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Brasília
2016
ERICK CALDEIRA DE FRANÇA
Brasília
2016
RESUMO
Tabela 1 - Diferenças entre as entidades sem fins lucrativos das entidades com
fins lucrativos.................................................................................................... 25
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5
2. OJETIVOS .................................................................................................. 8
2.1. OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 8
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................... 8
3. JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 9
4. METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................. 11
5. JORNALISMO PÓS TICS ........................................................................ 14
5.1. WEB 2.0, JORNALISMO ONLINE E WEBJORNALISMO ............................. 15
6. MÍDIA ALTERNATIVA ............................................................................. 18
7. JORNALISMO INDEPENDENTE ............................................................ 22
7.1. JORNALISMO SEM FINS LUCRATIVOS ..................................................... 24
8. EMPREENDEDORISMO .......................................................................... 26
9. MODELO DE NEGÓCIO .......................................................................... 31
9.1. OS COMPONENTES BÁSICOS DE UM MODELO DE NEGÓCIO............... 33
10. CROWDFUNDING E COLABORATIVISMO ........................................ 37
10.1. CROWDFUNDING .................................................................................... 37
10.2. COLABORATIVISMO................................................................................ 39
11. ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 42
11.1. PORTAL JORNALISTAS LIVRES ............................................................. 42
11.2. PORTAL MÍDIA NINJA.............................................................................. 44
11.3. PORTAL JOTA.......................................................................................... 47
11.4. PERFIL DOS ENTREVISTADOS .............................................................. 49
11.5. INFORMAÇÕES DAS ENTREVISTAS PERTINENTES AOS PORTAIS ... 50
11.6. INFORMAÇÕES DAS ENTREVISTAS PERTINENTES A MODELOS DE
NEGÓCIOS ............................................................................................................. 52
11.7. INFORMAÇÕES DAS ENTREVISTAS PERTINENTES À POSSÍVEL
CONCORRÊNCIA ................................................................................................... 54
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 55
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 57
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................. 61
APÊNDICE B – ENTREVISTA COM A JORNALISTA FLÁVIA MARTINELLI
DOS JORNALISTAS LIVRES ........................................................................ 62
APÊNDICE C - ENTREVISTA COM O JORNALISTA CLAYTON NOBRE DA
MÍDIA NINJA ................................................................................................... 65
APÊNDICE D - ENTREVISTA COM O JORNALISTA FELIPE SELIGMAN
DO JOTA ......................................................................................................... 71
5
1. INTRODUÇÃO
2. OJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA
4. METODOLOGIA DE PESQUISA
Analisando o contexto da época, como foi apontado por Dizard Jr. (2000,
p. 20), as redações estavam repletas de terminais de bancos de dados,
aparelhos de fax, videocassetes e outros dispositivos computadorizados e que
tudo isso seria substituído em um futuro próximo por versões mais avançadas
ou tecnologias melhores que transformariam ainda mais o ambiente de
trabalho.
Nos anos 2000, os estudiosos do impacto tecnológico já teorizavam
sobre como estaria o jornalismo futuramente com a inserção das tecnologias
da informação. Com exceção dos videocassetes citados acima, dezesseis anos
depois, pode-se afirmar que a realidade jornalística está realmente próxima do
que foi previsto por Dizard Jr..
Foi nos anos 2000 que houve um amadurecimento da sociedade na
rede, com o surgimento dos blogs, microblogs, as redes sociais, dentre outros,
como ressalta Lima (2015, p. 77). E foi, a partir desse momento, que houve
uma generalização da globalização informacional onde “mudam os
relacionamentos virtuais, os jogos online, o jornalismo, a publicidade e o
marketing digitais, os governos [...]”.
Segundo Kucinski (2012 p. 8), estamos vivendo a transição entre o
antigo e o novo e mesmo que os jornais impressos tenham forte
representatividade, é iminente que definhem rapidamente. No geral, o jornal
impresso morre a cada dia, mas muitos acabam sobrevivendo devido a
subsídios e proteção do Estado, formando “um bloco ideologicamente
15
Criado por Tim O’Reilly, em 2003, o termo web 2.0 foi definido como “a
mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras
para obter sucesso nesta nova plataforma (DANTAS)”, tendo como regra
fundamental “o aproveitamento da inteligência coletiva”. O autor expõe a
afirmação de especialistas que dizem que ainda não existe um conceito
formado para a web 2.0, pois ainda está sendo desenvolvido e moldado; ao
mesmo tempo, ele diz que a web 2.0 se baseia no desenvolvimento de uma
rede de informações onde cada usuário pode não somente usufruir, mas sim,
contribuir com o conteúdo. Inclusive foi citada por ele como exemplo a
Wikipédia, onde todo o site é construído colaborativamente pelos seus
usuários.
O termo Web 2.0 é utilizado para descrever a segunda geração
da World Wide Web --tendência que reforça o conceito de troca
de informações e colaboração dos internautas com sites e
serviços virtuais. A ideia é que o ambiente on-line se torne mais
dinâmico e que os usuários colaborem para a organização de
conteúdo (ENTENDA3, 2006).
6. MÍDIA ALTERNATIVA
que podem assumir feições mais amplas, de caráter autônomo” e que fogem
dos padrões convencionais dos meios de comunicação, da comunicação
governamental e de outras “classes dominantes”. Ela caracterizou
especificamente alguns de seus segmentos, colaborando veemente na
compreensão do que se pretende com a presente pesquisa, como veremos a
seguir.
Por jornalismo popular alternativo, ou de base popular, Peruzzo (2014, p.
142) classifica como um modelo participativo, ligado aos “movimentos
populares, associações, entidades ligadas a setores progressistas de igrejas,
ONGs etc.”.
Em relação ao jornalismo alternativo colaborativo, ela coloca como
aquele que apresenta outra visão do que está sendo discutido na mídia
tradicional ou que é omitido por ela. Podendo tratar também de assuntos mais
generalizados ou específicos como política, economia, questões locais,
questões juvenis, crítica aos meios de comunicação etc. E o colaborativismo
dentro desse segmento apresenta duas perspectivas:
A primeira, pelo senso de ajuda, partilha e colaboração
instituído e praticado, em geral, por voluntários que levam
adiante alguma proposta editorial diferenciada. Essa dimensão
é característica da comunicação popular, comunitária e
alternativa ao longo dos tempos e utiliza como suporte canais
impressos, orais, audiovisuais e/ou digitais. Como exemplo,
podemos citar a revista Viração e o jornal Trecheiro. A segunda
perspectiva se refere a processos interativos nas mídias
digitais, na lógica da Web 2.0, através de websites
colaborativos, nos quais os membros e militantes usuários da
internet podem contribuir com conteúdos produzidos por eles
mesmos e inseridos no sistema on-line. Tais webespaços são
majoritariamente preenchidos com conteúdos elaborados pelos
próprios usuários. Exemplos: Centro de Mídia Independente
(CMI), Overmundo, Canal Motoboy, Wikinews e YouTube.28
(PERUZZO, 2009, p. 141).
7. JORNALISMO INDEPENDENTE
Tabela 1 - Diferenças entre as entidades sem fins lucrativos das entidades com fins lucrativos
7 Trecho selecionado, pelo Nieman Reports, do livro Saving the Media: Capitalism,
Crowdfunding, and Democracy, lançado pela Harvard University Press. Tradução por Jo
Amado. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/livro-
gera-polemica-ao-propor-imprensa-sem-fins-lucrativos/>. Acesso em: 18 ago. 2016.
8 Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto= 128&%3B/>.
8. EMPREENDEDORISMO
1), o futuro do negócio irá depender de tudo que for realizado antes de sua
implementação.
Em uma comparação entre o empresário e o empreendedor, Maximiano
(2011, p. 3-4) coloca que o primeiro é aquele formalmente à frente de um
negócio, conduzindo-o diariamente, enquanto o segundo é o lado criativo,
prático e essencial que está à frente no nascimento, crescimento e na
sobrevivência do negócio. Conceitos válidos para reflexão.
A figura abaixo lista algumas vantagens e desvantagens em ser um
empreendedor, na visão de Maximiano (2011).
cenário não seja totalmente favorável devido a fatores como a falta de políticas
públicas, falta de linhas de crédito e de financiamento e os altos juros e o peso
dos tributos, por exemplo. Ele afirma que existem diversos órgãos e iniciativas
que apoiam os empreendedores, como o Sebrae, as fundações estaduais de
amparo à pesquisa, as incubadores de novos negócios e as escolas
superiores, que oferecem cursos e programas sobre empreendedorismo.
Na internet, há inúmeros sites que orientam o empreendedor e
oferecem informações sobre novos negócios, bem como
cursos sobre como iniciar e conduzir um novo negócio. A
Academia de Empreendedores (<http://www.aemp.com.br/>) e
o Instituto Empreendedor Endeavor (<http://www.endeavor.o
rg.br/>) são duas instituições dedicadas a esse tipo de missão
(MAXIMIANO, 2015, p. 7)
Fonte: SEBRAE
Com uma visão otimista, Sertek (2012) diz que “o empreendedor é uma
figura extremamente importante para o desenvolvimento de uma nação”, já
que, segundo ele, a maior parte dos empregos gerados vem de micro e
pequenas empresas. Ele afirma que existem muitas dificuldades para se iniciar
um negócio, contudo, o empreendedor deve ter uma definição clara de seu
negócio para assim conseguir minimizar tais dificuldades. Assim, “é necessário
9. MODELO DE NEGÓCIO
10.1. CROWDFUNDING
10.2. COLABORATIVISMO
2016.
48
tempo que elas podem, do jeito que se voluntariam.” Contudo, muitos deles
estão desempregados, o que faz com se dediquem totalmente ao coletivo.
“Nós acreditamos que qualquer pessoa é jornalista, desde que se
disponha a ser e a relatar os fatos com as técnicas do jornalismo”. Ao afirmar
isso, Martinelli corrobora que foi estudado por Xavier (2015) a respeito da
participação do leitor na produção de notícias, tornando-se editor, ou coautor,
crítico da informação.
No caso da Mídia Ninja, Nobre citou o núcleo durável, de pessoas
chamadas “orgânicas”, classificação na qual ele faz parte, mas também a
existência de um corpo extenso de colaboradores de todos os tipos. Aqueles
que fazem parte do núcleo durável dedicam-se integralmente à rede Fora do
Eixo e, consequentemente, ao Ninja, e vivem em casas coletivas, em um
modelo colaborativo. Em suas palavras: “É onde nós moramos, trabalhamos e
onde nos formamos, porque é uma residência cultural que se movimento por
meio de suas vivências”. Mas existem, por exemplo, os colaborares que são os
correspondentes da rede, espalhados pelas cidades do Brasil e que enviam
informações sobre manifestações em tempo real, existem também os
jornalistas de renome que participam das reuniões de editoria e colaboram com
a rede, ainda que não sejam parte dela.
O Jota é o único que permite pagamentos aos integrantes por seus
serviços e, como informado por Seligman, “todos trabalhamos integralmente e
já conseguimos nos pagar”.
Martinelli diz que os Jornalistas Livres têm uma sede simples, alugada
com o dinheiro arrecadado com a campanha de crowdfuding, mas que todos do
coletivo, espalhados pelo Brasil, trabalham utilizando o aplicativo de
mensagens Telegram e cada um utiliza seus próprios equipamentos.
O dia-a-dia dos “Ninjas”, pelo o que foi exposto por Nobre, está
basicamente em seguir uma agenda de coberturas pelas cidades e das
manifestações ocorridas, no contexto territorial de cada casa coletiva,
participação de reuniões, busca por financiamentos, além da comunicação
virtual que é mantida com outros coletivos de outras cidades. Muitas pessoas
se integram à rede com seus próprios equipamentos, como foi citado, e eles
também utilizam o Telegram como ferramenta de trabalho e, por meio de chats
segmentados, alinham assuntos de editoria, design, redação, debatem o que
52
existência de uma parceria com o site do UOL e foi dito que ela serve para que
o seu conteúdo tente atingir o maior número de pessoas e fazer com que o
portal se torne mais conhecido, porém era algo que ainda estava sendo
analisado, em fase de teste.
As três empresas estão dentro do modelo de jornalismo independente
classificado por Xavier (2015), já que são financeiramente autossuficientes, não
possuem fins lucrativos e não estão ligadas à mídia tradicional.
durante a entrevista, pediu inclusive que a reflexão não fosse feita sobre um
modelo de negócio, mas sobre um modelo de sustentabilidade do voluntarismo.
Os profissionais têm grande possibilidade de exercer livremente o jornalismo
em sua essência trabalhando dentro dessa lógica de funcionamento
sustentável, sendo mediadores sociais e democratizando cada vez mais o
acesso à informação.
Diante de tudo o que foi exposto, arriscamos dizer que ter uma postura
empreendedora pode contribuir com a garantia da empregabilidade do
jornalista e que o crowdfunding é uma possibilidade bastante viável para se
começar um projeto de jornalismo independente. Como mencionado
anteriormente na visão de Felinto (2012, p.141), o serviço permite não somente
o financiamento da ideia, mas também o da participação e colaboração dos
interessados no conteúdo; no caso do jornalismo, os leitores. Mas há o desafio
de dar continuidade e manter financeiramente o negócio, após a sua
implementação.
Acreditamos que com a observação dos modelos apresentados e do
referencial teórico disponibilizado os leitores poderão refletir sobre qual
caminho seguir, seja o do jornalismo empreendedor direcionado a um nicho de
interesse ou o do jornalismo ativista sustentável. Ou ainda, ousamos afirmar
que o leitor poderá se basear nas características dos modelos existentes para
criar um modelo que atenda mais especificamente às suas expectativas.
Por conseguinte, ainda resta o questionamento: Seria de fato a falta de
modelos de negócio no mundo digital uma ameaça ao jornalista ou a
possibilidade clara de reinvenção?
57
REFERÊNCIAS
ENTENDA o que é a Web 2.0. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 jun. 2006.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.sh
tml>. Acesso em: 04 mai. 2016.
LIMA, Gudrian Marcelo Loureiro de. Contabilidade para entidades sem fins
lucrativos: teoria e prática. Curitiba, PR: InterSaberes, 2014. 258 p., il. p&b.
59
SAAD, Beth. Estratégias 2.0 para a mídia digital. São Paulo: Editoa Senac,
2003.
Perfil do entrevistado
Fale um pouco de você, da sua formação e experiência profissional.
Sobre o portal
Como se deu o início do portal? (Perguntar no caso do Jota e Mídia Ninja)
Como funciona o modelo de redação de vocês? Existe um?
Vocês integrantes seguem com outros trabalhos?
Como o portal ___ tem conseguido se manter?
Existe alguma arrecadação com publicidade, ou alguma parceria?
Possível concorrência
Vocês consideram os outros portais independentes no jornalismo digital como
concorrentes? Existe concorrência com vocês?
62
Perfil Profissional
Fale um pouco de você, da sua formação e experiência profissional.
Meu nome é Flávia Martinelli, sou jornalista há 21 anos. Basicamente,
comecei na Editora Abril. Trabalhei na revista Trip, na Globo, fui redatora-chefe
da revista feminina Sou Mais Eu, da Viva Mais também, todas da Abril. Estou
na estrada do jornalismo tradicional até entrar para o Jornalistas Livres há sete
meses. Nós acreditamos que qualquer pessoa é jornalista, desde que se
disponha a ser e a relatar os fatos com as técnicas do jornalismo.
Sobre o portal
Como funciona o modelo de redação de vocês? Existe um?
Não sei o que você chama de “modelo de redação”, mas nós temos uma
sede simples, que é uma sala alugada. Nós trabalhamos por Telegram e temos
jornalistas espalhados por todo Brasil. Não tem computador e cada profissional
tem o seu próprio equipamento.
Possível concorrência
Vocês consideram os outros portais independentes no jornalismo digital
como concorrentes? Existe concorrência com vocês? Por exemplo, já vi
várias vezes o Jornalistas Livres compartilhando conteúdo da Mídia Ninja
e vice-versa.
Não nos vemos como concorrentes. Nós trabalhamos em um esquema
de colaborativismo e isso acontece inclusive na cobertura das pautas. Em
vários momentos, nós reunimos várias pessoas de diferentes coletivos,
abrimos um chat para troca de informações, às vezes em tempo real, e cada
um pode dar a notícia à sua maneira. Nós nos compartilhamos. Eu
particularmente não encaro como concorrente e até acho que a narrativa do
64
Ninja é bem diferente da nossa e isso vale para os outros portais e as outras
mídias independentes.
Queria te sugerir pensar não em modelo de negócio, mas em modelo de
sustentabilidade do voluntarismo.
65
Perfil do entrevistado
Fale um pouco de você, da sua formação e experiência profissional.
Meu nome é Clayton Nobre, estou na Mídia Ninja desde 2010. Sou de
Manaus, fiz a graduação em Jornalismo pela Federal do Amazonas e fiz
mestrado em Belo Horizonte, na UFMG. Apesar da rede não ter esse foco
acadêmico muito forte, eu fui uma das pessoas que tive essa experiência. A
Mídia Ninja é um dos braços de comunicação da rede Fora do Eixo. Ela é o
nosso núcleo de comunicação, na verdade. Como a maioria das pessoas que
fazem parte da rede Mídia Ninja desde o início, eu entrei pela rede Fora do
Eixo. Nós fundamos um coletivo em Manaus, chamado Coletivo de Fusão, que
já tem 10 anos, e desde 2009, mais ou menos, nos aliamos à rede Fora do
Eixo e nos tornamos um ponto de articulação no Amazonas. A Mídia Ninja
mesmo nasceu em 2013 e eu estou desde o começo, quando começamos a
pensar o que seria.
Sobre o portal
Como se deu o início do portal? O que é exatamente essa relação da
Mídia Ninja com o Fora do Eixo?
O Fora do Eixo é uma rede de cultura e comunicação que conecta
coletivos em todo Brasil e começou especialmente com aqueles que tinham
movimento dentro do seu território. Era basicamente uma formação de
coletivos do interior e de algumas capitais do Brasil. Por isso o nome é Fora do
Eixo, porque eram coletivos que estavam querendo fazer suas atividades
dentro do seu território e não estavam dentro do eixo Rio, São Paulo, onde
estavam as grandes estruturas para a difusão da cultura. Eram formados por
universitários ou por amigos e que faziam festivais independentes, que moviam
certa cadeia produtiva dentro de seu município. O Fora do Eixo foi uma
oportunidade para que eles pudessem se conectar em rede. Na nossa última
contagem, vimos que temos quase trezentos coletivos conectados direta ou
indiretamente à rede. A partir do momento em que temos tantos coletivos
conectados, conseguimos ter uma potência muito grande. Tínhamos a missão
66
que fez a Marcha da Liberdade em São Paulo. Foi nossa primeira transmissão
ao vivo na rua e que não era de um festival independente de cultura, mas de
uma marcha com uma vertente política muito grande. Hoje é muito mais fácil,
mas na época foram feitas gambiarras, amarramos o computador na barriga,
roubamos um carrinho de supermercado para poder carregar os equipamentos
ir transmitindo ao vivo com os recursos que tínhamos. Fizemos uma
transmissão muito foda naquele momento e tudo foi difundido potentemente
entre os outros coletivos.
Você lembra como estava o Brasil em 2013, mais especificamente em
junho? Um pouco antes das jornadas junho de 2013, decidimos nos juntar para
poder aproveitar e formar uma rede paralela à rede Fora do Eixo que ficaria
muito focada nesse lance do ativismo de mídia. Então decidimos reunir todos
esses núcleos de comunicação do Fora do Eixo e formar a nossa rede de
comunicação e midiativismo. E foi aí que surgiu a Mídia Ninja, que significa
“Narrativas Independe de Jornalismo e Ação”. Tem que gente hoje que
conhece muito mais a Mídia Ninja do que a rede Fora do Eixo e quer ser um
ponto da rede mais por conta dela. Mas a Ninja é parte do Fora do Eixo.
que todos participam, tem que buscar grana para poder nos financiar. Então
não é só uma redação que você vai e trabalha, de 8 às 18, por exemplo, e que
depois você volta para casa. Aqui é tudo misturado. Além das casas coletivas,
existe a nossa comunicação virtual na qual usamos para nos comunicar com
outros coletivos que não estão na cidade onde atuamos. Temos vários chats do
Telegram e um deles, por exemplo, é o chat de editoria, que tem inclusive
colaboradores jornalistas de renome que não fazem parte da Mídia Ninja, mas
fazem parte da nossa editoria. É por meio desse chat de editoria que
diariamente vamos decidindo o que entra e o que não, as notícias do dia,
vamos debatendo assuntos pertinentes. Tem um chat só de design, tem um
chat só de texto e redação, tem os chats regionais e assim por diante. Então, a
nossa redação se movimenta pela comunicação pelos chats e é muito mais
vivo que presencialmente, por conta da conexão com outras cidades.
Possível concorrência
Vocês consideram os outros portais independentes no jornalismo digital
como concorrentes? Existe concorrência com vocês? Por exemplo, já vi
várias vezes a Mídia Ninja compartilhando conteúdo dos Jornalistas
Livres e vice-versa.
O objetivo das mídias independentes é muito diferente da lógica das
mídias tradicionais. As grandes redações de jornal precisam de assinantes,
então sua própria lógica estrutural é baseada na concorrência. As mídias
independentes, sobretudo as que trabalham com redes sociais, têm o propósito
de difundir as narrativas, principalmente aquelas que não ganham espaço nas
mídias tradicionais. Então, quanto mais a rede de mídias independentes se
multiplique, quanto mais gente e coletivos surgirem com a intenção de formar
seus núcleos de mídia independente, melhor. Tanto que os diálogos entre os
ativistas de mídia são muito saudáveis. A Mídia Ninja estava inclusive bastante
atuante nos Jornalistas Livres durante a sua fundação; as reuniões iniciais
aconteciam em uma das casas Fora do Eixo em São Paulo. Nós temos essa
necessidade de estarmos todos juntos, porque todas essas mídias defendem a
pauta da democratização da comunicação. Quanto mais esses grupos
estiverem juntos, mais forte fica a atuação nessa luta.
71
Perfil do entrevistado
Fale um pouco de você, da sua formação e experiência profissional.
Meu nome é Felipe Seligman, tenho 32 anos. Eu me formei em
Jornalismo pelo IESB no fim de 2005. Estudei Filosofia na Unb durante 4 anos,
mas isso enquanto trabalhava e enquanto estudava jornalismo, então não
cheguei a me formar em Filosofia. Trabalhei, enquanto estudante, em uma
agência de notícias internacional chamada IPS – Interpress Service. A agência
cobria notícias do antigo terceiro mundo e desenvolvimento. Assim que me
formei, fui para Nova Ioque pela agência, onde cobri a ONU. Voltei para o
Brasil, entrei na Folha, onde fiquei por alguns anos. Participei da fundação do
Jota e do Brio e hoje me dedico integralmente ao Jota, porque é a startup que
acabou tendo sucesso em termos jornalísticos e em termos de negócio. Estou
morando atualmente em Boston, nos Estados Unidos, e estou fazendo MBA na
Faculdade de Business do MIT – Massachusetts Institute of Technology, e, se
tudo der certo, termino no meio de 2018. É um mestrado de dois anos, no qual
preciso trabalhar em conjunto com o curso, então vou aplicando o que aprendo
ao Jota.
Sobre o portal
Como se deu o início do portal? (Perguntar no caso do Jota e Mídia Ninja)
Em relação ao Jota, como cobrimos o Supremo Tribunal Federal,
percebemos nossos textos não eram lidos por boa parte dos leitores e das
pessoas que acompanhavam os nossos respectivos meios de comunicação,
porque não se interessavam pelos temas. E aqueles que tinham interesse, não
estavam satisfeitos, pois as matérias não supriam sua necessidade de
informação. Percebemos, portanto, que existia um interesse muito grande e
uma necessidade muito grande de informação da área jurídica, que era mal
coberta e mal explorada pelos serviços de informação no geral, ainda mais no
Brasil cujo impacto das decisões judiciais é muito relevante e sentido na vida
de todos. Foi por isso que decidimos criar o Jota. Eu me afastei um pouco da
operação do Brio, porque o Jota demanda mais de cem por cento do meu dia.
72
Analisando o Jota, percebi que existe uma “parceria” com o UOL. Como
funciona isso? Existe alguma arrecadação com publicidade, ou alguma
parceria?
O modelo que temos no Jota hoje é o de assinaturas e não o de
publicidade. Ganhamos dinheiro com assinantes individuais e assinantes
corporativos, que recebem as informações tanto pelo site, quando por
newsletters e até por WhatsApp. Temos listas de WhatsApp para envio de
73
notícias em tempo real. Quanto a parceria com o UOL, nós a utilizamos para
tentar atingir o maior número de pessoas e tentar nos tornarmos cada vez mais
conhecidos. Contudo é algo que ainda está sendo analisado, pois o nosso
público não está necessariamente lá. O que ganhamos de publicidade que vem
do UOL e o que vendemos usando o UOL é dividido com eles. Logo, o nosso
foco não é publicidade e sim o dinheiro dos assinantes. A parceria com o UOL
é interessante, mas ainda está em fase de teste.
Possível concorrência
Vocês consideram os outros portais independentes no jornalismo digital
como concorrentes? Existe concorrência com vocês?
Digamos que temos “concorrentes” entre os veículos tradicionais, sob
certo aspecto, veículos focados na área jurídica, como por exemplo,
consultores jurídicos. Mas em termos de modelos de negócio da nossa área,
não vejo concorrentes muito claros, isto é, pessoas que estão fazendo a
mesma coisa que nós e com as quais temos que ficar lutando contra, não
consigo ver nenhum. Nós tendemos a entregar um serviço mais aprofundado,
mais focado e com qualidade, o que é um diferencial.