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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo


Curitiba – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Novembro de 2012
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A resistência entre imagens e mensagens no jornal alternativo


piauiense Gramma em 1972
Marcela Miranda Félix dos Reis1

Resumo: Durante a ditadura militar no Brasil, período marcado pela censura aos meios
de comunicação, jornais alternativos surgiram em várias partes do país como movimen-
to de resistência para criticar os atos repressores do regime militar. Em Teresina o pio-
neiro foi o Gramma, criado em março de 1972 o jornal era mimeografado e composto
por uma equipe de jovens jornalistas, cartunistas, poetas e críticos culturais. O jornal
apresentou aos leitores uma proposta gráfica inovadora e um conteúdo com teor critico
aguçado, tendo em vista o contexto sócio político, econômico e cultural. Como proposta
teórico metodológica, o trabalho utiliza-se da analise de discurso imagética proposta por
Aumont, Dondis, Magalhães, Debray e dos estudos realizados por Kucinski, Braga, Pal-
lares-Burke, Chartier, dentre outros pesquisadores que se debruçam sobre a historia da
ditadura militar e o jornalismo alternativo.

Palavras-chave: história; jornalismo alternativo; imagem.

1. Introdução

O presente trabalho propõe-se analisar o jornal alternativo Gramma tido como


fonte e objeto de estudo nesse intrigante momento da história do jornalismo, a ditadura
militar. Com uma proposta inovadora este jornal apresenta estrutura gráfica diferente

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Piauí. Pesqui-
sadora do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação e Especialista em Comunicação e Lingua-
gens pela mesma instituição. marcela.jor@hotmail.com
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dos jornais tradicionais, adota uma postura contra hegemônica, foge dos padrões jorna-
lísticos da época e propositadamente critica o regime militar de forma simples, direta e
audaciosa.
O recorte espaço-temporal da pesquisa consiste no ano de 1972, período que fo-
ram lançadas as duas edições do jornal, na cidade de Teresina-PI. Um dos aspectos do
Gramma priorizados para analise consiste na utilização de recursos gráficos de humor,
como quadrinhos e a composição das capas do jornal.
Considerando esses elementos visuais e a composição gráfica do jornal, analisa-
se como essas imagens dialogam com o contexto histórico? Quais as vozes ali presen-
tes? Qual o conteúdo crítico presente nos recursos gráficos de humor? Quais as inten-
ções dos colaboradores que faziam o jornal? Esses são alguns dos questionamentos que
o presente trabalho busca responder ao analisar o jornal Gramma.
Inicialmente, o trabalho faz breve reflexão teórica sobre a importância da ima-
gem na produção de sentidos e suas possibilidades de analise discursiva imagética. No
tópico seguinte tem-se uma contextualização do momento histórico marcado pela dita-
dura militar, considerando o surgimento do jornalismo alternativo e o aparecimento do
movimento no Estado. Em seguida, apresenta o jornal Gramma, sua composição, carac-
terísticas, tiragem, produção de conteúdos e objetivos. No quarto tópico, que dá titulo ao
artigo, “A resistência entre imagens e mensagens”, analisa-se alguns elementos gráficos
do jornal que refletem a proposta do periódico. A começar pela composição da capa,
depois o editorial do jornal intitulado como Expediente e por último, uma seção do jor-
nal que traz quadrinhos.
Para isso, a pesquisa estuda o jornalismo alternativo durante a ditadura militar
tomando como base teórica os estudos realizados Bernardo Kucinski (1999), José Luiz
Braga (1991), Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke (2000) e tem como foco o estudo da
imagem considerando a composição gráfica do jornal e os recursos gráficos de humor,
baseando-se nas contribuições teóricas de Aumont (1993), Debray (1994), Dondis
(2003), Magalhães (2003), dentre outros autores que se debruçam sobre a análise dis-
cursiva imagética.
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2. Uma breve reflexão teórica sobre a imagem


As imagens são importantes ferramentas para driblar a censura e criticar o regi-
me. Como ressalta Magalhães (2003),

Quando se privilegia o papel da imagem como matéria discursiva, não basta


apresentá-la como complemento do texto, ilustração ou visualização da pági-
na impressa. A imagem ocupa, na mídia, um lugar que demanda outras preo-
cupações que nos remetem para além do que a vista numa primeira impressão
(2003, p. 63)

É também através da imagem que discursos são construídos e contratos de leitu-


ra são firmados. Campos de disputas também se fazem presente e inúmeras versões são
dadas sobre uma imagem. Como Debray (1993) ressalta, “uma imagem é para sempre e
definitivamente enigmática (...) Tem cinco bilhões de versões potenciais; nenhuma de-
las pode impor-se como referencia única. Polissemia inesgotável” (1993, p.59).
Por conta disso que Debray (1993) diz que uma imagem pode ser interpretada,
mas jamais lida, porque as leituras revelam mais sobre o contexto histórico do que sobre
a própria imagem. Dondis (2003) aponta aspectos que devem ser considerados, por e-
xercerem influencia direta na produção de significados. São eles, a cor, o tom, a textura,
a dimensão, a proporção. Tais elementos

Constituem os ingredientes básicos com os quais contamos para o desenvol-


vimento do pensamento e da comunicação visuais. Apresentam o dramático
potencial de transmitir informações de forma fácil e direta, mensagens que
podem ser apreendidas com naturalidade por qualquer pessoa capaz de ver
(...) A linguagem é complexa e difícil; o visual tem a velocidade da luz, e po-
de expressar instantaneamente um grande número de ideias (DONDIS, 2003,
p.82)

Além disso, a pesquisa também considera algumas técnicas de comunicação vi-


sual para leitura das imagens. Estas técnicas são conceitos apresentados por Dondis
(2003) que facilitam a analise e compreensão da imagem que carrega em si uma serie
variantes que juntas constroem o sentido.

3. Jornalismo alternativo no Piauí


Entre 1964 e 1985, o Brasil foi palco de uma série de ações que violaram os di-
reitos humanos e a democracia no país. Em Teresina, a situação não foi diferente e em
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determinado momento, diante de toda essa repressão, a sociedade começou a reagir de


diversas maneiras.
Durante a década de 1970, movimentos contraculturais2 na literatura, cinema,
música e imprensa se manifestaram em várias partes do país em resposta aos atos ditato-
riais do Governo. No Piauí, grupos de jovens adotavam posturas marginais, transgresso-
ras como protesto ao regime vigente. Essa negação fez surgir novas leituras, expressões
e estilos de se fazer a imprensa, o cinema, musica e literatura. Uma delas foram os jor-
nais alternativos, também intitulados de nanicos.

A palavra nanica, inspirada no formato tablóide adotado pela maioria dos


jornais alternativos, foi disseminada principalmente por publicitários, num
curto período em que eles se deixaram cativar por esses jornais. Enfatizava
uma pequenez atribuída pelo sistema a partir de da escala de valores e não
dos valores intrínsecos à imprensa alternativa (KUCINSK, 1999, p. 53).

Não só a censura, as ações repressivas do governo estimularam o surgimento


desses jornais, mas também a passividade da mídia, dos grandes meios de comunicação
que se calaram e só divulgavam o que o governo permitia, fez com que os jornais nani-
cos surgissem como uma alternativa de leitura para a sociedade que buscava algo dife-
rente, do que era divulgado pela “imprensa oficial”3.
Como Pallares-Burke (2000) ressalta a importância de se trabalhar meios alter-
nativos revela informações muitas vezes despercebidas, uma vez que são considerados
na maioria das vezes inexpressivos na sociedade. Os jornais alternativos são tidos como
fontes diretas de reflexo do momento passado, portanto produtos de suma importância
para a compreensão desse período histórico.
Muito mais que meros nanicos, os jornais alternativos representam um voz dis-
sidente, contrária às políticas dominantes, buscavam a democracia e utilizavam o humor
como ferramenta principal para as transformações sociais e manifestação de criticas ao
regime imposto. Após o golpe de 1964, o jornalismo político-partidário e militante dei-

2
Contracultura é um ideário que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental,
mantidos por instituições sociais como a igreja e família. O movimento teve inicio na década de 1960 em
várias partes do mundo. No Brasil, a tropicália, o movimento hippie, o jornalismo alternativo marcam
essa cultura marginal, denominada também de anticultura.
3
Utiliza-se esse termo para representar os grandes veículos de comunicação, no caso aqui a imprensa, que
estavam alinhadas ao governo. Vale ressalta que não houve uma adesão generalizada de todos os veículos
de comunicação às ideias defendidas pelo regime militar, mas por conta da censura todos os grandes
veículos tinham que se enquadrar aos atos ditatoriais e divulgar o que interessava ao governo.
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xa de atuar e somente os jornais de caráter informativo, alinhados pela censura e com


uma produção dirigida ao consumo de massa se mantém. Para preencher esse vazio, eis
que surge a imprensa alternativa.
No Piauí, vários jornais alternativos surgiram na década de 1970, dentre eles o
Gramma, o Linguinha, a Hora Fatal, o Chapada do Corisco e Estado Interessante. Num
contexto nacional, em que desde 1968 houve uma profusão de jornais surgindo em vari-
as partes do país, no Piauí, o movimento surge tardiamente a partir de 1972.
Neste período, quem comanda o governo é o engenheiro Alberto Silva. Em mar-
ço de 1971 assume o governo por eleições indiretas. O mandato de Alberto Silva é mar-
cado por grandes obras, como a reforma do Hospital Getúlio Vargas, construção de es-
tradas, do estádio Albertão, criação da Secretaria de Cultura, da Empresa Piauiense de
Turismo e uma série de outros atos que compunham a propaganda institucional do go-
verno.
O país vivia um clima de otimismo em virtude do “Milagre Econômico”, que pa-
radoxalmente promovia avanços na economia brasileira, mas a pobreza e concentração
de renda continuavam a aumentar. Para mascarar essa realidade, o governo promovia
campanhas positivas enaltecendo o patriotismo, o esporte marcado principalmente pelo
futebol brasileiro e o bom desempenho da Copa do Mundo de 1970 e lançando o lema
“Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Os jornais locais de grande veiculação no Piauí, como O Dia e Correio do Povo,
não falavam de outra coisa, dentre suas matérias, a maioria retratava as ações do gover-
no federal que fomentavam o desenvolvimento do país e as inaugurações das obras do
governo. As censuras desmedidas, as ações autoritárias, a falta de liberdade de pensar e
de expressão continuavam e eram omitidas.
Como enfatiza Braga (1991), o governo militar impõe um discurso que valoriza
a estabilidade, a disciplina, o planejamento, como fatores determinantes para o desen-
volvimento econômico do país.
Apesar da campanha favorável ao governo, havia uma camada da sociedade
composta por artistas, poetas, jornalistas, estudantes e intelectuais, dentre outros profis-
sionais insatisfeitos com o que vinham consumindo e até mesmo reproduzindo. Resul-
tado disso, surgem inúmeros movimentos que negam as ações do regime militar e criam
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novas expressões e leituras sobre assuntos diversos, como é o caso do jornal cultural
Gramma.

4. Alternativo por essência: Gramma


O jornal alternativo Gramma surge em março de 1972, em Teresina, com uma ti-
ragem de mil exemplares, em que eram distribuídos entre amigos e vendidos nas bancas
de jornal. O jornal faz parte da Geração Mimeografo do Piauí. A equipe do jornal era
composta pelo cartunista Arnaldo Albuquerque, Paulo José Cunha, Carlos Galvão, Ed-
mar Oliveira, Durvalino, Haroldo Barradas, Torquato Neto, Marcos Igreja, Francisco
Pereira, Geraldo Borges, Rubem Gordo e Noronha. O jornal trazia em seu conteúdo
poesias, artigos de opinião, contos, tirinhas em quadrinhos, dicas de leituras e notas so-
bre temas diversos. O impresso teve curta duração, sendo lançados apenas dois exem-
plares, o segundo em julho/agosto de 1972.
Arnaldo Albuquerque, um dos colaboradores do jornal, explica o porquê do no-
me Gramma, “o nome além de fazer alusão ao “Granma” de Cuba4, foi também porque
nos reuníamos na grama da Igreja São Benedito. Eu tinha uma máquina velha, tiráva-
mos fotos, os meninos escreviam poesia. As pessoas chamavam a gente de hippie, mas
não tínhamos nada de hippie”.
Albuquerque foi o primeiro cartunista do Piauí e na época também trabalhou no
jornal O Dia, maior veiculo de comunicação impressa no Estado que adotava postura
aliada ao regime militar. Segundo ele, essa postura do jornal O Dia era resultado da boa
relação que os proprietários do jornal mantinham com o Governo, o próprio editor chefe
ficava constrangido em censurar as matérias, mas por questões empregatícias atendiam
às determinações do dono do jornal. Para fugir dessa censura e também auto-censura
dentro das grandes redações, um grupo de jornalista, cartunista, poetas e críticos resol-
veram criar o Jornal Gramma.

4
O diário Granma (escrito com letra ‘N’ mesmo, diferente do Gramma de Teresina que é escrito com dois
‘M’) de Cuba é o orgão oficial de imprensa do governo cubano. Naquela época, o contexto internacional
passava por uma série de mudanças e Cuba até a década de 1970 apoiava os movimentos guerrilheiros,
ação esta que ia contra os interesses norte-americanos e não era vista com bons olhos pelo governo brasi-
leiro.
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O Gramma era feito sem nenhum planejamento. Os colaboradores reuniam-se na


de casa de um, depois na casa de outro, não dispunham de recursos financeiros, materi-
ais e nem de um plano de divulgação e distribuição. Seu intuito, como afirma Albu-
querque, era de ‘estrebuchar”, chamar atenção da sociedade, principalmente os jovens,
para questões culturais e políticas, e demonstrar antes de tudo que não eram alinhados a
esse regime militar. “Nosso ego era muito excitado, nós nos sentíamos o máximo por-
que a gente fazia muitas criticas, éramos bem provocativos”, afirma Albuquerque.
Assim, o jornal surge no intuito de movimentar a sociedade e chamar a atenção
para a omissão de determinados fatos. No artigo intitulado “Ruídos”, do Jornal Gram-
ma, nº02, assinado por Paulo José Cunha ele destaca:

A resistência não é o recado. A curtição geral, total e brutal, mal dosada e le-
vada às últimas consequências é que deve ser a jogada para a apreciação inte-
ligente de qualquer baboseira que neste país transe e se faça à luz. Nada de
choros e gritos... Por entre os fieis bastiões da boa moral e dos bons costu-
mes, por entre distintos senhores gravata-borboleta, suprassumos da falida
culturália brasileira, audazes defensores do bom mocismo nacional, surja o
verbo encantado das palavras maldipasquinas, presença de flores do mal a
impregnar de bons fluidos a consciência da tribo... Em resumo, nada mais
pode ser feito para segurar esta bomba. Alô, alô rapaziada, quem puder que
se segure: o país está em chamas!(GRAMMA,1972, p.03)

Essa questão dos bons costumes e de uma cultura fadada ao fracasso remete a
uma ideia bastante ligada ao chamado “vazio cultural” que foi defendido por alguns
intelectuais que afirmam o país ter passado por um momento em que a produção cultu-
ral regrediu. A expressão “o país esta em chamas” revela como o clima era tenso e con-
flituoso naquela época.

5. A resistência entre imagens e mensagens


Um dos traços marcantes do jornal Gramma consiste na estrutura gráfica do im-
presso, que foge totalmente dos padrões jornalísticos aplicados na época. A presença
marcante de imagens, ilustrações, desenhos de humor faz parte da proposta do Gramma,
que para driblar a censura, utiliza-se de imagens para criticar o regime militar.
Segundo Maggione (2011), a imagem é um dos principais textos usados pelas
mídias para concretizarem suas estratégias comunicacionais. É através da imagem que
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há uma produção de sentidos sobre os fatos, que carregam discursos anteriores ou cons-
troem discursos outros, constituindo assim a dimensão discursiva da imagem.
No caso do jornal Gramma, o impresso vem marcado pelo traço artesanal, com
escritas informais, sem diagramação, predominância de recursos gráficos, como setas,
quadrados, balões de fala, linhas, fotografias, quadrinhos e ilustrações.
O Gramma constrói graficamente, o discurso da capa recorrendo a desenhos fei-
tos manualmente pelo poeta Torquato Neto, um dos colaboradores do jornal, e impres-
sos em mimeografo, monocromático. A ilustração vai além do desenho, ela reflete em si
a proposta do jornal.

Figura 1 - capa do Jornal Gramma, nº01, março de 1972.

Figura 2 - capa do jornal Gramma, nº01, março de 1972.


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Figura 3 - capa do Jornal Gramma, nº01, março de 1972.

A diagramação da capa é basicamente centralizada, sem muita preocupação com


o equilíbrio e simetria dos elementos. Na parte superior da capa tem o nome do jornal,
conforme figura 2. As letras são formadas através de vários desenhos de homens e mu-
lheres nus, de frases como “a maior curtição”, “o coração de Jesus era de pedra”, “podes
crer” e “os idiotas usam terno”, tem imagem do rosto de um homem que se assemelha a
Cristo, um aparelho de televisão, uma arvore e outros desenhos que compõem o nome
GRAMMA. Na borda do nome, e principalmente na base, traços que remetem ao forma-
to da grama vegetal. A composição do nome representa uma técnica denominada por
Dondis (2003) de unidade. “A unidade é um equilibrado adequado de elementos diver-
sos em uma totalidade que se percebe visualmente. A junção de muitas unidades deve
harmonizar-se de modo tão completo que passe a ser vista e considerada como uma úni-
ca coisa” (DONDIS, 2003, p. 145). Quanto à tipologia das fontes, o nome faz parte da
família das fantasias, com desenhos ornamentais e motivação livre (MAGALHÃES,
2003, p. 111).
Um nome bem sugestivo que remete a todo contexto da década de 1970, em que
vários movimentos contraculturais surgiram no país, a liberação sexual era um dos ta-
bus, fortemente defendido pela Igreja Católica, a serem quebrados; os valores morais, o
aparecimento da Televisão no Piauí, a primeira emissora TV Clube foi inaugurada em
1971, as inúmeras obras construídas no governo de Alberto traz um ar de modernidade
ao Estado. Fatos que repercutem numa mudança de comportamento, principalmente da
camada jovem da sociedade.
O próprio autor da capa, Torquato Neto, é um dos participantes ativo dessa efer-
vescência juvenil, desde o movimento tropicália, na produção de filmes experimentais,
fazendo parte da geração juvenil contracultural. Ao produzir a capa, ele exprime os an-
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seios desses jovens para usufruir a liberdade de expressão, de gostos longe da repressão
imposta pelo regime militar. A limitação financeira do jornal também é um dos fatores
que não pode ser ignorado e que interfere na criação da capa, que não faz uso de recur-
sos tecnológicos possíveis naquela época.
Ao considerar as partes constitutivas da imagem que resulta no nome do jornal,
privilegiam-se aqui alguns elementos visuais, como a linha, a textura, o movimento e
outros efeitos que influenciam diretamente no conteúdo da imagem.
Na composição do nome GRAMMA ela vem interligando várias imagens de
forma irregular, marcada de rabiscos que como Dondis (2003) nos chama atenção pode
ser um “reflexo de uma atividade inconsciente sob a pressão do pensamento (...) A linha
reflete a intenção do artífice ou artista, seus sentimentos e emoções mais pessoais e,
mais importante que tudo, sua visão” (DONDIS, 2003, p.57). Outro elemento é a textu-
ra, a imagem nos remete a sensação da grama vegetal. Com suas formas pontiagudas
nas margens do nome, tem-se uma experiência tátil visual que relembra a aspereza de
uma grama, possível graças aos inúmeros detalhes na imagem.
Logo abaixo do nome Gramma, tem a numeração da edição, nº01 e o valor co-
brado para aquisição do periódico, na época Cr$ 1 (um cruzeiro) e em seguida uma fai-
xa dizendo “Jornal pra burro”. Emoldurando a capa, ramos de grama surgindo dos can-
tos inferiores. Carregada de ironia, acredita-se que a mensagem vem com o intuito de
não atrair a atenção das autoridades, das instituições mantedoras da ordem pública que
se consideram inteligentes capazes de determinar os padrões de comportamento e con-
sumo da sociedade. Além é claro dos órgãos censores da ditadura militar que fiscaliza-
vam na época a produção dos meios de comunicação.
Na região central da capa, o desenho de um homem cabeludo, nu, e extraindo de
um corte na região abdominal seu coração. A imagem sugere, dentre várias abordagens,
dois pontos. Primeiro a questão comportamental, da vestimenta, do uso de cabelos
grandes, o valor simbólico que estes elementos carregam, e destacados pelo pesquisador
Edwar Castelo Branco (2005) como movimento de resistência.

Ser cabeludo, neste momento histórico, não é, portanto, apenas fazer opção
por uma estética com a qual o sujeito escolhe ornamentar seu corpo. É acima
de tudo uma posição de sujeito que oferece tanto prazer quanto riscos. Usar
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cabelos compridos, no período, significa desinvestir na linha padrão de dese-


jo e investir numa linha de fuga (2005, p.93)

Como bem enfatizado na imagem, a postura adotada pelo personagem utilizado


é ser contra, ser anti os valores impostos. Segundo ponto a ser destacado, é a associação
da imagem do coração com o texto “Fazer jornal no Piauí é desdobrar fibra por fibra o
coração”. O coração como um dos órgãos principais do corpo humano, é tido na ima-
gem como essência do homem, que ali extrai o que há dentro de si e expõe ao publico
seus desejos, anseios, e sentimentos, sejam eles, de revolta, angustia, e dificuldades en-
frentadas para fazer o jornal. Tem-se, assim, um subtítulo informativo que explicita a
proposta da imagem do homem, criando assim uma intencionalidade da mensagem,
dentre as inúmeras leituras possíveis.
Segundo Dondis (2003) ver é o processo de absorver a informação. A autora
considera a imagem como um recurso importante de representação da realidade e in-
formação direta. Ao investigar sobre o processo de percepção humana ela trabalha com
alguns elementos pertinentes a presente análise.
O primeiro consiste na percepção de equilíbrio e tensão, a figura do homem, ao
passo que vem colocada no ponto central da capa, ela promove tensão com a sensação
de angustia provocada pela expressão facial do sujeito, como também pelo ato inespera-
do de abrir o corte em seu corpo com a mão direita e com a esquerda arrancar-lhe o co-
ração. Este movimento, segundo elemento, gera tensão e instabilidade na imagem.
Como Dondis ressalta, “a instabilidade é a ausência de equilíbrio e uma formu-
lação visual extremamente inquietante e provocadora” (2003, p.141). Para ela, “a suges-
tão de movimento nas manifestações visuais estáticas é mais difícil de conseguir sem
que ao mesmo tempo se distorça a realidade, mas está implícita em tudo aquilo que ve-
mos, e deriva de nossa experiência completa de movimento na vida” (2003, p.80). A
imagem vem carregada de sentidos que dialogam com a percepção subjetiva do enun-
ciatário e com a realidade que o cerca.
Segundo Aumont (2011) uma das funções fundamentais da imagem fotográfica
é promover a mediação entre o espectador e a realidade, é representar coisas concretas,
produzir um valor simbólico, levar ao espectador informações sobre o mundo e promo-
ver sensações especificas possíveis pelo efeito estético da imagem. Totalmente diferen-
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te, o Gramma como um jornal cultural, traz em sua maioria imagens artísticas que não
possuem esse papel de representação fiel da realidade. As imagens utilizadas pelo jornal
fazem associações de forma clara e direta aos valores morais, religiosos, a alguns fatos,
como por exemplo a implantação da TV, produzindo assim sensações diversas com o
modo diferente de abordar os fatos.
O rompimento com os padrões gráficos do jornalismo é uma das características
do Gramma. Alternativo por essência, o jornal apresenta o texto numa linguagem colo-
quial, com letras originais, na fonte da família cursiva e sem uma diagramação estabele-
cida.
A diagramação é a arte de distribuir os elementos gráficos do discurso no es-
paço da página (...) de tal modo que ao final, eles se conjuguem para uma
concepção gráfica atraente, com equilíbrio, proporção e eficiência discursiva,
ou seja, que produza com beleza, o sentido a que se propõe. (MAGALHAES,
2003, p.110)

O expediente do jornal foge totalmente as regras e apresenta de forma desarmô-


nica, sem cuidado estéticos e de forma desproporcional, um texto tido como editorial da
edição.

Figura 4 - Jornal Gramma, nº01, março de 1972

O texto é apresentado sem correção ortográfica, em que o espaço recuado para


inicio de parágrafos, as letras maiúsculas no inicio de cada oração são ignoradas. As
palavras escritas erradas são riscadas, dando continuidade ao texto. A construção gráfica
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do expediente é menos elaborada, dispersa e sem recursos imagéticos. Falta equilíbrio e


proporção no texto, o que deixa o texto torto ao longo da página.
A falta de cuidados estéticos, gramaticais e gráficos com o texto revela a nega-
ção dos padrões impostos pelo jornalismo, que ditam as regras de como devem ser dis-
postos os textos. Como a proposta do Gramma é promover novas leituras, expressões e
linguagens, o editorial nega os padrões de diagramação e composição textual e proposi-
tadamente apresenta um texto tosco, sem técnicas e recursos gráficos, o que reflete a
falta de organização e estrutura ao se fazer um jornal.
Partindo para outra imagem, na terceira pagina do jornal intitulada de “Ricoche-
tes da alucinação” assinada pelo Paulo José Cunha, traz uma tirinha de quadrinhos, a-
presentada de forma diferente, distribuída em três partes dividindo espaço com o texto
ao longo da página. O texto literário é uma sequência de palavras que de forma rítmica,
abordam traços do comportamento humano. O quadrinho se apropria do super herói
clássico, Capitão America5, criado em 1940 nos EUA, para desconstruir o mito e criticar
o imperialismo norte-americano.

Figura 5 - Jornal Gramma, nº 01, março de 1972, p.03.

5
O personagem de HQ (História em Quadrinhos) da Marvel Comics foi criado por Joe Simon e Jack
Kirby, e conta história de um soldado Steve Rogers que foi transformado em super-humano durante
experiências científicas realizadas pelo Exército. O Capitão América surgiu sob a bandeira do patriotismo
norte-americano, durante os anos da Segunda Guerra Mundial. Ao lado de seu parceiro Bucky, o Capitão
América enfrentou a ameaça nazista, mas caiu na obscuridade após o fim do conflito.
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Figura 6 - Jornal Gramma, nº01, março de 1972, p.03.

A escolha do texto e a associação com a imagem promove sentidos diversos.


Primeiro ao utilizar um personagem norte-americano que luta contra o nazismo durante
a Segunda Guerra Mundial recorre-se a um recurso denominado por Aumont (2011) de
constância perceptiva que permite o individuo reconhecer na imagem elementos presen-
tes em sua memória, já vistos anteriormente. O personagem foi um grande sucesso nos
HQ anos anteriores e facilmente é associado ao imperialismo norte americano como
ideal mundial. Segundo Verón (apud Magalhães, 2003) trata-se de um efeito de reco-
nhecimento, “quando o enunciador dá ao enunciatário a possibilidade de reconhecer na
sua enunciação, a referência sugerida a um conhecimento cultural anterior” (MAGA-
LHÃES, 2003, p.131).
A proposta do quadrinho é fazer o leitor refletir se o os valores morais, compor-
tamentais e a gestão naquela época se de fato era o ideal, se estava correta, se atendia as
necessidades da população. O enquadramento de cima, na figura 06, deixa o super herói
pequeno, andando pelas ruas, como um cidadão comum, em que propõe a pessoas co-
muns refletir sobre as normas e o modo de vida imposto pelas autoridades. Quem não
deseja ser, pensar e agir como um super herói? Reconhecer um mundo marcado pela
fome e injustiça, é questionar se governo atual está certo, se a oposição, os rebeldes no
caso teriam razão, não aceitar as regras é não se submeter ao regime. Como o super he-
rói pensa, a proposta é lutar menos e perguntar mais, é não aceitar sem questionar, é
usar a razão, a inteligência em favor do bem comum.
SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
Curitiba – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Novembro de 2012
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Além disso, é importante destacar que mesmo a mídia possuindo relevância no


modo de pensar do leitor, a percepção da mensagem é individual, ou seja, a mensagem
enviada ao receptor pode ser a mesma, mas as leituras são diversas. O que cada leitor
apreende ao fazer a leitura vai depender também do que ele pretende apreender.
Para Chartier (1990), a realidade não mais deve ser pensada como uma referên-
cia objetiva exterior ao discurso, pois ela é constituída pela e dentro da linguagem. Se-
gundo Pinto (1999), a análise de discurso não se interessa tanto pelo o que o texto diz
ou mostra, pois não é uma interpretação semântica de conteúdos, mas sim em como e
porque o diz e mostra. Ele ressalta ainda, que os modos de dizer podem se dividir entre
os modos de mostrar, interagir e seduzir, um campo complexo que requer bastante aten-
ção e conhecimentos.
O Gramma trabalha com um discurso de linguagem claro e objetivo, no intuito
de fazer a sociedade refletir sobre uma realidade muitas vezes mascarada por outros
meios de comunicação.

6. Considerações finais
São através de imagens que muitas mensagens conseguem ultrapassar as barrei-
ras da censura e chega até o leitor de forma leve, descontraída e acima de tudo, informa-
tiva. Os jornais alternativos utilizaram muitos desses recursos, seja pelo traço, pelo texto
ou pela diagramação. Mesmo sendo produções que não dispunham de recursos financei-
ros como os grandes jornais, elas possuíam algo que as enriqueciam, o conteúdo, a cria-
tividade e sensibilidade.
O Gramma é um jornal simples, sem sofisticação, de retórica fácil, porem volta-
da para um público com nível cultural elevado. O jornal faz um contraponto com os
demais meios impressos de comunicação. Ao abordar assuntos não veiculados pelas
grandes mídias oferece ao publico uma opção de leitura diferenciada. O discurso ao
negar, criticar o jornalismo “oficial”, ao questionar o poder autoritário do regime mili-
tar, as normas, os gostos e comportamentos instituídos pelas camadas sociais que se
veem detentoras da boa moral e costumes, remete-se ao discurso do outro. Uma cons-
trução discursiva que rebate o discurso tradicional.
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10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
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A capa do jornal traz um discurso construído por metáforas. Reproduz de forma


sintética um olhar critico sobre a realidade e reflete essa inquietude, provocação, angús-
tia e dificuldades enfrentadas pelos colaboradores do jornal.
O Gramma não tinha pretensões de conquistar o mercado, obter lucros, crescer
estruturalmente. A falta de uma organização empresarial, de recursos financeiros e a
fragmentação do grupo impediu a continuidade do jornal. Contudo, atingiu seu objetivo
maior, expressar opiniões livremente, levar aos leitores um conteúdo diferenciado, criti-
co e reflexivo. Como propõe Paulo José Cunha, em seu artigo sobre a comunicação
“Prata lindástica facada”, “o barco taí. Quem se propõe a sair desafinando o coro dos
contentes?” (GRAMMA, nº01, 1972, p.13).

Referências

AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2011. 16 ed.

BRAGA, José Luiz. Pasquim e os anos 70: mais pra epa do que pra oba. Brasília: UNB, 1991.

BRANCO, Edwar A. Castelo. Todos os dias de paupéria: Torquato Neto e a invenção da Tro-
picália. São Paulo: Annablume, 2005.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro:


BERTRAND Brasil S.A, 1990.

DONDIS, Donis A.. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 7 ed.

DEBRAY, Régis. Vida e Morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Petrópolis:
Vozes, 1993.

KUCINSK, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São


Paulo; EDUSP, 1999.

MAGALHÃES, Francisco Laerte Juvêncio. Veja, Istoé, Leia: produção e disputas de sentido
na mídia. Teresina: EDUFPI, 2003.

MAGGIONE, F. A charge jornalística: estratégias de imagem em enunciações de humor icô-


nico. 2011. 130f. Dissertação de Mestrado em Comunicação – Universidade Federal de Santa
Maria, Rio Grande do Sul.

PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. As muitas faces da história. São Paulo: UNESP,
2000.
SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
Curitiba – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Novembro de 2012
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PINTO, Milton José. Comunicação e Discurso: introdução à análise de discursos. São Paulo:
HACKER Editores, 1999.

JORNAL GRAMMA. Teresina – Piauí, ano 01, nº 01, 1972.

JORNAL GRAMMA. Teresina – Piauí, ano 01, nº 02, 1972.

ALBUQUERQUE, Arnaldo. Em entrevista concedida a Marcela Miranda Félix dos Reis no dia
14 de julho de 2006.

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