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Inglês Jurídico

Tradução e Terminologia
Luciana Carvalho Fonseca

Inglês Jurídico
Tradução e Terminologia
© 2014 Luciana Carvalho Fonseca. Todos os direitos reservados.

Edição: Luciana Carvalho Fonseca


Tradução dos exemplos: Beatriz Cochrane Mattos
Preparação do texto: Duda Fonseca e Patricia Tagnin
Revisão: Luciana Carvalho Fonseca e Beatriz Cochrane Mattos
Capa, Projeto Gráfico, Editoração e Produção: Patricia Tagnin / Milxtor Arte

Edição conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990),


em vigor desde 1º de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Fonseca, Luciana Carvalho


Inglês jurídico : tradução e terminologia / Luciana Carvalho Fonseca.
– 1. ed. – São Paulo : Lexema, 2014.

ISBN 978-85-67695-00-6

1. Advogados - Brasil
2. Inglês - Estudo e ensino
3. Inglês técnico - Estudo e ensino
4. Texto jurídico - Tradução inglês-português I. Título.

14-00745 CDD-428

Índices para catálogo sistemático:


1. Inglês jurídico : Terminologia : Linguística aplicada 428

Praça Marquês de Itanhaém, 51, anexo


São Paulo – São Paulo – 05447-180.
(11) 3032 0969
lexema@tradjuris.com.br
www.lexema.com.br
Ao Eduardo Zancul, por sonhar e realizar comigo.
Agradecimentos

Em primeiro lugar, meu mais profundo agradecimento a meus leitores.


Tanto os leitores do Termo da Semana do site da TradJuris como os da
coluna Migalaw, publicada semanalmente no rotativo jurídico Miga-
lhas. Ambas as publicações totalizam mais de 350 pequenos textos abor-
dando uma lasca do universo do direito e da linguagem e cultura jurídicas
em inglês por meio de termos técnicos, seus usos e possíveis traduções.
Foram esses textos esparsos e independentes que, reunidos e pretensa-
mente organizados, deram origem ao pequeno livro que o leitor tem em
mãos. Consequentemente, a escolha de muitos dos temas e vocábulos está
diretamente relacionada à curiosidade dos leitores traduzida no envio de
perguntas e sugestões sobre tópicos de tradução e terminologia jurídica às
minhas duas modestas publicações semanais.
Na TradJuris, agradeço o incentivo de todos os colaboradores. Um
agradecimento especial à advogada e tradutora Beatriz Cochrane Mattos,
a qual se dedicou generosamente à tradução das centenas de exemplos
oferecidos.
Meu agradecimento também à Patricia Tagnin pelo minucioso tra-
balho de diagramação, produção e revisão e ao jornalista Duda Fonseca,
pela preparação do texto.
Não posso deixar de agradecer – mesmo com o temor de cometer
injustiça por omissão – a algumas pessoas inspiradoras e acolhedoras no
universo da tradução e terminologia, são elas: os professores Stella Tag-
nin, Francis Aubert e John Milton e meus colegas do Projeto COMET
(Corpus Multilíngue para Ensino e Tradução) do Departamento de Le-
tras Modernas da Universidade de São Paulo; os colegas professores Rey-
naldo Pagura, Glória Sampaio e Leila Darin do Departamento de Inglês
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; os amigos de profissão
Marina Bevilacqua, David Coles e Jayme Costa Pinto, que conheci no
Departamento de Tradução e Interpretação da Associação Alumni, e Age-
nor Soares dos Santos, autor do monumental Guia Prático de Tradução
Inglesa; e, também, a meus queridos sócios do escritório Vox Intérpretes,
Ângela Noronha, Camila Bogéa, Carmen Nigro, Helena Nicotero, Lara
Moammar e Paulo Silveira.
Meus agradecimentos também à Public Affairs Section do Consu-
lado Geral dos Estados Unidos em São Paulo pelos ricos e socialmente

vii
relevantes eventos jurídicos que promove e apoia e, por consequência,
pelas melhores aulas de Direito americano que alguém poderia receber.
Um caloroso muito obrigada às pessoas que adquiriram a obra em
sua fase de pré-lançamento, notadamente à primeira, a professora Teresa
Dias Carneiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; e
àqueles que contribuíram voluntariamente com a divulgação, Danilo No-
gueira do afamado blog Tradutor Profissional, Nadia Barros do Instituto
Pro Bono e, ainda, Mariza Marcolongo e Elenice Barbosa de Araújo da
Portuguese Language Division da American Translators Association.
No meu seio familiar, agradeço à Rosemeia Sena de  Araújo e à Al-
vani Moreira Alves, pela dedicação e tranquilidade que me proporcionam,
agradeço a meus pais, Sérgio e Maria Amélia Fonseca, pelo entusiasmo e
encorajamento e, especialmente, a meu marido, Eduardo Zancul, pelo
amor e apoio, e a nossos filhos, Henrique e Bruno, por nos encherem de
alegria e iluminarem nossos dias – e nossas noites.
Por fim, gostaria de ressaltar que são de minha inteira responsabili-
dade quaisquer omissões e incorreções presentes no texto.

viii
I am not young enough to know everything.
Oscar Wilde
Prefácio

Todo mundo já deve ter passado por uma situação em que foi mal en-
tendido. Nessas horas, é comum nos lembrarmos de nossos pais, irmãos,
amigos, enfim, de gente próxima que certamente nos entenderia. E essa
lembrança é perfeitamente justificável. Deve-se ao poder comunicativo
que uma relação fraternal nos concede. Roland Barthes, em seus Frag-
mentos de um Discurso Amoroso, descreveu essa relação como porta-
dora de uma linguagem semelhante a uma pele. Uma pessoa esfregaria sua
pele na outra. Ela teria palavras no lugar dos dedos, ou dedos na ponta
das palavras.
Entretanto, a maioria das relações interpessoais não é regida pelo
espírito fraternal, no qual, além das palavras, todo o contexto é identifi-
cável por ser, em grande extensão, compartilhado e envolvido por uma
mesma pele. Para sermos capazes de nos comunicar além das relações fra-
ternais e de modo a assegurar as demais relações interpessoais criam-se
convenções sociais que, uma vez eleitas, compõem um sistema legitimado
– e compartilhado – por uma comunidade maior.
O sistema jurídico é reflexo dessa convencionalização, pois por
meio dele são organizadas e interpretadas determinadas convenções pró-
prias com o intuito de garantir e atribuir, aos que estão inseridos em um
certo grupo, direitos e deveres. Cria-se, dessa maneira, além das obriga-
ções jurídicas, todo um subuniverso linguístico especializado, que existe
paralelamente ao da comunidade. Um sub­universo com particularidades
próprias, cujo aspecto fraternal é mínimo e afasta – ou até mesmo repele
– aqueles que não possuem o domínio de sua linguagem e convenções.
Ainda assim, em um mesmo universo linguístico (e.g. o qual adota o por-
tuguês do Brasil), ao menos todos que nele estão inseridos falam a mesma
língua e entendem em maior ou menor grau a complexidade das relações
sociais. Consequentemente, nesse contexto, os agentes do poder judiciá-
rio são capazes de articular sem grandes conflitos – porém não livre deles
– a relação entre o leigo e a linguagem específica.
Agora, reflita sobre quando diferentes sistemas se cruzam ou se so-
brepõem colocando os especialistas de ambos os lados em contato. Ob-
viamente é necessária a adequada tradução de termos específicos que não
encontram correspondentes diretos em cada um dos universos envolvidos.
Essa, por si só, já seria uma tarefa dotada de significativa complexidade, já

xi
que nela residem, não só as dificuldades de comunicação resultantes das
particularidades dos sistemas jurídicos envolvidos, mas também a possibi-
lidade de ruídos decorrentes das diferenças culturais entre os dois sistemas.
Nesse caso, além dos desafios linguísticos e das diferenças entre có-
digos éticos, é possível que as culturas se choquem, ou melhor, que se
perceba a falta de compartilhamento de dois ou mais universos culturais.
No contexto jurídico bilíngue, um choque cultural acontece toda vez que
uma manifestação humana com intenção comunicativa de um sistema
de partida é tida como estrangeira ao sistema de chegada e nele se vê
emaranhada produzindo efeito outro que não o desejado pelo emitente
do sistema de origem. Fica então evidente, e se prova necessária, a atuação
de um agente que domine tanto a linguagem dos sistemas em questão
quanto os hábitos linguísticos das culturas estrangeiras que se encontram.
Um profissional capaz de fazer tanto a correspondência terminológica es-
pecífica dos sistemas jurídicos entre os dois universos linguísticos como a
orientação cultural dos interlocutores envolvidos.
Um exemplo de competência transcultural diretamente ligada à
terminologia e à tradução linguística seria o tradutor ou intérprete co-
nhecer as nuanças de um termo, aparentemente simples, como law 1 no
inglês e ter capacidade para decidir quais dos possíveis correspondentes
em português empregar.
Outra situação permeada por transculturalidade ligada à pragmá-
tica seria aquela envolvendo um intérprete e um cliente estrangeiro, um
attorney por exemplo, na qual o primeiro informa ao segundo que tipo de
construção frasal funcionaria melhor para se obter uma resposta da ma-
neira mais direta possível de uma testemunha brasileira, a qual o attorney
em tela estaria inquirindo em um processo de arbitragem conduzido em
inglês.
Imaginemos a cena: a testemunha brasileira é indagada por um juiz
norte-americano sobre sua a profissão. “Are you a journalist?”, pergunta
o juiz. “Você é jornalista?”, diz o intérprete. “Veja bem”, diz o brasileiro,
“ultimamente eu estava trabalhando de...”. “Lately, I have been working
as...”, continua o intérprete.
O juiz norte-americano assume um olhar intrigado com a resposta,
pois ele espera – e deseja – uma resposta objetiva. A testemunha brasileira
acha importante explicar todos os detalhes de sua carreira profissional in-
formando sobre o que ela própria acha mais relevante sobre o que significa
ser ou não ser jornalista.

1 Nos itens 2.1.5 e 2.2.5, apresentamos possíveis traduções do termo law em


contexto.

xii
Essa simples situação pode causar efeitos adversos ao processo judi-
cial em questão. Explico: na cultura anglo-americana, existem as chamadas
yes or no questions. De trato mais pragmático, os anglo-americanos ficam
frustrados – e mesmo contrariados – quando a suas perguntas, quebrando
expectativas legítimas da cultura de chegada, não são dadas respostas ob-
jetivas, iniciadas por sim/não nesse caso. E você conhece algum brasileiro
acima de 2 anos de idade que empregue sim/não em suas respostas?
Americanos, principalmente, estão acostumados a uma resposta do
tipo ‘answer first’, ou seja, primeiro responda (“Sim, sou jornalista”. “Não,
não sou”.) e só depois explique – e somente se lhe for perguntado. Qual-
quer comportamento que se esquive dessa visão de normalidade poderia
fazer brotar resistência por parte do destinatário e truncar a comunicação
entre duas partes perfeitamente competentes dentro de sua própria cultu-
ra de origem. Isto é, cada uma delas é conhecedora exímia de seu próprio
universo cultural, mas não de muitos aspectos do universo cultural de seu
interlocutor.
Foi, portanto, com o espírito de trazer à superfície a importância
da competência terminológica jurídica bilíngue atrelada à conscientização
da necessidade de uma competência transcultural, como pano de fundo e
também como pano de boca, que este livro foi concebido, pois por meio
de ambas é possível recuperar um entendimento mais fino da pele habi-
tada pelos indivíduos em seus respectivos universos culturais jurídicos de
modo a dotar a comunicação de fluidez e segurança, bem como reduzir o
tempo e os recursos despendidos.

A autora

xiii
Apresentação

O direito e sua linguagem são objetos de inúmeras pesquisas que procu-


ram demonstrar as relações de causa e efeito das palavras sobre a vida das
pessoas no contexto de um discurso jurídico. A linguagem jurídica e a lin-
guagem do direito constituem um dos meios pelos quais uma sociedade se
organiza e se ordena. Cada palavra contida numa lei tem ou pode ter um
profundo impacto na vida das pessoas. A noção de “família”, de “aborto”,
de “subsídio governamental”, de “crime de quadrilha”, de “democracia”,
dentre tantas outras, são objeto de interpretações diversas em razão dos
interesses e concepções de mundo em disputa. Assim, a realidade do di-
reito não é só o mundo que ele pretende regular, mas também os textos
que veicula na forma de normas jurídicas. É por isso que a compreensão
do fenômeno jurídico não prescinde do poder de interpretá-lo em conso-
nância com o tempo em que se vive. E atualmente o direito tornou-se um
fenômeno mais amplo em razão dos processos de integração normativa
em seus diversos níveis de comprometimento da soberania jurídica de
um país.

O Brasil, por razões históricas, sempre foi aberto à aprendizagem das ex-
periências alheias. Somos importadores de ideias e conceitos. Não haveria
problema nisso se tal importação fosse feita com consciência do método e
das implicações epistemológicas aí pressupostas. Mas não é, infelizmente,
o que acontece. Traduzir uma cultura jurídica estrangeira não é uma tarefa
simples que se resuma a consultar um dicionário e nele encontrar a possí-
vel expressão correlata em português. Por mais que se tente dotar o direito
de uma linguagem objetiva, haverá nele um margem de indeterminação
do seu conteúdo que somente os estudiosos atentos ao seu uso em contex-
to poderão melhor delimitar.

Poderíamos imaginar que o ideal de uma linguagem jurídica fosse a ob-


jetividade decorrente da absoluta correspondência entre o plano do con-
teúdo (significado) e o plano da expressão (significante), sem a possibili-
dade de intermediações de outras palavras. Seria a garantia da certeza do
sentido do discurso, mas também o fim dos sinônimos, das nuances, do
quase-dito e, também, da poesia. Mas a dimensão semântica do idioma
não se estrutura por um princípio lógico ou matemático, e sim em função

xv
das circunstâncias concretas da vida e das relações entre os seus falantes.
Desejar aquele atributo de objetividade quase matemática ao idioma é im-
pedir que cada palavra possa ser a porta de entrada para novas expressões
que nos conduzam, por sua vez, a novas palavras, num encadeamento sem
fim de possibilidades de compreensão do mundo. Cada expressão seria,
assim, a conta de um colar infinito de pérolas idiomáticas que se ligam
umas às outras.

Se no âmbito do nosso próprio idioma há tantas possibilidades de sentido


e, por isso mesmo, discordâncias quanto ao conteúdo das expressões por
nós utilizadas, o que dirá quando nos colocamos em uma situação de
diálogo intercultural? Costumo perguntar aos menos alunos se podemos
traduzir “lawyer” por “advogado”. A resposta imediata é “sim”. Porém, se
essa correspondência terminológica pode ser feita impunemente, podería-
mos admitir, então, que “lawyer”, “advogado”, “avocat”, “律师” (lüshi),
referem-se ao mesmo objeto da realidade, ou seja, ao que nós nomeamos
“advogado”? Será que as atribuições e as prerrogativas legais dos nossos
advogados brasileiros são exatamente as mesmas dos advogados portugue-
ses, estadunidenses, ingleses, franceses e chineses? Logo, ler uma literatura
jurídica em outro idioma requer estar atento ao fato de que “lawyer” deve
ser compreendido como expressão não totalmente equivalente a “advo-
gado”. “Lawyer” e “advogado” são, portanto, dados da realidade relativa-
mente distintos. Mas, se assim for, estaríamos decretando a impossibilida-
de da tradução? Não. A tradução é a única ponte que permite o diálogo
entre as diferentes culturas desde que estejamos conscientes de que falar
quase a mesma coisa é melhor do que falar coisas totalmente diferentes ou,
pior ainda, não dialogar.

Muitos de nós não estamos atentos às implicações e sutilezas de um diá-


logo intercultural. A leitura e a compreensão de uma cultura jurídica
diferente da nossa requerem uma competência linguística que os nossos
cursos jurídicos não fornecem. É preciso perceber que o estudo das leis, da
jurisprudência e da doutrina produzida por outros países pode contribuir
para uma compreensão mais dilatada do fenômeno jurídico, pode nos
fornecer sugestões de soluções para problemas novos e antigos e nos dar,
sobretudo, maior capacidade para atuar no mundo. Não estar apto para
estudos comparados e de tradução jurídica é limitar-se a uma realidade
jurídica que não condiz com os desafios, as pretensões e a importância do
nosso país no mundo.

xvi
É por isto que este livro de Luciana Carvalho Fonseca é muito opor-
tuno e já se torna uma referência para aqueles que querem ampliar seus
horizontes de conhecimento jurídico no estudo da tradução do direito em
inglês. Além da longa experiência profissional na tradução de doutrina,
leis e contratos no âmbito do inglês jurídico, Luciana Carvalho Fonse-
ca tem rigor metodológico e ético na sua atividade de pesquisa associada
à prática. E, ainda, reúne duas qualidades essenciais para desenvolver o
tema proposto pelo livro: tem formação na área do direito e da linguís-
tica – caso raro entre os que trabalham com tradução e interpretação do
direito estrangeiro.

Inglês Jurídico: tradução e terminologia, de leitura agradável e


bastante envolvente, desperta no leitor uma vontade de se lançar ainda
mais no desafio de aprender o direito – inclusive o direito brasileiro – na
comparação com o inglês jurídico. Ao abordar as questões terminológicas
na tradução de expressões mais frequentes nas diversas áreas do direito, a
autora nos dá uma visão precisa e generosa do fascinante poder de com-
preensão da realidade jurídica que o estudo da tradução de uma cultura
jurídica diferente da nossa pode nos oferecer.

Evandro Menezes de Carvalho


Professor de direito internacional da FGV Direito Rio
e da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Xangai, 21 de março de 2014.

xvii
Lista de Abreviaturas
CorTec – Corpus Técnico-Científico
BNC – British National Corpus
Cobuild – Collins Cobuild Concordance Sampler
COCA – Corpus of Contemporary American English
Time – Time Corpus of American English

Lista de Quadros
Quadro 1: Complexidade do processo tradutório_____________ 29
Quadro 2: Sistemas romano-germânico e anglo-americano______ 30
Quadro 3: Palavras de diferentes origens____________________ 31
Quadro 4: Binômios formados por palavras sinonímicas________ 32
Quadro 5: Duplicação inútil _______________________________ 32
Quadro 6: Tradução literal e tradução idiomática____________ 33
Quadro 7: Ocorrência dos modais no CorTec_________________ 47
Quadro 8: Binômios formados por preposições________________ 58
Quadro 9: Advérbios na linguagem jurídica em inglês_________ 166
Quadro 10: Resumo das características de lawyer e attorney_____ 237
Sumário

Agradecimentos_________________________________________ vii
Prefácio________________________________________________xi
Apresentação___________________________________________ xv

Introdução_____________________________________________ 25

1. Tradução jurídica

1.1 Desafios da tradução______________________________ 29


A Common L aw_____________________________________ 29
O caso dos binômios________________________________ 31
As consequências para a tradução___________________ 33

1.2 Tradução e interpretação__________________________ 35


Tradução_________________________________________ 35
Interpretação_____________________________________ 35

1.3 A terminologia e a tecnologia_____________________ 37


Identificação de termos jurídicos___________________ 37
Corpora eletrônicos________________________________ 38
1.4 Os arcaísmos na linguagem jurídica________________ 39
Exemplos de arcaísmos_____________________________ 39
Plain English Movement_____________________________ 40

1.5 Plural de lexemas: latim e grego___________________ 43


Latim____________________________________________ 43
Grego____________________________________________ 44

1.6 Verbos modais______________________________________ 45


Língua geral x Língua de especialidade_______________ 46
Shall x should_____________________________________ 47

1.7 O uso do subjuntivo_______________________________ 49


Verbos que tipicamente ocorrem com o subjuntivo_____ 49
Mais sobre o subjuntivo____________________________ 50
O subjuntivo nos gêneros jurídicos__________________ 51

1.8 O poder das preposições___________________________ 53


Agree_____________________________________________ 53
Charge____________________________________________ 54
Verbos frasais_____________________________________ 55

1.9 Preposições em dobro______________________________ 57

1.10 Under no inglês jurídico___________________________ 59

1.11 A polissemia________________________________________ 61
Assign____________________________________________ 62
Mais termos polissêmicos___________________________ 62
2. Terminologia jurídica

2.1 Termos fundamentais______________________________ 67


2.1.1 Common law_______________________________________ 67
2.1.2 Legal____________________________________________ 68
2.1.3 Court____________________________________________ 72
2.1.4 Jurisprudence______________________________________ 74
2.1.5 L aw______________________________________________ 75
2.1.6 O que é reasonable é razoável?_______________________ 83

2.2 Direito administrativo____________________________ 99


2.2.1 Lei Complementar x Supplementary L aw________________ 99
2.2.2 Leis do Brasil em inglês___________________________ 100
2.2.3 Convênio x Convention____________________________ 100
2.2.4 Resolução x R esolution____________________________ 101
2.2.5 L aw e Act________________________________________ 101
2.2.6 Quorum qualificado______________________________ 103

2.3 Direito civil______________________________________ 107


2.3.1 Indenizar_______________________________________ 107
2.3.2 Alimentos_______________________________________ 108
2.3.3 Compensação x Compensation_______________________ 110

2.4 Direito comercial________________________________ 113


2.4.1 Quotaholder, Stockholder e Shareholder______________ 113
2.4.2 Quotaholder_____________________________________ 114
2.4.3 Unanimous Shareholder Agreement___________________ 115
2.4.4 Dissolution, Liquidation e Winding up_________________ 117
2.4.5 Procurement e Sourcing____________________________ 119
2.5 Direito constitucional__________________________ 123
2.5.1 A Suprema Corte e o Writ of certiorari_______________ 123
2.5.2 A Competência Discricionária e o Writ of certiorari____ 124
2.5.3 O mandado de segurança e o Writ of mandamus________ 126
2.5.4 Nose counting e Cherry picking______________________ 128
2.5.5 Bootstrapping____________________________________ 132
2.5.6 As colocações do termo jury_______________________ 135

2.6 Direito contratual_______________________________ 141


2.6.1 A diferença entre contrato, contract e agreement_____ 141
2.6.2 Contratante e Contratado________________________ 142
2.6.3 Act of God, Force majeure e Cas fortuit_______________ 145
2.6.4 Garantia: campos semânticos_______________________ 147
2.6.5 Exhibit, Schedule, Attachment e A nnex________________ 151
2.6.6 Resolução, Rescisão e Resilição_____________________ 154
2.6.7 Diferenças entre terminate, rescind e avoid____________ 157
2.6.8 Void: -able, -ness, -ability____________________________ 159
2.6.9 A marca da Equidade: specific performance_____________ 162
2.6.10 Os advérbios na linguagem contratual______________ 164
2.6.11 Mais advérbios na linguagem jurídica________________ 168
2.6.12 Tandem__________________________________________ 169

2.7 Direito penal_____________________________________ 171


2.7.1 A classificação de condutas ilícitas_________________ 171
2.7.2 Os regimes de prisão e sua tradução_________________ 172
2.7.3 Erro de tipo e Erro de proibição____________________ 174
2.7.4 On conviction on indictment________________________ 175
2.7.5 Plea before venue e Either-way offenses________________ 176
2.7.6 Assassinato x Assassination__________________________ 177
2.7.7 Conspiração: conspiration ou conspiracy ?______________ 178
2.7.8 R ape x Estupro___________________________________ 180
2.7.9 Bullying_________________________________________ 182
2.8 Direito processual_______________________________ 187
2.8.1 Os verbos dos órgãos julgadores____________________ 187
2.8.2 As colocações de ação: procedente e improcedente____ 190
2.8.3 Mais colocações de lawsuit_________________________ 191
2.8.4 O concurso de ações______________________________ 194
2.8.5 Motion to withdraw_______________________________ 194
2.8.6 Ex officio________________________________________ 195
2.8.7 Evidência x Evidence______________________________ 198
2.8.8 Ônus da prova___________________________________ 200
2.8.9 Condenado às custas______________________________ 204
2.8.10 Os efeitos suspensivo e devolutivo__________________ 206
2.8.11 Nível de alçada__________________________________ 209
2.8.12 O vocabulário dos votos no judiciário_______________ 210
2.8.13 Appeal: sustained, denied, reversed____________________ 212
2.8.14 Homologação____________________________________ 214
2.8.15 A tradução de warrant como substantivo_____________ 215
2.8.16 A tradução de warrant como adjetivo________________ 220
2.8.17 Warrant como verbo______________________________ 222
2.8.18 Colocações verbais com o termo warrant______________ 224

2.9 Direito do trabalho_____________________________ 229


2.9.1 Leave: tradução do termo licença___________________ 229
2.9.2 Previdência______________________________________ 231

2.10 Os profissionais do direito______________________ 235


2.10.1 L awyer e Attorney_________________________________ 235
2.10.2 Solicitor ou Barrister______________________________ 237
2.10.3 Advogados e títulos: J.D., LL.B., Esq., LL.M. e Ph.D.___ 238
2.10.4 Advogado em gíria________________________________ 240
2.10.5 Excelentíssimo Senhor Juiz________________________ 241
2.10.6 Procurador(ia), Corregedor(ia) e Defensor(ia)_______ 242
2.10.7 Special Master____________________________________ 244
Referências

Bibliografia____________________________________________ 247

Dicionários, vocabulários e tesauros__________________ 250

Corpora eletrônicos ___________________________________ 251


Linguagem jurídica________________________________251
Língua geral______________________________________251

Outros trabalhos da autora___________________________ 252


Introdução

Este livro reúne cerca de duas centenas de pequenos textos publicados ao


longo de quatro anos na coluna Migalaw do site Migalhas e no Termo
da Semana da TradJuris. A grande maioria das publicações foi motiva-
da por perguntas enviadas pelos leitores. Portanto, podemos dizer que se
trata de um retrato da curiosidade dos profissionais jurídicos e tradutores
brasileiros sobre temas e termos de tradução e terminologia jurídica.
Para integrar o livro, os textos foram revistos, editados e organi-
zados em duas partes: uma encampando temas de Tradução e outra, de
Terminologia. A primeira é composta de textos sobre o sistema jurídico
da Common Law, os modos de tradução, a importância da tecnologia na
terminologia e as características da linguagem jurídica em inglês. A segun-
da ocupa-se de termos essenciais ao inglês jurídico e de termos pontuais
por área do direito.
A palavra de ordem das respostas oferecidas às indagações dos leito-
res da TradJuris e da Migalaw sempre foi uso, a partir dele adota-se uma
abordagem descritiva da linguagem jurídica em inglês. Ao descrever os
usos, embasamos nossos correspondentes no contexto, frequência e colo-
cações 2 dos termos de partida e de chegada em corpora eletrônicos. E, em
tempos de Big Data, corpora eletrônicos são ferramentas indispensáveis
àqueles que trabalham com textos em geral: tradutores, pesquisadores,
profissionais do direito, consultores, professores, jornalistas etc.
A partir do processamento de linguagem natural por meio de cor-
pora, além de contextos, usos, colocados, padrões linguísticos, fraseologia,
entre outros, é possível fazer uma infinidade de estudos ligados, por exem-
plo, à prática jurídica: identificação de tendências nas decisões judiciais
e administrativas, análise de documentos em discoveries, análise da lin-
guagem em depoimentos, investigação de autoria, due diligence e tantas
outras atividades que, há pouco tempo, eram inimagináveis no campo do
Direito e que, hoje, podem ser otimizadas com emprego da tecnologia e
metodologias em linguística de corpus, não havendo razão para que gran-
des órgãos, empresas, escritórios e instituições que trabalhem com grandes
quantidades de texto não se beneficiem desses avanços.

2 Para saber o que são colocações, consulte o item 2.8.2.

25
Os principais corpora eletrônicos utilizados aqui foram: COCA
(Corpus of Contemporary American English), BNC (British Na-
tional Corpus), Cobuild (Collins Cobuild Concordance Sam-
pler), Time (Time Corpus of American English) e CorTec (Corpus
Técnico-Científico do Projeto COMET – Corpus Multilíngue para Ensi-
no e Tradução). Todos estão disponíveis gratuitamente na internet.
Por fim, o enfoque é essencialmente prático e o livro não possui
pretensões acadêmicas. Os textos são independentes entre si e destinados
a serem lidos na ordem que a curiosidade do leitor determinar. Não recor-
rem a uma metodologia específica, mas reproduzem o caminho da pes-
quisa empreendida para se chegar a possíveis sugestões de corresponden-
tes. Em muitos casos, o ponto de partida é uma definição dicionarizada,
porém, é por meio de exemplos em linguagem autêntica que as diversas
opções de tradução são reveladas, deixando ao leitor a decisão final. E, por
fim, o tom busca ser leve e descontraído, como a resposta à pergunta de
uma pessoa amiga deve ser.

26
1. Tradução jurídica
1.1 Desafios da tradução

São dois os principais desafios da tradução jurídica. O primeiro decorre de


a linguagem jurídica ser uma linguagem de especialidade, demandando do
tradutor o conhecimento não só das línguas de trabalho (o português e o
inglês, no nosso caso), mas também de suas elocuções específicas (i.e. inglês
jurídico e português jurídico). Só assim poderá o tradutor ter segurança para
traduzir linguagem jurídica em inglês por linguagem jurídica em português.
O segundo desafio advém do fato de a tradução jurídica envolver
sistemas jurídicos distintos não só em termos de legislação, mas de história,
tradição, visão de mundo, convenções sociais, expectativas culturais, lógica,
entre outros.

Quadro 1: Complexidade do processo tradutório


Processo tradutório
Língua de partida > Língua de chegada
Sistema jurídico de partida > Sistema jurídico de chegada

A Common L aw
Recebe o nome de Common Law, a família de direito pertencente a países
de língua inglesa que adotaram a tradição jurídica da Inglaterra. Sua in-
trodução iniciou-se com a conquista normanda realizada por Guilherme,
o Conquistador, no século XI. Até então, o território conhecido hoje por
Grã-Bretanha era dividido em tribos que falavam línguas germânicas (e.g.
anglo, saxão, nórdicas) e outras (e.g. celta). Como resultado, antes da con-
quista de Guilherme, várias línguas eram usadas no Direito, pelo menos
uma para cada tribo existente. Além disso, a tradição jurídica desse período
era predominantemente oral.
Para consolidar e centralizar o poder em uma área tão pulverizada,
Guilherme, o Conquistador, implementou um sistema jurídico que recebeu
o nome de common law of the land, cuja tradução literal seria ‘direito co-
mum ao território’. Entretanto, ao contrário do que o nome parecia sugerir,
o sistema nada tinha de comum a todos, pois se tratava de um sistema para
reger unicamente as causas em que tinha interesse o novo poder central.

29
A fim de garantir seu domínio, o rei nomeou juízes para julgar as
ações envolvendo questões de interesse da coroa, porém não preestabeleceu
normas a serem adotadas. Assim, os juízes, ao resolverem as ações que lhes
eram apresentadas, passaram a sedimentar a jurisprudência (precedents, case
law) que serviria de base para a decisão de casos futuros semelhantes. Com
a inauguração de um sistema jurídico essencialmente jurisprudencial (case-
law based legal system), a antiga tradição oral das tribos começou a esfalecer.

Quadro 2: Sistemas romano-germânico e anglo-americano


Romano-germânico Anglo-americano
Origem no direito romano Origem no direito inglês
Fonte de direito: Codificação Fonte de Direito: jurisprudência
(Poder Legislativo) (Poder Judiciário)
Europa continental Inglaterra, País de Gales
e Irlanda do Norte
América Latina Ex-colônias inglesas
Brasil Estados Unidos

Além das diferenças jurídicas e históricas entre as tradições jurídicas roma-


no-germânica e da common law, há importantes consequências linguísticas,
sentidas até hoje, decorrentes da variedade de línguas que influenciaram a
common law.
Na época da chegada de Guilherme, o Conquistador, em 1066, en-
quanto o francês era a língua da corte, o latim predominava no Direito, pois
era a língua do clero, dos instruídos, dos juízes da coroa e dos redatores de
documentos oficiais (leis, cartas e ordens). Mellinkoff (1963) afirma ser
possível deduzir, mas talvez nunca realmente provar, que, durante a época
posterior à conquista normanda, três eram as línguas mais usadas: o latim,
o francês e o inglês.
Antes do século XIV, apesar de a língua do povo ser predominante-
mente o inglês, o latim por razões de poder era a língua do direito. Com
o aumento da influência francesa na Europa, o latim no direito foi sendo
substituído pelo francês – e não pela língua do povo. O inglês só passou a
ser empregado timidamente no direito inglês, muito mais tarde, a partir do
século XVIII. Portanto, a título de curiosidade, a nossa língua portuguesa
é empregada, no direito brasileiro, há mais tempo que o inglês no direito
inglês.

30
O caso dos binômios
Com tantas influências linguísticas, desde as línguas germânicas da épo-
ca tribal, passando pelo latim e pelo francês, a linguagem jurídica inglesa
cresceu desordenadamente e até hoje sentimos as consequências desse fenô-
meno, principalmente ao traduzir documentos em inglês para o português.
Uma das consequências mais marcantes é a existência de termos ju-
rídicos com acepções similares, – e em muitos casos acepções idênticas –,
mas com origem em línguas diferentes. Dessa múltipla influência linguística
decorre uma característica interessantíssima do inglês jurídico: a tendência
de associar palavras sinônimas. É o que ocorre com freedom e liberty, em que
a primeira palavra tem origem no inglês, e a outra no francês.

Quadro 3: Palavras de diferentes origens


Inglês (anglo-saxão) Francês (normando) Tradução (português)
bid offer oferta, lance
freedom liberty liberdade
land country país
worth value valor
theft larceny furto

Prolifera, assim, a presença dos binômios, sendo sua origem e formação,


seguramente, um dos desafios mais complexos para a tradução jurídica 3.
Além de freedom e liberty, outros exemplos surgem com a mesma
intensidade, tais como bargain and sale (venda) e breaking and entering (ar-
rombamento), que combinam um termo oriundo do francês com outro do
inglês antigo. O resultado desse fenômeno é, no mínimo, intrigante.
No caso de freedom e liberty, por exemplo, as palavras são muitas
vezes empregadas juntas, formando uma unidade: freedom and liberty (li-
berdade), com uma única acepção. Em outros casos, como em bid e offer,
os termos são empregados em contextos diferentes: o primeiro (bid), para o
caso de leilão e licitação; e o segundo (offer), em matéria contratual.

3 Para um estudo exaustivo dos binômios presentes na linguagem contratual


em inglês e os desafios que representam a tradução para o português, ver
Carvalho (2007).

31
Quadro 4: Binômios formados por palavras sinonímicas
Binômios presentes na linguagem jurídica Tradução
deem and consider considerar
fit and proper adequado
title and interest título
shun and avoid evitar
will and testament testamento
hold and keep manter

A ocorrência dos binômios formados por sinônimos no inglês é uma marca


que deve ser reconhecida pelo tradutor de textos jurídicos, pois o constante
recurso à sinonímia é um elemento decorativo característico da linguagem
jurídica dessa língua, resultante do choque entre as diversas línguas que in-
fluenciaram e formaram o inglês jurídico.
Nesse sentido, Garner (2001) recomenda de forma explícita evitar
o uso de binômios. Afirma o autor ser a linguagem jurídica em inglês his-
toricamente redundante e não serem essas expressões exigência da área, mas
mero costume. Consequentemente, no caso de as palavras serem sinônimas
(e.g. convey and transport – transportar), deve-se usar a que se encaixar me-
lhor no contexto. A opinião do autor é a mesma do chamado Plain English
Movement, um movimento em prol de uma linguagem jurídica mais aces-
sível e simplificada.
De acordo com essa orientação, os binômios na tabela abaixo de-
veriam ser, no próprio texto original, lidos e simplificados pelo termo na
coluna da direita.

Quadro 5: Duplicação inútil 4


Duplicação inútil Usar Tradução
annul and set aside annul anular
entirely and completely remove remove retirar
last will and testament will testamento
totally null and void void nulo

4 Segundo Mellinkoff (1963)

32
As consequências para a tradução
Apesar de a bibliografia sobre linguagem jurídica em inglês ser unânime
em recomendar a simplificação, indicando a leitura dos binômios como
unidade – além de definir os binômios formados por palavras sinônimas
como duplicação inútil –, não é essa a regra adotada na maioria dos textos
traduzidos para o português. Os componentes dos binômios acabam sendo
traduzidos isoladamente em uma busca infrutífera de palavras sinônimas a
serem empregadas no texto de chegada. A consequência é a produção de um
texto-alvo pouco idiomático que não representa uma tradução de linguagem
jurídica por linguagem jurídica.
Para evitar um palavreado cuja clareza é, no mínimo, questionável,
propomos que, ao traduzir binômios, o tradutor verifique se cada um dos
componentes tem real utilidade.
Assim, diante de um binômio formado por sinônimos, o tradutor
deverá adotar a recomendação feita por Garner (2001), citada acima, ou
seja: escolher a palavra que melhor se aplicar ao contexto e, em seguida,
traduzi-la para a língua-alvo levando em conta a terminologia adotada no
sistema jurídico de chegada.
Ao proceder dessa forma, o tradutor garantirá um texto-alvo mais
natural, evitando possíveis problemas de interpretação causados pelo uso de
termos supérfluos.

Quadro 6: Tradução literal e tradução idiomática


Binômio Tradução literal Tradução jurídica
of any kind or nature de qualquer tipo de qualquer
ou natureza natureza
full right and authority total direito e plenos poderes
autoridade
pain and suffering dor e sofrimento danos morais
wear and tear uso e desgaste desgaste natural

Por fim, cabe ressaltar a importância de o profissional da tradução conhecer


não só os sistemas jurídicos envolvidos na tradução, mas também a origem
e formação históricas de suas línguas de trabalho para, dessa maneira, po-
der tomar decisões embasadas que lhe permitam traduzir linguagem jurídi-
ca por linguagem jurídica, respeitando as convenções e o estilo da área de
especialidade.

33
1.2 Tradução e interpretação

São diversos os modos de tradução e interpretação. Em muitos casos, a di-


versidade de termos dá margem a certa confusão terminológica, fazendo
com que sejam usadas expressões imprecisas na linguagem falada (e.g. tradu-
ção simultânea). Por essa razão, e a fim de elucidar os principais modos de
tradução e interpretação, oferecemos a breve descrição a seguir:

Tradução
A tradução é um processo de transformação linguístico-cultural realizado
por meio escrito por profissional denominado tradutor. Simples ou jura-
mentada, ela se divide em:
tradução propriamente dita – realizada na direção da
língua estrangeira para a língua materna; e
versão – realizada na direção da língua
materna para língua estrangeira.

Interpretação
Processo de transformação linguístico-cultural realizado por meio oral por
profissional denominado intérprete. Possui duas categorias principais – si-
multânea e consecutiva – que, por sua vez, também apresentam subdivisões:
1. consecutiva – realizada sem o auxílio de equipamentos. Reflete dire-
tamente na duração do evento: uma palestra de uma hora, por exem-
plo, será interpretada em período semelhante.
interpretação consecutiva tradicional – realizada após o intérprete
escutar a íntegra ou um trecho significativo do discurso
do orador. É utilizada em eventos formais. Era o modo
tradicionalmente adotado pela Liga das Nações e o mais
comum até o advento da interpretação simultânea.
interpretação consecutiva intermitente – realizada após o
intérprete escutar um ou poucos períodos do discurso do
orador. Também chamada de interpretação sentence-by-
sentence ou ping-pong. Trata-se de um modo mais dinâmico,

35
permitindo maior interação entre orador e público-alvo.
Modo empregado principalmente em conference calls,
reuniões ou treinamentos com público reduzido.
2. simultânea – realizada com ou sem auxílio de equipamentos. A inter-
pretação não é propriamente simultânea, mas, ao contrário da conse-
cutiva, o intervalo entre fala e interpretação (décalage) é tão pequeno
(poucas palavras), qualificando esse modelo como simultâneo, o que
permite que a fala do orador e a sua interpretação se encerrem prati-
camente ao mesmo tempo, tendo um reflexo positivo na duração do
evento. Existem, contudo, duas subdivisões dessa categoria:
interpretação simultânea tradicional – realizada, em regra,
por dois intérpretes, para um grande público, com auxílio
de equipamentos de som, cabine de vidro, microfones
etc. Esse modo de interpretação ganhou espaço no pós-
guerra e foi empregado nos Julgamentos de Nuremberg
devido ao número de línguas em questão: francês, inglês,
russo e alemão. Caso fosse utilizada apenas a interpretação
consecutiva, os julgamentos teriam tido o quádruplo da
duração. A partir de Nuremberg, esse modo de interpretação
passou a ser adotado pela ONU e hoje é o mais comum e
amplamente empregado em congressos, palestras, simpósios
etc.
interpretação simultânea sussurrada – realizada ao pé-do-ouvido
do cliente, em voz baixa, para um ou dois ouvintes. Também
conhecida por whispering ou chuchotage.

36
1.3 A terminologia e a tecnologia

Ao tratar do léxico e da gramática, Vilela (1995) afirma que o vocábulo,


terminologia “pode compreender o conjunto dos termos próprios da arte,
da ciência ou de qualquer técnica”.
De acordo com a definição contida no Manual de Terminologia
(2002), porém, terminologia também é considerada uma “disciplina lin-
guística dedicada ao estudo científico dos conceitos e dos termos usados nas
línguas de especialidade”.
Portanto, podemos definir como terminologia jurídica o estudo
científico dos termos empregados no universo do direito, ou pelo conjunto
dos termos desse universo.
Diante desse contexto, o objetivo principal da pesquisa terminológi-
ca é, ainda de acordo com o Manual de Terminologia (2002), “identificar
termos que comunicam conhecimentos especializados”. Ou seja, terminolo-
gia consiste também em saber identificar palavras (termo simples) e grupos
de palavras (termo composto) que transmitem conhecimento especializado.
OObs.: Quando falamos em termo ou unidade terminológica
nos referimos a: palavra (i.e. termo simples), grupo de
palavras (i.e. termo composto), sintagma (i.e. unidade
sintática) que designam um conceito da área jurídica.

Identificação de termos jurídicos


Neste livro, a identificação dos termos que comunicam conceitos da área
específica – a jurídica – foi feita, sobretudo, com base nas perguntas dos
leitores das publicações MigaLaw e Termo da Semana. Os correspondentes
em português ou em inglês, bem como as abonações (i.e. os exemplos) são
apontados com base em obras de referência especializadas e, principalmente,
com o auxílio de ferramentas eletrônicas (e.g. corpora eletrônicos, softwares
especializados).
Há uma grande vantagem em valer-se da informática na termino-
logia. No passado, toda atividade terminológica, desde a identificação de
termos à análise e entrega do produto final era feita manualmente. Em ou-
tras palavras, os termos eram colhidos um a um em fontes materiais, como
livros e/ou revistas, de acordo com a subjetividade do pesquisador e viés da

37
pesquisa. Hoje, por meio dos corpora e das bases de dados eletrônicos, a in-
formática assegura menor subjetividade na escolha dos termos e exemplos.
Como resultado, há “ganhos de produtividade, de qualidade e acessibilidade
sem precedentes” (Pavel & Nolet, 2002).

Corpora eletrônicos
O termo corpora é plural de corpus. No sentido atual adotado pelos es-
tudos linguísticos, um corpus é uma coletânea de textos, criteriosamente
selecionados, processados por meio de programa de computador, para fins
de pesquisa linguística.
A título de exemplo de corpora 5 compilados para fins terminológi-
cos, temos o Corpus Técnico-Científico (CorTec), do Projeto Corpus Mul-
tilíngue para Ensino e Tradução (COMET), da Universidade de São Paulo
(USP). O CorTec pode ser acessado gratuitamente e está disponível em:
http://www.fflch.usp.br/dlm/comet/consulta_cortec.html.

5 Para uma lista completa dos corpora utilizados nesta obra, consultar as
Referências – Corpora eletrônicos.

38
1.4 Os arcaísmos na linguagem jurídica

A linguagem jurídica em inglês é marcada por arcaísmos léxicos, morfológi-


cos e semânticos. Esses arcaísmos referem-se, respectivamente, a palavras ou
expressões, a estruturas ou formações de palavras e a acepções em desuso ou
raras em outras áreas do discurso, porém não no discurso jurídico.
Os arcaísmos, na linguagem jurídica em inglês, são palavras oriun-
das do inglês antigo (Old English) e do inglês médio (Middle English). O
primeiro prevaleceu até a conquista normanda, em 1100, no território da
atual Inglaterra; e o segundo é considerado o inglês falado entre essa data,
aproximadamente, e o ano de 1500, quando se inicia o período do inglês
moderno (Modern English).
A elevada ocorrência de arcaísmos, e a formalidade que, em parte,
decorre deles, têm o objetivo de conferir, à linguagem jurídica, alto grau de
autoridade e prestígio.
Segundo Tiersma (2000), os arcaísmos “separam o processo judicial
da vida comum, tornando-o importante e especial”; além disso, diz, “uma
linguagem formal, arcaica e formulaica confere uma aura de atemporalidade
que torna o Direito praticamente eterno e, portanto, ainda mais inspirador
de confiança e respeito”. E é assim, de acordo com o mesmo autor, que “o
Judiciário reforça sua legitimidade retratando-se como uma instituição sóli-
da, imutável e tradicional”.
Da mesma forma, o emprego de arcaísmos auxiliaria os profissionais
especializados a manter o monopólio da linguagem jurídica em inglês, pois
“aos clientes que se deparam com documentos jurídicos impenetráveis, al-
ternativa não resta que não a de buscar os serviços de um advogado para
interpretá-los” (Tiersma, 2000).

Exemplos de arcaísmos
arcaísmos léxicos
Lexemas iniciados em here- (herein, hereunder etc.), there-
(therein, thereunder etc.), where- (wheretofore, whereof etc.)
que eram comuns no inglês medieval em que o falante do
Middle English, em vez de dizer under it ou under that,
empregava hereunder ou thereunder. Esses advérbios são
também empregados no discurso religioso e são frequentes

39
na King James Bible – tradução inglesa da bíblia, publicada
pela primeira vez em 1611, a pedido do rei James I, para a
Igreja Anglicana.
arcaísmos morfológicos
Ye, antiga forma plural de you, sobrevive em Hear ye,
expressão utilizada para abrir sessão de julgamento.
arcaísmos semânticos
Witnesseth, antiga forma verbal empregada em construções
como This policy witnesseth that... (A presente apólice
atesta que...). A expressão sofreu deslocamento semântico
ao passar a ser empregado isoladamente no início dos
contratos, logo após a qualificação das partes, com a acepção
de “O presente é um contrato válido regido pelas seguintes
cláusulas 6 ” (Tiersma, 2000).

Plain English Movement


Os adeptos do Plain English Movement, – movimento em defesa da simplifi-
cação da linguagem jurídica –, recomendam a não utilização dos arcaísmos,
pois obnubilam a comunicação. Entretanto, essa posição não é unânime,
indo de encontro com a mentalidade dos profissionais do direito inglês que,
segundo Mellinkoff (1963), acreditam que “Quanto mais morta [uma
palavra] melhor 7”.
Como principal argumento, tal corrente se apoia em uma suposta
precisão da terminologia jurídica, a qual pouco fugiria de sua significação
original, encontrada desde a época de Sir Edward Coke 8, i.e., no século
XVII.
Mellinkoff (1963) observa que, em uma área tão tradicional do co-
nhecimento, tudo que é antigo é tido como positivo. Felizmente, essa visão
já não predomina nos atuais livros sobre estilo e escrita jurídica. Garner

6 This is a legal contract; the following are its terms.


7 The deader, the better;
8 Sir Edward Coke, jurista e político inglês, autor dos Institutes of the Laws
of England (1628-64), a primeira obra importante de doutrina a ser escrita
parcialmente em inglês.

40
(2001), por exemplo, oferece uma lista de arcaísmos a evitar. A essa lista,
exposta a seguir, acrescentamos informações sobre a classe gramatical, os
sinônimos e os possíveis correspondentes em português:
alack (interj.) expressa sofrimento,
arrependimento ou alarme.
anent – (prep.) regarding; concerning: sobre
anon – (adv.) at another time; later. In a
short time; soon: antes, logo
belike – (adv.) probably; perhaps: talvez
divers – (adj.) various; several; sundry: vários, diversos
fain (adv.) – preferably; rather: preferencialmente, em vez de
fain (adj.) – 1. ready; willing: pronto, disposto;
2. pleased; happy: satisfeito, contente; 3.
obliged; required: obrigatório, exigido
haply – (adv.) by chance; by accident: por
acaso, acidentalmente
howbeit – (conj.) although: ainda que
maugre – (prep.) notwithstanding; in spite of: apesar de
methinks – (v.) it seems to me: a meu ver
perchance – (adv.) perhaps; possibly: talvez, possivelmente
shew (v.) passado de show: mostrar, demonstrar
to wit – (idiom.) that is to say; namely: isto é, a saber
verily – (adv.) 1. in truth; in fact: de fato; 2. with
confidence; assuredly: certamente
whilom – (adv.) at a past time; formerly:
no passado, antigamente
withal – (adv.) 1. in addition; besides: além disso;
2. despite that; nevertheless: apesar de
wot – (v. tr.) to be or become aware of; learn:
estar ciente, tomar ciência
wroth – (adj.) wrathful; angry: furioso

41
1.5 Plural de lexemas: latim e grego

Em regra, para formar o plural de substantivos em inglês, acrescenta-se –s


ou –(i)es dependendo da terminação da palavra. Por outro lado, muitos
lexemas, comuns na língua geral, possuem plurais totalmente irregulares
como, por exemplo, child – children, man – men, woman – women.
Há, ainda, aquelas palavras cuja origem estrangeira influencia tam-
bém sua forma no plural. É o caso das palavras de origem latina e grega.
Como algumas delas possuem alto índice de ocorrência no inglês jurídico,
abordaremos neste item sua forma plural particular.

Latim
As principais terminações para a formação do plural de palavras com origem
no latim são:

–i para palavras terminando em –us (singular masculino)


·· syllabus (resumo de julgamento) > syllabi
OObs.: A forma anglicizada do plural, syllabuses,
também é admitida em inglês.

–ae para palavras terminando em –a (singular feminino)


·· lacuna (lacuna) > lacunae

–a para palavras terminando em –um (singular neutro)


·· memorandum (memorando, minuta) > memoranda

–ces para palavras terminando em –x


·· appendix (anexo, apêndice) > appendices
OObs.: A forma anglicizada do plural, appendixes,
também é admitida em inglês.

43
Grego
No caso das palavras com origem no grego, aplica-se:

–a para formar o plural de substantivos


neutros terminados em –on:
·· criterion (critério) > criteria

–es para formar o plural de substantivos


terminados em –is
·· analysis (análise) > analyses

44
1.6 Verbos modais

A língua inglesa conhece uma categoria de verbos denominada ‘verbos mo-


dais’ (modal auxiliary verbs). Os modais são utilizados antes da forma infi-
nitiva de outros verbos e acrescentam significados referentes à obrigação, à
liberdade de agir e ao grau de certeza. Swan (1995), ao descrever a língua
geral (i.e. não a linguagem de especialidade) apresenta, com base no signi-
ficado, uma classificação para os verbos modais de acordo com o grau de
certeza e de obrigação.

EXEMPLOS

Segundo o grau de certeza os modais são classificados, de acordo com Swan


(1995), da seguinte maneira:
certeza absoluta
I shall be leaving in July.
Things won’t be all right.
probabilidade/possibilidade
She should/ ought to be here soon.
We may be moving soon.
pouca probabilidade
I might see you again – who knows?
We could be millionaires one day.
possibilidade teórica ou habitual
Paris can be very warm in September.
Brazilian students may find it easy to learn Spanish.
condição
If things had been different, life would have been easier.

45
Swan (1995) nos apresenta também uma classificação dos modais, segundo
a força da obrigação e a liberdade de agir, entre eles encontramos outras
sete categorias 9:
obrigação
Students must register at the tutorial office
in the first week of course.
proibição
You can’t come in.
recomendação
You should try to work harder.
vontade, disposição, insistência
I’ll pay for the drinks.
permissão
Can I borrow your keys?
falta de obrigação
You needn’t work this Saturday.
habilidade
She can speak six languages.

Língua geral x Língua de especialidade


Se acima se encontram dispostos exemplos da língua geral, o que acontece
com os modais na linguagem de especialidade?
Diferentemente da língua geral, os modais utilizados na linguagem
jurídica estão em menor número. Ao observamos a ocorrência de modais em
um corpus de linguagem contratual – o CorTec –, verifica-se que o modal
mais usado é shall, seguido de may e will.

9 Todos os exemplos deste item, salvo quando indicado, foram retirados do


British National Corpus.

46
Vale ressaltar que, nesse tipo de linguagem, a ocorrência de should é
baixíssima. Tal fato tem repercussão direta na tradução para o inglês, pois o
tradutor deve ser cuidadoso ao eleger should – sobretudo para a tradução do
verbo dever em tempos compostos (e.g. deverá notificar a parte) – e verificar
se não é o caso de utilizar outro modal.

Quadro 7: Ocorrência dos modais no CorTec


Modal Ocorrências no CorTec (200 mil palavras)
shall 2.767 ocorrências
may 792 ocorrências
will 529 ocorrências
should 21 ocorrências

Shall x should
Tendo em mãos os dados extraídos a partir do CorTec, notamos ser de
maior utilidade para o tradutor jurídico um exame dos contextos em que
os modais shall e should ocorrem. Para ajudar nessa operação, contrastamos
shall e should, buscando auxiliar o operador da linguagem na tradução desses
lexemas.
Shall
The term of this Agreement shall expire June 30, 2001,
(the”Term”), but shall be automatically extended for an
unlimited number of successive two (2) year terms from the
initial or any subsequent expiration date unless either party
shall give written notice to the other party, at least one (1)
year before the date the Term is due to expire.
Na cláusula acima, sobre a duração do contrato, as partes pactuaram que o
contrato terminará (1.º shall) em 30 de junho, mas será automaticamente
prorrogado (2.º shall) por períodos sucessivos e ilimitados de dois anos,
salvo se qualquer uma das partes enviar (3.º shall) notificação por escrito à
outra parte, com pelo menos 1 (um) ano de antecedência do Prazo em que
o contrato deverá terminar.
Como podemos observar, todos os ‘shalls’ se referem a obrigações.

47
Should
Either party may terminate this Agreement immediately
should any Software become, or in either party’s opinion be
likely to become, the subject of a claim of infringement of any
intellectual property right.
Na cláusula acima, as partes terão a faculdade (may) de imediatamente pôr
fim ao contrato no caso de (should) qualquer software tornar-se ou, na opi-
nião de qualquer parte, puder se tornar objeto de litígio envolvendo a viola-
ção de qualquer direito de propriedade intelectual.
Por meio da análise dos contextos em que shall e should são emprega-
dos, é possível verificar a natureza cogente e obrigatória de shall, e a natureza
condicional ou probabilística de should. A diferença entre esses modais fica
ainda mais evidente quando observamos a ocorrência de ambos no mesmo
período.
Shall e should no mesmo período
The provisions of this section shall not prevent the entire
Agreement from being void should a provision which is the
essence of the Agreement be determined to be void.
De acordo com o trecho anterior, o disposto em uma determinada cláusula
do contrato não impedirá (shall not) que todo o contrato seja declarado
nulo no caso de (should) disposição essencial à natureza do contrato ser
declarada nula.
◊◊ Products hereunder shall be based on the terms and
conditions set forth herein and in the applicable Purchase
Order provided that, if any discrepancy should occur
between the terms and conditions of this Agreement and
of the Purchase Order, this Agreement shall prevail.
Os produtos nos termos deste contrato basear-se-ão nos termos
e condições aqui previstos e no Pedido de Compra aplicável,
sendo que, em havendo discrepância – que poderá ou não
ocorrer – entre os termos e as disposições do contrato e os
do pedido de compra, o disposto no contrato prevalecerá.

48
1.7 O uso do subjuntivo

O uso do subjuntivo não é muito comum na linguagem coloquial em inglês.


Entretanto, devido aos verbos e às expressões com os quais ocorre, trata-se
de um tempo verbal bastante frequente na linguagem jurídica.
O subjuntivo é uma das marcas da formalidade característica do in-
glês jurídico, cujo registro é, quase sempre, alto.

Verbos que tipicamente ocorrem com o subjuntivo


to advise [that] – recomendar
to agree [that] – concordar, obrigar-se, comprometer-se
to ask [that] – pedir
to beg [that] – implorar
to command [that] – determinar
to decree [that] – decretar, determinar
to demand [that] – exigir
to order [that] – determinar, ordenar, mandar
to plead [that] – alegar
to prefer [that] – preferir
to propose [that] – propor, oferecer
to recommend [that] – recomendar
to request [that] – pedir, solicitar
to rule [that] – determinar, julgar

EXPRESSÕES QUE PEDEM O SUBJUNTIVO:

it is crucial [that] – é indispensável


it is desirable [that] – é desejável
it is essential [that] – é importante
it is necessary [that] – é necessário

49
A partir dos exemplos acima, verificamos que o subjuntivo é usado para
expressar a importância de algo ou a opinião, desejo ou ordem de alguém.
OObs.: O uso de that é sempre facultativo

Mais sobre o subjuntivo


A forma do subjuntivo se parece com a forma do verbo no infinitivo (i.e.
não leva “s” na terceira pessoa). Ao contrário do subjuntivo em português, o
subjuntivo em inglês possui a mesma forma, tanto no presente, quanto no
passado e no futuro.

keep
Presente
◊◊ The Chairman insists that they keep to schedule.
O presidente insiste que eles respeitem o cronograma.
Passado
◊◊ The Chairman insisted that they keep to schedule.
O presidente insistira que eles respeitassem o cronograma.
Futuro
◊◊ The Chairman will insist that they keep to schedule.
O presidente insistirá que eles respeitem o cronograma.

be
Presente
◊◊ It is crucial that he be at the meeting.
É imprescindível que ele compareça à reunião.
Passado
◊◊ It was crucial that he be at the meeting.
Era imprescindível que ele comparecesse à reunião.
Futuro
◊◊ It will be crucial that he be at the meeting.
Será imprescindível que ele compareça à reunião.
OObs.: Em sua forma negativa, o subjuntivo
não leva o auxiliar “do”:

50
◊◊ The Chairman insisted that they not stay behind.
O presidente insistiu que eles não se atrasassem.
◊◊ It is crucial that he not be at the meeting.
É imprescindível que ele não compareça à reunião.
O subjuntivo também pode ser usado nos tempos contínuos (continuous) e
na voz passiva (passive forms):
Formas verbais contínuas
◊◊ It is vital that you be waiting for me when I finish.
É essencial que você esteja me esperando quando eu terminar.
◊◊ The attorney recommended that the defendant
be standing when the judge entered.
O advogado recomendou que o réu ficasse
de pé quando o juiz entrasse.
Voz passiva
◊◊ Mr. Coke recommended that the senior
attorney be engaged immediately.
O Sr. Coke recomendou que o advogado sênior
fosse contratado imediatamente.
◊◊ It is essential that the witness be admitted.
É fundamental que a testemunha seja admitida/aceita?

O subjuntivo nos gêneros jurídicos


Abaixo seguem mais exemplos do subjuntivo extraídos de diversos gêneros
textuais utilizados na linguagem jurídica em inglês:
fórmulas solenes – fórmula de abertura (enacting formula) das
leis britânicas
◊◊ Be it enacted by the Queen’s most Excellent Majesty, by
and with the advice and consent of the Lords Spiritual
and Temporal, and Commons, in this present Parliament
assembled, and by the authority of the same...
Promulga-se por sua Majestade, a Rainha, mediante
recomendação e consentimento da Câmara dos
Lordes e da Câmara dos Comuns, neste Parlamento
reunido e de acordo com seus poderes...

51
decisões judiciais (court decisions)
◊◊ As Associate Judge Sargisson does not return from leave until
after that date, counsel advises that the parties agree that
this matter be recalled and reheard by me today 10 .
Como o Juiz Adjunto Sargisson só voltará de
licença depois daquela data, aconselha-se que as
partes concordem que essa questão seja trazida e
conhecida novamente por mim na presente data.
pareceres (legal opinions)
◊◊ If it be for the benefit of the Town, as a political body, then
the right should be retained by the Town if it be for the benefit
of the proprietors, as such, then the right belongs to them 11.
Se for para benefício da Cidade como uma entidade política,
o direito deve ser mantido pela Cidade, se for para benefício
dos proprietários como tais, então o direito lhes pertence.

10 Fonte do exemplo: B D Clode v M J Cooper HC AK Civ 2007-404-005293


[2008] NZHC 15 (25 January 2008)
11 Fonte do exemplo: The legal opinion of Richard W. Green, esq., on the question
of the town’s interest in the ancient grist mill (1830) [Disponível em: https://
archive.org/details/legalopinionofri00gree].

52
1.8 O poder das preposições

Ninguém duvida do grande desafio das preposições para o falante de língua


estrangeira. Que o desafio é ainda maior em uma linguagem de especialida-
de, é o que pretendemos ilustrar neste item.
Algumas das preposições mais comuns em inglês são: about, above,
over, across, along, around, before, below, under, beside, between, by, with,
from, during, in, for, at, down, of, off, into, onto, of, behind, beyond, against,
by, despite, till, to, within. O rol é extenso e o papel delas, enorme.
As preposições são poderosas e capazes de mudar a acepção de um
verbo ou de um substantivo. É o que acontece com os verbos a seguir.

Agree
O verbo agree seguido da preposição with, por exemplo, terá a acepção de
ter a mesma opinião que alguém. Por outro lado, caso seja seguido de to,
passará a significar obrigar-se a.
agree with
◊◊ If Licensee does not respond or make an effort to agree with
Board on the disposition of rights in the subject invention,
then Board may file an application at its own expense.
Se a Licenciada não responder, nem envidar esforços para
chegar a um acordo com o Conselho sobre a disposição dos
direitos em relação ao objeto da invenção, o Conselho poderá
apresentar um pedido de registro às suas próprias custas.
agree to
◊◊ You agree to comply strictly with all such laws
and regulations and acknowledge that you have the
responsibility to obtain such licenses to export.
Você se obriga a cumprir rigorosamente todas as leis e
regulamentos aplicáveis e reconhece ser o responsável
pela obtenção de tais licenças de exportação.

53
Charge
O mesmo ocorre mais intensamente com charge. Quando seguido de for,
corresponde a cobrar algo. Seguido de at, pode ser traduzido como cobrar
por [hora]. Antes de to, vale por cobrar de alguém, e, se seguido de with,
tem a acepção de acusar alguém de algo.
charge for
◊◊ …in the event of them not being removed the Landlord shall
be entitled to remove the same at the sole risk of the Tenant and
to charge the Tenant for the cost of removal and storage…
… se elas não forem retiradas, o Proprietário poderá
retirá-las por risco exclusivo do Locatário e cobrar do
Locatário o custo de sua retirada e armazenamento...
charge at
◊◊ … the time of each [law professional] will be
charged at his or her hourly rate.
…o tempo gasto por cada [advogado] será
cobrado de acordo com o valor da sua hora.
charge to
◊◊ If, while this agreement is in effect, Law Firm increases the
hourly rates being charged to clients for attorney’s fees, that
increase may be applied to fees incurred under this agreement…
Se, durante a vigência deste contrato, o Escritório de Advocacia
aumentar o valor das horas cobradas dos clientes relativas
a honorários advocatícios, tal aumento poderá ser aplicado
aos honorários incorridos nos termos deste contrato...
charge with
◊◊ The mayor of Birmingham was arrested by federal
agents and charged with taking bribes in exchange
for doling out county financial business.
O Prefeito de Birmingham foi preso por agentes
da polícia federal e acusado de receber propina em
troca de negócios financeiros com o condado.
Em relação a charge, abordamos acima apenas algumas das preposições da
regência verbal do lexema. No caso do substantivo charge, as preposições que
o regem são outras como, por exemplo, upon e against. No primeiro caso, a

54
acepção é a de “ônus sobre um determinado bem”. No segundo, “acusação
contra alguém”.
OObs.: A categoria gramatical afeta diretamente as palavras
com as quais um termo ocorre, i.e., suas colocações.

EXEMPLOS

charge upon
◊◊ [the party] shall pay all claims for labor, materials or supplies
which if unpaid might by law become a lien or charge upon
any property of the Guarantor or any of its Subsidiaries.
[a parte] pagará todas as reivindicações trabalhistas e relativas
a materiais ou suprimentos que se não pagas poderão se
tornar, em virtude de lei, um gravame ou ônus sobre qualquer
bem da Garantidora ou de qualquer de suas subsidiárias.
charge against
◊◊ …there is no charge or complaint against the Company or any
Company Subsidiary by the National Labor Relations Board.
…não há acusação ou ação contra a Sociedade
ou qualquer Subsidiária da Sociedade por parte do
Conselho Nacional das Relações de Trabalho.

Verbos frasais
O fenômeno da multiplicação das acepções de um mesmo lexema em virtu-
de da preposição que o segue é mais evidente nos famosos e temidos verbos
frasais (phrasal verbs) .
E como lidar com tanta diversidade preposicional? Há alguma regra?
Infelizmente, regras não há, pois o emprego das preposições faz parte
da idiomaticidade e convencionalidade da língua, conforme bem observa
Tagnin (2005) – já no título de seu livro sobre expressões convencionais e
idiomáticas – em O Jeito que a gente diz.
Para não cair nas armadilhas das preposições, ao buscar a acepção
de uma palavra, é recomendável verificar se a definição ou tradução apre-
sentada na obra de referência (e.g. dicionário, glossário, vocabulário), bem
como na fonte de consulta (e.g. corpus eletrônico, manuais de tradução) vem
abonada (i.e. com exemplos), e se dessas abonações constam as respectivas
preposições. Vale ainda usar dicionários de colocação e de regência verbal e
nominal.

55
Em se tratando de preposições, todo cuidado é pouco, pois o empre-
go incorreto é capaz de transformar o sentido pretendido, causando graves
problemas de interpretação.

56
1.9 Preposições em dobro

No inglês jurídico, é extremamente comum encontrarmos preposições em-


pregadas juntas. A literatura sobre linguagem jurídica aborda diretamente
diversas dessas unidades combinadas, as quais chamamos binômios: by and
with (Mellinkoff, 1963); for and in consideration of, for and during, from
and after, over and above (Faulk & Mehler, 1994); by and between, for and
on behalf of, over and above (Mayoral Asensio, 2003).
Tanto para Mellinkoff (1963) quanto para Garner (2001b), o uso
de mais de uma preposição é um clássico exemplo da redundância na lin-
guagem jurídica em inglês. Trata-se, segundo os autores, de um fenômeno
a ser evitado.
Ambos apontam, contudo, uma única exceção, de direito constitu-
cional, a expressão by and with the advice of the Senate. Empregada du-
rante a posse de membros do governo, essa expressão, por ser uma forma
consagrada em lei, segundo os autores, não poderia ser evitada. De fato, não
se pode evitá-la na linguagem jurídica em inglês.
Porém, no âmbito da tradução, é sempre bom considerar todos os
binômios formados por preposições como passíveis de serem simplificados
em prol da idiomaticidade (i.e. naturalidade) da língua de chegada.
Assim, ao nos depararmos com o período “This agreement is entered
into by and between A and B...”, a tradução mais natural em português não
seria, de forma alguma, “O presente contrato é celebrado por e entre A e
B”. Para privilegiar a naturalidade na linguagem jurídica em português e
para traduzir linguagem jurídica por linguagem jurídica, adotar-se-ia apenas
a preposição entre.
Para ilustrar a frequência de binômios formados por preposições, e
demonstrar a grande probabilidade de nos depararmos com eles quando
em contato com o inglês jurídico, levantamos – em um corpus eletrônico
de mais de 700 mil palavras em direito contratual – mais de sessenta ocor-
rências dessas unidades. A seguir, separamos uma amostra desses termos por
ordem de frequência. Portanto, ao se deparar com essas unidades, pergun-
te-se se realmente é necessário traduzir todos os elementos. Na maioria das
vezes, a resposta será não.

57
Quadro 8: Binômios formados por preposições
Binômios formados por preposições em ordem de frequência
in and to for and in by or at
on or before on or prior by or through
by and between to and including during and after
from and against under or in during or after
with or without at or from for or in
by or on for or against for or on
from and after of or to from or in
of or in on or about from or to
by or against on or after in or on
to and under to or for of and for
at or prior to or in of or in
of or in against and from on or in
by and among at or before through and including
to and from by or with to or from
before or after from or out to or in
by or for in or about to and in
in or to of or against to or in
by or under to and including upon or with
for or on to or upon with or as
with or into before or at with or in
by and through between or among

58
1.10 Under no inglês jurídico

Ao examinar um corpus eletrônico bilíngue – CorTec 12 –, observamos que


no inglês jurídico under surge nas seguintes categorias gramaticais:
como preposição
◊◊ Any Acceptance Notice under Section 4 hereof
shall be given only to [company].
Qualquer Notificação de Aceite previsto na/
nos termos da Cláusula 4 do presente contrato
será enviado apenas à [empresa].
◊◊ Logs purchased by WI under this Agreement shall be
delivered pursuant to JH’s usual delivery procedures.
A madeira adquirida pela WI nos termos do
presente Contrato será entregue de acordo com
os procedimentos-padrão de entrega da JH.
como prefixo formando uma nova palavra, em que under e a
palavra à qual se uniu não têm autonomia uma em relação
à outra. Assim, understanding não é igual a under+standing:
◊◊ This Agreement contains the entire agreement
and understanding of the parties.
O presente Contrato perfaz o total do avençado entre as partes.
◊◊ The Tenant undertakes that one full set of keys to
the new locks shall at all times be provided at the
Tenant’s expense to the landlord or the Agents.
O Locatário obriga-se a fornecer sempre ao Proprietário
ou a seus Prepostos, às suas custas, um conjunto
completo de chaves para as novas fechaduras.
como prefixo que confere ao termo base ao qual se uniu o
sema de inferioridade, insuficiência, permitindo que as
duas unidades sejam nitidamente identificadas e passíveis
de separação:

12 Fonte dos exemplos: CorTec, salvo quando indicada outra fonte neste item.

59
◊◊ The president has already nominated a few people
to these new undersecretary positions […] 13
O presidente já indicou algumas pessoas para
os novos cargos de subsecretário.
◊◊ Many normative theories underdetermine what
the legal rules should be in the absence of substantial
information about the effects of the rules. 14
Muitas teorias normativas não definem totalmente em
que deveriam constituir as normas jurídicas na ausência de
informação significativa sobre os efeitos dessas normas.
◊◊ I don’t ever underestimate the power and voice of the president
of the United States, particularly this president […] 15
Nunca subestimo o poder e a voz do presidente dos Estados
Unidos, principalmente no caso desse presidente [...]
OObs.: As sugestões de tradução para o português em muitos
casos não preservam a categoria gramatical do termo
de partida, pois na busca de correspondentes optamos
sempre por uma tradução idiomática na língua-alvo,
ou seja, uma tradução mais próxima da linguagem
naturalmente produzida pelo discurso jurídico de chegada.

13 Fonte do exemplo: COCA .


14 Fonte do exemplo: Solum, L. (2003) Legal Theory Lexicon [Disponível em
http://legaltheorylexicon.blogspot.com/2003/12/legal-theory-lexicon-016-
positive-and.html].
15 Fonte do exemplo: COCA .

60
1.11 A polissemia

Um termo é considerado polissêmico quando possui diversas acepções (ou


significados, em linguagem comum). Na língua portuguesa, um exemplo
seria o lexema (ou palavra), peça, para o qual o Novo Dicionário Ele-
trônico Aurélio (2004) registra mais de vinte acepções, entre elas: parte
ou pedaço de um todo indiviso; cada uma das partes ou elementos de um
conjunto; porção de fazenda tecida de uma vez; objeto de metal precioso,
ou jóia; pedra ou figura, em jogo de tabuleiro; compartimento ou divisão de
uma casa; moeda portuguesa antiga, de ouro; documento que faz parte de
processo; artefato etc.
Em inglês, um exemplo de termo polissêmico é brief – que nas acep-
ções jurídicas corresponde a peça – para o qual o American Heritage Dic-
tionary apresenta as seguintes acepções:
a short, succinct statement; a condensation or an abstract
of a larger document or series of documents; law; a formal
outline listing main contentions along with supporting
evidence and documentation; a document containing all
the facts and points of law pertinent to a specific case, filed
by an attorney before arguing the case in court; Roman
Catholic Church; a papal letter that is not as formal as a
bull; a briefing; briefs short, tight-fitting underpants.
OObs.: As traduções de brief, conforme o contexto, incluem:
petição, memorial, razões de recurso, contra-razões
de recurso, instrução, relato dos fatos, reunião para
transmitir informações, advogado (gír.), dentre outras.
A polissemia costuma ser um fenômeno observado na língua geral, pois em
línguas de especialidade, a regra é serem os termos específicos a uma deter-
minada área do discurso e, portanto, idealmente, a polissemia não deveria
ocorrer na linguagem técnica ou, se ocorrer, ocorrerá em menor grau.
Em tradução, temos que ter muita consciência desse fenômeno, pois
um termo na língua de chegada pode ter diversas acepções na língua de
partida – e vice-versa –, dependendo do contexto. Ao tradutor caberá iden-
tificar a acepção correta em ambas as línguas.
É o que ocorre com assign, conforme os exemplos 16 a seguir:

16 Fonte dos exemplos: CorTec.

61
A ssign
◊◊ Company shall be entitled to assign its rights under this
Agreement only with the prior written consent of JC,
which consent shall not be unreasonably withheld.
A Sociedade somente terá direito de ceder seus direitos nos
termos deste Contrato mediante o consentimento prévio da JC,
consentimento esse que não será negado injustificadamente.
◊◊ There are two ways in which you can assign
durable powers of attorney.
Há duas formas por meio da qual você pode
outorgar procurações que permanecem em vigor
no caso de incapacidade do mandatário.
◊◊ The powers granted herein may not be assigned.
Os poderes conferidos por esta procuração
não poderão ser substabelecidos.
O primeiro exemplo foi retirado de um contrato entre a Sociedade (Com-
pany) e JC de acordo com o qual a primeira poderá transferir / ceder seus
direitos a terceiro mediante consentimento expresso por escrito da outra
parte. No segundo exemplo, corresponde a conferir/outorgar poderes. No
terceiro exemplo, o contexto é um contrato de mandato em que, em portu-
guês, o termo convencionado é, mais especificamente, substabelecer.

Mais termos polissêmicos


Abaixo, uma pequena amostra dos muitos exemplos de polissemia de um
termo de partida na língua de chegada:
court
◊◊ Lessee hereby consents to the jurisdiction of any Federal
or State Court located in the State of New Jersey.
O Locatário, neste ato, consente com a
competência de qualquer juízo federal ou estadual
localizado no Estado de Nova Jersey.
◊◊ The court heard testimony from another witness.
O juiz ouviu o depoimento de outra testemunha.
Conforme sugerido acima, no primeiro exemplo, a tradução de court seria
juízo, no segundo, juiz. Entretanto, em outros contextos, court também

62
poderá corresponder a: tribunal, vara, corte. Para saber mais sobre as acep-
ções de court, consulte o item 2.1.3 Court.
legal
◊◊ They have a number of concerns: the
legal system remains confusing
Eles têm uma série de preocupações: o
ordenamento jurídico continua confuso.
◊◊ We will file appropriate legal action to stop
the unauthorized use of these marks.
Iremos propor as devidas ações judiciais para
cessar o uso não autorizado dessas marcas.
Conforme sugerido acima, as possibilidades de tradução seriam: jurídico,
no primeiro exemplo e judicial no segundo.
settlement
◊◊ The invoice shall be sent direct to your
insurance company for settlement.
As notas fiscais devem ser enviadas diretamente
à sua seguradora para pagamento.
◊◊ In an out-of-court settlement, both
parties agreed to a 50-50 split.
Em um acordo extrajudicial, ambas as partes
concordaram com a divisão em partes iguais.
Conforme sugerido acima, no primeiro exemplo, settlement corresponde a
pagamento, quitação, no segundo, a acordo.

63
2. Terminologia jurídica
2.1 Termos fundamentais

Termos fundamentais ou elementares são aqueles que, em virtude de sua alta


ocorrência no discurso jurídico, são essenciais para que o receptor do referi-
do discurso atinja um nível inicial de compreensão da área de especialidade.
A seguir, listaremos alguns dos principais termos no inglês jurídico.

2.1.1 Common law


O termo common law possui diversas acepções. Selecionamos, portanto, as
mais frequentes, juntamente com as respectivas abonações 17. Em regra, su-
gerimos não traduzir o sintagma, todavia cabe ao tradutor decidir se essa é,
realmente, a melhor solução para o seu texto.
Common law pode ter acepção de:
1. sistema jurídico anglo-americano, o adotado na Inglaterra e na
maioria de suas ex-colônicas. Um sistema que difere do romano-ger-
mânico (civil law system) por ter origem no stare decisis, princípio
segundo o qual as decisões judiciais anteriores (precedent) vinculam
as posteriores.
By several accounts, the Field Code represented an
improvement over an American common law system still
stifled by England’s common law formalities.
2. direito jurisprudencial (case law), o direito desenvolvido pelos tri-
bunais, em oposição ao direito derivado de leis promulgadas pelo
legislativo (statutory law) ou da constituição (constitution).
We know that a common law, developed case by case,
occasionally moderated by legislated enactments…
3. fonte do direito inglês (source of English law) juntamente com a
equidade (Equity) e a legislação (legislation). Enquanto a common
law desenvolveu-se a partir do direito costumeiro ou consuetudiná-
rio (customary law) e era aplicada pelos tribunais reais (king’s court),
a equidade era produto, inicialmente do próprio monarca e, mais

17 Fonte dos exemplos: COCA.

67
tarde, da chancelaria (court of chancery). A equity foi desenvolvida
para conferir mais justiça às decisões dadas em common law e era
essencialmente inspirada pelo direito canônico (canon law).

Whatever the common law prescribed as punishment for


particular conduct remained so, however harsh.

2.1.2 Legal
Apesar de a palavra legal, em português, ser, de fato, uma das acepções de
legal, em inglês, não é a que apresenta maior número de ocorrências, ou
seja, a mais comum.
A partir do exame de exemplos autênticos em linguagem natural em
inglês  , nos quais o termo legal aparece em diversos sintagmas nominais,
18

será possível observar que há três principais traduções para legal. A primeira,
e a mais comum, é legal = jurídico. A segunda, é legal = legal. Já, no ter-
ceiro caso, observamos que preservar o termo na tradução para o português
ficaria redundante, implicando um texto pouco idiomático, portanto, suge-
rimos que ele seja omitido e que seja preservada sua colocação, i.e., a palavra
que com legal forma o sintagma.
Entretanto, as possibilidades de tradução não se limitam a esses três
casos, conforme veremos a seguir. Assim, aproveitamos também para apre-
sentar algumas outras acepções que certamente não esgotam o tema, mas
ficam aqui registradas para reforçar a importância do termo como um dos
mais elementares no estudo do inglês jurídico.
1. O termo legal corresponde a jurídico.
assessor jurídico
◊◊ A senior legal adviser to the foreign secretary, Jack
Straw, has quit the Foreign Office because […]
O assessor jurídico sênior do Secretário de Assuntos Externos,
Jack Straw, deixou a Secretaria de Assuntos Externos pois [...]
norma jurídica
◊◊ Do moral norms operate in the sphere of the law? Does
morality determine legal rules and practices?

18 Fonte dos exemplos: COCA.

68
As normas morais atuam no âmbito do direito? A
moralidade define normas e práticas jurídicas?
princípio jurídico
◊◊ […] management is usually fragmented and it is often subject
to vague, arcane and/or contradictory legal principles […]
[…] a gestão é normalmente fragmentada e está
frequentemente sujeita a princípios jurídicos
vagos, obscuros e/ou contraditórios [...].
sistema jurídico
◊◊ In so doing, the American legal system has put its highest
moral imprimatur on a loathsome procedure […]
Ao fazê-lo, o sistema jurídico americano impôs sua mais
elevada sanção moral sobre um procedimento repulsivo [...]
teoria jurídica
◊◊ Nothing in Aquinas’s legal theory or in the thought of
modern natural law theorists, such as myself, […]
Nada na teoria jurídica de Aquina ou no pensamento dos
teóricos do direito natural moderno, como eu mesmo, [...]
terminologia jurídica
◊◊ [...] Israelis and Jordanians invented legal terminology to suit
particularly local requirements in their 1994 peace treat [...]
[…] israelenses e jordanianos inventaram a
terminologia jurídica para satisfazer exigências locais
específicas em seu tratado de paz de 1994 [...]
2. O termo legal corresponde a legal mesmo.
definição legal
◊◊ […] the judiciary or legislature adopts “the union of any
two persons” as the legal definition of civil marriage.
[…] o poder judiciário ou o legislativo adota “a união entre
duas pessoas” como a definição legal de casamento civil.
diploma legal, lei
◊◊ […] significant changes have occurred without
adequate preparation in most Latin American
nations, where the legal instruments regulating
water sectors have not been modified for decades.

69
[…] ocorreram mudanças significativas sem a
preparação adequada na maioria dos países da América
Latina, onde os diplomas legais que regulam o
setor de águas não são alteradas há décadas.
exigência legal
◊◊ […] programs and projects only allow it when they need to
comply with a legal requirement or when they have to
implement the recommendations of international agencies.
[…] programas e projetos só o permitem quando precisam
atender uma exigência legal ou quando eles tem que
implementar as recomendações de agências internacionais.
3. O termo legal é omitido na tradução para evitar casos de pleonasmo
ou de pouca idiomaticidade em português.
direito
◊◊ At Runneymede, England, on June 15, 1215, King John of
England signed the Magna Carta in which he conceded a
number of legal rights to his barons and to the people.
Em Runneymede, Inglaterra, em 15 de junho de 1215,
o Rei João da Inglaterra assinou a Carta Magna na qual
concedeu uma série de direitos aos seus barões e ao povo.
contrato
◊◊ On 1 January 2004, the Tucuman Water Authority, in
a legal agreement with the Tucuman water employees
union, was designated a state corporation [...]
Em 1º de janeiro de 2004, a Agência de Águas de Tucuman,
em um contrato com o sindicato dos empregados das
águas da cidade, foi designada empresa estatal [...]
doutrina
◊◊ And to be fair, debates in the legal literature may filter
into the public’s conscience in such a way as to have [...]
E para ser justo, as discussões sobre doutrina podem ser
filtradas pela consciência do público de forma a ter [...]
jurista
◊◊ [...] the key players in the constitutional debates surrounding
marriage (lawyers, judges, and legal scholars) had
little specialized knowledge about marriage[...]

70
[…] os principais participantes das discussões constitucionais
acerca do casamento (advogados, juízes e juristas) tinham
pouco conhecimento específico sobre o assunto [...]
4. Quando o termo legal corresponde a lícito
◊◊ [...]Rodham Clinton, for example, still claim they
want abortion to be safe, legal, and rare[...]
[…] Rodham Clinton, por exemplo, ainda alega que eles
querem que o aborto seja seguro, lícito e raro [...]
5. Quando o termo legal corresponde a de advogado, advocatício
honorários de advogado, honorários advocatícios
◊◊ Although legal costs are a regular expense of ours,
the level of legal costs facing us as a result of the
Actions is much larger than expected [...]
Embora os honorários advocatícios façam parte
de nossas despesas regulares, em decorrência das
Ações, estamos diante de um nível de honorários
advocatícios muito maior que o esperado [...]
6. Quando o termo legal corresponde a do direito
estudioso do direito
◊◊ Kent, author of Kent’s Commentaries, and
one of the most influential American legal
minds of all time, had a personal story.
Kent, autor de Kent’s Commentaries, e um dos estudiosos
do direito mais influentes de todos os tempos dos
Estados Unidos, tinha uma história pessoal.
filósofo do direito
◊◊ Natural Law and Natural Rights, that revived interest in
natural law among analytic legal philosophers in our time [...]
A Lei Natural e os Direitos Naturais, que renovaram
o interesse pelo direito natural entre os filósofos
analíticos do direito da nossa era [...]
fonte do direito
◊◊ [...] on distinctive techniques of legal analysis, such
as how to identify and understand legal sources
and how to work with statutes, precedents, [...]

71
[…] em técnicas de análise jurídica diferenciadas,
tais como identificar e entender as fontes do direito
e como trabalhar com leis, precedentes, [...]
história do direito
◊◊ In Anglo-American legal history, it happened when
the state took over the role of the church [...]
Na história do direito anglo-americano, isso aconteceu
quando o Estado assumiu o papel da Igreja [...]
sujeito de direito
◊◊ [...] function as consumers and sellers, and act
in various ways as citizens, as legal subjects,
and as participants in a global economy.
[…] funcionam como consumidores e vendedores e
atuam de várias formas como cidadãos, sujeitos de
direito e participantes da economia mundial.
profissional do direito
◊◊ The annual report is widely read throughout the legal profession.
O relatório anual foi amplamente lido por
todos os profissionais do direito.
◊◊ It allows a legal practitioner to act for both
parties to a real property transaction.
Isso permite ao profissional do direito atuar para
ambas as partes de um negócio imobiliário.

2.1.3 Court
Court, assim como legal, pode ser uma palavra cognata (corte) em alguns
contextos, mas essa, definitivamente, não é a regra. Portanto, a partir do
exame de exemplos autênticos em linguagem natural em inglês 19, nos quais
o termo court aparece em diversos sintagmas nominais, vemos outras possí-
veis traduções para o português.

19 Fonte dos exemplos: COCA.

72
court (n.)
1. corte
◊◊ He was nominated to the Supreme Court.
Foi nomeado para a Suprema Corte.
2. tribunal
◊◊ [...] the [Supreme] Court reversed the judgments
of the Ohio Supreme Court, the Ohio Court of
Appeals, the trial judge, and the jury [...]
[…] a [Suprema] Corte alterou as decisões da Suprema
Corte de Ohio, do Tribunal de Justiça de Ohio, do
juiz de primeira instância e do tribunal do júri [...]
3. juiz
◊◊ According to Lopez, they complained
about his writing to the court.
De acordo com Lopez, eles reclamaram
sobre ele ter escrito ao juiz.
4. juízo
◊◊ Although the attorney general defends the cases in court,
Brunner has hired an outside lawyer to manage the mess.
Embora o procurador geral defenda os casos em juízo, Brunner
contratou um advogado externo para administrar o problema.
5. judiciário
◊◊ Women held their own property and often
went to court to defend their rights.
As mulheres tinham seus próprios bens e frequentemente
recorriam ao judiciário para defender seus direitos.
6. instância
◊◊ In fact, it requires a search of the lower court
decisions to identify the nature of the gross obscenities
the Court protected with the First Amendment.
Na realidade, é necessária uma pesquisa sobre as decisões da
instância inferior para identificar a natureza das obscenidades
que o juízo protegeu com base na a Primeira Emenda.
◊◊ In Roe v. Wade, the highest court in the land declared that the
most important document in the land approved of abortion.

73
No caso Roe contra Wade, a instância superior declarou
que o documento mais importante do país aprova o aborto.

2.1.4 Jurisprudence
Mais um entre os termos que consideramos fundamentais em inglês jurídico
é o termo jurisprudence que, apesar de não ser um termo de alta frequên-
cia em inglês, seu cognato em português, jurisprudência, ocorre tanto que
pode levar a traduções e versões inadequadas.
Assim, para nos auxiliar no exame do termo e evitar problemas na
comunicação entre as duas línguas, reproduzimos integralmente o verbete
para jurisprudence do Guia Prático de Tradução Inglesa:
“JURISPRUDENCE s. É a “ciência, teoria, filosofia
e estudo do Direito”, sent. menos corrente em
“jurisprudência”, em que predomina a acep., por sua
vez menos importante no cognato ing., “conjunto de
soluções das às questões de Direito pelos tribunais
superiores” (AU3). Sistema legal/jurídico: American
jurisprudence. Ramo do direito: Roman jurisprudence,
Direito romano”.
Corroborando o verbete em Santos (2007), a seguir listamos as acepções
encontradas para jurisprudence no COCA 20, a fim de fornecer algumas de
suas possíveis traduções para o português.

jurisprudence (n.)
1. sistema jurídico
◊◊ It is directly derived from fiqh (Islamic
jurisprudence), extensively discussed and written
about by high-ranking Shia clergy.
É diretamente derivado do Fiqh (o sistema jurídico islâmico),
amplamente discutido e codificado pelo alto clero xiita.

20 Fonte dos exemplos: COCA.

74
2. estudo do direito, estudo de sistemas jurídicos
◊◊ Griswold focuses primarily on Smith’s published work, largely
ignoring the notes on jurisprudence and rhetoric that have
provided the grist for many interpretive mills in recent years.
Griswold enfoca principalmente as publicações de
Smith, ignorando predominantemente as notas sobre
o estudo do direito e retórica, as quais foram úteis
para muitas interpretações nos últimos anos.
3. direito inglês
◊◊ Strict liability rules were certainly introduced in England
at an immature stage of English jurisprudence.
As normas sobre responsabilidade objetiva
foram certamente introduzidas na Inglaterra em
um estágio imaturo do direito inglês.
4. saber jurídico, opinião [jurídica]
◊◊ Justice Scalia’s jurisprudence also tends to
disavow the legitimacy of judicial review.
A opinião do juiz Scalia também tende a repudiar
a legitimidade do controle jurisdicional.
5. jurisprudência (obs.: jurisprudence é muito menos utilizado nesta
acepção que case law)
◊◊ The constitutional jurisprudence of the United States Supreme
Court rationally considers these important societal interests.
A jurisprudência constitucional da Suprema
Corte dos Estados Unidos de forma racional leva
em conta esses importantes interesses sociais.

2.1.5 Law
O termo direito possui diversas traduções em inglês, entre as quais: law,
right, entitlement, freedom. Entretanto, para designarmos as áreas do direi-
to, a tradução, em regra, será law. Consequentemente, o termo que deverá
merecer mais atenção será aquele que representa a referida área do direito – e
não o termo law em si.

75
Em alguns casos, o qualificador é uma palavra cognata, em outros, o
cognato existe, porém nem sempre é usado, ou – em casos mais delicados – é
completamente falso.

As áreas do direito e sua tradução para o inglês


Abaixo apresentamos, em ordem alfabética, diversas áreas do direito com
suas respectivas traduções e abonações para fins de contexto 21:
direito administrativo
◊◊ The details of the availability, scope and grounds
for such orders need not detain us here because they
form part of substantive administrative law.
Os detalhes sobre a disponibilidade, o escopo e os
fundamentos para tais ordens não precisam nos deter aqui,
pois fazem parte do direito administrativo material.
direito agrário
◊◊ In addition, the department has responsibility for Commercial
Law […] Agricultural Law, Criminal Law, and Evidence.
Além disso, o departamento é responsável
por Direito Comercial [...], Direito Agrário,
Direito Penal e Processo Probatório.
direito ambiental
◊◊ The firm of solicitors, Shindler, has formed an
environmental law unit to help steer its clients
through the maze of environmental regulations.
O escritório de advocacia Shindler criou um departamento
de direito ambiental para ajudar seus clientes a
enfrentar a labiríntica legislação ambiental.
direito bancário
◊◊ The banking law perspective, although narrower in scope, is
likely to reveal what lies ahead for the ocean bill of lading.
A perspectiva do direito bancário, embora tenha um
escopo mais limitado, tende a revelar o que acontecerá no
futuro com os conhecimentos de embarque marítimos.

21 Fonte do exemplo dos exemplos: BNC, salvo quando indicada outra fonte.

76
direito civil
◊◊ Broadly, civil law refers to the resolving of disputes between
individuals, and the breaking of civil law results in less severe
penalties, often the paying of compensation or damages.
Em termos gerais, o direito civil diz respeito à resolução
de controvérsias entre indivíduos e a violação de leis civis
resulta em penalidades menos severas, frequentemente
o pagamento de indenização ou perdas e danos.
direito comercial
◊◊ British commercial law is amongst the most expensive in the world.
O direito comercial britânico está entre os mais caros do mundo.
direito comercial internacional
◊◊ In response to these concerns, the United Nations
Commission on International Trade Law
(UNCITRAL) undertook a revision of Hague-Visby.
Em resposta a essas preocupações, o Comitê de Direito
Comercial Internacional das Nações Unidas (UNCITRAL)
realizou a revisão das Regras de Haia-Visby.
direito concorrencial
◊◊ By contrast, competition law in the USA and the EC is
ostensibly more focused on competition and economic efficiency.
Diferentemente, o direito concorrencial nos EUA
e na Comunidade Europeia é muito mais focado
na concorrência e eficiência econômica.
direito constitucional
◊◊ Conventions, an important source of constitutional
law can be extremely flexible, reflecting changes in
the political situation as and when they occur.
As convenções, importante fonte de direito constitucional,
podem ser extremamente flexíveis, refletindo as mudanças
na situação política conforme e quando elas ocorrerem.
direito contratual
◊◊ The latter are intended to offer a set of principles providing
the best solutions to typical problems in contract law.

77
Os últimos pretendem oferecer um conjunto de
princípios provendo as melhores soluções para
problemas típicos de direito contratual.
◊◊ Judges consistently use the law of contract against trade unions.
Os juízes usam sistematicamente o direito
contratual contra os sindicatos.
direito criminal (em português é mais frequente o uso de direito
penal)
◊◊ English criminal law has two degrees of
homicide, murder and manslaughter.
O direito penal inglês tem dois níveis de homicídio,
homicídio doloso e homicídio culposo.
◊◊ To complicate matters further, substantial changes in penal
law were made by the Criminal Justice Act, 1967.
Para complicar ainda mais, mudanças significativas em direito
penal foram feitas pela Lei da Justiça Penal de 1967.
direito da propriedade intelectual
◊◊ You might also wish to pursue the new Postgraduate
Diploma in Intellectual Property Law.
Você também pode querer obter o novo Diploma de Pós
Graduação em Direito da Propriedade Intelectual.
direito das gentes – ver direito internacional público
direito das obrigações
◊◊ Using these frames of reference, lawyers advocate
particular legal doctrines and mould the fundamental
principles of the law of obligations.
Usando esse sistema de referência, os advogados
defendem princípios jurídicos específicos e moldam os
princípios fundamentais do direito das obrigações.
direito das sucessões
◊◊ The Law of Probate and Succession. This part of law
deals with wills, probate and administration 22 .

22 Fonte do exemplo: Kouladis, N. (2006) Principles of Law Relating to


International Trade. Springer.

78
O Direito das Sucessões. Este ramo do direito trata de
testamentos, sucessão e administração de espólios.
direito de autor, direitos autorais
◊◊ Publications are not available for loan, but photocopying
within the terms of copyright law is available.
As publicações não estão disponíveis para empréstimo, mas
fotocópias podem ser tiradas respeitados os direitos de autor.
direito de família
◊◊ Arguments in favour of delegalization of family law
stem from dissatisfaction with law as an instrument
for dealing with family relationships.
Os argumentos a favor da deslegalização do direito de
família resultam da insatisfação com o direito como
um instrumento para tratar das relações familiares.
direito de mídia
◊◊ When British media law is compared with the jurisprudence
of America, Canada, France, Scandinavia and Australia,
however, it is seen to lack a number of features which are
regarded as fundamental to press freedom in a democracy.
Quando o direito de mídia britânico é comparado com
o dos Estados Unidos, Canadá, França, Escandinávia
e Austrália, no entanto, percebe-se que falta uma
série de características tidas como fundamentais para
liberdade de imprensa em uma democracia.
direito do consumidor
◊◊ I have also written quite extensively on product
liability and on aspects of consumer law.
Eu também já escrevi largamente sobre responsabilidade por
fato do produto e sobre aspectos de direito do consumidor.
direito do trabalho
◊◊ Labour law will always reflect the balance of power in
society, and a fully fledged labour court system will not remove
class and fundamental employer-employee differences.
O direito do trabalho irá refletir sempre o equilíbrio do
poder na sociedade e um sistema judiciário trabalhista

79
maduro não removerá as diferenças de classes e as
diferenças fundamentas entre patrões e empregados.
direito eleitoral
◊◊ Electoral law does not forbid him from
describing himself as Conservative.
O direito eleitoral não o impede de se intitular Conservador.
direito empresarial
◊◊ Legislative decisions on most issues, including competition law
and company law, are taken by majority before the Council.
As decisões legislativas sobre a maioria das questões,
inclusive sobre direito da concorrência e direito
empresarial, são tomadas por maioria do Conselho.
◊◊ You’ d then be able to choose between, say, Economics I, Business
Law I, Accounting I, Industrial Relations I and so on.
Você poderia então escolher entre Economia
I, Direito Empresarial I, Contabilidade I,
Relações de Trabalho I e assim por diante.
direito falimentar
◊◊ It is a principle of insolvency law that the expenses
of a company’s liquidation are payable out of the assets
of the company in priority to all other claims.
É princípio do direito falimentar que as despesas da liquidação
de uma sociedade sejam pagas com os ativos da sociedade
com prioridade em relação a todos os demais créditos.
◊◊ The Insolvency Act 1986, which became law on 29
December 1986, brings about the greatest changes
in bankruptcy law for more than a century.
A Lei de Insolvência de 1986, que entrou em vigor em
29 de dezembro de 1986, trouxe as maiores mudanças
no direito falimentar em mais de um século.
direito habitacional
◊◊ Great questions such as the way in which buildings
may be rehabilitated, or private and council landlords
forced to meet basic standards of health and safety within
their properties, have been largely pushed into the field
of what has been designated Housing Law [...]

80
Importantes questões tais como a forma pela qual prédios
podem ser reabilitados ou os proprietários individuais ou
credenciados pelo Conselho forçados a atender padrões básicos
de saúde e segurança em seus imóveis foram deslocados para
o ramo que foi denominado Direito Habitacional [...]
direito internacional privado
◊◊ In addition, the department has responsibility for
Commercial Law and International Private Law.
Além disso, o departamento é responsável por Direito
Comercial e Direito Internacional Privado.
direito internacional público
◊◊ Evidence of this tendency lies in international public
law for inland waters and territorial seas, airspace […]
Prova desta tendência está no direito internacional público
sobre águas internas e os mares territoriais, espaço territorial [...]
◊◊ […] as distinct from what is said to be the situation in
municipal law, there are certainly no obligations incumbent
on a subject which are not matched by an international
subjective right of another subject or subjects, or even… of
the totality of the other subjects of the law of nations.
[…] diferentemente do que é dito ser a situação do
direito interno, certamente não existem obrigações
atribuídas a um sujeito que não estejam combinadas com
um direito subjetivo internacional de um outro sujeito
ou outros sujeitos, ou até mesmo ... da totalidade dos
outros sujeitos do direito internacional público.
direito municipal
◊◊ Mr. C. M. G. Himsworth writes widely on housing law,
local government law, planning and environmental
law, judicial review, and administrative law generally.
O Sr. C.M.G. Himsworth escreve muito sobre
direito habitacional, direito municipal, direito e
planejamento ambiental, controle de constitucionalidade
e direito administrativo em geral.
OObs.: Atenção para o falso cognato Municipal law que
é o termo empregado pelo direito internacional
para se referir ao direito interno de um país.

81
direito marítimo
◊◊ The ocean bill of lading’s demise or metamorphosis can
be evaluated from a strictly maritime law perspective
(an evaluation that this writer is not equipped to
make), or from a banking law perspective.
A transferência ou transformação de conhecimentos de
embarque marítimos pode ser avaliada de uma perspectiva
estritamente de direito marítimo (uma avaliação
que este escritor não está preparado para fazer), ou de
uma perspectiva estritamente de direito bancário.
direito probatório
◊◊ The law of evidence is complex and cannot be
dealt with in depth in a work of this scope.
O direito probatório é complexo e não poderá
ser esgotado em uma obra dessa natureza.
◊◊ The discovery law does not impose any obligation
to prepare reports or statements.
O direito probatório não impõe a qualquer
obrigação de elaborar relatórios ou declarações.
direito processual
◊◊ […] the litigation department revised engagement letters so that
they inform clients about Iowa procedural law, the logistics
and timing of court dates, and ways of reaching attorneys.
[…] o departamento de contencioso alterou as cartas de
contratação para que informem aos clientes sobre o direito
processual de Iowa, a logística e os horários dos tribunais
e as formas de entrar em contato com os advogados.
direito da seguridade social
◊◊ Under social security law they are normally
regarded as dependent employees, but under labour
law most are regarded as self-employed.
De acordo com o direito da seguridade social, eles são
normalmente considerados empregados dependentes,
mas, de acordo com o direito trabalhista, a maioria
deles é considerada trabalhador autônomo.

82
direito tributário
◊◊ These instruments do not fit well into existing tax
law, raising uncertainties and anomalies.
Esses instrumentos não se enquadram bem no direito
tributário existente, causando incertezas e anomalias.

2.1.6 O que é reasonable é razoável?


Segundo o Black’s Law Dictionary (2004), o termo reasonable possui as
seguintes acepções:
1. “Fair, proper, or moderate under the circumstances <reasonable pay>.
2. According to reason <your argument is reasonable but not convincing>.
3. (of a person) having the faculty of reason <a reasonable person would
have looked both ways before crossing the street>.
4. Archaic. Human <criminal homicide is traditionally called the unlaw-
ful killing of a reasonable person>”.
Tomando por base as acepções oferecidas acima, observa-se que reasonable
poderia corresponder a:
1. justo (e.g. salário justo, salário adequado)
2. racional, razoável, racionável (e.g. argumento racional)
3. (em relação a uma pessoa) dotada de razão, pessoa capaz, pessoa co-
mum, homem médio
4. (arcaico) ser humano, homem, indivíduo, particular
Diante das quatro acepções apresentadas, verifica-se que razoável seria ape-
nas uma das possíveis alternativas, já que, em português, além das acepções
acima, razoável possui outras, notadamente, segundo o Novo Dicionário
Eletrônico Aurélio (2004): moderado, comedido, aceitável, regular, jus-
to, legítimo, ponderado, sensato.
Assim, os diferentes lexemas em português que poderiam ser utiliza-
dos para expressar uma determinada acepção de razoável poderiam explicar,
em parte, a ausência do adjetivo razoável na linguagem jurídica brasileira
quando comparada à anglo-americana, pois, de fato, reasonable e reason-
ably ocorrem muito mais que razoável e razoavelmente.
Por outro lado, ao selecionarmos outro vocábulo do mesmo campo
semântico, veremos que o inverso também acontece, ou seja, há palavras
mais frequentes no português que no inglês. É o que ocorre, por exemplo,

83
com justo(a)(s), muito mais frequentes em português que fair é em inglês.
E o que isso revela?
Na realidade, revela a preferência lexical das respectivas comunidades,
pois as combinações lexicais adotadas pelos falantes de uma determinada
língua fazem parte da convencionalidade da comunidade linguística, ou
seja, por meio do uso pelos falantes, convencionou-se falar ou combinar
palavras de uma determinada forma. E é por isso que falantes de línguas es-
trangeiras muitas vezes formam combinações lexicais que, apesar de grama-
ticalmente corretas, não são convencionais (e.g. impetrar uma apelação* 23
em vez de impetrar mandado de segurança ou entrar com uma apelação;
lodge a brief *, em vez de lodge an appeal ou file a brief).
Um outro aspecto da convencionalidade é o aspecto pragmático, ou
seja, os fatores contextuais determinantes de usos linguísticos em situações
de comunicação. No contexto jurídico contratual brasileiro, por exemplo,
condições e situações razoáveis são subentendidas – o que não ocorre, como
regra, na common law cuja tradição determina que os contratos, devido ao
amplo poder de disposição das partes, busquem atingir um alto grau de
previsibilidade, pois não contam, tradicionalmente, com a subsidiariedade
da lei (e.g. um código de obrigações).
Em outras palavras, no sistema jurídico pátrio, uma situação fora do
razoável muito provavelmente ensejaria um desequilíbrio entre as partes e,
como o equilíbrio é da essência das relações contratuais no nosso sistema de
acordo com o próprio Código Civil (ver art. 421 e ss), buscar-se-á restaurá-lo
de acordo com princípios como o da boa fé e o da função social do contrato.
Em suma, o aspecto pragmático deixa sua marca na língua determi-
nando o uso linguístico e fazendo com que razoável em português seja me-
nos empregado que reasonable em inglês devido ao contexto comunicativo,
ou seja, às peculiaridades do sistema jurídico em questão.

Colocações nominais de reasonable


A partir de agora, abordaremos as colocações nominais de reasonable em
inglês no contexto jurídico, além de apresentarmos sugestões de tradução.
OObs.: Colocações são padrões linguísticos que ocorrem com certa
frequência na língua. São palavras que ‘andam juntas’.
As colocações a seguir têm como base dois corpora eletrônicos: o COCA
– Corpus of Contemporary American English e o CorTec – Corpus

23 Todas as expressões marcadas com (*) são expressões gramaticalmente corretas,


porém não idiomáticas; ou seja, não utilizadas naturalmente na língua.

84
Técnico-Científico. Vale lembrar, ainda, que ambos os corpora podem ser
consultados livremente online, tendo o CorTec a característica de possuir
um subcorpus especializado em instrumentos contratuais.
O subcorpus do COCA consultado foi o de escrita acadêmica em di-
reito e ciências políticas. Na escolha dos exemplos, privilegiamos o contexto
jurídico. Iniciaremos do geral para o específico, portanto com o COCA. A
expressão de busca utilizada foi reasonable + substantivo.
reasonable abatement
◊◊ [I]t is possible to combine the duty for tenants to take
reasonable precaution with a duty by the landlord
to undertake reasonable abatement.
É possível combinar o dever de cuidado do
locatário com a obrigação de o locador suportar
uma redução proporcional do aluguel.
reasonable accommodation
◊◊ If an employee or job applicant is found to be disabled
within the definition of the ADA, the employer
must provide a reasonable accommodation to the
individual’s disability -- unless the employer shows that
an accommodation would cause it undue hardship.
Se um funcionário ou candidato à vaga for considerado
deficiente segundo a definição da ADA, o empregador
possui a obrigação de realizar adaptações adequadas à
deficiência do indivíduo – salvo se o empregador demonstrar
que as adaptações necessárias impliquem ônus excessivo.
reasonable attorney’s fees
◊◊ [...] under Sections 4 and 16 of the Clayton Act,
plaintiffs are entitled to recover a reasonable
attorney’s fee (as well as other expenses).
Segundo os artigos 4º e 16 da Clayton Act, os autores têm
direito ao ressarcimento do valor despendido com honorários
advocatícios [justos] (bem como de outras despesas).
reasonable balance
◊◊ Advisory committees are not necessarily undesirable, but
their effectiveness depends on a reasonable balance of
representatives who have some bargaining power.

85
Conselhos consultivos não são necessariamente mal quistos,
porém a eficácia deles depende de um certo equilíbrio
dos conselheiros que detêm poder de barganha.
reasonable basis
◊◊ Meals shall be reimbursed on a reasonable basis.
Refeições, dentro de um determinado valor, serão reembolsadas.
reasonable belief
◊◊ [...] the statute appeared to impose fines automatically upon a
recipient’s failure to comply with an order even if the defendant
had a reasonable belief that it was not subject to the order.
A lei parece impor multas automaticamente à situação
em que o destinatário deixa de cumprir com uma
ordem, ainda que o réu tenha motivos para acreditar
que ele não era o destinatário da referida ordem.
reasonable care
◊◊ The common law premise is that the employer
must use reasonable care to provide a proper
and safe place for the employee to work.
Segundo princípio adotado pela common law, o empregador
deverá ser diligente ao proporcionar um local de trabalho
adequado e seguro para o empregado exercer suas atividades.
reasonable cause
◊◊ Some statutes mandate health-care and law-
enforcement professionals to report abuse when they
have reasonable cause to suspect abuse.
Algumas leis determinam que profissionais da saúde e da
polícia notifiquem atos de violência quando possuírem
motivos suficientes para suspeitar da violência.
reasonable certainty
◊◊ Legal practitioners specializing in employment law
and the legal profession, generally, have to give advice
to employers and employees in respect to termination
of employment with reasonable certainty.
Advogados trabalhistas e profissionais do direito,
em geral, têm o dever de fornecer informações, a

86
empregadores e empregados, em relação à rescisão
do contrato de trabalho com razoável precisão.
reasonable conduct
◊◊ The general implied obligation of commercially reasonable
conduct (the objective good faith obligation) – [is a]
prime instance of Article 2’s […] philosophy.
A obrigação geral implícita de boa conduta
(obrigação de boa-fé objetiva) é um dos corolários
da filosofia por trás do Artigo 2.º.
reasonable degree
◊◊ Effective competition requires, inter alia, a reasonable
degree of parity in the marketplace.
A concorrência efetiva exige, entre outras coisas,
determinado grau de igualdade no mercado.
reasonable doubt
◊◊ Is it possible to prove that someone is guilty of a crime -- guilty
beyond a reasonable doubt -- with nothing more than
circumstantial evidence? With no eyewitness testimony? ----
--- The ‘clear and convincing’ standard of proof of facts is an
intermediate standard which lies somewhere between ‘beyond
a reasonable doubt’ and a ‘preponderance of evidence’.
É possível provar que alguém é culpado de um crime – sem
dúvida razoável – com nada além de indícios de provas
circunstanciais? Sem o depoimento de testemunhas oculares? O
ônus de fazer provas ‘claras e convincentes’ de fatos é um padrão
intermediário entre o ônus de fazer prova ‘acima de qualquer
suspeita’ e ônus com base na ‘preponderância das provas’.
reasonable efforts
◊◊ We will make all reasonable efforts to decide
promptly all matters presented to us for decision.
Envidaremos todos os nossos esforços para proferir
uma decisão rápida sobre todos os assuntos que
nos forem submetidos para julgamento.

87
reasonable expectations
◊◊ The essence of property law is respect for reasonable
expectations, yet increased demand on resources
places these reasonable expectations at risk.
A essência do direito de propriedade é respeitar
as justas expectativas [dos proprietários], ainda
que a crescente demanda por recursos [naturais]
coloquem essas justas expectativas em cheque.
reasonable grounds
◊◊ In the criminal context, probable cause refers to the quantum
of evidence necessary to justify a particular search. The
probable cause requirement limits police discretion by requiring
that police have ‘reasonable grounds to believe’ that a
search will yield evidence of a crime at a particular place,
and that an invasion of privacy is, therefore, justified.
No contexto criminal, causa provável refere-se à quantidade
de indícios necessários para justificar uma determinada busca.
A exigência de causa provável restringe a discricionariedade
da polícia ao determinar que a polícia tenha ‘elementos
suficientes para acreditar’ que uma determinada busca
fornecerá provas de um crime em um determinado lugar e
que uma invasão de privacidade seja, portanto, justificada.
reasonable indication
◊◊ Upon the filing of a petition, the ITC commences proceedings to
determine whether there is a reasonable indication that the
alleged dumping causes, or is likely to cause, material injury,
or threat thereof, to an industry in the United States[...]
Após a protocolização de uma petição, o ITC dá início a um
procedimento para determinar se há indícios suficientes
de que o suposto dumping causa ou possa vir a causar dano
material ou ameaça de dano a um setor nos Estados Unidos.
reasonable interpretation
◊◊ The Court relied heavily on the legislative history of
the provision, and found that inclusion of ‘significant
habitat modification’ in the definition of ‘ harm’ was
a reasonable interpretation under the ESA.
O juízo baseou-se fortemente na história legislativa
do dispositivo e concluiu que a inclusão da expressão

88
‘modificação significativa do habitat’ na definição de ‘dano’
seria uma interpretação plausível de acordo com o ESA.
reasonable intervals
◊◊ In order to ensure that the will of the people serves as the basis
of the authority of the government, the participating states
undertake to hold free elections at reasonable intervals.
Para assegurar que a vontade do povo seja a base da
autoridade do governo, os estados-partes obrigam-
se a realizar eleições livres periodicamente.
reasonable judgment
◊◊ But even in such cases, any reasonable judgment will
ordinarily be based on some kind of weighing of costs
and benefits, not on an inquiry into benefits alone.
Mesmo nesses casos, qualquer julgamento será, em
regra, baseado em algum tipo de consideração acerca dos
custos e dos benefícios, e não apenas nos benefícios.
reasonable laws
◊◊ All of a sudden countries like Argentina are […] saying:
well, dumping laws are perfectly reasonable laws
and we certainly believe in competition but we are
going to have an aggressive and strong dumping law
which we are going to apply in our home markets.
De repente, países como a Argentina estão afirmando
que as leis antidumping são leis perfeitamente justas
e é claro que acreditamos na concorrência, mas
adotaremos uma lei antidumping vigorosa e agressiva
a ser aplicada ao nosso mercado interno.
reasonable level
◊◊ Are people really getting access to a system that
provides a reasonable level of effective and efficient
dispute resolution at a cost they can afford?
Será que as pessoas estão realmente tendo acesso a um
sistema capaz de proporcionar um nível razoável de
solução eficaz e eficiente de litígios a um preço acessível?

89
reasonable manner
◊◊ The consideration and balancing of public and private interests
in this case do not require that this Court construe these or any
other terms in a ‘broad’ or ‘narrow’ manner, […]. Rather, such
terms need only be interpreted in a reasonable manner.
Levar em conta e procurar equilibrar os interesses público
e privado nessa ação não requer que este Juízo interprete
essas ou quaisquer outras cláusulas de forma ‘ampla’ ou
‘restrita’ [...]. Pelo contrário, as referidas cláusulas só
precisariam/deveriam ser interpretadas de forma sensata.
reasonable measures
◊◊ It is clearly within the police power of the state to enact
reasonable measures to ensure that pregnant women
in Virginia who decide to have abortions come to their
decisions without the commercial advertising pressure
usually incidental to the sale of a box of soap powder.
Está evidentemente dentro do poder de polícia do estado
adotar determinadas medidas pra garantir que as mulheres
grávidas no estado da Virgínia que optem por um aborto
possam chegar a essa decisão sem sofrer com as estratégias de
pressão empregadas em propagandas como as de sabão em pó.
reasonable minds
◊◊ In its early analysis of the regulations, the court noted that the
regulations ‘appear to be a very reasonable attempt to deal with
these vagaries of language and, indeed, are drawn quite narrowly
to deal with only the ‘unmistakable’ and ‘unambiguous’, cases
where reasonable minds can not differ on the message.
No primeiro exame das normas, o juízo observou que as
referidas normas ‘parecem ser uma tentativa válida de lidar com
as vagueações da linguagem e, de fato, são redigidas de forma
bastante restrita para tratar apenas de situações ‘inequívocas’
e ‘inambíguas’, situações em relação às quais a interpretação
dada à mensagem por pessoas médias, não diferiria.
reasonable notice
◊◊ In the absence of cause, the invariable rule in Canada is that
reasonable notice of termination of employment must be given
and reasonable notice will often be a period of time considerably
in excess of what might be expected in the United States.

90
Na ausência de justa causa, a regra no Canadá é a
de que invariavelmente seja dado aviso prévio da
rescisão do contrato de trabalho e esse aviso prévio
é um período de tempo consideravelmente maior
que o período esperado nos Estados Unidos.
reasonable opportunity
◊◊ For instance, whether a public employee is entitled to
timely notice and a reasonable opportunity to be
heard before being disciplined for misconduct.
Por exemplo, se o funcionário público tem ou não direito
à notificação tempestiva e oportunidade a ser ouvido
antes de sofrer medida disciplinar por má conduta.
reasonable people
◊◊ Many groups of reasonable people over the last 50 years have
been able to come up with drafts that were perfectly sensible.
Muitos grupos de indivíduos nos últimos
50 anos foram capazes de chegar a versões
perfeitamente sensatas [do documento].
reasonable period
◊◊ To determine what constitutes a reasonable period,
some courts take into account various factors, such as
recoupment of investment and depreciation of investment.
Para determinar o que constitui prazo razoável, alguns
juízos levam em conta fatores como recuperação do
investimento e desvalorização do investimento.
reasonable person
◊◊ In Tellabs v. Makor, the court said it was not enough
to allege facts that might cause a ‘reasonable
person’ to infer fraudulent intent.
Em Tellabs v. Makor, o juízo entendeu que não
bastava alegar fatos que poderiam levar o homem
médio a inferir que houve intenção fraudulenta.
reasonable possibility
◊◊ The question that the reviewing court must answer in
these circumstances is whether there is a reasonable

91
possibility that the evidence complained of
might have contributed to the conviction.
A questão que o tribunal ad quem deverá responder
nessas circunstâncias é se há possibilidade de a prova
impugnada ter contribuído para a condenação.
reasonable prices
◊◊ At the later stages in the energy transition, the main issues
involve the availability of modern fuels and appliances
at reasonable prices, especially for the poor.
Nos estágios posteriores da transição das fontes de
energia, a principal questão é a disponibilidade de
combustíveis e eletrodomésticos modernos a preços
acessíveis, principalmente para as camadas mais baixas.
reasonable probability
◊◊ Because traders can only profit when their conditional trades
occur, they must believe that the contingency required for
valid trades has a reasonable probability of occurring.
Como os comerciantes só obtêm lucro quando
as vendas condicionais se perfazem, eles precisam
acreditar que há uma certa probabilidade de
negócios válidos efetivamente se realizarem.
reasonable rate
◊◊ A public utility’s first right under regulation is to
collect a reasonable rate for its service.
O primeiro direito das empresas concessionárias
de serviços públicos de acordo com a norma é
cobrar uma taxa justa pelos seus serviços.
reasonable regulations
◊◊ On the other hand, it is also clear that States may, and inevitably
must, enact reasonable regulations of parties, elections, and
ballots to reduce election- and campaign-related disorder.
Por outro lado, está patente que os Estados podem,
e devem, promulgar leis sobre partidos políticos,
eleições e processo de votação para reduzir a desordem
causada pelo processo eleitoral e nas campanhas.

92
reasonable relation
◊◊ The extent of the smoking regulation must bear some
reasonable relation to the statute’s purpose.
O alcance da lei antifumo precisa ser coerente
com o objetivo da referida lei.
reasonable relationship
◊◊ The agency has continued to say -- perhaps to insulate
itself from a court challenge -- that it finds a reasonable
relationship between costs and benefits, and in its most
recent pronouncement on the issue, the court treated
this as an authoritative constructive of the statute.
O órgão tem reiterado – talvez para se proteger de uma
ação judicial – que considera haver uma boa relação
custo-benefício, e no mais recente pronunciamento
sobre a questão, o judiciário conferiu a esse
entendimento status de interpretação oficial da lei.
reasonable return
◊◊ The test merely states that as long as the rate, in the
aggregate, allows for a just and reasonable return
on its capital, the rate is constitutional.
O teste apenas determina que desde que o índice,
de forma agregada, possibilite retorno justo sobre o
capital, o índice é considerado constitucional.
reasonable settlement
◊◊ The United States has not been seriously engaged in
encouraging a reasonable settlement and as such is partly
responsible for the current conditions in the country.
Os Estados Unidos não têm se empenhado em promover um
acordo justo e, agindo dessa forma, podem ser considerados
parcialmente responsáveis pela atual situação do país.
reasonable solution
◊◊ He was told that China hoped to seek a fair and reasonable
solution to the border issue through negotiations.
Disseram-lhe que a China esperava alcançar uma solução
justa para a questão das fronteiras por meio de negociações.

93
reasonable promptness
◊◊ In his 1997 Year-End Report on the Federal Judiciary,
the Chief Justice urged that the President should nominate
candidates with reasonable promptness, and the Senate
should act within a reasonable time to confirm or reject them.
No relatório final de 1997 sobre o Judiciário Federal, o
Presidente do Tribunal insistiu que o Presidente deveria nomear
candidatos o mais rapidamente possível e o Senado deveria
agir tempestivamente para confirmar ou rejeitar as indicações.
reasonable steps
◊◊ The person lawfully in control of the information has taken
reasonable steps under the circumstances to keep it secret.
O indivíduo juridicamente responsável pelas
informações tomou as medidas necessárias, de acordo
com as circunstâncias, para mantê-las em sigilo.
reasonable suspicion
◊◊ In that case, the Court held that police could stop and frisk a
suspect if they have a reasonable suspicion to believe the suspect
has committed a crime and may be armed and dangerous.
Naquele caso, o juízo decidiu que a polícia poderia
parar e revistar o suspeito se tivesse indícios para
suspeitar que o indivíduo cometera um crime
e poderia estar armado e ser perigoso.
reasonable terms
◊◊ Even if the patent owner is willing to negotiate a license on
reasonable terms, the process will create some friction in
terms of expense, timing and availability of concepts.
Mesmo que o detentor da patente esteja disposto a
negociar uma licença com base em cláusulas razoáveis,
o processo implicará certo conflito em termos de
despesas, prazo e disponibilidade dos conceitos.
reasonable time
◊◊ In his 1997 Year-End Report on the Federal Judiciary,
the Chief Justice urged that the President should nominate
candidates with reasonable promptness, and the Senate should
act within a reasonable time to confirm or reject them.

94
No relatório final de 1997 sobre o Judiciário Federal, o
Presidente do Tribunal insistiu que o Presidente deveria nomear
candidatos o mais rapidamente possível e o Senado deveria agir
tempestivamente para confirmar ou rejeitar as indicações.
reasonable use
◊◊ The reasonable use doctrine is a common-law
doctrine used to settle disputes between landowners who
have common interests in the control of water.
O princípio do uso equitativo é um princípio de common
law adotado para resolver litígios entre proprietários de terra
que possuem interesses comuns em relação à posse de água.
reasonable way
◊◊ The quantity of drugs involved in a crime is a reasonable way
to measure the seriousness of the crime, according to some.
De acordo com alguns, o volume de drogas envolvido é
uma boa forma de medir a gravidade de um crime.
reasonable and legitimate expenses
◊◊ [...] and any other reasonable and legitimate expenses.
[…] e demais despesas consideradas legítimas.
reasonable and proper
◊◊ The Representative may cancel any order placed only
upon written notice and upon payment to the Company
of reasonable and proper cancellation charges.
O Representante poderá cancelar qualquer pedido
mediante notificação por escrito e pagamento à
Empresa de taxa adequada de cancelamento.
reasonable attorneys’ fees
◊◊ Tenant shall pay to Landlord, on demand, all expenses
incurred by Landlord as a result thereof, including
reasonable attorneys’ fees and expenses.
O Locatário obriga-se a pagar ao Locador, mediante solicitação
deste, todas as despesas incorridas pelo Locador em decorrência
do fato, incluindo honorários advocatícios e despesas.

95
reasonable best effort
◊◊ The Company shall use its reasonable best efforts to
preserve substantially intact its business organization.
A Empresa envidará todos os esforços para preservar
substancialmente intacta sua organização comercial.
reasonable care
◊◊ The Agent shall exercise reasonable care in the custody and
preservation of Pledged Property in its actual possession.
O Agente agirá diligentemente no cuidado e preservação do
Bem dado em Garantia enquanto estiver em sua posse efetiva.
reasonable cause
◊◊ In the case of criminal proceedings, the person had no
reasonable cause to believe that his conduct was unlawful.
No caso de processo penal, o indivíduo não possuía motivo
razoável para acreditar que se tratava de conduta ilícita.
reasonable compensation
◊◊ If desired, my Agent shall also be entitled to reasonable
compensation for any services provided as my Agent.
Se desejar, meu Agente também terá direito a remuneração
justa por quaisquer serviços prestados como meu Agente.
reasonable conditions
◊◊ Party has the right to impose reasonable conditions and to
request a reasonable fee before providing such information.
A parte possui o direito de determinar as condições e solicitar
honorários justos antes de fornecer a referida informação.
reasonable control
◊◊ Party shall be excused from any delay or failure in performance
required hereunder if caused by reason of any occurrence
or contingency beyond its reasonable control.
A parte estará isenta de responsabilidade
por atraso ou inadimplemento se causados
decorrentes de fato alheio à sua vontade.

96
reasonable cooperation
◊◊ Each Party shall provide reasonable cooperation
[…] in the investigation of any action, claim
or liability covered by this Section 6.
As partes obrigam-se a cooperar na investigação de
qualquer ação, reivindicação ou responsabilidade
nos termos desta Cláusula 6.ª.

97
2.2 Direito administrativo

2.2.1 Lei Complementar x Supplementary Law


A Lei Complementar (LC) no direito brasileiro é destinada a completar
os dispositivos não executórios da Constituição, o que na prática significa
que servem para explicar artigos da constituição. Uma das diferenças entre
a LC e a Lei Ordinária (LO), apesar de ambas serem leis federais e seus
efeitos serem, em regra, os mesmos, é o quórum necessário para sua aprova-
ção: maioria absoluta, na primeira, e maioria simples, na segunda. O direito
americano não faz essa distinção na designação de sua legislação, mas possui,
evidentemente, leis federais também.
Assim, por serem, tanto a LC como a LO, leis federais, ambas po-
deriam, conforme o contexto, ser traduzidas como [Federal] Acts/Laws ou
Federal/Brazilian Legislation, conforme o contexto.
Observemos alguns exemplos em linguagem autêntica extraídos do
COCA.

EXEMPLOS

◊◊ In 1963, Congress passed the Equal Pay Act-a


part of the Civil Rights Act of 1964.
Em 1963, o Congresso aprovou a Lei da Igualdade
Salarial – parte da Lei de Direitos Civis de 1964.
◊◊ A provision in the 1990 Clean Air Act.
Um dispositivo da Lei do Ar Limpo de 1990.
◊◊ Legislation such as the Flammable Fabrics Act and
the Child Protection and Toy Safety Act
Legislação como a Lei de Tecidos Inflamáveis e a Lei
de Proteção à Criança e Segurança dos Brinquedos
◊◊ The execution of policy was defined by Act of Parliament
A execução da política estava definida
por uma Lei do Parlamento
OObs.: Atenção ao usar law (e.g. Federal Law), pois, em alguns
contextos, pode ter a acepção de direito também (e.g.
Direito Federal v. Lei Federal). Além disso, nos EUA,

99
grande parte da legislação é estadual e exatamente por
isso costuma-se mencionar Federal Law e State Law.

2.2.2 Leis do Brasil em inglês


Para auxiliar o cliente estrangeiro a compreender o processo legislativo no
Brasil (Brazilian law-making process), em vez de fornecer apenas a tradução
dos termos que não possuem correspondentes no sistema jurídico de origem,
em certos contextos, pode ser mais apropriado oferecer uma explicação.
A título de exemplo, alguns dos atos resultantes do processo legislati-
vo brasileiro poderiam ser transmitidos em inglês da seguinte forma:
emendas à constituição – constitutional amendments
leis complementares – federal statutes passed by supermajority
voting requirement on issues or topics previously
established under the Brazilian Constitution
(e.g. Laws creating a new Brazilian State)
leis ordinárias – federal statutes passed
by simple majority voting
medidas provisórias – statutes enacted by the President,
which must be eventually passed by congress to
continue in effect, provisional presidential decree.

2.2.3 Convênio x Convention


Em linguagem jurídica, o termo convention, é mais usado em contextos
internacionais (juntamente com treaty, pact, protocol, declaration etc.) para
se referir a acordos sobre temas específicos entre países.

EXEMPLOS

◊◊ The UN Convention on the Rights of the Child


A Convenção da ONU sobre Direito das Crianças
◊◊ The Paris Convention for the protection of industrial property
A Convenção de Paris que protege a propriedade industrial

100
Convention e convênio podem ser considerados falsos cognatos ou fal-
sos amigos, i.e., palavras que se parecem em línguas diferentes, mas não se
correspondem.
Quando o termo convênio for usado para designar as relações entre
órgãos públicos e particulares, o correspondente em inglês será, meramente,
agreement ou ainda collaboration agreement, dependendo da natureza das
obrigações. Já convention, conforme o contexto poderá ser traduzido para
o português como convenção, como seria o caso nos exemplos citados nos
itens acima.

2.2.4 Resolução x R esolution


Enquanto os termos acima podem ser considerados falsos cognatos, resolu-
ção e resolution podem ser consideradas palavras (quase) cognatas, i.e., são
(quase) o que parecem ser.
Resolutions são usadas para expressar, formalmente, a intenção ou
ato de um órgão deliberativo, principalmente legislativo. Outra acepção é
a de um ato formal aprovado por um conselho autorizando determinada
medida, negócio, indicação etc. Exemplo da segunda acepção são as share-
holders resolutions usadas para ratificar os atos do conselho de uma empresa.
No direito administrativo brasileiro, as resoluções podem ser do le-
gislativo, do judiciário ou executivo.
Com o exame das acepções dos termos em tela, vemos que a diferença
entre eles reside no poder do qual emanam, mas que, em ambos os casos,
encontramos o elemento (sema) ‘público’. Assim, é possível afirmar como
próxima a correspondência entre resolução e resolution. Deste modo, reso-
lution poderia ser empregada como equivalente tradutório de resolução.

2.2.5 Law e Act


Já vimos que a tradução do termo lei, na expressão lei federal – tanto quan-
do se refere a leis ordinárias como complementares – pode ter a tradução de
law ou act, dependendo do contexto.
Embora act seja sempre empregado na designação da lei (e.g. Child
Protection Act), em termos mais gerais, tanto law como act são intercambiá-
veis. É o que se verifica nos três primeiros exemplos.

101
EXEMPLOS

◊◊ Even so, this act/law does not prohibit tests carried out for.
Mesmo assim, essa lei não proíbe que os testes sejam realizados.
◊◊ A second Act/Law of 1840 amending the original
law set out twelve schemes in three columns.
Uma segunda lei de 1840 que alterou a lei original
prevê doze métodos em três colunas.
◊◊ Michael Jack quotes the same passage in the Act/
Law which the Law Commission quotes to.
Michael Jack cita o mesmo trecho da Lei
citada pela Comissão Legislativa.
◊◊ Section 12 of the Sale of Goods Act 1979 is not excluded.
O Artigo 12 da Lei sobre Venda de
Mercadorias de 1979 não foi excluído.
◊◊ The Fisher Act was drafted during the war.
A Lei Fisher foi redigida durante a guerra.
◊◊ … in Regulated Protected Tenancies under Rent Act 1977.
… nas Locações Protegidas Regulamentadas
nos termos da Lei de Locações de 1977,
No contexto brasileiro, tendo em vista a tradução dos sites do Banco Cen-
tral, Inmetro, Anvisa etc. em que a Lei nº 6.404, por exemplo, é traduzida
por Law no. 6404, podemos nos perguntar se a tradução estaria correta.
Lei poderia ser traduzida por law nesse contexto. Corroborando nos-
sa opinião, as traduções dos órgãos oficiais – de vários países – apontam para
uma maior ocorrência de law seguido do número da lei.
Cabe destacar dois detalhes ao verter Lei nº 6.404 para o inglês:
·· Convém não preservar o ponto na casa do milhar, pois
pode confundir o leitor de língua inglesa, já que naquela
cultura o ponto é utilizado para indicar casas decimais.
·· A abreviação no não é empregada em inglês,
que adota no. ou # (leia-se number).
É o que constatamos a partir dos exemplos a seguir:
◊◊ The International Adoption Act (Law 54/2007,
of December 28), is the first special Private
International Law act issued in Spain.

102
A Lei de Adoção Internacional (Lei 54/2007 de 28
de dezembro) é a primeira Lei específica de Direito
Internacional Privado editada na Espanha.
◊◊ Law No. 940, 31 December 1961,
Passport Act [Republic of Korea]
Lei No. 940 de 31 de dezembro de 1961, a Lei
do Passaporte [República da Coreia]

2.2.6 Quorum qualificado


Quorum (quorum) corresponde ao número mínimo de membros votantes
(voting members) presentes para que um órgão deliberativo (deliberative
body) possa funcionar.
Em regra, o termo refere-se à maioria dos votantes (voting majority)
presentes. Entretanto, diversos procedimentos e matérias preveem votos em
número diferente do de uma votação por maioria simples (simple majority).
Nesses casos, o quorum necessário (required quorum) denomina-se quo-
rum qualificado (special quorum).
Entretanto, há uma sutileza na expressão em português que não se
encontra refletida na tradução em língua estrangeira; pois, ao nos referirmos
a quorum qualificado em português, estamos normalmente nos referindo
a um quorum maior. A expressão special quorum não transmite essa nuan-
ça (i.e. sema) do sintagma. Ela deixa apenas evidente a necessidade de um
quorum diferente do composto pela maioria. Consequentemente, special
quorum poderá corresponder a quorum maior (higher quorum) ou menor
(lower quorum). Portanto, para os casos em que for necessário ressaltar a
necessidade de quorum qualificado em virtude de o número mínimo de
votantes ser superior ao número composto pela maioria, a tradução mais
adequada será higher quorum.
Vale notar que o sintagma qualified quorum* não ocorre natural-
mente 24, logo não se trata de uma tradução idiomática. Ao examinarmos
sua ocorrência, observamos que a referida expressão visivelmente resulta de
calque (empréstimo linguístico, expressão traduzida literalmente) desneces-
sário, uma vez que há correspondente satisfatório em inglês.

24 Todas as expressões marcadas com (*) são expressões gramaticalmente corretas,


porém não idiomáticas; ou seja, não utilizadas naturalmente na língua.

103
EXEMPLOS

higher quorum
◊◊ Art. 118 had both required a higher quorum of two-thirds
of the members of both houses to enact amendments that
concerned constitutional plebiscites, decreased the powers of
the president, or increased the authority of Congress. 25
O artigo 118 exigia um quorum qualificado de dois terços
dos membros de ambas as casas para promulgar emendas
sobre plebiscitos constitucionais e que reduzissem os poderes
do presidente, ou aumentassem os poderes do Congresso.
lower quorum
◊◊ If you want a lower quorum requirement, you can provide
for it in your bylaws, subject to certain restrictions. 26
Se desejam estabelecer um quorum menor,
podem assim determinar em seu estatuto
social, sujeito a determinadas restrições.
special quorum
◊◊ In order to prevent misunderstanding about a special
quorum requirement, if one is imposed, it is appropriate
for the court to order that the notice of the meeting state
specifically and conspicuously that a special quorum
requirement is applicable to the court-ordered meeting. 27
Para evitar mal entendidos sobre a exigência de quorum
diferente, se assim imposto, convém que o juízo ordene
que a convocação para a assembleia mencione específica
e visivelmente que a exigência de quorum diferente é
aplicável à referida assembleia determinada pelo juízo.

25 Fonte do exemplo: Barros, R. (2002) Constitutionalism and Dictatorship:


Pinochet, the Junta, and the 1980 Constitution (Cambridge Studies in the
Theory of Democracy). Cape Town: CUP. [Disponível em: http://catdir.loc.gov/
catdir/samples/cam031/2001037758.pdf ].
26 Fonte do exemplo: Mancuso (2009) How to Form a Nonprofit Corporation in
California. Berkeley: Nolo.
27 Fonte do exemplo: American Bar Association. (2002) Model Corporation Act
Annotated. Vol. 1. 4th Edition. ABA.

104
As colocações de quorum
Abaixo, selecionamos dez colocações verbais com o termo na estrutura ver-
bo + quorum, sugerindo as respectivas traduções. Todos os exemplos foram
extraídos do COCA – Corpus of Contemporary American English.
achieve a quorum – atingir quorum, reunir quorum
◊◊ The common council almost never could achieve a quorum,
so decisions were made by a smaller group of Trustees.
O conselho comum quase nunca reunia quorum, então as
decisões eram tomadas por um grupo menor de Depositários.
break a quorum – quebrar quorum
◊◊ The biggest question about Kimbrough arose out of
the role he played in searching for Democratic House
members who broke a quorum in 2003 by fleeing to
Oklahoma to stall a congressional redistricting bill.
A maior questão sobre Kimbrough surgiu do papel que
ele desempenhou à procura de membros do Partido
Democrático que quebraram o quorum em 2003,
fugindo para Oklahoma para procrastinar um projeto de
lei do Congresso sobre a redistribuição dos distritos.
constitute a quorum – representar quorum, constituir quorum
◊◊ Twenty-seven members of the Board were
present, which constituted a quorum.
Vinte de sete membros do Conselho estavam
presentes, constituindo quorum.
form a quorum – formar quorum, reunir quorum, constituir
quorum
◊◊ The recommendations might actually be acted on today, if
the Joint Intelligence Committee can form a quorum.
As recomendações podem ser efetivamente seguidas hoje, se a
Comissão Mista de Inteligência conseguir reunir quorum.
give a quorum – completar quorum
◊◊ Don’t go in! You’ ll give them a quorum!
Não entre! Você completará o quorum!

105
have a quorum – haver quorum, constituir quorum
◊◊ In a July letter it argued that the committee didn’t have a
quorum, a point disputed by the committee’s chairman.
Em uma carta de julho ele alegou que o comitê
não tinha constituído quorum, o que foi
contestado pelo presidente da comissão.
lack a quorum – faltar quorum, não haver quorum
◊◊ The FEC lacks a quorum to hear McCain’s case.
Não houve quorum do FEC para julgar o caso dos McCain.
make [up] a quorum – fazer quorum, constituir quorum, haver
quorum
◊◊ There aren’t enough representatives to make a quorum.
Não há representantes suficientes para constituir quorum.
secure quorum – garantir quorum
◊◊ But this agenda was never expressed openly by anyone for fear it
would destroy any chance of securing the necessary quorum.
Mas esta ordem do dia nunca foi expressa abertamente
por ninguém por medo de que isso destruísse qualquer
chance de garantir o quorum necessário.
surpass the quorum – exceder quorum
◊◊ A successful strike authorization vote not only
surpassed the 30 percent quorum, but ended
up showing strong support for the strike.
A votação autorizando a greve não apenas excedeu o
quorum de 30%, mas também acabou demonstrando
que a greve contava com grande apoio.

106
2.3 Direito civil

2.3.1 Indenizar
Em português, o lexema indenizar, segundo o Novo Dicionário Eletrô-
nico Aurélio (2004), corresponde a ‘reparar, compensar, ressarcir’. Em in-
glês, há mais de 40 possíveis correspondentes para o termo. A tradução mais
adequada dependerá sempre do contexto.
No caso do correspondente indemnify, por exemplo, Santos (2007)
explica:
indemnify (v.) Mais fiel à etimologia, o v. ing. guarda
noção de prevenção e proteção prévia, e não só a de
reparação ou compensação posterior; traduz-se por
proteger, segurar, dar proteção legal contra: It was
a plan indemnifying workers against time loss trough
illness, Era um plano que segurava os/dava cobertura aos
operários contra faltas por doenças.
Sem nos atermos a um contexto específico, agrupamos algumas acepções de
indenizar em inglês a partir de campos semânticos definidos por termos em
português, são eles:
restituir
·· give back ·· redeem
·· pay ·· remunerate
·· pay back ·· return
reparar
·· answer for ·· offer compensation
·· make good ·· offer reparation
·· make good against ·· offer satisfaction
anticipated loss ·· restore
·· make up for ·· redress
reembolsar
·· repay ·· refund
·· requite ·· reimburse
·· return money paid out

107
isentar de responsabilidade
·· save harmless ·· secure against damage
·· hold harmless ·· secure against loss
·· answer for
indenizar por perdas e danos
·· give satisfaction ·· compensate
for damage ·· compensate for injury
·· give satisfaction ·· compensate for
for injury loss sustained
·· pay compensation ·· make good, make good
·· pay reparations against anticipated loss
·· recompense ·· make reparation
·· recompense for past loss ·· make restitution
indenizar em dinheiro
·· grant monetary ·· make monetary
compensation payment
·· pay monetary
compensation
assegurar (indenizar quantia paga por seguro)
·· indemnify ·· insure
·· guarantee
Vale reforçar que, para responder à pergunta de qual a melhor tradução para
um determinado termo do português em uma língua estrangeira, qualquer
que seja, é sempre necessário examinar o contexto em que o determinado
termo ocorre. Só assim é possível apresentar traduções idiomáticas, isto é,
traduções em uma linguagem que naturalmente ocorre em inglês e que não
desperte estranheza no público-alvo da tradução.

2.3.2 Alimentos
O termo alimentos, em português, é definido por De Plácido e Silva
(2006) como:
Pensões, ordenados, ou outras quantias concedidas ou
dadas, a título de provisão, assistência ou manutenção,

108
a uma pessoa por uma outra que, por força de lei, é
obrigada a prover as suas necessidades alimentícias e de
habitação.
Como podemos observar, alimentos em português é empregado tanto na
relação entre cônjuges como na relação entre ascendentes e descendentes.
Basta que haja uma obrigação de alimentar prevista em lei. Não é o que
acontece no inglês, em que temos mais de um termo para designar alimen-
tos, com base nas partes envolvidas na relação alimentícia.
Primeiramente, temos o lexema cognato alimony que é utilizado para
designar “o valor devido (allowance), em virtude de ordem judicial, por um
cônjuge (spouse) ao outro, para prover o sustento deste último, após ou no
curso da ação de separação ou divórcio. Também designado spousal support
e maintenance” (Garner, 2001).
Assim, o termo alimony só é empregado no caso de relação matrimo-
nial. Portanto, corresponde a apenas uma das acepções do termo alimentos
no português.
No caso de outras uniões, encontramos, na esfera não-técnica, as se-
guintes palavras:
palimony para o valor pago por uma das partes quando casadas não
forem. Garner (2001) informa que o termo surgiu na década
de 70 e é jocoso, apesar de ser cada vez mais frequente.
galimony também é termo jocoso e foi empregado para designar
palimony entre homossexuais femininas (Garner, 2001).
Em segundo lugar, na relação entre ascendente e descendente, temos os
termos:
child support quando se trata da obrigação de “os pais contribuírem
com o sustento e educação de uma criança até a maioridade,
emancipação ou término da educação secundária” (Black’s
Law Dictionary, 2004).
parental support no caso da obrigação de alimentar dos filhos.

Tipos de alimony
alimony / maintenance in gross – quantia paga em uma
única parcela por uma das partes à outra finda a relação
matrimonial, não é passível de modificação.
alimony pendente lite (pending litigation) – quantia paga por um
dos cônjuges enquanto perdurar a ação por alimentos.

109
lump-sum alimony – quantia paga em uma única parcela por uma
das partes à outra finda a relação matrimonial, não é passível
de modificação.
periodic alimony / permanent alimony – quantia paga semanal
ou mensalmente por tempo indeterminado por uma parte
à outra após o término da relação conjugal (alimentos
definitivos).
provisional / temporary alimony – quantia paga por um dos
cônjuges enquanto durar ação por alimentos (alimentos
provisionais/provisórios).
rehabilitative alimony – quantia paga por um dos ex-cônjuges para
que o outro possa se qualificar para obter emprego finda a
relação matrimonial.
reimbursement alimony – quantia paga por um dos ex-cônjuges ao
outro em decorrência dos gastos do segundo para a formação
ou desenvolvimento profissional do primeiro.
Em suma, o termo alimentos, tendo em vista o contexto, poderá ser tradu-
zido por:
alimony, maintenance, spousal support
palimony
galimony
child support
parental support

2.3.3 Compensação x Compensation


Compensation é considerado um termo fundamental em inglês jurídico
para os falantes de português do Brasil por duas razões: a primeira, devido
a sua alta ocorrência nos textos legais. A segunda, em virtude do cognato
compensação. Portanto, há muitas chances de o leitor se deparar com o
termo e, inadvertidamente, presumir que se trata de uma palavra cognata,
incorrendo, assim, em um erro de tradução.
Compensation possui duas principais acepções: indenização e re-
muneração. Ambas são apresentadas, com abonações, em Santos (2007):
COMPENSATION s. Da mesma forma que para o v., não
se diz ‘compensação’ na linguagem trabalhista brasileira,

110
mas indenização: Workers who have been unfairly
dismissed may claim compensation from their employers,
podem reclamar indenização dos empregadores. (EUA)
Salário: Our teachers accept less compensation than the
American teachers, Nossos professores aceitam salários
mais baixos do que os norte-americanos.
Corroborando o verbete em Santos (2007), a seguir, com suas possíveis
traduções para o português, encontram-se as acepções para compensation
presentes no CorTec, do qual foram retirados os exemplos.
compensation (n.)
1. remuneração
◊◊ My Agent shall be entitled to reasonable compensation
for any services provided as my Agent.
Meu Representante terá direito à devida
remuneração por quaisquer serviços por ele
prestados na qualidade de meu Representante.
2. salário
◊◊ The Consultant’s compensation shall be that specified below.
O salário do Consultor será aquele especificado abaixo.
3. indenização
◊◊ Except as otherwise herein provided, Tenant hereby
irrevocably assigns to Landlord any award, compensation
or insurance payment to which Tenant may become
entitled by reason of Tenant’s interest in the Premises.
Salvo disposição em contrário, o Locatário, neste ato, cede
em caráter irrevogável ao Proprietário qualquer ressarcimento,
indenização ou pagamento de seguro a que o Locatário possa
vir a ter direito em virtude de seu interesse sobre as Instalações.
4. ressarcimento
◊◊ Company hereby agrees to provide compensation and
reimbursement for travel and other reasonable business expenses
incurred by Consultant under the scope of this agreement.
A Sociedade, neste ato, obriga-se a ressarcir e reembolsar as
despesas com viagens e demais despesas comerciais incorridas
pelo Consultor de acordo com o escopo deste contrato.

111
Até aqui, abordamos o termo compensation apontando suas possíveis tra-
duções para o português, além de alertarmos sobre o seu falso cognato –
compensação. Para apresentar a tradução de compensação para o inglês,
adotemos o verbete retirado do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio
(2004):
compensação (n.) ‘acerto de contas caracterizado pelo
cancelamento de débitos recíprocos, minimizando
pagamentos em dinheiro’.
Nesse contexto, compensation corresponde a:
1. offset
◊◊ No right of offset will exist with respect to any Rent or other
sums payable under the Master Lease covering the Property.
Não haverá nenhum direito de compensação com relação
a qualquer Aluguel ou outros valores devidos nos termos
do Contrato de Locação Principal relativo ao Imóvel.
2. set-off
◊◊ [...] nor shall Tenant be entitled to any abatement
or reduction, set-off, counterclaim, defense or
deduction with respect to any Basic Rent,.
[…] nem o Locatário terá direito a qualquer desconto
ou redução, compensação, reconvenção, defesa ou
dedução com relação a qualquer Aluguel Básico.

112
2.4 Direito comercial

2.4.1 Quotaholder, Stockholder e Shareholder


Quotaholder não é, propriamente, um termo da língua inglesa, mas uma
manifestação da apropriação do inglês pelos falantes de português. Assim,
seu uso deveria limitar-se a contextos muito específicos em que, por exem-
plo, todos os envolvidos tenham conhecimento da realidade brasileira. Caso
contrário, o emprego do termo, muito provavelmente, causará estranheza e
falta de naturalidade. Nessas situações, o falante deveria preferir member ou
partner como formas mais idiomáticas de sócio quotista.
Isso porque sócio quotista e stockholder não são sinônimos, pois
enquanto o primeiro se refere às Sociedades Limitadas, o segundo é usado
para designar sócios de Sociedades por Ações.
Já stockholder e shareholder são considerados sinônimos (Black’s
Law Dictionary, 2004 e Garner, 2001b) e são empregados para desig-
nar os proprietários ou detentores de ações de uma sociedade por ações: os
acionistas.
Além de stockholder e shareholder, temos, ainda, os termos stock-
owner e shareowner com a mesma acepção. Entretanto, para designar acio-
nista, o termo shareholder é mais utilizado no inglês britânico e o termo
stockholder no inglês americano.
OObs.: Vale aqui mencionar que tanto stock, quanto share
significam ação. Porém stock também pode ser
usado para designar capital da sociedade como
um todo ou as ações coletivamente consideradas.
Além disso, share é contável e stock incontável.
E, ainda, share of stock corresponde a ação.

Termos relacionados
common shares – ações ordinárias
dummy shareholder – acionista ‘laranja’ ou ‘testa de ferro’
(dependendo do contexto)
majority shareholder – acionista majoritário
minority shareholder – acionista minoritário

113
outstanding shares – ações em circulação
preferred shares – ações preferenciais
share (contável) – ação
stock (incontável) – capital social da sociedade como um todo ou
fração do capital social incluindo várias ações.
shares of stock – ações do capital social

2.4.2 Quotaholder
No Brasil, os sócios de uma Sociedade Limitada são denominados sócios,
sócios-quotistas ou quotistas. No sistema americano, em que a matéria é
regulada por leis estaduais 28, há dois principais tipos de sociedade por res-
ponsabilidade limitada: a Limited Liability Partnership (LLP) e a Limited
Liability Corporation (LLC).
1. LLP – Sociedade em que um sócio (partner) não é responsável pela
negligência de outro sócio ou empregado. É a forma mais adotada
por escritórios de advocacia e de contabilidade.
2. LLC – Sociedade caracterizada pela responsabilidade limitada dos só-
cios (members) e pela gestão realizada pelos próprios sócios (member
managers) ou por um administrador (manager)
Tendo em vista que as figuras acima se aproximam da Sociedade Limitada
prevista na legislação brasileira, a tradução correspondente para sócio quo-
tista, seria partner ou member.
E o quotaholder?
Apesar de não encontrarmos registros dicionarizados do termo quo-
taholder na linguagem jurídica em inglês – não há entrada para o termo nos
dicionários Black (2004), Garner (2001) nem em Gifis (1996) –, não é
possível negar sua existência: são milhares ocorrências no Google. É verdade
que muitas ocorrências do termo estão em sites de dúvidas, mas muitas se fa-
zem presentes em documentos, contratos, declarações etc. Todavia, sempre
no contexto brasileiro.

28 Diversos estados adotam a Uniform Limited Liability Company Act (ULLCA) e


a Uniform Limited Partnership Act (ULPA).

114
OObs.: A condição de lingua franca faz com que o inglês possua
mais falantes não-nativos que nativos atualmente
(Crystal, 2005). Assim, a influência de outras línguas,
incluindo o português, é incalculável. E contê-la,
impossível, pois a partir do momento que uma comunidade
passa a falar outra língua ela se ‘apropria’ (Crystal,
2005) dessa língua e passa a influenciá-la. Poderíamos
considerar quotaholder uma expressão dessa influência
e apropriação. Quotaholder seria, portanto, um termo
em ‘inglês do Brasil’ ou Brazinglish. Outros exemplos da
‘apropriação’ do inglês por outras comunidades resultaram
em Spanglish, o Gerlish, o Hindlish, entre outros ‘ingleses’.
Por termos os correspondentes partner e member para sócio quotista em
inglês, para uma tradução idiomática (i.e. natural, que não cause estranheza
a um público inserido na cultura anglo-americana) essas seriam a melhor
opção. Entretanto, no caso de o tradutor desejar marcar o texto (i.e. destacar
diferenças culturais), ou se ele tiver por público conhecedores da realidade
brasileira, quota­holder seria uma opção adequada (como seria o caso na ver-
são para o inglês de documentos societários tipicamente brasileiros – contra-
to social, alteração de contrato social, acordo de quotistas). Tudo dependerá
do objetivo da tradução: ser natural ou ser marcada. Ou, na classificação de
Venuti (2008): se a tradução é domesticadora ou estrangeirizadora.

2.4.3 Unanimous Shareholder Agreement


Pergunta-se: Qual seria a tradução de unanimous shareholder agreement, ex-
pressão encontrada no bylaws de uma empresa canadense?

Definição e natureza
De acordo com a Canada Business Corporations Act (CBCA, Section 146 29),
um unanimous shareholder agreement é um contrato escrito celebrado en-
tre todos os acionistas de uma empresa, ou entre os acionistas e terceiros, que
restringe, no todo ou em parte, os poderes dos directors na administração da

29 An otherwise lawful written agreement among all the shareholders of a


corporation, or among all the shareholders and a person who is not a shareholder,
that restricts, in whole or in part, the powers of the directors to manage the
business and affairs of the corporation is valid.

115
empresa e de seus respectivos negócios. O unanimous shareholder agree-
ment “é um acordo entre todos os acionistas em relação à administração da
empresa. É tanto um contrato entre os acionistas quanto um instrumento
previsto em lei para tratar da governança interna da empresa 30”.

Requisitos
A partir da definição acima, vemos que se trata de um acordo por escrito
com a assinatura de todos os acionistas, cuja finalidade é limitar os poderes
dos gestores na administração da empresa. Assim, presentes ambos elemen-
tos, temos um unanimous shareholder agreement, de acordo com o CBCA.
Na legislação brasileira, a manifestação da vontade unânime dos acio-
nistas exigida por lei – o consentimento unânime dos acionistas – é encon-
trada tanto no Decreto-Lei n.º 2.627 de 26 de setembro de 1940 como na
Lei nº 6.404 de 1976, a saber:
Decreto-Lei n.º 2.627/40
Art. 72. A sociedade anônima ou companhia brasileira
somente poderá mudar de nacionalidade mediante
o consentimento unânime dos acionistas.
Art. 137. A sociedade anônima ou companhia entra em
liquidação: ... c)... pelo consentimento unânime
dos acionistas, manifestado em instrumento
público (artigo revogado pela Lei 6.404/76)
Art. 150. A transformação exige o consentimento
unânime dos sócios ou acionistas, salvo se
prevista no ato constitutivo ou nos estatutos...
(artigo revogado pela Lei 6.404/76)
Lei n.º 6.404/76 (Lei das SAs)
Art. 221. A transformação exige o consentimento unânime
dos sócios ou acionistas, salvo se prevista no
estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio
dissidente terá o direito de retirar-se da sociedade.

30 It is an agreement among all the shareholders of a corporation in relation to the


management of the corporation. It is both a contract between shareholders and an
instrument authorized by statute that deals with the internal governance of the
corporation.

116
Todavia, apesar de haver expressão com semas afins, não encontramos nada
tão específico como o unanimous shareholder agreement, i.e., um acordo
entre os acionistas com o objetivo único de limitar, total ou parcialmente,
os poderes dos gestores.

Tradução
À luz do exposto, para evitar a utilização de uma expressão já conhecida no
sistema pátrio e que possui definição outra, uma possível solução seria criar
um neologismo, tal como acordo unânime de acionistas, já utilizado em
tradução publicada no corpo do Decreto n.º 86.268 de 6 de agosto de 1981.

2.4.4 Dissolution, Liquidation e Winding up


No sistema americano, o processo de extinção (termination) de uma socie-
dade ocorre em duas fases: dissolution e liquidation ou winding up.

Dissolution
A dissolução de uma sociedade pode ocorrer de três formas:
by acts of partners, i.e. por vontade dos sócios.
Algumas situações que dão origem à dissolução
da sociedade neste caso são: conclusão
do objeto social (accomplishment of the
objective), retirada de sócio (withdrawal).
by operation of law, i.e., em virtude de lei. Nessa espécie
de dissolução estão incluídas as situações de
falecimento de sócio (death of partner), insolvência
ou falência de sócio (bankruptcy of a partner) e
própria falência da sociedade (bankruptcy).
by judicial decree, i.e., por ordem judicial. Para que este
tipo de dissolução ocorra, é necessária ação judicial
como, por exemplo, a de interdição de um dos sócios
julgado incapaz (adjudicated mentally incompetent).

117
A liquidation ou winding up ocorre após a dissolução da sociedade e res-
pectiva notificação dos sócios de que, a partir de então, não poderão criar
novas obrigações para a pessoa jurídica, porém deverão concluir os negócios
pendentes à época da dissolução. Assim, as atividades realizadas durante essa
fase incluem:
cobrança (collecting assets)
pagamento de dívidas (paying debts)
distribuição a cada sócio da parte que lhe cabe
na sociedade, se houver (distribution)
No contexto de extinção da sociedade (portanto não confundir com liqui-
dation of debt, por exemplo), liquidation ou winding up é o processo pelo
qual todo o patrimônio da sociedade é convertido em dinheiro e distribuído
entre credores e sócios/acionistas, respeitados os direitos de preferência. A
liquidation pode ser realizada pela própria sociedade quando a dissolução
parte dos sócios/acionistas (amigável ou voluntária), ou por pessoa designa-
da pelo juízo (liquidator), no caso de dissolução determinada judicialmente
ou decorrente de disposição legal (forçada).

Semelhanças entre os sistemas


brasileiro e americano
Em ambos os sistemas a dissolução pode ser entendida como o momento
em que a sociedade manifesta a intenção de pôr fim a suas operações. Outros
elementos semelhantes são os fatos que dão origem à dissolução previstos
na lei brasileira (art. 206, da Lei das SAs 31 e art. 51 do Código Civil 32). A
liquidação também possui definição muito semelhante à de liquidation e,
tanto durante uma como durante a outra, novos negócios não podem ser
celebrados, continuando apenas os já iniciados para serem ultimados (art.
51 do Código Civil).

31 A sociedade pode ser dissolvida, de acordo com a Lei das SAs: de pleno direito;
por decisão judicial ou por decisão da autoridade administrativa competente.
32 A sociedade pode ser dissolvida, de acordo com o Código Civil: expirado o
prazo ajustado da sua duração; por quebra da sociedade ou de qualquer dos
sócios; por mútuo consenso de todos os sócios; pela morte de um dos sócios,
salvo convenção em contrário a respeito dos que sobreviverem; por vontade de
um dos sócios, sendo a sociedade celebrada por tempo indeterminado.

118
Tradução
Em decorrência das semelhanças dos termos dissolution e liquidation /
winding up com a terminologia adotada no Brasil, seria, em regra, adequa-
do empregar dissolução para dissolution, e liquidação para liquidation e
winding up.
OObs.: Vale notar que o alto grau de semelhança não equivale
ao de total correspondência, consequentemente, é
necessário examinar detalhadamente o contexto em
que os termos aludidos estão sendo empregados.

2.4.5 Procurement e Sourcing


Os termos procurement e sourcing, dentro do campo semântico de pur-
chase 33, possuem a acepção de comprar, adquirir. Todavia, cada um deles
apresenta semas particulares.

Procurement
Procurement, por sua vez, corresponde à aquisição de produtos e serviços
por pessoa jurídica de direito público ou privado de acordo com critérios
preestabelecidos. No caso de aquisição realizada por ente público, em portu-
guês, empregamos o termo licitar em vez do hiperônimo comprar.
procure (v.)
adquirir, comprar
◊◊ The systems that we do procure must be superior in
their quality to those of any potential adversary. 34
Os sistemas que compramos devem ter qualidade
superior a de qualquer eventual concorrente.

33 Em outros contextos e campos semânticos, procure e procurement possuem


outras acepções como, por exemplo: obter, aliciar. O mesmo vale para source e
sourcing, que podem corresponder a: ser fonte de, originar.
34 Fonte dos exemplos, salvo quando mencionada outra: COCA.

119
licitar
◊◊ The government is procuring computers for use in schools in
increasing numbers to meet rising demand from parents. 35
O governo está licitando cada vez mais computadores para
uso em escolas para atender à crescente demanda dos pais.
procurement (n.)
aquisição, compra
◊◊ He should be able to manage the funds provided and use it
for the procurement of goods meant for the programme.
Ele deveria conseguir administrar os recursos fornecidos e
usá-los na aquisição de mercadorias destinadas ao programa.
licitação
◊◊ The real problem in Indonesia is that there are
flaws in the system, the procurement process, for
example, that give people the chance to steal.
O verdadeiro problema na Indonésia é que há falhas
no sistema, o processo licitatório, por exemplo, que
proporciona às pessoas a oportunidade de roubar.

Sourcing
No campo semântico em questão, sourcing corresponde à aquisição de pro-
dutos ou matéria prima de outra localidade geográfica ou de outra empresa.
source (v.)
adquirir, comprar
◊◊ We are committed to sourcing gold and other
metals produced under the highest social, human
rights, and environmental [conditions].
Temos o compromisso de adquirir ouro e outros
metais produzidos de acordo com as mais elevadas
condições sociais, de direitos humanos e ambientais

35 Fonte do exemplo: Inc Icon Group International (2008) Rio de Janeiro.


Webster’s Quotations, Facts and Phrases. Icon Group International,
Incorporated.

120
terceirizar
◊◊ Across America, restaurants are committing to the
idea of sourcing their food from local purveyors,
a trend that supports small family farm.
Em todos os Estados Unidos, os restaurantes estão
comprometidos com a ideia de terceirizar os
alimentos de fornecedores locais, uma tendência
que favorece o pequeno produtor rural.
sourcing (n.)
aquisição, compra
◊◊ While companies like to boast of having an ethical sourcing
program, such programs make it harder to hire the lowest bidder.
Ao mesmo tempo em que as empresas gostam de se gabar
por terem programas de compras éticos, tais programas
tornam mais difícil a contratação pelo menor preço.
terceirização
◊◊ John, age 55, was in charge of sourcing
products and virtually everything else.
João, 55 anos, estava encarregado de terceirizar a
compra de produtos e praticamente tudo mais.
OObs.: Vale ressaltar que não se deve confundir sourcing com
outsourcing. Ainda que outsourcing possa ser traduzido
também por terceirização, o termo corresponde à
aquisição de produtos e serviços de terceiros com o objetivo
de reduzir custos (cut costs). Em outras palavras, o sema
redução de custos é elemento necessário de outsourcing.

121
2.5 Direito constitucional

2.5.1 A Suprema Corte e o Writ of certiorari


Para melhor compreendermos o que é o writ of certiorari no sistema ame-
ricano, é preciso contextualizá-lo traçando um panorama sobre o funciona-
mento da Suprema Corte (the U.S. Supreme Court - SC) dos Estados Unidos
e, quando couber, compará-la à mais alta instância do judiciário brasileiro,
o Supremo Tribunal Federal (STF).
A criação da Suprema Corte foi prevista pelo Article III Section 1 36
da Constituição americana de acordo com o qual a SC é o órgão mais alto
do judiciário nacional.
O mesmo Article III também determina que os juízes da SC sejam
nomeados pelo Presidente da República e confirmados pelo Senado. Além
disso, ocupam o cargo em caráter vitalício (life tenure) enquanto apresen-
tarem bom comportamento (during good behavior). A ausência de aposen-
tadoria obrigatória faz com que juízes de idade avançada possam exercer o
cargo. O Juiz John Paul Stevens, por exemplo, ocupou o cargo de 1975 a
2010. Aposentou-se com 90 anos e, apesar da idade, era considerado um
dos mais liberais.
Assim como os juízes brasileiros, os membros da SC gozam de irre-
dutibilidade de vencimentos (non-diminution in salary), porém, vale res-
saltar, que essa irredutibilidade não possui a mesma extensão que a conheci-
da no Brasil, isto é, a própria SC estabeleceu que no referido sintagma não se
entende por diminution o efeito que a inflação possui sobre os vencimentos
do judiciário.
A SC é composta por oito juízes (associate justices) e um juiz-presi-
dente (chief justice). Os juízes da SC não se dividem em turmas, nem deci-
dem individualmente. Todos os recursos e ações de competência originária
são decididos em plenário (en banc).
O ano da SC tem início na primeira segunda-feira de outubro e ter-
mina no final de junho ou início de julho.

36 Article III - Section 1. The judicial power of the United States, shall be vested in
one Supreme Court, and in such inferior courts as the Congress may from time
to time ordain and establish. The judges, both of the supreme and inferior courts,
shall hold their offices during good behavior, and shall, at stated times, receive
for their services, a compensation, which shall not be diminished during their
continuance in office.

123
Entre as ações julgadas pela SC estão aquelas de:
competência originária (original jurisdiction)
competência recursal obrigatória (mandatory
appellate jurisdiction)
competência discricionária (discretionary
appellate jurisdiction)
E é dentro dessa última esfera de competência em que está inserido o writ
of certiorari – ou apenas writ of cert.

2.5.2 A Competência Discricionária


e o Writ of certiorari
Como vimos, a Suprema Corte dos Estados Unidos possui, além de com-
petência originária (restrita) e recursal obrigatória (pequena), competência
discricionária (ampla).
Devido ao grande aumento do número de ações submetidas à apre-
ciação da Suprema Corte ao longo da história dos Estados Unidos, o Con-
gresso conferiu à Corte poderes cada vez mais amplos para que a própria
Corte selecionasse os casos a examinar.
É tal a extensão desse poder que, de acordo com a Rule 10 37, das Rules
of the Supreme Court of the United States, após a interposição do pedido da
parte recorrente (petition for writ of certiorari – chamada informalmente

37 Rule 10 […] The following, although neither controlling nor fully measuring the
Court’s discretion, indicate the character of the reasons the Court considers: (a) a
United States court of appeals has entered a decision in conflict with the decision
of another United States court of appeals on the same important matter; has
decided an important federal question in a way that conflicts with a decision by a
state court of last resort; or has so far departed from the accepted and usual course
of judicial proceedings, or sanctioned such a departure by a lower court, as to call
for an exercise of this Court’s supervisory power; (b) a state court of last resort has
decided an important federal question in a way that conflicts with the decision of
another state court of last resort or of a United States court of appeals; (c) a state
court or a United States court of appeals has decided an important question of
federal law that has not been, but should be, settled by this Court, or has decided
an important federal question in a way that conflicts with relevant decisions of
this Court. […].

124
de cert petition), cabe à Suprema Corte examinar se há razões relevantes
(compelling reasons) 38 para que o caso seja julgado por aquela instância.
As razões relevantes são exemplificadas na própria Rule 10 , que
também estabelece que meros erros 39, de fato ou de direito, cometidos nas
instâncias inferiores, não são motivo determinante para a admissão de um
petition for a writ of certiorari. Em outras palavras, a Suprema Corte não
toma para si a função de corrigir erros cometidos pelo judiciário estaduni-
dense, mas a de julgar ações que tenham relevância e repercussão nacional,
bem como aquelas que gerem efeitos em todo o país – e não apenas em
relação ao caso específico.
As Rules 13 e 14 do regimento da Suprema Corte definem o conteúdo
do petition for writ (nomes das partes, necessidade de índice, lista de pre-
cedentes, dispositivos legais), limitam o número de páginas (cinco), palavras
(cinco mil), definem o tipo de linguagem a ser empregada (concisa, breve,
clara, sem detalhes desnecessários, não deve ser argumentativa nem repetiti-
va etc.) e restringem a extensão dos anexos (nove mil palavras).
Por ano, chegam à Suprema Corte cerca de oito mil 40 cert petitions
dos quais apenas cerca de cem são deferidos e setenta e cinco efetivamente
julgados. Portanto, não seria incorreto afirmar que a Suprema Corte dos
Estados Unidos emprega a maior parte do tempo decidindo o que decidir
que propriamente decidindo.
Se quatro dos nove juízes (i.e. menos que a maioria) da Suprema
Corte forem favoráveis ao petition for writ of certiorari, o writ é concedido.
A necessidade de apenas 4 votos é uma regra não escrita oriunda de um
acordo entre o Congresso e o Judiciário por ocasião de uma das extensões da
competência discricionária da Suprema Corte (Judge’s Bill).
Nos casos em que a Suprema Corte se manifesta favoravelmente ao
cert petition, o tribunal envia uma ordem à instância onde estão os autos do
processo para que sejam remetidos à Suprema Corte (Rule 16).

38 Rule 10. Considerations Governing Review on Certiorari - Review on a writ of


certiorari is not a matter of right, but of judicial discretion. A petition for a writ
of certiorari will be granted only for compelling reasons. (Grifo nosso.)
39 Rule 10. […] A petition for a writ of certiorari is rarely granted when the asserted
error consists of erroneous factual findings or the misapplication of a properly
stated rule of law.
40 Se contarmos as demais ações das outras esferas de competência, o número se
aproxima de 10.000 e os julgamentos de 100. Números impressionantemente
baixos se comparados ao número de julgamentos do STF em 2007, por
exemplo, ano em que o tribunal proferiu quase 160.000 decisões, 10.000 das
quais relacionadas à competência originária.

125
E é essa ordem que tem o nome de writ of certiorari – instru-
mento pelo qual a Suprema Corte dos Estados Unidos expressa seu poder
avocatório.

Como traduzir o termo?


O tradutor precisa examinar a finalidade ou Skopos da tradução (Nord,
1997), indagando-se acerca da adequação de uma tradução mais domestica-
dora ou mais estrangeirizadora, para adotarmos a terminologia de Venuti
(2008). Na primeira, o tradutor tentaria aproximar o sintagma da língua
de chegada, anulando ou diminuindo as diferenças culturais, caso em que
poderia adotar soluções como mandado ou ordem de avocação, carta avo-
catória, carta requisitória, ou simplesmente pedido de envio ou remissão
dos autos, entre outras.
Por outro lado, em uma tradução estrangeirizadora, o tradutor po-
deria optar por aproximar a cultura de partida à cultura de chegada, ressal-
tando as diferenças entre elas e, nesse caso, poderia optar por utilizar writ
of certiorari ao longo do texto após – se julgar necessário – oferecer uma
explicação ou paráfrase no momento em que o sintagma ocorrer pela pri-
meira vez.

2.5.3 O mandado de segurança


e o Writ of mandamus
Justice delayed is justice denied.

O mandado de segurança, previsto no art. 5.º, incisos LXIX e LXX da


Constituição Federal 41, é uma das ações constitucionais 42 conferidas aos
indivíduos, partidos políticos, entidades de classe e associações, como meio
de proteção contra ilegalidades e abusos de poder.

41 LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido


e certo, não amparado por “habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o
mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político
com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
42 Outras são: habeas corpus, habeas data, mandado de injunção.

126
O objeto do mandado de segurança, segundo o texto constitucio-
nal, é proteger direito “líquido e certo, não amparado por ‘habeas corpus ou
habeas data’, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
do Poder Público”.

São quatro os requisitos do mandado de segurança


1. ação ou omissão por parte do Poder Público 43
2. ilegalidade ou abuso de poder
3. lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e certo
4. direito não protegido por habeas corpus nem habeas data
Assim como no writ of certiorari – termo em latim correspondente a we
wish to be informed (queremos ser informados) –, o termo mandamus,
em writ of mandamus, corresponde à expressão we command (ordenamos).
Portanto, é importante ressaltar que, enquanto o mandado de segurança é
o nome de uma ação no nosso sistema, o writ of mandamus é o termo dado
à ordem judicial. O pedido do impetrante (applicant) é chamado de petition
for writ of mandamus, e não apenas writ of mandamus.
O writ of mandamus, de acordo com Garner (2001), até o século
XIX, era utilizado para restituir ou empossar em cargo público indivíduo
dele privado, tal como ocorreu no célebre Marbury v. Madison (1803) 44.
Todavia, esclarece o autor, a partir do século XIX, o writ passou a ser
utilizado mais amplamente. Desde então, por meio da referida ordem, um
tribunal superior determina que uma instância inferior (autoridade pública
ou privada) realize o que, de direito, está obrigada a fazer ou a deixar de
fazer. Consequentemente, o writ não dá margem a discricionariedade (i.e.
é uma ordem a ser cumprida) e, nesse aspecto, se assemelha ao nosso man-
dado de segurança.
Por outro lado, a Suprema Corte estabeleceu algumas diretrizes do
writ of mandamus, em Kerr v. United States District Court (1976),
determinando que o writ tem caráter essencialmente excepcional, pois
ele perturba a ordem jurídica, gerando desequilíbrio no sistema jurídico,

43 § 1º - Consideram-se autoridades, para os efeitos desta lei, os representantes ou


administradores das entidades autárquicas e das pessoas naturais ou jurídicas
com funções delegadas do Poder Público, somente no que entender com essas
funções. Lei 1.533 de 1951 com redação dada pela Lei n.º 9 259 de 1996.
44 Caso que célebre foi, não por ser um writ of mandamus, mas por estabelecer
as bases para o poder de controle da constitucionalidade das leis pela Suprema
Corte dos Estados Unidos. Mas, essa é outra história.

127
resultando em demora na decisão. Como sabemos, um dos principais pilares
do sistema americano é a garantia de celeridade das decisões judiciais (the
right to a speedy trial), prevista na Emenda n.º 6 da Constituição dos Estados
Unidos.
Assim, na tradução do termo, o mero caráter excepcional do writ
afastaria sua correspondência ao mandado de segurança, que, no Brasil, é
ação recorrentemente empregada.
Outrossim, vale notar que em Kerr v. United States District
Court (1976) o objeto do pedido era a entrega de informações por parte da
diretoria de um presídio ao judiciário estadual. Portanto, nesse caso a tradu-
ção para petition of writ of mandamus mais se aproximaria da nossa ação
de habeas data, e não da de mandado de segurança. E esse é apenas um
exemplo, pois os remédios obtidos por meio do nosso mandado de seguran-
ça podem ser objeto de outros writs no sistema anglo-americano que não de
mandamus (e.g. writ of certiorari, writ of injunction, writ of quo warrant).

2.5.4 Nose counting e Cherry picking


A metáfora é uma transposição de termos, ou seja, é o emprego de uma
palavra ou expressão fora de seu sentido prototípico (i.e. normal, padrão).
Segundo a definição do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (2004),
“consiste na transferência de uma palavra para um âmbito
semântico que não é o do objeto que ela designa, e que se
fundamenta numa relação de semelhança subentendida
entre o sentido próprio e o figurado; translação”.
As metáforas fazem parte do aspecto convencional de uma língua, ou seja,
‘daquilo que é aceito de comum acordo’ (Tagnin, 2005) pelos falantes. Uma
das características do ‘falante ingênuo’ de Charles J. Fillmore é desconhecer
as imagens metafóricas da língua (Tagnin, 2005). Tais imagens ocorrem
tanto na língua geral, como nas linguagens de especialidade, portanto, no
Direito também.
Para ilustrar o emprego de expressões metafóricas na linguagem jurí-
dica, selecionamos duas dentro do contexto das discussões sobre a referência
a direito estrangeiro nos julgamentos da Suprema Corte dos Estados Uni-
dos, a saber: nose counting e cherry picking.

128
Contexto
Em primeiro lugar, faz-se necessário contextualizar o emprego dessas expres-
sões para, em seguida, elucidar suas acepções e sugerir algumas estratégias
de tradução.
Até hoje, discute-se na Suprema Corte dos Estados Unidos (U.S.
Supreme Court) se o direito estrangeiro deve ou não ser citado nos julga-
mentos (rulings) e votos (opinions) emitidos por aquele tribunal e seus mem-
bros. Um ponto pacífico, entretanto, é o fato de as fontes de direito inter-
nacional não serem, obviamente, consideradas vinculantes (authoritative),
apenas informativas (informative).
Entre outras muitas ações 45, a questão da citação de direito estrangei-
ro foi levantada em Atkins v. Virginia (2002) – ação sobre a ampliação da
pena de morte a doentes mentais –, que será usada aqui para exemplificar
quão calorosa é a discussão e onde entram as metáforas.
Por maioria de seis a três (majority vote), foi decidido que aplicar a
pena de morte aos doentes mentais é uma violação à Emenda n.º 8 da Cons-
tituição dos Estados Unidos, que proíbe (ban) a aplicação de penas cruéis
e desumanas (cruel and unusual punishment).
Em voto (opinion), o juiz Stevens, em nota de rodapé, mencionou
que, atualmente, a comunidade internacional desaprova a aplicação da pena
de morte a doentes mentais.
◊◊ Within the world community, the imposition of the
death penalty for crimes committed by mentally
retarded offenders is overwhelmingly disapproved.
Na comunidade mundial, a imposição de pena
de morte para crimes cometidos por criminosos
mentalmente retardados é largamente reprovada.
O juiz Scalia, em voto contrário (dissenting opinion), manifestou seu des-
prezo pela comunidade internacional:
◊◊ Igualmente irrelevantes são as práticas da comunidade
internacional, cujas noções de justiça nem sempre
são (ainda bem) as mesmas das do nosso povo.
Equally irrelevant are the practices of the world community, whose
notions of justice are (thankfully) not always those of our people.

45 Printz v. United States (1997), Lawrence v. Texas (2003), Roper v.


Simmons (2005), entre outras.

129
Dentro desse contexto, surgem argumentos contra e a favor da utilização
de fontes de direito estrangeiro nos votos dos juízes (justices) da Suprema
Corte.
Entre os argumentos em prol, temos, segundo o juiz Breyer, o fato de
os problemas da comunidade internacional serem cada vez mais parecidos
com os enfrentados pelo judiciário americano (Choudhry, 2000). Outros
argumentos seriam os Estados Unidos terem muito a aprender com a comu-
nidade internacional, com a universalidade dos direitos humanos, e com a
posição de liderança dos Estados Unidos no mundo.
Entre os argumentos contra, temos – e finalmente chegamos às me-
táforas – o perigo das escolhas com base em cherry picking e nose counting.

Expressões
1. cherry picking
A prática de cherry picking (colher cerejas, em tradução literal)
significa que o juiz, ao citar o direito estrangeiro, poderá valer-se
daquilo que melhor lhe convier e como bem entender, i.e., o juiz
poderá decidir qual o peso a ser dado a esta ou àquela fonte de direito
estrangeiro (Anderson apud Parrish, 2007), o que abre margem
para demasiada subjetividade e discricionariedade:
“Anderson […] later suggests that the weight of any given
foreign authority is too difficult to assess. Which is entitled
to greater weight, he rhetorically poses, “the German
constitutional court [or] the high court of India?” Because of
that difficulty, Anderson suggests a judge can use any of this
material how he or she will.”
Conclui Parrish (2007), cherry picking é uma preocupação legítima
daqueles que são contrários ao emprego do direito estrangeiro:
“The worry of cherry picking is a legitimate concern.”
2. nose counting
No mesmo artigo, Parrish (2007) refere-se ao fenômeno denominado
nose counting citando Young (2003), que também não é favorável à
prática de contar narizes (tradução literal).
Young ilustra seu argumento com a utilização, por parte do juiz
Kennedy da Suprema Corte, na ação Roper v. Simmons, de referência
a direito estrangeiro com base na abundância e não na qualidade dos
argumentos:

130
“Young criticizes Justice Kennedy’s analysis in Roper because
his use of “ foreign law is all about [counting] noses, not
reasons”.
Para Parrish (2007), nose counting reflete o mau uso do direito
estrangeiro que merece discussão aprofundada e sofisticada para
que o direito estrangeiro não seja utilizado de forma inadequada ou
superficial.
“In fact, the nose-counting problem suggests that foreign
law should be discussed in greater depth and with more
sophistication, not less. The problem is not that foreign
law is used, but rather that it is used inadequately or
superficially.”

Como traduzir as expressões metafóricas?


Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que estamos diante de uma me-
táfora e que a expressão é, em muitos casos, nada transparente. Em outras
palavras, o leitor não deve se deixar levar pelo fato de reconhecer cherry +
pick ou nose + count, já que, em matéria de língua, a soma dos fatores pode
dar diversos produtos.
Em segundo lugar, observar diversas ocorrências da expressão – em
corpus eletrônico – para delas, a partir dos contextos fornecidos, extrair a
acepção da metáfora, já que, dificilmente, informações sobre o aspecto con-
vencional da língua são encontradas em obras terminográficas bilíngues.
Se possível, encontrar uma metáfora correspondente na língua de
chegada. Caso contrário, outras estratégias de tradução poderiam ser – após
determinar o objetivo (Skopos) da tradução:
1. uma paráfrase (explicação), feita dentro do contexto específico. No
caso em tela, no contexto da Suprema Corte e da problemática acerca
de citações de direito estrangeiro.
cherry picking – referência tendenciosa ao direito
estrangeiro com base na preferência ou opinião
do juiz para satisfazer os argumentos deste
nose counting – referência tendenciosa ao direito estrangeiro
em abundância, i.e., citação do maior número de
casos semelhantes para respaldar a opinião do juiz
2. um calque (empréstimo lexical), i.e., manter o termo em inglês, após
necessária explicação.

131
2.5.5 Bootstrapping
Ainda na esfera das metáforas do direito constitucional (constitutional law),
mais especificamente na esfera semântica das assembleias constituintes
(constitutional assemblies), abordaremos bootstrapping ou bootstrap-pulling.
Bootstrapping vem de bootstrap que, em sentido denotativo, cor-
responde a cadarço de bota – sentido literal do termo.
Entretanto, em muitos casos, palavras e expressões perdem seu sen-
tido literal adquirindo um sentido conotativo (ou figurado) que costuma
variar também de cultura para cultura, língua para língua etc. É o que ocorre
com bootstrapping.

Definição
Elster (1994) define constitutional bootstrapping como:
◊◊ The process by which a constituent assembly severs its
ties with the authorities that have called it into being
and arrogates some or all of their powers to itself
O processo pelo qual uma assembleia constituinte rompe
os laços com a autoridade que a criou e se apropria de
alguns ou de todos os poderes dessa autoridade.

Contexto
A seguir alguns contextos extraídos de Elster (1994) em que bootstrap-
ping e bootstrap-pulling ocorrem, com respectivas sugestões de tradução.
◊◊ Elster demonstrates that constitution making necessarily involves
a bootstrapping operation, whereby a constituent assembly
severs its ties with the authorities that brought it into being.
Elster demonstra que fazer uma constituição envolve
necessariamente uma operação independente,
segundo a qual a assembleia constituinte rompe
seus laços com as autoridades que a criaram.
◊◊ George Mason argued more robustly that ‘ in certain seasons of
public danger it is commendable to exceed power’. Randolph,
similarly, “Was not scrupulous on the point of power.”
Bootstrap-pulling can be justified by external circumstances.
This kind of statement was also frequently made in the French
Assembly. The exceptional conditions that create the call for a
constituent assembly also justify arrogations of power that would

132
appear illegal under normal circumstance. In the constitution-
making process the kingmaker should beware of the king.
George Mason argumentou mais enfaticamente que ‘em
alguns períodos de perigo público, é recomendável exceder o
poder’. Igualmente Randolph, “não teve escrúpulos quando
se tratava de poder”. Fazer algo sem intervenção alheia
pode ser justificado por circunstâncias externas. Esse tipo de
declaração também foi feita com frequência na Assembleia
francesa. As condições excepcionais que criaram a convocação
da assembleia constituinte também justificam as usurpações
do poder que pareceriam ilegais sob circunstâncias normais.
No processo de elaboração de uma constituição, aquele
que tem influência política sobre a nomeação do chefe
de Estado deve tomar cuidado com o seu escolhido.
◊◊ There is no general set of conditions that ensures success in the
bootstrap-pulling enterprise of organizing political life.
Não há um conjunto geral de condições que garanta o sucesso
na difícil iniciativa autônoma de organizar a vida política
◊◊ Political scientist and theorist Jon Elster provides a third account:
that pre-existing or prior structures provide ready-made focal
points around which constitutional assembly participants begin
‘the bootstrap-pulling enterprise of organizing political life’ 46 .
O cientista e teórico político Jon Elster fornece uma
terceira explicação: estruturas preexistentes ou anteriores
fornecem focos prontos sobre os quais os participantes
da assembleia constituinte começam a difícil tarefa
independente de organizar a vida política.

A dificuldade da tradução
Apesar de o termo apresentar uma definição clara, em muitos casos, o tradu-
tor necessitará de mais elementos para fornecer um correspondente na lín-
gua de chegada. Como parte da estratégia de tradução, vale também buscar
a possível origem.

46 Fonte do exemplo: Kromkowski, C.A. (2002) Recreating the American


Republic: Rules of apportionment, constitutional change, and American political
development, 1700-1870. Cambridge & New York: CUP.

133
No caso de bootstrapping, há uma expressão idiomática (idiom) em
inglês que é by one’s own bootstraps, com algumas variações:
to pull oneself up by one’s own bootstraps
to lift oneself up by one’s own bootstraps
A metáfora atrás dessa expressão idiomática 47 é fazer algo sem ajuda ex-
terna, de forma autônoma, independentemente. No contexto de Elster,
a assembleia constituinte é independente de qualquer outra autoridade
externa.
Uma outra acepção, que também se encaixa perfeitamente ao contex-
to de constitutional bootstrapping, é fazer algo impossível (i.e. ficar de pé
puxando o cadarço das próprias botas, em tradução literal). No contexto de
Elster, a assembleia constituinte não teria legitimidade para, por exemplo,
fazer uma constituição completamente nova, mas a produziu mesmo assim.

Correspondentes possíveis
Após examinar a definição, explorar a expressão idiomática e o sentido me-
tafórico do termo, é possível concluir por diversas possibilidades que – sem-
pre com base no objetivo e função do texto traduzido (Skopos), e tendo em
mente o que o tradutor visa privilegiar – poderão ser adotadas – ou descar-
tadas – as seguintes expressões:
autonomia constituinte
independência constituinte
subversão constituinte
extrapolação do poder constituinte
Os dois primeiros correspondentes possuem uma carga semântica positiva,
i.e., não refletem uma condenação do papel da assembleia constituinte que
extrapola seus poderes.
Os dois últimos, por outro lado, são negativos e expressam que a
mesma assembleia realizou algo sem autorização, que foi além de sua
competência.

47 Imagem mental: alguém puxando os cadarços da própria bota para tentar se


levantar; Analogia: a pessoa agindo sozinha; Metáfora: uma ação individual,
independente, autônoma, sem ajuda externa; Expressão idiomática: to pull
oneself up by one’s own bootstraps.

134
2.5.6 As colocações do termo jury
Lexical patterns betray cultural patterns.
Mike Scott

A garantia constitucional de julgamento por júri (constitutional right to a


jury) está prevista no Article III, Section 2  48 e na Emenda n.º 7 49 da Cons-
tituição Americana. Da mesma forma, a Constituição brasileira também
possui previsão de julgamento por júri como parte do rol dos direitos e
garantias fundamentais no art. 5.º, XXXVIII 50.
Entretanto, ainda que em ambos os países o direito a julgamento por
júri conste do texto constitucional como garantia individual, as semelhanças
parecem parar por aí, pois, como é notório, o julgamento por júri no Brasil
difere grandemente do instituto norte-americano. Entre as muitas diferen-
ças, duas se destacam e marcam o sistema estadunidense, são elas:
·· ser o direito a julgamento por júri
aplicável a todos os tipos de ação e
·· ter a decisão alcançada pelo júri caráter final.
O reflexo da amplitude do direito ao júri e de seu caráter final é refletido
na língua inglesa, pois nela encontramos um vastíssimo universo de ter-
mos e expressões para descrever, moldar e comunicar a realidade cultural
estadunidense, a qual, diferentemente da brasileira nesse aspecto, conhece

48 Article III. Section 2- Trial by Jury, Original Jurisdiction, Jury trials


[…] The Trial of all Crimes, except in Cases of Impeachment, shall be by Jury;
and such Trial shall be held in the State where the said Crimes shall have been
committed; but when not committed within any State, the Trial shall be at such
Place or Places as the Congress may by Law have directed.
49 Amendment 7 - Trial by Jury in Civil Cases. In Suits at common law, where
the value in controversy shall exceed twenty dollars, the right of trial by jury shall
be preserved, and no fact tried by a jury, shall be otherwise re-examined in any
Court of the United States, than according to the rules of the common law.
50 Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] “XXXVIII - é reconhecida a instituição
do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de
defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência
para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

135
combinações lexicais corriqueiras empregadas por advogados e leigos, tais
como: jury consultant, all-white jury, deadlocked jury, hung jury, federal jury,
runway jury, civil jury, black jury, unanimous jury, sequestered jury, blue-
ribbon jury, jury waiver clause.
A consequência dessa profusão lexical para o tradutor jurídico, – que
frequentemente necessita transpor termos e sintagmas culturalmente marca-
dos –, será, provavelmente, buscar uma tradução explicativa.
Com isso em mente, a seguir se encontram as colocações 51 – verbais,
nominais, adjetivas – do termo jury com algumas sugestões de tradução.

As colocações verbais do termo jury


admonish the jury – advertir o júri
◊◊ They also want him to admonish the jury to ignore
parts of the defense’s opening statement.
Eles também queriam que ele advertisse o júri para
ignorar partes das alegações iniciais da defesa.
address the jury – dirigir-se ao júri, falar ao júri
◊◊ Judge Ito will not permit O.J. Simpson to
address the jury, as he had requested.
O juiz Ito não permitira a O.J. Simpson que se
dirija ao júri conforme solicitado por ele.
appear before a jury – comparecer perante o júri
◊◊ Many are subpoenaed to appear before a grand jury.
Muitos são intimados a comparecer perante o júri.
approach the jury – aproximar-se do júri
◊◊ Slowly, Cook rose from his chair at the defense
table to approach the jury. “I have a question
for you,” he asked the dozen in the box.
Lentamente, Cook levantou-se de sua cadeira na mesa
da defesa para se aproximar do júri. “Tenho uma
pergunta aos senhores”, disse aos doze jurados.

51 Fonte dos exemplos: COCA.

136
bias the jury – influenciar o júri
◊◊ His lawyer, Raymond Pijon, argued that pretrial
publicity would bias the jury in the case.
Seu advogado, Paymond Pijon, argumentou que a publicidade
antes do julgamento iria influenciar o júri sobre o caso.
convince a jury – convencer/persuadir o júri
◊◊ Rose’s brother had to convince a jury that
Keller was really the shooter.
O irmão de Rose tinha que convencer o júri
de que Keller era de fato o atirador.
dismiss the jury – dispensar o júri
◊◊ The judge dismissed the jury for a couple of
hours while she interpreted the decision.
A juíza dispensou o júri por algumas horas
enquanto interpretava a decisão.
go before a jury – ser levado a júri, ir a júri
◊◊ Perhaps most importantly, the majority of criminal
cases never go before a jury. Most criminal
charges end in a guilty plea prior to trial.
Talvez, o mais importante é que a maioria dos casos criminais
nunca são levados a júri. A maioria das condenações criminais
termina no reconhecimento da culpa antes do julgamento.
face the jury – olhar para júri
◊◊ Mr. Mclean, would you please stand and face the jury, sir?
Sr. Mclean, levante-se e olhe para o júri.
influence the jury – influenciar o júri
◊◊ To influence the jury, the defense presents
a made-over Valessa for court.
Para influenciar o júri a defesa apresenta uma
Valessa totalmente produzida para o juízo.
inform the jury – informar o júri
◊◊ In an opening statement we inform the jury of
what we […] believe the evidence will show.
Nas alegações iniciais nós informamos o júri o que
[...] acreditamos que as provas demonstrarão.

137
instruct the jury – instruir/orientar o júri
◊◊ Monday morning, Judge Lake will instruct the jury on how to
interpret the securities laws that the defendants allegedly broke.
Segunda-feira pela manhã o Juiz Lake irá instruir
o júri sobre como interpretar as leis de mercado de
capitais que se alega terem sido violadas pelos réus.
lie before a jury – mentir ao júri, mentir perante o júri
◊◊ A lot of people who have been accused of lying
before a grand jury have gone to trial and they
have been convicted and they have gone to jail.
Muitas pessoas que foram acusadas de mentir perante o júri
foram levadas a julgamento e foram condenadas e presas.
pick a jury – escolher/selecionar o júri
◊◊ We followed a Miami jury consultant, a hot-shot
woman in Miami who was brought in to pick a jury
and then come up with a winning defense strategy.
Nós seguimos a orientação de uma famosa consultora
de júri de Miami, uma mulher influente na cidade
e que foi trazida para selecionar o júri e, então,
elaborou uma estratégia de defesa infalível.
persuade a jury – convencer/persuadir o júri e levar o júri a
◊◊ Even if an insanity plea ultimately fails, it might persuade
a jury to spare Simpson from the death penalty.
Mesmo se a alegação de insanidade no final não
lograr êxito, tal alegação poderá levar o júri
a poupar Simpson da pena de morte.
prejudice the jury – influenciar o júri
◊◊ And to not prejudice the jury, they take the
shackles and the handcuffs off, because you’re
supposed to be innocent until proven guilty.
E para não influenciar o júri, eles retiram os
grilhões e as algemas, pois é presumido que você
seja inocente, até que seja declarado culpado.

138
select a jury – selecionar o júri
◊◊ They were two weeks into selecting a jury when the
prosecutor decided to take a calculated risk.
Faltavam duas semanas para a seleção do júri quando o
promotor público decidiu correr um risco calculado.
show the jury – demonstrar ao júri
◊◊ Brad Lakin cut a car open to show the jury what happened.
Brad Lakin cortou um carro ao meio para
demonstrar ao júri o que havia acontecido.
sway the jury – fazer o júri mudar de opinião
◊◊ Will her testimony sway the jury?
O depoimento dela fará o júri mudar de opinião?
taint the jury – afetar a imparcialidade do júri
◊◊ The United States Supreme Court would allow that kind
of hearing, that kind of pretrial hearing which could
threaten to taint the jury, to be held in secret.
A Suprema Corte dos Estados Unidos permitiria que
aquele tipo de audiência, aquele tipo de audiência
preliminar, que pudesse afetar a imparcialidade
do júri, fosse realizada de forma reservada.
poll the jury – contar os votos do júri
◊◊ Did they poll the jury, or did just the
foreman make the announcement?
Eles contaram os votos do júri ou o presidente
do júri simplesmente fez o anúncio?

139
2.6 Direito contratual

2.6.1 A diferença entre contrato,


contract e agreement

Os contratos são considerados textos difíceis de traduzir e de ler (Mayoral


Asensio, 2003). A dificuldade tem início com o título, pois em português
temos contrato e, em inglês, contract e agreement.
A doutrina brasileira define contrato como um:
“acordo entre a manifestação de duas ou mais vontades, na
conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer
uma regulamentação de interesses entre as partes, com o
escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas
de natureza patrimonial” (Diniz, 1999).
Em inglês, por outro lado, contract:
“pode ser definido como uma relação de troca criada por um
acordo oral ou escrito entre duas ou mais pessoas, contendo
pelo menos uma promessa, e reconhecido e passível de
execução pela lei” (Blum, 2004).
O objetivo essencial de uma relação contratual, de acordo com o sistema da
common law, é a existência de algo dado em troca – uma contraprestação
– (exchange, consideration). Isso é justificado por ser o comércio de bens,
serviços e de direitos intangíveis fundamental para a economia e a sociedade,
sendo a principal função do contract facilitar e regular essas trocas – ex-
changes – (Blum, 2004).
Portanto, o elemento exchange é da própria essência da relação con-
tratual, por meio da qual cada uma das partes dá alguma coisa para receber
outra em troca (Blum, 2004). Consequentemente, a common law exige que
alguma coisa de valor seja dada por ambas as partes, pois promessas gratuitas
não são passíveis de execução nos termos da lei (Koffman & Macdonald,
1998).
A definição de contract apresentada por Blum (2004) acima é mais
restrita que a de contrato adotada no Brasil. Pois, de acordo com a família
de direito da common law, um contrato é um acordo (agreement) com obri-
gações de ambos os lados (Koffman & Macdonald, 1998).

141
OObs.: No nosso sistema jurídico, que pertence à família de
direito romano-germânica, a onerosidade de ambos
os lados não é elemento essencial para caracterizar um
contrato. Conhecemos diversos contratos gratuitos
como, por exemplo, o contrato de doação.
Tudo isso faz com que o termo contrato se aproxime mais da definição
de agreement que é “um entendimento mútuo entre duas ou mais pessoas
sobre seus direitos e deveres referentes a obrigações passadas ou futuras”
(Black’s Law Dictionary, 2004).
Em um agreement, não há necessidade de quid pro quo (contrapres-
tação), sendo agreement, portanto, hiperônimo do próprio termo contract.
Traduzir contrato por agreement possibilita uma maior aproximação com o
nosso sistema jurídico.

2.6.2 Contratante e Contratado


Em português, para nos referirmos às partes de uma relação contratual, na
maioria dos casos, empregamos os termos gerais contratante e contratado,
independentemente do contrato em questão. Por outro lado, conhecemos
também termos específicos para determinados tipos de contrato como, por
exemplo, locador e locatário, termos utilizados no contrato de locação; e
outorgante e outorgado, no de mandato, além de doador e donatário, em
doações.
Na língua inglesa, o termo geralmente empregado para se referir a
ambas as partes de um contrato é parties ou contracting parties.

EXEMPLOS

◊◊ Any clause of an adhesion contract concerning the liability


of contracting parties shall be null and void if it…
Qualquer cláusula de um contrato de adesão relativa
à responsabilidade das partes será nula se...
◊◊ In consideration of the foregoing and the mutual covenants of the
parties set forth in this Agreement, the parties agree as follows:
Considerando-se o previsto acima e as promessas
mútuas das partes previstas neste Contrato,
as partes pactuam o quanto segue:

142
Em contrapartida, para nos referirmos a cada um desses termos isoladamen-
te, ao contrário do que fazemos em português – em que, em muitos casos,
temos a opção de empregar os termos gerais contratante e contratado para
diversos tipos de contrato – ao verter contratos para o inglês, será sempre
necessário verificar a natureza do contrato em questão e usar os nomes das
partes de acordo com a expectativa do público-alvo da tradução.

EXEMPLOS

◊◊ Tenant may assist Landlord in obtaining financing


for the cost of any Reimbursable Expenses
O Locatário poderá ajudar o Proprietário a
obter financiamento com relação aos custos
de quaisquer Despesas Reembolsáveis.
◊◊ Principal desires to retain Agent to procure a
buyer or user or assignee of the Property.
O Mandante deseja contratar o Mandatário para encontrar
um comprador, usuário ou cessionário do Imóvel.

Marca cultural
Uma prática comum nos contratos em língua inglesa é a utilização do nome
ou acrônimo da parte contratante. Por exemplo, em um contrato de for-
necimento entre a empresa contratante e a empresa fornecedora, as partes
seriam designadas em inglês por: company e supplier, ou nome/acrônimo
da empresa e supplier.

EXEMPLOS

◊◊ Company may renew the Agreement for an additional five year


period or such other period of time mutually agreed by the Parties.
A Contratante poderá renovar o Contrato por um
período adicional de cinco anos ou por tal outro prazo
que venha a ser mutuamente acordado entre as Partes.
◊◊ WHEREAS, EPT and SUPPLIER desire to work
together to achieve a long-term customer-supplier
relationship that is in the best interests of both Parties and
furthers the respective strategic goals of the Parties;
CONSIDERANDO QUE, EPT e a Fornecedora desejam
trabalhar juntos para alcançar uma relação cliente-fornecedor

143
de longo prazo nos melhores interesses de ambas as Partes
e promover as respectivas metas estratégicas das Partes;
OObs.: Lembrando que, em português, em contratos entre
empresas, normalmente empregamos o feminino (e.g.
a [Empresa] Fornecedora, a [Empresa] Contratante).
Por fim, alguns outros termos utilizados em inglês para designar as partes
de um contrato:
assignor e assignee – em contrato de
cessão – cedente e cessionário
bank e client – em contratos bancários – banco e cliente
client e attorney – em contrato de prestação de
serviços jurídicos – cliente e advogado
company e advisor – em contrato de serviços
técnicos a pessoa jurídica – empresa,
companhia ou sociedade e consultor
company e service provider / contractor – em uma
prestação de serviços – empresa, companhia ou
sociedade e fornecedora / prestadora de serviços
donor e donee – em contrato de doação – doador e donatário
employee e company – em contrato de trabalho
– empregado e empregador
franchisor e franchisee – em contrato de
franquia – franqueadora e franqueado
insurer e insured – em contrato de seguro
– seguradora e segurado
lender e borrower – em contrato de
crédito – credora e devedor
licensor e licensee – em contrato de licença
– licenciador e licenciado
publisher e translator – em contrato de
publicação de obra – editora e tradutor

144
seller e purchaser – em contrato de compra e
venda – vendedor e comprador
trustee e beneficiary – em contrato de trust
– trustee, depositário, fideicomissário,
fiduciário, consignatário e beneficiário.
OObs.: Ao traduzir um contrato que emprega os termos
contratante e contratado, é preciso verificar a natureza
da relação contratual para escolher os termos a serem
empregados como correspondentes. Não se esquecer
de verificar também se não é o caso de usar a forma
feminina de uma das partes (e.g. fornecedor/fornecedora)

2.6.3 Act of God, Force majeure e Cas fortuit


De acordo com Garner (2001), a expressão act of God é vaga e pouco
clara, pois é mais restrita que force majeure, vis major ou superior force. Act
of God abrange as forças incontroláveis e inesperadas da natureza, ao passo
que force majeure inclui também as consequências provocadas pela ação
do homem.
Apesar da diferença apontada por Garner (2001), na linguagem ju-
rídica em inglês, observando a expressão em contexto, vemos que os fatos
ocasionados por força da natureza são, muitas vezes, também explicitados
ainda que a expressão act of God tenha sido utilizada, além de coocorrer
com termos que indicam ações do homem.
Na prática, a tradução de act of God adotada nos contratos é caso
fortuito e força maior. Veremos o porquê mais a seguir.

EXEMPLOS

◊◊ …because of any reason including, but not limited to,


war, act of God, governmental regulations, strike, loss,
damage, destruction, obsolescence, failure of or any delay
in delivery, failure of the Equipment to properly
… devido a qualquer motivo, inclusive, mas não apenas,
guerra, caso fortuito e força maior, regulamentações
governamentais, greve, prejuízos, danos, destruição, obsolência,
falha ou qualquer atraso na entrega, falha do Equipamento

145
◊◊ …if the failure is occasioned by war, strike, fire,
Act of God, earthquake, flood, lockout, acts of
terrorism, embargo, governmental acts or orders or
restrictions, failure of suppliers or third parties…
… se a falha for causada por guerra, greve, incêndio, caso
fortuito e força maior, terremoto, enchente, greve patronal,
atos de terrorismo, embargo, atos, ordens ou restrições
governamentais, falhas de fornecedores ou terceiros...
◊◊ ...circumstances beyond the reasonable control of
Exchanger or Trustee, including but not limited to,
Act of God, war, insurrection, fire, flood, earthquake,
accident, strike or other labor disturbance, interruption
of or delay in transportation or power failure
…circunstâncias fora do controle do Vendedor ou do
Trustee, incluindo, mas não apenas, caso fortuito e
força maior, guerra, insurreição, incêndio, enchente,
terremoto, acidente, greve ou outros distúrbios trabalhistas,
interrupção do ou atraso no transporte ou falta de energia
Na linguagem jurídica em português, os contratos não fazem referência a
atos de Deus, mas a casos fortuitos e/ou força maior, como podemos ob-
servar a partir das linhas de concordância abaixo 52.

EXEMPLOS

Eventuais danos ambientais, e neste incluem-se os decorrentes


de caso fortuito e força maior, relacionados ao
desenvolvimento das atividades da contratada
As partes não responderão pelo descumprimento das
obrigações ou prejuízos resultantes de caso fortuito
ou força maior, na forma do Artigo 1.058 do
Código Civil Brasileiro, caso em que, qualquer
das partes pode pleitear a rescisão contratual
Não desobriga o contratante a pagar o valor estipulado
acima ao contratado a morte dos filhotes
resultante de caso fortuito ou força maior.
OObs.: Em português, as expressões são sempre usadas
juntas nos contratos e também na legislação.

52 Fonte dos exemplos: CorTec, salvo quando indicada outra fonte.

146
O Código Civil de 2002 acabou com a diferenciação entre caso fortuito e
força maior, fazendo com que ambos os termos recebessem a mesma defini-
ção e fossem empregados juntos, consolidando o que, na prática, a redação
jurídica já vinha fazendo.
Antes do Código de 2002, a doutrina costumava definir caso fortuito
como decorrente de ação humana e força maior como resultado de ação da
natureza.
Hoje, no Brasil, a definição de caso fortuito e força maior adotada
pelo Código Civil (art. 393, parágrafo único) é: “O caso fortuito ou de força
maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir”.
Em relação aos efeitos, em ambos os sistemas, o efeito de force ma-
jeure, cas fortuit, acts of god, e de caso fortuito e força maior é a exclusão
do dever de indenizar caso a parte não tenha se responsabilizado por eles de
forma expressa (art. 393, Código Civil).
Ainda que em inglês exista a expressão cas fortuit (definida por fato
imprevisível ou acidente inevitável, Black’s Law Dictionary, 2004), tra-
ta-se de uma expressão menos utilizada e obsoleta. Não encontramos ne-
nhuma ocorrência no CorTec, que é um corpus de contratos autênticos em
inglês e português. Portanto não verter caso fortuito por cas fortuit, e sim
por force majeure.
O Black’s Law Dictionary (2004) esclarece que force majeure
abrange os atos da natureza (acts of nature, acts of god) e atos de terceiros
(acts of people) funcionando, pois, como um hiperônimo dos demais termos
em questão. Em suma, ao traduzir force majeure usar força maior ou caso
fortuito e força maior.
Por fim, ao tradutor cabem algumas alternativas ao traduzir a expres-
são act of god se desejar marcá-la. O autor pode optar por:
fenômeno da natureza, em um contexto
restritivo ou explicativo, ou
caso fortuito ou força maior – ou por ambos –, devido
à convenção da linguagem de especialidade, que
é a de empregá-los juntos ou como sinônimos.

2.6.4 Garantia: campos semânticos


Campos semânticos são formados por palavras pertencentes ao mesmo
universo de significação (Câmara Jr., 1978). Trata-se de “um conjunto de

147
unidades lexicais [...] dotado de uma organização estrutural subjacente”
(Greimas & Courtés, 1979).
Em nosso dicionário mental, tanto as palavras do nosso vocabulário
ativo (i.e. o léxico que somos capazes de utilizar), como as do nosso vocabu-
lário passivo (i.e. o léxico que somos capazes de reconhecer), estão organiza-
das em campos semânticos. No campo semântico de garantia, por exemplo,
ocorrem lexemas como penhor, hipoteca e fiança.
Na organização dos campos semânticos, o sentido de algumas palavras
insere-se ou encontra-se inserido no de outras. Os dois fenômenos refletem
duas relações a que chamamos, respectivamente: hiponímia e hiperonímia.
Aproveitando o mesmo exemplo acima, o lexema hipoteca encon-
tra-se inserido no sintagma garantia real que, por sua vez, está incluído no
de garantia. Portanto, o termo garantia é o hiperônimo, i.e. o termo mais
geral ou amplo da cadeia, e o termo hipoteca, o hipônimo, i.e., o termo
mais específico da cadeia.
OObs.: Segundo o Black’s Law Dictionary (2004), guarantee,
além de ser o beneficiário da garantia, é também o
contrato de garantia, ou a obrigação do garantidor. E
guaranty é o contrato garantindo o cumprimento da
obrigação de um terceiro, garantia pessoal ou fidejussória.
Passando ao inglês, exploremos os contextos e as sugestões de tradução de al-
guns lexemas que fazem parte do campo semântico de guarantee (garantia):
guaranty – garantia pessoal/fidejussória, aval
◊◊ PERSONAL GUARANTY: To induce the above lessor
(“Lessor”) to make this Lease and purchase the equipment for
the above lessee (“Lessee”), knowing that the Lessor is relying
on this guaranty as a precondition to making this Lease,
I (or if more than one, then all of us, jointly and severally)
INDIVIDUALLY, PERSONALLY, ABSOLUTELY AND
UNCONDITIONALLY GUARANTY to the Lessor (and
any person or firm the Lessor may transfer its interest to) all
payments and other obligations owed by the Lessee to the Lessor.
GARANTIA PESSOAL: Para induzir o locador acima
(“Locador”) a realizar esta locação e a comprar o equipamento
para o locatário acima (“Locatário”), sabendo que o Locador
está se baseando nesta garantia como precondição para realizar
esta Locação, Eu (ou se mais de um, todos nós conjunta e
solidariamente) GARANTIMOS em caráter INDIVIDUAL,
PESSOAL, ABSOLUTO E INCONDICIONAL ao Locador

148
(e a qualquer pessoa física ou jurídica à qual o Locador venha
a transferir seus interesses em relação a) todos os pagamentos
e demais obrigações devidas pelo Locatário ao Locador.
bond – garantia pessoal/fidejussória, 1. promessa por escrito de
pagamento [em dinheiro], 2. fiança (bail ~); 3. caução;
prestar caução (to post a bond)
◊◊ If an Event of Default has occurred and is continuing unless the
Guarantor shall have posted and maintained a bond or other
security reasonably satisfactory to the relevant Tax Indemnitee in
respect of the Taxes subject to such claim and any and all expenses
for which the Guarantor or the Lessee is responsible hereunder
reasonably foreseeable in connection with the contest of such claim.
Após a ocorrência e durante a vigência de um Evento de
Inadimplemento, salvo se o Garantidor tiver prestado
e mantido caução ou outra garantia real satisfatória ao
Indenizado Fiscal em questão com relação aos Tributos sujeitos
a tal reivindicação e a todas as demais despesas previsíveis pelas
quais o Garantidor ou o Locatário seja responsável nos termos
do presente com relação à contestação de tal reivindicação.
collateral – garantia (real ou mobiliária), bem dado em garantia.
De acordo com Black’s Law Dictionary (2004), trata-se
dos bens dados em garantia para a satisfação da dívida. É
garantia adicional do cumprimento da obrigação principal,
não em linha direta, por isso a expressão collateral.
◊◊ All insurance coverages upon property which is collateral
for any of the Borrower’s indebtedness to the Lender
shall name the Lender as a loss payee and shall be
endorsed to require thirty (30) days advance written
notice to the Agent of any cancellation of coverage.
Todo seguro que cubra o bem dado em garantia com relação
a qualquer dívida do Devedor perante o Credor indicará
o Credor como beneficiário e será endossado para exigir
notificação por escrito do Agente com 30 (trinta) dias de
antecedência para o cancelamento de qualquer cobertura.
pledge – tipo de garantia real conferida por meio da transferência
da posse, penhor (sin. pawn)
◊◊ Any such mortgage, pledge, encumbrance, sublease or
assignment made in violation of this Section 16 shall be void.

149
Qualquer hipoteca, penhor, gravame, sublocação ou
cessão feita em violação a esta Cláusula 16 será nula.
security – garantia
◊◊ Tenant shall […] (ii) give such reasonable security as
may be demanded by Landlord or the Note Purchaser
to insure ultimate payment of such Imposition and
compliance with such Legal Requirements.
O locatário irá [...] (ii) dar a garantia que vier a ser
solicitada pelo Proprietário ou Comprador da Nota
Promissória para garantir o pagamento final de tal
Imposição e o cumprimento das Exigências Legais.
suretyship – fiança – relação entre três partes em que uma
pessoa (fiador) garante o pagamento da dívida do devedor
ao credor ou age como coobrigado. Em inglês, às vezes
os termos guaranty (aqui aval) e suretyship são usados
alternadamente. No entanto, não devem ser confundidos.
A distinção entre um contrato de fiança e um contrato de
garantia é se a obrigação é ou não conjunta com a principal
ou um contrato distinto, separado. Se sua existência ocorre
juntamente com a da obrigação principal, é fiança. Se vale
por si mesmo, como garantia solidária à obrigação que
adere, é aval.
◊◊ Tenant shall have first furnished Landlord with such surety
bonds or other security acceptable to Landlord as shall be
necessary to assure rebuilding of such Improvements.
O Locatário obriga-se a prestar ao Proprietário fiança
ou outro tipo de garantia considerada aceitável pelo
Proprietário para garantir a reconstrução das Melhorias.
warranty – garantia decorrente de contrato, garantia expressa em
contrato, garantia do produto.
◊◊ Limited Warranty. Any implied warranties on the Software
are limited to 90 days. Some states do not allow limitations
on duration of an implied warranty, so the above may not
apply to you. This limited warranty gives you specific legal
rights. You may have others, which vary from state to state.
Garantia Limitada. Quaisquer garantias implícitas do
Software estão limitadas a 90 dias. Alguns Estados não
permitem limitar a duração da garantia implícita, nesses

150
casos, o acima disposto não se aplicará. Esta garantia
limitada lhe confere direitos específicos. Você poderá ter
outros direitos que irão variar de um Estado para outro.
OObs.: Não confundir com warrantee, que
é o beneficiário da garantia
Além dos termos acima, fazem parte do campo semântico de guaranty se-
gundo o Burton’s Legal Thesaurus (1998): “assurance, backing, bond, cer-
tification, commitment, endorsement, gage, guard, hypothecation, indemnity,
insurance, pact, pledge, promise to pay another’s debt, recognizance, safeguard,
security, stake, support, surety, token, voucher, warrant, warranty”.
Na mesma obra, são listados ainda alguns conceitos associados: “ab-
solute guaranty, collateral guaranty, continuing guaranty, fidelity guaranty,
guaranty company, guaranty fund, guaranty insurance, guaranty of payment,
indemnity bond, limited guaranty, special guaranty, suretyship”.
Vale notar que, em regra, a organização estrutural semântica varia
entre os vocabulários das línguas, fato evidenciado pela ausência de identi-
dade total entre os lexemas de línguas diferentes. Decorrem desse fenômeno
as estratégias de tradução adotadas nas sugestões acima com base nos res-
pectivos contextos. Observe que, nas sugestões, a opção pelo hiperônimo é
frequente.
Nessa mesma linha, outros termos relacionados utilizados com bas-
tante frequência: carta de fiança (letter of guarantee), fiança bancária (bank
guarantee), seguro garantia/caução (surety bond).

2.6.5 Exhibit, Schedule, Attachment e Annex


Contratos redigidos originalmente em inglês, quando comparados a con-
tratos da mesma espécie em português, costumam ser bem mais extensos.
A principal razão diz respeito ao sistema da Common Law conferir maior
autonomia para contratar e não contar com tantas regras subsidiárias. Outra
razão é possuírem os contratos em inglês, tradicionalmente, mais anexos que
os redigidos em português.
Os anexos recebem diversos nomes em inglês: exhibit, schedule, at-
tachment e annex. Em português, temos anexo, apenso e apêndice.
Para determinar como esses termos são utilizados em inglês na lin-
guagem contratual, utilizamos o Corpus de Instrumentos Contratuais do

151
CorTec 53. Assim, a partir de todas as ocorrências dos termos em questão,
examinamos as acepções em que são empregados para determinar a tradução
em português.
Abaixo, o leitor encontrará os termos selecionados, com o respectivo
número de ocorrências lematizadas, a classe gramatical, o número de acep-
ções de cada termo, acompanhados de exemplos autênticos, bem como de
uma sugestão de tradução de acordo com o contexto apresentado.

EXEMPLOS

exhibit (113 ocorrências)


substantivo – anexo – designa documento anexo independente
(e.g. procuração)
◊◊ JH shall give WI written notice in substantially the
form attached as Exhibit A (“Notice of Availability”)
setting forth the approximate volume.
JH notificará WI por escrito essencialmente conforme
o modelo constante do Anexo A (“Notificação de
Disponibilidade”) estabelecendo o volume aproximado.
substantivo – prova (documentos/objetos submetidos em juízo
para produção de prova)
◊◊ Client’s papers and property ‘ include correspondence,
deposition transcripts, exhibits, experts’ reports,
legal documents, physical evidence, and other items
reasonably necessary to Client’s representation.
Documentos e bens do Cliente incluem correspondências,
transcrição de depoimentos, provas, relatórios
de peritos, documentos legais, provas físicas e
outros itens necessários à representação.

schedule (99 ocorrências)


substantivo – anexo – designa documento anexo complementar
(e.g. lista de preço)
◊◊ ‘Guarantor’ means each and every prime financial institution
set forth in the Schedule IV to this Agreement.

53 Convidamos o leitor a reproduzir a consulta no Corpus de Instrumentos


Contratuais do CorTec. Os links para todos os corpora mencionados estão na
página 251.

152
‘Garantidor’ significa cada uma das e todas as principais
instituições financeiras listadas no Anexo IV deste Contrato.
substantivo – cronograma
◊◊ Schedules are subject to change without notice.
Os cronogramas estão sujeitos a mudanças
independentemente de notificação.
verbo – agendar, marcar
◊◊ Owner is strongly urged to take steps to schedule the
acquisition of all Replacement Property sufficiently
before the expiration of the Exchange.
Recomenda-se ao proprietário que tome as medidas
para agendar a aquisição de todos os Imóveis para
Substituição antes de expirada a Permuta.

attachment (dez ocorrências)


substantivo – anexo – designa documento anexo quando há
poucos anexos
◊◊ WHEREAS, EPT and SUPPLIER have determined
that it is mutually desirable for SUPPLIER to supply to
EPT the products listed in Attachment 1 attached hereto
and made a part hereof (collectively, “Products”).
CONSIDERANDO QUE a EPT e a fornecedora
desejam que a fornecedora forneça à EPT os produtos
listados no Anexo 1 ao presente que passa a ser parte
integrante do mesmo (conjuntamente, “Produtos”).
substantivo – arresto ou penhora
◊◊ […] to claim for itself or its revenues or assets any immunity
from suit, court jurisdiction, judgment, execution of a judgment,
setoff, attachment (whether before or after judgment)”
[...] para reivindicar para si mesmo ou para suas receitas ou
ativos qualquer imunidade a processo judicial, competência
do juízo, decisão, execução de uma decisão, compensação,
arresto/penhora (seja antes ou depois da decisão).
OObs.: Quando attachment for usado para se referir à
apreensão de bens do devedor antes da sentença
(prejudgment), traduzir attachment por arresto. Após
a sentença (postjudgment), traduza por penhora.

153
annex (nove ocorrências)
substantivo – anexo – designa documento anexo quando há
poucos anexos
◊◊ This Agreement supersedes any prior agreements among the parties
concerning the subject matter herein, being Annexes 1, 2 and 3
to be considered as part of the Agreement thereof in order to allow
a perfect understanding of all obligations due by the Parties.
O presente Contrato substitui quaisquer acordos
prévios entre as partes sobre seu objeto, e os Anexos
1, 2 e 3 serão considerados parte integrante do
Contrato para possibilitar o perfeito entendimento
de todas as obrigações assumidas pelas Partes.
verbo – anexar
◊◊ The report of the auditors shall be annexed to the accounts and
shall be read at the meeting of members at which the accounts
are laid before the Company or shall be served on the members.
O relatório dos auditores será anexado às contas
e lido na na assembleia em que as contas forem
apresentadas à Sociedade e entregue aos sócios.
OObs.: Annex na acepção de anexar ocorre apenas 3
vezes no corpus inteiro. Portanto, ao traduzir
anexar, preferir attach, o termo correspondente
que ocorre com mais frequência em inglês.

2.6.6 Resolução, Rescisão e Resilição


Resolução é a extinção do vínculo contratual por fato não imputável ao
devedor (e.g. força maior). Rescisão é a extinção do vínculo contratual por
falta imputável ao devedor, i.e., inadimplemento contratual. Resilição é a
extinção do contrato por vontade das partes, seja bi ou unilateral. Observa-
remos que, em todos os termos, está presente o elemento (i.e. sema) extinção
do vínculo contratual.
Em inglês, a extinção do vínculo contratual é denominada ter-
mination e corresponde à extinção do vínculo contratual por decurso do

154
tempo, prazo, conclusão ou descontinuidade. A common law possui diversos
tipos de termination, entre eles:
termination for force majeure ou termination
caused by act of god (resolução) – extinção do
contrato por caso fortuito ou força maior
termination for breach e termination for default (rescisão)
– extinção do vínculo por inadimplemento contratual
termination for convenience (resilição) – extinção do vínculo
por conveniência de uma ou de ambas as partes.
Ao tratar da extinção do vínculo contratual, é comum, nos contratos em
inglês, a respectiva cláusula ser divida em:
termination without notice (independentemente
de notificação)
termination with notice (mediante notificação).

EXEMPLO

A seguir, um exemplo 54 de termination clause incluindo as três espécies de


termination abordadas acima.

Termination of Agreement
without notice – independentemente de notificação
◊◊ This Agreement shall terminate, without notice, upon the
occurrence of any of the following events: (a) in the event of
reasons beyond the control of party, which may include but
are not limited to an act of God, war, civil disturbance, court
order, or labor dispute; (b) in the event of a breach of by
either Party hereto resulting in damages to the other Party.
O presente contrato será rescindido, independentemente
de notificação, após a ocorrência de qualquer um
dos seguintes eventos: (a) motivos fora do controle da
parte, que podem incluir, entre outros, caso fortuito,
guerra, desordem civil, ordem judicial ou controvérsia
trabalhista; (b) violação do mesmo por qualquer uma
de suas Partes resultando em danos à outra Parte.

54 Fonte dos exemplos: CorTec.

155
with notice – mediante notificação
◊◊ In addition, either party may terminate this
Agreement unilaterally and without cause, by
written notice to the other party of such intent to
terminate the Agreement. Such termination shall
be effective as of the date specified in such notice.
Além disso, qualquer parte poderá resilir este Contrato
unilateralmente e sem justa causa, por meio do envio de
notificação por escrito à outra parte informando a intenção
de extinguir o Contrato. A referida resilição produzirá
efeitos a partir da data especificada em tal notificação.

R escission
A linguagem jurídica em inglês conhece, ainda, o termo rescission empre-
gado em expressões como mutual rescission e agreement of rescission, que
corresponderiam ao nosso distrato. De acordo com o Black’s Law Dictio-
nary (2004), rescission significa anular, cancelar. O contrato é declarado
nulo desde o seu início e coloca-se fim ao mesmo como se nunca tivesse
existido.

Termos relacionados
cláusula resolutiva – termination clause
data da resolução – termination date
motivos para extinção do contrato – grounds for termination
rescisão de contrato sem justa causa –
termination without cause
rescisão de contrato com justa causa – termination for cause
resolução antecipada – early termination

156
2.6.7 Diferenças entre terminate,
rescind e avoid

No item anterior, abordamos os substantivos termination e rescission. Vi-


mos que termination (forma verbal: terminate) corresponde à extinção do
vínculo contratual por decurso do tempo, prazo, conclusão ou descontinui-
dade, e que rescission (forma verbal: rescind) – menos usado que termi-
nation – é usado em expressões como mutual rescission e agreement of
rescission, que correspondem ao nosso distrato.
Todavia, para abordar qualquer diferença – se houver – entre eles
é necessário verificar como terminate, rescind e avoid são utilizados na
linguagem jurídica.
Observa-se de imediato que, não raro, esses verbos são empregados na
companhia uns dos outros, muitas vezes em binômios e polinômios.

EXEMPLOS

◊◊ The Lessee covenants that it will remain obligated under


this Lease in accordance with its terms and will take
no action to terminate, rescind or avoid this lease,
notwithstanding the bankruptcy, insolvency, reorganization,
composition, readjustment, liquidation, dissolution,
winding-up or other proceeding affecting the Lessor 55 .
O Locatário compromete-se a permanecer obrigado nos
termos desta Locação de acordo com seus termos e a não
praticar qualquer ato para extinguir, anular ou evitar
esta locação, independentemente de falência, insolvência,
recuperação judicial, acordo de credores, repactuação,
liquidação, dissolução ou outro processo que afete o Locador.
◊◊ Tenant shall remain obligated under this Lease in accordance
with its terms and shall not take any action to terminate,
rescind or avoid this Lease, notwithstanding any bankruptcy,
insolvency, reorganization, liquidation, dissolution or
other proceeding affecting Landlord or any assign 56 .
O Locatário permanecerá obrigado nos termos desta Locação
de acordo com seus termos e não praticará nenhum ato para

55 Fonte do exemplo: FindLaw. [Disponível em: http://corporate.findlaw.com/


contracts/operations/boeing-777-222-aircraft-lease-agreement-united-air-lines-
inc.html].
56 Fonte dos exemplos: CorTec, salvo quando indicada outra fonte.

157
extinguir, anular ou evitar esta Locação, independentemente
de falência, insolvência, recuperação judicial, liquidação,
dissolução ou outro processo que afete o Proprietário [...].
◊◊ Terminate means, in relation to a document, to terminate,
determine, rescind, repudiate, avoid, release, surrender,
forfeit, discharge (other than by performance), or accept the
termination, rescission or repudiation of that document
and Termination has a corresponding meaning 57.
Extinguir significa, com relação a um documento, extinguir,
definir, anular, repudiar, evitar, liberar, renunciar, perder,
liberar (de outra forma que não pelo cumprimento) ou
aceitar a extinção, anulação ou repudia de tal documento
e Extinção tem o significado correspondente.
OObs.: O mesmo é verificado com os substantivos termination,
recision, avoidance, que também coocorrem.
◊◊ Document Termination: any termination, expiry,
rescission, cancellation, extinguishment, avoidance
or abandonment of any agreement, or any right or
obligation of any person under any agreement.
Extinção do Documento: qualquer extinção, vencimento,
anulação, cancelamento, rescisão, revogação ou abandono
de qualquer contrato ou qualquer direito ou obrigação
de qualquer pessoa nos termos de qualquer contrato.
Pelos contextos oferecidos, observa-se que terminate/termination abran-
gem os demais. Para não ficarmos apenas com fontes pragmáticas, consul-
tamos fontes terminográficas. No Black’s Law Dictionary (2004), por
exemplo, os termos em questão compõem o verbete uns dos outros. Nele, o
termo rescission é definido por avoidance.
A coocorrência aparentemente coincidente desses termos nos contex-
tos acima revela uma característica da linguagem jurídica em inglês: valer-se
de palavras sinonímicas ou quase sinonímicas em binômios 58, trinômios
(polinômios) ou verdadeiras listas de sinônimos, ou quase sinônimos, com
o aparente intuito de atingir precisão e previsões absolutas (Garner, 2001).

57 Fonte do exemplo: Website Dampier Bunbury Pipeline [Disponível em: http://


www.dbp.net.au/].
58 Ver item 1.1.

158
EXEMPLOS

Binômios
each and every
any and all
due and payable
by and between
Trinômios
authorized, executed and delivered
legal, valid and binding
illegal, invalid or unenforceable
full, true and correct
right, title and interest
Polinômios
demand, presentment, protest and other notice
legality, validity, binding effect or enforceability
Diferentemente da do passado, a tendência, hoje, é a de evitar o emprego
de termos supérfluos. Garner (2001), entre outros autores, recomenda que
o uso de binômios e trinômios seja evitado na linguagem jurídica que, em
inglês, é historicamente redundante. O autor recomenda ainda a aplicação
de duas regras – que a meu ver também poderiam ser aplicadas à tradução
dos termos objeto da questão da leitora quando empregados em polinômios
– a saber:
·· se uma palavra abrange o sentido de outras,
usar só aquela (e.g. full, true and correct)
·· se as palavras são sinônimas (e.g. legal, valid and
binding), usar a que couber melhor no contexto.

2.6.8 Void: -able, -ness, -ability


Ao examinarmos a língua em contexto, observamos que o adjetivo void,
– cuja definição dada pelo Black’s Law Dictionary (2004) é sem efeito
jurídico, nulo (of no legal effect; null) –, é empregado na acepção de nulo
em português.

159
EXEMPLO

◊◊ Any void provision shall be deemed severed from this


Agreement, and the balance of this Agreement shall be
construed and enforced as if this Agreement did not contain
the particular portion or provision held to be void 59.
Qualquer disposição nula será considerada alheia ao
presente Contrato e o restante do presente Contrato
será interpretado e executado como se o mesmo não
incluísse a referida disposição considerada nula.
Uma outra característica da linguagem jurídica em inglês é void ocorrer
conjuntamente com null no binômino null and void, sem que haja altera-
ção de sua acepção, pois se trata de um binômio redundante, – i.e. compos-
to por termos sinonímicos –, muito comuns no inglês jurídico (Carvalho,
2007). Portanto, null and void corresponde a nulo, assim como void ou
null sozinho também corresponde a nulo em português.

EXEMPLO

◊◊ All prior agreements respecting the subject matter hereof,


either written or oral, expressed or implied, are merged
and canceled, and are null and void and of no effect.
Todo os contratos anteriores relativos ao objeto do
presente, sejam eles escritos ou verbais, expressos
ou implícitos, são incorporados ao presente,
sendo considerados cancelados e nulos.
Entretanto, void ocorre também em outro binômio. Porém, em um binô-
mio útil (useful), de acordo com Mellinkoff (1963): void or voidable
(nulo ou anulável)

EXEMPLOS

◊◊ Any person in which any director has a financial interest or


to whom any director is related, including as a director of
that other person, is void or voidable for this reason only or
by reason only that the director is present at the meeting of
directors or at the meeting of the committee of directors that.
Qualquer pessoa em que qualquer conselheiro tenha interesses
financeiros ou com a qual qualquer conselheiro tenha relação,
inclusive como conselheiro de tal outra pessoa, é nulo ou

59 Fonte dos exemplos: CorTec.

160
anulável por esse motivo apenas ou apenas devido ao fato
de o conselheiro estar presente à reunião do conselho de
administração ou de algum comitê de conselheiros da mesma.
◊◊ Not to do or permit or suffer to be done any act or thing which
may render void or voidable any policy of insurance on the
Premises or the building or any part thereof or on the Contents
or which may cause an increased premium to be payable.
Não praticar, permitir ou sofrer qualquer ato ou coisa
que possa tornar nula ou anulável qualquer apólice
de seguro sobre as Instalações ou no edifício ou em
qualquer parte do mesmo ou no Conteúdo ou que
possa fazer com que seja devido um prêmio maior.
Como pudemos observar a partir dos exemplos acima, void (nulo) e void-
able (anulável) são dois adjetivos com acepções distintas.
E quais os adjetivos que decorrem desses substantivos? De voidable,
decorre voidability que corresponde a anulabilidade. De void decorre void-
ness que corresponde a nulidade. Outro termo para designar nulidade em
inglês é o nullity, empregado em contextos mais restritos, como o de casa-
mento (e.g. decree of nullity).

Síntese
Gramaticalmente, mas nem sempre pragmaticamente – pois a tradução não
implica a manutenção das classes gramaticais dos termos traduzidos –, en-
contramos as seguintes correspondências:
·· ao adjetivo void, corresponde nulo
·· ao substantivo voidness, corresponde nulidade
·· ao adjetivo null, corresponde nulo
·· ao substantivo nullity, corresponde nulidade
·· ao adjetivo voidable, corresponde anulável
·· ao substantivo voidability, corresponde anulabilidade.

161
2.6.9 A marca da Equidade: specific performance

Common L aw & Equity


O direito anglo-americano foi desenvolvido a partir de duas grandes verten-
tes. A principal, a Common Law – que, conforme vimos, dá nome à família
de direito que foi introduzida por Guilherme, o Conquistador, e subsequen-
temente desenvolvida pelos tribunais reais entre 1066 e 1485 – e a Equity,
introduzida pelos Equity Courts a partir de 1485 (David, 1997).
A Equity é um ramo do direito tradicionalmente não escrito funda-
do na justiça e no equilíbrio entre as partes. Por meio da Equity, visava-se
solucionar os litígios de uma forma mais justa que a solução prevista pelos
Common Law Courts. Outro objetivo da Equity era dar solução a litígios aos
quais a Common Law nem sequer previa solução devido à sua natureza real
(i.e. protetora dos interesses da coroa) e à máxima remedies precede rights
(i.e. em primeiro lugar o processo).
Uma das principais características da Common Law foi o seu desen-
volvimento com base em um determinado número de ações (forms of ac-
tion). Em outras palavras, caso não houvesse uma ação específica, a Com-
mon Law não poderia ser acionada, e a principal dificuldade enfrentada
pelas partes em acessar o judiciário residia em fazer com que os tribunais
reais admitissem sua competência (jurisdiction).
OObs.: Em decorrência de sua historicidade, por meio das
forms of action, até hoje a Common Law, em muitos
casos, não se apresenta como um sistema que visa
realizar a justiça, mas sim assegurar a solução de litígios
[e de forma rápida: Justice delayed is justice denied].
Devido à ausência de ações específicas e à insatisfação com as soluções nos
juízos de Common Law, a Equity nasceu na Inglaterra medieval. As partes
insatisfeitas com a solução dada pelo judiciário passaram a recorrer ao rei
que, por sua vez, encaminhava as petições ao chanceler (chancellor), autori-
dade religiosa. Assim, quando o chanceler considerava a causa justa, ele apli-
cava soluções com base nos princípios de equidade, cujos fundamentos estão
essencialmente no direito canônico e romano. Devido à crescente demanda
por intervenção do poder real, e à insatisfação da população com as solu-
ções das law courts, os remédios aplicados pelo chanceler se multiplicaram,
passando a compor um novo conjunto de princípios até dar origem a uma
outra divisão do judiciário: os chamados Equity Courts ou Chancery Courts.
Durante os anos de 1485 a 1832 os dois sistemas coexistiram, cada
qual com seus próprios princípios e juízes. Mais tarde, uma reforma unificou

162
o judiciário, fazendo com que as regras de equidade fossem incorporadas à
Common Law. Por essa razão, hoje, o autor de uma ação pode pleitear solu-
ções de Common Law (legal remedies) ou equitativas (equitable remedies).
Entretanto, o entendimento que prevalece é o de que o judiciário apenas
confere as últimas na ausência das primeiras, i.e., uma instância de Com-
mon Law só aplicará soluções de equity, como a de specific performance,
por exemplo, se não houver a possibilidade de indenização (i.e. monetary
damages).
OObs.: Outros tipos de soluções em equity: rescission (ação
em equity em que a parte pretende ser liberada de suas
obrigações previstas no contrato com base em erro
mútuo, fraude, impossibilidade – corresponde a anulação
judicial), restitution (restituição), prohibitory injunction
(obrigação de não fazer imposta por decisão judicial),
mandamus (ordem de tribunal superior a juízo inferior).
OObs.: Outros tipos de indenização em Common Law:
liquidated damages (cláusula penal, indenização
fixada por cláusula penal), punitive damages (multa
cominatória), compensatory damages (indenização
por descumprimento contratual, danos emergentes),
consequential damages (danos indiretos),
nominal damages (indenização simbólica).

A tradução de specific performance


De acordo com o direito anglo-americano, specific performance é uma das
soluções de Equity para o inadimplemento contratual (breach of contract),
não apenas obrigacional. Por meio da specific performance, que seria a execu-
ção específica da obrigação decorrente de contrato, a parte que não ina-
dimpliu o contrato, i.e. a parte inocente, (party not in breach ou injured par-
ty) pode pleitear uma ordem judicial obrigando a parte inadimplente (party
in breach ou injuring party) a cumprir determinada obrigação contratual.
Trata-se de medida excepcional que, em regra, é concedida quando
uma indenização por perdas e danos não é suficiente, ou nos casos das obri-
gações de dar 60 (e.g. compra e venda de bens móveis e imóveis). Vale ressaltar
que, por ser medida de equity¸ a parte que pleiteia a specific performance,
não pode estar inadimplente, pois há um princípio no direito da equidade

60 O artigo 2.º do Uniform Commercial Code afasta a regra tradicional da


Common Law, que é a de indenização por perdas e danos, e permite a execução
específica.

163
segundo o qual “He who comes in equity must come with clean hands”. Além
disso, não cabe specific performance em uma série de obrigações de fazer fun-
gíveis (personal obligations) – e.g. contrato de prestação de serviços.
No sistema brasileiro, as soluções em direito para o descumprimento
das obrigações são semelhantes. Apesar de o sistema romano-germânico – ao
contrário da Common Law – historicamente privilegiar a execução da obri-
gação, em muitos casos a prática é inviável e o remédio contra o descum-
primento obrigacional é a conversão em perdas e danos (damages), fazendo
com que a execução específica, e a por terceiro, sejam consideradas possíveis
e permitidas em menos casos. Nesse sentido, temos os artigos 247 61, 248 62
e 249 63 do Código Civil.
Em matéria contratual, entende-se por execução específica e/ou força-
da “o meio de que se serve a pessoa para exigir judicialmente o cumprimento
ou a satisfação das cláusulas contratuais” (De Plácido e Silva, 2005). Nesse
contexto, specific performance poderia ser traduzido por execução especí-
fica/forçada da obrigação [de dar ou de fazer] prevista no contrato.

2.6.10 Os advérbios na linguagem contratual


Yes, there are things which we cannot learn, and there is no use
in fretting about it. I cannot learn adverbs; and what is more I
won’t…
Mark Twain

Para levantar quais os advérbios iniciados em here- (e.g. herein, hereinafter


etc.) utilizados na linguagem contratual em inglês, consultamos o CorTec.
No Cortec, a razão type/token (índice que mede a riqueza lexical)
gira em torno de três 64, o que significa que a cada 3 palavras, uma se repete.

61 Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que


recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.
62 Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor,
resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
63 Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor
mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem
prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode
o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.
64 O mesmo índice em textos de Shakespeare, por exemplo, pode ultrapassar 20.

164
Consequentemente, podemos afirmar, com base em dados estatísticos, que
a linguagem contratual é uma linguagem muito repetitiva.
De fato, as fórmulas lexicais da linguagem contratual pouco variam
em inglês, e as cláusulas-padrão (boilerplate clauses) se repetem praticamente
ipsis litteris em inúmeros contratos.
Essa repetição lexical fica ainda mais evidente quando calculamos a
ocorrência dos advérbios iniciados por here- e there-, que correspondem a,
respectivamente, 1261 e 835 ocorrências no CorTec, que é um corpus de
204.249 palavras. Ou seja, os advérbios iniciados por here- e there- corres-
pondem a 1,02% de toda a linguagem jurídica contratual representada no
referido corpus.
Consequentemente, entre as palavras lidas em um contrato, é prová-
vel que, aproximadamente, uma em cada cem seja um advérbio iniciado em
here- e there-.
Portanto, dada a altíssima frequência desses advérbios na linguagem
jurídica em inglês, o profissional que lida com contratos em língua ingle-
sa precisa conhecê-los. Para tanto, identificamos os termos apresentados a
seguir.

Quadro 9: Advérbios na linguagem jurídica em inglês


Advérbios iniciados em here- Advérbios iniciados em there-
hereafter thereafter
hereby thereby
herefrom therefore
herein therefrom
hereinabove therein
hereinafter thereof
hereof thereon
hereon theretofore
hereto thereunder
heretofore thereupon
hereunder therewith
herewith

Plain English Movement


Antes de fornecermos as traduções para os advérbios em questão, é preciso
ressaltar que diversos autores que escrevem sobre a linguagem jurídica em

165
inglês compartilham da opinião de que eles devem ser evitados, pois “carre-
gam pouco ou nenhum conteúdo” (Garner, 2002).

Here - v. There -
A diferença entre os advérbios iniciados por here- e os iniciados por there- é
o fato de os primeiros fazerem referência ao documento que está sendo lido,
e os segundos a documentos anexados 65 ou relacionados ao documento
principal.
A seguir, daremos exemplos de possíveis traduções para períodos em
que os advérbios, em destaque no quadro anterior, ocorrem, ressaltando
que, muitas vezes, eles desaparecem – ou poderiam desaparecer (nesse caso
utilizaremos colchetes) – na tradução, o que evidencia a natureza supérflua
desses lexemas 66.

EXEMPLOS 67

Hereafter
◊◊ Prices, discounts, and terms shall be subject to
change from time to time hereafter.
Os preços, descontos e prazos estarão sujeitos a
alterações periódicas [de agora em diante].
Hereby
◊◊ The Parties hereby agree that SUPPLIER shall supply
to EPT Products under the following terms:
[Fica, neste ato, acordado entre as partes que o] A
FORNECEDORA obriga-se a prover determinados
produtos à EPT nos termos das cláusulas abaixo:
Herein
◊◊ As used herein, “ disability” or “ incapacity” shall mean a lack
of capacity to receive and evaluate Information effectively.
No presente contrato, os termos “inabilidade” e
“incapacidade” correspondem à falta de capacidade de
receber e avaliar as Informações de forma eficaz.

65 Ver item 2.6.5.


66 Abaixo, exemplificaremos apenas com os advérbios em here-.
67 Fonte dos exemplos: CorTec.

166
Hereinabove
◊◊ All payments due and payable hereunder shall be
made at the addresses hereinabove set forth.
Todos os pagamentos devidos e exigíveis [nos termos do
presente] serão efetuados no endereço informado acima.
Hereinafter
◊◊ …hereinafter referred to as “COMPANY”…
...doravante denominada “EMPRESA”...
Hereof
◊◊ Without invalidating the remaining provisions hereof.
Sem invalidar as demais cláusulas [do presente contrato].
Hereon
◊◊ The parties hereto voluntarily and intentionally
waive any rights they may have to a trial by jury
in respect of any litigation based hereon.
As partes renunciam, em caráter voluntário e
intencional, ao direito a um julgamento por júri em
qualquer litígio resultante [do presente contrato].
Herefrom
◊◊ If any provision herein is held to be invalid, it
shall be considered deleted herefrom and shall
not invalidate the remaining provisions.
Se for determinada a invalidade de qualquer disposição
deste contrato, a referida disposição será excluída [do
presente] e não ensejará a invalidade das demais.
Hereto
◊◊ The amounts listed in Attachment 1 attached hereto.
Os valores arrolados no Anexo 1 [do presente contrato].
Heretofore
◊◊ Company has heretofore delivered to the Lessor
Parties the most recently completed annual report.
A Empresa forneceu previamente aos Locadores
versão completa e mais recente do relatório anual.

167
Hereunder ver hereinabove
Herewith
◊◊ The Members acknowledge that not withstanding the right of
to terminate or suspend its services in accordance herewith
they may have continuing duties under applicable Law.
Os Membros estão cientes de que, respeitado/ressalvado o
direito de rescindir ou suspender os serviços nos termos do
presente, poderá haver obrigações decorrentes da Lei aplicável.

2.6.11 Mais advérbios na linguagem jurídica


Na língua geral em inglês, a maioria dos advérbios é facilmente identificada
devido à terminação em –ly (e.g. completely, easily, happily).
Na linguagem jurídica, advérbios em –ly também ocorrem em abun-
dância (e.g. highly, unreasonably, timely, promptly, duly). Entretanto, como
a referida linguagem de especialidade é marcada por um registro (nível de
formalidade) mais alto, há muitas ocorrências também de advérbios que não
fazem parte do repertório da linguagem coloquial – como herein, hereinbe-
fore, thereafter, que foram alvo do item anterior – e também de advérbios
que não parecem advérbios e que não costumam ocorrer na língua geral.
Dentre eles 68:
imprimis (adv.) primeiramente, em primeiro lugar
◊◊ Imprimis, The defendant covenanted, that the vessel being tight,
staunch, and substantial, well manned, tackled, apparelled,
and furnished as is usual for vessels in the merchants service,
and for the voyage thereinafter mentioned, the master
William Wilson, or some other proper person in his stead,
should take, receive, and properly stow on board the said
vessel, all such lawful goods, wares, and merchandizes.
Primeiramente, o réu concordou formalmente que a
embarcação sendo impermeável, sem vazamentos e de grande
porte, bem tripulada, atracada, aparelhada e fornecida da
forma usual para embarcações que realizam serviços mercantes,
e para a viagem mencionada a seguir, o mestre William
Wilson, ou alguma outra pessoa em seu lugar, deveria levar,

68 Fonte dos exemplos: COCA.

168
receber e armazenar devidamente a bordo de tal embarcação
todas as mercadorias, os artigos e produtos lícitos.
pell-mell (adv.) de modo desordenado, indiscriminadamente
◊◊ The result was a pell-mell rush to break the
American monopoly, at any cost.
O resultado foi uma corrida desordenada para quebrar
o monopólio americano, a qualquer custo.
seriatim (adv.) em série, consecutivamente, um após o outro
◊◊ Likewise, the American Declaration of Independence
imitated the seriatim listing of wrongs that
opened the English Declaration of Rights.
Da mesma forma, a Declaração de Independência dos
Estados Unidos imitou a lista consecutiva de ilícitos que
deu início à Declaração de Direitos da Inglaterra.
withal (adv.) também
◊◊ The horde now descending upon our shores is
densely ignorant, yet dull and superstitious withal;
lawless, with a disposition to criminality.
A multidão que agora ataca nosso litoral é tremendamente
ignorante, e ainda tola e supersticiosa também;
sem lei, com propensão à criminalidade.

2.6.12 Tandem
O lexema tandem é empregado, na língua geral em inglês, com mais fre-
quência na expressão adverbial in tandem, designando “em conjunto, jun-
tamente com” (Collins Dictionary, 2006).

EXEMPLOS 69

◊◊ Their respective companies may often work in tandem.


Suas respectivas empresas podem sempre
trabalhar em conjunto.

69 Fonte dos exemplos: COCA.

169
◊◊ The couple may even fly through the air awkwardly, in tandem.
O casal pode até voar pelos ares desastradamente, em conjunto.
Na linguagem jurídica, registramos o sintagma nos seguintes contextos:
Contratos
◊◊ Any right that was granted in tandem with a
Company Stock Option shall also be cancelled.
Direitos concedidos juntamente com uma
stock option também serão revogados.
Atas
◊◊ The goal of the Committee is to work in
tandem with the Commission.
O objetivo do Comitê é trabalhar em
conjunto com a Comissão.
Marcas e patentes
◊◊ Brand Partnering: Trade Marks Used In Tandem.
Associação entre marcas: marcas utilizadas em conjunto.

170
2.7 Direito penal

2.7.1 A classificação de condutas ilícitas


Uma das classificações (levels of offense) adotadas nos Estados Unidos para
as condutas ilícitas abrange:
1. misdemeanors ou petty offenses, minor crimes ou summary offens-
es, i.e. crimes de menor potencial ofensivo:
class A misdemeanor
class B misdemeanor
class C misdemeanor
infraction
2. felonies ou crimes of violence, major crimes ou serious crimes, são
crimes de maior potencial ofensivo. São definidos por crimes, tenta-
dos ou não, cometidos por meio de uso de força física contra a pessoa
ou o patrimônio.
O que define se uma conduta ilícita pertence a uma determinada classe de
misdemeanors é a multa aplicada. Abaixo os valores previstos no U.S. Code,
que é federal:
misdemeanor com resultado morte, o valor
máximo é de U$ 250 mil
misdemeanor Class A sem resultado morte,
o valor máximo de U$ 100 mil
misdemeanor Class B ou C sem resultado
morte, o valor máximo de U$ 5 mil
infraction, valor máximo U$ 5 mil
Em regra, os misdemeanors são punidos com multa (fine penalty) e/ou penas
mais brandas de reclusão ou detenção (confinement). Cada estado possui
sua própria classificação e seus próprios tipos de pena.
No caso dos felonies, a multa máxima prevista no U.S. Code é de U$
250 mil. Esses crimes são punidos com períodos de reclusão superiores a 1
ano, ou com morte. Alguns exemplos são:

171
burglary (furto mediante arrombamento/chave falsa)
arson (incêndio)
rape (estupro)
murder (homicídio).

Como traduzir?
Na ausência de correspondentes em português, a melhor forma de trans-
mitir o conteúdo da mensagem seria adotar uma tradução estrangeirizado-
ra,  acompanhada de uma explicação do termo. Assim, por exemplo, mis-
demeanor class A poderia ser traduzido por “crime de menor potencial
ofensivo de nível A”, deixando claro que, na esfera federal, por exemplo, o
nível A é mais grave que os níveis B e C. Por outro lado, infraction e viola-
tion poderiam ser traduzidos por infração, pois os termos possuem diversos
semas em comum. Por fim, felony poderia ser traduzido por crime de maior
potencial ofensivo ou, ainda, crime grave ou, dependendo do contexto,
crime hediondo, em se tratando de tipos penas previstos na lei respectiva.

2.7.2 Os regimes de prisão e sua tradução


Segundo o art. 32 do Código Penal brasileiro, as espécies de pena são: pri-
vativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa. A seguir, possíveis
termos correspondentes para a tradução das primeiras e a de seus respectivos
regimes, com base na terminologia adotada pelo sistema inglês.
As penas privativas de liberdade (prison sentences) são classificadas
em pena de reclusão e de detenção (time in prison, imprisonment, incarcera-
tion) e devem ser executadas de forma progressiva (downgrading incarcera-
tion conditions).
A Common Law não conhece a subdivisão das penas restritivas de
liberdade em penas de reclusão e de detenção. Assim, ambas podem ser
traduzidas pelos termos fornecidos acima. Entretanto, nos casos em que
é preciso individualizá-las, o tradutor poderá valer-se de pelo menos duas
estratégias. A primeira seria não traduzir o termo, fazendo um calque (em-
préstimo lexical), i.e. manter o termo em português. Outra estratégia se-
ria criar um neologismo para o termo próprio da cultura de partida. Neste
caso, detenção poderia ser traduzido por detention. Porém, vale lembrar e
advertir que tudo dependerá do contexto, pois dentro da Common Law, o
termo detention possui outras acepções, como a de prisão temporária e a
de atraso forçado.
Em relação aos regimes de cumprimento das penas (prison condi-
tions) privativas de liberdades, o sistema penal brasileiro possui três tipos:
fechado, semiaberto ou aberto (art. 33, § 1º):
regime fechado (closed conditions), a execução da pena se
dá em estabelecimento fechado (closed facility) de
segurança máxima (top-security facility, maximum
security facility) ou média (medium-security facility)
regime semiaberto (semi-open conditions), a execução
da pena ocorre em colônia agrícola, industrial
ou estabelecimento similar (work prison 70)
regime aberto (open conditions), a execução
da pena é em casa de albergado ou
estabelecimento adequado (open prison).
De acordo com as regras do regime fechado (art. 34), o preso (inmate,
prisoner) fica sujeito a:
·· trabalho no período diurno (work during the day) e
·· isolamento (individual cell) durante o repouso noturno.
No regime semiaberto (art. 35), o condenado (convict) fica sujeito a:
·· trabalho comum durante o período diurno, em
colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar (minimum-security facility)
·· trabalho externo é admissível (day release jobs)
·· frequência a cursos supletivos profissionalizantes
(technical training), de instrução de segundo grau
(high-school education) ou superior (university education).
No regime aberto (art. 36), o condenado deverá cumprir sua pena (serve
his sentence) fora do estabelecimento (outside prison facility) e:
·· trabalhar (work)
·· frequentar curso ou exercer outra atividade
autorizada (to be on a day-release program)
·· permanecer recolhido durante o período noturno
(be on a curfew) e nos dias de folga (day off).

70 Adotamos um hiperônimo para a tradução.

173
2.7.3 Erro de tipo e Erro de proibição
Ignorantia legis neminem excusat.

Antes da redação dada pela Lei nº 7.209/84, o Código Penal empregava os


termos erro de fato e erro de direito na seguinte redação:

Ignorância ou erro de direito


Art. 16 – A ignorância ou a errada de compreensão da lei
não eximem de pena.

Erro de fato
Art. 17 – É isento de pena quem comete o crime por
erro quanto ao fato que constitui, ou quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.
Após a referida lei, foram adotados os termos erro de tipo e erro de proibi-
ção. O primeiro passou a abranger situações que anteriormente eram alcan-
çadas ora pelo erro de fato, ora pelo erro de direito, pois passou a ser apli-
cado em relação aos elementos fáticos e descritivos e aos elementos jurídicos
e normativos do tipo (e não aos apenas fáticos do antigo art. 17). O segundo
sintagma passou a incluir situações que até então não eram previstas no
Código Penal e outras classificadas como erro de direito.
Atualmente, os artigos 20 e 21, capita, do Código Penal fazem refe-
rência aos erros de tipo e de proibição:

Erro sobre elementos do tipo


Art. 20 – O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal
de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.

Erro sobre a ilicitude do fato


Art. 21 – O desconhecimento da lei é inescusável. O erro
sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

174
No sistema americano, para os contextos em questão, encontramos dois
possíveis correspondentes: mistake of law e mistake of fact – que, todavia,
mais se aproximariam da terminologia anterior da lei penal brasileira.
De acordo com Black’s Law Dictionary (2004),em:
mistake of law – o réu não possuía entendimento
das consequências da conduta ilícita.
mistake of fact – o réu agiu com base na compreensão
errônea de um fato e não com propósito ilícito.
Outras denominações, segundo Black’s Law Dictionary (2004):
mistake of law: error in law, error of law
mistake of fact: error in fact, error of fact

2.7.4 On conviction on indictment


Observemos o seguinte contexto em que a expressão on conviction on in-
dictment ocorre:
Offences under this Act shall be punishable either on
conviction on indictment or on summary conviction.
No período, o termo menos marcado é conviction, que corresponde a con-
denação, isto é, conviction resulta de uma sentença (verdict) que conclui
pela culpabilidade do réu (finds the defendant guilty). O antônimo de con-
viction é acquittal (absolvição), ou seja, nesse caso, o juízo (court of law)
absolve o réu (finds the defendant not guilty), ou conclui pela insuficiência
de provas (not proven).
O segundo termo da expressão contida no exemplo é considerado
marcado culturalmente, pois não encontramos equivalência próxima no
nosso sistema. O indictment é uma acusação formal de crime exigida no
caso de crimes de maior potencial ofensivo (felony, serious offense, indict-
able offense) punidos com pena restritiva de liberdade (punishable by im-
prisonment). O indictment é um pedido por parte de um public prosecutor
(promotor público) ao grand jury que, por sua vez, decide se há elementos
suficientes para a instauração de uma ação penal. O grand jury é um juízo
de admissibilidade e só ouve a promotoria. O réu não participa do processo.

175
Ao decidir se há ou não elementos para uma ação penal, o grand jury
emite um documento chamado true bill, no caso afirmativo, e no bill, se
considerar que não há elementos suficientes.
Como muitos estados americanos já aboliram o grand jury – ou li-
mitaram sua atuação para crimes de maior potencial ofensivo – por conta
do gasto e tempo despendido, hoje, o autor da ação penal (plaintiff), em
regra, envia o pedido de ação penal diretamente ao juiz. Nesse caso, a peça
processual de acusação (charging instrument) é denominada accusation ou
complaint.
Lembramos que o indictment é um pedido de abertura (e não início)
da persecução penal e que, apesar de ser um documento nos moldes da
denúncia e/ou da queixa-crime no Brasil, com elas não se confunde, pois
essas últimas são exigidas para dar início a qualquer ação penal, respeitado o
tipo de ação penal – i.e. se pública ou privada, respectivamente. Se o indict-
ment não resultar em nada, não haverá ação penal.
Em virtude das características dos sistemas jurídicos envolvidos na
tradução, não encontramos termo correspondente a indictment. Podemos,
contudo, à luz do exposto, sugerir as seguintes traduções a serem apreciadas
de acordo com o contexto:
on conviction on indictment – em condenação por crime de
maior potencial ofensivo, em condenação por crime levado
a júri
◊◊ Offences under this Act shall be punishable either on
conviction on indictment or on summary conviction.
Os crimes previstos nesta Lei serão levados
a júri ou processados sumariamente.

2.7.5 Plea before venue e Either-way offenses


Há três principais tipos de plea no direito penal anglo-americano, são eles:
plea of guilty – o réu se declara culpado, o réu admite/
confessa o crime (admission of culpability).
plea of not guilty – o réu se declara inocente, o réu
alega inocência (denial of culpability).

176
plea of nolo contendere (ou no contest) – o réu
opta por não se manifestar. Em regra, os
efeitos jurídico-processuais desse plea são os
mesmos que os de o réu admitir o crime.
A obrigatoriedade do plea system no sistema americano visa à economia
processual, pois, nos casos em que o réu admite o crime, não há necessidade
de um longo julgamento por júri, por exemplo. Além disso, os réus que
confessam são beneficiados com penas mais brandas – reduzidas em até um
terço (one-third discount). O resultado é que o plea system é responsável
pela esmagadora maioria das condenações criminais (criminal convictions)
nos Estados Unidos.
No plea before venue, ao suspeito (já denominado defendant, réu) é
dada a oportunidade de confessar ou não antes de instaurada a ação penal,
antes mesmo de a referida ação ser encaminhada à autoridade competente.
No caso dos either-way offenses (crimes sobre os quais há compe-
tência concorrente), a fase do plea é especialmente importante, pois poderá
auxiliar a determinar o órgão julgador competente. No caso da Inglaterra e
do País de Gales, por exemplo, plea before venue é aplicado aos crimes que
podem ser submetidos tanto ao Magistrates’s Court quanto ao Crown Court.
OObs.: Atenção para não confundir as preposições. Vale
lembrar que apesar de usarmos a preposição of no
sintagma nominal plea of guilty, quando se trata do
sintagma verbal, usa-se to: plea guilty to [murder].

2.7.6 Assassinato x Assassination


Assassinato e assassination são falsos cognatos, ou seja, palavras que apa-
rentam ser o que não são.
No Brasil, o termo assassinato em linguagem jurídica é utilizado no
caso de homicídio cometido “mediante paga ou promessa de recompensa”.
Portanto, um dos elementos da definição do termo é o fator relacionado à
motivação do assassino.
Em inglês, um homicídio, para ser considerado assassination, depen-
de do status político da vítima.

177
Assim, pessoas comuns são objeto de murder ou manslaughter (ho-
micídio doloso ou culposo), já pessoas que desempenham papel político, são
assassinated por um assassin. Observe os exemplos 71 abaixo.

EXEMPLOS

◊◊ Less than a month after the assassination


of Martin Luther King.
Menos de um mês depois da morte de Martin Luther King.
◊◊ 800 secret files on the John F Kennedy
assassination may be released.
800 arquivos secretos sobre a morte de John
F Kennedy poderão ser divulgados.
◊◊ Elections had been delayed by last month’s
assassination of Rajiv Gandhi.
As eleições foram adiadas devido à morte
de Rajiv Gandhi no mês passado.
OObs.: Na língua geral, assassinato é usado como sinônimo de
homicídio e, nos exemplos acima, seria provavelmente
a tradução empregada em um texto jornalístico.

2.7.7 Conspiração: conspiration ou conspiracy ?


When the Night doth meet the Noon
In a dark conspiracy.
John Keats

Conspiração é, dentre as acepções do Novo Dicionário Eletrônico


Aurélio (2004):
1. Ato ou efeito de conspirar; maquinação, trama. 2.
Conluio secreto”. No vocabulário De Plácido e Silva,
é “[...] o concerto em preparo por vários indivíduos,
na intenção de executar um plano subversivo contra os
poderes constitutivos, mais propriamente para atentar
contra os governantes” e “quando a conspiração se

71 Fonte dos exemplos: Cobuild.

178
promove para atentar contra o regime, mais propriamente
é uma conjuração”.
Conspiration é, para o American Heritage, 2004:
1. o ato de conspirar; e,
2. o esforço conjunto para atingir determinado objetivo.
Em inglês, há, ainda, conspiracy que, segundo o mesmo léxico, é:
1. um acordo para executar, conjuntamente, uma ação ilegal, ilícita
ou subversiva;
2. um grupo de conspiradores;
3. (Jur.) um acordo entre duas ou mais pessoas para cometer um
crime ou atingir um objetivo por meio de uma ação ilegal; e,
4. a união de forças por desígnio sinistro: a conspiracy of wind and
tide that devastated coastal areas.

Conspiration v. Conspiracy
Apesar de ambos os lexemas estarem dicionarizados, é interessante notar que
a partir das definições acima, nota-se que conspiracy é, tal como conspira-
ção, carregada de sentido negativo 72, enquanto conspiration parece possuir
sentido mais neutro.
Na linguagem jurídica em inglês, encontramos conspiracy nas acep-
ções de conspiração e formação de quadrilha em diversas obras lexico-
gráficas jurídicas – tais como Black’s Law Dictionary (2004), Garner
(2001b) e Burton (1998). Todavia, não foram encontrados registros de
conspiration.
Tampouco foram encontradas ocorrências de conspiration no corpus
Collins Cobuild – representativo da língua inglesa contemporânea – de
56 milhões de palavras. Assim, podemos afirmar que se trata de uma palavra
em desuso.

Campo semântico de conspiracy


abetment, agreement to accomplish an unlawful end,
agreement to commit a crime, coalescence, coalitions,
collusion, combination, combined operation, compact,
compliance, complicity, composition, concert, confederacy,

72 Fato comprovado pelas palavras que mais ocorrem com conspiracy: murder,
theories, charges, defraud, charged, theory, trial, cause, theorists, fraud, guilty.

179
connivance, contrivance, agreement, intrigue, intriguery,
joint effort, joint planning, maneuvering, plan, plot,
proposal, scheme, treasonable alliance, underplot, unlawful
combination, unlawful contrivance, unlawful plan,
unlawful scheme (Burton, 1998).

Termos relacionados
conjuration – conjuração
conspiracist, conspiratorialist – aquele que
possui uma teoria de conspiração
conspiracy theory – teoria da conspiração
conspiracy to monopolize – formação de monopólio
conspirator – conspirador
conspiratorial – conspirador
conspire – conspirar, formar quadrilha
coup, coup d’etat – golpe, golpe de estado

2.7.8 R ape x Estupro


No Brasil, até 2009, o crime de estupro era considerado Crime Contra os
Costumes e Contra a Liberdade Sexual. O crime está previsto no art. 213
do Código Penal que o define: “Constranger mulher à conjunção carnal,
mediante violência ou grave ameaça”.
Portanto, de acordo com o nosso sistema penal até o advento da Lei
nº 12.015 de 2009, o crime de estupro só poderia ser praticado por homem,
contra mulher. Tratava-se de, na terminologia jurídica em inglês, um gender-
specific crime.
A nova lei, modificando o art. 213, passou a definir crime por: “Cons-
tranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso”. Além
disso, o novo diploma reclassificou o crime como Crime contra a Dignidade
Sexual (Título VI) e Crime contra a Liberdade Sexual (Capítulo I).
Com a nova redação da lei, a definição do crime de estupro apro-
ximou-se da definição adotada pelo de rape. No sistema anglo-americano,
o crime de rape é considerado um sex crime e um sexual assault (crime

180
de violência sexual). Os sujeitos ativo e passivo do crime de rape – e, após
2009, também os do crime de estupro – podem pertencer a qualquer um
dos sexos. No inglês, essa característica se evidencia nos sintagmas formado
com o termo rape: oral rape, anal rape, male rape etc.
Até a Lei nº12.015, as figuras acima, no Brasil, costumavam ser clas-
sificadas como atentado violento ao pudor que, de acordo com o art. 214
do Código Penal era: “Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso
da conjunção carnal”. Esse tipo penal foi excluído do Código Penal Brasilei-
ro que, hoje, não possui um art. 214.

Consequências para a tradução


A tradução de estupro por rape é a mais prototípica. Entretanto, o tradutor
poderá se deparar com o termo atentado violento ao pudor. Nesse caso, a
tradução também será rape.

Curiosidade
As mudanças no direito são mais lentas que as transformações sociais. No
Reino Unido, em 1991, a House of Lords 73 passou a considerar crime 74 o
estupro (rape) na relação matrimonial sob a justificativa de que a lei deveria
ser alterada porque o casamento passou a ser encarado como uma relação de
igualdade entre os cônjuges. Antes disso, o estupro no curso do casamen-
to, – que não era considerado crime –, baseava-se em uma manifestação do
jurista Sir Matthew Hale (séc. XVIII) segundo o qual “ao casar-se com um
homem, a mulher consente em manter relações sexuais com ele, e não pode
retirar este consentimento” (Elliot & Quinn, 1998).

As penas
Enquanto no Brasil o crimes de estupro – mesmo com a nova lei – continua
sendo punido com reclusão de 6 a 10 anos, nos Estados Unidos diversos
casos do crime de rape recebem pena de prisão perpétua (life imprisonment).
No Brasil, a pena máxima é de 30 anos se resultar em morte.

73 A mais alta instância em matéria civil e criminal. Possui poder vinculante sobre
todas as demais instâncias do judiciário do Reino Unido.
74 No caso R v R (1991), a House of Lords revogou norma de common law –
válida por séculos – de que o estupro dentro do casamento não é considerado
crime.

181
Campo semântico de rape
abuse, assault, attack, defile, molest, ravish, sexually abuse,
sexually assault, violate (Burton, 1998)

Termos relacionados
statutory rape – estupro com violência presumida – e.g.
contra menor de idade, estupro de vulnerável
acquaintance rape – estupro cometido por
pessoa que a vítima conhece
date rape – estupro cometido por alguém que estava
acompanhando a vítima em ocasião social (e.g. jantar)
marital / spousal rape – estupro cometido por cônjuge
rape by means of fraud – violação sexual mediante fraude
relationship rape – estupro cometido
pelo namorado da vítima
Rape não pode ser confundido com, e menos ainda traduzido por rapto,
que no direito penal brasileiro também era um crime que só pode ser co-
metido contra a mulher (gender-specific crime). O rapto correspondia à sub-
tração de mulher honesta de seu domicílio, para fins libidinosos, mediante
violência, grave ameaça ou fraude. O crime de rapto foi revogado pela Lei
nº 11.106 de 2005. Em inglês, possíveis correspondentes seriam: abduction
e kidnapping

2.7.9 Bullying
Bully é termo utilizado para designar pessoa cruel, intimidadora, muitas
vezes agressiva, principalmente em relação a indivíduos mais fracos ou me-
nores. Bullying é a ação praticada por bullies (pl.).
É termo empregado, em regra, no contexto escolar para designar alu-
nos que intimidam ou praticam, reiteradamente, violência moral ou física
contra colegas mais novos ou mais fracos.

182
Apesar de ser uma conduta com graves consequências 75 para as ví-
timas, o bullying, raramente é punido como crime, pois a violência entre
crianças e jovens em idade escolar é, muitas das vezes, aceita pela sociedade
como parte do processo natural de amadurecimento.
Quando o bullying é praticado por adultos, é considerado crime de
lesão corporal. Porém, é nomeado briga quando ocorre entre alunos em
uma escola, não recebendo a atenção devida por parte dos professores, dire-
tores ou da polícia.

Bullying na Grã-Bretanha
Pesquisas realizadas na Grã Bretanha apontam que “37% dos alunos de pri-
meiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sido vítima de bullying,
pelo menos, uma vez por semana” 76.

Bullying no Brasil
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a
Infância e a Adolescência (ABRAPIA), em 2002 (Lopes Neto & Saavedra,
2003), com mais de 5.000 alunos da 5.ª à 8.ª série, em 11 escolas na cidade
do Rio de Janeiro, “revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado
diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9%
alvos, 10,9% alvos/autores, e 12,7% autores de bullying” 77.

Bullying nos Estados Unidos


Mais recentemente, muitos estados passaram a aprovar legislação anti-
-bullying devido à pressão exercida por parentes de vítimas. O estado da
Flórida, por exemplo, aprovou em abril de 2008, a Jeffrey Johnston Stand Up
for All Students Act. O nome da lei homenageia Jeffrey Johnston que faleceu
em 2005 por suicídio.

75 O bullying é também considerado assunto de saúde pública.


76 Projeto de lei 350/2007 da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
77 Projeto de lei 350/2007 da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

183
A referida lei apresenta a seguinte definição de bullying 78 :
Bullying é infligir, de forma sistemática e crônica, dano
físico ou sofrimento psicológico em um ou mais alunos
e pode envolver:
teasing – gozação
social exclusion – isolamento social
threat – ameaça
intimidation – intimidação
stalking – perseguição
physical violence – violência física
theft – furto
sexual or racial harassment – assédio sexual ou racial
public humiliation – humilhação em público ou
destruction of property – destruição de propriedade.

Projeto de lei 350/2007


No Brasil, também sentimos uma mobilização da sociedade para lidar com
o fenômeno. Em São Paulo, a Assembleia Legislativa chegou a aprovar em
setembro de 2007 o projeto de lei 350/2007 que instituía o Programa de
Combate ao Bullying. O projeto, que foi alvo de veto em outubro do mes-
mo ano, definia e classificava a conduta, bem como obrigaria as escolas pú-
blicas e privadas a adotarem medidas preventivas para combatê-la. Apesar de
o programa estadual contra o bullying não ter sido aprovado, pois foi vetado
em 2010 pelo governador, há diversas organizações e campanhas 79 que se
ocupam da prevenção e combate do problema.

78 “Bullying” means systematically and chronically inflicting physical hurt or


psychological distress on one or more students and may involve: 1. Teasing; 2.
Social exclusion; 3. Threat; 4. Intimidation; 5. Stalking; 6. Physical violence; 7.
Theft; 8. Sexual or racial harassment; 9. Public humiliation; or 10. Destruction
of property.
79 Diga não ao Bullying; Observatório da infância, entre outras.

184
Ausência de lei
Na ausência de lei específica que tipifique bullying, é possível punir algumas
das condutas de bullying valendo-se dos tipos penais existentes (e.g. amea-
ça, lesão corporal, assédio sexual, injúria, furto etc.). Vale lembrar que
as condutas praticadas por menores de idade estão sujeitas ao Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei 8.690/90).

Tradução
Em relação à tradução do termo, podemos afirmar que, até o presente, ela
tem sido dada pelo empréstimo lexical do inglês, pois não só os estudos e
publicações na área de psicologia e medicina em português tendem a utilizar
o lexema em inglês, como também os da área jurídica. O próprio Projeto de
lei 350/2007 emprega o termo em língua inglesa.

Termos relacionados
bullied – pessoa vítima de bullying
bullycide – suicídio cometido por vítima de bullying
cyberbullying – bullying cometido pela internet
school bullying – bullying escolar
workplace bullying – bullying praticado no local de trabalho

185
2.8 Direito processual

2.8.1 Os verbos dos órgãos julgadores


Rule, hold e judge são verbos que descrevem ações decisórias praticadas por
órgãos julgadores: juízes, árbitros, tribunais, conselhos.
Outros verbos e sintagmas verbais utilizados na linguagem jurídica
em inglês para expressar diferentes graus de tomada de decisão são: abju-
dicate, ascertain, come to a conclusion, conclude, decide legally, decree, deter-
mine, find, fix, make a decision, pass judgement, propound, resolve, rule, settle,
bem como appraise, arbitrate, assess, censure, condemn, consider, deem, dis-
cern, draw a conclusion, examine, pass sentence upon, pronounce, try, sentence,
value, weigh, declare, preside over, command, compel, entre outros.
Como podemos ver, a lista é extensa, portanto abordaremos neste
item apenas os verbos: judge, rule e hold por serem muito frequentes. O
hiperônimo dos três é o verbo decide.
De acordo com o American Heritage (2004) e seus exemplos:
rule implica decisão tomada por alguém/órgão investido de poder
(decision handed down by someone in authority)
◊◊ The committee ruled that changes in the
curriculum should be implemented.
O comitê determinou que as alterações ao
curriculum deveriam ser implementadas.
hold é definido por julgar ou determinar (adjudge / decree):
◊◊ The court held that the defendant was at fault.
O juiz considerou o réu culpado.
judge é definido por apreciar e decidir em uma instância judicial,
julgar (hear and decide on in a court of law; try):
◊◊ judge a case.
julgar uma ação.

187
Acepção de ‘decisão’
O Black’s Law Dictionary (2004) apresenta as seguintes definições na
acepção de decisão, com os respectivos exemplos:
hold é próprio de instância judicial para julgar ou decidir em
matéria de direito [“(of a court) to adjudge or decide as a
matter of law)”].
◊◊ This court thus holds the statute to be unconstitutional.
Este juízo considera a lei inconstitucional.
rule decidir questão jurídica (to decide a legal point).
◊◊ The court ruled on the issue of admissibility.
O juiz emitiu uma decisão sobre a questão da admissibilidade.
judge não é apresentado como verbo, apenas como substantivo
para designar ‹juiz›.
OObs.: Por que judge não aparece no Black’s? Provavelmente
porque o Black’s é um dicionário de especialidade
e os especialistas preferem outro verbo em vez
de judge. E que verbo seria esse? Try.
Portanto, em vez da expressão to judge a case, um advogado anglófono usa
as formas mais idiomáticas:
·· to try a case (julgar uma ação)
·· the case was tried (a ação foi julgada)

Diferenças entre hold e rule


Uma das diferenças entre hold e rule é, de acordo com as definições dos
dicionários, ser o verbo hold empregado mais em contexto judiciário. O
termo court, por exemplo, ocorre mais com hold que com rule. Mas nada
impede que, em muitos casos, como nos exemplos abaixo, rule ou hold
sejam utilizados sem prejuízo do sentido:
◊◊ The committee ruled/held that the complaint is sufficient in form.
O comitê considerou que a petição cumpre
as formalidades necessárias.
◊◊ While the court ruled/held that Newsom lacked authority
to act, it did not rule on the validity of the law itself.…
Embora o juízo tenha considerado que Newsom não tinha
poderes para agir, não decidiu sobre a validade da própria lei...

188
Então não há diferença?
Há sim. Há diferenças no uso. Ou seja, podemos observar diferenças entre
rule e hold examinando as palavras que coocorrem (as colocações) com hold
e rule e/ou as estruturas em que são empregados.
Assim, na estrutura baixo (sujeito + verbo + that) não há diferença
entre hold e rule:
◊◊ The court held that no enforceable agreement was created
◊◊ The court ruled that no enforceable agreement was created.
O juiz considerou que não existira contrato entre as partes.
Porém, o mesmo não ocorre nos exemplos abaixo em que o primeiro perío-
do é idiomático e o segundo é uma construção considerada artificial.
◊◊ The court held the defendant liable.
O juiz considerou a ré culpada.
The court ruled the defendant liable. (x)
◊◊ The court ruled on the case.
O juiz decidiu a ação.
The court held on the case. (x).
OObs.:
·· Em vez de judge como tradução de julgar, preferir try.
·· Verificar as colocações e estruturas
antes de utilizar rule e/ou hold.
·· Na fórmula sujeito + verbo + that, tanto
rule como hold são utilizados.
·· Com liable, assim como com responsible e
accountable, o verbo correto é hold – hold
liable/responsible/accountable.
·· Com case, o verbo que mais ocorre
é rule – rule on the case....

Substantivos
Os substantivos que correspondem aos verbos ilustrados são:
·· hold – holding
·· rule – ruling
·· judge – judgment
·· try – trial

189
2.8.2 As colocações de ação:
procedente e improcedente
O termo colocação, do inglês collocation, foi empregado pela primeira vez
pelo linguista britânico J. R. Firth para descrever palavras que normalmente
“andam juntas” (Tagnin, 2005). É esse o caso do lexema ação, que fre-
quentemente anda junto com os procedente e improcedente.
Um outro exemplo de colocação comum à área jurídica é a forma-
da por egrégio e tribunal. O lexema egrégio costuma ocorrer mais com
tribunal que com qualquer outra palavra em português – ainda que, com
frequência bem menor, forme colocações com juízo, presidente, ministro.
Sabemos que a força que une palavras em uma colocação varia. No
caso de procedente e improcedente, por exemplo, além de os termos coo-
correrem com ação, formando ação (im)procedente, coocorrem também
nas formações: pedido (im)procedente, pergunta (im)procedente, argu-
mento (im)procedente, resposta (im)procedente e recurso (im)proce-
dente – essas últimas colocações abordadas no item 2.8.13.
Ter conhecimento sobre palavras que costumam andar juntas é essen-
cial para o domínio de uma língua, pois apenas um falante verdadeiramente
proficiente possui conhecimento de combinações lexicais que não se ba-
seiam em relações de significado e se encontram na esfera da idiomaticidade,
i.e., da naturalidade.
Esse conhecimento é ainda mais valioso para o tradutor, pois uma
tradução dependerá, em muitos casos, da colocação que as palavras formam.
Palavras que andam juntas em uma língua, não andam necessariamente jun-
tas em outra.
Assim, em ação improcedente, em obediência às combinações pró-
prias da língua inglesa, a tradução de improcedente poderia ser dismissed/
rejected lawsuit.
Por outro lado, no caso de argumento improcedente, além de dis-
missed e rejected, entre outras possíveis traduções estariam barren/indefen-
sible/lame/weak argument, que, por sua vez, não caberiam para traduzir o
termo improcedente quando acompanhado de ação.
OObs.: Não confundir egrégio com egregious. O último
não é usado com tribunal, mas em colocações como:
egregious case (caso horrendo), egregious mistake
(erro crasso), egregious offender (criminoso cruel),
egregious behavior (comportamento ofensivo).

190
Tradução
ação improcedente: lawsuit dismissed, lawsuit rejected
◊◊ On August 15, 1996, the Schreier lawsuit
was dismissed with leave to amend. 80
Em 15 de agosto de 1996, a ação movida por
Schreier foi julgada improcedente.
OObs.: No contexto acima, também cabe: a ação foi
extinta sem julgamento do mérito.
ação procedente: lawsuit accepted
◊◊ 1st milk lawsuit accepted. A Chinese court has
officially accepted the first lawsuit seeking compensation
for last year’s tainted milk scandal. 81
A 1ª ação sobre o leite é julgada procedente. Um juízo chinês
julgou procedente a primeira ação de indenização relativa ao
escândalo do leite contaminado ocorrido no ano passado.
OObs.: Em português, a colocação é formada por um substantivo
e um adjetivo. Por outro lado, em inglês, a colocação que
mais naturalmente ocorre, na mesma acepção jurídica da
língua de partida, é a formada por um substantivo e um
verbo. Consequentemente, para garantir uma tradução
idiomática, é preciso também traduzir classes gramaticais,
já que nem sempre verbos são traduzidos por verbos,
adjetivos por adjetivos, substantivos por substantivos etc.

2.8.3 Mais colocações de lawsuit


Em complementação ao item anterior, trazemos à tona mais algumas colo-
cações de ação (lawsuit):

80 Fonte do exemplo: Label, W. (2006) Accounting for Non-Accountants: The Fast


and Easy Way to Learn the Basics. Sourcebooks: Neperville.
81 Fonte do exemplo: AFP [Disponível em http://www.google.com/hostednews/
afp/article/ALeqM5iSPZhulUhBTGq7jWbhsbLMSBszfw?hl=en].

191
bring a lawsuit: entrar com ação, propor ação, mover ação ou
processo
◊◊ In the rest of the world, if you bring a lawsuit and lose you
have to make the other side whole by paying the lawyers’ fees…
No resto do mundo, se você entrar com uma ação e perder,
terá que reembolsar os honorários advocatícios da outra parte...
defend a lawsuit: representar em ação
◊◊ From the moment the insurance company asks the
lawyer to defend a lawsuit, the lawyer has to consider
ethical obligations and to whom they are owed.
A partir do momento em que a seguradora pede que o
advogado a represente em uma ação, o advogado deverá
considerar as obrigações éticas e a quem elas são devidas.
dismiss a lawsuit: julgar uma ação improcedente
◊◊ The Bush administration asked a federal judge to
dismiss a lawsuit by General Electric and uphold
the Superfund toxic waste cleanup law.
O governo do Presidente Bush pediu a um juiz federal
que julgasse improcedente uma ação movida pela
General Electric e declarasse constitucional a lei do
Fundo para a despoluição de áreas altamente poluídas.
drop a lawsuit: desistir da ação
◊◊ But the Yankees’ ownership fired him, ostensibly because
he refused to drop a lawsuit against Vincent...
Mas os controladores do Yankees o despediram, aparentemente
porque ele se recusou a desistir da ação contra Vincent ...
face a lawsuit: sofrer ação
◊◊ …the police department needed to enact a genderneutral policy
or face a lawsuit from male officers or others who wanted
light-duty assignments for non-pregnancy-related reasons.
… o departamento de polícia precisava editar uma política
neutra em termos de gênero ou sofreria uma ação dos policiais
do sexo masculino ou outros que desejassem atribuições
mais leves por motivos não relacionados a gravidez”.

192
fight a lawsuit: contestar ação
◊◊ The artist involved also did not have the
money to fight a lawsuit.
O artista envolvido também não tinha
dinheiro para contestar a ação.
file a lawsuit: entrar com ação
◊◊ In the Wolfes case, were they right to file a lawsuit against
some of the kids they say were parties to the bullying?
No caso dos Wolfes, eles tinham razão em
mover uma ação contra algumas das crianças
que eles diziam participar de bullying?
lose a lawsuit: perder uma ação
◊◊ Wisconsin lost a lawsuit last year after a judge said
it violated the separation of church and state.
Wiscosin perdeu uma ação no ano passado
depois de um juiz determinar que o estado violara
a separação entre a igreja e o estado.
settle a lawsuit: por fim a ação por meio de acordo
◊◊ PricewaterhouseCoopers said it would pay $50 million to settle
a lawsuit filed by Raytheon shareholders who claimed the
auditing firm signed off on misleading financial statements.
A PricewaterhouseCoopers disse que pagaria US$50 milhões
para por fim a uma ação movida pelos acionistas da Raytheon
por meio de acordo. Os acionistas da Raytheon alegaram que
a firma de auditoria aprovou demonstrações financeiras falsas.
threaten a lawsuit: ameaçar ingressar com ação
◊◊ Finally, after she threatened a lawsuit, she got a
face-to-face meeting with the club’s officers.
Finalmente, depois de ameaçar ingressar com uma ação, ela
conseguiu uma reunião frente a frente com a diretoria do clube.
win a lawsuit: ganhar uma ação
◊◊ After an arduous court battle, I won a lawsuit against the
train company, the result of which ensures my medical care.
Depois de uma dura batalha judicial, ganhei
a ação contra a companhia ferroviária cujo
resultado garante minha assistência médica.

193
2.8.4 O concurso de ações
O concurso de ações ou a concorrência de ações “indica a evidência de
duas ou mais ações de que se pode utilizar a pessoa para o mesmo fim. (...)”
(De Plácido e Silva, 2005).
Ao examinar o sistema de direito civil moderno, Mackeldey (2008)
define a concurrence of actions, de forma semelhante à definição acima,
como “a situação em que diversas ações convergem em uma única pessoa 82 ”.
Entretanto, assim como temos diversas expressões para o sintagma
(e.g. concurso de ações, concurso de pretensões, concorrência de ações etc.),
em inglês americano, também encontramos múltiplas expressões utilizadas
no contexto do concurso de ações, a saber: plurality of actions, plurality of
claims, além de concurrence of claims, concurrent actions.
Consequentemente, são diversas as possibilidades de tradução.
Abaixo resumimos as principais empregadas em inglês e português.
Em inglês:
concurrence of actions / claims
plurality of actions / claims
concurring actions / claims
concurrent actions / claims
Em português:
concurso de ações
concurso de pretensões
concorrência de ações
ações concorrentes

2.8.5 Motion to withdraw


Motion to withdraw é um pedido apresentado ao juiz da causa pelo advo-
gado da parte para que cesse o dever de representá-la.
Trata-se de um pedido que, em regra, fundamenta-se em:
1. conflito de interesses entre a parte e o advogado (conflict of interest)

82 Several actions meet in one and the same person.

194
2. diferenças irreconciliáveis (irreconcilable differences) entre cliente e
mandatário, que, entre outras situações, podem corresponder à:
recusa do cliente em comunicar-se com o advogado
refusal to communicate with counsel
recusa do cliente em cooperar com o advogado
refusal to cooperate with counsel
recusa do cliente em seguir as orientações do
advogado refusal to follow counsel’s legal advice
3. no fato de o advogado ter assumido outra atividade (taken other
employment) ou não mais exercer a advocacia (no longer practicing
law).
No instrumento do motion to withdraw, o advogado deverá apresentar o
motivo do pedido, cópia da notificação ao cliente (notice of motion to with-
draw), bem como todos os dados que permitam identificação completa do
juízo, da ação e da parte.
No Brasil, a figura que, provavelmente, mais se assemelha ao motion
to withdraw, é a renúncia de mandato de advogado prevista no art. 45 do
Código de Processo Civil, segundo o qual, “O advogado poderá, a qualquer
tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim
de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advo-
gado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe
evitar prejuízo”.
Entretanto, podemos observar que, no sistema americano, trata-se de
um pedido feito pelo advogado e no sistema brasileiro, uma comunicação. A
semelhança entre os dois sistemas é a obrigação de cientificar a parte.
Por haver semelhança e diferença entre os prováveis correspondentes
de tradução, é importante observar o contexto da expressão muito atenta-
mente para evitar incoerências.

2.8.6 Ex officio
A influência do latim foi tão intensa na linguagem jurídica inglesa que, por
dois séculos, foi usada como língua do Direito escrito. Mesmo mais tarde,
durante o ápice da influência do francês na linguagem jurídica, o latim ain-
da era usado nos documentos de maior importância.

195
O papel do latim no inglês foi tão marcante que até hoje são empre-
gadas inúmeras expressões latinas na linguagem jurídica em inglês (e.g. inter
partes, ceteris paribus, in camera, certiorari, a mensa et thoro).
Entretanto, se observarmos as expressões latinas usadas no inglês e as
utilizadas no português do Brasil, veremos que:
·· muitas diferem (i.e. há expressões em latim
no inglês jurídico que não são utilizadas
no português e vice-versa) e,
·· apesar de muitas coincidirem, as acepções dessas
expressões (que à primeira vista nos são familiares)
nada têm em comum: como no caso de ex officio,
e também no de in rem, inter partes, entre outras.
Tendo em vista que as acepções de expressões em latim idênticas poderem
variar de uma língua para a outra (inglês <> português), haverá repercussões
na tradução. Em outras palavras, em muitos casos, a tradução de uma ex-
pressão em latim utilizada no inglês poderá ser uma expressão em português
(não em latim), e vice-versa.
Vejamos o que ocorre com ex officio. A diferença começa a ser sen-
tida a partir da grafia:
·· em português escrevemos ex officio,
sem o sinal diacrítico,
·· em inglês, pode aparecer com: ex-officio.
Em português, a expressão é aplicada às situações em que o juiz pode pra-
ticar determinado ato sem prévio pedido das partes (de ofício, ex officio).
Em inglês, aplica-se o sintagma em contextos em que um indivíduo,
em virtude de ser titular de um determinado cargo, também exerce um ou-
tro (ex-officio member).
O exemplo mais prototípico é o caso de o Vice-Presidente dos Esta-
dos Unidos ocupar, em decorrência do cargo (e não por eleição), a presidên-
cia do Senado.
Um outro exemplo, no contexto empresarial, é o fato de o CEO
(Chief Executive Officer) ser, em regra, membro do Board of Directors (Con-
selho de Administração).
Com o exame das acepções acima, verificamos que, se ao traduzirmos
um documento do inglês para o português, e mantivermos a expressão em
latim, na prática, não haverá tradução, mas confusão.

196
Como traduzir ex officio em inglês?
No sistema americano, há uma regra de processo civil adotada por diversos
estados segundo a qual há uma série de defenses que podem ser levantadas
a qualquer tempo e por qualquer uma das partes, ou pelo juiz. Na esfera
federal, essas defenses são conhecidas como The 12(b) defenses, e tratam da
competência, do foro, da citação, entre outros.
Não é raro, no sistema americano, que uma ação seja extinta por
incompetência do órgão julgador, mas, normalmente, o fato é trazido à tona
pela outra parte – e não praticado de ofício pelo juiz. O mesmo ocorrendo
para os casos de prescrição.
Entretanto, quando é o juiz que pratica o ato de ofício, na Common
Law usa-se outra expressão em latim: sua sponte.

EXEMPLO

◊◊ The court took notice sua sponte that it


lacked jurisdiction over the case.
O juiz declarou ex officio sua falta de
competência para julgar o caso.
Vale notar que, na Common Law, atos de ofício do juízo não são tão co-
muns como no sistema brasileiro, portanto, dependendo do contexto e dos
entraves culturais o tradutor poderá lançar mão de outras estratégias para
traduzir ex officio:
1. criar neologismos, tais como:
unwaivable defense – transmite a ideia da
obrigatoriedade da decisão em relação ao juiz;
jurisdictional defense – ressalta que a decisão
provém do juiz e não das partes.
2. utilizar uma paráfrase:
a decision the court must issue by force of law – se
entendermos que é obrigação do juiz;
a decision the court may issue without being
required to by the parties – se entendermos
que se trata de faculdade do juiz.

197
Sua sponte e ex officio
A diferença entre as ocorrências de sua sponte e ex officio pode ser consi-
derada mais um reflexo das diferenças entre as culturas jurídicas brasileira e
anglo-americana, em que os papéis desempenhados por advogados e juízes
em muito diferem.

2.8.7 Evidência x Evidence


Related somehow they may be,—
The sedge stands next the sea,
Where he is floorless, yet of fear
No evidence gives he.
Emily Dickinson

Em inglês, de acordo com o Black’s Law Dictionary (2004), evidence é:


1. algo [incluindo depoimentos, documentos e objetos] que faz prova
da existência ou da inexistência de um determinado fato;
2. o conjunto de elementos, principalmente depoimentos e provas,
apresentado perante um juízo em uma ação judicial; e,
3. o direito que rege a admissibilidade daquilo que é apresentado como
prova no curso de uma ação judicial.
OObs.: Evidence não tem forma plural em inglês. É um
substantivo incontável. Para expressar o plural,
utilizar, por exemplo: pieces of evidence.
E o que diz a linguagem jurídica brasileira sobre evidência? Podemos afir-
mar que a linguagem jurídica brasileira não conhece evidência na acepção
de prova. E isso fica claro ao consultarmos as obras terminográficas da área,
como o Vocabulário Jurídico (De Plácido e Silva, 2005) em que não há
entrada para o termo evidência. Essa constatação corrobora a ausência do
termo evidência em nossos Códigos de Processo.
Evidence corresponde a prova. O termo prova ocorre 113 vezes no
Código de Processo Penal e 57 no Código de Processo Civil, além de contar
com, nada menos que, 28 entradas (de prova a prova testemunhal) em
quase cinco páginas no Vocabulário De Plácido e Silva em contextos simi-
lares ao de evidence. E não há uma única ocorrência de evidência.

198
Então por que há tantas traduções de evidence por evidência? Acre-
dito que por duas razões:
·· Porque muitas pessoas que traduzem linguagem jurídica
caem na armadilha dos falsos cognatos, i.e., palavras
que parecem ser o que não são. E o Direito está cheio
delas (e.g. evidence, consideration, agreement, execute).
·· Porque evidência, na acepção de prova, é considerado
um anglicismo cujo uso corrente na linguagem
coloquial remonta a 50 anos (Santos, 2006) .

Evidence e Proof
Não poderia deixar de mencionar o termo proof, pois está intimamente re-
lacionado a evidence, porém “proof é o efeito ou o resultado da evidence”
(Santos, 2006).
Isto é, após a prova (evidence) ser estabelecida, ela passa a ser desig-
nada proof. Assim, em inglês, ônus da prova corresponde a burden of proof e
não a burden of evidence.
Já que o nosso direito não faz a distinção entre prova, ao tradutor
cabe examinar minuciosamente o contexto em que o termo prova está sen-
do usado para eleger evidence ou proof.

Termos relacionados
prova admissível – admissible evidence
ônus da prova – burden of proof
prova indireta – circumstancial evidence
prova irrelevante – immaterial evidence
prova negativa – negative proof
prova literal, prova documental – written
evidence, literal proof
indícios – circumstancial evidence
Em suma, há diferença entre evidence e evidência na linguagem jurídica.
Nesse caso, o termo evidence deve ser traduzido por prova, respeitando os
usos e convenções da língua de chegada. Por outro lado, não há essa mesma
diferença na língua geral em que se pode usar evidência.

199
OObs.: Apesar de os dicionários Aurélio, Houaiss e Michaelis
ainda não terem incorporado essa acepção, o único
dicionário de língua portuguesa verdadeiramente baseado
nos usos do português já a inclui. Trata-se do Dicionário
de Usos do Português do Brasil (Borba, 2002).

2.8.8 Ônus da prova


No item anterior, apresentamos, indiretamente, a tradução para ônus da
prova (burden of proof) sem, contudo, conceituar o sintagma nem chamar
atenção para as particularidades culturais dos sistemas jurídicos pátrio e
anglo-americano.
No nosso sistema jurídico, o ônus da prova, onus probandi, obriga-
ção de provar, encargo probatório ou encargo de prova é o dever decorrente
de lei ou convenção de as partes fazerem prova no curso das ações judiciais
com o intuito de demonstrar a ocorrência dos fatos.
Em regra, a obrigação de provar cabe a quem faz alegação, é o que
estabelece o art. 333 do Código de Processo Civil:
Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira
diversa o ônus da prova quando:
I – recair sobre direito indisponível da parte;
II – tornar excessivamente difícil a uma
parte o exercício do direito.
O parágrafo único do art. 333 permite às partes dispor diversamente sobre
o ônus da prova. Em algumas outras situações, a lei estipula a inversão do
ônus da prova, como é o caso do inciso VIII do art. 6.º do Código de Defesa
do Consumidor.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação

200
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;”
No direito inglês, o ônus da prova (burden of proof ou, para as expressões
menos frequente, evidentiary burden, evidential burden) também cabe à par-
te que faz uma alegação ou acusação. E, assim como em nosso direito, há
situações em que o referido encargo é invertido (shift of burden of proof).
Um exemplo clássico de inversão do ônus da prova decorrente de lei (re-
verse burden of proof) tem lugar no direito sobre os crimes contra a honra
(libel laws).
Há quem diga que Londres tenha se tornado a capital mundial das
ações por crime contra a honra, pois o direito inglês permite, nessas ações,
que o autor goze da referida inversão de ônus. Além disso, o sistema inglês
permite, por esse mecanismo de inversão, a defesa da honra não apenas de
pessoas físicas e jurídicas, mas também a de produtos. Em termos práticos,
uma multinacional poderia entrar com uma ação por libel (crime contra
honra praticado por meio escrito) contra um consumidor, e esse último
ter o ônus de provar sua inocência.
Um outro aspecto interessante das libel laws é o fato de desconsiderar
o local em que a honra foi ferida, bastando que o meio utilizado tenha sido
a língua inglesa. A comunidade científica tem sido a mais prejudicada por
essas leis e, hoje, há um movimento expressivo por reforma (Libel Reform
Coalition) 83.

EXEMPLOS

A seguir, selecionamos alguns exemplos contendo expressões com burden of


proof e algumas sugestões de tradução:
atribuir/impor o ônus da prova a alguém
◊◊ In fact, there is really nothing society can do to
compensate people who are wrongly convicted. That’s one
big reason why our criminal justice system puts such
a strong burden of proof on the prosecution.
De fato, não há nada que a sociedade possa fazer para
compensar as pessoas que são condenadas por engano.
Esse é um dos principais motivos por que nosso
sistema penal atribui o ônus da prova à acusação.

83 Ver: The Times Online. “Libel laws silenced me, says Francisco Lacerda, critic of
lie detector system” de 11 de março de 2010. [Disponível em: http://business.
timesonline.co.uk/tol/business/law/article7057745.ece].

201
◊◊ More important, in stark contrast to American
standards, British libel law imposes the burden of
proof on the author or journalist to prove the truth of
an allegation if an action is brought against him.
Mais importante, em absoluto contraste com os
padrões americanos, as leis sobre crimes contra a
honra, na Inglaterra, impõem o ônus da prova ao
autor ou jornalista para que prove a veracidade de
uma alegação se uma ação for proposta contra ele.
◊◊ The relevant statutory provision should be ‘read down’ so as
to impose an evidential burden only on the defendant
thus ensuring compatibility with the Convention 84 .
O dispositivo legal em questão deveria ser interpretado
restritivamente de forma a impor o ônus da prova apenas ao
réu, garantindo assim compatibilidade com a Convenção.
◊◊ Leaders of the braceros’ campaign say it’s unfair
that the burden of proof is being placed on these
aging men, many of whom still can not read.
Os líderes dos bóias-frias dizem ser injusto que
o ônus da prova seja imposto a esses homens
idosos, muitos dos quais nem sabem ler.
[deixar de] atender/cumprir/satisfazer o ônus da prova
◊◊ But the FTC suffered a setback in June when an administrative
law judge ruled that the agency had failed to meet its
burden of proof for allegations that ScheringPlough Corp.
had illegally paid off a generic drug manufacturer to keep
the cheaper brand of a popular drug off the market.
Mas a FTC sofreu um contratempo em junho quando
um juiz de direito administrativo decidiu que a agência
deixou de cumprir seu ônus da prova com relação às
alegações de que a Schering­Plough Corp. tinha feito
pagamentos ilícitos a um fabricante de medicamentos
genéricos para manter fora do mercado uma marca
mais barata de um conhecido medicamento.
◊◊ In order to meet that burden of proof, Larry
Birkhead would like to get a DNA test.

84 Crime Newsletter, Winter 2007 [Disponível em http://www.36bedfordrow.


co.uk/cmsfiles/oldsite/images/144pub_pdf.pdf ].

202
Para satisfazer o ônus da prova, Larry Birkhead
gostaria de obter um teste de DNA.
◊◊ None of this was sufficient to satisfy the state’s
burden of proof that a murder occurred.
Nada disso era suficiente para satisfazer o ônus da
prova do estado de que houvera um homicídio.
caber o ônus da prova a alguém
◊◊ Doesn’t the burden of proof lie in the other direction?
O ônus da prova não cabe ao outro lado?
◊◊ When people are accused of crimes and brought before a court
of law, the burden of proof is upon the accusers to prove those
accusations to a judge or jury beyond a reasonable doubt.
Quando uma pessoa é acusada de um crime e levada a juízo,
o ônus da prova cabe aos acusadores, que devem provar
efetivamente as acusações feitas perante o juiz ou júri.
◊◊ There is no question in my mind that the burden of
proof was put on Mechele to prove her innocence.
Não tenho dúvidas de que o ônus da prova foi
atribuído a Mechele para provar sua inocência.
carregar o ônus da prova
◊◊ Often in legal questions, the party that bears the burden
of proof has a much harder go of it than the other party.
Frequentemente em questões judiciais, a parte que carrega o
ônus da prova tem funções mais árduas do que a outra parte.
◊◊ Given human fallibility, however, the burden of
proof rests on those who would use violence.
Devido à falibilidade humana, no entanto, carregam o
ônus da prova aqueles que fariam uso de violência.
exigir [de alguém] o ônus da prova
◊◊ The burden of proof required in most civil cases also belies
the idea that the primary goal of litigation is truth-seeking.
O ônus da prova exigido na maioria dos casos
cíveis também esconde a ideia de que o objetivo
principal do processo judicial é buscar a verdade.

203
inverter o ônus da prova
◊◊ This bill shifts the burden of proof in workers’ compensation
cases for firefighters that contract job-related cancer.
Este projeto de lei inverte o ônus da prova nos
casos de indenização trabalhista de bombeiros que
contraem câncer em decorrência de seu trabalho.
◊◊ The EU has reversed the burden of proof.
A União Europeia inverteu o ônus da prova.

2.8.9 Condenado às custas


O Código de Processo Civil brasileiro (art. 19 e ss) faz referência a diversos
tipos de despesas processuais (litigation costs). Determina o CPC que as
partes provenham as despesas dos atos que realizam ou requerem até o final
da ação (art. 19), mas que o vencido ou a parte sucumbente (losing party)
pagará ao vencedor ou parte vencedora (winning party, successful party,
prevailing party) as despesas (costs) que antecipou e os honorários advoca-
tícios (attorney fees, counsel fees) de acordo com o art. 20.

EXEMPLOS

Assim, segundo o art. 20, §1.º, a expressão o juiz condenará nas despesas
o vencido, que, em inglês, pode corresponder a the court will assess/tax costs
against the losing party, como no exemplo abaixo:
◊◊ The juvenile court taxed reasonable attorney fees and
costs against the petitioners, the prevailing parties, in a
private involuntary termination of parental rights action 85 .
O juiz da vara da infância e da juventude condenou
em honorários advocatícios e custas os requerentes,
os vencedores, pela extinção privada involuntária
de uma ação sobre a guarda de filhos.
Uma outra possibilidade de tradução é afirmar que a parte vencedora terá
direito ao ressarcimento das custas, como em:

85 In re R.S.N., 706 N.W.2d 705 (IA, 2005) [Disponível em: http://www.


judicial.state.ia.us/supreme_court/recent_opinions/20051209/05-0016.
asp?Printable=true].

204
◊◊ Our statutes provide costs shall be recovered by the successful
party against the losing party. Iowa Code § 625.1. 86
Nossos códigos estabelecem que a parte vencedora
terá direito ao ressarcimento das custas pela
parte perdedora. Código de Iowa § 625.1.
As despesas, todavia, não abrangem apenas as custas processuais (litigation
costs) e honorários profissionais (attorney fees, counsel fees), mas também,
de acordo com o art. 20, §2.º:
despesas por viagem – travel expenses,
diária de testemunha – witness per diem, e
remuneração de assistente técnico – expert witness fees.
OObs.: O símbolo §, em inglês, lê-se: section.
Em português, lê-se parágrafo.
Nos casos em que os litigantes (parties to the lawsuit) forem, em parte, ven-
cedores e vencidos (art. 21), ou nos casos em que houver transação entre as
partes (settlement) (art. 26) o CPC prevê que os honorários e despesas sejam
proporcionalmente distribuídos entre as partes que, em inglês poderia
ser traduzido por:
the court may apportion costs equally between the
parties – no caso de distribuição igualitária.
the court may apportion costs against various parties
in accordance with the extent of the parties’
liability – no caso de distribuição proporcional
à responsabilidade de cada uma das partes.
OObs.: Um erro muito frequente é a tradução de transação para
o inglês. O termo correto é settlement e não transaction.
Transaction, por sua vez, corresponde a operação.

86 In re R.S.N., 706 N.W.2d 705 (IA, 2005) [Disponível em: http://www.


judicial.state.ia.us/supreme_court/recent_opinions/20051209/05-0016.
asp?Printable=true].

205
2.8.10 Os efeitos suspensivo e devolutivo
O efeito padrão de um recurso (appeal), decisão (decision) ou mandado
(order) no direito anglo-americano é o devolutivo (no stay of decision). É
esse o efeito do writ of certiorari abordado no item 2.5.1, por exemplo, em
que o efeito suspensivo (stay of decision) pode ser – mas raramente é – con-
cedido pelo tribunal recorrido a pedido da parte que interpõe o recurso
(petitioner).
Caso o tribunal a quo (trial court) responda com uma negativa (denial
of stay application), o recorrente pode pedir o efeito (request stay) à própria
Suprema Corte – que o concederá (grant of stay) apenas nos seguintes casos:
grande probabilidade de o writ of cert 87 ser
concedido (substantial probability of success)
dano irreparável (irreparable harm) resultante da
não concessão do efeito suspensivo

Termos em contexto
Abaixo um trecho do pedido de efeito suspensivo em George W. Bush et al.
v. Albert Gore, Jr. et al. [09/12/2000] 88
“Justice Scalia, concurring.
Though it is not customary for the Court to issue an opinion in
connection with its grant of a stay, I believe a brief response is
necessary to JUSTICE STEVENS’ dissent. I will not address
the merits of the case, since they will shortly be before us in the
petition for certiorari that we have granted. It suffices to say
that the issuance of the stay suggests that a majority of the
Court, while not deciding the issues presented, believe that the
petitioner has a substantial probability of success.
On the question of irreparable harm, however, a few words
are appropriate. The issue is not, as the dissent puts it, whether
“[c]ounting every legally cast vote ca[n] constitute irreparable
harm.” One of the principal issues in the appeal we have
accepted is precisely whether the votes that have been ordered
to be counted are, under a reasonable interpretation of Florida

87 Sobre o writ of cert ver itens 2.5.1 e 2.5.2.


88 Sobre a disputa da presidência entre G.W. Bush e Al Gore nos Estados Unidos
em 2000.

206
law, “ legally cast vote[s].” The counting of votes that are of
questionable legality does in my view threaten irreparable
harm to petitioner, and to the country, by casting a cloud
upon what he claims to be the legitimacy of his election.”
“Juiz Scalia, voto favorável.
Embora não seja comum este Tribunal emitir decisão sobre
a concessão de efeito suspensivo, acredito ser necessária
uma breve resposta ao voto dissidente do JUIZ STEVENS.
Não entrarei no mérito do caso, pois este será analisado por
nós em breve por meio do pedido feito pela parte recorrente
e concedido pela corte. Basta dizer que a concessão de
efeito suspensivo sugere que a maioria do Tribunal,
enquanto não decide as questões apresentadas, acredita que
a parte recorrente tem grande probabilidade de êxito.
Com relação à questão de dano irreparável, no entanto,
cabem algumas palavras. A questão não é, como colocado
pelo voto dissidente, se “a contagem de cada voto válido
pode constituir dano irreparável. Uma das principais
questões no recurso admitido por nós é exatamente se os
votos que se determinou fossem contados são, de acordo
com a devida interpretação das leis da Flórida “votos
legais”. A contagem dos votos cuja legalidade é questionável
não são, ao meu ver, ameaça de dano irreparável à parte
recorrente e ao país, obnubilando o que a parte afirma ser a
legitimidade de sua eleição.”

R emand
Remand é comumente traduzido por devolver devido às acepções proto-
típicas do termo. De acordo com o Black’s Law Dictionary (2004) e o
American Heritage (2004), por exemplo, remand possui duas acepções
em Direito:
1. Devolver os autos para o juízo a quo para novas medidas (e.g. nova
audiência de oitiva de testemunhas, instrução). Pode, inclusive, ocor-
rer após decisão em recurso de apelação.

207
◊◊ The State appealed the trial court’s ruling. A panel of this
Court vacated the Defendant’s guilty plea and sentence,
and remanded the case for further proceedings 89.
O Estado recorreu da decisão do juiz de primeira
instância. Uma turma deste Tribunal reverteu o
reconhecimento de culpa e a sentença do Réu e devolveu
os autos ao juízo a quo para novas medidas.
2. Manter o acusado (accused person) preso (in custody) após depoimen-
to preliminar (preliminary examination).
◊◊ An alleged drugs dealer was yesterday remanded in
custody after he appeared before the Magistrate’s Court
in Derry charged with committing six drugs offences 90 .
Um suposto traficante de drogas foi mantido preso
ontem depois de comparecer em juízo em Derry acusado
de cometer seis crimes relacionados a drogas.

Efeito devolutivo
A tradução remanding effect, para efeito devolutivo, provavelmente, decor-
re das traduções dicionarizadas de remand. É o que sugere a tradução abaixo
de uma das Resoluções do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE):
Article 1. – Voluntary appeals against decisions issued by
the Head of the Economic Law Office, […] shall be accepted
within five days and have a merely remanding effect 91.
O referido sintagma, todavia, não ocorre como um padrão lexical da língua
inglesa e, portanto, apresentá-lo como tradução de efeito devolutivo, não é
a solução mais idiomática.
Algumas traduções que se aproximariam a efeito devolutivo, no exem-
plo acima, seriam: no stay of decision, no stay granted, no stay provided:

89 Fonte do exemplo: Fifth Circuit Court of Appeal, State of Louisiana.


[Disponível em: http://www.fifthcircuit.org/OPINIONS/
OIP_2003/10_2003/03ka0424.pdf ].
90 Fonte do exemplo: Derry Journal [Disponível em: http://www.derryjournal.
com/court/Alleged-drug-dealer-remanded-in.4905990.jp].
91 Fonte do exemplo: Resolução 10 de 3/2/199 do CADE – Conselho
Administrativo de Defesa Econômica [Disponível em: http://www.cade.gov.br/
internacional/Resolution%2019%20-%201999.pdf ].

208
Article 1. – Voluntary appeals against decisions issued by
the Head of the Economic Law Office, […] shall be accepted
within five days, no stay provided.

2.8.11 Nível de alçada


O lexema alçada possui quatro acepções segundo o Novo Dicionário Ele-
trônico Aurélio (2004):
1. Tribunal coletivo e ambulante que, visitando os povos, lhes adminis-
trava justiça.
2. Limite máximo de valor dentro do qual um órgão judicial pode co-
nhecer da causa, ou pode julgá-la sem recurso para outro órgão.
3. Jurisdição, competência
4. Limite da ação, autoridade ou influência de alguém.
O De Plácido e Silva (2005), define alçada por:
“a competência atribuída ao juiz, em face do valor da
causa proposta, respeitada a que for cometida à jurisdição
privativa”.
Consultamos, ainda, alguns dicionários jurídicos bilíngues, dois dos quais
trazem traduções para o termo alçada, a saber:
Castro (2006)
amount restriction
jurisdictional amount
jurisdictional range
jurisdiction limited by the amount in controversy
limited jurisdiction
Goyos Jr. (2006)
court of appeals
limit
Em seguida, ao buscar exemplos da expressão nível de alçada, observamos
que é empregada, na maior parte das vezes, nas acepções de competência,
poder e responsabilidade, não tendo sido encontrados exemplos atuais em
que a expressão tenha sido utilizada em contextos relativos ao valor da causa.
Consequentemente, das dezenas de exemplos examinados, selecionamos um
para cada uma das acepções.

209
EXEMPLOS

O Sistema permitirá que uma pessoa com o nível de alçada superior


possa aprovar o Pedido.
Certamente que cada um possui seu nível de alçada de
responsabilidade e decisões.
Aplicam-se os Arts. 7º e 8º, inclusive no que se refere ao nível de
alçada a ser delegada ao IRB.
... aos contratos administrativos que estejam situados no nível de
alçada decisória do Presidente...
Para sugerirmos uma tradução, adotamos o recorte dos contextos acima em
que nível de alçada poderia ser traduzido por, respectivamente:
level of authority, às vezes representado pelo acrônimo LOA
level of responsibility, também relacionado a limite de valor
authority, poder, competência, e
jurisdiction, pois o sema ‘decisão’ faz parte do lexema.

2.8.12 O vocabulário dos votos no judiciário


Nas instâncias superiores do judiciário brasileiro, os desembargadores (ap-
pellate judges) e ministros (justices), ao julgar uma ação de competência
originária (original jurisdiction) ou ao julgar um recurso (appeal), em de-
corrência de sua competência recursal (appellate jurisdiction), expressam-se
em votos: escrevendo-os e, efetivamente, votando.
Em inglês, para nos referirmos a ambas as acepções, i.e. escrever/
redigir um voto e votar, favorável ou contrariamente, podemos valer-nos
de construções como as nos exemplos abaixo 92 traduzidos livremente.

EXEMPLOS

◊◊ Justice White wrote the opinion of the Court.


O juiz White foi o relator.

92 Fonte dos exemplos: Hartman, Mersky & Tate (2007) Landmark Supreme
Court Cases. New York: Checkmark Books.

210
◊◊ Justice Blackmun wrote a dissent joined by
Justices Brennan, Marshall, and Stevens.
Blackmun proferiu voto contrário / deu voto contrário o qual
recebeu o apoio de outros três membros da Suprema Corte.
◊◊ Chief Justice Burger concurred.
O juiz-presidente votou favoravelmente.
◊◊ Justice White concurred in the opinion and emphasized…
O juiz White votou com [o relator] e ressaltou...
Além do sintagma verbal (redigir um voto / write an opinion) e do verbo
(votar / vote), observamos que no contexto da Suprema Corte, por exemplo,
o substantivo voto é expressado por diversos nomes (vote / opinion) e/ou
qualificado em diversos sintagmas nominais, cujas definições, exemplos 93 e
possibilidade de tradução apresentamos a seguir:
voto contra, voto contrário – dissenting opinion/ dissent
◊◊ In his dissent, Blackmun disagreed with the
majority on what issue was raised by the case.
Em voto contrário, Blackmun discordou da maioria
sobre qual a questão levantada pela ação.
voto a favor, voto favorável – concurring opinion
◊◊ In a concurring opinion, Justice Stevens argued that…
Em voto favorável, o juiz Steves defendeu que...
voto majoritário – plurality opinion
◊◊ In a plurality opinion written by Justice Brennan…
Em voto majoritário redigido pelo Juiz Brennan...
votação informal para verificar a tendência de votação futura
– straw vote
◊◊ He said the Supreme Court had taken a straw vote
on the case shortly after the January hearing 94 .
Informou que a Suprema Corte havia feito uma
votação informal após a audiência de janeiro.
voto que muda de lado (ou é moderado, às vezes votando com um
grupo, às vezes com outro) – swing vote

93 Idem, com exceção dos indicados.


94 The Crime Library [Disponível em: http://www.trutv.com].

211
◊◊ Sandra Day O’Connor’s surprise resignation unleashes
a battle over whether the high court will gain a
new swing vote or a solid-right identity 95 .
A aposentadoria de Sandra Day O’Connor surpreende
e lança uma dúvida no ar: será que o novo indicado
será outro moderado ou um membro da direita?

2.8.13 Appeal: sustained, denied, reversed


An appeal is when you ask one court to show its contempt for
another court.
Finley Peter Dunne

O que é appeal?
De acordo com o American Heritage (2004) é:
1. The transfer of a case from a lower to a higher court for a new hearing.
(A transferência de uma ação para uma instância superior para novo
julgamento)
2. A case so transferred. (A ação transferida)
3. A request for a new hearing. (Pedido de novo julgamento)

Quais as partes de um appeal?


Um appeal (recurso) envolve duas partes: a parte recorrente (appellant ou
plaintiff in error) que procura alterar a decisão proferida por instância infe-
rior (lower court) e parte recorrida, chamada appellee ou respondent.
OObs.: Appellant pode ser também apelante ou mesmo
agravante e appellee pode ser também apelado ou
agravado, dependendo do recurso na língua fonte.

A ppeal corresponde a recurso


Vale ressaltar que o termo appeal corresponde ao termo recurso em portu-
guês, e não apenas ao recurso de apelação. Assim, um recurso administra-
tivo, por exemplo, também é um tipo de appeal.

95 Fonte do exemplo: Revista TIME, vol. 166, N° 02,11/07/2005.

212
Quais os instrumentos da apelação?
No sistema da common law, um appeal, em regra, não tem início com o ins-
trumento de recurso (appellate brief). O appellant, em primeiro lugar, deve
informar em notice of appeal sua intenção de recorrer. Só depois o appellant
entra com a apelação propriamente dita.
Em seguida, a parte contrária submete um responsive brief ao qual o
recorrente pode responder com um final brief. A figura da notice of appeal
é interessante, pois a mera manifestação da intenção de recorrer de uma
das partes acaba abrindo espaço para acordos (settlement). É alto o índice
de acordos entre a apresentação da notice of appeal e as sustentações orais
(oral arguments), ou até mesmo antes da protocolização do próprio recurso
– apesar de a prática de submeter notice of appeal, sem a intenção de dar
seguimento ao recurso, ser considerada pouco ética.

Quais as traduções dos possíveis


desfechos de um appeal?
sustained – recurso deferido / julgado procedente / deu-se
provimento ao recurso
denied – recurso indeferido / julgado improcedente / não foi dado
provimento ao recurso
reversed – recurso provido e decisão recorrida/reformada

Mais desfechos
Além desses resultados, em muitos casos, o desfecho de um appeal é o de
provocar devolução dos autos 96 à instância inferior, com a determinação
para a realização de novos procedimentos ou, até mesmo, com a orientação
de julgamento, respectivamente.
appeal remanded for further proceedings
appeal remanded with direction to render judgment
appeal remanded with direction to dismiss

96 Sobre efeito devolutivo, ver 2.8.10.

213
The right to appeal
Nos Estados Unidos, o direito de recorrer não é absoluto e é concedido de
duas formas. Em virtude de:
questão de direito (matter of right) – nos casos em que a lei dispõe
que a parte, naquele determinado caso, possui direito de
recorrer
discrição da instância superior (discretion) – como no caso da
Suprema Corte, por exemplo, que é um tribunal com poder
discricionário para selecionar, entre as centenas de recursos
que recebe ao ano, aquilo que vai julgar.

2.8.14 Homologação
Segundo o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (2004), as acepções
de homologação são:
“1) Ato ou efeito de homologar. 2) Jur. Aprovação
dada por autoridade judicial ou administrativa a certos
atos particulares para que produzam os efeitos jurídicos
que lhes são próprios. 3) Jur. Ato pelo qual o Supremo
Tribunal Federal aprova a executoriedade duma sentença
estrangeira no território nacional, depois de ter verificado
que ela atende a certos requisitos legais.[...]”
No Black’s Law Dictionary (2004), encontramos homologation, cujo
verbete, – sugerindo que o termo da entrada não é tão comum em inglês –,
traz a informação de que o termo é empregado no âmbito da Civil Law (em
oposição à Common Law).
“Civil Law. 1) Confirmation, esp. of a court granting its
approval to some action. 2) The consent inferred by law
from a party’s failure, for a ten-day period, to complain of
an arbitrator’s sentence, of an appointment of a syndic (or
assignee) of an insolvent, or of a settlement of successions.
3) The approval given by a judge of certain acts and
agreements, to render them more readily enforceable – Also
termed (in Spanish law) homologación […]”.

214
De fato, o termo homologation não ocorre com frequência no inglês fora
do contexto da Civil Law, que não é, em regra, o sistema adotado nos países
de língua inglesa. Em contextos de Common Law, os termos preferidos são
approval, confirmation e ratification.

EXEMPLOS

homologar
give/grant approval
provide/give confirmation
aguardar homologação
await/wait for confirmation
obter homologação
gain/get/obtain/receive approval
get/have/obtain/receive confirmation
rejeitar [pedido de] homologação
refuse/withhold approval
pedir/solicitar homologação
submit something for/seek approval
ask for/require confirmation

2.8.15 A tradução de warrant


como substantivo
Na linguagem jurídica em inglês, o termo warrant ocorre tanto na forma de
verbo, como na de substantivo. Entretanto, ao contrário do que ocorre com
outros termos cujas formas verbal e nominal são ortograficamente idênticas –
por exemplo, claim (s.) e claim (v.) – as acepções de maior ocorrência de war-
rant (s.) e warrant (v.) são bem distintas. De acordo com dicionário Black’s
Law Dictionary (2004), as acepções de warrant (s.) correspondem a:
1. mandado ou ordem judicial – arrest warrant
2. ordem de pagamento – interest warrant
3. espécie de título de crédito – county warrant
4. bônus de subscrição – subscription/stock warrant

215
Mandado ou ordem judicial
Prosseguindo com o exame do termo em diversos corpora em língua ingle-
sa, jurídicos e de língua geral, observamos que a primeira acepção é a mais
frequente.
Com base nessa constatação, selecionamos as principais colocações
de warrant – na acepção de mandado/ordem judicial – de acordo com
o Corpus of Contemporary American English – COCA, que contém
400 milhões de palavras de fontes diversas (jornais, livros, artigos acadêmi-
cos etc.) reunidas a contar de 1990, e o Time Corpus of American En-
glish, com 100 milhões de palavras reunidas a partir das edições da revista
Time publicadas a partir da década de 1920.
Abaixo, apresentamos os resultados obtidos, com base nesses dois
corpora, para a pesquisa das colocações formadas por substantivo + war-
rant (e.g. arrest warrant, search warrant). Selecionamos também exemplos
de contextos extraídos dos mesmos corpora de estudo, bem como oferece-
mos respectiva sugestão de tradução para o português do Brasil.

EXEMPLOS

alimony arrears warrant – mandado de prisão por atraso em


pagamento de pensão alimentícia
◊◊ Earlier this month Dick and Rita barricaded themselves in
a Manhattan hotel suite, while outside two deputy sheriffs
waited to serve Dick with an alimony arrears warrant
sworn out by his second wife, Cinemactress Joanne Dru.
No começo deste mês Dick e Rita trancaram-se em
uma suíte de hotel em Manhattan enquanto do lado
de fora dois delegados aguardavam para entregar
a Dick um mandado de prisão por atraso no
pagamento de pensão alimentícia requerido pela sua
segunda mulher, a atriz de cinema Joanne Dru.
arrest warrant – mandado de prisão
◊◊ A Mexican judge on Saturday refused to issue an arrest
warrant, but prosecutors say they will appeal.
No sábado um juiz mexicano negou a expedição do
mandado de prisão, mas os promotores públicos
disseram que vão recorrer dessa decisão.

216
assault warrant – mandado de prisão por lesão corporal
◊◊ A Durham lawyer with ties to the Tar Heels would swear out
an assault warrant against Heyman over an altercation
with a North Carolina male cheerleader during the brawl.
Um advogado de Durham ligado a Tar Heels iria requerer
a expedição de um mandado de prisão por lesão corporal
contra Heyman com relação às agressões a uma chefe de
torcida da Carolina do Norte durante a confusão.
bench warrant – mandado judicial
◊◊ Two New York detectives finally served their man with a
bench warrant, charging 17 counts of grand larceny.
Dois detetives de Nova York finalmente entregaram ao
homem que procuravam o mandado judicial, contendo
17 acusações de furto de bens de grande valor.
court warrant – mandado judicial
◊◊ Over the weekend, he said his decision to let the intelligence
community listen in on phone calls between Americans
and terror suspects without a court warrant is legal.
No final de semana ele disse ser legal sua decisão
de deixar o serviço de inteligência grampear
conversas telefônicas entre americanos e suspeitos
de terrorismo sem um mandado judicial.
death warrant – mandado de execução de pena de morte
◊◊ By law, a death warrant must be carried out on a specified date.
Por lei, um mandado de execução de pena de morte
deve ser executado em uma data específica.
deportation warrant – ordem de deportação
◊◊ In Yonkers, N.Y., Mrs. Earl Browder, 56, Russian-born
wife of the former head of the American Communist Party,
charged with perjury and illegal entry into the U.S., was served
with a deportation warrant by immigration agents.
Em Yonkers, N.Y, a Sra. Earl Browder, 56 anos, nascida na
Rússia, esposa do ex-chefe do Partido Comunista Americano,
acusada de falso testemunho e entrada ilegal nos E.U.A.,
recebeu ordem de deportação dos agentes de imigração.

217
drug warrant – mandado de busca e apreensão de narcóticos
◊◊ In March 1996, the police entered Mr. Brown’s
apartment on a drug warrant and sprayed his bedroom
with 123 bullets after, they say, he fired on them.
Em março de 1996, a polícia entrou no apartamento do
Sr. Brown com um mandado de busca e apreensão de
narcóticos e descarregou 123 balas em seu quarto depois
que ele, segundo eles dizem, disparou contra eles.
search warrant – mandado de busca
◊◊ One case she presided over, U.S. v. Falso, seemed
likely to go against police who had charged a man
with possessing child pornography after they entered
his house on a wrongly issued search warrant.
Um caso presidido por ela, os Estados Unidos contra
Falso, parecia propenso a ser desfavorável à polícia que
havia acusado o homem de estar na posse de material de
pornografia infantil depois que a polícia entrou em sua
casa com um mandado de busca expedido por engano.
seizure warrant – mandado de apreensão
◊◊ I am Special Agent Ana Grey with the FBI. We
have a seizure warrant for your office.
Sou a Agente Especial Ana Grey do FBI. Temos um mandado
de apreensão para ser cumprido no seu escritório.
search and seizure warrant – mandado de busca e apreensão
◊◊ He proffered Whitman the search and seizure warrant.
Ele apresentou a Whitman o mandado de busca e apreensão.
extradition warrant – ordem de extradição
◊◊ With Spanish extradition warrant, British police arrest
former Chilean dictator Augusto Pinochet for questioning.
Com a ordem de extradição espanhola, a
política britânica prendeu o ex-ditador chileno
Augusto Pinochet para interrogatório.
abduction warrant – mandado de prisão por crime de sequestro
◊◊ Martin’s real name is Stephen Fagan, and on the day of
his arrest on the abduction warrant, his daughters, now
23 and 21, had two shockers dropped in their lap.

218
O verdadeiro nome de Martin é Stephen Fagan e na
data de sua prisão por meio de mandado de prisão por
crime de sequestro, suas filhas, agora com 23 e 21 anos,
estavam com dois aparelhos de choque elétrico no colo.
disorderly conduct warrant – mandado de prisão por
perturbação da ordem [e da paz pública]
◊◊ In Nedrow, N.Y., two deputy sheriffs served
a disorderly conduct warrant on Mrs.
Minnie King, who swallowed half of it.
Em Nedrow, Nova York, dois subdelegados entregaram
um mandado de prisão por perturbação da ordem à
Sra. Minnie King que engoliu metade do documento.
outstanding warrant – mandado de prisão não cumprido
◊◊ When the article disclosed that the increasingly threatening
Bob Jones was Bob Higgins, the police moved quickly
to serve him with the outstanding warrant.
Quando a notícia revelou que o perigoso Bob Jones
era Bob Higgins, a polícia agiu rapidamente para
cumprir o mandado de prisão não cumprido.
fraud warrant – mandado de prisão por crime de fraude
◊◊ A New York City detective who saw a sketch of him on television
realized that he bore a striking resemblance to a Kenneth
Kimes, who had been arrested just the previous day with his
mother Sante on an outstanding fraud warrant from Utah.
Um detetive da cidade de Nova York que viu um retrato
falado dele na televisão percebeu que ele se parecia
muito com um tal de Kenneth Kimes que tinha sido
preso no dia anterior com sua mãe, Sante, por meio
de um mandado de prisão por crime de fraude.
fugitive warrant – mandado de prisão de foragido da justiça
◊◊ After that, a federal judge dismissed a fugitive warrant
against him for breaking out of an Alabama jail in 1948.
Depois disso, um juiz federal negou a expedição de um
mandado de prisão de foragido da justiça contra ele
por ter escapado de uma prisão no Alabama em 1948.

219
human-rights warrant – mandado de prisão por crimes contra a
humanidade
◊◊ General Augusto Pinochet Ugarte, former dictator of Chile, is
arrested in a London clinic on a human-rights warrant.
O general Augusto Pinochet Ugarte, ex-ditador do Chile,
está preso em uma clínica em Londres com base em um
mandado de prisão por crimes contra a humanidade.
larceny warrant – mandado de prisão por furto
◊◊ Up stepped the detective with an old larceny
warrant to take Herbert Hannigan to jail.
O detetive adiantou-se com um mandado de prisão
por furto para levar Herbert Hannigan para a prisão.
blanket warrant – mandado de prisão que não contém a
identificação do nome da pessoa a ser presa
◊◊ By this week 26 had admitted participation in the lynching,
31 were charged with a blanket warrant for murder.
Até esta semana 26 admitiram ter participado do
linchamento, 31 foram acusados por meio de um
mandado de prisão por homicídio sem a identificação
dos nomes das pessoas a serem presas.

2.8.16 A tradução de warrant como adjetivo


No item acima abordamos colocações nominais com o termo na formação
substantivo + warrant (e.g. arrest warrant, search warrant etc.).
Agora, destacaremos – com exemplos e respectivas traduções – as co-
locações em que o termo warrant possui função de adjetivo.
A partir dos correspondentes sugeridos, é possível observar que, ao
realizar uma tradução que privilegia a idiomaticidade, i.e. a naturalidade, na
língua-alvo, não são raras as ocasiões em que a classe gramatical dos termos
ou os sintagmas na língua de partida precisam ser alterados na língua de
chegada. Em outras palavras, em muitos casos, adjetivos não são necessa-
riamente traduzidos por adjetivos, nem substantivos por substantivos, ou
verbos por verbos etc.

220
warrant requirement – necessidade de mandado judicial
◊◊ Congress reached the same conclusion in 1986, specifically
refusing to impose a warrant requirement on the radio
portion of a cordless telephone communication.
O Congresso chegou à mesma conclusão em 1986,
rejeitando especificamente a necessidade de mandado
judicial para ondas de rádio captadas da telefonia sem fio.
warrant check – consulta de mandados criminais, consulta de
mandados em carga
◊◊ He knows everyone needs to do something to take care of
themselves down here,” said one long-haired young woman
in short shorts and a thin cotton blouse as she waited in
handcuffs for Garrity to run a warrant check on her.
“Ele sabe que cada um tem que cuidar de si mesmo por aqui”,
disse uma jovem de cabelos longos, vestindo shorts curto e uma
blusa de algodão justa enquanto esperava algemada Garrity
fazer uma consulta de mandados criminais contra ela.
warrant arrest – prisão por mandado
◊◊ The officer showed up at this Leominster home, attempting to
conduct a warrant arrest involving an alleged drug dependency.
O policial foi a essa casa em Leominster numa tentativa
de cumprir uma prisão por mandado envolvendo
uma acusação de dependência de drogas.
warrant officer – oficial de justiça, policial
◊◊ Once an officer, always an officer. And I had been a warrant
officer by rank, and a criminal investigator by occupation.
Uma vez policial, sempre policial. E meu cargo era de
policial, mas meu trabalho era de investigador criminal.
warrant application – pedido de expedição de mandado judicial
◊◊ In addition, Judge Brown ruled that even if the
information the confidential sources provided was the
product of torture, defense lawyers had presented no
evidence that the FBI agent who prepared the warrant
application was aware that they had been tortured.
Além disso, o Juiz Brown decidiu que mesmo que as
informações confidenciais resultassem de tortura, os
advogados da defesa não apresentaram provas de que o

221
agente do FBI que elaborou o pedido de expedição do
mandado judicial sabia que eles haviam sido torturados.
warrant clause – garantia constitucional de necessidade de
mandado judicial para realização de buscas e apreensões
◊◊ The warrant clause also limits the scope of a search
by requiring that police describe with particularity the
place to be searched and the things to be seized.
A garantia constitucional de necessidade de mandado
judicial para a realização de buscas e apreensões
também limita o escopo das buscas exigindo que a
polícia descreva com detalhes o local onde deverá
ocorrer a busca e as coisas a serem apreendidas.

2.8.17 Warrant como verbo


Para levantar as ocorrências de warrant como verbo, a expressão de busca
adotada, no COCA, por exemplo, foi warrant.[v*].
Os três primeiros exemplos foram retirados do CorTec, os demais
do COCA.
asseverar
◊◊ The Landlord warrants that he is the sole owner of the leasehold
and/or freehold (as the case may be) interest in the Premises.
O Proprietário assevera ser o único proprietário do
imóvel alugado e/ou o detentor de direito de domínio
por tempo indeterminado com relação às Instalações.
estar sujeito a, estar autorizado
◊◊ In the cases of politically disfavored individuals, the King’s courts
had often set unreachably high bail and imposed unpayable
fines for comparatively minor offenses which, under the Habeas
Corpus Act of 1679, warranted bail before conviction,
and for which the legally proper punishments were fines.
Em casos de pessoas politicamente desfavorecidas, os tribunais
reais costumavam fixar valor extremamente alto e impor multas
impagáveis para crimes menos graves que, com a Lei do Habeas
Corpus de 1679, estavam sujeitos a fiança antes da condenação
e para os quais as sanções legais aplicáveis eram multas.

222
declarar
◊◊ Client represents and warrants that the information supplied
to Nominee by Client or any agent or representative of Client
in connection with this agreement is accurate and complete.
O cliente declara que as informações fornecidas
ao Indicado pelo Cliente ou a qualquer de seus
mandatários ou representantes com relação ao
presente contrato são verdadeiras e completas.
determinar
◊◊ Juries did not convict bondswomen for their crimes to the
degree their alleged violations of the law would seem to
warrant, certainly not when compared to slave men.
Os júris não condenaram as escravas por seus crimes na
medida em que as acusações de violação da lei pareciam
determinar, certamente não quando a condenação era
comparada com as dos escravos do sexo masculino.
exigir
◊◊ Plans may change as circumstances warrant.
Os planos podem mudar se assim exigirem as circunstâncias.
justificar
◊◊ Then, this April, based on a tip, police raided Rachel’s
apartment and found what they say was enough to
warrant a felony charge for running a drug house.
Então, neste mês de abril, com base numa denúncia, a
polícia invadiu o apartamento de Rachel e encontrou
o que eles disseram ser suficiente para justificar a
acusação por crime de exploração de boca-de-fumo.
merecer
◊◊ Rehnquist did not define what constitutes the requisite
ideological content necessary for First Amendment protection.
In the commercial speech opinions he wrote after Virginia
Pharmacy, he offered little more to explain how he would
define speech warranting constitutional protection.
Rehnquist não definiu o que constitui o requisito de
conteúdo ideológico necessário para proteção com base na
Primeira Emenda. Nos pareceres sobre discurso comercial
que, ele escreveu depois do caso Virginia Pharmacy, ele

223
não apresentou muito mais explicações sobre como ele
definiria o discurso merecedor da proteção constitucional.
reclamar, requerer
◊◊ The following section describes some of the factors
that appear to warrant consideration.
A cláusula abaixo descreve alguns dos fatores
que parecem requerer atenção.
ser digno de, conseguir em virtude de seus méritos
◊◊ Arizona State University, before its graduation ceremonies
yesterday, announced a new scholarship program named
for the president, but President Obama did not receive
the usual honorary degree that presidents get speaking at
graduations because in this university’ s view, President
Obama had not done enough on the job or have been on
the job long enough to warrant an honorary degree.
A Arizona State University, ontem antes de suas cerimônias
de graduação anunciou um novo programa de bolsas de
estudos em homenagem ao presidente, mas o Presidente
Obama não recebeu o título de honorário dado aos
presidentes ao discursarem em graduações pois, do ponto
de vista dessa universidade, Obama ainda não fizera o
suficiente no cargo ou não ocupara o cargo há tempo
suficiente para ser digno de um título de honorário.
prometer, obrigar-se a, comprometer-se a
◊◊ The Landlord warrants that he will comply with the Gas Safety.
O Proprietário compromete-se a cumprir com as
Regulamentações sobre Segurança de Gás.

2.8.18 Colocações verbais com o termo warrant


Além de coocorrer com determinados nomes (e.g. arrest warrant – manda-
do de prisão), o substantivo warrant coocorre naturalmente com lexemas
de outras classes gramaticais, como preposições (e.g. without a warrant –
sem mandado) e verbos (e.g. execute a warrant – cumprir mandado).

224
Acerca das colocações verbais, Tagnin (2005) esclarece que: “Existem
substantivos que coocorrem naturalmente com determinados verbos, mas
que podem diferir de uma língua para outra”.
Em outras palavras, embora em português usemos os verbos anular,
cumprir e intimar com mandado, em inglês, as traduções correspondentes
a essas combinações comportam verbos diferentes, tais como rescind, ex-
ecute e serve, respectivamente.
Abaixo, algumas colocações verbais com o termo warrant na estru-
tura verbo + warrant. Os correspondentes são sugeridos por nós, os exem-
plos, extraídos do COCA.
arrest on a warrant – prender com mandado judicial
◊◊ On October 3, spymaster Werner Grossman was arrested on a
warrant issued some time earlier, but was released the next day.
Em 3 de outubro, o chefe do serviço secreto Werner
Grossman foi preso com mandado judicial expedido
algum tempo antes, mas foi solto no dia seguinte.
execute a warrant – cumprir mandado judicial
◊◊ On April 2004, agents from the Bureau of Land Management
(BLM) and the U.S. Forest Service surrounded a trailer
outside Grants, New Mexico, to execute a search warrant.
Em abril de 2004 funcionários da Secretaria de Patrimônio da
União e do Serviço Florestal dos EUA cercaram um trailer perto
de Grants, Novo México, para cumprir um mandado judicial.
get a warrant – obter/conseguir mandado judicial
◊◊ As for the necklace that was left on the grave in California, it did
not contain any relevant DNA, but detectives still have enough
of a case against Castaneda to get a warrant for his arrest.
Quanto ao colar que foi deixado no túmulo na Califórnia,
não continha nenhum dos DNAs em questão, mas os
detetives ainda têm indícios suficientes contra Castaneda
para obter um mandado judicial para sua prisão.
have a warrant – possuir mandado judicial
◊◊ I have a warrant to search this warehouse.
Eu possuo mandado judicial para realizar
uma busca neste armazém.

225
issue a warrant – expedir/extrair mandado judicial
◊◊ In one week’s time we were able to get enough evidence to
convince a judge to issue a warrant to go seize that property.
No prazo de uma semana conseguimos obter provas
suficientes para convencer o juiz a expedir um
mandado judicial para a apreensão daquele bem.
justify a warrant – justificar expedição de mandado judicial
◊◊ Both benches said that since I haven’t talked to
Whitman yet, they didn’t believe I had enough
probable cause to justify a warrant at this time.
Ambos os juízos disseram que como eu ainda não
havia falado com Whitman, eles não acreditam
que eu tivesse provas suficientes para justificar a
expedição de um mandado judicial dessa vez.
need a warrant – precisar de mandado judicial
◊◊ But do you need a warrant for this kind of information?
Mas você precisa de um mandado judicial
para esse tipo de informação?
obtain a warrant – obter mandado judicial
◊◊ Investigators obtain a warrant and search Garcia’s
$900,000 home, 15 miles from the casino.
Os investigadores obtiveram um mandado
judicial e apreenderam US$900.000,00 na
casa de Garcia, a 25 km do cassino.
order a warrant – emitir/expedir mandado judicial
◊◊ A student leader, he took to the jungles when Diem’s
police ordered a warrant for his arrest.
Líder estudantil, ele se escondeu na mata, quando a polícia
de Diem expediu um mandado judicial para sua prisão.
produce a warrant – produzir/apresentar mandado judicial
◊◊ He was questioning Armand Rojas, the day-shift doorman,
but stopped as soon as Harry appeared at the door, and
produced a warrant to search the apartment.
Ele estava interrogando Armand Rojas, o porteiro do dia, mas
parou assim que Harry apareceu na porta e produziu um
mandado judicial para realizar uma busca no apartamento.

226
pull a warrant (informal) – pedir/obter mandado
◊◊ Did you pull a warrant for Whitman’s apartment?
Você pediu um mandado para o apartamento de Whitman?
request a warrant – solicitar/requerer mandado judicial
◊◊ Birmingham police do not make arrests, she said, but instead force
her to take a witness before a magistrate and request a warrant.
A polícia de Birmingham não realiza prisões, disse ela,
em vez disso, força-a a apresentar uma testemunha
perante o juiz e requerer um mandado judicial.
require a warrant – exigir mandado judicial
◊◊ The stored records ordinarily require a court order or
require a warrant in connection with a crime.
Os autos arquivados normalmente necessitam de uma ordem
judicial ou exigem um mandado judicial relacionado ao crime.
rescind a warrant – anular mandado judicial
◊◊ That way the warrant can be rescinded.
Daquela forma o mandado judicial poderá ser anulado.
see a warrant – ver mandado judicial
◊◊ This clip shows families asking in vain to see
a warrant or get an explanation.
Esse clipe mostra famílias pedindo em vão para ver
o mandado judicial ou obter uma explicação.
seek a warrant – obter/solicitar/requerer mandado judicial
◊◊ Liberalize the rules for domestic spying, they urged. Free the
National Security Agency (NSA) to use its powerful listening
technology to eavesdrop on terrorist suspects on U.S. soil without
having to seek a warrant for every phone number it tracked.
Tornem as regras sobre espionagem doméstica mais liberais,
insistiram eles. Permitam que a Agência de Segurança Nacional
(NSA) utilize sua potente tecnologia de escuta para grampear
suspeitos de terrorismo no solo americano sem a obtenção de
mandado judicial para cada número de telefone rastreado.

227
serve a warrant – intimar por mandado
◊◊ The law requires that when served a warrant, we
comply with the warrant and let the judicial system
determine our ultimate guilt or innocence.
A lei exige que quando intimados por mandado,
devemos obedecer ar ordem e deixar o sistema
judiciário decidir sobre a nossa culpa ou inocência.
sign a warrant – assinar/expedir/emitir mandado judicial
◊◊ The warrant was signed by a judge from
another branch of government.
O mandado judicial foi assinado por um juiz de outro poder.
sign off on a warrant – assinar/expedir/emitir mandado judicial
◊◊ I’ m dealing with the express wishes of the district attorney
and the judge that signed off on the warrant here.
Eu estou lidando com os desejos expressos do promotor
público e do juiz que expediu o mandado judicial.
swear out a warrant – obter mandado judicial [mediante
declaração prestada sob juramento]
◊◊ Why don’t I go to Sheriff Klock, swear out
a warrant, and we see who’s right?
Por que eu não vou até o Delegado Klock, obtenho um
mandado judicial, e daí nós veremos quem está certo?
secure a warrant – obter mandado judicial
◊◊ The store officer was advised to secure a warrant.
O funcionário da loja foi aconselhado a
obter um mandado judicial.

228
2.9 Direito do trabalho

2.9.1 Leave: tradução do termo licença


No cenário trabalhista, conhecemos diversos tipos de licença, remunerada
(paid leave) ou não-remunerada (unpaid leave) pelo empregador; sem ou
com garantia de emprego (job protected leave).
Nesse contexto, a tradução do termo licença para o inglês é, em re-
gra, leave ou leave of absence. Tanto o termo leave como o termo licença
formam colocações com diversos outros termos. Entre essas combinações
lexicais temos 97 :
licença adoção – foster care leave
◊◊ Foster care leave: When an employee becomes a foster
parent, he/she may request and be granted up to 12 weeks
of leave, to be taken any time during the 12 months
beginning with the date of placement of the child.
Licença adoção: Quando um empregado se torna pai adotivo,
ele poderá requerer e lhe serão concedidas até 12 semanas
de licença, a serem tiradas a qualquer tempo durante os 12
primeiros meses a partir da data de adoção da criança.
licença gestante – pregnancy leave
◊◊ Failing to credit female workers for pregnancy
leave in their pensions amounts to a current
violation of antidiscrimination laws.
Deixar de creditar a licença gestante às empregadas
do sexo feminino ao valor de seu benefício acarretará
na violação das leis antidiscriminação.
licença maternidade – maternity leave
◊◊ Out of 177 countries surveyed, 169 offer paid
maternity leave, 145 guarantee paid sick
days, 137 mandate paid vacation[...]
Dos 177 países pesquisados, 169 concedem
licença maternidade remunerada, 145 garantem

97 Fonte dos exemplos: COCA.

229
licença saúde remunerada, 137 obrigam a
concessão de férias remuneradas [...]
licença médica – medical leave
◊◊ Troubling news tonight for Apple cofounder and CEO Steve Jobs.
Jobs is taking a medical leave of absence until the end of June.
Notícias preocupantes para o cofundador e Presidente
da Apple, Steve Jobs nesta noite. Jobs está tirando
uma licença médica até o final de junho.
licença não remunerada – unpaid leave
◊◊ [The] Family and Medical Leave Act allowed
workers at larger firms to take unpaid leave
because of pregnancy or medical conditions.
A Lei sobre Licença Família e Licença Médica permitiu
aos empregados de grandes empresas tirarem licenças
não remuneradas em virtude de gestação ou doença.
licença paternidade – paternity leave
◊◊ We all know that the concept of men taking paternity
leave is still taboo in plenty of workplaces.
Todos nós sabemos que o conceito de homens tirando
licença paternidade ainda é um tabu em muitas empresas.
licença por invalidez – disability leave
◊◊ In 1978, Congress passed the Pregnancy Discrimination
Act, which required companies to offer pregnancy leave on
equal terms with disability leave policies for men.
Em 1978 o Congresso aprovou a Lei de Anti-
Discriminação por Gravidez que exige que as empresas
ofereçam licença gestação nos mesmos termos das
políticas de licença por invalidez para homens.
licença remunerada – paid leave
◊◊ In Bulgaria Moms receive 45 days of paid leave prior to their
due date, and can take a full two years of paid leave per child.
Na Bulgária, as mães recebem 45 dias de licença
remunerada antes da data do parto e podem ficar dois
anos inteiros em licença remunerada por filho.

230
licença saúde – sick leave
◊◊ Ever since he’ d come off sick leave, his boss
had placed him on modified duty.
Desde que ele voltara da licença saúde, seu
chefe o designara para outra função.
licença trabalhista – worker’s leave
◊◊ Unless there is a relevant agreement for another date, the
worker’s leave year begins on the date employment commenced 98 .
Salvo se houver um contrato determinando outra
data, o ano da licença trabalhista começa na
data de início do contrato de trabalho.
OObs.: Não confundir license (e.g. driver’s license)
com licença. License tem acepções de
permissão, autorização, licença de uso.

2.9.2 Previdência
No Brasil, o art. 202 da Constituição Federal de 1988 estabelece que o re-
gime de previdência privada é facultativo e possui caráter complementar e
autônomo em relação à previdência social.
A Lei Complementar n.º 109/01 que dispõe sobre o regime da pre-
vidência complementar classifica as entidades de previdência privada em 2
categorias:
fechadas: “acessíveis, na forma regulamentada pelo órgão
regulador e fiscalizador, exclusivamente: aos empregados
de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
entes denominados patrocinadores; e aos associados ou
membros de pessoas jurídicas de caráter profissional,
classista ou setorial” (art. 31, I e II, LC 101/01).
abertas: “constituídas unicamente sob a forma de sociedades
anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos
de benefícios de caráter previdenciário [...] acessíveis a

98 Fonte do exemplo: Lewis & Sargeant. Essentials of Employment Law. London:


CIPD.

231
quaisquer pessoas físicas” (art. 36 LC 109/01). São, em
regra, instituições financeiras que instituem e operam
benefícios de renda continuada (e.g. aposentadoria) ou
pagamento único (e.g. seguro de vida).
Enquanto nas entidades fechadas é necessário possuir um vínculo de traba-
lho com determinada pessoa jurídica (e.g. empresa, grupo de empresa, ente
da administração pública), nas abertas a associação é voluntária e disponível
a qualquer pessoa física.
Nos Estados Unidos, o federal social security system (a seguridade
social americana) possui o maior programa de aposentadoria (retirement
plan) do país, mas além da previdência social, os trabalhadores podem optar
por um ou mais planos de previdência privada. Clifford (2008) elucida os
tipos de planos de previdência privada existentes nos Estados Unidos, de
acordo com a Receita Federal daquele país (IRS), entre eles:
1. individual retirement plan – plano de previdência privada comple-
mentar à disposição de pessoas físicas mediante pagamentos perió-
dicos para garantir uma renda após uma idade determinada (nor-
malmente, aos 65 ou 70 anos). Os associados determinam o valor
da contribuição, bem como os investimentos realizados pelo fundo.
Esses planos podem ser:
Individual Retirement Account (IRA) – para qualquer
pessoa que possua algum tipo de renda
Simplifed Employee Pension-IRA 99 (SEP-IRA) – para
profissionais autônomos (self-employed)
Roth IRA – difere dos citados acima por ser tributado no
momento em que o pagamento é feito ao plano (e
não após a retirada, como no IRA e no SEP-IRA).
Além disso, não determina uma idade limite para a
retirada. O associado pode contribuir por mais tempo
e decidir receber a renda após os 70 anos, por exemplo.

99 Chamados antigamente profit-sharing plan ou Keogh plans (Clifford, 2008),


esta última denominação em homenagem a Eugene Keogh, membro do
congresso dos Estados Unidos, que, na década de 60, lutou pela aprovação da
legislação previdenciária para profissionais liberais.

232
401(k) accounts e 403(b) accounts – são os planos
oferecidos pelos empregadores aos seus empregados
(employer sponsored retirement plans). O primeiro,
para o setor privado, e segundo, para funcionários
públicos e organizações sem fins lucrativos. O
empregador faz uma determinada contribuição
e, ao empregado, é facultado fazer o mesmo.
2. pensions – ao contrário dos programas individuais, o associado não
participa das decisões sobre os investimentos nem sobre o funcio-
namento desse tipo de plano, que é organizado pela empresa a qual
está vinculado – a empresa determina quando e como o funcionário
receberá a renda futura.
Examinando as definições para os termos e sintagmas em inglês acima, ob-
servamos que a natureza dos individual retirement plans IRA, SEP-IRA e
Roth IRA se assemelha a dos produtos oferecidos pelas entidades de previ-
dência privada abertas, e os 401(k) accounts e 403(b) accounts, bem como
os pensions, correspondem em grande parte aos produtos oferecidos pelas
entidades de previdência privada fechadas, quando restringem a possibili-
dade de associação (closed pension funds). Todavia, há pension funds que não
restringem a associação. Esses são chamados open pension funds. O que mais
caracteriza um pension fund é a impossibilidade de o associado se manifestar
sobre os investimentos do referido fundo, tal fato não ocorre, como elucida-
mos, nos individual retirement plans.

233
2.10 Os profissionais do direito

2.10.1 Lawyer e Attorney


Be Thou my speaker, taintless pleader,
Unblotted lawyer, true proceeder!
Sir Walter Raleigh

Lawyer e attorney são termos do direito americano comumente utilizados


como sinônimos, pois em muitos contextos é possível empregar um pelo
outro. Apesar dessa correspondência, ambos possuem, também, elementos
(semas) específicos.
Lawyer, de acordo com o Black’s Law Dictionary (2004), é o “in-
divíduo habilitado para exercer a advocacia”. No mesmo vocabulário, at-
torney possui as seguintes acepções:
1. “aquele indicado para agir em nome de outrem”, um representante
legal (ou procurador). Nesse caso, também denominado attorney-
in-fact, private attorney.
2. “indivíduo que exerce a advocacia”. Também conhecido por lawyer,
attorney-at-law.
Podemos sintetizar os semas dos termos lawyer e attorney da seguinte forma:

Quadro 10: Resumo das características de lawyer e attorney


Lawyer Attorney
  1 - indivíduo que possui
procuração (judicial ou
não), mandatário
- profissional formado 2 - profissional formado
em direito em direito
- profissional habilitado - profissional habilitado
para exercer a advocacia para exercer a advocacia
  3 - profissional no
exercício advocacia

235
Sintetizando as informações anteriores, é possível afirmar que o termo:
lawyer é empregado tanto para o advogado que
exerce o direito, como para aquele que não
exerce (e.g. He is a lawyer by training) e
attorney é utilizado para mandatários em geral
(e.g. representantes legais de uma empresa),
bem como para os profissionais no exercício
da advocacia (e.g. attorney-at-law).
Ambos os termos também são empregados para designar profissionais do di-
reito que, no Brasil, não recebem o nome de advogado como, por exemplo,
o District Attorney (promotor), o qual, em inglês, é também considerado
um lawyer. Considere a estranheza causada pelo seguinte diálogo ocorrido
entre um advogado brasileiro e um District Attorney americano:
District Attorney: Good morning, sir, it is a pleasure to meet you.
Advogado: Thank you for coming, and welcome to our office.
District Attorney [entregando um presente]: This is for you. My
latest book, a small token from one lawyer to another.

Palavras que ocorrem com lawyer


clever, competent, good, successful, leading, senior,
experienced, qualified, practicing, academic, defence,
prosecuting, prosecution, corporate, government, foreign,
international, local, civil, civil rights, commercial,
constitutional, criminal, divorce, human rights, libel, injury
(Oxford Collocations Dictionary, 2002).

Campo semântico de attorney


advocate, attorney-at-law, barrister, counsel, counselor,
counselor-at-law, jurisconsult, jurisprudent, jurist, lawyer,
learned counsel, legal adviser, legal practitioner, legist,
member of the bar, officer of the court, pleader, procurator,
publicist, solicitor (Burton, 1998).

236
Termos relacionados
power of attorney – procuração
attorney fees – honorários advocatícios
attorney of record – advogado constituído
para representar o cliente em juízo
attorney-client relationship – relação cliente-advogado
research attorney – advogado especializado
em pesquisa, pareceres
briefing attorney – advogado especializado em
elaborar peças (e.g. petições, recursos)
law firm – escritório de advocacia

2.10.2 Solicitor ou Barrister


Solicitor e barrister são dois termos usados para denominar as duas classes de
advogados no direito inglês (Inglaterra, Irlanda do Norte, algumas provín-
cias do Canadá, etc.).
Enquanto o solicitor é o advogado que orienta e representa clientes
nas instâncias inferiores, o barrister é o advogado que possui permissão para
atuar nos tribunais superiores e, normalmente, é o profissional contratado
para emitir pareceres especializados.
O primeiro contato de um cliente, em regra, é com um solicitor, que
o orienta, elabora documentos, participa de negociações, firma acordos e
prepara os casos para julgamento. Se a ação for a um tribunal superior, o
solicitor (e não o cliente) contata um barrister e lhe transmite todas as infor-
mações necessárias.
Para se tornar um barrister, é preciso ser admitido em um dos Inns
of Court (Ordens dos Barristers) da Inglaterra. O conjunto de barristers de
todos os Inns é chamado de Bar. Daí o termo Bar Association para designar
a Ordem dos Advogados.
Por outro lado, a Ordem dos solicitors é denominada Law Society.
A indumentária também difere, enquanto os solicitors trajam ternos e
gravatas, os barristers usam toga e peruca branca.

237
Termos relacionados
called to the bar – profissional do direito
membro da ordem dos advogados
disbar (v.), debarment (s.), disbarment (s.): ser
excluído/exclusão da ordem dos advogados
barristerial (adv.) (lawyerly): relativo a um
advogado, “barristerial immunity”

2.10.3 Advogados e títulos: J.D.,


LL.B., Esq., LL.M. e Ph.D.
Os nomes dos advogados americanos são, por vezes, exibidos das seguintes
formas:
John Doe, J.D.
Jane Doe, LL.B.
John Doe, Esq.
Jane Doe, LL.M.
John Doe, Ph.D.
Juris Doctor (abr. J.D.) – Emprega-se este título após o nome de uma pessoa
que tenha cursado a faculdade de Direito em uma instituição reconhecida
pela ordem dos advogados dos Estados Unidos (American Bar Association).
O termo Juris Doctor não deve ser confundido com o doutorado em
Direito (Ph.D. in Law), em que Ph.D. corresponde a Philosophiae Doctor
ou Doctor of Philosophy.

Brasil e EUA
Ao contrário do que ocorre no Brasil – onde advogados são chamados de
Doutor –, é incomum nos Estados Unidos os advogados receberem o trata-
mento de Doctor. Naquele país, referido tratamento é conferido apenas ao
profissional que possui título de doutor (Ph.D in Law).
Há também outras abreviaturas para o título de doutor. Tais abrevia-
turas e respectivos títulos dependerão do programa, da instituição de ensino
ou do sistema jurídico em questão, são eles:

238
S.J.D. que corresponde a Doctor of Juridical Science,
em latim Scientiae Juridicae Doctor, e
LL.D. que corresponde a Doctor of Laws,
em latim Legum Doctor.
Enquanto nos Estados Unidos, algumas faculdades de Direito conferem o
Título de Juris Doctor, nos demais países de common law, confere-se o
título de Legum Baccalaureus ou Bachelor of Laws (LL.B.) ao indivíduo
formado em Direito (e.g. Canadá e Austrália). Em regra, os advogados que
exercem a profissão nos Estados Unidos, acrescentem Esq., após o nome.

Esquire (abr. Esq.)


Nos Estados Unidos, Esquire é utilizado após o nome de um advogado ha-
bilitado na ordem dos advogados. Entretanto, o termo não deve ser usado
como pronome de tratamento direto (i.e. em conversas presenciais), mas
apenas em correspondências, cartões de visita, documentos etc.

Legum M agister (abr. LL.M.)


Legum Magister (masculino) / Legum Magistra (feminino), cuja abrevia-
ção é LL.M., é utilizado após o nome de um(a) Mestre em Direito (Master
of Laws). É título mais alto que J.D. e Esq. Legum, abreviado por LL, é o
plural possessivo de lex. Normalmente, o título LL.M. vem acompanhado
da área de estudo (e.g. LL.M. in Family Law, LL.M. in Taxation).

Mr. e Ms.
É importante ressaltar que os títulos J.D., LL.B., Esq., LL.M. e Ph.D., não
se combinam com Mr. e Ms. Portanto, usa-se John Winston Lennon, Esq.
ou apenas Mr. John Winston Lennon, mas nunca Mr. John Winston Len-
non, Esq.
Entretanto, é possível combinar alguns títulos como, por exemplo,
John Winston Lennon, Esq., Ph.D.

239
2.10.4 Advogado em gíria
Além dos termos empregados no meio profissional para designar advogado,
como lawyer, attorney, solicitor, barrister, counsel, a língua está repleta de
lexemas depreciativos para (des)qualificar os profissionais do direito. Muitos
deles são empregados em filmes, piadas, bestsellers e acabam sendo traduzi-
dos por palavras usadas genericamente em português, ou seja, que não se
referem, especificamente, aos profissionais do direito.
Tal fato decorre da expressão que cada língua faz de suas relações
culturais, pois a língua inglesa veicula as características da cultura jurídica
em inglês, o português da cultura jurídica em português, e assim por dian-
te. Com isso, buscamos, por meio dos termos abaixo, oferecer uma ligeira
ilustração da cultura jurídica que o inglês expressa deixando que o leitor tire
suas próprias conclusões.
Ressaltamos que o conteúdo dos termos – com exceção de legal
beagle e legal eagle – pode ser extremamente ofensivo em determinados
contextos.
Advogado (gíria)
ambulance chaser (gir.) advogado de porta de cadeia
brief (gir.) termo genérico para advogado usado pela polícia
dump truck (gir.) advogado de defesa que
costuma aceitar qualquer ação
hired gun (gir.) advogado altamente especializado contratado
para resolver um problema difícil ou complexo
legal beagle (gir.) advogado esperto, vivo
legal eagle (gir.) advogado, esperto, vivo
lip (gir.) advogado criminalista de fala insolente
mouthpiece (gir.) advogado de defesa [em filmes antigos]
shark (gir.) advogado desonesto, ganancioso e sem princípios
shyster (gir.) advogado antiético e inescrupuloso.
[etmol. do alemão Scheisser]

240
2.10.5 Excelentíssimo Senhor Juiz
O uso dos vocativos e pronomes de tratamento é parte do aspecto conven-
cional da língua e, consequentemente, possuem uso consagrado em uma de-
terminada cultura. Entre culturas diferentes, vigoram convenções diferentes
que refletem padrões lexicais próprios.
No Brasil, de acordo com o Manual de Redação da Presidên-
cia da República (2002), são chamados pelo pronome Vossa Excelência os
membros do Judiciário:
Presidente e membros do STF
Presidente e membros dos tribunais superiores
Presidente e membros dos Tribunais de Justiça
Presidente e membros dos tribunais regionais
Juízes e desembargadores
Essas autoridades devem ser tratadas pelo vocativo Senhor, seguido do cargo.
Senhor Presidente
Senhor Ministro
Senhor Desembargador
Senhor Juiz
Nas comunicações, alguns exemplos do uso desse vocativo seriam:
Excelentíssimo Senhor Fulano de Tal Ministro...
Excelentíssimo Senhor Fulano de Tal Juiz de Direito da...
Em inglês, os membros do judiciário americano não possuem tantas desig-
nações como em português. Nos Estados Unidos, empregam-se, em regra,
judge para juiz e justice para desembargadores e ministros, notadamente
para os da Suprema Corte. Assim, temos, nas comunicações escritas ou em
uma apresentação:
The Honorable Judge John Lennon ou, na forma
abreviada, The Hon. Judge John Lennon.
The Honorable Janis Joplin ou, na forma abreviada,
The Hon. Justice Janis Joplin.
Por fim, o vocativo que corresponderia ao nosso Senhor Juiz, Senhor De-
sembargador e/ou Senhor Ministro é, unicamente, Your Honor.

241
2.10.6 Procurador(ia), Corregedor(ia)
e Defensor(ia)
Procurador(ia)
Possui diversas acepções em Direito (De Plácido e Silva, 2005), dentre as
quais:
Pessoa que trata ou administra negócios de outrem, em
virtude de mandato, o mandatário. No sistema anglo-
americano, tais atividades são realizadas por um agent,
substitute ou proxy. Este último, também utilizado
para denominar o instrumento, i.e., a procuração.
O procurador judicial, o advogado. Nesse caso, o procurador
é o attorney ou o attorney-in-fact, aquele que
detém procuração judicial (power of attorney).
O Procurador do Estado, aquele que representa o estado
na Administração Pública. No sistema da common
law, esse cargo é exercido pelo State Attorney.
O procurador chefe dos demais procuradores, o Procurador
Geral. Em inglês, o Attorney General.

Corregedor(ia)
No mesmo vocabulário, Corregedoria é o “órgão de segundo grau do Poder
Judiciário, encarregado da fiscalização e disciplina dos serviços judiciários
dos juízos a quo, objetivando zelar pelo bom funcionamento da justiça. Es-
tendeu-se a expressão aos demais Poderes, criando-se as corregedorias no
Parlamento e nos órgãos do Poder Executivo”.
No sistema americano, existe o Office of the Inspector General (OIG)
do Ministério da Justiça (Department of Justice - DOJ) que é o órgão res-
ponsável por realizar investigações de seus funcionários e programas. O OIG
tem por objetivo identificar condutas ilícitas e também promover a eficácia,
economia e eficiência de todo o funcionamento do referido ministério.
As funções do OIG se assemelham às funções do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) dentro do qual está também a Corregedoria Nacional de
Justiça.

242
Há, ainda, alguns termos do mesmo campo semântico no setor
público:
Comptroller 100 – É o órgão fiscalizador de contas (Comptroller
of Public Accounts) do Executivo, principalmente. No
Brasil, comptroller é termo utilizado pela Controladoria-
Geral da União (CGU) em sua designação em inglês:
Office of the Comptroller General.
Ombudsman 101 – Há, também, a figura do ombudsman que
é, na administração pública de diversos países de língua
inglesa, a autoridade competente para receber, investigar e
relatar reclamações dos cidadãos sobre os órgãos públicos.
Assim, possui algumas funções de órgão corregedor,
prevalecendo, todavia, as de ouvidoria.
Internal Affairs – Também chamado Internal Investigations
Division (IID), Office of Professional Responsibility ou,
em gíria, rat squad, é o órgão fiscalizador da polícia, sua
corregedoria.

Defensor(ia)
O termo também possui mais de uma acepção (De Plácido e Silva, 2005),
entre elas:
Toda pessoa que defende uma outra, o advogado. Em
inglês, lawyer, attorney ou defense counsel.
Órgão essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e
defesa, integral e gratuita em todos os graus,
dos necessitados, o defensor público.
No Brasil, é a defensoria o órgão encarregado de representar criminal e ci-
vilmente aqueles que não possuem condições de arcar com honorários ad-
vocatícios. A Ordem dos Advogados do Brasil também promove a represen-
tação de pessoas carentes mantendo e remunerando advogados inscritos em
seus quadros. Entretanto, a Ordem não fomenta a gratuidade por parte dos

100 Pronuncia-se da mesma forma que controller, i.e. sem o ‘p’.


101 Lexema de origem sueca que ingressou no inglês, e em outras línguas, a partir
da década de 50.

243
advogados brasileiros. Em outras palavras, no Brasil, um advogado pode ser
levado ao conselho de ética se optar por não cobrar por seus serviços.
Nos Estados Unidos, é o public defender que representa criminal-
mente os indivíduos incapazes de arcar com os honorários de um advo-
gado. O public defender não é, necessariamente, um staff attorney, i.e.,
funcionário contratado para o cargo de defensor, mas pode ser indicado
(appointed).
No caso de ações fora da esfera criminal nos Estados Unidos, a as-
sistência judiciária (legal aid) é oferecida por instituições (e.g. community
legal clinics) ou escritórios de advocacia que prestam atendimento à popu-
lação de baixa renda (pro bono legal services).
Como grande parte da assistência aos carentes e necessitados nos Es-
tados Unidos não é exercida pelo estado, há uma expectativa de que os ad-
vogados (apesar de só recentemente haver leis estaduais a respeito) realizem
trabalho pro bono. Alguns escritórios exigem que seus advogados cumpram
um determinado número de horas pro bono por ano. Outros fazem doações
a programas de assistência jurídica, em vez de prestar o serviço diretamente.
A advocacia pro bono nos Estados Unidos 102 é prestigiada e fortalece a
reputação dos escritórios e advogados. Há empresas que, ao contratar servi-
ços jurídicos, dão preferência àqueles escritórios que cumprem uma função
social por meio da advocacia gratuita.

2.10.7 Special Master


No sistema americano, o special master exerce função específica na justiça
(federal e/ou estadual), sendo nomeado em ações de alta complexidade para
assistir ao juiz da causa. Em regra, é profissional do direito, pois sua função
é definida como quasi-judicial.
De acordo com a interpretação das Federal Rules of Civil Proce-
dure (Rule 53) 103 e da jurisprudência, a indicação de um special master é
sempre excepcional.
A Suprema Corte, no caso La Buy v. Howes Leather Company
(1957), dificultou a indicação de special masters limitando-a a situações de
altíssima complexidade.

102 Para saber mais sobre o status da advocacia gratuita no Brasil, consulte o site do
Instituto Pro Bono [Disponível em: http://www.probono.org.br]
103 Ver Rule 53 [Disponível em: http://www.law.cornell.edu/rules/frcp/rule_53].

244
O caso Cronin v. Browner (2000), do District Court for the South-
ern District of New York, estabeleceu diversas situações em que a indicação
de um special master é permitida, entre elas, execução de ordem judicial,
realização de acordo em ações intricadas.
O termo special master pode ser considerado um hiperônimo no
inglês, pois abrange outros cujas acepções são mais específicas, como referee
(árbitro), auditor (auditor), examiner (aquele que colhe depoimentos de
testemunhas/partes) etc.
Tendo em vista que no português não temos termo correspondente,
pois nosso sistema jurídico não prevê esta figura, seria necessário verificar
qual a função exercida pelo special master na ação em questão, ou fornecer
uma paráfrase, ou a definição do sintagma.

245
Referências

A seguir, apresentamos as obras consultadas na elaboração dos textos aqui


reunidos, fazemos uma breve descrição dos corpora eletrônicos pesquisados
e oferecemos uma amostra de outros materiais nossos sobre o tema tradução
e terminologia.
As obras consultadas para fins de exemplos autênticos encontram-se
citadas em nota de fim da página, na página em que os exemplos aparecem.

Bibliografia
(1941) Código de Processo Penal. Disponível em:  <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm>
Recuperado em: 22/01/14
(1945) Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm> Recuperado em:
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(1973) Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm> Recuperado em:
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Mestrado] FFLCH/USP. Disponível em: <http://www.teses.usp.
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Swan, M. (1995). Practical English Usage. New York: Oxford
University Press.
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New York: Oxford University Press, USA.
(2004). Black’s Law Dictionary. 8th Edition (Standard Edition).
Mason, Ohio: Thomson West.
(2004). The American Heritage College Dictionary, Fourth Edition
with CD-ROM (American Heritage College Dictionary).
Boston: Houghton Mifflin.
(2004). Novo dicionário eletrônico Aurélio versão 5.11 em CD-
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Borba, F. S. (2002) Dicionário de usos do português do Brasil. São
Paulo: Ática.
Burton, W. (1998). Burton’s Legal Thesaurus. 3rd Edition. New
York: McGraw-Hill.
Câmara Jr., J. M. (1978) Dicionário de linguística e gramática.
Petrópolis: Vozes.
Castro, M. M. de (2006) Dicionário de direito, economia e
contabilidade inglês/português português/inglês. Belo
Horizonte: Edição do autor.
Greimas, A. J. & Courtés, J. (1979) Dicionário de semiótica.
(Tradução de Alceu Dias Lima et alli) São Paulo: Cultrix.
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Forense.
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Dictionary of Modern Legal Usage). New York: Oxford
University Press.
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Educational Series.
Goyos Júnior, D. N. (2006) Dicionário jurídico inglês/português
português/inglês. 6. ed. São Paulo: Observador Legal.
Santos, A. S. (2006) Dicionário de anglicismos e de palavras
inglesas correntes em português. Rio de Janeiro: Elsevier.

250
Corpora eletrônicos
O termo corpora é plural de corpus. No sentido atual adotado pelos estudos
linguísticos, um corpus é uma coletânea de textos, criteriosamente seleciona-
dos, processados por meio de programa de computador, para fins de pesqui-
sa linguística. Os corpora consultados nesta obra foram os indicados a seguir.

Linguagem jurídica
Corpus Técnico-Científico (CorTec) – Um dos subcorpora do
Projeto COMET (Corpus Multilíngue para Ensino e Tradução)
desenvolvido dentro do Departamento de Letras Modernas da
Universidade de São Paulo. O corpus consultado neste livro foi
um subcorpus do CorTec, o de Instrumentos Contratuais 104
com, aproximadamente, 600 mil palavras em inglês e
português. Todos os corpora do CorTec podem ser consultados
livremente online. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/
dlm/comet/consulta_cortec.html>

Língua geral
British National Corpus (BNC) – Possui cerca de 100 milhões de
palavras e busca ser representativo do inglês britânico, oral e
escrito, do século XX. Pode ser consultado livremente online.
Disponível em: <http://www.natcorp.ox.ac.uk/>
Collins Cobuild Concordance Sampler (Cobuild) – Também
conhecido por The Bank of English e Collins Birmingham
University International Language Database. O foi desenvolvido
dentro da University of Birmingham com patrocínio da editora
HarperCollins. Busca ser representativo da língua inglesa
contemporânea. À época das consultas o corpus contava com de
56 milhões de palavras. Não está mais disponível para consulta
livre online. Porém, diversos exemplos podem ser obtidos ao
consultar o dicionário Collins. Disponível em: <http://www.
collinslanguage.com/>

104 Carvalho, L. (2006) Corpus de instrumentos contratuais [Compilação].


Projeto Comet – CorTec – Corpus Técnico-Científico – FFLCH-USP.

251
Corpus of Contemporary American English (COCA) – Possui cerca
de 425 milhões de palavras representando o inglês americano
no período de 1990 a 2011. Desenvolvido dentro da Brigham
Young University. Pode ser consultado livremente online.
Disponível em: <http://www.americancorpus.org/>
Time Corpus of American English (Time) – Conta com 100 milhões
de palavras reunidas a partir das edições da revista Time
publicadas a partir da década de 1920 até 2006. Desenvolvido
dentro da Brigham Young University. Pode ser consultado
livremente online. Disponível em: <http://corpus.byu.edu/
time/>

Outros trabalhos da autora


Textos e materiais abaixo disponíveis em www.tradjuris.com.br.
Carvalho, L.(2013) A interpretação no Brasil: aspectos
mercadológicos e de organização profissional. In: XI Congresso
da Associação Brasileira dos Pesquisadores em Tradução
(ABRAPT), Florianópolis, UFSC.
Carvalho, L.(2013) The Future of Interpreting: Are we there yet? In:
I Simpósio Brasileiro de Interpretação (SIMBI), São Paulo,
FFLCH/USP.
Carvalho, L.(2012) O mercado da interpretação simultânea e
consecutiva em São Paulo. In. II Encontro ‘E por falar em
tradução’, Campinas, Unicamp.
Carvalho, L.(2010) Tradução jurídica e choque cultural. In: Ciclo de
Palestras sobre Tradução do CITRAT & DLM, FFLCH, USP.
São Paulo, USP. 17/09/2010.
Carvalho, L.(2010) A tradução jurídica entre o português e o inglês:
frequently asked questions. In: V Congresso Iberoamericano
de Tradução e Interpretação (CIATI): Tradução e
Interpretação: (des)construindo Babel. São Paulo, SP. 17 a
20/5/2010.
Carvalho, L.(2009) A formação do intérprete e o mercado de
trabalho. In: X Jornada de Tradução e Terminologia do
CITRAT/USP: Interpretação: Formação e Mercado de
Trabalho.O perfil e a formação do intérprete.

252
Carvalho, L.(2007) Copyright Issues in Bilingual Legal Dictionaries
a case study. In: 8th Biennial IAFL Conference on Forensic
Linguistics / Language and Law, Seattle.
Carvalho, L.(2007) Translating Contracts and Agreements: a Corpus
Linguistics Perspective. In: Kredens, K. and Gozdz-Roszkowski,
S. (Org.). Language and the Law: International Outlooks.
Frankfurt am Mein: Peter Lang GmbH.
Carvalho, L.(2006). A Major Difference between English Legal
Language and Brazilian Portuguese Legal Language –
translating binomial expressions in legal agreements: a corpus-
based study. In: Second European IAFL Conference on
Forensic Linguistics / Language and the Law, Barcelona.
Carvalho, L.(2006) A tradução de binômios em instrumentos
contratuais: estudo de um corpus jurídico comparável inglês
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Paulo: Humanitas. p. 309-347.

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Obra composta em Adobe Garamond Pro e impressa em papel offset 90g/m2,
pela Editora Lexema na Prol Editora Gráfica em março de 2014.
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