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MINICURSO: DESARQUIVANDO A DITADURA: FONTES HISTÓRIAS E SUAS

POSSILIDADES PARA O ESTUDA DA DITADURA MLITAR NO BRASIL

Prof. MSc. Ramsés Pinheiro

Documento: Relatório do inquérito policial instaurado pela Delegacia de Ordem Política e


Social do Piauí (DOPS) acerca da infração de subversão.

RELATÓRIO

Com o advento da Revolução de 31 de março de 1964, foi instaurado inquérito policial


militar, pela Guarnição Federal de Teresina, sob a presidência do Major Idalécio Diógenes
Nogueira, com o objetivo de apurar as atividades subversivas, no Estado do Piauí, onde foram
ouvidos os líderes agitadores estudantis, camponeses, sindicais, intelectuais e de “esquerda”,
sendo que diversos deles foram presos durante vários dias, para averiguações, cujo IPM foi
encaminhado pelas autoridades competentes, à 10º Região Militar.

Após a conclusão do IPM acima citado, o Estado do Piauí atravessou um clima de certa
tranquilidade, com referência a agitação e subversão, durante um período aproximado de três
anos, motivado pela ação preventiva exercida, em conjunto, pelos órgãos encarregados da
segurança interna, em toda área.

Em 1967, depois da promulgação da Constituição do Brasil, tiveram início os primeiros


movimentos estudantis, através da agitação, nos meios secundaristas e universitários,
principalmente na Faculdade Católica de Filosofia do Piauí, sob a chefia de vários líderes,
culminando com a célebre passeata de dois de dezembro, com a finalidade de atacar as
autoridades constituídas no país, o acordo MEC/USAID, e, finalmente, fazer o enterro
simbólico do Senador piauiense José Candido Ferraz (doc. de fls. 231 a 235).

(...)

Não obstante as medidas repressivas aplicadas durante o IPM sobre o pixamento, o


movimento não sofreu solução de continuidade, pois no mês de setembro esta delegacia
descobriu uma nova organização, composta, quase em sua totalidade, dos mesmos elementos
e com os mesmos propósitos, com a participação de dois elementos do Maranhão, já
aparecendo como sigla a AÇÃO POPULAR.

Com a descoberta do movimento acima referenciado e as investigações empreendidas, esta


Especializada efetuou a prisão de OSVALDO ROCHA, cognominado de CÉSAR MORAIS
FERREIRA, em companhia do líder subversivo BENONI ALENCAR PEREIRA, sendo que
o primeiro foi líder da AÇÃO POPULAR em Goiás, com penetração nos Estados do
Maranhão, Minas Gerais e São Paulo e o segundo com atuação já comprovada, em vários,
inquéritos, no Piauí, com penetração no Maranhão e no Ceará. Em poder dos mesmos foi
apreendida uma relação de nomes de pessoas desta Capital, como capazes de ajudar o
movimento, no território piauiense e ainda uma relação de cinco nomes – ANTONIO JOSÉ
CASTELO BRANCO MEDEIROS, JOÃO RODRIGUES PEREIRA VASCONCELOS,
LUIZ E RIBAMAR NASCIMENTO, SAMUEL ALVES DE FARIAS FILHO e WILLIAMS
CAVALCANTE – para formar a comissão do Piauí (doc. de fls. 4 e 5).

(...)

Através das documentações apreendidas, verifica-se que o movimento tem ligações com a
AÇÃO POPULAR e o PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL e que tem por finalidade a
criação de um processo de socialização do País, levado a efeito, em princípio, pela classe
estudantil, promovendo a subversão da ordem através da agitação, pela propaganda, visando a
mudança da estrutura político-social do País, com o fim de estabelecer a ditadura de classe,
baseada no MARXISMO-LENINISMO. Não resta dúvida que essas entidades clandestinas,
face ao trabalho desenvolvido por seus membros, encontrou na área estudantil universitária e
secundarista grande receptividade, através da infiltração de seus membros nos diretórios
acadêmicos. Esse movimento que tem ramificações em todos os Estados da Federação,
obedece a um comando nacional que traça as diretrizes de organização, determinando aos
comandos regionais as palavras de ordem ou de ação. Infelizmente, não nos foi possível a
apreensão do estatuto e do documento básico da AÇÃO POPULAR, que inicialmente tinha
por finalidade combater de forma sistemática o então governo do Marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco, sensibilizando a classe estudantil e até mesmo o clero, através de
campanhas contra o acordo MEC/USAID e a ditadura.

(...)

Isto posto, determinadas ao Escrivão que depois de procedidas as formalidades legais, faça
remessa dos presentes autos deste inquérito policial, contendo 268 folhas, devidamente
numeradas e rubricadas, ao Exmo. Sr. Secretário de Justiça e Segurança Pública, para fins de
ser encaminhado a Auditoria da 10º Região Militar, sediada em Fortaleza – Ceará, para fins
de direito.

DELEGACIA DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL (DOPS), em Teresina, 23 de outubro de


1969.

ASTROGILDO DE CASTRO SAMPAIO


Capitão Delegado da DOPS/PI.

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