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O CURTA-METRAGEM COMO INSTRUMENTO DE ENSINO DOS DIREITOS

HUMANOS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Pamela Katherlyn Lopes1 - PUCPR


Sandra M. A. Nanemann 2 - SEED-PR

Grupo de Trabalho – Educação e Direitos Humanos


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente trabalho tem como finalidade relatar parte da experiência pedagógica realizada no
Colégio Estadual Luiza Ross, situado no bairro Boqueirão, na cidade de Curitiba. Este projeto
faz parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, da disciplina
de Língua Portuguesa do curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O
tema transversal dos Direitos Humanos nas aulas de Língua Portuguesa abrange vários
aspectos, não só a vivência escolar, mas também a vivência do indivíduo em sociedade. Logo,
considerando que o tema escolhido é muito relevante na aprendizagem dos jovens e na sua
formação social, a proposta visa entusiasmar os alunos a conhecerem seus deveres e direitos,
para se tornarem cidadãos atuantes na sociedade, bem como recria práticas pedagógicas
renovadas, a fim de atender a demanda da sociedade atual, recorrendo ao curta-metragem,
gênero com capacidade de crítica social, mediante sequências didáticas, marcas multimodais e
produção audiovisual. Foram exibidos os seguintes curtas-metragens: “Cuerdas” (2014), “A
História dos Direitos Humanos” (2015), “O preconceito cega” (2013) e “Parcialmente
nublado” (2011). Busca-se descrever a metodologia aplicada no projeto, o desfecho das
atividades realizadas em sala de aula, assim como os curtas-metragens produzidos pelos
alunos. E por fim, a construção deste trabalho tem como base pressupostos teóricos
delineados por Moletta (2009), Dionísio (2006), Bakhtin(1992), Diretrizes Curriculares do
Estado do PR - Língua Portuguesa (2008) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental (1998). Pretendemos, com esta pesquisa, contribuir com os docentes de
diversas áreas do conhecimento no ensino de temas tão atuais e relevantes em sala de aula e
na sociedade.

Palavras-chave: Curta-metragem. Ensino. Direitos Humanos.

1
Acadêmica do 6º período do curso de Letras – Português, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR), bolsista do Programa de Iniciação a Docência – PIBID/CNPq. E-mail: pamkatherlyn@hotmail.com
2
Graduada em Letras-Português e Especialista em Magistério pela UNINTER. Professora da Rede Estadual de
Ensino do Estado do Paraná. Supervisora do subprojeto de Letras-Português do PIBID – Programa Institucional
de Bolsas para Iniciação à Docência. E-mail: sandrananemann@hotmail.com
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Introdução

A utilização da tecnologia no ambiente escolar oportuniza situações de ensino cada


vez mais amplas e inovadoras, possibilitando que o aluno se interesse mais pelas atividades
propostas em sala de aula, absorvendo novos conhecimentos e colocando-os em prática.
Nesse sentido, é muito importante que o docente se renove constantemente a fim de atender a
demanda da sociedade atualizada, na qual existem outros instrumentos que o ajudam
diariamente, a partir das tecnologias disponíveis na escola.
Diante da proposta de desenvolver a integração da tecnologia às práticas pedagógicas
em sala de aula, realizamos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, através do
PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, que possui como principal
objetivo contribuir com a formação de professores para a educação básica, a elaboração de
curtas-metragens pelos alunos dos 8º anos do Ensino fundamental do Colégio Estadual Luiza
Ross, com a temática Direitos Humanos. Com essa atividade objetivou-se ajudar os jovens na
tomada de consciência de seus direitos e de seus deveres perante a sociedade.
Para tanto, neste trabalho é apresentada a reflexão sobre o ensino dos Direitos
Humanos através do gênero curta-metragem nas aulas de Língua Portuguesa do Ensino
Fundamental II, o uso da tecnologia a favor do docente em sala de aula e a proposta de
produção do curta-metragem pelos alunos, além da importância desse instrumento de crítica
social.

O curta-metragem em sala de aula

O curta-metragem possui características próprias, como por exemplo, sua duração.


Esse “filme” pode durar de 30 segundos a 30 minutos, além de apresentar poucos personagens
e uma história curta. Segundo Moletta (2009, p. 17), o curta-metragem:

[...] equipara-se ao conto na literatura ou ao haicai na poesia: trata-se de uma forma


breve e intensa de contar uma história ou expor um personagem [...]. Esse formato
de cinema tem como principais características a precisão, a coerência, a densidade e
a unidade de ação ou impressão parcial de uma experiência humana.

O curta-metragem, além de seus conceitos e características, deve ser pensado como


um instrumento de crítica social, na medida em que cumpre uma função na sociedade.
Portanto, ao produzir um curta-metragem, o indivíduo deve ter noção que o gênero tem como
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principal objetivo a crítica social e deve passar uma mensagem. O professor, como mediador
dessa ideia em sala de aula, deve apresentar instrumentos que facilitem a aprendizagem do
aluno. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1998,
p. 5-6):

Através de múltiplas interações entre professores/alunos, alunos/alunos,


alunos/livros, vídeos, materiais didáticos e a mídia, desenvolvem-se ações inter e
intra-subjetivas, que geram conhecimentos e valores transformadores e permanentes.
Neste caso, a diretriz nacional proposta prevê a sensibilização dos sistemas
educacionais para reconhecer e acolher a riqueza da diversidade humana desta
nação, valorizando o diálogo em suas múltiplas manifestações, como forma efetiva
de educar, de ensinar e aprender com êxito, através dos sentidos e significados
expressos pelas múltiplas vozes, nos ambientes escolares.

Os professores devem saber orientar seus alunos sobre onde e como colher
informações. A pesquisa pode e deve ser um componente muito importante na relação dos
alunos com o meio em que vivem, utilizando instrumentos com que já estão acostumados a
lidar diariamente (internet, celulares, tablets, computadores, câmeras, entre outros). Logo, é
possível afirmar que no ensino através da tecnologia disponível nas escolas, o professor pode
e deve se renovar a cada contato com seus alunos, pois a educação necessita ser mediadora de
um conhecimento amplo, visando à formação de jovens letrados.
Partindo do objetivo do curta-metragem, ou seja, a construção da crítica social,
propõe-se tornar os alunos conscientes de seus direitos e deveres, a partir da reflexão sobre os
Direitos Humanos. Nenhum outro tema desperta tanta polêmica perante a sociedade como o
de Direitos Humanos. É relativamente fácil discutirmos e lutarmos por questões que dizem
respeito aos nossos direitos, aos direitos do povo. Somos uma sociedade marcada pelas
desigualdades sociais, um dos problemas mais evidentes no nosso país, e vem se tornando um
dos mais fortes desafios vivenciados pela juventude contemporânea que luta por espaço,
liberdade de expressão e igualdade. Nas ruas, nas escolas, é cada vez mais visível, o jovem
que luta pelos seus direitos.
Para o progresso no ensino dos direitos humanos, é necessário expandir os planos de
estudos propostos em sala de aula, produzir diferentes materiais e planos de aulas, e focar em
novos métodos, como a inserção da tecnologia. O ensino desse tema, entendido como prática
social, não se reduz apenas ao ambiente escolar, abrange também toda a sociedade/
comunidade/ família.
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Nesse contexto, é necessário que o aluno tenha consciência de que somos iguais, cada
um possui sua cultura e é livre para fazer suas escolhas. A escola tem um papel primordial no
conhecimento histórico dos Direitos Humanos e de seu significado na sociedade atual.

Metodologia

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.89), “A presença crescente


dos meios de comunicação na vida cotidiana coloca, para a sociedade em geral e para a escola
em particular, a tarefa de educar crianças e jovens para a recepção dos meios”. Logo, com
essa presença de gêneros multimodais, o aluno é “capaz de atribuir sentidos a mensagens
oriundas de múltiplas fontes de linguagem” (DIONÍSIO, 2006, p. 131), sabendo que a
oralidade, escrita, imagens e sons podem ser trabalhados em sala de aula como textos
multimodais para ampliar a visão do discente no processo de aprendizagem. Assim, numa
sociedade tecnológica e capitalista o papel do professor deve ser de mediador, tornando as
mídias parceiras da ação pedagógica.
Para Guareschi (2005, p.33) “se a sociedade está mudando de forma tão rápida a
escola não pode esperar, precisa se destacar, conhecer e explorar as preferências e interesses
de sua clientela. Incluir a mídia em seu espaço acadêmico é uma forma de fazer o diferencial” .
Com orientação da Profª. Dr.ª Cristina Miyaki e supervisão da Prof.ª Sandra
Nanemann, este trabalho pautou-se em atividades voltadas ao reconhecimento e produção do
gênero Curta-metragem para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II , do Colégio
Estadual Luiza Ross, situado no bairro Boqueirão, em Curitiba. Através de sequências
didáticas, o projeto procurou difundir e refletir sobre os direitos fundamentais da pessoa
mediante a produção audiovisual, bem como a construção de exercícios relacionados à
multimodalidade, uma vez que os alunos puderam perceber os diferentes contextos em que a
Língua Portuguesa está inserida. O desenvolvimento das atividades foi estabelecido da
seguinte forma:
 Exibição de curta-metragem, discussão, objetivos e características fundamentais do
gênero;
 Reflexão sobre a função social do gênero na abordagem da temática dos Direitos
Humanos;
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 Formação de grupos para a discussão, elaboração de roteiro, divisão de tarefas e


detalhes para a produção do curta-metragem. Dessa forma, a partir de critérios, as
acadêmicas bolsistas do PIBID promoveram versões escritas das atividades propostas,
devolutivas e reescrita dos roteiros propostos. Como incentivo e valorização do
trabalho, as professoras regentes das turmas atribuíram notas no semestre.
 Apresentação dos curtas-metragens produzidos.

Resultados e discussões

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.92), “a linguagem da TV e


vídeo responde à sensibilidade dos Jovens”, logo é possível, a partir do projeto desenvolvido,
afirmar o quanto os discentes do Ensino Fundamental II se envolveram na produção dos seus
próprios curtas-metragens. A maioria dos discentes do oitavo ano obtiveram sucesso com suas
produções, desde os roteiros para a construção do curta-metragem até o produto final (curta-
metragem), entregues às acadêmicas do PIBID.
Na primeira aula foi exibido o curta-metragem “Cuerdas”, que mostra a história da
entrada de uma criança com deficiência em um orfanato e uma garotinha chamada Maria, que
o ajuda a viver os prazeres da infância durante a sua permanência no orfanato; o desfecho se
dá com o apego de Maria ao seu coleguinha que, devido a sua debilitação por causa da
deficiência, acaba não resistindo e morre. Maria mostra que não existem limites para o ser
humano quando se tem alguém para ajudá-lo e que a inclusão social é um fator muito
importante para o desempenho de uma criança no âmbito escolar. Pode-se perceber o
interesse dos alunos sobre a questão da inclusão social. Observou-se que este tema emocionou
e envolveu-os, possibilitando a reflexão sobre o gênero e sua intencionalidade.
Na semana seguinte, foram exibidos três curtas-metragens para o fechamento da
contextualização do tema abordado. O primeiro curta apresentado em sala foi uma produção
caseira com o tema “Preconceito”, para transmitir aos alunos a ideia de como pode ser
construído um curta-metragem sem grandes produções técnicas; na sequência, a animação da
Walt Disney chamou a atenção dos discentes com relação à temática da amizade, que inclui a
condição social do ser humano. O último vídeo teve maior duração e contextualizou
formalmente sobre o que as pessoas entendem por Direitos Humanos, apresentando várias
esferas para a escolha de seu subtema e construção do próprio curta-metragem.
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A diversidade de estilos, a criatividade e empenho foram destacados nas aulas


seguintes, onde os alunos puderam formar grupos para a discussão, elaboração de roteiro,
divisão de tarefas e detalhes para a produção do curta-metragem. O que mais chamou a
atenção foi que devido à timidez de alguns alunos no ato da fala, alguns utilizaram o fundo
musical como recurso sonoro de sua produção; outros utilizaram-se de entrevistas internas e
externas ao espaço escolar, bem como recursos não-verbais, como expressão facial e corporal
para comunicação.
As atividades desenvolvidas contaram com os recursos midiáticos que cada grupo
possuía; também requisitou uma articulação e aprofundamento sobre o tema dos Direitos
Humanos, o qual enriqueceu e fundamentou a produção escrita. Estabelecendo uma relação
interdisciplinar, a abordagem estimulou e mobilizou os alunos, tornando-os sujeitos de seu
conhecimento.
Evidenciou-se que os alunos alcançaram o objetivo proposto, que era a produção de
um curta-metragem, cientes das condições de produção e função social do gênero.

Considerações Finais

Trabalhar com curta-metragem como forma de ensino da língua portuguesa pode


parecer complexo visto por um método de ensino tradicional, mas os professores da
atualidade devem acompanhar os avanços da tecnologia para propiciar aos discentes outras
formas de leituras, que atualmente chamamos de textos multimodais.
Compreende-se que, mediante a produção audiovisual, as tecnologias de informação e
comunicação, que fazem parte do cotidiano do aluno, possibilitam difundir e refletir sobre os
direitos fundamentais da pessoa. Vale ressaltar que, a construção de exercícios relacionados à
multimodalidade promove a percepção dos diferentes contextos em que a Língua Portuguesa
está inserida.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Michail (Volochinov). Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes,
1992.

DIONISIO, Ângela P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, A. M.;.


GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais reflexões e ensino. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2006.
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DIREITOS HUMANOS. Curta-metragem “O preconceito cega”. Youtube, 2013. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=-M3Bf1I8N_k>. Acesso em: 25 jun. 2015.

GRAZINOLLI, Henry. Oficinas virtuais: Produções curtas, médias e longas. Portal tela
Brasil, 2014. Disponível em: < http://www.telabr.com.br/oficinas-virtuais/texto/41>. Acesso
em: 13 jun. 2015.

GUARESCHI, Pedrinho A. Mídia, Educação e Cidadania: Tudo o que você quer saber
sobre a mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

MEC/SEF. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino


fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: 1998.

MOLETTA, Alex. Criação de curta-metragem em Vídeo Digital: Uma proposta para


produções de baixo custo. São Paulo: Summus, 2009. p. 142.

______. Nacional educação e diversidade. Itabaiana: Universidade de Sergipe, 28 a 30 de


novembro de 2013. Disponível em:
http://200.17.141.110/forumidentidades/VIforum/textos/Texto_VI_Forum_19.pdf>. Acesso
em: 15 Jul. 2015.

OLIVEIRA, Derli Machado de. Gêneros multimodais e multiletramentos: novas práticas de


leitura na Sala de aula. In: Anais do VI Fórum: identidades e alteridades e II Congresso
PARANÁ, Secretaria da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Paraná.
2008.

PATY. Curta-metragem: “Parcialmente nublado”. Youtube, 2011. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=mR3DzRMob-c>. Acesso em: 25 jun. 2015.

UNITED FOR THE HUMAN RIGHTS. Curta-metragem: “A História dos Direitos


Humanos”. Youtube, 2015. Disponível
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UOL MAIS. Curta-metragem “Cuerdas” Linda História para reflexionar. Youtube, 2014.
Disponível em: <http://mais.uol.com.br/view/87j2x7d2z5jm/14945162?types=A& >. Acesso
em: 25 jun. 2015.

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