidade.
Antena de Luz, em verdade, é o caro Chico Xavier, porque sempre suspensa, atraindo de
mais Alto a misericórdia de Deus e sentindo, a todo instante, as nossas necessidades de galés,
espíritos cheios de dívidas, buscando redenção.
110 – Ramir o Gama
Segue abaixo a mensagem que o digno irmão Francisco Portugal recebeu, em 1 de
outubro de 1947, em Pedro Leopoldo, de seu Irmão Alfredo Portugal, por intermédio de Francisco
Cândido Xavier:
Francisco, meu querido irmão, aqui me encontro ao lado de vocês, rogando a
Deus que nos ajude e nos abençoe. Perdoeme se lhes falo aqui, de alma aberta,
decorridos tantos anos sobre a minha forçada libertação.
Sou o peregrino que chega de longe, cansado, desiludido... Quero esvaziar o
cálice do coração, tocado pela nova fé que estou abraçando em seu lar abençoado.
Compadeçamse de meus pés feridos, de minhas mãos extenuadas, e ajudemme. A morte
provocada é um caminho doloroso, que nós mesmos povoamos de espinhos. Dizerlhes
das espessas trevas que atravessei é tarefa impossível. As palavras da Terra, se não
conseguem exprimir o verbo dos anjos, também não expressam a indescritível angústia
de todos aqueles que, como eu, penetram a noite do horror.
Se eu pudesse, retornaria agora ao mundo para sentirme feliz no corpo mais
defeituoso da Terra. A vida mais obscura, nos órgãos mais dolorosamente mutilados,
constituiria, para mim, uma bênção e espero que vocês me amparem com o serviço das
preces restauradoras. Graças a Jesus, o orvalho das orações de seu ninho doméstico caiu
sobre mim à maneira de chuva suave e benéfica.
Depois de longo tempo nas trevas abismais, com a força que me
proporcionaram, emergi da escuridão aflitiva e meus olhos, inflamados de nova luz,
vertem lágrimas de esperança, aguardando o novo dia de lutas terrestres...
Derramo lágrimas de renovação, porque compreendo hoje, em companhia de
vocês, que a dor é um divino dom de salvação para a eternidade.
Sintome edificado porque, entendo na atualidade que o sofrimento é a única
força capaz de reerguernos para Deus. E aqui me têm vocês, agradecido e reconfortado,
pedindolhes cada vez mais zelo na preservação dos tesouros que receberam. Vocês
possuem uma lâmpada que nos faltava noutro tempo. Guardam, em casa, uma fonte de
dádivas imperecíveis. A paz da alma e a possibilidade de fazer o bem com Jesus, é,
realmente, a verdadeira felicidade, agora, e sempre.
Perdoemme se as minhas visitas, muitas vezes, lhes fizeram sentir indefiníveis
amarguras.
Reconheço que Carolina e Jorge, principalmente, registraram, com mais
intensidade, a minha presença e, em mais de uma ocasião, se deixaram dominar pela
minha influência. Creiam, porém, que meu espírito permanece transformado e rogo a
Deus para que nenhum de vocês, por mais venenosos sejam os espinhos da luta a que
foram chamados, jamais se deixem vencer pelas sugestões sombrias da morte provocada.
Abracem a cruz da existência humana com alegria. As horas efetivamente
preciosas da experiência material são aquelas em que podemos provar a nossa fé, o
nosso espírito de sacrifício e a nossa vocação de renúncia. E essas horas não são
encontradas entre as flores que persistem apenas por um dia, não se abrem nas câmaras
felizes das vidas sem trabalho digno e frutuoso.
Atendamos ao convite divino, aceitando o benéfico desafio do mundo. Por não
recebêLo, com serenidade e amor, quase sempre perdemos nossas mais belas
oportunidades de evoluir para os lucros efetivos da experiência.
Fujam da tristeza, do desânimo, da desesperação. Situem a mente no santuário
da fé para vencerem os dragões da sombra, que rondam à porta.
111 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
Não respirem o clima da invigilância e agradeçam ao Senhor tantas bênçãos de
paz e luz, porque, em verdade, seu lar é uma fonte de graças que devem ser aproveitadas
a benefício de muitos.
Agradeço a Carolina, Zoé, Zilda, Jorge, Sylvio e Malena, as alegrias que me
despertam na alma. Vocês receberam de Jesus um depósito sagrado e você, meu irmão, é
a sentinela desses sublimes dons. Reduza, quanto estiver ao seu alcance, os problemas
que ainda o prendem à luta material mais intensa, para que a bendita claridade do Alto
se reflita com brilho sempre mais em seus caminhos.
Sou apagado servidor da verdade, agora, esperando o ensejo de regressar à
luta, mas estarei ao lado de vocês, recebendo o conforto de seu auxílio e pronto a
colaborar, de algum modo, a fim de revelarlhes alguma coisa de meu infinito
reconhecimento.
Alfredo
* * *
Como vemos, instrutiva e comovedora a mensagem do irmão de Francisco Portugal, que
se suicidara aos 21 anos, por motivos sentimentais. O Chico ignorava por completo a existência de
todos os fatos relatados. Que sirva ela de lição preciosa para todos nós e para quantos,
desanimados com a prova redentora, se deixem vencer pelas sugestões sombrias da morte
provocada.
139
NÃO HÁ GLÓRIA MAIOR
Em 1950, Chico Xavier havia recebido, pela sua psicografia, mais de 50 ótimos livros.
Vivia no apogeu de triunfos mediúnicos. Estava conhecidíssimo no Brasil e no mundo inteiro. O
PARNASO DE ALÉMTÚMULO, por si só, valia pelo mais legítimo dos documentos, validandolhe
o instrumental mediúnico, o mais completo e seguro que o Espiritismo tem tido para lhe revelar as
verdades, inclusive o intercâmbio das ideias entre os dois Mundos.
Mas, além disso, recebera romances, livros e mais livros, versando assuntos filosóficos,
científicos, e, sobretudo, realçando o espírito da letra dos Evangelhos, escrevendo e traduzindo, de
forma clara e precisa, as lições consoladoras e imortais do Livro da Vida.
Nesta fase, conforme esperava, por intuição recebida dos seus abnegados Mentores, mais
orava e vigiava. Numa manhã, ao caminhar para a Fazenda Modelo, viu uma leva de Espíritos
zombeteiros emboscados, à sua espera. E durante quase um mês sofreu deles toda sorte de
escárneo. Foi apupado, zombado, assobiado, chasqueado, escameado. Por fim, começaram a lhe
mediocrizar a tarefa, asseverandolhe: que seus livros não continham senão mentiras e, mais ainda,
que se precavesse porque iria acabar obsidiado, louco.
O Chico suportou tudo, com paciência e humildade. Mas no fim de tanta experimentação,
mostrouse temeroso, acreditou que poderia ficar maluco em virtude de seu trabalho mediúnico. E
consultou seu querido Guia, Emmanuel.
Colocado a par da situação, cujo desfecho previra, Emmanuel sorriu e disselhe:
— Mas você, Chico, é mesmo um tolo dando ouvidos aos comentários infantis desses
Espíritos infelizes, que ainda não encontraram em seus caminhos a Luz do Grande Amor, porque
112 – Ramir o Gama
ainda não sabem amar. Lembrese que é uma glória alguém morrer pelo Cristo! E você já
imaginou que glória imensa você teria se, pelo mediunismo, captando as Verdades Consoladoras
prometidas por Ele, daqui partisse imolado na prova da loucura! Sirva, sem temor, ao Cristo de
Deus, e jamais fracassará.
O querido médium sorriu também e perdeu todo o receio. Agora, acalentava um desejo,
ser digno do Amor do Amigo Celeste e, no seu coração, ressoava a senha cristã: comigo, não
tomais.
Os espíritos zombeteiros, que lhe experimentavam o potencial da fé, vendoo convicto e
feliz na tarefa mediúnica, afastaramse, certamente, um pouco doutrinados, surpresos pela grande
lição recebida. Graças a Deus!
140
DUAS PEQUENAS HISTÓRIAS
Em outubro de 1956, tivemos a ventura de assistir à peregrinação do Chico.
Primeiramente, iniciamola pela visita à Ponte, já conhecidíssima, porque abriga uma família
numerosa de pobres irmãos doentes, sem dinheiro, sem emprego, sem alimentos.
— Nós temos o crime de ter e eles têm a graça de não possuir haveres materiais. Apenas
têm a Fé em Deus, que lhes vale muito, motivo porque são sempre ajudados.
— Ganhamos mais do que lhes damos. E, ainda, o exemplo que nos dão, recebendo, com
humildade, nosso abraço, um pouco de alimentação e vestuário. E ainda nos dizem, agradecida e
sinceramente. à despedida: Vão com Deus, Deus lhes pague!
Em seus lugares, será que agiríamos assim?
São, pois, mais heróis do que nós...
141
LIÇÃO PRECIOSA
142
O ATEU
Em certa localidade do interior de Minas Gerais, morava um ateu incorrigível. Era casado
com linda e digna mulher e possuía um único filho, que contava 12 anos e se constituía o seu
maior tesouro. O ateu, tanto quanto possível, não perdia a oportunidade de revelar seu ateísmo
doentio, como que zombando da crença alheia. Sua prendada esposa o advertia, quase sempre, sem
proveito. Continuava negando Deus, multiplicando seu ouro e adorando seu filho único...
Quando menos esperava, a morte veio, silenciosa, e levoulhe o filho, entristecendo o
coração materno e enchendo de desespero o coração do ateu. Passaramse dois anos. O ateu, agora,
magro e pobre, sem a esposa, que também fora levada para o Além, sentiase só e doente. A
conselho de alguns amigos, batera à porta de vários templos, até que, numa tarde abençoada, foi
ter a uma sessão espírita.
Aí começou a receber os primeiros socorros. Seu coração, trabalhado pela dor, perdera as
vestes negras da vaidade e do orgulho. E, numa noite, quando mais se mostrava convicto da
verdade espírita, o filho incorporase num médium e lhe fala:
— Meu pai, como me sinto feliz em vêlo aqui! Como demorou a encontrar a grande
Estrada! Graças a Deus, que veio! Mas foi preciso que eu e minha mãe pedíssemos muito, a seu
favor, para que o Pai do Céu nos atendesse. E vou contarlhe uma historieta que um de meus
Mentores me contou com relação ao nosso caso: Numa aldeia da índia, vivia um fazendeiro rico,
que se especializara na criação e seleção de animais. Possuía grande quantidade de vacas
reprodutoras de boa qualidade. Era um homem bom e prestativo.
Desejava ajudar a todos os seus irmãos de romagens na Terra. E, assim, resolveu partilhar
sua obra com os seus vizinhos de outra aldeia, que limitava com seus rumos por um pequeno rio.
Mandou selecionar alguns bois e uma vaca, que possuía um bezerro único e os enviou aos seus
companheiros. Mas, na passagem do rio, todos os bois passaram, menos a vaca e o bezerro... Tudo
foi tentado sem proveito. Alguém então alvitrou: amarrem o bezerro e atravessem com ele o rio,
que a vaca acompanháloá... De fato, a vaca, vendo o filho amarrado, berrando, pedindolhe
socorro, atravessando o rio, não se fez de rogada e também o atravessou...
— Aí está, meu pai, a lição preciosa que a historieta nos dá: foi preciso que eu fosse
também amarrado pela enfermidade e jogado no rio da morte para que o senhor atravessasse o rio
do preconceito e viesse até a mim e sentisse, como está sentindo, comigo, a vida verdadeira e,
deste modo, iniciasse o resgate de suas faltas! Louvado seja Deus!
143
A LIÇÃO FOI TAMBÉM PARA NÓS...
penetrar pela porta estreita da virtude e entender os chamados do Grande Amigo, que há dois mil
anos espera pela nossa chegada, como ovelhas perdidas, ao Seu Redil abençoado e acolhedor.
* * *
No ambiente da ponte achavamse muitos confrades do Rio e de S. Paulo, médicos,
professores, advogados, homens de negócio, e todos compreendemos que a história contada pelo
querido Chico foi um verdadeiro medicamento para as enfermidades de visitantes e visitados...
* * *
Acordaranos para o Cristo de Deus, convidandonos a abandonar as amarras dos vícios e
das paixões, a lutar, com fé, pela nossa reabilitação, a renunciar, a amar e a perdoar. Para não
termos mais ilusões. Para possuirmos o coração iluminado pelas Luzes do Evangelho, colocando
O no tesouro imortal dos Ensinos Daquele, que é Caminho, Vida e Verdade, Nosso Senhor Jesus
Cristo!
144
TUDO SE PAGA...
Na peregrinação pelo Morro das Viúvas vimos preciosas lições. Sentimos não as poder
registrar todas aqui. São verdadeiras carapuças, gritos de alerta, abençoados estímulos para todos
que as vimos, a fim de que, colocando as barbas de molho, aproveitemos o tempo e lutemos por
apagar tudo, isto é com o Bem feito hoje o mal que fizemos ontem...
145
COM O AÇOITE NO BRAÇO...
Vimos um homem sofrendo a prova da miséria, porque era doente e sem ninguém para o
assistir. O Chico pediulhe que nos mostrasse o braço direito. Tirou o paletó e nos colocou diante
dos olhos um braço enorme com uns babados de carne mole, arroxeada, esquisita, mais parecendo
um açoite enrolado, cheio de nós. Saímos de seu quarto impressionadíssimos. Mas adiante, o
Chico explicounos: este nosso irmão foi, no passado, um capataz muito mau. Com aquele braço
direito açoitou infinidades de escravos, muitos dos quais desencarnaram, vítimas de sua
impiedade. Voltou assim, como vocês o veem, trazendo no braço o que lhe está no espírito, que é
como um eco dos açoites irados que deu, e daí o sofrimento indescritível das suas vítimas...
Aqueles babados já estão endurecendose e acabarão cancerosos, trazendolhe sofrimentos
medicamentosos, a fim de que, com isso, inicie o pagamento de suas grandes faltas.
146
PROVA DE ISOLAMENTO...
Vimos ainda uma senhora, aparentando ter uns sessenta e poucos anos, sofrendo a prova
do isolamento. Está totalmente paralítica. Mora sozinha num quarto com uma cama e uma mesa
115 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
apenas. A peregrinação lhe possibilita alimentação material e assistência espiritual. Tem na
fisionomia ares de nobreza, fazendonos crer que foi figura de relevo em algum Império.
E o Chico nos traduz sua prova: tratase de alguém que foi aia da imperatriz Tereza
Cristina, esposa de D. Pedro II. Desencarnou em 1884, tendo, como pessoa de confiança da
Imperatriz, castigado exageradamente muitas escravas, colocandoas em cubículos escuros, por
vários meses, com alimentação de água e pão. Quando acordou na Espiritualidade, verificou a
enormidade de seus crimes e pediu, com arrependimento sincero, a prova em que está. Ficou no
Espaço poucos anos e a Misericórdia Divina lhe deferiu o pedido para ressarcir suas faltas. Às
vezes, sentese tão isolada, tão sozinha, tão sem ninguém em seu derredor, que lhe vem o desejo de
suicidarse. Então, por ato de bondade celestial, aparecemlhe os Espíritos de D. Pedro 2º e da
Imperatriz Tereza Cristina, que a acarinham, lhe dão ânimo e a deixam confortada, com a certeza
de que deve continuar sofrendo sem rebeldia, pois sua prova está a findarse, e, brevemente, estará
libertada de seus débitos e com a transformação de suas inimigas em amigas, tanto trabalhadas
pela sua missão humilde, resignada e crente, arrependida e boa.
Nota: Em 11/1/1958, quando datilografávamos este caso, a nossa irmã em prova
desencarnou, feliz, sob a assistência de Chico.
147
NOS DOMÍNIOS DA PALAVRA
Não vamos tratar aqui da arte de falar e escrever bem, obedecendo às leis gramaticais.
Recordamos a palestra que tivéramos, de uma vez, com o Chico, sobre o que sai de nossa boca,
que nos revela o caráter, a personalidade. Sem que policiemos a língua, dificilmente
conseguiremos ganhar o nosso dia. Quando damos acordo de nós já tomamos parte nos torneios da
maledicência, conversamos futilidades ou demos respostas infelizes, que nos trarão sofrimentos e
arrependimentos tardios.
E veio à tona o revide que recebemos, pelo ar, do sem fio do pensamento, de pessoas de
quem, em momentos invigilantes, fizemos mau juízo... Até punhaladas e tiros temos recebido,
exclamou o Chico, particularizandonos: de uma feita, porque advertira um companheiro, sem
vestirse da defesa da humildade, recebeu depois, do mesmo, quando menos esperava, um tiro,
projetado sobre ele com a força de um pensamento carregado de ódio... Os amigos da
Espiritualidade, por mercê de Deus, abrandaram o efeito do choque, mas mesmo assim passou
vários dias com dor no ombro, que foi o ponto visado...
Nossa companheira, Zezé Gama, contou que recebera de uma empregada, há tempos, uma
forte punhalada espiritual, nas costas, tudo porque, levemente, lhe chamara a atenção por uma falta
cometida. Ficara vários dias, com dor em todo o tórax. No belo livro ROSÁRIO DE CORAL, há um
caso idêntico, lembramos. E o inspirado médium deunos uma verdadeira aula sobre os malefícios
que uma língua descontrolada pode realizar, para que, mais uma vez, ficasse vitoriosa a assertiva
evangélica: que não é o que entra mas o que sai de nossa boca que traz felicidade ou infelicidade,
triunfo ou derrota para nosso pobre espírito.
148
AGORA
Na sessão do Luiz Gonzaga, de 30/8/1951, estávamos presentes juntamente com vários
confrades do Distrito Federal. O salão do Centro achavase à cunha. Às 19 horas, o Chico chegou
116 – Ramir o Gama
e começou a atender os pedidos de autógrafos em livros ali adquiridos, e, a resolver, rapidamente,
problemas íntimos de vários irmãos. Num momento de folga passou perto de nós e pediunos e ao
nosso grupo:
— Vocês, que são mais esclarecidos, que são meus Amigos, procurem me auxiliar para
obtermos bom ambiente, pois sinto no ar relâmpagos e trovoadas prenunciando aguaceiro.
Começamos, com auxilio de outros confrades queridos, a vasculhar o ambiente, contando
casos evangélicos aqui e ali. Depois com a declamação de uma meiga menina de 8 anos, filha de
um confrade ali residente, conseguimos melhorálo mais, pois tudo se vestiu de ternura, de poesia,
de emoção. A voz carinhosa, sentimental, sincera, da irmãzinha, declamando versos de Casimiro
Cunha, de João de Deus, e dizendo, de cór, várias passagens evangélicas, fez com que nossos
pobres corações se suspendessem e vibrassem.
O Chico sentia e acabamos sentindo que, além de pensamentos e sentimentos futilizantes,
por parte de algumas pessoas mais curiosas do que crentes, no ar cruzavamse os pedidos mais
estúrdios, os desejos de sinais nos céus... Uns a vibrarem por Mensagens de parentes
desencarnados, outros a quererem algo que lhes pudesse aumentar a fé e fazêlos solucionar
determinados problemas materiais. E assim, com raras exceções, os pedidos eram diversos e nem
todos integrando os apelos do Evangelho.
Quando a sessão foi iniciada, o ambiente era outro. E o abnegado médium conseguiu
começar sua Tarefa com duas assistências, a dos irmãos encarnados e desencarnados, em estado de
oração, de respeito e de humildade. E, no seu final, como presente do Amor de Jesus, veio este
Poema de Meimei, que nos deu o que precisávamos:
AGORA
Se a consolação do Evangelho nos visitou a alma...
Se a bênção da fé nos ilumina...
Se a nossa confiança permanece restaurada...
Se a fraternidade é o ideal que buscamos...
Agora, realmente, a nossa vida aparece modificada.
Agora, conhecemos, agora temos e agora somos.
Porque, em Cristo, nossa alma sabe o que deve fazer, recebe do céu o
suprimento de recursos e valores, de acordo com as nossas próprias necessidades e é
demora de bênçãos e dons que nem todos, de momento, nos veem desfrutar.
Nosso horizonte jazia velado pelas trevas.
Antes, seria difícil a tarefa do auxílio.
Crisálidas da inteligência descansávamos no casulo da ignorância.
Agora, porém...
O Senhor, utilizando mil pequeninos recursos, acendeu a luz do conhecimento
divino em nosso espírito e, com a visão mais alta da vida e do mundo, cresceram a nossa
importância de pensar e a nossa responsabilidade de viver.
Se já te encontraste com Jesus, não te queixes.
Ontem, poderias alegar fraqueza e desconhecimento como pretexto para ferir ou
repousar, fortalecendo o poder da inércia ou da sombra.
Hoje, porém, é o teu dia de servir e de caminhar.
Meimei
117 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
149
CRISTO EM CASA
A delenda cartago de nossos escritos, o tema de nossa predileção em nossas humildes
palestras, tem sido, há quase 30 anos, desde que nos tornamos espíritas, o Evangelho No Lar ,
Cristo Em Casa . E diz bem Emmanuel, com experiência e sabedoria, amorosamente
prelecionandonos:
“Quando o crente percebe a grandeza da Boa Nova, compreende, que o Mestre não é
apenas o Reformador da civilização, o Legislador da crença, o Condutor do raciocínio ou o
Doador de facilidades terrestres, mas também, acima de tudo, o Renovador da vida de cada um”.
E, assim, “procura trazer o Amigo Celeste ao Santuário familiar, onde Jesus, então,
passa a controlar as paixões, a corrigir as maneiras e a inspirar as palavras, habilitando o
aprendiz a traduzirlhe os ensinamentos eternos através de ações vivas, com as quais espera o
Senhor estender o Divino Reinado da Paz e do Amor sobre a Terra” .
O Lar, que é a escola das almas, somente será Templo, quando aí penetrar o Evangelho,
lâmpada encantada, no dizer de Goethe, que o resguardará de todo o mal, possibilitandonos
compreender e traduzir a voz e os ensinamentos do Divino Mestre.
Na hora presente, os Espíritos do Senhor não se cansam de nos enviar Mensagens,
Poesias, pedindonos para acendermos, com esse livro da Vida, em torno de nós, uma claridade
nova, que iluminará nossos passos e nos levará à vitória de nossa destinação.
Todos os sábados, há 30 anos, junto à cara companheira e de nossos filhos, O lemos e
todos lhe comentamos as lições sábias, e todos Lhe sentimos o objetivo sagrado com relação à
nossa reforma espiritual. E, graças a Deus, malgrado ainda sentirmos defeitos em nós, Jesus, o
Cristo de Deus, já habita nossos corações e seu livro, em lugar bem à vista, mora em nosso lar, a
nos lembrar, em todos os momentos, os deveres para com Ele, junto à família, à sociedade e à
Pátria, cujas fronteiras se alargaram para vermos em todos os romeiros da vida o nosso próximo e
nossos irmãos.
De uma feita, pois, em sessão no Luiz Gonzaga, fomos todos obsequiados com estas
oitilhas de Luz, de João de Deus:
Do culto cristão do lar
Nasce a fonte cristalina
De bênçãos da Paz Divina,
De dons da Divina Luz!
Nele, aprendemos a amar
A dor, a luta, a alegria
E a iluminação cada dia
Na inspiração de Jesus.
Cultiva em teu doce abrigo
A sublime sementeira
Que te guarde a vida inteira
118 – Ramir o Gama
No amor, na consolação.
Sentirás, então, contigo,
Sobre a crença que te abrasa,
O Evangelho vivo em casa
E o Mestre no coração!
J oão De Deus
E, na sessão de 21/11/1956, Casimiro Cunha, o Poeta do Evangelho, encheu os corações
dos presentes com estes raios de Luz de sua inspiração e do seu Espírito cristianizado.
CRISTO EM CASA
Se desejas extinguir
A sombra que aflige e atrasa
Não olvides acender
A luz do Evangelho em casa.
Quando possível nas horas
De doce união no lar,
Estende a Lição Divina
Ao grupo familiar.
Na chama viva da prece
O culto nobre inicia
Rogando discernimento
A eterna sabedoria.
Mentiras da vaidade
Velhos crimes da avidez,
Calúnia e maledicência
Desaparecem de vez.
Serpentes envenenadas
De orgulho torvo e escarninho,
Sob o clarão da Verdade
Esquecemnos o caminho.
Dificuldades e provas
Na dor amargosa e lenta
São recursos salvadores
Com que o Céu nos apascenta.
Logo após, lê meditando
O texto Renovador
Da Boa Nova Sublime
Que é fonte de todo Amor.
Verás a tranquilidade
Vestida em suave brilho,
Irradiando esperança
Em todo o teu domicílio.
Ante a palavra do Mestre
Generosa, clara e boa,
A experiência na Terra
119 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
É luta que aperfeiçoa.
E o trabalho por mais rude
No campo de cada dia
É dádiva edificante
Do bem que nos alivia.
É que na bênção do Cristo
Clareiasenos a estrada,
E a nossa vida ressurge
Luminosa e transformada.
Conduze, pois, tua casa
Á inspiração de Jesus.
E o Evangelho em tua
É pão da Divina Luz.
Casimiro Cunha
150
SEBASTIÃO CAROLINO DOS SANTOS
Ao sairmos do Rio, na tarde de 4 de março de 1956, nossa tia Luiza Gama dos Santos,
conhecida na intimidade por D. Lulu, recomendounos:
— Não se esqueça de pedir na sessão do Chico pelo Carolino e por mim.
— Com muito prazer, não esqueceremos, afirmamoslhe.
Em Pedro Leopoldo, assistimos às Sessões de 2ª e sextasfeiras no Luiz Gonzaga.
Pedimos, nelas por tanta gente e esquecemos do pedido da caríssima Tia Lulu. Na sessão do dia 7,
segundafeira, a que assistíramos, como despedida, no seu final, o Chico declaranos:
— Ramiro, há um rapaz na sessão de nome Dewet Couto, recémdesencarnado, que
agradece as preces que tem feito por ele.
— É um colega de aviação de nosso filho Ramiro, confirmamos.
E o Chico continuou:
— Perto de D. Zezé, bastante satisfeito, está um Espírito que se diz chamar: Sebastião
Carolino dos Santos, que lhe envia o seguinte: “Vivamos na Terra fazendo o bem, porque, o bem
praticado é a única bagagem que assegura a paz do viajor da vida, além da morte.” E pedelhe para
dizer à D. Lulu: “O câncer me ajudou muito. Graças a Deus, depressa me aclimei na
Espiritualidade. A doença que chega devagarinho dá tempo da gente pensar e prepararse.
Não pensávamos no caro irmão Dewet Conto e muito menos em nosso Tio Carolino, pois
havíamos nos esquecido do pedido da Tia Lulu. Ficamos emocionados, pois havíamos recebido
uma lição para nosso descuido e uma prova preciosa da sobrevivência e da identidade dos
Espíritos. Graças a Deus!
151
BEIJOU O BURRINHO...
De S. Paulo chegou a Pedro Leopoldo um conhecido e estimado confrade. Ao entrar, às
20 horas, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, esbarra com o Chico e, demonstrando saudade e apego
ao grande Médium, declara:
120 – Ramir o Gama
— Vim de S. Paulo, especialmente, para lhe dar um beijo. E dandolhe o beijo na face,
conclui: beijandoo, tenho impressão de que beijei seu querido Guia Emmanuel.
— E o Chico, com toda candidez e humildade: Não, meu caro irmão, você não beijou
Emmanuel mas sim o seu burrinho, que sou eu.
152
SETENTA VEZES SETE...
Alguém ouvia de Emmanuel, incorporado no Chico, uma bela lição sobre o Perdão.
O irmão, doutrinado amorosamente, retrucava:
— Não, não é possível. Sou vítima de grande injustiça. E, não obstante, tenho perdoado
70 vezes sete vezes, como Jesus nos recomendara.
Inspiradamente, o evangelizado Guia de Chico Xavier, terminara a magna Lição:
— Mas Jesus recomendou que perdoássemos, sim, 70 vezes 7 vezes, mas isto todos os
dias, diariamente, sempre, e não vez por outra...
O irmão não esperava por esta. Abaixou a cabeça e saiu convencido de que precisava
lutar consigo mesmo para conseguir perdoar, não uma vez por outra, mas todos os dias, a todos os
momentos, para poder ter o Mestre no coração, abençoandolhe os atos.
153
O CACHO DE BANANAS
O Chico foi instado para entrar em certa residência nos arredores de Pedro Leopoldo. Os
donos da casa, vivendo vida descuidada, sem oração e vigilância, desejavam conversar com o
médium.
O Chico atendeuos. Ao entrar, viu sobre a mesa um lindo cacho de bananasmaçãs,
justamente as de que mais gosta... Desejou, pelo pensamento, que lhe oferecessem uma, pelo
menos. Mas a conversa veio sobre um assunto sério e o desejo foi esquecido.
Quando conseguiu atender às consultas dos irmãos visitados, olhou para a porta da rua e
viu dois Espíritos galhofeiros, e, um deles, dizia:
— Vamos entrar e comer estas bananas. O outro atendeu e ambos entraram. Comeram as
bananas e saíram.
Surpreso pelo acontecido, o Chico pede a Emmanuel uma explicação. E seu querido Guia
explicalhe:
— Isso acontece com as casas cujos moradores não oram nem vigiam. Agora, essas
bananas, desvitaminadas, apenas farão mal aos que as comerem, em virtude de se acharem
impregnadas de fluidos pesados... Tem razão os nossos irmãos protestantes, quando oram às
refeições, porque sabem, por intuição, que, no ato simples da alimentação, no lar, reside a nossa
defesa. A nossa oração aí, além do mais, é um ato de agradecimento ao Pai por tudo que nos
concede: atrairemos, com ela, as Suas Bênçãos para o que comemos e para o nosso domicílio.
E vieramnos à lembrança as belas páginas que André Luiz escreveu num de seus
instrutivos livros com relação à oração e aos bons assuntos de conversa e leitura, nos atos de
dormir e das refeições como, medidas felizes para comermos bem, dormirmos bem, e acordarmos
bem.
121 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
154
NA CURVA DO CAMINHO...
No escritório da Fazenda Modelo, quando datilografava uma relação para seu Chefe e
Amigo, Dr. Darwin, sentiuse mal o Chico. Algo esquisito, inexplicável, acontecia com ele. Fazia
o tremer, trazialhe tonteiras, apertavalhe o coração, fazendoo sentir até falta de ar...
Acabou o trabalho, pediu licença ao Chefe e saiu. No caminho, o malestar aumentava. E,
na suposição de que ia morrer, implorou o auxílio de Emmanuel, que lhe diz:
— Caminhe, esforcese um pouco, pois, mais adiante na curva do caminho, receberá o
socorro.
Mas, a aflição perdurava. E o Chico sentia que não chegaria em casa.
Tornou a pedir o auxílio do seu bondoso Guia, e, este, tornou a pedirlhe que tivesse
calma, que esperasse, pois, alguns metros à frente, receberia o remédio de que estava carecendo.
E o caro médium, com muito esforço, caindo e levantando, conseguiu enfim chegar à
curva do caminho, quase às portas da cidade.
Ao seu encontro vem uma senhora, trazendo à cabeça uma bacia cheia de roupa. Vendo o
Médium, alegrase demorada e ternamente, dizendolhe:
— Este abraço é por conta do bem que você me fez ontem. Você me deu remédio para o
corpo e para a alma no passe e nos conselhos.
O Chico surpreendeuse. Era outro. Seu sofrimento desaparecera. Não sentia mais nada.
Estava bom de saúde, outra vez. Recebera no abraço da irmã, tão cheia de reconhecimento pelo
bem que lhe fizera na véspera, o remédio de que necessitava. A luz da gratidão afugentara a
sombra de uma experimentação.
No Bem está a nossa defesa, o remédio para todos os nossos males.
Que a lição nos sirva!
155
MÃE CIDÁLIA
Assim se chamara na Terra a segunda Mãe de Chico Xavier, a criatura amorosa e boa,
que dissera ao seu noivo João Cândido:
— Somente me casarei com você se permitir que ajunte, em nosso lar, para os criarmos,
os filhos de sua primeira mulher, nossa santa irmã Maria João de Deus, os quais vivem por aí
distribuídos e criados ao léu da vida... O Sr. João Cândido, homem cordato e bom, aquiesceu.
Casouse e, graças à Mãe Cidália, voltaram as aves ao ninho antigo, saudosas, alegres, felizes.
Foi essa mãe por vocação, missionária do Amor, que ensinou o Chico a orar, que o
encaminhou na vida, que lhe orvalhou a alma dorida e pura de ensinamentos cristãos e que
realizou, com ele e seus demais irmãos, Neuza, Luíza, Lucília, Geralda, Gina, José Raimundo e
outros, uma Tarefa educacional.
Mas o que é bom dura tão pouco!
Sua vida foi curta, como curtos eram seus débitos. Mas mesmo assim realizou muito, algo
que comove. Desencarnou, deixando uma funda tristeza, uma enorme saudade nos corações dos
filhos de sua alma.
Antes, chamara o Chico à beira de seu leito e lhe dissera entre lágrimas e num misto de
saudade e consolação:
122 – Ramir o Gama
— Sei que vou morrer, meu querido filho. Mas, antes, desejo que me prometas uma coisa:
que não permitirás que teus irmãos sejam, de novo, distribuídos, semeados por aí, entregues a
terceiros. Desejo que tomes conta da casa, que ajudes teu pai, que veles por todos, como fiz. Lá de
cima, ajudarteei sob as bênçãos da divina mãe, a fim de que triunfes da Missão grandiosa que
tens e que agora vai ser iniciada! O Chico prometeulhe atender, entre saudades e prantos. E, num
halo de angelitude, respeito e proteção espiritual, mãe Cidália desencarnou feliz!
Alguns anos passaram. Todos viviam no mesmo lugar, numa casinha pobre e cheia de
Paz, tendo o humilde Médium por mentor, Amigo e irmão dedicado. O pouco que recebia, como
caixeiro de uma venda humilde dava para as despesas, porque era um pouco com Deus. E, assim,
entrou Chico na posse de sua missão maior. A fonte mediúnica rebentara e uma torrente de luz
beneficiava toda Pedro Leopoldo. E admiravase por não ver entre as comunicações recebidas e
nas aparições de Espíritos Amigos, seus valiosos colaboradores, a de mãe Cidália.
Numa noite, entretanto, numa sessão íntima, realizada em casa de um parente, sob sua
surpresa, vê, em plena sala, o Espírito luminoso de mãe Cidália. Parecialhe mais linda. Comove
se e chora de contentamento pela auspiciosa ocorrência. Amorosa, como dantes, o Espírito
chegouselhe ao pé e lhe diz confidencialmente:
— Custei a aparecer, meu caro filho, porque meus trabalhos são muitos.
Mas, vejote sempre protegido e me alegro. Esforceime, hoje, para vir até aqui, porque
há um justo motivo...
— Justo motivo, tartamudeia o bondoso médium...
— Sim. Preparemse, pois um de vocês vai partir daí para aqui. Obtive a permissão para
ficar perto de vocês, por alguns dias, a fim de receber o que foi escolhido.
Abraçou e abençoou seu filho e desapareceu. Acabada a Sessão, o Chico contou o que
vira e ouvira aos seus caros entes familiares. Uma das irmãs pensou em seu pai João Cândido,
portador de grave pielite e de uma hérnia ameaçando estrangularse, caso não a operasse. E cada
ente familiar pensou em alguém do lar.
Dias se passaram. O Sr. João Cândido foi operado e estava fora de perigo. Então, quem
seria? Cada um perguntava a si mesmo.
Nesta conjetura, recebem a notícia de que a irmã Neuza, residente em Sete Lagoas,
adoecera. E, não obstante o cunhado, esposo de Neuza, afirmar ser uma enfermidade leve, o Chico
pede para a trazerem para Pedro Leopoldo, porque sentia que era grave o seu estado. Era a
escolhida para partir. Mãe Cidália vinha buscála. E Neusa vem e fica sob os cuidados dos irmãos,
inclusive do Chico. O Médium lhe sente o desencarne próximo.
Numa tarde, depois da prece costumeira, feita pelo Chico, sob surpresa dos presentes,
pétalas de rosas chovem sobre o leito da enferma, O fenômeno, revelando o mérito de Neuza e seu
desencarne iminente, comove a todos e os prepara para o golpe que se avizinhava.
E, na manhã seguinte, como um pássaro, o Espírito de Neuza, esclarecido e bondoso,
deixa a gaiola da carne e sobe à Espiritualidade do Lar Maior.
Mãe Cidália aparece ao Chico e dizlhe:
— Foi este o Anjo escolhido. Fique em Paz. Vou acompanhar a ave libertada e feliz.
Adeus!
Uma parente do Chico nos contou este lindo Caso, comovendose e comovendonos. Dá
nos uma bela lição, revelandonos o que espera, na hora libertadora, os que sabem viver bem, com
e por Jesus. Depois, sem nada dizernos, foi ao seu quarto e de lá nos trouxe duas pétalas, já
murchas e perfumadas, das que caíram sobre o leito de Neuza. O presente nos emocionou,
sobremodo. E o guardamos na carteira, junto ao coração.
123 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
De quando em quando, junto com a prezada esposa, contemplamos as duas pétalas. E
lembramonos de Neuza e sentimola como uma Estrela, que ganhou os cinco raios, e vive,
radiante e feliz, num trabalho maior, junto à grande estrela, que é Maria Santíssima, na
Constelação de Jesus!
E achamos nossa cruz leve, nossa prova, tão fácil de ser vencida e vontade imensa de
sermos melhores!
Que Jesus possa abençoar, hoje e sempre, os Espíritos queridos de mãe Cidália e de
Neuza!
156
O BENFEITOR J ÚLIO MARIA
De 1932 a 1945, o Padre Júlio Maria, residente em Manhumirin, em Minas, não deixou o
pobre Chico e seu incansável Guia Emmanuel, em paz. Criticouos tenaz e injustamente. Os
trabalhos de Emmanuel, recebidos pelo sensível Médium, eram esmerilhados, apontados,
criticados, obscurecidos, adulterados.
Aconselhado pelo Guia, o Chico nada respondeu e evitava, até em família ou com
amigos, comentar os doestos, as verrinas, as injustiças do jornal O Lutador. Mal o recebia, no
entanto, assustavase, adivinhandolhe a pancadaria...
Quando saiu à publicidade nosso livro de versos O SOL DA CARIDADE, prefaciado por
M. Quintão, o Padre de Manhumirin, pelo seu jornal O Lutador , desapreciounos a humilde obra,
criticando até o prefaciador. M. Quintão, pelo NOSSO GUIA, dedicoulhe uma série de
alexandrinos humorísticos, à moda Gregório de Matos, que fêlo calarse.
Em 1945, inopinadamente, desencarna o Padre Julio Maria. E Emmanuel aparece ao
Chico e lhe diz:
— Hoje, vamos fazer uma prece em conjunto e toda particular pelo nosso grande
benfeitor Julio Maria, que acaba de desencarnar em Manhumirin, conforme acaba de anunciar a
Imprensa do Rio...
— Não sabia! Mas benfeitor, por quê?
— Sim, benfeitor. Pois durante 13 anos seguidos ajudounos a compreender o valor do
trabalho a bem de nossa melhoria espiritual, convidandonos a uma permanente oração no
exercício sublimativo de ouvir, sentir e não revidar, lecionando o adversário na Lição do silêncio.
Quem virá, agora, substituílo? Substituir quem nos adversou e nos limou, nos maltratou e nos
possibilitou melhoria espiritual, colóquio permanente com o Grande Incompreendido, o
Injustiçado de todos os tempos, que é Jesus?
157
PREGAR E EXEMPLIFICAR...
Durante uma sessão no Centro Meimei, um irmão turbulento dá presença e desanda a
criticar os que pregam e não exemplificam... Detesto estes mentirosos, dizia, que falam, pedem,
imploram, predicam e nada cumprem do que dizem... Emmanuel, amorosamente, pelo Chico,
doutrinao, dizendolhe:
124 – Ramir o Gama
— De qualquer maneira, pregam embora não cumpram. Já fazem alguma coisa. Outros há
que nem isso. Pregar e não cumprir é como o Semeador que já possui a semente e não a semeia. O
próprio criminoso que prega já realiza algo, pois vemos Jesus nele. E regar é, pois ter a semente.
Cumprir, exemplificar, é semeála. E finalizando: Trabalhemos com Jesus no coração, para que a
mensagem d’Ele seja, em nossa vida, a carta de luz endereçada pelo Evangelho aos semelhantes.
Eis que pregaremos e exemplificaremos, com Ele e por Ele!
158
LEMBRANDO DANTE E SEU INFERNO...
Quando psicografava os livros de André Luiz, viase o Chico, em dado momento,
transportado àquelas regiões de que lhe falava o esclarecido autor de LIBERTAÇÃO. Cenas
dantescas presenciava: Homens com fisionomias de crocodilos, cobras, arrastandose, conturbando
o ambiente já de si pavoroso; outros, urrando, como animais ferozes, lembrandolhe Dante,
revelandolhe, nos círculos do inferno dântico, criaturas transformadas em árvores, enterradas até à
cintura, verdadeiros duendes, animalizados. E o médium conclui sua visão: Dante era um grande
médium, além de culto poeta. Nos momentos em que seu corpo descansava no sono, ia, em
espírito, às regiões boas e más, classificandoas como sendo o Paraíso, o Purgatório e o Inferno.
Seu guia, Virgílio, possibilitoulhe já naquela época, conhecesse aquilo que André Luiz, hoje nos
atualiza de forma mais perfeita. Foi, não resta dúvida, o Grande Gibelino, um dos precursores das
verdades, que o Espiritismo nos revela através da mediunidade gloriosa.
159
REPRESENTANTE DO IDEAL CRISTÃO
Quando o Chico, em 1944, juntamente com o Dr. Rômulo Joviano, visitou pela primeira
vez a cidade de Leopoldina, para uma exposição de animais selecionados da Fazenda Modelo,
houve muita curiosidade por parte da população, principalmente, do lado dos confrades. Pois, o
nome do grande médium estava em evidência com o caso Humberto de Campos.
Sem que soubesse, à sua revelia, os diretores do Centro Espírita local convidaram os
espíritas leopoldinenses e das cidades vizinhas para assistirem à sessão Especial, na qual
comparecia, segundo o aviso, o médium Francisco Cândido Xavier.
Foi um alvoroço. O Chico soube do sucedido, da propaganda excessiva que faziam de seu
nome, amedrontouse e disse de si para consigo:
— Não vou à sessão. Isto é mais uma exibição, uma experimentação à minha vaidade.
Que irão dizer de mim?...
Como não era conhecido na cidade, pôde andar livremente. Dirigiuse a uma barbearia, a
fim de cortar o cabelo. Lá, ouviu os comentários mais estúrdios. Um dos presentes dizia:
— Sabem da grande novidade? O conhecido médium de Pedro Leopoldo está entre nós e,
logo mais às 20 horas, vai à sessão Especial do Centro Espírita! Vai haver uma enchente colossal!
Vocês devem ir, como eu vou, cedo, se quiserem encontrar lugar.
O Chico mais convencido ficara de que não deveria comparecer. Saiu da barbearia e
refugiouse no hotel. Ali pelas 19 horas, quando se achava deitado, descansando, Emmanuel lhe
aparece e diz:
125 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
— Na exposição, a que tomamos parte, estão representados todos os valores da Terra,
através da lavoura, da indústria e do comércio. Até a Creolina Tierson está representada. Estou
agora, procurando alguém que represente, na exposição e fora dela, aonde quer que estejamos, o
ideal cristão. Desta forma, esse Representante compareceria à sessão que humildes irmãos
realizam, hoje às 20 horas, no Centro Espírita local... Certamente, você não quererá ir, está
cansado, quer sossego...
Diante desta lição, o Chico levantouse rápido e compareceu à sessão espírita. Perante
uma numerosa assistência, curiosa por vêlo, ouvilo e sentilo, falou, recebeu mensagens
significativas e tocantes, inclusive um belo soneto de Augusto dos Anjos, que desencarnara
naquela cidade mineira e, naquela hora magistral, pagava sua dívida à Terra que lhe acolhera os
ossos, votandolhe uma poesia, que é um cântico de agradecimento à Leopoldina e aos seus filhos
ilustres e queridos, que nos seus últimos momentos, como encarnado, lhe deram tão comovedora
provas de carinho e de assistência espiritual. Essa bela Poesia consta do PARNASO DE ALÉM
TÚMULO.
Que belo e consolador trabalho realizou o representante do ideal cristão, na Terra, naquela
noite, pela pessoa do Chico, perante uma numerosa assistência ávida de esclarecimento, corações
preparados para receber as sementes de luz dos ensinos do Divino Mestre!
160
MARAVILHOSAS VISÕES
Ao psicografar o belo livro AVE, CRISTO! de Emmanuel, obra histórica, que nos
rememora uma fase do terceiro século ainda inédita referta de ensinamentos cristãos, por isto que
comove e esclarece quem a lê, o Chico nos declara que, nesta ocasião, recebera muitas graças,
entre as quais as de maravilhosas visões.
Emmanuel colocavalhe diante dos olhos os quadros mais emocionantes da perseguição
aos cristãos e pedia que os olhasse com atenção. E via, então, em quadros aumentados, as figuras
marcantes dos mártires, perseguidos por amor ao Emissário Celeste.
Guardou, entre outras, a visão extraordinária de S. Inácio de Antioquia, chegando a
Roma, acorrentado e, à entrada da Cidade Eterna, parar e sorrir...
Os guardas, que o acompanham, surpreendemse e o advertem:
— Por que sorri, quando daqui a instantes, será martirizado com outros rebeldes?
E o santo, calmo e feliz, respondelhes:
— Estou sorrindo pelo que vejo e me conforta, pois chego à conclusão de que Deus é
mesmo Bom. Se permitiu que os pagãos levantassem, na Terra, essa maravilha, que é Roma, que
não reservará Ele aos seus veros servidores!
E, empurrado pelos guardas, partiu, sereno e grande na fé, a caminho do suplício e onde
deveria ganhar as asas da sua libertação e o prêmio de seu testemunho de amor a Jesus!
161
COM UMA ESTRELA NO CORAÇÃO
Um dos seguidores de Cristo, tão sincero quanto destemeroso na propagação do
cristianismo nascente, é chamado à frente de César:
126 – Ramir o Gama
— Onde está o homem do caminho, o filho do carpinteiro, o teu Cristo!...
Erguese o mártir, e apontando para o coração: — está aqui.
E César, arrogante, terrível tocado no seu orgulho:
— Arranquemlhe, então, o coração...
E o Chico vê instantes depois, iluminandolhe o ambiente o Espírito do mártir trazendo na
altura do coração uma Grande Estrela!
162
REMÉDIO PARA ARREPENDIMENTO...
Preparávamonos para a sessão do Luiz Gonzaga, quando um viajante, hospedado no
Hotel Diniz, pergunta a D. Naná:
— Que é bom para arrependimento?
E a prezada irmã nos indica como sendo o portador do remédio. Tratavase de um caso
que podíamos e devíamos resolver logo; assim, inteiramonos dele, tanto mais que nos achávamos
no clima do Chico e, portanto, rodeado de bons Espíritos, cuja presença sentíamos.
O irmão viajante havia brigado com a esposa por motivos fúteis. Estava, portanto,
arrependido e desejoso de um remédio. Receitamoslhe, de começo, a leitura do Evangelho e o
convidamos a tomar parte na sessão do Luiz Gonzaga, que deveria realizarse daí a algumas horas.
Aceitou e foi conosco.
No fim, estava satisfeito. Ganhara o de que necessitava através do abraço do Chico e dos
comentários da Lição da noite, que focou o assunto da cólera, fazendonos compreender os seus
malefícios. Na manhã seguinte, seguira para Belo Horizonte, onde reside.
Partimos à tarde. Quando chegamos à Capital mineira, tivemos o prazer de vêlo, pois
estava esperandonos para nos apresentar sua esposa, que se mostrava radiante com a
transformação do marido. E foi dizendonos:
— Meu esposo parece que ganhou a sorte grande assistindo à sessão do Luiz Gonzaga,
em Pedro Leopoldo, pois aí recebeu oportunos conselhos, como me disse, que valem pelos mais
ricos dos Presentes. E a prova aí está: fez as pazes comigo, arrependeuse do que me disse, em
momento de raiva, e jamais nos sentimos tão felizes! Trouxeme O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO para que o leiamos todas as noites, porque foi Nele que ganhou o remédio para o
arrependimento, um roteiro novo para nossa vida no lar e fora do lar. Graças a Deus!
163
REMÉDIO PARA FEBRE
— Chico, apenas vamos hoje, ficar até ao meio da sessão, pois sentimos que a gripe nos
pegou e nos trouxe febre...
O médium deunos um abraço, chamounos para um canto e contounos rapidamente:
— No mês passado, numa sextafeira, às 19 horas, comecei passar mal com febre. Já há
dias vinha tossindo, sentindo dores no corpo, um grande desânimo. E, por isso, dizia de mim para
comigo: Hoje, não vou ao Centro, estou doente e preciso dar descanso ao corpo... As 19:45,
achavame sossegado, sentado numa cadeira de balanço, quando Néio Lúcio me aparece e diz: —
Então, é assim que o vero servidor atende a Jesus!... — Mas, estou doente, febril, Néio Lúcio. — E
127 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
você não fez por onde ainda para se livrar desta febre... Faça por onde, leia um livro, realize o
pouco para Jesus lhe dar o muito. E partiu.
Envergonhado de minha fraqueza, procurei alguma coisa para ler. No chão, vi o Jornal
Batista . Abrio com desinteresse e vi, logo na primeira página, um artigo com o título: “Comigo,
não temais”. Lio todo. Banheime na sua luz. E parti para o Centro com o final do belo artigo a
falarme. A serviço de Jesus o servidor nada deve temer, nem doenças e nem ameaças... Tomei
parte na sessão, que correu, como sempre, na Paz do Senhor. No final, examineime e convenci
me de que não tinha mais febre, nem cansaço, nem dores no corpo.
Olhamos para o querido médium. Sorrimos os dois. E ficamos até ao fim da sessão para,
no seu término, sentirmos que não tínhamos mais febre. Graças a Deus!
164
A BARATA NA SOPA...
D. Josefina era uma senhora cega, muito estimada nos arredores de Pedro Leopoldo, e
tinha uma verdadeira adoração pelo Chico. Seu desejo maior era o de que seu conterrâneo, um dia,
jantasse com ela. Tanto pediu, que o filho de D. Maria João de Deus a atendeu. Foi marcado o dia
e o Chico compareceu.
A mesa estava posta. Numa ponta, sentouse o convidado de honra, na outra, sua
admiradora e, nos lados, duas amigas, conhecidas de ambos. Por ser pobre, D. Josefina apenas fez
uma sopa substanciosa. No prato fundo, diante de cada convidado, achavase a sopa, contendo
ingredientes apetitosos.
O médium, emocionado com o tratamento afetuoso, devagar, dando atenção à palavra da
dona da casa, foi tomando a sopa, quando de repente, dá com uma barata preta no meio do prato...
Afastaa para o lado, no momento em que D. Josefina lhe pergunta:
— Então, Chico, está gostando da minha sopa? Olhe que a fiz com cuidado e carinho em
sua homenagem.
— Está ótima, minha irmã. Soulhe muito grato pela sua bondade. Não mereço tanto. —
respondeulhe o médium, e, para que ninguém observasse seu achado, foi conversando e tomando
a sopa.
D. Josefina ria de contente. O humilde homenageado sentiase contrafeito. Mas, diante da
alegria da irmã querida, que se sentia tão honrada com sua presença, esqueceuse da barata e
começou a conversar, animadamente, contar casos e a comer...
No fim, quando todos acabaram, olhou para o prato: estava vazio. Havia tomado a sopa e
a barata também. Mas concorrera para alegrar o coração de uma velha e sincera admiradora.
Valeu o sacrifício.
165
VÁ COM DEUS
O Chico vestese humildemente. Possui apenas dois ternos, um do uso e outro da reserva.
Certo médium de São Paulo, que o visitava, vendoo tão mal vestido, exclama:
128 – Ramir o Gama
— Pensava em encontrálo, como o maior médium de todos os tempos, bem vestido, bem
alojado, vivendo uma vida folgada e o encontro assim, maltrapilho. Não está certo. Precisamos
fundar a Sociedade dos Médiuns.
O Chico sorri e nada responde...
Lembrandose, conosco, deste caso, ponderanos:
— Vivo assim e sempre hei de viver, enquanto estiver aqui, vivendo a minha prova. E
ainda assim me criticam, achandome rico, com dinheiro nos bancos. Imagine se vivesse
diferentemente, o que não diriam...
Depois, reportandose ao passado, contanos:
— Tempos atrás, passou momentos críticos. Um infeliz irmão, dado ao vício de tirar
coisas alheias, entrou no seu quarto, e, na sua ausência, levoulhe o único terno, que possuía de
reserva. Ficou aflito mas não desesperado. Seus irmãos, sabendo do acontecido, reagiram.
Combinaram uma armadilha para pegar o viciado, certos de que ele voltaria, tanta facilidade
encontrou para agir... E fizeram uma trouxa de roupas usadas e a colocaram à janela de seu quarto,
bem à vista. Traduzindolhe as intenções, ofereceulhes o Chico para ficar de guarda. Aceitaram. E
por algumas noites, vigiou. Quando menos esperava, alta hora da noite, vê alguém entrar no seu
quintal, dirigirse à sua janela, pegar na trouxa e levála. Deixou passar alguns minutos e, depois,
deu o alarme. Levantaramse os familiares apressadamente, inteiraramse do ROUBO, e deram
uma busca. Tudo em vão. Não encontraram o ladrão.
— Mas, Chico, como deixou o ladrão fugir, advertiulhe um dos irmãos. — Estava
cansado e dormi. Quando acordei já a trouxa não estava na janela, respondeulhe.
Mas, todos, ficaram contrafeitos, achando que, diante do acontecido, não deviam ter dó
do Chico; que, por castigo, deveriam deixar que ele andasse só com um terno, até que, de sujo, se
apodrecesse no seu corpo.
O caso morreu. Uma tarde, vinha o Chico na sua charrete, de volta da Fazenda, quando
alguém fêlo parar e lhe implora:
— Irmão Chico, pare, desejo lhe pedir perdão.
— Perdão de quê, meu irmão.
— Fui eu quem lhe roubou as roupas... E, quando fui verificálas, encontrei seu bilhete,
que me tocou o coração, pois que me dizia: Vá com Deus! E até hoje sinto que estou com Deus e
Deus está comigo e não posso roubar mais.
O Chico abraçouo comovido, perdooulhe a falta e, satisfeito por vêlo reformado, tornou
a dizerlhe:
— VÁ COM DEUS, meu Irmão!
166
AMAR AO INIMIGO...
Numa das sessões do Luiz Gonzaga, caiu por sorte a lição: “Amar aos inimigos”. Muitos
confrades, sentados em redor da mesa, abordaram, com inspiração e oportunidade, o tema
utilíssimo. Chegando à nossa vez de falar, lembramos o que, a propósito, à véspera de nossa
viagem, nos contara um colega de Ensino:
Morava junto a um vizinho briguento, insociável. Tudo fizera para o conquistar, para
transformálo de inimigo de outras vidas em amigo e irmão da hora presente. Mas, tudo em vão.
Diante disto, alçara o coração e pedira ao amigo celeste uma inspiração, um meio para vencer seu
129 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
adversário. E Jesus o atendeu. Deulhe, na hora aprazada, a instituição precisa. Dois filhos do
vizinho, segundoanistas de um Ginásio, por mais que se esforçassem, foram reprovados. Como
atenuante à derrota recebida, cada um, no entanto, foi apenas reprovado numa disciplina, podendo,
reabilitarse na segunda época. Mas a dificuldade estava na aquisição de um professor, que lhes
desse aulas individuais e intensivas por um mês, pelo menos. O colega soube do sucedido e, por
intermédio de sua esposa, mandou oferecerlhes seus préstimos. Aceitaram e agradeceram.
Durante todo um mês receberam os filhos do vizinho aulas individuais e intensivas, um sobre
matemática e outro sobre português, que eram as matérias de reprovação. Chamados a exame na
segunda época, ajudados também pelo Alto, que tudo observou, foram aprovados e promovidos ao
terceiro ano. Isto sobremodo, concorreu para afastar as nuvens pesadas, os malentendidos
constantes, a turra, as provocações, as inimizades do vizinho, que acabou conquistado com a graça
que os filhos receberam. E, assim de forma tão fácil, porque inspirados pelos bons Espíritos, dois
corações inimigos se uniram, desobstruindo o caminho de suas provas remissivas. O irmão,
professor. mais esclarecido, colocou fogo na cabeça do seu adversário gratuito, no símbolo de
favores, apagando com a água do amor o pequeno fogaréu de antipatias.
Outro confrade, colaborando conosco, contou outro caso, salientando o benefício da prece
intercessória, do pensamento bom, projetado sobre os que nos malquerem. O ambiente estava
deveras comovedor. Emmanuel, trazendonos a lição final, compendiando e resumindo o assunto
versado, fechou com chave de ouro e tertúlia cristã, o substancioso ágape espiritual. O Chico, que
tudo observara. à despedida comentou:
— A sessão, como sempre, foi benéfica para encarnados e desencarnados. Houve
preciosas catequeses, lá e cá, de ovelhas tresmalhadas para o redil do Mestre. É uma verdade o que
foi conceituado; devemos acertar nossas contas, no dizer de André Luiz, com o vizinho do lado, da
frente, da retaguarda e da vanguarda, enquanto a hora nos é favorável. Amanhã, todos os quadros
podem surgir transformados.
167
A PRECE DOS CRIMINOSOS
Nossa irmã Maria José acercouse do Chico na ocasião em que lhe contávamos os
benefícios usufruídos pelos penitenciários do Distrito Federal com as visitas que lhes vêm fazendo,
aos domingos, pela manhã alguns diretores da Federação Espírita Brasileira. A conversão de
muitos irmãos detentos à nossa Doutrina tem sido permanente, segura e confortadora. No final,
quase sempre, cabe a um dos presos, em meio do pranto e do arrependimento, orar, agradecendo a
Deus as graças recebidas. E nossa irmã atenta aos nossos comentários, indaga do querido médium:
— Se a prece representa um estado de alma pura, como poderá têlo o criminoso? Vale
alguma coisa, aos olhos de Deus, a oração dos delinquentes?
E o prestativo servidor, em dia com os assuntos santos do Senhor, ajudado pelos seus
esclarecidos mentores espirituais justifica:
— A prece de um criminoso, por ser a de um irmão faltoso, vale muito quando feita com
arrependimento sincero. Numa prisão acham se encarnados e desencarnados, algozes e vítimas,
ligados pelos laços do Amor de Deus. E, quando, dentre eles, um se mostra arrependido do mal
que fez e, ajoelhando a alma, ora ao Pai, na linguagem do coração, na sinceridade e na humildade,
com vontade de ressarcir suas faltas, uma surpresa aponta no íntimo dos outros colegas e todos
acabam envolvidos na resposta do Criador, que é sempre algo de incentivo de Seu Amor e de Suas
130 – Ramir o Gama
Bênçãos! Via de regra, depois de uma Prece assim feita entre almas dormidas, fechadas,
endurecidas no crime, algumas acordam para a realidade do roteiro cristão, sentindo os remorsos
primeiros, dando os primeiros passos em prol de sua redenção.
168
O SUPÉRFLUO
Numa sextafeira do mês de março de 1956, encontramos o Chico na hora do correio e
palestramos. Depois, fomos andando e admirando os novos prédios que modificam a feição
urbanística de Pedro Leopoldo. No ar, sentíamos um assunto provocandonos o pensamento: o
supérfluo. E lembramos ao médium a preocupação demasiada de certas criaturas com a construção
luxuosa de suas residências, colocandolhes enfeites, bemestar excessivo, dando ganho de causa à
superfluidade. Perdem tempo, dinheiro, esforço, saúde na criação de monumentos residenciais. E
depois não se beneficiam com os exageros de seu luxo, de sua vaidade, de sua preocupação
material... Uns, como naquele caso evangélico, desencarnam deixando na terra o tesouro onde
colocaram o coração... Outros não chegam a realizar seus sonhos, a desilusão vem no desencarne
de um ente amado e em sofrimentos que lhes aparecem como verdadeiros educadores... O Chico,
colaborando com a nossa conceituação objetiva contra o supérfluo, contanos casos preciosos.
Abraçamonos e cada um foi para seu lado. À noite, no Luiz Gonzaga, a sessão corre, como
sempre, num clima de elevação e respeito. O Evangelho, aberto ao acaso, oferecenos na preciosa
Lição do 16º, Não se pode adorar a Deus e a Mamon, e, no final, Emmanuel, obsequíanos com a
luminosa página com o título:
O SUPÉRFLUO
Por toda parte na Terra, vemos o fantasma do supérfluo enterrando a alma do
homem no sepulcro da aflição.
Supérfluo de posses estendendo a ambição...
Supérfluo de dinheiro gerando intranquilidade...
Supérfluo de preocupações imaginárias, abafando a harmonia...
Supérfluo de indagações empanando a fé...
Supérfluo de convenções expulsando a caridade...
Supérfluo de palavras destruindo o tempo...
Supérfluo de conflitos mentais determinando a loucura...
Supérfluo de alimentação aniquilando a saúde...
Supérfluo de reclamações arrasando o trabalho...
Entretanto, se o homem vivesse de acordo com as próprias necessidades, sem
exigir o que ainda não merece, sem esperar o que lhe não cabe, sem perguntar fora de
propósito e sem reprovar nos outros’ aquilo que ainda não retificou em si mesmo,
decerto, a existência na Terra estaria exonerada de todos os tributos que aí se pagam
diariamente à perturbação.
Se procuras no Cristo o Mentor de cada dia, soma as tuas possibilidades no
bem, subtrai as próprias deficiências, multiplica os valores do serviço e da boa vontade e
divide o amor para com todos, a fim de que aprendas com a vida o que te convém
realmente à própria segurança.
131 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
O problema da felicidade não está em sermos possuídos pelas posses, quaisquer
que elas sejam, mas em possuílas, com prudência e serenidade, usandoas no bem de
todos que é o nosso próprio bem.
Alija o supérfluo de teu caminho e acomodate com o necessário à tua paz.
Somente assim encontrarás em ti mesmo o espaço mental indispensável à
comunhão pura e simples com o nosso Divino Mestre e Senhor.
Emmanuel
Como vemos, os Espíritos do Senhor, à frente o querido guia de Chico Xavier, ouviram
nos a palestra construtiva, alegraramse conosco, como se entristeceriam se nos ouvissem
maldizendo e futilizando, e, desejando colaborar com os nossos conceitos, sempre pobres de luzes,
ofertaramnos mais uma jóia espiritual do tesouro de seus corações evangelizados.
169
IRMÃO CIRILO PINTO
O presente lindo caso ouvimolo na cidade de Caçapava, quando, em 1952, visitávamos,
com o Capitão Jaime Rolemberg, os Espiritistas locais.
Fomos hospedados na casa do caro Irmão Filadelfo Siqueira, espiritista abnegado de
quem nos tornamos amigo. Ali, conhecemos Cirilo Pinto vivendo, numa sala em separado, sua
grande prova. Ficamos impressionados com sua conversação, sua convicção, seus esclarecimentos
doutrinários e as graças que tem ganho pela mediunidade de Chico Xavier. Mais ainda nos tocou a
alma: o cromo que nos mostrou e que lhe foi enviado pelo querido e amoroso médium, no qual.
estão duas cruzes, uma pequena e outra grande, sendo que a grande é carregada por Nosso Senhor
Jesus Cristo. Nosso irmão traduziu a delicadeza do amigo ofertante, que, de forma tão expressiva
lhe tornava leve a jornada com mostrarlhe a cruz pequena que todos carregamos...
E sua inteligente e caritativa sobrinha Betty, contanos, emocionandonos:
— No mês de outubro de 1936, Cirilo Pinto, velho morador de Caçapava, queridíssimo
pelos habitantes, espíritas ou não espíritas, por questões políticas, é denunciado como portador de
lepra, por ter às mãos encarangadas. Deveria ser internado, pedia o denunciante. Deixou Cirilo
Pinto a direção do Centro Espírita Caçapavense e fugiu. Jamais se entregaria aos seus inimigos
gratuitos, pois sabia que não era portador do mal de Hansen, tanto mais que Espíritos Amigos lhe
haviam esclarecido sobre isto.
Passado algum tempo, cessada a perseguição à sua família, Cirilo, escondidamente, volta
a seu lar e se enclausura num dos quartos nos fundos do quintal. Vive aí suas horas dolorosas,
como um animal acuado. Só Deus sabe quanto sofreu! Filadelfo e Justino Siqueira, almas afeitas
ao bem, foram a Pedro Leopoldo e recebem de Emmanuel, por intermédio do Chico Xavier, esta
comovedora e instrutiva Mensagem dirigida ao Irmão Cirilo, cuja prova dolorosa o médium
ignorava:
Meus amigos, Deus vos conceda muita Paz espiritual e, sobretudo muita
coragem para enfrentardes as lutas ásperas da vida terrestre. Sei da angústia que vos
dilacera o coração sensível e fraterno, em face das provas expiatórias da existência
material, e conheço o sacrifício efetuado para tão longa viagem, em busca de um amparo
moral para o coração. Sim. O Espiritismo veio para o esclarecimento e para a
consolação!... Manancial divino e sacrossanto, é nas suas águas tranquilas e puras que a
132 – Ramir o Gama
sede humana, de conforto e de Paz, é devidamente saciada, na perspectiva deslumbrante
da vida do infinito. Depois da esteira larga das dores, desdobrase a estrada divina da
redenção no plano imortal e somente lá, distante do convencionalismo e dos enganos da
existência na Terra, podemos compreender integralmente a causa dos sofrimentos e das
provocações. Procurai confortar e amparar o nosso irmão Cirilo em suas dolorosas
provas. São elas rudes, mas são necessárias à sua personalidade, sobre a face da Terra.
Não está ele atacado pela morféia; o fenômeno orgânico do atrofiamento das mãos tem
suas raízes em uma intoxicação úrica, violentíssima e avassaladora, que ficou
circunscrita em seus efeitos nefastos. Para a família, portanto, considerando igualmente
os membros da família espiritual, no labor da doutrina, não devem prevalecer infundados
receios ou dúvidas quanto a isso. Lamentamos apenas que, considerando a necessidade
das provações purificadoras, não possamos estender essa certeza ao ambiente social,
onde os prezados irmãos foram chamados a trabalhar e a viver, em vista da nossa
impossibilidade de eliminar de um dia para outro a série de perseguições, de que ele tem
sido vítima, em companhia de seus familiares e de seus amigos, em face da necessidade
do resgate penoso de passados sombrios e delituosos. Precisamos dar ainda mais tempo,
esperando a manifestação da misericórdia divina que não nos desamparará.
A cura total das mãos do vosso amigo não é de se esperar, digamolo com
franqueza, todavia, aguardaremos as suas melhoras que hão de vir, com a bondade
inesgotável do nosso Divino Mestre. Convém, portanto, que o nosso amigo prossiga em
seu sacrifício, por mais algum tempo, de maneira a não precipitar qualquer medida que
determine o deslocamento de toda a sua família, tão operosa, tão fraterna e tão unida,
em seus trabalhos de cada dia, esperando que o tempo consiga apagar o calor das
perseguições tenazes e dolorosas. Voltará o dia de tranquilidade e de paz, na dor e no
sacrifício. Esperemos a Providência Divina. Agora, perguntareis, talvez, quais os atos do
pretérito que motivaram provações tão dolorosas e tão duras, mas é que os vossos olhos
materiais estão obnubilados no cadinho da estrutura material. O nosso irmão resgata
hoje um passado de penosos débitos espirituais, quando as suas mãos lavraram sentenças
inapeláveis no tribunal da Inquisição e da penitência, nas eras que se foram,
considerandose que, cada um de vós que hoje com ele sofreis, tendes igualmente a vossa
parcela de responsabilidade, em face das eras que se foram. Se assim me exprimo é tão
somente com o fim de elucidarvos parcialmente, fortificandovos no coração a
esperança no Senhor, cuja justiça perfeita é completa, mas igualmente cheia de bondade
e de misericórdia. As perseguições de hoje são reflexos das lutas de ontem, como o valor
e a resignação da hora que passa representam as luzes da redenção de amanhã. Levai as
minhas palavras fraternas ao coração do nosso amigo enfermo. Ele me compreenderá,
com o largo cabedal de crença e de fé do seu coração, com o qual foi o seu espírito
fortificado, desde muitos anos, para a travessia das atuais provações. Em família, buscai
esclarecer aqueles que ainda duvidam, consolidando a certeza de que o nosso irmão não
se acha atacado do mal contagioso. segundo as afirmativas da ciência falível, mas sim,
na prova, onde se encontram todos os espíritos encarnados, constituindo uma obrigação
de cada um amparálo, em suas lutas deste momento. Quanto aos perseguidores, tolerai
com resignação e caridade. Todas as tempestades chegam e passam, ainda mesmo as
mais longas, tal qual essas que vem provocando tantas lágrimas, há quanto tempo, mas
orai e esperai, cheios de confiança naquele que representa toda a Verdade e toda a Luz.
Cada qual tem o seu dia de dor sobre a face da Terra! Os que hoje perseguem, levados
133 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
pela vaidade e pela ambição, amanhã encontrarão os mesmos espinhos na estrada
escabrosa da existência material. Não deveis providenciar qualquer mudança da oficina
onde vos encontrais. Que o vosso Irmão Cirilo sacrifiquese ainda mais um pouco, por
algum tempo, aguardando a misericórdia do Pai, com o fim de harmonizar o ambiente
dos seus, e que o amparem fraternalmente, como se faz necessário. Para o seu físico,
deve abolir as carnes da alimentação, usar o mínimo de sal, usando depurativos e
diuréticos, friccionando as mãos com o opodeldoch. Esse tratamento lhe fará bem,
defendendoo do ácido úrico e de suas manifestações. Todas as manhãs, faça ele uma
fricção, com uma prece.
Estaremos presentes para ajudálo como se faz preciso. E agora, meus amigos,
despeçome de vossos corações desejandovos a mais santa paz de espírito. Que o Senhor
nos abençoe o entendimento, concedendonos muita coragem para a luta, é a rogativa
sincera do vosso irmão humilde.
Emmanuel, Pedro Leopoldo 25/10/1938.
Dois anos depois, desencarna a amorosa mãe de Cirilo, D. Nazinha. Ele mais sofre com
isto, pois que perdera, no seu dizer, uma grande colaboradora, além de mãe extremosa. Chico
Xavier, que ignorava o que se passara, recebe, para o Irmão Cirilo, esta Mensagem, um mês depois
do descesso da cara Irmã Nazinha:
“Cirilo, meu filho, Deus o abençoe, derramando sobre vocês todos a sua santa
Paz. Agradeço a Jesus, com lágrimas nos olhos, por poder enviar ao seu coração a
minha palavra de mãe, guiada por nossos dedicados Guias espirituais. Quero pedir, em
nome de nossas recordações do passado, quando você era o meu amparo e o meu
sustento na vida; quero lembrarme, sim meu filho, de nossas dificuldades e de nossas
dores, esperando que Jesus esteja sempre com o coração de filho generoso e sensível;
não perca a sua serenidade nas provações dolorosas. Hoje vejo que os dias melhores
para o meu espírito na Terra foram os do trabalho e da amargura com as penas
materiais. É por isso que estou sempre ao seu lado, não só pelo carinho materno, mas
também pelo resgate da minha dívida de gratidão do tempo em que, menino e moço,
abandonava você às ilusões da existência para me ajudar a criar os seus irmãozinhos,
aliviando as minhas amarguras domésticas. Ouça, meu filho, os conselhos de Filadelfo e
da Maria, quando você estiver acabrunhado e em desalento. Filadelfo é também um
segundo pai para a família e o seu coração fraternal tem sabido retribuir todos os
sacrifícios que você fez no passado por todos nós. Cirilo, meu filho, pudesse você divisar
os meus olhos, velosia cheios do pranto de agradecimento a Jesus por haver dado à
nossa família a bendita esmola do Espiritismo cristão. Graças a Deus, foi o seu coração
o instrumento sagrado para nós todos nos dias que lá foram. Nos instantes amargos de
hoje, meu filho, renda louvores a Jesus. A dor é agora menos amarga para todos e a fé é
luz que nos reconforta. Não pense que eu o deixe só. Nas suas horas tristes, bem como
nas dificuldades de todos os seus Irmãos, o meu coração maternal está junto de todos,
rogando a Jesus fortaleza e resignação, coragem e esperança. Sim, filho, passemos as
provas com paciência e confiança, na Providência Divina. Encoragem os seus irmãos
com a resistência moral e necessária. Continue sendo a boa palavra e o amparo moral
deles todos. A cada um envio o meu voto de amor e de paz.. rogando a Deus os abençoe.
Rogo a Jesus ampare igualmente ao nosso Filadelfo, para que prossiga sempre firme em
134 – Ramir o Gama
seus esforços. Que Deus os proteja e esclareça é a súplica ardente do meu coração de
mãe, que nunca poderá esquecêlos.
Nazinha.
Recluso, embora, ia Cirilo realizando seu trabalho junto à Doutrina. Muitas vezes, chegou
a lutar com espíritos rebeldes, que o queriam submeter aos seus caprichos ou que prejudicavam a
alguém. O desencarne de uma sobrinha muito querida, afeiçoada ao bem, espírito evangelizado, fê
lo enfraquecerse muito. Foi, então, que espíritos rebeldes, velhos inimigos seus, o atacaram com
êxito. Ficou como que obsidiado. Sofria muito e fazia sofrerem os seus. O Chico foi lembrado.
Uma carta, escrita entre lágrimas, foi enviada ao querido médium, e, dias depois, a
resposta veio dirigida à cara irmã Betty: que não se apoquentassem, tudo iria ser solucionado na
Paz do Senhor.
No verso da carta, escreveu ao irmão Cirilo:
Recebi sua carta e acompanho o seu bom coração com as minhas preces a Jesus.
Ele, meu bom amigo, nosso Mestre e Senhor, nos ajudará a carregar o madeiro de nossa
redenção.
Tenhamos, como sempre, a coragem e fé. Atendamos à vontade do Mestre, meu
caro Irmão. Ele tem poder para nos salvar de todas as lutas. Receba um grande abraço do
seu menor irmão reconhecido de sempre — CHICO — Pedro Leopoldo, 10/1/1945.
O caro irmão Cirilo, com esta cartinha, comoveuse, animouse, seguiu os conselhos,
colocou sobre a mesa o cartão com a cruz grande e a cruz pequena, que lhe fora dedicado, que lhe
ficou sempre à vista, a lembrarlhe deveres. Melhorou e entrou na luta remissiva, de novo.
Está hoje, graças a Deus, recuperado, vivendo sua prova, com fé e resignação, levantando
desanimados, burilando corações enfermos, fazendo o bem. Aí está, caro leitor, um lindo caso do
Irmão Cirilo, com quem oramos, no seu quarto humilde, quando visitamos Caçapava
Transcrevemos as mensagens de Emmanuel, D. Nazinha e do Chico — por contarem
ensinamentos edificantes, consoladores, que poderão servir amanhã para outros Irmãos, com casos
idênticos, que, por ventura se sintam acovardados diante da prova, da luta redentora com e por
Jesus!
170
IRMÃ TEREZINHA
Leitor, desejamos que este último Caso também fique em sua memória.
Ele não é apenas lindo; é comovedor.
Graças a José Ávila, Presidente do “Centro Espírita Irmã Terezinha”, de
Pindamonhangaba, Estado de S. Paulo, a que pertence o Asilo de Velhos, dirigidos pelo Cap.
Manoel Pereira dos Santos, foi possível documentálo fartamente.
Lutavam os Espíritas de Pinda com as costumeiras dificuldades para harmonizar e
orientar os esforços no sentido de uma obra social, quando o dirigente Espiritual de um Grupo,
reunido em sessão de trabalhos práticos, mandou que fossem a Campos de Jordão, em determinado
sanatório, e procurassem, em certo quarto, uma jovem que estava prestes a desencarnar e viria, em
seguida, trabalhar com eles. Chamavase Terezinha. Era uma flor em botão que se finava. A ordem
foi cumprida e a moça os recebeu, encantada com aqueles estranhos tão bondosos e simpáticos. De
tão feliz e agradecida quis darlhes uma expressiva lembrança e a melhor que encontrou disponível
135 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
foi seu retrato colado na caderneta escolar de normalista, hoje preciosa relíquia do Centro.
Terezinha era filha de pais abastados, residentes em São Paulo, Capital, mas nem ela e nem eles
eram espíritas.
Poucos dias depois, desencarnou, e, em espírito, veio trabalhar com os simpáticos
visitantes, já então consagrados em torno dela e do fato esplendidamente testemunhado. Reuniu os
trabalhadores, eliminou diferenças, estimulou corações e o Asilo de Velhos começou a sair. Os
recursos apareciam como por milagre quando o aperto parecia maior. Muitos foram levados a
contribuir materialmente, conquistados pela animação irradiada do esforçado Grupo.
Em breve, no meio de um belo jardim, o acolhedor e espaçoso casarão abrigava quase
uma centena de felizes velhinhos.
Pereirinha reformouse do serviço ativo na Força Policial de S. Paulo e foi morar com a
família dentro do Asilo, entregandose, com sua abnegada companheira, de corpo e alma ao
trabalho cristão.
Aconteceu, porém, o que sempre aconteceu. Um momento de invigilância. E as forças do
mal semearam a discórdia.
As dificuldades cresceram, as incompreensões se aprofundaram. E, um dia, a bomba
estourou. Só havia uma solução; a saída do casal Pereirinha e sua mudança para a casa do Ávila,
na cidade.
A notícia espalhouse entre os velhos. E a choradeira foi enorme e tocante. Fizeram uma
manifestação a D. Mariazinha, esposa do Diretor do Asilo. Os diretores do Centro foram
consultados e a decisão foi contrária. Pereirinha, de malas arrumadas, há meses amargurado,
sentiase entre o dever de ficar e a necessidade de sair. Lá fora todas as contingências humanas o
chamavam à “vida”, às “necessidades” sociais da família, com uma filha noiva e dois filhos
rapazes, com o “direito” de ir ao cinema e passear no jardim à hora da retreta — uma porção de
coisas que enchem a vida dos homens de vida espiritualmente vazia.
A angústia dos velhinhos refletiu lá em Cima no Plano Espiritual, porque decidida a
mudança, Pereirinha foi convidado para assistir a uma sessão no dia 13 de março de 1953. E do
que nela se deu, a carta abaixo dá uma ideia:
Centro Espírita Irmã Terezinha
Com Albergue Noturno “Padre Zabeu” Abrigo aos velhos desamparados.
Av. S. João Bosco, 706.
Tel. 312...
Pindamonhangaba — Estado de S. Paulo.
Sr. Ávila
Boa tarde,
Ontem as velhas aqui abrigadas fizeram uma manifestação à Mariazinha,
pedindo que não saísse da Casa.
Soube que quando Marta, Sara, Rosa, Alice e outras choraram, Mariazinha
chorou também. Fiz logo uma sessão e irmã Matilde disse o seguinte:
“Vocês não acreditam mais em mim, ninguém acredita mais nos Espíritos que se
comunicam nesta cidade, mas vocês vão ver, Terezinha vai mandarlhes um recado ou
por intermédio do Chico ou por qualquer médium que não seja de Pinda”.
Vamos esperar, notei que até o Marcílio emocionouse.
De modo que alugue a casa a outro e conte com a minha eterna amizade.
136 – Ramir o Gama
Isto não impede que eu diga ao amigo que estou à sua disposição para o que
puder e quiser.
Peço não falar mais nisso e combinar com os amigos não tocarem no assunto
para não magoarem minha companheira.
Abraços.
Pereirinha. 2331953.
O último período indica o estado de alma do autor. Que não lhe atormentassem a família.
Ele ali estava. Irmã Matilde, mentora espiritual da casa onde assistira à sessão, foi clara e precisa.
Ele tinha fé. Poupassemlhe a paz doméstica e esperassem. Porque alguém, da Espiritualidade, iria,
por um médium de localidade distante, mandarlhes um recado, já que santo de casa não estava
fazendo milagres...
Não esperaram muito. No mesmo dia em que escreveu, 23 de março de 1953, Chico
Xavier punha no correio de Pedro Leopoldo, o cartão que chegaria no dia 1º de abril.
Dizia o cartão.
Pedro Leopoldo, 23/3/1953. Meu caro José Ávila.
Paz e saúde. A nossa irmã Terezinha, hoje benfeitora espiritual dos pobres, visitandome
ontem, nas preces da noite, pedeme ou, aliás, recomendame escreverlhe, apelando para que o
abrigo dos velhinhos de Pindamonhangaba não sofra alteração, rogando, por isso, aos irmãos
Pereirinha e D. Mariazinha, não se afastarem da direção. Disseme rogar muito especialmente à D.
Mariazinha não permitir que o esposo se afaste, esclarecendo que os velhinhos são a abençoada
família deles e dos amigos do Alto, acrescentando que a alegria da Espiritualidade Superior será
muito grande com a decisão dos confrades — Pereirinha e senhora, permanecendo no lugar que
Jesus lhes confiou. Que estará acontecendo? Escrevolhe porque não posso deixar de fazêlo;
embora ignore o que ocorre. Penso, porém, que o assunto é importante. Aguardo suas notícias, sim?
Abraços do seu Chico Xavier. 23/3/53
Meu caro José Ávila
Jesus nos ajude no desempenho dos nossos deveres.
Que vemos aí? Um Lindo Caso de mediunidade comprovado e abençoado, salvando uma
instituição que é, no dizer do nosso caro irmão Ávila, “a grande bandeira hasteada em benefício dos
que sofrem”.
A aflição do Chico, refletida no cartão acima estampado, era o eco da de Terezinha e dos
responsáveis pela obra, na Espiritualidade, e também refletida no coração dos companheiros de
Pinda, como se pode ver desse trecho da carta que o irmão Ávila nos mandou:
“Acontece que no dia 22 de março de 1953, Pereirinha, em visita ao nosso companheiro
Agostinho de San Martin, por volta de 17:40, a fim de ali trocar impressões sobre o caso de sua
possível saída do IRMÃ TEREZINHA, e, avizinhandose 18 horas, quando na residência de San
Martin é costume fazerse uma prece ao Senhor, sua filha, Helena de San Martin, nota a presença
de Batuira desejando dizer alguma coisa, sendo posteriormente atendido, quando se verifica dizer
que receberíamos um aviso de qualquer parte, de que falara também a irmã Matilde. No dia 23, logo
pela manhã, enviame Pereirinha pelo velho Maurício, ali internado, o recado. Guardeio,
posteriormente conversei com os companheiros, uns franziam o cenho, outros se acalmaram, entre
eles Clovis Moreira Celez grande companheiro de nossa Doutrina. Eu fui tratando de ir
acomodando a situação, em nada pensando, nem mesmo cogitando do caso, quando sem menos
esperar, no dia 1º de abril, às 16 horas, recebo uma carta, com data de 23/3/1953, de Pedro
Leopoldo, o que verifiquei pelo registro; abrindoa, pressurosamente, deparo com uma mensagem a
mim dirigida, a qual reputo de valor imensurável, não apenas pelo fato provado, mas pelo efeito que
137 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
a mesma veio ter em nossos meios. onde passou, depois disto, a reinar a maior paz deste mundo,
marcando ainda um início áureo de uma época nova para nós”.
O cartão do Chico fez o efeito sugerido na estampa do clichê: as ovelhas novamente se
ajuntaram. E Pereirinha continuou no Asilo, onde está hoje. Um novo ânimo se apossou dos
trabalhadores e o Asilo se refez aumentando seu corpo de mantenedores e já tendo projetadas
novas obras nos grandes terrenos de sua propriedade.
* * *
Vêm os leitores que um instrumento afinado entre a Terra e o Céu muito pode fazer em
benefício de todos. Mas é uma grande verdade: que é custoso manterse em constante estado de
prece, “servindo de ponte”. E só Deus sabe como o consegue o nosso caro Chico, dizendonos, de
uma vez: que o dia que não chora, que não verte lágrimas, não ganhou seu dia e nem o vestiu de
vigilância e oração, vitoriandoo com bons atos, serviços para Jesus.
* * *
Os Lindos casos do Chico não param aqui, havendo muitos outros que ainda não devem
nem podem ser contados; mas os que privam de sua esplêndida companhia bem os conhecem e
com suas evangélicas lições se identificaram.
Um dia surgirão em letra de forma para que a lenda que há de lhe envolver o nome não os
deturpe.
Um médium, porém, com tanta responsabilidade, está cheio de razões, afligindose
quando dele se fala ou escreve, pois não é sempre que a compreensão opulenta a mente dos que
leem, resultando um benefício para a sua tarefa mediúnica.
Por isto pedimos ao caríssimo leitor: se gostou deste livro, Jesus o ajude nas Preces que
fizer em favor do nosso bondoso médium, e, se não gostou, seja condescendente: peça ao Mestre
que perdoe aquele que ousou escrevêlo e cuja intenção foi a melhor possível: para que, mirando
nos pelo Espelho da alma do querido Chico Xavier, e, sabendo, pelos seus Lindos Casos, como
vive e porque vive, o imitemos, dizendo, com o Irmão Aniceto, a Mensagem abaixo, que o
polígrafo de Pedro Leopoldo recebeu na tarde de 20/9/1949, quando mais sentia a responsabilidade
e a glória da sua aprendizagem:
* * *
Senhor, iluminanos a visão de trabalhadores imperfeitos.
Justo Juiz, ampara os criminosos e transviados.
Construtor Celeste, restaura as obras respeitáveis, ameaçadas pela destruição.
Divino Médico, salva os doentes.
Amigo dos Bons, regenera os maus.
Mensageiro da Luz, expulsa as trevas que ainda nos rodeiam.
Emissário da Sabedoria, esclarecenos a ignorância.
Dispensador do Bem, compadecete de nossos males.
Advogado dos Aflitos, reajusta os infelizes que provocam o sofrimento.
138 – Ramir o Gama
Sumo Libertador, emancipanos a mente, encarcerada em nossas próprias criações menos
dignas.
Benfeitor do Alto, estende compassivas mãos a todos aqueles que te desconhecem os
princípios de amor e trabalho, humildade e perdão, nas zonas inferiores da vida.
Senhor, eis aqui os teus servos incapazes. Cumprase em nós a tua vontade sábia e justa,
porque a nossa pequenez é tudo o que possuímos, para que, em Teu Nome, possamos operar a
nossa própria redenção, hoje, aqui e agora. Assim seja.
— Fim —
139 – LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER
CONVITE:
Convidamos você, que teve a opor tunidade de ler
livr emente esta obr a, a par ticipar da nossa campanha de
SEMEADURA DE LETRAS, que consiste em cada qual
compr ar um livr o espír ita, ler e depois presenteálo a
outr em, colabor ando assim na divulgação do Espir itismo
e incentivando as pessoas à boa leitur a.
www.luzespirita.org.br