Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Potencial de comercialização de
produtos florestais não madeireiros na
área de manejo da reserva extrativista
Tapajós Arapiuns Pará
45
Andrea Araújo da Silva1;
Lizandra Elizeário dos Santos2;
Girlene da Silva Cruz3;
Renato Bezerra da Silva Ribeiro4;
João Ricardo Vasconcelos Gama5;
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o potencial de produtos florestais não madeireiros de
espécies arbóreas em uma área na Resex Tapajós Arapiuns (RTA). Foram lançadas 202 par-
celas de 30m x 250m de forma sistemática, totalizando uma amostra de 151,50 ha. Foram
inventariadas todas as árvores com DAP ≥ 10 cm. Foi realizado análise de agrupamento e,
posteriormente, foi realizada a análise dos parâmetros fitossociológicos. A valoração dos
produtos foi obtida por meio de pesquisa de preços nas feiras livres de Santarém-PA. Após
análise de agrupamento, identificou-se a divisão da área em três grupos, sendo que o gru-
po três se destacou por apresentar 321 indivíduos nas 72 parcelas correspondendo a uma
densidade total de 5,79 árv.ha-1, distribuídas em 10 famílias botânicas. As espécies que ob-
tiveram os melhores números de frequência absoluta foram Tetragastris altissima (59,7%),
Bertholletia excelsa (44,4%), e Dipteryx odorata (27,8), compondo as três espécies mais pre-
sentes nas parcelas. O valor monetário dos produtos ficou estimado em R$ 229.068,00 com
destaque para Copaifera reticulata. Os resultados demostraram que a área apresenta poten-
cial de uso para muitas das espécies no estudo, porém destaca a necessidade de conserva-
ção desses recursos e a continuidade de estudos que abordem aspectos conservacionistas.
Os PFNMs ocupam lugar significativo na PFNM poderia ser o ideal, porém cada esta-
economia rural e regional em diversos paí- do estaria responsável por estabelecer suas
ses, além de proporcionar às comunidades próprias regulamentações sobre o manejo
rurais importantes recursos para a sua sub- destes produtos, disciplinando o seu uso,
sistência. O interesse das organizações não atentando-se ao não comprometimento
governamentais, institutos de pesquisa, com a regeneração natural e sobrevivên-
dentre outros, tem aumentado nos últimos cia das espécies. Um exemplo a citar no
tempos, proporcionando novas informa- Estado do Pará é a Instrução Normativa nº
ções sobre a importância de tais produtos 009/2013, que dispõe sobre a criação da
no contexto socioeconômico das popula- Declaração Ambiental e sobre o Relatório
ções, além dos efeitos sobre a conservação Ambiental Anual, como atos autorizativos
e o manejo das florestas (ALMEIDA, 2010). e instrumentos simplificados de controle
49
A tabulação e processamento dos dados foram realizados por meio dos softwares
Excel 2010 e o R Studio 3.2.2 (DEVELOPMENT CORE TEAM, 2011).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram divididas 202 parcelas em três grupos distintos de densidade e número de espécies; 51
a divisão dos grupos a partir da linha de “fenon” traçada pelo próprio programa Plata-
forma R Studio foi feita a partir de uma análise do banco de dados, para melhor definir
grupos homogêneos e facilitar a escolha da área de extração dos produtos florestais não
madeireiros (Figura 4).
Após a divisão da área, o grupo 3 se destacou por apresentar 321 indivíduos nas 72 par-
celas correspondendo a uma densidade total de 5,79 árv.ha-¹, distribuídas em 10 famí-
lias botânicas. A família Fabaceaee destacou com maior número de espécies apresentando
quatro no total, seguida Euphorbiaceae e Lecythidaceae com duas espécies cada. As demais
famílias, Apocynaceae, Burseraceae, Caryocaraceae, Connaraceae, Humiriaceae, Lauraceae e
Moraceae apresentaram uma espécie cada. Em estudos realizados por Almeida et al. (2012),
no município de Santarém-PA e Guimarães e Carim (2008), assim como estudos de Ferra-
ro Junio Monteiro (2014), na Floresta Estadual do Amapá, apontam a Fabaceae como uma
das famílias com maior número de espécies não madeireiras.
Na região de Moju-PA, Almeida et al (2012) ostrou que, a família Fabaceae obteve uma
marcante presença, e concluiu que esse fato poderia estar associado às ações antrópicas que
52
a família em questão alça sua maior expressão nas florestas de terra firme da Amazônia
e a presença de muitas espécies dessa família pode ser considerada como indicadora de
florestas preservadas.
As espécies que compõe o grupo três são: Tetragastris altissima (Aubl.) Swart (Breu branco),
Bertholletia excelsa Bonpl. (Castanha do Pará), Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Cumarú),
Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. (Uxi liso), Dalbergia monetaria L.f. (Verônica), Aspidosper-
ma carapanauba Pichon (Carapanaúba), Aniba canelilla (Kunth) Mez (Preciosa), Caryocar
villosum (Aubl.) Pers (Piquiá), Croton cajucara Benth. (Sacaca), Copaifera reticulata Ducke
(Copaíba), Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. (Seringueira), Lecythis pisonis
Cambess. (Sapucaia), Diplotropis sp. (Sucupira), Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby &
J.W.Grimes (Barbatimão), Brosimum parinarioides Ducke. (Amapá doce) (Tabela 1).
As espécies que se destacaram com maior número de indivíduos foram Breu branco (110),
seguido da Castanha do pará (50), Cumarú e Uxi liso com 26 indivíduos cada. A espécie
Breu branco se destacou em estudo de Stem e Molonari (2013) no estado do Amazo-
nas por ser mais abundante dentre as espécies estudadas. Tetragastris altissima apresentou
maior densidade absoluta de 3,14 árv.ha-¹, representando 21,39% do total, o que pode ser
explicado pelo estudo realizado por Costa (2006), em que afirma que essa espécie possui
grande habilidade competitiva. Os demais indivíduos apresentaram menos de 1 árv.ha-¹.
O valor mais expressivo de dominância foi observado na espécie Bertholletia excelsa com
0,25% seguido da espécie Caryocar villosum, com 0,14% de dominância (Tabela 1).
Na área de estudo, Dipteryx odorata apresentou sete tipos de uso, utilizando a semente
como aromatizantes e para fabricação de xaropes expectorantes no combate a gripes e
resfriados. Além desses, utiliza-se ainda a folha para banhos, a madeira para fabricação de
embarcações como canoas e barcos. A espécie ainda é muito utilizada pelas populações
tradicionais na culinária, como por exemplo, utilizam-se do óleo para fritar peixe, prato
tradicional na cultura da região.
Diplotropis sp. é amplamente utilizada para renda com a venda do produto tanto para
da casca tem atividade protetora da muco- Nas feiras de Santarém-PA, Rego et al.
sa gástrica. Esse vegetal se apresenta como (2011) verificaram que a copaíba apresen-
promissor para o desenvolvimento de um tou maior renda atribuindo 25,25%, sendo
medicamento fitoterápico, porém são ne- um dos produtos mais vendidos. Costa et
cessários maiores estudos que validem esse
al. (2009) relatam que no município de Rio
potencial farmacológico.
Branco no Acre, a copaíba foi a espécie que
3.3 Mercado e valoração das espécies mais obteve sucesso dentro do mercado de
Não Madeireiras em Santarém-PA oleaginosas nativas, tanto pelo volume co-
Para a valoração dos produtos florestais não mercializado quanto pela venda, gerando
madeireiros, considerou-se uma área de 100 uma renda de R$ 33.499,573 em um ano.
ha e uma coleta anual dos produtos. Das
15 espécies no estudo foi realizado a valo- Na área de estudo, a espécie Dipteryx odo-
Das 15 espécies, apenas duas não foram constatadas nas feiras na realização da pesquisa
de mercado, entre elas, Endopleura uchi e Hevea brasiliensis. E apenas a Bertholletia excelsa
não apresentou uso medicinal, nas demais constatou-se tanto uso medicinal como outros
usos. O local com maior variedade de espécies e produtos foi o Mercadão 2000, por ser o
58 ambiente onde ocorre um maior fluxo de pessoas e por ser mais próximo do porto, local
de embarque e desembarque de pessoas que chegam de vários lugares da região.
A compra das sementes, cascas, óleos, leite, resina dessas espécies é feita durante todo o
ano, algumas com maiores quantidades e frequência em épocas específicas, como o Piquiá,
Sapucaia, Cumarú, Castanha do pará e Uxi liso. Devido a isso, os feirantes praticam o es-
toque desses produtos para comercializar na entressafra, agregando mais valor ao produto
comercializado. Com isso, o mercado local acaba determinando os preços pelo excesso ou
escassez do produto, ou seja, a demanda acaba determinando o preço de cada produto.
Foi observado que entre as espécies estudadas, as que se destacaram no que se refere á
procura pelos clientes foram Bertholletia excelsa, Dipteryx odorata, Brosimum parinarioides,
Copaifera reticulata, Caryocar villosum, Lecythis pisonis e Diplotropis sp. A Copaíba e Cumarú
também foram destaque no estudo de Gonçalves et al. (2012), sendo os produtos mais re-
presentativos em função da sua importância medicinal reconhecida. A tabela 2 apresenta
os valores baseados nas informações repassadas pelos feirantes com os respectivos valores
comercializados e a origem de cada produto.
Tabela 2: Valor monetário dos produtos florestais não madeireiros em 2016, que possuem
mercado em Santarém-Pará.
Parte da
Espécie R$ Unidade Origem
planta
Castanha do Uruará/Resex Tapajós Arapiuns/Flona
14,00/kg kg Semente
Pará Tapajós
Piquiá 20,00/L L Óleo Resex Tapajós Arapiuns/Rio Arapiuns
Breu branco 5,00/kg kg Resina Resex Tapajós Arapiuns/ Rio Arapiuns
Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio
Carapanaúba 3,00/pacote Pacote Casca
Arapiuns
Sapucaia 3,00/pacote Pacote Casca Resex Tapajós Arapiuns/Rio Arapiuns
2,00/15 Resex/Rio Arapiuns/Com. em torno de
Cumarú Pacote Semente
sementes Santarém
Uxi liso - - - -
Resex Tapajós Arapiuns/Flona Tapajós/Rio
Copaíba 5,00/L L Óleo
Arapiuns
Seringueira - - - -
3,00/15
Sucupira Pacote Semente Com. em torno de Santarém/Rio Arapiuns
sementes
Os óleos e seivas são comercializados desde a pequena quantidade de 200 Ml até um litro,
já as cascas são em pequenos pacotes contendo de 200 g a 300 g cada, no caso das semen-
tes os pacotes podem conter de 10 a 15 unidades. O valor de venda de um frasco de óleo
com 200 mL de qualquer espécie é no valor de R$ 5,00 cada, quando se trata da venda
em litros, o valor é diferenciado, variando de R$ 40,00 a R$ 50,00 o litro dependendo da
época e da espécie. Os pacotes contendo sementes ou cascas são comercializados no valor
de R$ 3,00 cada.
4 CONCLUSÕES
A maioria das espécies encontradas no inventário apresentaram potencial de uso variado,
demonstrando a importância dos recursos naturais florestais para as comunidades da Re-
sex Tapajós Arapiuns.
Dentre as espécies que mais agregam valor na área da Resex é a Copaifera reticulata, seguida
da espécie Dipteryx odorata, que apresenta oferta de frutos de forma irregular, destacando
a necessidade de conservação desses recursos e continuidade de estudos que abordam
aspectos conservacionistas.
ALMEIDA, L.S.; GAMA, J.R.V.; OLIVEIRA, F.A.; CARVALHO, O.P.; GONÇALVES, D.C.M.;
60 ARAÚJO, G.C. Fitossociologia e uso múltiplo de espécies arbóreas em Floresta manejada,
Comunidade Santo Antônio, município de Santarém, Estado do Pará. Floresta e Ambien-
te, v. 42, p. 185-194, 2012.
BRITO, N.M.B.; SILVA, P.R.F.S.; SILVA, G.C.F.; CASELLA, S.F.M.; SAMPAIO, A. R.S.; CARVA-
LHO, R.A. Avaliação macroscópica de feridas cutâneas abertas em ratos tratadas com óleo
de andiroba. Revista Paraense de Medicina, v. 15, n. 2, p. 17-22, 2001.
COSTA, S.C.C. Dinâmica populacional de Protium pallidum Cuatrec. (Breu Branco) em uma
floresta tropical de terra-firme explorada seletivamente no estado do Pará, Brasil. 2006.
56 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, Belém, 2006.
COSTA, J.R.; CASTRO, A.B.C.; WANDELL, E.V.; CORAL, S.C.T.; SOUSA, S.A.G. Aspectos sil-
viculturais da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) em sistemas agroflorestais na Ama-
zônia Central. Acta Amazônica. v. 39, n. 4, p. 843-850, 2009.
CURTIS, J.T.; MCINTOSH. An upland forest continuum in the prairie-forest border region
of Wisconsin. Ecology, v. 32, p. 476 - 496, 1951.
FIELDER, N.C.; SOARES, T.S.; SILVA.G.F. Produtos Florestais Não Madeireiro: Importância e
Manejo Sustentável da Floresta. Ciências Exatas e Naturais, v. 10 n. 2, p. 263 – 278, 2008.
GAMA, J.R.V.; PINHEIRO, J.C. Inventário florestal para adequação ambiental da fazenda Santa
Rita, município de Santarém, estado do Pará. Revista Floresta, v. 40, n. 3, p. 585-592, 2010.
GONÇALVES, D.C.M.; GAMA, J.R.V.; OLIVEIRA, F.A.; OLIVEIRA JUNIOR, R.C.; ARAÚJO,
G.C.; ALMEIDA, L.S. Aspectos Mercadológicos dos Produtos não Madeireiros na Econo-
mia de Santarém-Pará, Brasil. Floresta e Ambiente, v. 19, n. 1, p.9-16, 2012.
GUERRA, F.G.P; SANTOS, A.Q.; SANTOS, A.J.; SANQUETTA, C.R; BITTENCOURT, A.M.;
ALMEIDA, A. N. Quantificação e valoração de produtos florestais não-madeireiros. Revis-
ta Floresta, v. 39, n. 2, p. 431-439, 2009.
MACHADO, F.S. Manejo de Produtos Florestais Não Madeireiros: um manual com su-
gestões para o manejo participativo em comunidades da Amazônia. Rio Branco: PESACRE
e CIFOR, p. 105, 2008.
R Development Core Team. (2011) R: A Language and Environment for Statistical Com-
puting. Vienna, Austria: the R Foundation for Statistical Computing. ISBN: 3-900051-07-
0. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acesso em: 01 jun. 2016
REGO, L.J.S.; ELLY, M.P.; GARCIA, B.N.; BARBOSA. H.F.; VIEIRA, T.A. Produtos florestais
não-madeireiros comercializados em feiras de Santarém, Pará. Cadernos de Agroecolo-
gia, v. 6, n. 2, 2011.
SANTOS, A.J.; HILDEBRAND, E.; PACHECO. C.H.P.; PIRES, P.T.L.; ROCHADELLI. R. Produ-
tos não madeireiros: conceituação, classificação, valoração e mercados. Revista Floresta,
v. 33, n. 2, p. 215-224, 2002.
SHANLEY, P.; GALVÃO, G. Piquiá Caryocar villosum (Aubl.) Pres. In: Shanley P, Medina, G.
Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. Imazon. p. 123-132, 2005.
TONINI, H.; KAMINSKI, P.E.; COSTA, P.; SCHWENGBER, L.A.M. Estrutura populacional
e produção de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.) e andiroba (Carapa sp.)
no Sul de Estado de Roraima. Projeto Kamukaia, EMBRAPA. 2008.