Você está na página 1de 19

Recebido em 30/09/2017; Aceito em 02/04/2018; Publicado na web em 01/10/2018

Potencial de comercialização de
produtos florestais não madeireiros na
área de manejo da reserva extrativista
Tapajós Arapiuns Pará
45
Andrea Araújo da Silva1;
Lizandra Elizeário dos Santos2;
Girlene da Silva Cruz3;
Renato Bezerra da Silva Ribeiro4;
João Ricardo Vasconcelos Gama5;

1 Graduada em Engenharia florestal; E-mail: florestalandrea@gmail.com;

2 Mestranda em Ciências Florestais na Universidade Federal Rural da Amazônia; E-mail: lizandraeliziari@hotmail.com;

3 Mestranda em Engenharia Florestal na Universidade do Estado de Santa Catarina; E-mail: girlene.lenecruz@gmailemail.com;

4 Professor Assistente da Universidade Federal do Oeste do Pará; E-mail: florestalrenatoribeiro@gmail.com;

5 Professor Assistente da Universidade federal o Oeste do Pará; E-mail: jrvgams@gmail.com;

RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o potencial de produtos florestais não madeireiros de
espécies arbóreas em uma área na Resex Tapajós Arapiuns (RTA). Foram lançadas 202 par-
celas de 30m x 250m de forma sistemática, totalizando uma amostra de 151,50 ha. Foram
inventariadas todas as árvores com DAP ≥ 10 cm. Foi realizado análise de agrupamento e,
posteriormente, foi realizada a análise dos parâmetros fitossociológicos. A valoração dos
produtos foi obtida por meio de pesquisa de preços nas feiras livres de Santarém-PA. Após
análise de agrupamento, identificou-se a divisão da área em três grupos, sendo que o gru-
po três se destacou por apresentar 321 indivíduos nas 72 parcelas correspondendo a uma
densidade total de 5,79 árv.ha-1, distribuídas em 10 famílias botânicas. As espécies que ob-
tiveram os melhores números de frequência absoluta foram Tetragastris altissima (59,7%),
Bertholletia excelsa (44,4%), e Dipteryx odorata (27,8), compondo as três espécies mais pre-
sentes nas parcelas. O valor monetário dos produtos ficou estimado em R$ 229.068,00 com
destaque para Copaifera reticulata. Os resultados demostraram que a área apresenta poten-
cial de uso para muitas das espécies no estudo, porém destaca a necessidade de conserva-
ção desses recursos e a continuidade de estudos que abordem aspectos conservacionistas.

Palavras-chave: Unidade de conservação. Parâmetros fitossociológicos. Amazônia.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Potential for the commercialization
of non-wood products in the area
of management of the extra-plastic
reserve Tapajós Arapiuns Pará
46
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the potential of non-timber forest products of tree species
in an area in the Resex Tapajos Arapiuns. A total of 202 plots of 30m x 250m were systematically
recorded, totaling a sample of 151.50ha. We inventoried all trees with DBH ≥ 10 cm. A cluster
analysis was carried out and an analysis of the phytosociological parameters was performed. We
obtained the valuation of the products was by means of price research in the Santarem, Para State
free fairs. The cluster analysis identified the division of the area into three groups, and group three
stood out for presenting 321 individuals in 72 plots corresponding to a total density of 5.79 tree.
ha-1, distributed in 10 botanical families. The species that obtained the best absolute numbers
were Tetragastris altissima (59.7%), Bertholletia excelsa (44.4%) and Dipteryx odorata (27.8),
making up the three most present species in the plots. The monetary value of the products was
estimated at R $ 229,068.00, especially Copaifera reticulata. The results showed that the area
has potential for use in many of the species in the study, but emphasizes the need for conservation
of these resources and the continuity of studies that address conservation aspects.

Keywords: Conservation unit. Phytosociological parameters. Amazonia.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


1 INTRODUÇÃO sentação, execução e avaliação técnica de
Planos de Manejo Florestal Sustentável na
Manejar a floresta para obtenção de Pro-
Amazônia, não aborda os PFNMs de for-
dutos Florestais Não Madeireiros (PFNMs)
ma consistente e satisfatória (MACHADO,
é um grande desafio, pois isto implica na
2008). Acredita-se que uma das maiores di-
manutenção da diversidade biológica de es-
ficuldades na elaboração de legislação para
pécies animais e vegetais, atentando para o
esta temática esteja voltada especificamente
desenvolvimento de métodos e atividades 47
para as diferenças entre as formas de mane-
econômicas que não provoquem desequi-
jo, definindo os procedimentos apropriados
líbrio ecológico, buscando sempre alcançar
um desenvolvimento em bases realmente para cada espécie, tipos ou grupos de uso.

sustentáveis (MACHADO, 2008). Uma legislação federal específica para os

Os PFNMs ocupam lugar significativo na PFNM poderia ser o ideal, porém cada esta-
economia rural e regional em diversos paí- do estaria responsável por estabelecer suas
ses, além de proporcionar às comunidades próprias regulamentações sobre o manejo
rurais importantes recursos para a sua sub- destes produtos, disciplinando o seu uso,
sistência. O interesse das organizações não atentando-se ao não comprometimento
governamentais, institutos de pesquisa, com a regeneração natural e sobrevivên-
dentre outros, tem aumentado nos últimos cia das espécies. Um exemplo a citar no
tempos, proporcionando novas informa- Estado do Pará é a Instrução Normativa nº
ções sobre a importância de tais produtos 009/2013, que dispõe sobre a criação da
no contexto socioeconômico das popula- Declaração Ambiental e sobre o Relatório
ções, além dos efeitos sobre a conservação Ambiental Anual, como atos autorizativos
e o manejo das florestas (ALMEIDA, 2010). e instrumentos simplificados de controle

Um fator importante a mencionar nesse das atividades de manejo, extração e pro-

contexto é a ausência de legislação no âm- dução de palmito e frutos da espécie açaí,


bito federal que compete às particularidades realizados em florestas nativas de várzeas
dos PFNMs de maneira ampla e satisfató- por populações agroextrativistas no Estado
ria, estabelecendo procedimentos relativos do Pará (SEMA, 2014).
á implementação de planos de manejo, Cada produto extrativo possui suas carac-
atentando-se aos controles de exploração/ terísticas próprias, com especificidade dife-
colheita, transporte, armazenamento e co- rente quanto à regeneração, ao ciclo de ex-
mercialização de produtos e subprodutos tração, beneficiamento, mercado, estoque,
não madeireiros (MACHADO, 2008). organização social e econômica em que está
A Instrução Normativa nº 5, de 11 de de- inserido, esses são considerados como entra-
zembro de 2006, que dispõe sobre os pro- ves para realizar a generalização sobre os pro-
cedimentos técnicos para elaboração, apre- dutos não madeireiros (GUERRA et al. 2009).

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Nesse contexto, destaca-se a Reserva Extra- usadas, proporcionando o aumento de pro-
tivista Tapajós-Arapiuns, criada pelo Decre- dução, sem colocar em risco o equilíbrio
to presidencial s/n publicado em 09 de se- ambiental do ecossistema manejado. Atre-
tembro de 1998, com uma área de 647.610 lado a isso, além da falta de investimentos
ha, com 72 comunidades, totalizando mais em pesquisa, outro desafio é a dificuldade
de 3.000 moradores. A reserva é utilizada em quantificar, mensurar e agregar valores
pelas populações tradicionais, cuja subsis- nesses produtos de modo que venham inte-
48
tência baseia-se no extrativismo, objetivan- grar o capital na análise econômica em que
do proteger os meios de vida e a cultura os métodos de valoração desempenham
dessas populações, assegurando o uso sus- importante papel (GUERRA et al. 2009).
tentável dos recursos naturais da Unidade Por apresentar diversas formas de utiliza-
(IBAMA, 2014). ção, os PFNMs são elementos significativos
A utilização dos PFNM nesta Resex bene- da economia rural e regional em diversos
ficia diretamente as famílias envolvidas, países, proporcionando às comunidades
onde o extrativismo é uma prática constan- rurais importantes recursos para sua sub-
te. Atualmente os moradores desenvolvem sistência, como remédios, alimentos, além
seis cadeias produtivas em suas atividades, de serem fonte de renda e abrigo. Levando
tais como produção familiar, extração do isso em consideração, este estudo teve por
leite da seringa para confecção da manta objetivo avaliar o potencial de produtos
ecológica, turismo comunitário, artesana- florestais não madeireiros de espécies arbó-
tos, criação de abelhas sem ferrão, criação reas na área de manejo florestal da Resex
de peixe e, por fim, o uso de alguns produ- Tapajós Arapiuns.
tos florestais não madeireiros. No entanto,
vem sendo estudada a possibilidade de im- 2 MATERIAL E MÉTODOS
plementação do manejo florestal madeirei-
2.1 Área de Estudo
ro dentro da reserva.
Localizada na região oeste do Estado do
Dessa forma, nota-se a importância dos Pará, abrangendo os municípios de Santa-
PFNMs na vida de muitas comunidades rém e Aveiro, a Reserva Extrativista (Resex)
rurais. Além disso, é importante mencio- Tapajós Arapiuns ocupa uma área corres-
nar que os setores econômicos de muitas pondente a 647.610 ha, entre as coordena-
comunidades ficaram aquecidos, devido das geográficas 02°20’ a 03° 40’ Sul, e 55°
à crescente valoração e exploração destes 00’ a 56° 00’ Oeste. O Acesso à Reserva pode
produtos. Fielder et al. (2008) afirmam que ser feito por via fluvial, a partir de Santarém
apesar de todo o potencial, faltam pesqui- pelos rios Tapajós e Arapiuns (MMA, 2008).
sas sobre o manejo para a maioria dos pro- Os dados foram coletados na área destinada
dutos não madeireiros, elaboração de prá- ao Manejo Florestal da Resex que abrange,
ticas e técnicas adequadas que possam ser aproximadamente, 61.908,28 ha (Figura 1).

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Figura 1: Localização da Resex Tapajós Ara- 500 m de distância entre as parcelas, totali-
piuns e da área destinada ao manejo florestal. zando uma amostra de 151,50 ha (Figura 2).

Figura 2: Mapa de localização das parcelas


e das faixas de inventário florestal amos-
tral, Resex Tapajós Arapiuns.

49

O clima da região, pela classificação de


Köppen, é do tipo Am, com temperatura
média anual de 26 °C. A época de chuva
se estende durante os meses de novembro
Nas parcelas foram inventariadas as seguin-
a julho, porém a intensidade de chuvas
tes classes de tamanho (CT) e subparcelas
aumenta no trimestre de fevereiro a abril.
a saber: CT 1 – 10cm ≤ DAP < 25cm, em
O relevo varia de plano a suavemente on-
dulado. O solo que predomina na região subparcelas de 30 m x 50 m; CT 2 – 25cm
é Latossolo Amarelo. A vegetação predo- ≤ DAP < 50cm em subparcelas de 30m x
minante na Resex é de Floresta Ombrófila 100m; e CT 3 – DAP ≥ 50m nas parcelas de
Densa, ocorrendo em 88% da área total da 30m x 250m (Figura 3).
Unidade, sendo caracterizada por árvores Figura 3: Tamanho das parcelas e classes
de grande porte, presença de lianas lenho- de tamanho (CT) utilizadas no inventário
sas e epífitas em abundância (MMA, 2008).
florestal amostral, Resex Tapajós Arapiuns.
2.2 Amostragem e coleta dos dados
Foram abertas 9 faixas de inventário amos-
tral em intervalos de 4 km, totalizando
nove faixas, seguindo direção Leste-Oeste, e
com comprimento variando de 10 km a 28
km. Com isso foram lançadas 202 parcelas
de 30 m x 250 m de forma sistemática com

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


2.3. Análise dos Dados 1 indica não-agrupamento ou aleatório;
2.3.1 Capacidade produtiva de PFNM valor de P entre 1 e 1,5 indica tendência
Foi realizado uma análise de agrupamento a agrupamento; e se o valor de P for maior
utilizando distância euclidiana pelo méto- que 1,5 indica agrupamento.
do de Ward com a finalidade de agrupar
Com o intuito de obter conhecimento dos
unidades amostrais com maior homogenei-
principais PFNMs utilizados pelas comuni-
dade para separar áreas de maior e menor
50 dades da Resex, foi aplicado um questioná-
produção de PFNM na Resex. Para isso, fo-
rio para os comunitários com as seguintes
ram considerados como variáveis a densi-
perguntas: 1. Quais produtos PFNMs são uti-
dade e o número de espécies fornecedoras
lizados? 2. Qual a produção anual? 3. Qual a
de PFNM na área. Após definição dos gru-
destinação desses produtos? 4. Se vendidos,
pos, foi elaborado um mapa contendo as
qual valor? Quem comprou? 5. Qual par-
zonas de produção.
te da planta é utilizada? E para quais fins?
Após análise de agrupamento e separação
Para a avaliação de mercado desses produ-
das áreas de produção, foi realizado análi-
tos, foram coletadas informações nas feiras
se fitossociologia da área considerada mais
de Santarém, como Mercadão 2000, feira da
produtiva para os PFNM. Os índices utiliza-
Candilha e Cohab, através de questionário
dos na análise dos parâmetros fitossocioló-
com as seguintes perguntas: 1. Valor comer-
gicos da estrutura horizontal foram: densi-
cializado de cada espécie? 2. Quantidade
dade; frequência e dominância.
adquirida para venda? 3. Parte da planta
Para análise da estrutura da vegetação as comercializada? 4. Origem do produto? 5.
classes de tamanho, foram processadas Quais as espécies mais procuradas?
conjuntamente e os parâmetros fitossocio-
Para a valoração das espécies foi utilizada a
lógicos utilizados foram descritos por Cur-
tis e Mcintosh (1951). seguinte equação (GAMA, 2004):

Para avaliar o padrão de distribuição espa-


cial foi utilizado o índice de Payandeh, de-
finido por:

Em que: VMPFNM = valor monetário dos


PFNMs da i-ésima espécie comercializada,
em R$ UMF-1 (Unidade de Manejo Flores-
Em que: S²= Variância de número de árvores tal); PSi = produtividade média da i-ésima
da i-ésima espécie; Mi = média do número espécie que produz PFNM, em unidade de
de árvores da i-ésima espécie por unidade medida; NAi = número de árvores da i-ési-
de amostra. Se o valor de P for menor que ma espécie que produz PFNM (DAP ≥ 30

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


cm), em árv. UMF-1; PCi = preço de comercialização do PFNM da i-ésima espécie na flores-
ta, em R$ por unidade de medida.

A tabulação e processamento dos dados foram realizados por meio dos softwares
Excel 2010 e o R Studio 3.2.2 (DEVELOPMENT CORE TEAM, 2011).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram divididas 202 parcelas em três grupos distintos de densidade e número de espécies; 51

a divisão dos grupos a partir da linha de “fenon” traçada pelo próprio programa Plata-
forma R Studio foi feita a partir de uma análise do banco de dados, para melhor definir
grupos homogêneos e facilitar a escolha da área de extração dos produtos florestais não
madeireiros (Figura 4).

Figura 4: Dendrograma com 202 unidades amostrais, considerando número de ocorrên-


cia de espécies fornecedora de PFNM e densidade dos indivíduos com DAP ≥ 10 cm.

Após a divisão da área, o grupo 3 se destacou por apresentar 321 indivíduos nas 72 par-
celas correspondendo a uma densidade total de 5,79 árv.ha-¹, distribuídas em 10 famí-
lias botânicas. A família Fabaceaee destacou com maior número de espécies apresentando
quatro no total, seguida Euphorbiaceae e Lecythidaceae com duas espécies cada. As demais
famílias, Apocynaceae, Burseraceae, Caryocaraceae, Connaraceae, Humiriaceae, Lauraceae e
Moraceae apresentaram uma espécie cada. Em estudos realizados por Almeida et al. (2012),
no município de Santarém-PA e Guimarães e Carim (2008), assim como estudos de Ferra-
ro Junio Monteiro (2014), na Floresta Estadual do Amapá, apontam a Fabaceae como uma
das famílias com maior número de espécies não madeireiras.

Na região de Moju-PA, Almeida et al (2012) ostrou que, a família Fabaceae obteve uma
marcante presença, e concluiu que esse fato poderia estar associado às ações antrópicas que

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


provocam aberturas de clareiras, proporcionando condições ótimas para o desenvolvimen-
to de espécies dessa família que, provavelmente, apresenta alta plasticidade ecofisiológica.

A família Burseraceae se destacou com maior número de indivíduos (110), seguida da


Lecythidaceae (63) e Fabaceae (44) apresentando, juntas, um percentual de 58% dos in-
divíduos. Para Ferraro Junio Monteiro (2014), a Lecythidaceae foi a segunda família com
maior representatividade em seu estudo, uma vez que, segundo Stern e Molinari (2013),

52
a família em questão alça sua maior expressão nas florestas de terra firme da Amazônia
e a presença de muitas espécies dessa família pode ser considerada como indicadora de
florestas preservadas.

As espécies que compõe o grupo três são: Tetragastris altissima (Aubl.) Swart (Breu branco),
Bertholletia excelsa Bonpl. (Castanha do Pará), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Cumarú),
Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. (Uxi liso), Dalbergia monetaria L.f. (Verônica), Aspidosper-
ma carapanauba Pichon (Carapanaúba), Aniba canelilla (Kunth) Mez (Preciosa), Caryocar
villosum (Aubl.) Pers (Piquiá), Croton cajucara Benth. (Sacaca), Copaifera reticulata Ducke
(Copaíba), Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. (Seringueira), Lecythis pisonis
Cambess. (Sapucaia), Diplotropis sp. (Sucupira), Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby &
J.W.Grimes (Barbatimão), Brosimum parinarioides Ducke. (Amapá doce) (Tabela 1).

As espécies que se destacaram com maior número de indivíduos foram Breu branco (110),
seguido da Castanha do pará (50), Cumarú e Uxi liso com 26 indivíduos cada. A espécie
Breu branco se destacou em estudo de Stem e Molonari (2013) no estado do Amazo-
nas por ser mais abundante dentre as espécies estudadas. Tetragastris altissima apresentou
maior densidade absoluta de 3,14 árv.ha-¹, representando 21,39% do total, o que pode ser
explicado pelo estudo realizado por Costa (2006), em que afirma que essa espécie possui
grande habilidade competitiva. Os demais indivíduos apresentaram menos de 1 árv.ha-¹.
O valor mais expressivo de dominância foi observado na espécie Bertholletia excelsa com
0,25% seguido da espécie Caryocar villosum, com 0,14% de dominância (Tabela 1).

Tabela 1: Parâmetros fitos sociológicos em ordem decrescente de valor de importância


economicamente ampliado, Resex Tapajós Arapiuns.
Nome Vulgar Nome Científico Família DA FA DoA VIEA
Breu branco Tetragastris altissima (Aubl.) Swart Burseraceae 3,14 59,72 0,11 35,7
Castanha do
Bertholletia excelsa Bonpl. Lecythidaceae 0,48 44,44 0,25 14
Pará
Cumarú Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. Fabaceae 0,37 27,78 0,08 7,7
Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pers Caryocaraceae 0,19 26,39 0,14 7,3
Uxi liso Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. Humiriaceae 0,32 20,83 0,06 6,2
Carapanaúba Aspidosperma carapanauba Pichon Apocynaceae 0,24 22,22 0,08 6,2
Sapucaia Lecythis pisonis Cambess. Lecythidaceae 0,11 18,06 0,06 4

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Verônica Dalbergia monetaria L.f. Connaraceae 0,25 12,5 0,01 3,9
Preciosa Aniba canelilla (Kunth) Mez Lauraceae 0,2 11,11 0,01 3,5
Copaíba Copaifera reticulata Ducke Fabaceae 0,13 15,28 0,04 3,5
Sacaca Croton cajucara Benth. Euphorbiaceae 0,15 5,56 0,01 2,4
Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.)
Seringueira Euphorbiaceae 0,12 8,33 0,01 2,4
Müll.Arg.
Sucupira Diplotropis sp. Fabaceae 0,07 2,78 0 1,4
Amapá doce Brosimum parinarioides Ducke Moraceae 0,01 2,78 0,01 1
53
Abarema cochliacarpos (Gomes)
Barbatimão Fabaceae 0,02 1,39 0 0,7
Barneby & J.W.Grimes
Em que: DA = densidade absoluta, em árv. ha-¹; FA = frequência absoluta, em percentagem; DoA = dominância
absoluta, em m².ha-¹; VIEA = valor de importância economicamente ampliado.

As espécies que obtiveram os melhores números de frequência absoluta foram Tetragastris


altissima (59,7%), Bertholletia excelsa (44,4%), e Dipteryx odorata (27,8), representando as-
sim 21%, 16% e 10% do total respectivamente, compondo as três espécies mais presentes
nas parcelas. Dentre as espécies analisadas, as que obtiveram maiores índices VIEA fo-
ram: Tetragastris altissima (35,7%), seguida de Bertholletia excelsa (14,0%), Dipteryx odorata
(7,7%) e Caryocar villosum (7,3%), que juntas representaram 65% dos valores totais dos
parâmetros fitossociológicos analisados.

Considerando os resultados de densidade absoluta e frequência absoluta, Pinheiro (2011)


obteve resultado semelhante em seu estudo, onde a espécie Tetragastris altissima se desta-
cou com maiores valores nos parâmetros fitossociológicos.

3.2 Grupos de Uso


Segundo Gama et al. (2007), a avaliação do potencial florestal de um ecossistema ba-
seia-se, principalmente, nas informações sobre o valor desses produtos para a sociedade,
principalmente para as populações tradicionais. Na área inventariada, todas as 17 espécies
apresentaram pelo menos um único uso. As que se destacaram com maiores alternativas
de uso com comunitários da Resex foram, Dipteryx odorata, Caryocar villosum, Lecythis piso-
nis e Aniba canelilla. De acordo com informações de Almeida et al. (2012), em seu estudo
na região de Santarém-PA, a espécie Caryocar villosum também se destacou apresentando
cinco tipos de usos.

Na área de estudo, Dipteryx odorata apresentou sete tipos de uso, utilizando a semente
como aromatizantes e para fabricação de xaropes expectorantes no combate a gripes e
resfriados. Além desses, utiliza-se ainda a folha para banhos, a madeira para fabricação de
embarcações como canoas e barcos. A espécie ainda é muito utilizada pelas populações
tradicionais na culinária, como por exemplo, utilizam-se do óleo para fritar peixe, prato
tradicional na cultura da região.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Os efeitos terapêuticos proporcionados por fins medicinais, a casca passando por um
essa espécie são o motivo de sua vasta uti- processo de cozimento ajuda no tratamen-
lização, Bessa et al. (2001) afirmam que o to de diarreias, enquanto as folhas em chá
Cumarú desperta grande interesse em fun- ou infusão são usadas como diuréticos. Oli-
ção dos empregos a ela atribuídos na me- veira et al. (2006) citaram usos semelhantes
dicina popular. Na época de frutificação, para a espécie, acrescentando ainda a utili-
os comunitários vendem as sementes em zação da sapucaia no combate a coceiras,
54
feiras mais próximas localizadas em Santa- por meio de constantes banhos feitos a par-
rém. A venda é feita pelos próprios comuni- tir das folhas da planta.
tários, preferencialmente com as sementes
Nas comunidades da Resex é comum en-
secas para agregar mais valor ao produto.
contrar artesanatos confeccionados a partir
De acordo com o estudo, a espécie Caryo- do fruto lenhoso da sapucaia, muitos utili-
car villosum teve seis tipos de usos para os
zam até mesmo como recipiente. Lorenzi
comunitários da Resex Tapajós Arapiuns,
(2002) relata que o fruto faz parte de muitas
sendo utilizado principalmente como ali-
ornamentações de jardins botânicos tropi-
mento. Resultado semelhante encontrado
cais e o óleo é muito utilizado na medicina
por Morais (2011) onde 100% dos entre-
popular. Por ser bem utilizada em ornamen-
vistados em sua pesquisa relataram o maior
tações, a espécie é bem aceita no mercado
uso do fruto também como alimento. Na
local, sendo comum a prática de comércio
Resex Tapajós Arapiuns o Piquiá é utiliza-
do fruto, tanto para consumo da castanha
do ainda no tratamento de assaduras de
quanto para utilização em decorações.
crianças e na confecção de xaropes para
tratamentos internos como inflamações. É Aniba canelill, popularmente conhecida
comum os comunitários utilizarem os fru- como Preciosa, é amplamente distribuída
tos de Caryocar villosum para atrair caça, no estado do Pará e Amazonas, apresen-
montando armadilhas próximos onde há tando diversos usos (ALMEIDA, 2010). Na
ocorrência da espécie em época de frutifi- Resex, a espécie apresentou quatro tipos de
cação. Morais (2011) afirma que a polpa do uso, na medicina caseira a infusão da cas-
fruto do Piquiá é rica em vitamina A, B, B2, ca é utilizada para o tratamento de diarreia
B5 e cálcio, tornando uma composição nu- e estimulante do sistema nervoso. A flor
tricional importante na dieta alimentar das juntamente com a casca e folhas são cozi-
populações Amazônicas. das para banhos, ainda da casca é feito chá
Outra espécie em destaque é Lecythis piso- para consumo no café da manhã e também
nis, apresentando vários usos pelos mora- no combate a dores abdominais. Alguns
dores da Resex. Suas sementes são utiliza- comunitários realizam o comércio da cas-
das como alimento, pois são fontes ricas ca dessa espécie em feiras mais próximas,
em proteínas e fibras. É ainda utilizada para como Mercadão 2000.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


As espécies que apresentaram menores usos em proteínas vegetais com alto valor nutri-
na Resex foram: Diplotropis sp., Croton caju- tivo, sua utilização na culinária da região
çara, Bertholletia excelsa, Copaifera reticulata, é bem diversificada. Em épocas de colheita
Tetragastris altíssima, Abarema cochliacarpos. dos frutos, os comunitários aumentam a

Diplotropis sp. é amplamente utilizada para renda com a venda do produto tanto para

fins medicinais no combate a sífilis e dia- consumo como para o artesanato.


betes, sua madeira é bem aceita em marce- Entre as inúmeras espécies da flora brasi- 55
narias e carpintarias para fabricação de mó- leira com ação medicinal e que apresen-
veis (LORENZI, 2002). Na medicina caseira, tam substâncias químicas, cita-se o gênero
os comunitários da Resex utilizam o chá Copaifera, e dentre as inúmeras espécies
da flor de Sucupira no tratamento de dores que compõem esse gênero está a Copaife-
abdominais e enxaquecas, da semente são ra reticulata encontrada principalmente na
feitas garrafadas para infecções internas e Amazônia e na região nordeste do Brasil
xaropes no tratamento de gripes e resfria- (OLIVEIRA et al. 2006). Na área de estudo
dos, além de artesanatos. a espécie apresentou três grupos de uso,
Popularmente conhecida como Sacaca, a na medicina popular é amplamente utili-
espécie Croton cajuçara apresentou quatro zada pelos comunitários para vários tipos
tipos de uso no estudo. Das folhas são fei- de inflamações e age como cicatrizante e
tos banhos para mal olhado e utilizadas bactericida. Brito et al. (2001) relatam que
como aromatizante, o chá da casca serve a espécie se destaca em meios a tantas ou-
para limpar o intestino, além de ser utili- tras que apresentam efeitos medicinais e
zada para confecção de garrafadas para fins desperta crescente interesse pelo meio mé-
medicinais. Vieira (2011) apresenta outros dico. Toda a produção extraída é utilizada e
usos para a espécie: na medicina popular o comercializada contribuindo na renda dos
chá das folhas ou da casca serve para distúr- extrativistas.
bios hepáticos, renais e redução do coleste- Tetragastris altíssima, conhecida como Breu
rol, sendo que o chá das folhas é específi- branco, apresentou três tipos de usos na
co para baixar a taxa de açúcar das pessoas pesquisa, a resina é de grande importância
acometidas de diabetes. para os ribeirinhos para “calafetar” cano-
Bertholletia excelsa é uma das espécies mais as, processo necessário para impedir que a
valiosas da floresta amazônica de terra fir- água adentre na mesma durante sua utili-
ma, utilizada como fonte de alimentação e zação. Apresenta-se como aromatizante na
renda por várias gerações (COSTA, 2006). realização de defumações de ambientes, e
Apresentando-se com 3 tipos de uso na área na medicina popular são feitos banhos a
de estudo, a castanha do pará é usada, prin- partir da resina da planta para acalmar as
cipalmente, para fins alimentícios, a amên- dores de estômago e melhorar a circulação
doa presente no interior da semente é rica do sangue, utilização semelhante a encon-

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


trada por Procópio e Secco (2008). Além cie que apresentou maior valor monetário
desses usos, a prática do comércio da resina estimado foi Copaifera reticulata com R$
é bem comum na região. 72.900,00 com 15 indivíduos consideran-
Com as informações coletadas, a espécie do uma produção anual de 15 kg por árvore
Abarema cochliacarpos apresentou dois tipos numa área de 100 ha com 27 árvores.
de uso: a casca e as folhas são usadas para Com base nos estudos de Shanley e Gal-
banhos no tratamento de queimaduras, o
56 vão (2005), a produção anual da Copaifera
chá da casca é indicado para aliviar irrita-
reticulata varia de 100 mililitros a 70 litros
ções do estômago, além de possuir ativi-
por árvores. Picanço (2010) destaca que a
dade anti-inflamatória. Nos estudos de Po-
produção por indivíduo pode chegar até 50
zetti e Bernardi (2000), os resultados foram
litros. Azevedo et al. (2006) afirmam que a
semelhantes, o Barbatimão possui efeito
produção da Copaifera pode variar de acor-
cicatrizante sobre ferimentos e escoriações
cutâneas. Cita ainda que o extrato aquoso do com o solo, clima e a espécie.

da casca tem atividade protetora da muco- Nas feiras de Santarém-PA, Rego et al.
sa gástrica. Esse vegetal se apresenta como (2011) verificaram que a copaíba apresen-
promissor para o desenvolvimento de um tou maior renda atribuindo 25,25%, sendo
medicamento fitoterápico, porém são ne- um dos produtos mais vendidos. Costa et
cessários maiores estudos que validem esse
al. (2009) relatam que no município de Rio
potencial farmacológico.
Branco no Acre, a copaíba foi a espécie que
3.3 Mercado e valoração das espécies mais obteve sucesso dentro do mercado de
Não Madeireiras em Santarém-PA oleaginosas nativas, tanto pelo volume co-
Para a valoração dos produtos florestais não mercializado quanto pela venda, gerando
madeireiros, considerou-se uma área de 100 uma renda de R$ 33.499,573 em um ano.
ha e uma coleta anual dos produtos. Das
15 espécies no estudo foi realizado a valo- Na área de estudo, a espécie Dipteryx odo-

ração de apenas 4 delas, devido á carência rata apresentou um valor monetário de R$


de informações, principalmente voltado á 70.848,00 a partir da avaliação de 48 in-
produtividade por árvores. As espécies utili- divíduos com uma produção de 10 kg por
zadas para a valoração estão também entre árvore. Carvalho (2003) afirma que uma
aquelas que os comunitários mais utilizam, árvore de Cumarú pode produzir de 8 a 12
como: Copaifera reticulata, Dipteryx odorata, kg de sementes. Porém, essa produção de
Caryocar villosum e Bertholletia excelsa. frutos não é regular, em um ano há uma
O valor monetário dos produtos florestais boa produção e no ano seguinte essa oferta
não madeireiros dos 211 indivíduos distri- é reduzida, e ainda, de quatro em quatro
buídos nas quatro espécies citadas acima anos, a espécie oferece uma grande produ-
ficou estimado em R$ 229.068,00. A espé- ção de sementes (SILVA et al. 2013).

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


De acordo com Gonçalves (2001), a produ- está R$ 50,00 por litro, destacando-se como
ção do Cumarú sofre oscilação com a inci- uma das espécies mais importantes utili-
dência de chuvas, quando há uma maior zadas pelos comunitários da Resex e com
intensidade, há uma boa colheita, che- mercado promissor devido aos seus compo-
gando de 300 a 350 kg por árvore, quando nentes, utilizados na medicina popular.
ocorre poucas chuvas a produção diminui
Estudos sobre valoração realizados por Pi-
para 30 kg/árvore.
nheiro (2011) na região do Baixo Tapajós,
57
Em 2010 nas feiras de Santarém, a semen- no estado do Pará, de produtos florestais
te de Cumarú era comercializada em média madeireiro e não madeireiro, a espécie Ber-
R$ 7,50 kg (GONÇALVES et al. 2012). Atu- tholletia excelsa apresentou valor monetário
almente, a forma mais comum de venda é de R$ 630,00 em uma área de 80 ha com
em pequena quantidade (15 sementes) cor- 14 indivíduos, valor inferior ao encontrado
respondendo em média 20 a 30 g no valor neste estudo, que apresentou um valor mo-
de R$ 3,00. No município de Monte Alegre, netário de R$ 19.320,00, com 92 indivíduos
Rayol et al. (2013) verificaram que a espécie com uma produção anual de 15 kg por árvo-
foi considerada a mais representativa em re em uma área de 100 ha. Essa diferença se
Sistemas Agroflorestais, sendo componente deu provavelmente pela diferença do tama-
importante desse sistema. Em Santarém, a nho da área, do número de indivíduos, e o
espécie foi indicada para enriquecer a vege- valor de venda do produto serem inferiores.
tação (GAMA; PINHEIRO, 2010).
Segundo Shanley e Galvão (2005), a produ-
Assim como as demais espécies citadas, ção média anual de uma castanheira é em
Caryocar villosum também se destaca com torno de 29 ouriços, contendo, aproxima-
um bom mercado na região: com uma pro- damente, 16 castanhas cada. De modo ge-
dução de 30 litros de óleo/árvore, na área de ral, uma árvore produz, por ano, em torno
estudo, a espécie apresentou um valor mone- de 470 sementes que equivale a 4 kg de cas-
tário de R$ 66.000,00 a partir da valoração de tanhas. Tonini et al. (2008), em estudos na
44 indivíduos. A forma de comércio mais uti- região do Acre, constataram uma produção
lizada pelos feirantes no Mercadão 2000 é a média por árvore de 5,4 kg de sementes.
venda do produto fracionado. São vendidos
Essa variação de produção acontece devi-
frascos contendo de 30 a 100 mL, nos valores
do à produção de ouriço variar tanto entre
de R$ 2,00 e R$ 5,00 respectivamente.
árvores como entre anos. Almeida (2010)
De acordo com Almeida (2010), nas feiras afirma que esse comportamento ocorre
de Santarém, o litro do óleo do Piquiá che- devido a autoecologia da espécie, apresen-
gou a ser comercializado no valor de R$ tando alta produção em um ano, e baixa
22,22, sendo um dos produtos mais rentá- produção no ano seguinte. Quanto à co-
veis no estudo. No presente estudo, o valor mercialização, nas pesquisas realizadas nas
de comercialização do produto nas feiras feiras de Santarém, a espécie atingiu o valor

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


de R$ 14,00 kg. Santos et al. (2002) afirmam que na região do Acre o preço mais ocorrente
na época da safra foi de R$ 3,50 por lata que representa em média 10 kg de castanha.

Das 15 espécies, apenas duas não foram constatadas nas feiras na realização da pesquisa
de mercado, entre elas, Endopleura uchi e Hevea brasiliensis. E apenas a Bertholletia excelsa
não apresentou uso medicinal, nas demais constatou-se tanto uso medicinal como outros
usos. O local com maior variedade de espécies e produtos foi o Mercadão 2000, por ser o
58 ambiente onde ocorre um maior fluxo de pessoas e por ser mais próximo do porto, local
de embarque e desembarque de pessoas que chegam de vários lugares da região.

A compra das sementes, cascas, óleos, leite, resina dessas espécies é feita durante todo o
ano, algumas com maiores quantidades e frequência em épocas específicas, como o Piquiá,
Sapucaia, Cumarú, Castanha do pará e Uxi liso. Devido a isso, os feirantes praticam o es-
toque desses produtos para comercializar na entressafra, agregando mais valor ao produto
comercializado. Com isso, o mercado local acaba determinando os preços pelo excesso ou
escassez do produto, ou seja, a demanda acaba determinando o preço de cada produto.

Foi observado que entre as espécies estudadas, as que se destacaram no que se refere á
procura pelos clientes foram Bertholletia excelsa, Dipteryx odorata, Brosimum parinarioides,
Copaifera reticulata, Caryocar villosum, Lecythis pisonis e Diplotropis sp. A Copaíba e Cumarú
também foram destaque no estudo de Gonçalves et al. (2012), sendo os produtos mais re-
presentativos em função da sua importância medicinal reconhecida. A tabela 2 apresenta
os valores baseados nas informações repassadas pelos feirantes com os respectivos valores
comercializados e a origem de cada produto.

Tabela 2: Valor monetário dos produtos florestais não madeireiros em 2016, que possuem
mercado em Santarém-Pará.
Parte da
Espécie R$ Unidade Origem
planta
Castanha do Uruará/Resex Tapajós Arapiuns/Flona
14,00/kg kg Semente
Pará Tapajós
Piquiá 20,00/L L Óleo Resex Tapajós Arapiuns/Rio Arapiuns
Breu branco 5,00/kg kg Resina Resex Tapajós Arapiuns/ Rio Arapiuns
Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio
Carapanaúba 3,00/pacote Pacote Casca
Arapiuns
Sapucaia 3,00/pacote Pacote Casca Resex Tapajós Arapiuns/Rio Arapiuns
2,00/15 Resex/Rio Arapiuns/Com. em torno de
Cumarú Pacote Semente
sementes Santarém
Uxi liso - - - -
Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio
Copaíba 5,00/L L Óleo
Arapiuns

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


Verônica 3,00/pacote Pacote Casca Rio Arapiuns

Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio


Preciosa 3,00/pacote Pacote Casca
Arapiuns

Seringueira - - - -

Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio


Amapá doce 5,00/L L Seiva
Arapiuns
59
Sacaca 2,00/ Pacote Casca Rio Arapiuns

Barbatimão 3,00/pacote Pacote Casca Rio Arapiuns

3,00/15
Sucupira Pacote Semente Com. em torno de Santarém/Rio Arapiuns
sementes

A maioria dos feirantes adquirem os produtos nas comunidades ribeirinhas, em torno de


Santarém (Planalto) e ao longo da BR-163, alguns vão a outros estados como Maranhão
para comprar óleos de Copaíba e Piquiá, por ser mais barato, garantindo um melhor lucro
nas vendas. Têm ainda aqueles que levam os produtos para serem comercializados em
outras cidades, fazendo escalas nos municípios.

Os óleos e seivas são comercializados desde a pequena quantidade de 200 Ml até um litro,
já as cascas são em pequenos pacotes contendo de 200 g a 300 g cada, no caso das semen-
tes os pacotes podem conter de 10 a 15 unidades. O valor de venda de um frasco de óleo
com 200 mL de qualquer espécie é no valor de R$ 5,00 cada, quando se trata da venda
em litros, o valor é diferenciado, variando de R$ 40,00 a R$ 50,00 o litro dependendo da
época e da espécie. Os pacotes contendo sementes ou cascas são comercializados no valor
de R$ 3,00 cada.

4 CONCLUSÕES
A maioria das espécies encontradas no inventário apresentaram potencial de uso variado,
demonstrando a importância dos recursos naturais florestais para as comunidades da Re-
sex Tapajós Arapiuns.

Dentre as espécies que mais agregam valor na área da Resex é a Copaifera reticulata, seguida
da espécie Dipteryx odorata, que apresenta oferta de frutos de forma irregular, destacando
a necessidade de conservação desses recursos e continuidade de estudos que abordam
aspectos conservacionistas.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L.S. Produtos florestais não madeireiros em área manejada: análise de uma
comunidade na região de influência da BR 163, Santarém, Estado do Pará. 2010. 128 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal Rural da Amazônia,
UFRA, Belém, 2010.

ALMEIDA, L.S.; GAMA, J.R.V.; OLIVEIRA, F.A.; CARVALHO, O.P.; GONÇALVES, D.C.M.;
60 ARAÚJO, G.C. Fitossociologia e uso múltiplo de espécies arbóreas em Floresta manejada,
Comunidade Santo Antônio, município de Santarém, Estado do Pará. Floresta e Ambien-
te, v. 42, p. 185-194, 2012.

AZEVEDO, O.C.R.; WADT, P.G.; WADT, L.H.O. Potencial de produção de óleo-resina de


copaíba (Copaifera spp) de populações naturais do sudoeste da Amazônia. Revista Árvo-
re, v.30, n.4, p. 583-591, 2006.

BESSA, D.T.O.; MENDONÇA, M.S.; ARAÚJO, M.G.P. Morfoanatomia de sementes de Dip-


terys odorata (Aubl) Will. (Fabaceae) como contribuição ao estudo farmacognóstico de
plantas da região amazônica. Acta Amazônica, v. 31, n. 3, p. 357-365, 2001.

BRITO, N.M.B.; SILVA, P.R.F.S.; SILVA, G.C.F.; CASELLA, S.F.M.; SAMPAIO, A. R.S.; CARVA-
LHO, R.A. Avaliação macroscópica de feridas cutâneas abertas em ratos tratadas com óleo
de andiroba. Revista Paraense de Medicina, v. 15, n. 2, p. 17-22, 2001.

CARVALHO, P.E.R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, poten-


cialidades e uso de madeira. EMBRAPA, p. 640, 2003.

COSTA, S.C.C. Dinâmica populacional de Protium pallidum Cuatrec. (Breu Branco) em uma
floresta tropical de terra-firme explorada seletivamente no estado do Pará, Brasil. 2006.
56 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Belém, 2006.

COSTA, J.R.; CASTRO, A.B.C.; WANDELL, E.V.; CORAL, S.C.T.; SOUSA, S.A.G. Aspectos sil-
viculturais da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) em sistemas agroflorestais na Ama-
zônia Central. Acta Amazônica. v. 39, n. 4, p. 843-850, 2009.

CURTIS, J.T.; MCINTOSH. An upland forest continuum in the prairie-forest border region
of Wisconsin. Ecology, v. 32, p. 476 - 496, 1951.

FIELDER, N.C.; SOARES, T.S.; SILVA.G.F. Produtos Florestais Não Madeireiro: Importância e
Manejo Sustentável da Floresta. Ciências Exatas e Naturais, v. 10 n. 2, p. 263 – 278, 2008.

GAMA, J.R.V. Proposta metodológica para avaliação monetária de produto florestal


madeireiro e não madeireiro. Relatório Técnico. Carajás: IAVRD/Salobo Metais, p.7, 2004.

GAMA, J.R.V.; PINHEIRO, J.C. Inventário florestal para adequação ambiental da fazenda Santa
Rita, município de Santarém, estado do Pará. Revista Floresta, v. 40, n. 3, p. 585-592, 2010.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


GAMA, J.R.V.; SOUZA, A.L.; CALEGÁRIO, N.; LANA, G.C. Fitossociologia de duas fitoce-
noses de floresta ombrófila aberta no município de Codó, Estado do Maranhão. Revista
Árvore, v.31, p. 465-477, 2007.

GONÇALVES, D.C.M.; GAMA, J.R.V.; OLIVEIRA, F.A.; OLIVEIRA JUNIOR, R.C.; ARAÚJO,
G.C.; ALMEIDA, L.S. Aspectos Mercadológicos dos Produtos não Madeireiros na Econo-
mia de Santarém-Pará, Brasil. Floresta e Ambiente, v. 19, n. 1, p.9-16, 2012.

GONÇALVES, V.A. Levantamento de Mercado de Produtos Florestais Não Madeireiros: 61

Floresta Nacional do Tapajós. Santarém: IBAMA, Pro Manejo, p. 65, 2001.

GUERRA, F.G.P; SANTOS, A.Q.; SANTOS, A.J.; SANQUETTA, C.R; BITTENCOURT, A.M.;
ALMEIDA, A. N. Quantificação e valoração de produtos florestais não-madeireiros. Revis-
ta Floresta, v. 39, n. 2, p. 431-439, 2009.

GUIMARÃES, J.R.G.; CARIM, M.J.V. Análise fitossociológica e florística em três hectares


de Floresta Tropical Ombrófila Densa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio
Iratapuru. Pesquisa e Iniciação científica. v. 1, p. 32-34, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁ-


VEIS – IBAMA (2014). Plano de Manejo: Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Brasília
- DF, v. 1, 2014, 67p.

FERRARO JUNIOR, N.; MONTEIRO, M.O. Fitossociologia arbórea do módulo IV da flo-


resta estadual do Amapá. Meio Ambiente e Sustentabilidade. v.4, n.3, p. 273-288, 2014.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóre-


as nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. v.1, 368 p.

MACHADO, F.S. Manejo de Produtos Florestais Não Madeireiros: um manual com su-
gestões para o manejo participativo em comunidades da Amazônia. Rio Branco: PESACRE
e CIFOR, p. 105, 2008.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.


br/florestas/manejoflorestalsustent%C3%A1vel/produtosadeireiros-e-n%C3%A3o-madei-
reiros>. Acesso em: 10 de jul. 2014.

MORAIS, R.P. Conservação socio-ambiental do Piquiá (Caryocar villosum (Aubl.) Pers.)


na região dos lagos Parú e Calado, no município de Manacapuru-AM. 2011. 97f. Dis-
sertação- Universidade Federal do Amazonas/UFAM, 2011.

OLIVEIRA, E.C.P.; LAMEIRA, O.A.; ZOGHBI, M.G.B. Identificação da época de coleta do


óleo resina de Copaíba (Copaifera spp.) no município de Moju, PA. Revista Brasileira de
Plantas Medicinais, v.8, n.3, p.14-23, 2006.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


OLIVEIRA, A.F.; CARVALHO, D.; ROSADO, S.C.S. Taxa de cruzamento e sistema repro-
dutivo de uma população natural de Copaifera ssp. no município de Moju, PA. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais, v. 8, n. 3, p. 14-23, 2006.

PICANÇO, A.E.L. Estrutura populacional, produção e biometria de frutos e sementes


de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.) na Resex rio cajarí sul do estado do
Amapá. (Monografia) - Universidade do Estado do Amapá/UEAP, Macapá 2010.
62
PINHEIRO, J.C. Fitossociologia e expectativa de renda com produto florestal em pro-
jeto de assentamento na região do baixo tapajós, Estado do Pará. Dissertação (Mestra-
do em Ciências Florestais) - Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Belém, 2011.

POZETTI, G.L.; BERNARDI, A.C. Contribuição ao estudo químico de Maytenus pruniosa


Trec. Revista da Faculdade de Farmácia e Odontologia. v. 5. n 2, p. 189-193. 2000.

PROCÓPIO, L.C.; SECCO, R. S. A importância da identificação botânica nos inventários


florestais: o exemplo do “Tauarí” (Couratari spp. e Cariniana spp. - Lecythidaceae) em duas
áreas manejadas no estado do Pará. Acta amazônica, Manaus, v. 38, n. 1, p. 31-44, 2008.

R Development Core Team. (2011) R: A Language and Environment for Statistical Com-
puting. Vienna, Austria: the R Foundation for Statistical Computing. ISBN: 3-900051-07-
0. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acesso em: 01 jun. 2016

RAYOL, B.P.; ALVINO-RAYOL, F.O.; SILVA, A.A. Caracterização de Sistemas Agroflorestais


manejados no município de Monte Alegre, Pará. In: VIII Congresso Brasileiro de Agroeco-
logia. Cadernos de Agroecologia, v.8, n.2, p. 5, 2013.

REGO, L.J.S.; ELLY, M.P.; GARCIA, B.N.; BARBOSA. H.F.; VIEIRA, T.A. Produtos florestais
não-madeireiros comercializados em feiras de Santarém, Pará. Cadernos de Agroecolo-
gia, v. 6, n. 2, 2011.

SANTOS, A.J.; HILDEBRAND, E.; PACHECO. C.H.P.; PIRES, P.T.L.; ROCHADELLI. R. Produ-
tos não madeireiros: conceituação, classificação, valoração e mercados. Revista Floresta,
v. 33, n. 2, p. 215-224, 2002.

SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE (SEMA), 2014. Disponível em: <http://www.


sema.pa.gov.br/2013/12/30/instrucao-normativa-no-0092013/>. Acesso em: 16 jul. 2014.

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE - SEMAS. Instrução Normativa,


N° 009/2013.

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE – SEMAS. Instrução Normativa,


N° 005/2006.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018


SILVA, A. P. F. F; GAMA, M. de M. Fitossociologia de uma floresta ombrófila aberta em área
de assentamento rural no distrito de Jaci Paraná, Porto Velho, Rondônia. Ambiência: re-
vista do setor de Ciências Agrárias e Ambientais 4 (3): 343-352, 2013.

SHANLEY, P.; GALVÃO, G. Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pres. In: Shanley P, Medina, G.
Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. Imazon. p. 123-132, 2005.

STERN, R.; MOLINARI, D.C. Aspectos fitossociológicos da vegetação em área verde na


zona leste de Manaus: conjunto cidadão IX (amazonas). Revista Geonorte, v.8, n.1, 63
p.141-155, 2013.

TONINI, H.; KAMINSKI, P.E.; COSTA, P.; SCHWENGBER, L.A.M. Estrutura populacional
e produção de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.) e andiroba (Carapa sp.)
no Sul de Estado de Roraima. Projeto Kamukaia, EMBRAPA. 2008.

VIEIRA, P.M. Análise do processo extrativista do cipó-imbé (Philodendron corcovadense Kun-


th - Araceae), 2011, 25 f. (Monografia) - Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC,
Florianópolis, 2011.

ACTA TECNOLÓGICA v.13, nº 1, 2018

Você também pode gostar