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Março 2010 Boletim Técnico ATT 1

Foto: Divulgação

2 Boletim Técnico ATT Março 2010


EDITORIAL ÍNDICE

..........................................................................
AVENTURA

C
om o afastamento do Cmte.
Malheiros, assumi, a convite da
presidência, a gestão da diretoria
de Pilotos/Segurança de Voo. Trata-se de Sobrevivência na Selva - parte III
um novo desafio que espero compartilhar Como fugir de um ataque
com vocês. de jacaré
Todos os meses quando elaboramos ..........................................................................
essa publicação contamos com a TEMPO E AVIAÇÃO
colaboração de todos os associados, para
que o conteúdo levado ao grupo seja
sempre interessante e ainda acrescente
algo positivo no desenvolvimento das
nossas atividades do dia a dia.
E, mais como associado do que
como diretor, convido a todos a
conhecerem essa nova edição do Boletim Verão de extremos e a aviação
Técnico, produzida pelo grupo de voo ..........................................................................
com assuntos pertinentes e muito CIÊNCIA
interessantes, como esteira de Campos eletromagnéticos:
turbulência, Brake Action, uso de invisíveis, mas bem presentes
computadores nas aeronaves, ..........................................................................
sobrevivência na selva frente ao ataque ENTREVISTA - CENIPA
de jacarés e uma entrevista exclusiva
com o chefe do Cenipa, Brigadeiro-do-
Ar Jorge Kersul Filho.
Desejo a todos uma ótima leitura!
Bons voos!
Cmte. Lorenzoni
Diretor de Pilotos/Segurança de Voo Breve Histórico do CENIPA
Entrevista com Brigadeiro Kersul
..........................................................................
SAFETY

.............................................................................................................................................................................................................. Celular só com a porta do avião


aberta e motor desligado
EXPEDIENTE ..........................................................................
Conselho Editorial: SEGURANÇA DE VOO
Presidente: Cmte. Palheta; Vice-presidente: Cmte. Augusto Lobato;
Diretor de Pilotos/Segurança de Voo: Cmte. Lorenzoni

Redação:
Editor: Suzamara Bastos MTB 458221;
Jornalista responsável: Sandra Cappellano Barbosa MTB 13555;
Diagramação e editoração gráfica: Sidnei da Cunha DRT/SP 46219.12879/05-56.

Sede da Associação dos Tripulantes da TAM: Esteira de Turbulência


Rua Baronesa de Bela Vista, 384 - Vila Congonhas - São Paulo - SP O inimigo invisível
CEP: 04612-001 - Tel.: (11) 5533-8150 - jornalismo@att.org.br - www.att.org.br ..........................................................................

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AVENTURA

Sobrevivência na Selva - parte III

Como fugir de um ataque de

jacaré
*Felipe Woyceichoski

4
4 Boletim
Boletim Técnico
Técnico ATT
ATT Março
Março 2010
2010
Reprodução

N
a Selva Amazônica, nos mais
diversos rios e igarapés, ha-
. Se for atacado, tente acertar
os olhos e o focinho do animal; use
bitam espécies peculiares de
nossa fauna. Dentre elas, encontra-
mos os jacarés, sendo que os mais
comuns em nosso País são o jacaré
papo-amarelo e o jacaré-açu (o maior
.
canivetes ou qualquer objeto que pos-
sa feri-lo, até mesmo os seus dedos;
Se você for mordido pelo ja-
caré, dê tapas ou murros no focinho
dele, e com seus próprios dedos tente
de todos).
No Brasil, não há ocorrência de
ataques de jacarés a seres humanos,
embora em outros países, como na
África, por exemplo, existam regis-
.
furar os olhos do animal, para que ele
abra a boca;
Se você estiver preso nas
mandíbulas do jacaré, evite que ele
se sacuda ou role; tente manter a
tros de eventos desse tipo. boca do animal fechada, para que ele
Entretanto, sempre é bom estar não comece a se sacudir.
ciente de algumas precauções que po-
dem evitar que um imprevisível con- Tenha certeza que está fazendo

.
fronto com os jacarés tenha
consequências fatais:
Em contato com o jacaré,
caso você esteja em terra firme, tente
usar algo para cobrir os olhos do rép-
a coisa certa, pois do contrário pode-
rá por em risco sua própria vida.
Selva!

(*Felipe Woyceichoski é Comissário


til; assim ele ficará menos agressivo; Credenciado Cenipa n. 09.100)

..
Como evitar um ataque
Não nade ou ande em áreas sabidamente habitadas por jacarés
(na Amazônia o jacaré pode aparecer em qualquer lugar);
Não nade ou ande sozinho; sempre vistorie a água antes de en-

..
trar (pode-se usar pedras para jogar na água ou uma vara para
bater na superfície da água);
Não deixe braços ou pernas balançando dentro da água quando
estiver em botes ou barcos;

.Caso abata uma caça, faça a limpeza de vísceras longe de fontes


de água, pois do contrário atrairá os jacarés que estejam por perto;
Não capture filhotes, pois qualquer jacaré adulto irá atender um
Reprodução

pedido de socorro de um filhote.

Março
Março 2010
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Técnico ATT
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TEMPO E AVIAÇÃO

Verão de extremos e a aviação *Edson Cabral

A
sociedade brasileira tem ob- atualização anual, os pilotos e Des- Nas regiões Sudeste e Sul tem-
servado, no atual período de pachantes Operacionais de Voo da se observado, além da atuação do El
verão, secas intensas em áre- TAM acerca das previsões feitas pelo Niño, também a presença marcante
as do norte e do nordeste, como INPE (Instituto de Pesquisas Espaci- da Zona de Convergência do Atlânti-
Roraima e Ceará, em contraposição ais) indicando tais cenários para a atual co Sul (ZCAS), faixa de nebulosida-
às fortes chuvas no sul e sudeste do temporada de verão, tendo em vista, de, ventos e umidade que se desloca,
Brasil, além de extremos de calor em particularmente, a configuração do principalmente no verão, da região
várias áreas dessas regiões. fenômeno de El Niño, responsável por amazônica, passando pela região Cen-
Em outubro de 2009, o autor várias alterações no comportamento tro Oeste, Sudeste e Sul atingindo o
desse texto já alertava, nas aulas de climático no planeta. oceano Atlântico. A ZCAS contribui
de forma decisiva para as precipita-
ções por onde se desloca.
Além disso, em particular nas
áreas mais urbanizadas, tendo como
exemplo notável a cidade de São Pau-
lo, o fenômeno das ilhas de calor (áre-
as de concentração de calor devido
ao concreto, asfalto, veículos e pesso-
as) associado à poluição atmosférica
(que contribuem como núcleos de
condensação para a formação de nu-
vens e das chuvas) e à verticalização
(grande quantidade de edifícios que
tornam o fluxo de ar turbulento) faz
com que as chuvas sejam mais inten-
sas e concentradas, causando deze-
nas de pontos de alagamentos e, por
vezes, causando períodos de restri-
Repercussões do fenômeno do El Niño no globo no período de dezembro a fevereiro
Fonte: http://enos.cptec.inpe.br/ ção nas operações do aeroporto de
Congonhas; um dos mais movimen-
tados do território brasileiro. Nesse
O El Niño continua atuando no tal informação e com as previsões dos aeroporto, conforme levantamento
Pacífico Equatorial e as temperatu- modelos do INPE, se espera que o feito no jornal O Estado de São Pau-
ras da superfície do oceano estão al- fenômeno continue ocorrendo até lo, em janeiro de 2010, as condições
cançando 2ºC além da média. Com este mês de março. meteorológicas causaram a interrup-
ção das operações nos dias 4, 6, 9,
11, 26, 28 e 31.
Reprodução

Anomalia de temperatura da superfície do mar de 08 a 14/02/2010


Fonte: http://enos.cptec.inpe.br/

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No dia 4 de janeiro, as rajadas
atingiram 48 kt de intensidade por
aproximadamente 20 minutos, estan-
do associadas a trovoadas e chuva
forte, conforme informações obtidas
no site do REDEMET.
No município de São Paulo,
somente em janeiro desse ano ocor-
reu um total de 480,5 mm de precipi-
tação, o maior valor pluviométrico
desde 1947, significando um total de
480,5 litros de água despejados em
um metro quadrado; quase o dobro
da média histórica para esse mês.
A região metropolitana de São
Paulo também apresenta uma
frequência bastante grande na quan-
tidade de descargas elétricas, par-
ticularmente no verão, resultando
em raios associados às nuvens
cumulonimbus. O site do INPE
http://satelite.cptec.inpe.br/raio/,
mostra a distribuição das descargas
elétricas a partir de uma imagem de
satélite meteorológico em relação à
sua quantidade por áreas (pixels) de
100 km² no território nacional, e
pode ser uma boa ferramenta no
planejamento de voos. Na figura a
seguir pode-se observar uma imagem
do satélite GOES-12 com a distribui-
ção das descargas elétricas na Amé-
Distribuição de raios na América do Sul – dia 10/02/2010 às 16h30 UTC
rica do Sul. Em vermelho se encon- Fonte: http://satelite.cptec.inpe.br/raio/index.jsp
tram os sensores de descargas.
O Grupo de Eletricidade Atmos-
férica (ELAT) do INPE coloca o Bra- dência de raios e mostra que o fenô- deslocamento de tripulações e de pas-
sil no topo da lista mundial de inci- meno está aumentando em frequência, sageiros é comprometido por tais
o que pode ter vinculação com as al- eventos em áreas urbanas devido às
terações do clima do planeta. Os pes- fortes precipitações que causam inun-
Aeroporto de Congonhas em condição de chuva.
Fonte: http://www.airliners.net
quisadores daquele grupo sugerem, dações de rios e córregos, alagamen-
como hipótese, que a cada grau de tos e interrupção de importantes vias
elevação de temperatura do globo públicas.
poderia haver uma incidência de 10% O que se pode concluir, de for-
a 20% maior nas descargas elétricas. ma sucinta, é que uma conjunção de
Somente nos últimos dez anos o Brasil fatores meteorológicos de várias es-
foi atingido por 57 milhões de raios e o calas tem sido responsável pelos epi-
número de vítimas desse fenômeno sódios críticos de inundações nas re-
chegou a 1.321 pessoas. giões Sul e Sudeste do Brasil, trazen-
Mas o que isso tudo tem a ver do sérias repercussões para os vári-
com a aviação? Não somente os aero- os ramos da sociedade, entre eles a
portos tem apresentado vários episó- aviação, com atrasos, cancelamentos
dios de restrição meteorológica devido de voos e risco às operações aéreas.
às chuvas fortes com forte redução de (*Edson Cabral é Docente
visibilidade e teto, ventos fortes com da Universidade Anhembi Morumbi
rajadas, e, ocasionalmente granizo e e da Pontifícia Universidade
tormentas, como também o próprio Católica de São Paulo)

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CIÊNCIA

Reprodução
Campos eletromagnéticos:
invisíveis, mas bem presentes
*Ane Tonon

Onipresentes tanto no nosso meio profissional como doméstico, as radiações


eletromagnéticas suscitam várias questões sobre seus efeitos para a saúde.
No mundo do trabalho, as fontes de exposição são cada vez mais amplas,
pois os limites autorizados são globalmente cinco vezes
superiores àqueles do grande público.

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Março 2010
O que é um campo sultado em 2007. Eles ressaltaram que quanto mais o tamanho do compri-
eletromagnético? uma utilização regular não aumenta o mento de onda se aproximar do ta-
O campo eletromagnético é risco de desenvolver um desses tu- manho da malha, mais eficaz será a
formado por campos elétricos e mores. Contudo, o risco de glioma blindagem no seu interior.
magnéticos perpendiculares entre si aumenta entre os maiores consumi- O fato lendário/histórico inte-
propagando-se num dado meio. A luz dores (aqueles que acumulam mais de ressante é que nenhum cientista da
visível é radiação eletromagnética, só 22 horas por mês). época de Faraday acreditava na pos-
que de energia maior que outros cam- sibilidade de haver essa isolação no
pos como os usados para telefonia ce- seu interior. Para provar que era pos-
lular, que são invisíveis aos nossos Quais são os efeitos? sível, Faraday colocou dentro da gai-
olhos. Esses campos também são cha- Exposições a radiações não- ola seu filho recém-nascido, vendan-
mados de radiação não ionizante, pois ionizantes acima do limite de 4,35 do-o os olhos e passando uma des-
não possuem energia suficiente para watts/m2 comprovadamente produ- carga de 25.000 volts na superfície.
arrancar elétrons de átomos ou molé- zem (dependendo da potência e da Perplexos, todos ficaram ainda mais
culas (ou seja, realizar ionização). Ape- frequência do campo, assim como do incrédulos quando Faraday retirou seu
nas a radiação ultravioleta extrema, os tempo de exposição): catarata, quei- filho sem nenhum arranhão!
raios X e os raios gama (também invi- maduras, alterações em válvulas car- Outra consequência interessante
síveis) são radiações eletromagnéticas díacas e marca-passos, derrame, pa- do princípio de funcionamento da
ionizantes e, portanto, mais danosas. rada cardíaca, má formação fetal e gaiola de Faraday é o fato de um car-
interferência em aparelhos eletroele- ro ser um dos lugares mais seguros
trônicos. Está em estudo a possibilida- para se proteger de uma tempestade
Quem emite esse de de também produzirem cansaço, com raios, devido a geometria - e não
campo? mudanças de comportamento, perda ao fato dos pneus serem de borracha
As antenas emitem sinais de ra- de memória, mal de Parkinson, mal (se essa fosse a causa, um trem ja-
diação eletromagnética que são rece- de Alzheimer, alterações genéticas, mais poderia andar em um dia chu-
bidos pelos celulares, rádios e TVs câncer e redução de fertilidade. voso!). A superfície do carro funcio-
para depois serem decodificados na na como as malhas da gaiola, permi-
informação desejada: som, imagem ou tindo que haja uma reorganização das
outro tipo de dado. Com a proliferação Onde estamos cargas elétricas de modo que não haja
de antenas emissoras de todos os ti- protegidos? nenhuma influência de algum campo
pos, em especial de telefonia celular, Na gaiola de Faraday. O físico eletromagnético no interior. Assim,
aumentaram os estudos sobre os ris- Michael Faraday (1791-1867) inven- numa improvável queda de raio so-
cos dessas radiações não-ionizantes. tou essa gaiola quando estudava o bre um carro, os ocupantes apenas
comportamento das cargas elétricas se assustariam com o barulho, mas não
no interior de um corpo. Largamente tomariam nenhum choque elétrico. In-
Telefone celular utilizado em bancos, instalações de felizmente, muitas pessoas não sabem
Existe um estudo internacional segurança, na aviação e em compo- desse fato e acabam morrendo em cir-
em andamento sobre a relação do uso nentes de computadores, entre outros. cunstâncias que são evitáveis; por
de aparelhos celulares e aparecimen- Trata-se de um equipamento que exemplo, quando um carro colide com
to de tumores na cabeça dos usuári- blinda o seu interior contra manifes- um poste e os fios caem sobre o car-
os. Levado para 13 países e coorde- tações ou perturbações causadas por ro, muitos tem a reação de sair corren-
nado pelo CIRC (Centro Internacio- campos eletromagnéticos que possam do ao invés de ficar dentro do veículo,
nal de Pesquisa sobre o Câncer), o criar ou impelir carga elétrica, utili- que é um lugar mais seguro.
estudo considera como patologia: o zando um material condutor. Essa Fontes:
http://www.fisica.uel.br/c&t/2003222.html
glioma do cérebro, o meningioma blindagem é possível quando o com- http://www.travail-et-securite.fr
cerebral, o neuroma do nervo acústi- primento de onda dos campos eletro- http://www.praticandofisica.com.br/curiosidades-da-
fisica/gaiola-de-faraday.htm
co e o tumor da parótida. Pesquisa- magnéticos são maiores do que o ta-
dores franceses apresentaram um re- manho da malha da gaiola. Assim, (*Ane Tonon é Comissária e Jornalista)

Março 2010
Março 2010 Boletim Técnico
Boletim Técnico ATT
ATT 99
ENTREVISTA

É preciso definir regras


no cenário da Aviação
CENIPA: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
Entrevista com Brigadeiro-do-Ar Jorge Kersul Filho,
chefe do CENIPA

foto: Verginia Pereira

1010 Boletim
Boletim Técnico
Técnico ATT
ATT Março
Março 2010
2010
Breve Histórico do CENIPA são de uma nova filosofia: a preven- No ano de 2007, foram criadas,
ção de acidentes aeronáuticos. por meio da Portaria nº 2/GC3, de 5
Em 1971, o Decreto nº 69.565 de janeiro de 2007, sete novas Orga-

A
década de 20 marcou o de-
senvolvimento da aviação. institui o Centro de Investigação e nizações Militares, denominadas Ser-
Esse desenvolvimento, por sua Prevenção de Acidentes Aeronáuticos viço Regional de Investigação e Pre-
vez, impôs a necessidade de Segu- (CENIPA), como órgão central do venção de Acidentes Aeronáuticos
rança de Voo no mundo e no Brasil. A SIPAER. Uma nova filosofia foi en- (SERIPA), encarregadas do planeja-
aviação militar, iniciada com o Exér- tão criada e começou a ser difundida. mento, gerenciamento e execução das
cito e a Marinha, assim como a avia- Os acidentes passaram a ser vistos a atividades de Segurança de Voo, nas
ção civil, também começava a regis- partir de uma perspectiva global e di- suas respectivas regiões de atuação.
trar um número significativo de aci- nâmica. A palavra inquérito foi incon- Devido à distribuição ao longo
dentes e incidentes. dicionalmente substituída. As inves- do território brasileiro, os SERIPA
Em 1941, é criado o Ministério tigações passaram a ser realizadas facilitaram a disseminação da doutri-
da Aeronáutica e a Inspetoria-Geral com um único objetivo: a “prevenção na de Segurança de Voo no país:
da Aeronáutica, o primeiro órgão a de acidentes aeronáuticos”. SERIPA I (Belém), SERIPA II (Reci-
investigar os acidentes aeronáuticos. O conhecimento adquirido com fe), SERIPA III (Rio de Janeiro),
Essas investigações, inicialmente, organizações de segurança de voo SERIPA IV (São Paulo), SERIPA V
eram realizadas com o objetivo de estrangeiras e a experiência acumu- (Porto Alegre), SERIPA VI (Brasília)
apurar o grau de responsabilidade dos lada ao longo dos anos aperfeiçoaram e SERIPA VII (Manaus).
envolvidos e tinham caráter punitivo. a doutrina de segurança de voo. Des- A Divisão de Formação e
Em 1948, o Decreto nº 24.749 sa forma, foram desenvolvidas as Aperfeiçoamento do CENIPA
cria o Serviço de Investigação de Aci- bases de pesquisa fundamentadas no Paralelo ao trabalho de investi-
dentes Aeronáuticos. A 3ª Divisão da trinômio: “o Homem, o Meio e a Má- gação de acidentes, o CENIPA capa-
Inspetoria do Estado-Maior fica en- quina”, pilar da moderna filosofia cita recursos humanos envolvidos na
carregada da responsabilidade de co- SIPAER. Assim, as investigações são aviação civil e militar.
letar e analisar os inquéritos de Aci- concentradas nos aspectos básicos,
dentes Aeronáuticos (IAA). De 1948 identificados e relacionados com a Cursos oferecidos
a 1958, aproximadamente, o Sistema
de Investigação e Prevenção de Aci-
dentes Aeronáuticos (SIPAER) vai se
desenvolvendo, graças também à che-
atividade aeronáutica, grupados nos
fatores Humano, Material e
Operacional.
O Fator Humano compreende
..
pelo CENIPA
Curso de Segurança de Voo
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Fator Humano
gada de novos militares à Inspetoria-
Geral.
Em 1958, o Tenente-Coronel
o homem sob o ponto de vista bioló-
gico em seus aspectos fisiológicos e
psicológicos. O Fator Material englo-
.
(CBPAA-FH)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Fator material
Aviador Nilson de Queiroz Coube
começa a chefiar a 3ª Divisão da Ins-
petoria-Geral do Estado-Maior da
ba a aeronave e o complexo de enge-
nharia aeronáutica. O Fator
Operacional compreende os aspectos
.
(CBPAA-FM)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Manutenção
Aeronáutica, sob a chefia do Inspe-
tor Brigadeiro-do-Ar Américo Leal.
Também, em 1958, o Primeiro-Te-
que envolvem o homem no exercício
da atividade, incluindo os fenômenos
naturais e a infraestrutura.
.
de Aeronaves (CBPAA-MA)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Controle do
nente Aviador Hilton Paiva realiza es-
tudos baseados em serviços de inves-
tigação dos EUA, França e Argentina.
O crescimento da atividade aé-
rea no país provocou a necessidade
de dinamizar as atividades de segu-
.
Espaço Aéreo (CBPAA-CEA)
Curso de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos – Atividades
A Portaria nº 52 de 19 de janei-
ro de 1959 concede autonomia admi-
nistrativa à Inspetoria-Geral. Um pou-
rança de voo. Conceitos foram
atualizados e, conforme o decreto
87.249/82, de 7 de junho de 1982, o
.
Aeroportuárias (CBPAA-AA)
Curso Básico de Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos
co depois, o Decreto nº. 45.975, de
11 de maio de 1959, cria a Inspeto-
CENIPA passou a ser uma organiza-
ção autônoma. .
(CBPAA)
Curso de Gerenciamento da
ria-Geral da Aeronáutica e uma 4ª
Divisão absorve as tarefas da 3ª: aná-
lise e conclusão das investigações de
Em 2006, o cargo de Chefe do
CENIPA passa a ser exercido por um
oficial-general. O primeiro oficial-ge-
.Segurança Operacional (SMS)
Estágio de Gestão Avançada da
Prevenção de Acidentes -
acidentes aeronáuticos.
Depois de alguns anos, surge
um novo cenário: a utilização das
tecnologias, o desenvolvimento dos
neral a chefiar a organização militar
foi o Brigadeiro-do-Ar Jorge Kersul
Filho, designado pelo Decreto de 26
de outubro de 2006, publicado no
.
Aviação Militar (EGAP-MIL)
Estágio de Gestão Avançada da
Prevenção de Acidentes -
Aviação Civil (EGAP-CIV)
recursos humanos e os estudos das DOU, Seção 2, nº 207, de 27 de ou-
operações aéreas incentivam a difu- tubro de 2006. Fonte: Assessoria de Imprensa do Cenipa

Março 2010 Boletim Técnico ATT 11


O chefe do Centro participação que a Anac pode dar à
de Investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos
é regular e fiscalizar. A participação
Prevenção de Acidentes da agência no seg. voo (segurança de
Aeronáuticos (CENIPA), voo) é muito importante na homolo-
Brigadeiro Jorge Kersul gação das aeronaves que entram no
Filho, recebeu a ATT na Brasil e na homologação das empre-
sas de manutenção.
Organização Militar em
Brasília, em dezembro de ATT: A Anac atua também em re-
2009, para uma entrevista lação à segurança de voo?
Kersul: Devido a especificidades
exclusiva, na qual foram da língua portuguesa, no Brasil, em
abordados temas de relação à segurança de voo falamos
extrema relevância para o em termos de Safety e Security.
Safety trata de segurança
grupo de voo, como operacional e Security trata de segu-
veremos a seguir: rança quanto a atos ilícitos,
terrorismo. Esta, certamente, perten-
ATT: A criação da Anac modifi- ce toda à Anac e à Infraero.
cou a área de atuação do CENIPA?
Kersul: A Anac foi criada em ATT: O Ministério da Defesa se
2005 por decisão do Estado; compa- posicionou a respeito dessas questões?
rada com o CENIPA a Anac é muito Kersul: O Ministério está ciente
jovem, embora tenha recebido todo o dessas questões já há dois anos. Cabe
acervo do DAC (Departamento de a ele separar as responsabilidades da
Aviação Civil) – este sim, mais antigo Anac e do CENIPA e estabelecer as

Arquivo
que o próprio CENIPA – e é natural áreas de atuação claramente.
que quando há uma mudança haja
também um período de adaptação. ATT: Ao CENIPA caberia a res-
Estamos nos adaptando a essa nova ponsabilidade de prevenção dos aci-
realidade – que foi a criação de uma nado ao Sisceab (Sistema de Contro- dentes aeronáuticos?
agência para regular e fiscalizar a avi- le Aeroespacial Brasileiro), ao Decea Kersul: A prevenção de aciden-
ação civil no Brasil – e temos certeza (Departamento de Controle do Espa- tes aeronáuticos é responsabilidade
de que todos querem melhorar o ço Aéreo) e ao SIPAER – então, na de todos; é da empresa, é do comis-
transporte aéreo no País. Entretanto, própria lei de criação da Anac sário, é do chefe de cabine, do des-
as áreas de atuação desses dois ór- foram excluídas duas coisas: o pachante, do cara que leva a baga-
gãos estão confusas. Sisceab e o SIPAER. gem para dentro do avião, do cara que
O que acontece é que a legisla- Isso realmente causa um proble- tira a bagagem do avião, do pessoal
ção brasileira que está em vigor ma de interpretação. Os membros da do check in – todos nós somos res-
estabelece responsabilidades para Anac tem uma interpretação da legis- ponsáveis por prevenção de aciden-
ambas as partes: no caso do lação; nós temos outra... tes aeronáuticos!
CENIPA, a responsabilidade está re- Como nós não chegamos a um
lacionada à prevenção e investigação acordo, há que se ter alguém ou um ATT: Mas como trabalhar esse
de acidentes aeronáuticos. Mas, mes- órgão que resolva esse problema de- conceito? Como agir quando há
mo dentro dessa legislação, no Códi- finitivamente e isso está a cargo do irresponsabilidade?
go Brasileiro de Aeronáutica está es- Ministério da Defesa. Kersul: O CENIPA trabalha mui-
pecificado que prevenção de aciden- Nós esperamos que as áreas de to com filosofia; formação; conceitu-
tes aeronáuticos é de responsabilida- atuação e as responsabilidades sejam ação; convencimento; nós não somos
de de todos que trabalham no setor... bem definidas para que ambos – favoráveis a perdoar ou aceitar viola-
Então, da mesma forma que o CENIPA e Anac – possam trabalhar ções – essas devem ser punidas – nós
CENIPA (órgão central do SIPAER – com mais excelência; nós só quere- somos contra a punição dada a um
Sistema de Investigação e Prevenção mos que seja definido quem é respon- erro humano, pois todos somos falí-
de Acidentes Aeronáuticos) tem essa sável pelo quê e quem vai responder veis, todos podemos cometer erros.
responsabilidade, a Anac também pelo quê. O CENIPA não compactua com vio-
tem... Na legislação da Anac está pre- lações – quando alguém viola uma le-
visto que essa agência foi criada para ATT: Como a Anac pode melhor gislação, tem que responder por isso!
regular e fiscalizar tudo que está re- contribuir para a prevenção de aci- Só que não será o CENIPA que
lacionado ao sistema de aviação civil, dentes aéreos no Brasil? punirá; nós não temos essa prerroga-
com exceção do que estiver relacio- Kersul: Acredito que a melhor tiva.

12 Boletim Técnico ATT Março 2010


ATT: Em relação à investigação sente à vontade para ser fiel aos fa-
de acidentes aéreos, qual a posição tos. Somente ele pode nos esclarecer
do CENIPA? o que aconteceu e ele sabe que esse
Kersul: No caso da investigação relato será usado para que outros não
– que nós chamamos aqui no Brasil cometam o mesmo erro. Agora, ima-
de investigação SIPAER, que tem gine se o depoimento dele – no qual
como objetivo prevenir novos aciden- ele confessa que cometeu um erro
tes – nós defendemos que deve ter involuntário – for compartilhado pela
uma certa preservação das fontes de polícia! Ele terá produzido prova con-
informação. tra si mesmo e nós vamos intermediar
No Brasil, a própria Constituição isso?
prevê que ninguém é obrigado a pro-
duzir provas contra si mesmo. ATT: É um caso de esfera de com-
Então, quando um piloto, uma tri- petências?
pulação, aceita que vá a bordo uma Kersul: O País tem que definir o
pessoa que vai acompanhar o desem- quê vai ser usado para o quê... Se fi-
penho de cada um deles, ela sabe que car definido que o depoimento da tri-
o objetivo daquilo é melhorar o de- pulação poderá ser usado para inves-
sempenho; é melhorar a atividade, é tigação policial, nós mesmos, inves-
prevenir novos acidentes, é melhorar tigadores SIPAER, não vamos provo-
o ambiente da equipe que está dentro car a pessoa para que ela produza
do avião... Veja bem, a equipe que está provas; ou vamos criar mecanismos
no avião não está lá para servir lan- para que isso não seja usado; por exem-
che; a equipe está ali para, no caso plo, não vamos escrever nada; a gen-
de acidente, ajudar os passageiros! te ouve o que o piloto falou – se ele
Então, quando a tripulação aceita quiser falar – e não registramos nada.
que vá um observador a bordo, ela Precisamos saber que regra vale
Arquivo

sabe que aquilo não vai ser usado no País, porque nós assinamos uma
contra ela. convenção de Chicago, na qual acei-
Outro ponto: quando os equipa- tamos o que foi estabelecido
mentos que estão a bordo (gravado- pela própria ICAO, que diz que a lei do
res de voz e de dados – as famosas do tenha duas investigações: a inves- País tem ascendência às sugestões e
caixas pretas) foram criados e acei- tigação SIPAER, que tem o objetivo às propostas da ICAO. Isso quer dizer
tos pelas tripulações, observou-se que de prevenir novas ocorrências; e a in- que quando um juiz determina alguma
eles seriam usados para prevenção de vestigação policial, que tem como ob- coisa, a nós só cabe cumprir!
acidentes aeronáuticos. Houve um jetivo estabelecer culpas e responsa- Brigamos para que sejam defini-
acordo com a comunidade internaci- bilidades. Essas investigações devem das as regras do jogo; porque eu,
onal de pilotos que aquilo seria usa- ser independentes e paralelas. Nós bri- como piloto, posso desligar o grava-
do para evitar uma nova ocorrência gamos bastante por isso; não é que o dor, a caixa preta, pois não vou pro-
ou para que se pudesse entender CENIPA negue as informações! duzir provas contra mim mesmo... e
como é que o acidente aconteceu. Quando a polícia nos pede um laudo aí se perde a finalidade da prevenção
Quando esse objetivo é emprega- técnico, tudo bem compartilhar. Por de acidentes aeronáuticos.
do para outro fim, está havendo uma exemplo, um motor foi aberto no
deturpação! Bem, mas como a Polí- Centro Tecnológico Aeroespacial ATT: O CENIPA defende a trans-
cia vai investigar o acidente sem os (CTA) – a nosso pedido. O CTA emi- parência de procedimentos, no caso
dados da caixa preta? te um laudo técnico daquele motor. da investigação?
Então, chega-se à conclusão: ou Esse laudo pode ser compartilhado com Kersul: Sim! Vai ser usado o gra-
se cria outro equipamento para esse fim a polícia, uma vez que não justifica fa- vador de dados para investigação po-
ou se coloca essa possibilidade zer a mesma coisa duas vezes – além licial? Vai! Então todo mundo tem que
para quem trabalha na atividade; ou de fazer o Estado gastar duas vezes! saber que isso vai acontecer. O
seja, para a tripulação. Dependerá dela A polícia vai interpretar o laudo téc- CENIPA não critica isso porque para
aceitar ou não que a caixa preta seja nico como bem entender e o CENIPA nós o que vale é a interpretação dos
usada em julgamento como prova. interpreta segundo sua visão. dados e o gravador tem mil
Mas quem vai julgar ou realmente Porém, quando um piloto nos con- parâmetros para ser analisado; cada
poder condenar quem estava a bordo? ta o que aconteceu, dividindo conosco um que use o que mais lhe aprouver.
sua experiência, sabendo de antemão O que defendemos é que a regra
ATT: Como resolver isso? que a fonte será preservada (pois para seja clara e objetiva, para que a pes-
Kersul: Algumas coisas podem nós ele será somente o piloto em co- soa possa decidir qual atitude tomar.
ser divididas com a investigação poli- mando – não nos interessa nome), ele
cial. O CENIPA defende que o Esta- demonstra que confia em nós e se Continua na próxima edição.

Março 2010 Boletim Técnico ATT 13


SAFETY

Reprodução

14 Boletim Técnico ATT Março 2010


Celular só com a porta do avião
aberta e motor desligado
P
raticamente indispensável hoje, o voo; por isso, aparelhos como rá-
o telefone celular virou um vi- dios e telefones celulares emitem cam-
lão dentro das aeronaves para pos eletromagnéticos que podem in-
os comissários. De um lado, a regra: terferir na leitura das informações feita
não pode; do outro, o passageiro de- pelos equipamentos de voo e, assim,
terminado a utilizar o aparelho. Exis- descontrolar a aeronave.
tem muitos mitos sobre esse assun- Existem muitos mitos sobre a
to, mas a norma é clara: hoje, na TAM função Fligt Mode, mas a verdade é
é proibido o uso do celular depois que que atualmente não há uma manei-
as portas são fechadas e os motores ra padrão para identificar se a fun-
ligados. Até esse momento, o uso é ção está ativada ou não; o que difi-
O uso do celular permitido. culta a verificação do mesmo pelo
Para passar o tempo, muitos comissário(a).
no avião pode passageiros recorrem a estratégias Esse dispositivo tem a finalida-
como escrever no laptop, jogar paci- de de bloquear a função de comuni-
causar uma pane ência no PDA ou fazer fotos usando cação com outros aparelhos eletrôni-
não-perceptível câmera digital. Até aí, tudo bem: mui- cos; ou seja, desliga as funções de
tos aparelhos são permitidos depois rádio, telefone celular, wi-fi, bluetooth
nos instrumentos, que o avião decola e atinge altitude de e infravermelho (transmissão de da-
atrasar a resposta cruzeiro. Mas o telefone celular deve dos sem fio), para que não interfira
permanecer desligado durante todo o nos equipamentos da cabine de co-
de alguma voo, mesmo estando na função Flight mando.
Mode, Off Line; entre outras, por- Apesar dessas funções estarem
informação que o aparelho emite ondas eletromag- desativadas, o aparelho fica liberado
importante e néticas, que podem, sim, causar sé- para outras, como agenda, calcula-
rios problemas à aeronavegabilidade dora, bloco de notas, jogos etc - os
prejudicar o voo da aeronave. quais só estariam liberados para uso
Muitos estudos foram feitos durante voos de cruzeiro. Mesmo
para identificar a interferência dos assim a empresa determina que para
aparelhos eletrônicos, incluindo os segurança da aeronave, a utilização de
telefones celulares, na operação da todos os equipamentos eletrônicos
aeronave. O que se pode dizer sobre portáteis que possuam a função
o assunto é que a emissão eletromag- FLIGHT MODE é PROIBIDA duran-
nética proveniente desses dispositivos te todas as fases do voo, o uso é per-
(os DEPs) pode interferir nos siste- mitido somente em solo, com as por-
mas de comunicação presentes nas tas da aeronave abertas e motores
cabines dos aviões e causar proble- desligados.
mas aos comandantes, que, no mo- A empresa trabalha com preven-
mento em que um aparelho é ligado, ção; por isso, cada comissário(a) pre-
percebem oscilações suspeitas nos cavido deve desenvolver essa filoso-
instrumentos de trabalho. fia a bordo, porque é uma questão de
O celular, por exemplo, pode segurança para todos. E caso alguém
causar uma pane não-perceptível nos tenha esquecido o aparelho ligado e o
instrumentos, atrasar a resposta de comandante sentir oscilações estra-
alguma informação importante e pre- nhas nos instrumentos da cabine de
judicar o voo. Numa aeronave quase comando, como demora no tempo de
todos os sistemas são controlados resposta do altímetro, por exemplo,
eletronicamente, desde o motor até a ele poderá pedir aos passageiros que
comunicação com a torre que orienta desliguem o aparelho.

Março 2010 Boletim Técnico ATT 15


Uso liberado em Uso proibido em todas
voo cruzeiro as fases de voo

Laptops/Notebooks (cujos Qualquer tecnologia de transmis-


são sem fio que utiliza radio
acessórios acima não sejam frequência para se comunica-
utilizados) rem com outros equipamentos
Câmeras filmadoras e de vídeo (wireless, wi-fi, bluetooth etc)
Transmissores de controle
Gravadores de fita K7 remoto, microfones sem fio
Barbeadores elétricos Transceptores e transmissores de
rádio e GPS
Jogos eletrônicos (gameboy etc)
Acessórios de laptops como
Aparelhos de CDs (compact disk) mouse sem fio, impressora etc.
Cada Aparelhos de DVDs (digital vídeo Pagers (repeptores de
disc), VCDs (vídeo compact mensagens)
comissário(a) disk), LDs (laser disks) e DAT
deve (digital audio tape)
Uso permitido em todas
desenvolver a Aparelhos tocadores de áudio MP3 as fases de voo
filosofia da Aparelhos tocadores de áudio / Máquinas fotográficas com flash
prevenção, vídeo MP4 embutido
porque é uma Máquinas fotográficas digitais Marca passos
questão de Relógios eletrônicos
PDAS (personal digital assistant;
segurança como palmtops, pocket PC, Aparelhos auditivos
para todos handhelds Equipamentos médicos eletrônicos

Reprodução

16
16 BoletimTécnico
Boletim TécnicoATT
ATT Março2010
Março 2010
SEGURANÇA DE VOO

Esteira de Turbulência

O inimigo invisível *Cmte. Marcos Braga


A menos que você esteja
olhando para uma das
belas fotografias do amigo
Ricardo Beccari ou de
Paul Bowen, o vórtice de
uma esteira de turbulência
é aquele inimigo invisível,
que ninguém quer à visita

Foto: Vórtices no sentido anti-horário,


gerados pela asa direita de uma aeronave
agrícola (Thrust Commander).
Fotografia NASA, Langley Research Center

Ilustrações, gráficos e tabelas:


Cmte. Marcos Braga

O
encontro com uma esteira de turbulência pode tas das asas, nas aeronaves que possuem algum disposi-
ser uma experiência surpreendente, tanto para as tivo dos tipos: wingtip fence (A320), winglets (A330/
tripulações como para os passageiros. Esse tipo A340/ A350/ B777), blended winglets (B737NG), raked
de turbulência ocorre de repente, e é geralmente acompa- wingtips (B787), - e, a partir de 2012 Sharklets winglets
nhada por um baque e/ ou vários graus de inclinação de (A320), essas modificações nas pontas das asas também
pitch e/ou bank. Como sua duração é muito breve, e acon- favorecem a redução de até 3,5% no consumo de com-
tece principalmente em ar calmo, os passageiros podem bustível nas rotas mais longas, além de aumentar a carga
ficar preocupados com essa experiência incomum, que disponível e o alcance máximo.
não deve ser confundida com a turbulência atmosférica. O vórtice da esteira de turbulência é basicamente a
turbulência que se forma atrás de um avião que passa
Definição
através do ar. Essa turbulência inclui vários componen-
Toda a aeronave, não importando o tamanho, pro-
duz esteiras de turbulência, mais corretamente chamados tes; os mais importantes são o vórtice de ponta de asa e o
de vórtices de turbulência; esses vórtices são formados jetwash. Jetwash refere-se simplesmente aos gases ex-
por qualquer superfície que produza sustentação. Sus- pulsos rapidamente por um motor a jato, ou mesmo pelas
tentação é gerada pela diferença de pressão entre a parte hélices de um motor convencional. Esse ar é extrema-
superior e inferior das superfícies; a menor pressão ocorre mente turbulento, mas de curta duração. Vórtices de ponta
sobre a superfície e a maior pressão na parte inferior. O de asa, por outro lado, são muito mais estáveis e podem
ar sempre terá a tendência de se movimentar no sentido permanecer no ar por até três minutos após a passagem
da maior para a menor pressão; esse movimento do ar de uma aeronave. O vórtice de ponta de asa é o compo-
desloca-se da raiz para as pontas, e é reduzido, nas pon- nente principal e mais perigoso da esteira de turbulência.

Março 2010 Boletim Técnico ATT 17


Características
Devido ao fato de que não existir uma técnica para
.
Duração;
Com ar calmo: até 100 segundos;
Com Vento de Superfície inferior a 5 kts: até 85
visualizar ou prever os vórtices das esteiras de turbulência,
é importante compreender as suas características a fim de segundos;
se preparar para antecipar e evitar as prováveis zonas de Com Vento de Superfície entre 5 e 10 kts: cerca de
encontro com esses fenômenos. 30 segundos

.
As características principais são:
Visto por trás, o vórtice da esquerda gira no sen-
tido horário e o da direita no sentido anti-horário (fig.1).
A esteira de turbulência é especialmente perigosa

.
durante os pousos e as decolagens, por algumas razões:

Durante os pousos e as decolagens os aviões ope-


ram em baixas altitudes e baixa velocidade com grande
ângulo de ataque. Essa altitude de voo aumenta a forma-

.
ção de vórtices nas pontas das asas.

Pousos e decolagens são os momentos em que


um avião está operando próximo a sua velocidade míni-
ma (Velocidade de Stall) - significando que há pouca mar-
gem para a recuperação, no caso de encontrar o vórtice
de uma esteira de turbulência deixada pela aeronave à fren-
te. Por esse motivo existem as separações mínimas entre
aeronaves.

Separação Mínima

.. Os vórtices afastam-se lateralmente da aeronave


que os originou;
Os controladores de tráfego aéreo são obrigados a
respeitar um espaçamento mínimo longitudinal, quando a
separação vertical entre aeronaves é inferior a 1000 fts:

..Razão de descida da esteira de turbulência: de


300 a 500 ft. /min;
A esteira de turbulência estabiliza-se de 500 a 900
ft. abaixo da aeronave que originou os vortices
Movimento lateral de 5 kt, ao atingir o solo (fig.2).
As aeronaves são separadas por categorias de
MTOW (Max. Take-Off Weight/ peso máximo de deco-
lagem); quanto maior o peso, maior a esteira de turbulên-
cia gerada.

A ICAO divide as aeronaves em 4 categorias pelo


MTOW:

A NASA ASR divide as aeronaves em outras 7 cate-


gorias, também pelo MTOW:

Fonte: U.S. National Aeronautics and Space Administration (NASA)


Aviation Safety Reporting System (ASRS)

18 Boletim Técnico ATT Março 2010


.
Fatos e Estatísticas
A maioria dos acidentes, devido à esteira de turbulência, ocorre du-

..
rante as aproximações, e a uma altura muito baixa (menor que 200 ft. acima
da cabeceira da pista);
90% dos acidentes por esteira de turbulência envolvem aeronaves
que pesam menos de 13.600 Kg;
Em 99% dos eventos relatados, os efeitos da esteira de turbulência
são abruptos e ocorrem sem qualquer aviso prévio.

Acidentes por Altitude

Eventos por Intensidade

Nota: Nas decolagens, seguindo aeronaves de maior


porte, a partir de interseções (áreas fora da cabeceira
da pista), a separação é acrescida em “mais” 1 minuto.

Acidentes por Acidentes por


categoria de aeronaves fase de voo

Nota: Existem inúmeros relatos de eventos de encontro


com esteiras de turbulência envolvendo aeronaves
separadas por esses valores mínimos (ou um pouco
menos). O propósito dos regulamentos é a prevenção
de acidentes, no entanto, não garantem a ausência
total do vórtice das esteiras de turbulência. Acidentes por Esteira de Turbulência U.S.,1983-2002
Fonte: Flight Safety Foundation – Flight Safety Digest March-April 2002

Março 2010 Boletim Técnico ATT 19


Fatores operacionais Como prevenir os vórtices
Dependendo da situação, a responsabilidade de pro- das esteiras de turbulência
ver a separação entre aeronaves, minimizando o risco das Aeronaves com menores envergaduras (comprimen-
esteiras de turbulência, pode ser tanto da tripulação, como to de asa) são mais sensíveis a um vórtice criado por
do controle de tráfego aéreo. aeronaves de maior envergadura (mesmo os caças de alta-
Durante o voo em condições meteorológicas por performance, devido a sua baixa área alar, são mais sus-
instrumentos (IMC), apenas o controle de tráfego aéreo, cetíveis as esteiras de turbulência que as aeronaves co-
através da visualização radar, é capaz de manter a separa- merciais);
ção adequada e regulamentar entre duas aeronaves. A res- “O controlador de tráfego sempre informará, inde-
pendente da condição de voo IMC/ VMC, a possibilidade
ponsabilidade do controlador de tráfego aéreo é, na ver- do encontro com uma esteira de turbulência…”
dade, estendida a qualquer fase do voo em que a aeronave Sempre notificar o ATC de que a separação é ne-
estiver voando IMC ou sobre vetores radar. Os contro- cessária, para evitar possíveis áreas de vórtice gerados pela
ladores de tráfego aéreo também são responsáveis por aeronave à sua frente (redução de velocidade, vetoração etc).
informar e manter a separação regulamentar durante as Nota: Se encontrar uma esteira de turbulência, a
decolagens, evitando assim, as esteiras de turbulência. tripulação não deverá utilizar o comando de rudder para

..
No entanto, essa responsabilidade é transferida para tentar contrariar - esse comando reduz a área de susten-
a tripulação, quando aceitamos: tação da aeronave -, utilize somente os comandos de
Manter separação visual da aeronave à frente; aileron, porém, quanto menor a envergadura, maior será
O cancelamento das regras IFR, voando em uma o tempo necessário pra sair da área do vórtice (fig.4).
aproximação visual.

Fatores Contribuintes

.
Outros fatores que aumentam a probabilidade de
encontrar um vórtice de esteira de turbulência:
Aeronaves mais pesadas à frente, voando lento e

..
limpa (sem o uso de flaps ou slats/ com maior ângulo de
ataque);

.
Aeronaves executando uma arremetida;
Pistas paralelas ou que se cruzam;
Condições meteorológicas visuais (VMC), devi-

..
do à redução na separação entre as aeronaves durante
aproximações visuais;
Vento de través entre 3 e 10 kts ou vento de cauda;

.
Atmosfera estável, inversão de temperatura (ao
nascer do sol, por exemplo)
Terreno plano próximo às cabeceiras (terrenos De acordo com o ângulo de inclinação reportado

. ...
irregulares alteram o fluxo de ar, reduzindo a incidência pelos pilotos, a turbulência pode ser dividida em três ca-
de esteiras de turbulência); tegorias:
Durante a aproximação final, um vento de cauda Grave: Inclinação superior a 30 graus.
pode trazer vórtices de esteira de turbulência de volta para Moderada: Inclinação de 10 a 30 graus.
a rampa do glide-slope (fig. 3). Leve: Inclinação inferior a 10 graus.

20 Boletim Técnico ATT Março 2010


Evitando o Vórtice da Cruzeiro
Esteira de Turbulência Encontros com esteiras de turbulência são mais fre-
Decolagem e Subida quentes em espaço aéreo RVSM, mesmo com separações
Quando a tripulação identifica alguns fatores que maiores que 20 NM entre as aeronaves na mesma aerovia
aumentam a duração, ou o tempo de vida da esteira de ou em aerovias que se cruzam.
turbulência, devem solicitar um atraso de 2 a 3 minutos Utilize as funções do seu FMS/ FMGS (FIX INFO),
entre as decolagens. criando aerovias que cruzam a sua rota e observando as
Se possível, a tripulação deve assegurar que a aerona- aeronaves que se cruzam, principalmente em níveis su-
ve suba acima da trajetória da aeronave à frente, decolando periores aos que você está voando.
em um ponto antes que a aeronave anterior decolou (fig. 5). A tripulação deve considerar ligar o aviso de atar
cintos caso o cruzamento com uma outra aeronave maior,
ou de mesmo porte, seja conhecido e em nível inferior, prin-
cipalmente quando estiver voando em ar estável.
Se necessário, a fim de reduzir os efeitos da esteira
de turbulência, a tripulação poderá considerar o uso de
um offset de no máximo 2NM, sempre à direita da rota;
retorne à rota assim que o desconforto for reduzido.
É importante notar que a esteira de turbulência pode
causar variação no pitch da aeronave ao cruzar um vórti-
ce perpendicularmente.
Essas variações são às vezes acompanhadas por um
barulho de batida. Durante uma ocorrência à noite, os
passageiros poderão ter a sensação de que a aeronave
tocou em algo.
Decolagens em pistas que se cruzam devem ser fei- Aproximação
tas com cautela, pois podem levar ao encontro da esteira Se possível, verificar a separação com a aeronave à
de turbulência da aeronave que decolou na outra pista frente utilizando a tela do TCAS. A separação visual não é
(figs. 6 e 7). tão confiável e precisa como o TCAS, podendo levar a
erros de julgamento.
Ao voar um avião de médio ou de grande porte, a
tripulação deve prestar especial atenção em ficar na ram-
pa do G/S, nunca acima dela. Isso irá manter a “sua”
esteira de turbulência abaixo da rampa, protegendo as
aeronaves que se aproximam depois da sua passagem.
Nota: Se a tripulação aceita uma separação visual,
aceitarão também que são responsáveis por evitar a tur-
bulência.

Pouso
Quando possível, a tripulação deverá pousar a aero-
nave após a área de toque que uma aeronave anterior, de
maior porte, tocou (fig. 8),

Março 2010 Boletim Técnico ATT 21


ou pousar antes da área que uma aeronave maior ... Mas, e se você
decolou (fig. 9).
já está no vórtice da
esteira de turbulência...
Técnicas de recuperação

.
Power - Push - Roll - Go Around

POWER – Sempre que você já esti-

.
ver baixo e com pouca velocidade, adicionar
potência; você vai precisar...
PUSH – Aliviar a pressão sobre o
manche ou o sidestick, reduzindo um pouco
o ângulo de ataque das asas; isso lhe dará
melhor controle para utilizar os ailerons e re-

Em pistas paralelas, com separação menor que 760 .


duzirá o arrasto da aeronave melhorando a ace-
leração.
ROLL – Utilize apenas os ailerons,
metros, o vento de través pode trazer o vórtice de uma
aeronave de maior porte para a sua aproximação (fig. 10).
.
nunca o rudder, pois reduzirá ainda mais a sua
sustentação.
GO AROUND – Nunca tente conti-
nuar um pouso após um encontro com esse
inimigo invisível. A melhor opção é iniciar uma
arremetida e, na sua próxima aproximação,
a esteira de turbulência já terá se dissipado.
Pense SAFETY, e, após o pouso, pense sobre
o que aconteceu e como você poderia ter evi-
tado esse encontro; compartilhe a história para
que outros aprendam com a essa experiência.

Lembre-se:
Se você é o piloto de um A330, A340, B767
ou B777, comunique, no primeiro contato de rá-
Nota: Se outra aeronave cruzar a pista em uso, pró- dio, em alto e bom som para que todos ouçam...
ximo à área de toque, pode se perceber uma leve turbu- TAM 8000 “HEAVY”... assim você alerta o
lência devido ao Jet-Blast/ Jetwash (fluxo de ar proveni- controlador e todas as aeronaves de menor porte
ente do motor) dessa aeronave. da presença da esteira de turbulência…

O conhecimento e o entendimento desse fenômeno é a sua segurança...


...E pode fazer a diferença entre um pouso e uma decolagem seguras.

...
Referências
ICAO – Annex 2 - Rules of the Air

... ICAO – Doc 4444


FAA – AIM 7.3 - Wake Turbulence
FAA – Wake Turbulence Training Aid

... FAA – National Aviation Safety Data Analysis Center


FAA – Advisory Circular – AC90-23f Aircraft Wake Turbulence
Flight Safety Foundation – Flight Safety Digest – March - April 2002

...
Airbus – Operations Policy Manual – Guide for JAR-OPS 1 Operations Manual Airbus
Flight Operations Briefing Notes - Operating Environment – Wake Turbulence Awareness / Avoidance
CAA – Civil Aviation Authority of New Zealand - Wake Turbulence Advisory and Safety Publications
ICA 100-12 Regras do Ar e Serviços de Tráfego Aéreo 2009
TAM – CI-071/2008 Wake Turbulence A380
(*Cmte. Marcos Braga é piloto do A319/A320/A321)

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Ilustração:Cmte. Marcos Braga

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Foto: iStockPhoto

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