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30/07/2020 Resumo do Capítulo 19 – “Cultura” e Cultura: Conhecimentos Tradicionais e Direitos Intelectuais de Manuela Carneiro da Cunha

RESUMO DO CAPÍTULO 19 – “CULTURA” E CULTURA: CONHECIMENTOS


TRADICIONAIS E DIREITOS INTELECTUAIS DE MANUELA CARNEIRO DA
CUNHA
A autora inicia o texto demonstrando as categorias analíticas utilizadas pelos países centrais
que são usadas para classificar elementos das culturas do resto do mundo: raça, cultura, história e
dinheiro são algumas das categorias exportadas que os povos periféricos foram levados a adotar.
A introdução do capítulo elucida como essas categorias e produtos culturais que foram
compulsoriamente introduzidos em seus povos passaram a ser usados pelos povos “fracos” para
se legitimar e criar uma resistência a seus colonizadores servindo como argumento político.
Particularmente nos casos de debate entre direitos autorais dos conhecimentos dos povo
tradicionais.
Ela também ressalta a questão, na linguagem marxista, do “cultura em si” e “cultura para si”.
Partindo do principio que todos os povos têm suas culturas originais, ele já teriam a “cultura em si”
e a quando adquiriram a “cultura para si” passaram a querer exibi-la e essa cultura passar a ter
um caráter performático.
Cultura e “Cultura” são falsos amigos: por não usarmos aspas normalmente, podemos confundir
as duas. A cultura sem aspas é a rede de costumes e significações que estamos imersos em
nossa realidade. A cultura com aspas é o “exagero” de traços típicos.
O fato que levou a essa discussão proposta pela autora ocorreu durante uma discussão sobre
direitos intelectuais indígenas sobre itens culturais, e se tratava do direito sobre uma secreção de
rã, kampô. Durante esse encontro um chefe Yawanawa se manisfestou usando o seguinte
argumento: "Honi não é cultura!". A partir dessa afirmativa se estendeu duas discussões durante o
texto, a primeira relativa à questão do direito sobre conhecimentos tradicionais pelos indígenas e a
segunda sobre o significado de cultura expresso na frase no chefe Yawanawa.

Até 1992 todo e qualquer recurso genético era considerado patrimônio comum da humanidade,
porém, o que acontecia de fato era que países tecnologicamente mais avançados se apropriavam
desses recursos naturais para suas invenções, que eram completamente privatizadas. Nesse ano,
portanto, ocorreu a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) para discutir a dominância de
países mais ricos sobre os de terceiro mundo sobre as tecnologias referentes a recursos
genéticos e naturais, então a CDB estabeleceu a soberania de cada país sobre seus recursos
genéticos.
A partir dessa discussão sobre a soberania de cada país no que diz respeito à recursos genéticos,
abriu-se mais espaço para a temática dos conhecimentos científicos indígenas sobre recursos
naturais. A ONU, portanto, abriu espaço para essas discussão pois são pautas que normalmente
não são apoiadas pelos governos dos países. Nesse âmbito surgiram organizações e coalizões
indígenas internacionais como atores políticos.

Assim podemos refletir sobre a politização dessas organizações indígenas, uma vez que esses
grupos são forçados a fazer parte dessa lógica capitalista de propriedade privada, da qual não era
uma ideia inicial da cultura desses povos, para se fazerem ouvidos e assegurar seu bem-estar,
esses povos precisam dialogar nessa mesma lógica. O fato de alguns povos indígenas terem se
organizado politicamente causou algum espanto, pois pela visão Ocidental, o indígena carregava
o estigma de ser despredido de qualquer pensamento individualista e de propriedade, porém ao
passo que a cultura Ocidental apresenta duas alternativas aos indígenas sobre seus
conhecimentos científicos, tornar seus conhecimentos universais e propriedades de todos ou
assegurar seus direitos sobre a propriedade deles, alguns deles escolhem aquele que garante o
controle sobre sua tradição.

A autora cita uma frase de Marilyn Strathern sobre a questão: "Uma cultura dominada pelas ideias
de propriedade só pode imaginar a ausência dessas ideias sob determinadas formas". Ou seja, "O
conhecimento indígena é conceitualizado como o avesso das ideias dominantes. Assim, os povos
indígenas parecem estar inextricavelmente condenados a encarnar o reverso dos dogmas

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30/07/2020 Resumo do Capítulo 19 – “Cultura” e Cultura: Conhecimentos Tradicionais e Direitos Intelectuais de Manuela Carneiro da Cunha

individualistas e de posse do capitalismo. São obrigados a carregar o fardo da imaginação do


Ocidente se quiserem ser ouvidos" (páginas 328).
Muitas sociedades tradicionais tem a noção de direitos privados sobre alguns conhecimentos, por
exemplo, a noção que somente um líder religioso específico da aldeia pode ter conhecimento e
direito sobre algum ritual, ou seja, não é cultural dessas culturas que certos conhecimentos sejam
de domínio público.

Esse caso diz respeito à cultura de cada sociedade, porém, a autora sugere o termo "cultura", com
aspas, esse termo, portanto, diz respeito à existência de um projeto político que considera a que o
conhecimento tradicional possa se tornar domínio público (payant). Essa contradição é explicada
através da propriedade metalinguística de "cultura".
A autora recorre também ao conceito de "efeito de looping" de Ian Hacking que diz respeito a uma
teoria da rotulação. Essa teoria afirma, de modo simplificado, que quando pessoas são rotuladas
institucionalmente elas passam a aderir a comportamentos de tal esteriótipo. O ser-humano
procura, portanto, responder ao que se espera dele, mas acaba muitas vezes tendo um resultado
diferente, logo, "há um novo conhecimentos ser obtido sobre o tipo. Mas esse novo conhecimento,
por sua vez, torna-se parte do que se deve saber acerca dos membros do tipo, que muda
novamente". Isso é o que a autora entende como o efeito looping.
A afirmativa do chefe Yawanawa é um paralelo entre a autorreflexão de Hacking e o metadiscurso
do termo "cultura" sobre a cultura. Ao afirmar que honi não é cultura, ele trata da "cultura", pois ela
é entendida como compartilhada por todos os membros dessa sociedade, ele se manisfestava
contra isso. O honi, naquele cultura, não era compartilhado entre todos os Yawanawa.

Em síntese, no capítulo a autora trata a questão da cultura x “cultura” e debate sobre como a
“cultura” foi imposta e posteriormente aproveitada pelas sociedades periféricas. Nesse debate
para elucidar a diferença desses termos ela traz como exemplo a fala sobre o Honi e a questão da
indigenização – quando cita o efeito looping – que é um fenômeno de adaptação de um povo a um
princípio de valor humano que lhe foi pregado ou incutido. A partir de exemplos e reflexões sobre
os termos e conceitos utilizados para definir conhecimento nas sociedades em geral, a autora
explica a dicotomia entre cultura e “cultura”.

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