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Foto: Divulgação
..........................................................................
AVENTURA
C
om o afastamento do Cmte.
Malheiros, assumi, a convite da
presidência, a gestão da diretoria
de Pilotos/Segurança de Voo. Trata-se de Sobrevivência na Selva - parte III
um novo desafio que espero compartilhar Como fugir de um ataque
com vocês. de jacaré
Todos os meses quando elaboramos ..........................................................................
essa publicação contamos com a TEMPO E AVIAÇÃO
colaboração de todos os associados, para
que o conteúdo levado ao grupo seja
sempre interessante e ainda acrescente
algo positivo no desenvolvimento das
nossas atividades do dia a dia.
E, mais como associado do que
como diretor, convido a todos a
conhecerem essa nova edição do Boletim Verão de extremos e a aviação
Técnico, produzida pelo grupo de voo ..........................................................................
com assuntos pertinentes e muito CIÊNCIA
interessantes, como esteira de Campos eletromagnéticos:
turbulência, Brake Action, uso de invisíveis, mas bem presentes
computadores nas aeronaves, ..........................................................................
sobrevivência na selva frente ao ataque ENTREVISTA - CENIPA
de jacarés e uma entrevista exclusiva
com o chefe do Cenipa, Brigadeiro-do-
Ar Jorge Kersul Filho.
Desejo a todos uma ótima leitura!
Bons voos!
Cmte. Lorenzoni
Diretor de Pilotos/Segurança de Voo Breve Histórico do CENIPA
Entrevista com Brigadeiro Kersul
..........................................................................
SAFETY
Redação:
Editor: Suzamara Bastos MTB 458221;
Jornalista responsável: Sandra Cappellano Barbosa MTB 13555;
Diagramação e editoração gráfica: Sidnei da Cunha DRT/SP 46219.12879/05-56.
jacaré
*Felipe Woyceichoski
4
4 Boletim
Boletim Técnico
Técnico ATT
ATT Março
Março 2010
2010
Reprodução
N
a Selva Amazônica, nos mais
diversos rios e igarapés, ha-
. Se for atacado, tente acertar
os olhos e o focinho do animal; use
bitam espécies peculiares de
nossa fauna. Dentre elas, encontra-
mos os jacarés, sendo que os mais
comuns em nosso País são o jacaré
papo-amarelo e o jacaré-açu (o maior
.
canivetes ou qualquer objeto que pos-
sa feri-lo, até mesmo os seus dedos;
Se você for mordido pelo ja-
caré, dê tapas ou murros no focinho
dele, e com seus próprios dedos tente
de todos).
No Brasil, não há ocorrência de
ataques de jacarés a seres humanos,
embora em outros países, como na
África, por exemplo, existam regis-
.
furar os olhos do animal, para que ele
abra a boca;
Se você estiver preso nas
mandíbulas do jacaré, evite que ele
se sacuda ou role; tente manter a
tros de eventos desse tipo. boca do animal fechada, para que ele
Entretanto, sempre é bom estar não comece a se sacudir.
ciente de algumas precauções que po-
dem evitar que um imprevisível con- Tenha certeza que está fazendo
.
fronto com os jacarés tenha
consequências fatais:
Em contato com o jacaré,
caso você esteja em terra firme, tente
usar algo para cobrir os olhos do rép-
a coisa certa, pois do contrário pode-
rá por em risco sua própria vida.
Selva!
..
Como evitar um ataque
Não nade ou ande em áreas sabidamente habitadas por jacarés
(na Amazônia o jacaré pode aparecer em qualquer lugar);
Não nade ou ande sozinho; sempre vistorie a água antes de en-
..
trar (pode-se usar pedras para jogar na água ou uma vara para
bater na superfície da água);
Não deixe braços ou pernas balançando dentro da água quando
estiver em botes ou barcos;
Março
Março 2010
2010 Boletim
Boletim Técnico
Técnico ATT
ATT 5
5
TEMPO E AVIAÇÃO
A
sociedade brasileira tem ob- atualização anual, os pilotos e Des- Nas regiões Sudeste e Sul tem-
servado, no atual período de pachantes Operacionais de Voo da se observado, além da atuação do El
verão, secas intensas em áre- TAM acerca das previsões feitas pelo Niño, também a presença marcante
as do norte e do nordeste, como INPE (Instituto de Pesquisas Espaci- da Zona de Convergência do Atlânti-
Roraima e Ceará, em contraposição ais) indicando tais cenários para a atual co Sul (ZCAS), faixa de nebulosida-
às fortes chuvas no sul e sudeste do temporada de verão, tendo em vista, de, ventos e umidade que se desloca,
Brasil, além de extremos de calor em particularmente, a configuração do principalmente no verão, da região
várias áreas dessas regiões. fenômeno de El Niño, responsável por amazônica, passando pela região Cen-
Em outubro de 2009, o autor várias alterações no comportamento tro Oeste, Sudeste e Sul atingindo o
desse texto já alertava, nas aulas de climático no planeta. oceano Atlântico. A ZCAS contribui
de forma decisiva para as precipita-
ções por onde se desloca.
Além disso, em particular nas
áreas mais urbanizadas, tendo como
exemplo notável a cidade de São Pau-
lo, o fenômeno das ilhas de calor (áre-
as de concentração de calor devido
ao concreto, asfalto, veículos e pesso-
as) associado à poluição atmosférica
(que contribuem como núcleos de
condensação para a formação de nu-
vens e das chuvas) e à verticalização
(grande quantidade de edifícios que
tornam o fluxo de ar turbulento) faz
com que as chuvas sejam mais inten-
sas e concentradas, causando deze-
nas de pontos de alagamentos e, por
vezes, causando períodos de restri-
Repercussões do fenômeno do El Niño no globo no período de dezembro a fevereiro
Fonte: http://enos.cptec.inpe.br/ ção nas operações do aeroporto de
Congonhas; um dos mais movimen-
tados do território brasileiro. Nesse
O El Niño continua atuando no tal informação e com as previsões dos aeroporto, conforme levantamento
Pacífico Equatorial e as temperatu- modelos do INPE, se espera que o feito no jornal O Estado de São Pau-
ras da superfície do oceano estão al- fenômeno continue ocorrendo até lo, em janeiro de 2010, as condições
cançando 2ºC além da média. Com este mês de março. meteorológicas causaram a interrup-
ção das operações nos dias 4, 6, 9,
11, 26, 28 e 31.
Reprodução
Reprodução
Campos eletromagnéticos:
invisíveis, mas bem presentes
*Ane Tonon
88 Boletim Técnico
Boletim Técnico ATT
ATT Março 2010
Março 2010
O que é um campo sultado em 2007. Eles ressaltaram que quanto mais o tamanho do compri-
eletromagnético? uma utilização regular não aumenta o mento de onda se aproximar do ta-
O campo eletromagnético é risco de desenvolver um desses tu- manho da malha, mais eficaz será a
formado por campos elétricos e mores. Contudo, o risco de glioma blindagem no seu interior.
magnéticos perpendiculares entre si aumenta entre os maiores consumi- O fato lendário/histórico inte-
propagando-se num dado meio. A luz dores (aqueles que acumulam mais de ressante é que nenhum cientista da
visível é radiação eletromagnética, só 22 horas por mês). época de Faraday acreditava na pos-
que de energia maior que outros cam- sibilidade de haver essa isolação no
pos como os usados para telefonia ce- seu interior. Para provar que era pos-
lular, que são invisíveis aos nossos Quais são os efeitos? sível, Faraday colocou dentro da gai-
olhos. Esses campos também são cha- Exposições a radiações não- ola seu filho recém-nascido, vendan-
mados de radiação não ionizante, pois ionizantes acima do limite de 4,35 do-o os olhos e passando uma des-
não possuem energia suficiente para watts/m2 comprovadamente produ- carga de 25.000 volts na superfície.
arrancar elétrons de átomos ou molé- zem (dependendo da potência e da Perplexos, todos ficaram ainda mais
culas (ou seja, realizar ionização). Ape- frequência do campo, assim como do incrédulos quando Faraday retirou seu
nas a radiação ultravioleta extrema, os tempo de exposição): catarata, quei- filho sem nenhum arranhão!
raios X e os raios gama (também invi- maduras, alterações em válvulas car- Outra consequência interessante
síveis) são radiações eletromagnéticas díacas e marca-passos, derrame, pa- do princípio de funcionamento da
ionizantes e, portanto, mais danosas. rada cardíaca, má formação fetal e gaiola de Faraday é o fato de um car-
interferência em aparelhos eletroele- ro ser um dos lugares mais seguros
trônicos. Está em estudo a possibilida- para se proteger de uma tempestade
Quem emite esse de de também produzirem cansaço, com raios, devido a geometria - e não
campo? mudanças de comportamento, perda ao fato dos pneus serem de borracha
As antenas emitem sinais de ra- de memória, mal de Parkinson, mal (se essa fosse a causa, um trem ja-
diação eletromagnética que são rece- de Alzheimer, alterações genéticas, mais poderia andar em um dia chu-
bidos pelos celulares, rádios e TVs câncer e redução de fertilidade. voso!). A superfície do carro funcio-
para depois serem decodificados na na como as malhas da gaiola, permi-
informação desejada: som, imagem ou tindo que haja uma reorganização das
outro tipo de dado. Com a proliferação Onde estamos cargas elétricas de modo que não haja
de antenas emissoras de todos os ti- protegidos? nenhuma influência de algum campo
pos, em especial de telefonia celular, Na gaiola de Faraday. O físico eletromagnético no interior. Assim,
aumentaram os estudos sobre os ris- Michael Faraday (1791-1867) inven- numa improvável queda de raio so-
cos dessas radiações não-ionizantes. tou essa gaiola quando estudava o bre um carro, os ocupantes apenas
comportamento das cargas elétricas se assustariam com o barulho, mas não
no interior de um corpo. Largamente tomariam nenhum choque elétrico. In-
Telefone celular utilizado em bancos, instalações de felizmente, muitas pessoas não sabem
Existe um estudo internacional segurança, na aviação e em compo- desse fato e acabam morrendo em cir-
em andamento sobre a relação do uso nentes de computadores, entre outros. cunstâncias que são evitáveis; por
de aparelhos celulares e aparecimen- Trata-se de um equipamento que exemplo, quando um carro colide com
to de tumores na cabeça dos usuári- blinda o seu interior contra manifes- um poste e os fios caem sobre o car-
os. Levado para 13 países e coorde- tações ou perturbações causadas por ro, muitos tem a reação de sair corren-
nado pelo CIRC (Centro Internacio- campos eletromagnéticos que possam do ao invés de ficar dentro do veículo,
nal de Pesquisa sobre o Câncer), o criar ou impelir carga elétrica, utili- que é um lugar mais seguro.
estudo considera como patologia: o zando um material condutor. Essa Fontes:
http://www.fisica.uel.br/c&t/2003222.html
glioma do cérebro, o meningioma blindagem é possível quando o com- http://www.travail-et-securite.fr
cerebral, o neuroma do nervo acústi- primento de onda dos campos eletro- http://www.praticandofisica.com.br/curiosidades-da-
fisica/gaiola-de-faraday.htm
co e o tumor da parótida. Pesquisa- magnéticos são maiores do que o ta-
dores franceses apresentaram um re- manho da malha da gaiola. Assim, (*Ane Tonon é Comissária e Jornalista)
Março 2010
Março 2010 Boletim Técnico
Boletim Técnico ATT
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ENTREVISTA
1010 Boletim
Boletim Técnico
Técnico ATT
ATT Março
Março 2010
2010
Breve Histórico do CENIPA são de uma nova filosofia: a preven- No ano de 2007, foram criadas,
ção de acidentes aeronáuticos. por meio da Portaria nº 2/GC3, de 5
Em 1971, o Decreto nº 69.565 de janeiro de 2007, sete novas Orga-
A
década de 20 marcou o de-
senvolvimento da aviação. institui o Centro de Investigação e nizações Militares, denominadas Ser-
Esse desenvolvimento, por sua Prevenção de Acidentes Aeronáuticos viço Regional de Investigação e Pre-
vez, impôs a necessidade de Segu- (CENIPA), como órgão central do venção de Acidentes Aeronáuticos
rança de Voo no mundo e no Brasil. A SIPAER. Uma nova filosofia foi en- (SERIPA), encarregadas do planeja-
aviação militar, iniciada com o Exér- tão criada e começou a ser difundida. mento, gerenciamento e execução das
cito e a Marinha, assim como a avia- Os acidentes passaram a ser vistos a atividades de Segurança de Voo, nas
ção civil, também começava a regis- partir de uma perspectiva global e di- suas respectivas regiões de atuação.
trar um número significativo de aci- nâmica. A palavra inquérito foi incon- Devido à distribuição ao longo
dentes e incidentes. dicionalmente substituída. As inves- do território brasileiro, os SERIPA
Em 1941, é criado o Ministério tigações passaram a ser realizadas facilitaram a disseminação da doutri-
da Aeronáutica e a Inspetoria-Geral com um único objetivo: a “prevenção na de Segurança de Voo no país:
da Aeronáutica, o primeiro órgão a de acidentes aeronáuticos”. SERIPA I (Belém), SERIPA II (Reci-
investigar os acidentes aeronáuticos. O conhecimento adquirido com fe), SERIPA III (Rio de Janeiro),
Essas investigações, inicialmente, organizações de segurança de voo SERIPA IV (São Paulo), SERIPA V
eram realizadas com o objetivo de estrangeiras e a experiência acumu- (Porto Alegre), SERIPA VI (Brasília)
apurar o grau de responsabilidade dos lada ao longo dos anos aperfeiçoaram e SERIPA VII (Manaus).
envolvidos e tinham caráter punitivo. a doutrina de segurança de voo. Des- A Divisão de Formação e
Em 1948, o Decreto nº 24.749 sa forma, foram desenvolvidas as Aperfeiçoamento do CENIPA
cria o Serviço de Investigação de Aci- bases de pesquisa fundamentadas no Paralelo ao trabalho de investi-
dentes Aeronáuticos. A 3ª Divisão da trinômio: “o Homem, o Meio e a Má- gação de acidentes, o CENIPA capa-
Inspetoria do Estado-Maior fica en- quina”, pilar da moderna filosofia cita recursos humanos envolvidos na
carregada da responsabilidade de co- SIPAER. Assim, as investigações são aviação civil e militar.
letar e analisar os inquéritos de Aci- concentradas nos aspectos básicos,
dentes Aeronáuticos (IAA). De 1948 identificados e relacionados com a Cursos oferecidos
a 1958, aproximadamente, o Sistema
de Investigação e Prevenção de Aci-
dentes Aeronáuticos (SIPAER) vai se
desenvolvendo, graças também à che-
atividade aeronáutica, grupados nos
fatores Humano, Material e
Operacional.
O Fator Humano compreende
..
pelo CENIPA
Curso de Segurança de Voo
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Fator Humano
gada de novos militares à Inspetoria-
Geral.
Em 1958, o Tenente-Coronel
o homem sob o ponto de vista bioló-
gico em seus aspectos fisiológicos e
psicológicos. O Fator Material englo-
.
(CBPAA-FH)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Fator material
Aviador Nilson de Queiroz Coube
começa a chefiar a 3ª Divisão da Ins-
petoria-Geral do Estado-Maior da
ba a aeronave e o complexo de enge-
nharia aeronáutica. O Fator
Operacional compreende os aspectos
.
(CBPAA-FM)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Manutenção
Aeronáutica, sob a chefia do Inspe-
tor Brigadeiro-do-Ar Américo Leal.
Também, em 1958, o Primeiro-Te-
que envolvem o homem no exercício
da atividade, incluindo os fenômenos
naturais e a infraestrutura.
.
de Aeronaves (CBPAA-MA)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Controle do
nente Aviador Hilton Paiva realiza es-
tudos baseados em serviços de inves-
tigação dos EUA, França e Argentina.
O crescimento da atividade aé-
rea no país provocou a necessidade
de dinamizar as atividades de segu-
.
Espaço Aéreo (CBPAA-CEA)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Atividades
A Portaria nº 52 de 19 de janei-
ro de 1959 concede autonomia admi-
nistrativa à Inspetoria-Geral. Um pou-
rança de voo. Conceitos foram
atualizados e, conforme o decreto
87.249/82, de 7 de junho de 1982, o
.
Aeroportuárias (CBPAA-AA)
Curso Básico de Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos
co depois, o Decreto nº. 45.975, de
11 de maio de 1959, cria a Inspeto-
CENIPA passou a ser uma organiza-
ção autônoma. .
(CBPAA)
Curso de Gerenciamento da
ria-Geral da Aeronáutica e uma 4ª
Divisão absorve as tarefas da 3ª: aná-
lise e conclusão das investigações de
Em 2006, o cargo de Chefe do
CENIPA passa a ser exercido por um
oficial-general. O primeiro oficial-ge-
.Segurança Operacional (SMS)
Estágio de Gestão Avançada da
Prevenção de Acidentes -
acidentes aeronáuticos.
Depois de alguns anos, surge
um novo cenário: a utilização das
tecnologias, o desenvolvimento dos
neral a chefiar a organização militar
foi o Brigadeiro-do-Ar Jorge Kersul
Filho, designado pelo Decreto de 26
de outubro de 2006, publicado no
.
Aviação Militar (EGAP-MIL)
Estágio de Gestão Avançada da
Prevenção de Acidentes -
Aviação Civil (EGAP-CIV)
recursos humanos e os estudos das DOU, Seção 2, nº 207, de 27 de ou-
operações aéreas incentivam a difu- tubro de 2006. Fonte: Assessoria de Imprensa do Cenipa
Arquivo
que o próprio CENIPA – e é natural áreas de atuação claramente.
que quando há uma mudança haja
também um período de adaptação. ATT: Ao CENIPA caberia a res-
Estamos nos adaptando a essa nova ponsabilidade de prevenção dos aci-
realidade – que foi a criação de uma nado ao Sisceab (Sistema de Contro- dentes aeronáuticos?
agência para regular e fiscalizar a avi- le Aeroespacial Brasileiro), ao Decea Kersul: A prevenção de aciden-
ação civil no Brasil – e temos certeza (Departamento de Controle do Espa- tes aeronáuticos é responsabilidade
de que todos querem melhorar o ço Aéreo) e ao SIPAER – então, na de todos; é da empresa, é do comis-
transporte aéreo no País. Entretanto, própria lei de criação da Anac sário, é do chefe de cabine, do des-
as áreas de atuação desses dois ór- foram excluídas duas coisas: o pachante, do cara que leva a baga-
gãos estão confusas. Sisceab e o SIPAER. gem para dentro do avião, do cara que
O que acontece é que a legisla- Isso realmente causa um proble- tira a bagagem do avião, do pessoal
ção brasileira que está em vigor ma de interpretação. Os membros da do check in – todos nós somos res-
estabelece responsabilidades para Anac tem uma interpretação da legis- ponsáveis por prevenção de aciden-
ambas as partes: no caso do lação; nós temos outra... tes aeronáuticos!
CENIPA, a responsabilidade está re- Como nós não chegamos a um
lacionada à prevenção e investigação acordo, há que se ter alguém ou um ATT: Mas como trabalhar esse
de acidentes aeronáuticos. Mas, mes- órgão que resolva esse problema de- conceito? Como agir quando há
mo dentro dessa legislação, no Códi- finitivamente e isso está a cargo do irresponsabilidade?
go Brasileiro de Aeronáutica está es- Ministério da Defesa. Kersul: O CENIPA trabalha mui-
pecificado que prevenção de aciden- Nós esperamos que as áreas de to com filosofia; formação; conceitu-
tes aeronáuticos é de responsabilida- atuação e as responsabilidades sejam ação; convencimento; nós não somos
de de todos que trabalham no setor... bem definidas para que ambos – favoráveis a perdoar ou aceitar viola-
Então, da mesma forma que o CENIPA e Anac – possam trabalhar ções – essas devem ser punidas – nós
CENIPA (órgão central do SIPAER – com mais excelência; nós só quere- somos contra a punição dada a um
Sistema de Investigação e Prevenção mos que seja definido quem é respon- erro humano, pois todos somos falí-
de Acidentes Aeronáuticos) tem essa sável pelo quê e quem vai responder veis, todos podemos cometer erros.
responsabilidade, a Anac também pelo quê. O CENIPA não compactua com vio-
tem... Na legislação da Anac está pre- lações – quando alguém viola uma le-
visto que essa agência foi criada para ATT: Como a Anac pode melhor gislação, tem que responder por isso!
regular e fiscalizar tudo que está re- contribuir para a prevenção de aci- Só que não será o CENIPA que
lacionado ao sistema de aviação civil, dentes aéreos no Brasil? punirá; nós não temos essa prerroga-
com exceção do que estiver relacio- Kersul: Acredito que a melhor tiva.
sabe que aquilo não vai ser usado no País, porque nós assinamos uma
contra ela. convenção de Chicago, na qual acei-
Outro ponto: quando os equipa- tamos o que foi estabelecido
mentos que estão a bordo (gravado- pela própria ICAO, que diz que a lei do
res de voz e de dados – as famosas do tenha duas investigações: a inves- País tem ascendência às sugestões e
caixas pretas) foram criados e acei- tigação SIPAER, que tem o objetivo às propostas da ICAO. Isso quer dizer
tos pelas tripulações, observou-se que de prevenir novas ocorrências; e a in- que quando um juiz determina alguma
eles seriam usados para prevenção de vestigação policial, que tem como ob- coisa, a nós só cabe cumprir!
acidentes aeronáuticos. Houve um jetivo estabelecer culpas e responsa- Brigamos para que sejam defini-
acordo com a comunidade internaci- bilidades. Essas investigações devem das as regras do jogo; porque eu,
onal de pilotos que aquilo seria usa- ser independentes e paralelas. Nós bri- como piloto, posso desligar o grava-
do para evitar uma nova ocorrência gamos bastante por isso; não é que o dor, a caixa preta, pois não vou pro-
ou para que se pudesse entender CENIPA negue as informações! duzir provas contra mim mesmo... e
como é que o acidente aconteceu. Quando a polícia nos pede um laudo aí se perde a finalidade da prevenção
Quando esse objetivo é emprega- técnico, tudo bem compartilhar. Por de acidentes aeronáuticos.
do para outro fim, está havendo uma exemplo, um motor foi aberto no
deturpação! Bem, mas como a Polí- Centro Tecnológico Aeroespacial ATT: O CENIPA defende a trans-
cia vai investigar o acidente sem os (CTA) – a nosso pedido. O CTA emi- parência de procedimentos, no caso
dados da caixa preta? te um laudo técnico daquele motor. da investigação?
Então, chega-se à conclusão: ou Esse laudo pode ser compartilhado com Kersul: Sim! Vai ser usado o gra-
se cria outro equipamento para esse fim a polícia, uma vez que não justifica fa- vador de dados para investigação po-
ou se coloca essa possibilidade zer a mesma coisa duas vezes – além licial? Vai! Então todo mundo tem que
para quem trabalha na atividade; ou de fazer o Estado gastar duas vezes! saber que isso vai acontecer. O
seja, para a tripulação. Dependerá dela A polícia vai interpretar o laudo téc- CENIPA não critica isso porque para
aceitar ou não que a caixa preta seja nico como bem entender e o CENIPA nós o que vale é a interpretação dos
usada em julgamento como prova. interpreta segundo sua visão. dados e o gravador tem mil
Mas quem vai julgar ou realmente Porém, quando um piloto nos con- parâmetros para ser analisado; cada
poder condenar quem estava a bordo? ta o que aconteceu, dividindo conosco um que use o que mais lhe aprouver.
sua experiência, sabendo de antemão O que defendemos é que a regra
ATT: Como resolver isso? que a fonte será preservada (pois para seja clara e objetiva, para que a pes-
Kersul: Algumas coisas podem nós ele será somente o piloto em co- soa possa decidir qual atitude tomar.
ser divididas com a investigação poli- mando – não nos interessa nome), ele
cial. O CENIPA defende que o Esta- demonstra que confia em nós e se Continua na próxima edição.
Reprodução
Reprodução
16
16 BoletimTécnico
Boletim TécnicoATT
ATT Março2010
Março 2010
SEGURANÇA DE VOO
Esteira de Turbulência
O
encontro com uma esteira de turbulência pode tas das asas, nas aeronaves que possuem algum disposi-
ser uma experiência surpreendente, tanto para as tivo dos tipos: wingtip fence (A320), winglets (A330/
tripulações como para os passageiros. Esse tipo A340/ A350/ B777), blended winglets (B737NG), raked
de turbulência ocorre de repente, e é geralmente acompa- wingtips (B787), - e, a partir de 2012 Sharklets winglets
nhada por um baque e/ ou vários graus de inclinação de (A320), essas modificações nas pontas das asas também
pitch e/ou bank. Como sua duração é muito breve, e acon- favorecem a redução de até 3,5% no consumo de com-
tece principalmente em ar calmo, os passageiros podem bustível nas rotas mais longas, além de aumentar a carga
ficar preocupados com essa experiência incomum, que disponível e o alcance máximo.
não deve ser confundida com a turbulência atmosférica. O vórtice da esteira de turbulência é basicamente a
turbulência que se forma atrás de um avião que passa
Definição
através do ar. Essa turbulência inclui vários componen-
Toda a aeronave, não importando o tamanho, pro-
duz esteiras de turbulência, mais corretamente chamados tes; os mais importantes são o vórtice de ponta de asa e o
de vórtices de turbulência; esses vórtices são formados jetwash. Jetwash refere-se simplesmente aos gases ex-
por qualquer superfície que produza sustentação. Sus- pulsos rapidamente por um motor a jato, ou mesmo pelas
tentação é gerada pela diferença de pressão entre a parte hélices de um motor convencional. Esse ar é extrema-
superior e inferior das superfícies; a menor pressão ocorre mente turbulento, mas de curta duração. Vórtices de ponta
sobre a superfície e a maior pressão na parte inferior. O de asa, por outro lado, são muito mais estáveis e podem
ar sempre terá a tendência de se movimentar no sentido permanecer no ar por até três minutos após a passagem
da maior para a menor pressão; esse movimento do ar de uma aeronave. O vórtice de ponta de asa é o compo-
desloca-se da raiz para as pontas, e é reduzido, nas pon- nente principal e mais perigoso da esteira de turbulência.
.
As características principais são:
Visto por trás, o vórtice da esquerda gira no sen-
tido horário e o da direita no sentido anti-horário (fig.1).
A esteira de turbulência é especialmente perigosa
.
durante os pousos e as decolagens, por algumas razões:
.
ção de vórtices nas pontas das asas.
Separação Mínima
..
rante as aproximações, e a uma altura muito baixa (menor que 200 ft. acima
da cabeceira da pista);
90% dos acidentes por esteira de turbulência envolvem aeronaves
que pesam menos de 13.600 Kg;
Em 99% dos eventos relatados, os efeitos da esteira de turbulência
são abruptos e ocorrem sem qualquer aviso prévio.
..
No entanto, essa responsabilidade é transferida para tentar contrariar - esse comando reduz a área de susten-
a tripulação, quando aceitamos: tação da aeronave -, utilize somente os comandos de
Manter separação visual da aeronave à frente; aileron, porém, quanto menor a envergadura, maior será
O cancelamento das regras IFR, voando em uma o tempo necessário pra sair da área do vórtice (fig.4).
aproximação visual.
Fatores Contribuintes
.
Outros fatores que aumentam a probabilidade de
encontrar um vórtice de esteira de turbulência:
Aeronaves mais pesadas à frente, voando lento e
..
limpa (sem o uso de flaps ou slats/ com maior ângulo de
ataque);
.
Aeronaves executando uma arremetida;
Pistas paralelas ou que se cruzam;
Condições meteorológicas visuais (VMC), devi-
..
do à redução na separação entre as aeronaves durante
aproximações visuais;
Vento de través entre 3 e 10 kts ou vento de cauda;
.
Atmosfera estável, inversão de temperatura (ao
nascer do sol, por exemplo)
Terreno plano próximo às cabeceiras (terrenos De acordo com o ângulo de inclinação reportado
. ...
irregulares alteram o fluxo de ar, reduzindo a incidência pelos pilotos, a turbulência pode ser dividida em três ca-
de esteiras de turbulência); tegorias:
Durante a aproximação final, um vento de cauda Grave: Inclinação superior a 30 graus.
pode trazer vórtices de esteira de turbulência de volta para Moderada: Inclinação de 10 a 30 graus.
a rampa do glide-slope (fig. 3). Leve: Inclinação inferior a 10 graus.
Pouso
Quando possível, a tripulação deverá pousar a aero-
nave após a área de toque que uma aeronave anterior, de
maior porte, tocou (fig. 8),
.
Power - Push - Roll - Go Around
.
ver baixo e com pouca velocidade, adicionar
potência; você vai precisar...
PUSH – Aliviar a pressão sobre o
manche ou o sidestick, reduzindo um pouco
o ângulo de ataque das asas; isso lhe dará
melhor controle para utilizar os ailerons e re-
Lembre-se:
Se você é o piloto de um A330, A340, B767
ou B777, comunique, no primeiro contato de rá-
Nota: Se outra aeronave cruzar a pista em uso, pró- dio, em alto e bom som para que todos ouçam...
ximo à área de toque, pode se perceber uma leve turbu- TAM 8000 “HEAVY”... assim você alerta o
lência devido ao Jet-Blast/ Jetwash (fluxo de ar proveni- controlador e todas as aeronaves de menor porte
ente do motor) dessa aeronave. da presença da esteira de turbulência…
...
Referências
ICAO – Annex 2 - Rules of the Air
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Airbus – Operations Policy Manual – Guide for JAR-OPS 1 Operations Manual Airbus
Flight Operations Briefing Notes - Operating Environment – Wake Turbulence Awareness / Avoidance
CAA – Civil Aviation Authority of New Zealand - Wake Turbulence Advisory and Safety Publications
ICA 100-12 Regras do Ar e Serviços de Tráfego Aéreo 2009
TAM – CI-071/2008 Wake Turbulence A380
(*Cmte. Marcos Braga é piloto do A319/A320/A321)