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O Serviço Social no

Capitalismo
Profª. Silvana Braz Wegrzynovski

2015
Copyright © UNIASSELVI 2015

Elaboração:
Profª. Silvana Braz Wegrzynovski

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

361.3
W474s Wengrzynovski, Silvana Braz

O serviço social no capitalismo / Silvana Braz


Wengrzynovski. Indaial : UNIASSELVI, 2015.

267 p. : il.

ISBN 978-85-7830-871-1

1. Serviço Social.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, a disciplina que se inicia agora aborda uma das
questões mais controversas da profissão de Serviço Social: o capitalismo.
Esse tema se torna assunto de profunda importância para o estudo da teoria
e prática da formação do assistente social, e também na sua atuação como
profissional, no contexto social, econômico, político e cultural em que está
inserido.

Iniciaremos nossos estudos abrangendo a questão da expansão e


crise do capitalismo e na configuração da modernidade e pós-modernidade,
através do resgate histórico sobre as crises do capitalismo e a sua influência
para o Serviço Social, bem como dos desafios que o profissional encontra
diante deste sistema econômico.

Conforme o que mostra a história da nossa profissão, a mesma passou


por momentos de reestruturação teórica, metodológica e prática. Diante disso,
se faz necessário entender as transformações da sociedade no capitalismo
contemporâneo, através da discussão sobre o que é o projeto societário do
capital, de que forma tal projeto influencia nas políticas públicas e quais
seriam as demandas dessas transformações na ordem mundial.

Ainda no que se refere às transformações societárias, se faz necessário


estudar o Serviço Social na divisão técnica do trabalho, sendo esse um tema
relacionado às transformações do mundo do trabalho. E, por último, serão
apresentadas nesta unidade as organizações das categorias acadêmicas e
profissionais e como se fazem presentes no sistema capitalista.

O presente caderno apresentará como o Serviço Social se organiza e


atua no século XXI, buscando refletir sobre as transformações no mundo do
trabalho, como de fato essas novas configurações do trabalho influenciaram
no saber fazer da profissão.

Além de entendermos as transformações no mundo do trabalho, e


como o Serviço Social se apresenta nas novas formas de enfrentamento da
questão social, através do Estado e sociedade civil, será possibilitada ao
acadêmico uma reflexão sobre qual é o papel do Estado, nessa fase atual de
desenvolvimento capitalista.

E, por fim, serão estudados o Serviço Social e as políticas públicas
contemporâneas, possibilitando o acesso a conhecimentos e críticas sobre a
agenda das políticas sociais atuais no que diz respeito ao plano federal.

III
Esperamos que, com os conteúdos abordados nessa disciplina, sejam
proporcionados a você, caro acadêmico, elementos para melhor conhecer o
seu espaço de atuação como futuro profissional de Serviço Social, podendo
identificar os seus interlocutores e os desafios propostos.

Comecemos, então, o nosso estudo.



Profa. Silvana Braz Wegrzynovski

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO
DA PÓS-MODERNIDADE ........................................................................................ 1

TÓPICO 1 – AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA ................ 3


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 ENTENDENDO AS CRISES DO CAPITALISMO ......................................................................... 3
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20

TÓPICO 2 – OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO


CAPITALISMO ................................................................................................................ 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21
2 A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL DIANTE DOS DESAFIOS E
PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS ............................................................................................ 22
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 31
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 33
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 – A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO


COM O SERVIÇO SOCIAL ............................................................................................ 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 AS EXPRESSÕES IDEOCULTURAIS DA CRISE DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEA
E SUA INFLUÊNCIA TEÓRICA-PRÁTICA PARA O SERVIÇO SOCIAL ............................... 36
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 49
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 51
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52

TÓPICO 4 – OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL


FRENTE AO PROJETO DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA
CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO ..................................... 53
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53
2 OS REFLEXOS DA MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE PARA O SERVIÇO
SOCIAL PERANTE O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO ................................................................... 54
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 73
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 76
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 78

UNIDADE 2 – O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO


CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO ..................................................................... 79

TÓPICO 1 – A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA


SOCIEDADE CAPITALISTA ......................................................................................... 81
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 81

VII
2 O SIGNIFICADO SÓCIO-HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL COMO
PROFISSÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ................................................................. 82
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 100
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 104

TÓPICO 2 – OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO


PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E
INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO ............................. 105
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 105
2 O SERVIÇO SOCIAL COMO TRABALHO ASSALARIADO E A SUA
TRAJETÓRIA EM ESPAÇOS DE ATUAÇÃO NAS ESFERAS PÚBLICAS .............................. 106
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 117
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 119
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 121

TÓPICO 3 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS


EMPRESAS PRIVADAS .................................................................................................. 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 O SERVIÇO SOCIAL COMO PROFISSÃO INSERIDA NAS EMPRESAS
CAPITALISTAS ........................................................................................................................................... 124
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 136
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 139
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 141

TÓPICO 4 – A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS


ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA E NAS
ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS ................................................ 143
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143
2 DESAFIOS, LIMITES E TENDÊNCIAS DO TRABALHO DOS ASSISTENTES
SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA ....................................... 144
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 151
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 154
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 155

UNIDADE 3 – O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS


NO SÉCULO XXI .......................................................................................................... 157

TÓPICO 1 CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS .......................................................... 159


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159
2 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS, CICLOS E ANÁLISES NO MODELO
SISTÊMICO ........................................................................................................................................... 160
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 176
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 178
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 180

TÓPICO 2 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO ................... 181


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 181
2 ELABORAÇÃO E EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO
CONTEXTO DO SISTEMA CAPITALISTA ................................................................................... 182
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 194
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 198
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 200

VIII
TÓPICO 3 – AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES
HISTÓRICAS .......................................................................................................................... 201
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 201
2 O ESTADO E AS CORRELAÇÕES HISTÓRICAS ENTRE AS DEMANDAS SOCIAIS ....... 201
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 221
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 224
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 226

TÓPICO – 4 AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO


ESTADO BRASILEIRO .................................................................................................. 227
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 227
2 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS E CIDADANIA ............................................................ 228
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 251
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 254
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 257
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 259
ANOTAÇÕES ........................................................................................................................................... 267

IX
X
UNIDADE 1

A EXPANSÃO E CRISE DO
CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO
DA PÓS-MODERNIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender a atual crise do capitalismo;

• analisar os desafios do serviço social frente à crise do capitalismo;

• discutir sobre o surgimento da pós-modernidade para as categorias teóri-


cas, políticas e culturais;

• conhecer os reflexos da modernidade e pós-modernidade para o serviço


social.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos, sendo que ao final de cada
um deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos
apresentados.

TÓPICO 1 – AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES DO MODELO


CAPITALISTA

TÓPICO 2 – OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO


CAPITALISMO

TÓPICO 3 – A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA


RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

TÓPICO 4 – OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO


SOCIAL FRENTE AO PROJETO DA MODERNIDADE, DA
CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA
PÓS-MODERNISMO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO
MODELO CAPITALISTA

1 INTRODUÇÃO
A economia política descobre no trabalho o fundamento da atividade
econômica, sendo que por meio desta a riqueza social é determinada, ou seja, o
trabalho é a atividade onde o homem produz e reproduz a sua essência através de
sua história.

Nesta unidade, o acadêmico poderá compreender determinados aspectos


da crise do capitalismo na atualidade, conhecendo os fundamentos das questões
sociais que envolvem a sociedade como um todo.

Então vamos aos estudos...

2 ENTENDENDO AS CRISES DO CAPITALISMO


Para realizar um estudo sobre a atual crise do sistema capitalista, se
faz necessário compreender conceitos fundamentais sobre capitalismo e as
transformações que ocorreram no modelo de produção, desde o final da década
de 70 do século XX, com ênfase nas mudanças sofridas na acumulação capitalista,
bem como na organização do trabalho e no modo de viver dos trabalhadores.

Para muitos pensadores sociais, economistas e outros, a definição de


capitalismo se dá, pela sua forma de organização global, como sendo o sistema
econômico mundial, pois na sociedade contemporânea é o sistema econômico e
social que prevalece, conforme será apresentado nesta unidade de estudo.

Desde o nascimento do capitalismo na Europa, durante o período do


mercantilismo, surgiram defensores de uma “empresa livre” ou da “livre
iniciativa” e/ou ainda “mercado livre”, pois nesse período havia muitas ressalvas
à liberdade do comércio, sendo que as empresas não poderiam escolher o que
produzir, nem para quem, e também não tinham a escolha de como produzir e/
ou para quem vender, sendo dificultadas pelas associações de profissões e pelo
Estado que tinha como princípio o mercantilismo. Nascimento (2012, p. 51) afirma:

3
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

“Muito se tem debatido o real sentido de livre empresa (ou como também pode ser
chamada: livre iniciativa), no aspecto de se verificar se há total liberdade das forças
do mercado (competição) ou mesmo se em proteção ao próprio consumidor final”.

O livre mercado é uma das primeiras características do sistema capitalista,


pois os donos das empresas, patrões, exigiam uma maior autonomia na produção
e, com as suas propriedades, visavam a obtenção de lucros.

As crises do sistema capitalista são cíclicas e periódicas, oriundas dos


problemas de acumulação do capital, sendo sempre econômicas e não culturais,
religiosas, entre outras dimensões, porém se relacionam entre si e afetam
diretamente o modo de produção.

Cada crise da economia é diferente uma da outra, devido aos momentos


em que se desenvolvem. Atualmente estamos vivenciando uma crise globalizada,
devido a vários fatores, como, por exemplo, a expansão do capital que atinge
primeiramente os países centrais e depois os países periféricos.

O homem é o responsável pela construção contínua da história, sendo


esse um movimento determinado pela estrutura econômica da sociedade, ou seja,
imposta pelas condições materiais da vida.

FIGURA 1 – CRISE ATUAL

FONTE: Disponível em: <http://gracietesantana.blogspot.com.


br/2012/04/o-que-o-capitalismo-proporciona.html>. Acesso em: 17 nov.
2014.

4
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

Marx e Engels, nos livros Manuscritos Econômico-Filosóficos (2002) e em A


Ideologia Alemã (1986), afirmam que o trabalho é a ferramenta para as atividades
da economia política, sendo esse o responsável pela produção da riqueza social.

Compreende-se então, caro acadêmico, que o trabalho é desenvolvido


pelo homem como sendo um instrumento capaz de produzir a sua essência,
transformando o meio em que se vive, individualmente e/ou coletivamente.

O trabalho se torna um dos componentes condicionantes da história da


sociedade na sua totalidade. “O processo de trabalho como o apresentou, em
seus elementos simples e abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir
valores de uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas
[...]” (MARX,1985, p. 153).

A riqueza social, bens materiais, que são produzidos pela sociedade


para a sua reprodução social, no modelo de produção capitalista, não possuem
uma divisão igualitária, gerando as classes sociais antagônicas. O que ocorre
é a apropriação desses bens, que são produzidos através do trabalho da classe
operária, pelos donos dos meios de produção.

Os bens materiais se concretizam através da força do trabalho do homem,


e se valorizam através do que se chama de mercadoria.

Segundo Marx,
A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual, pelas
suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie.
A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da
fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a
coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de
subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se diretamente, como meio
de produção. (MARX, 1988, p. 45).

A mercadoria deve ser levada sempre em consideração por dois pontos


de vista: o de quantidade ou qualidade. Todos os produtos, depois que se tornam
mercadoria, passam a ter certos valores.

Para Marx, a mercadoria é definida por dois fatores: Valor de Uso e Valor
de Troca.
[...] a existência [...] de cada elemento da riqueza material não existente
na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial
produtiva, adequada ao seu fim, que assimila elementos específicos da
natureza a necessidades humanas específicas. Como criador de valores
de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de
existência do homem, independente de todas as formas de sociedade,
eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem
e natureza e, portanto, da vida humana (MARX, 1988, p. 50).

Sendo assim, o valor de uso depende da necessidade de utilidade de um
determinado “bem”, para cada pessoa. O valor de troca pode ser medido, pois está
baseado na propriedade de cada produto.
5
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

FIGURA 2 – MERCADORIA

FONTE: Disponível em: <http://www.sntpv.com.br/sindical/amercadoriaeseuvalor.php>.


Acesso em: 20 nov. 2014.

O capital se expande pelo modelo de produção, pelo que se chama de


apropriação da mais-valia, que é o valor total de trabalho empregado na produção
de mercadoria, ou seja, é o trabalho excedente que não é pago. “Todo o sistema
de produção capitalista repousa no fato de que o trabalhador vende sua força de
trabalho como mercadoria” (MARX, 1985, p. 48).

O raciocínio lógico dos capitalistas seria sempre arrancar a mais-valia dos


trabalhadores, assim acumulam capital para investir novamente na produção,
consequentemente aumentando sua riqueza. Nesse sentido, a acumulação do
capital estaria independente da vontade individual dos patrões, se tornaria
inseparável à condição para sobreviver no mercado de produção.

Para Marx (1985), sempre haverá injustiça social neste modelo de sociedade
capitalista, devido ao trabalhador produzir para seu patrão muito mais que o
próprio valor que custa para a sociedade.

6
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

UNI

Você já deve estar se perguntando por que estudarmos os conceitos de trabalho,


mercadoria, valor, mais-valia, nas crises do capitalismo. Então vamos seguir.

A “crise da sobreprodução”, defendida por Marx (1988), é gerada através


da relação produtiva contrária que se desponta por meio da questão social,
significando um grande leque de problemas sociais, que são resultados das
contradições geradas pelo capital e trabalho.

Porém, essa crise é decorrente quando os chamados empregadores,


patrões e/ou donos do capital não conseguem vender seus produtos, e não
conseguem os lucros esperados, ou então a partir do momento em que a produção
não desempenha sua função de ascender lucros, causando o desemprego dos
trabalhadores e o aumento da economia.

O autor Mészarós explica que as crises são próprias do modelo capitalista


de produção.

No decurso do desenvolvimento histórico real, as três dimensões
fundamentais do sistema capitalista — produção, consumo e circulação/
realização — tendem, durante um longo período de tempo, a reforçar-
se e a expandir-se reciprocamente, garantindo também a motivação
interna necessária para a respectiva reprodução dinâmica a uma escala
cada vez mais ampliada. Portanto, no início, os limites imediatos de
cada uma são superados com êxito, graças precisamente à interação
recíproca com as outras dimensões. (Por exemplo: o obstáculo imediato
à produção é superado com êxito durante algum tempo através da
expansão do consumo e vice-versa.) Deste modo, esses limites imediatos
das dimensões fundamentais do capital, mencionados nas citações
dos Grundrisse, aparecem na realidade como simples obstáculos a
superar. Ao mesmo tempo, as contradições imediatas do conjunto são
não apenas transferidas, mas diretamente utilizadas como alavancas
para o crescimento exponencial nas aparências do ilimitado poder
autopropulsivo do capital. (MÉSZARÓS, 2004).

Antes do surgimento da indústria capitalista existiam crises econômicas,
que eram originadas das calamidades naturais, como as cheias, secas, doenças,
epidemias e, entre outros fatores, até mesmo as guerras. Nessas situações não
era disponibilizada alimentação e outros produtos para garantir e atender às
necessidades imediatas, ou seja, crise de subprodução.

Na sociedade fundamentada na economia capitalista existe uma contradição


que acontece, as crises econômicas que são geradas pela superprodução. Marx
(1848) afirmava que:

7
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos


já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças
produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra
época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade - a epidemia
da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um
estado de barbárie momentânea; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de
extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o
comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui
demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada
indústria, demasiado comércio. (MARX, 2007, p. 7).

FIGURA 3 – SUPERPRODUÇÃO

Fonte: Disponível <https://historiaaraposo.files.wordpress.


com/2011/01/02.jpg>. Acessado em 18 nov. 2014.

O que se percebe é que as crises de consumo estão inseridas nos princípios


do modo de produção capitalista, sendo elas cíclicas, e ocorrem de tempo em
tempo, através da forma em que acumula e expande seu capital.

O início de uma crise capitalista se dá por uma diminuição das atividades


econômicas, ou seja, pelo desaquecimento da economia. Em seguida vem a fase
de depressão, que é caracterizada pela diminuição das atividades econômicas,
resultando em queda dos lucros, aumentando o índice de subemprego e
desemprego, além da diminuição dos salários. Após afetar toda classe de produção,
o capital começa uma nova fase de crescimento, que significa sua recuperação, até
iniciar um novo ciclo.

Conforme Mota (2009, p. 53), “As crises expressam um desequilíbrio
entre a produção e o consumo, comprometendo a realização do capital, ou seja, a
transformação da mais-valia em lucro, processo que só se realiza mediante a venda
das mercadorias capitalisticamente reduzidas”.

O que ocorre é a produção de grande quantidade, mas que a população não


tem como comprar. Vale lembrar que, na economia capitalista, interessa o valor
de troca e não o valor de uso das mercadorias. A produção de mercadorias não
necessita e não precisa atender às necessidades da classe trabalhadora, e sim as
necessidades da classe burguesa, patrões, através do lucro, consequentemente, as
crises econômicas.

Pode-se afirmar que existem duas causas fundamentais que geram as crises
econômicas, que se relacionam e findam entre si. Uma se baseia na contradição
8
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

entre capital x trabalho, e a outra se baseia na anarquia da produção, que significa


uma economia planificada.

E
IMPORTANT

CAPITAL X TRABALHO: Interesses contrários entre capitalistas e trabalhadores. O


patrão luta por mais lucros e o trabalhador por salários mais justos.

Na relação capital x trabalho (patrão x trabalhador) existem interesses


completamente diferentes, pois o que favorece economicamente uma classe
desfavorece a outra. Os patrões precisam manter seu lucro e lutam por isso, já os
trabalhadores lutam por melhores salários e ampliação dos direitos trabalhistas.

A maioria dos consumidores das mercadorias são os próprios trabalhadores,


que, com salários reduzidos, não conseguem acompanhar a oferta das mesmas
em que são produzidas, e assim a produção fica além do consumo. Com a pouca
aquisição de mercadorias, geram-se os estoques, diminuindo assim a produção.

Diante disso, conclui-se que o capitalista, ou seja, o patrão, precisa manter


os lucros mantendo os salários baixos, acabando com o poder de aquisição para
obtenção dos lucros e com isso causando o desemprego, que por sua vez diminui
os salários, aumentando a oferta de mão de obra.

FIGURA 4 – CAPITAL X TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://www.sntpv.com.br/sindical/oprocessodeproducao.php>. Acesso


em: 19 nov. 2014.

9
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Outra causa de uma crise econômica seria a anarquia da produção, onde a


liberdade de interesse deveria causar uma harmonia no sistema capitalista e sua
economia. Para Marx (1985), a anarquia de produção evidencia que o capitalismo
não tem um sistema de organização centralizado, que mostre o caminho que
a produção deve seguir, gerando assim uma produção sem planejamento e
ocasionando as crises periódicas. As coisas acontecem completamente diferentes,
veremos agora.

Como vimos anteriormente, o interesse dos patrões será sempre acumular


o lucro, acumulando assim seu capital, e para que isso aconteça procuram diminuir
salários, ampliam a produção para aumentar as vendas. Sendo esse o interesse
e planejamento individual de cada empresa durante o período de crescimento
econômico.

Esse planejamento individual leva a uma concorrência entre as empresas,


pois nenhuma respeita o interesse da outra, ocasionando muitas vezes, em algumas
dessas empresas, um descontrole da produção.

Esse descontrole de produção é resultado da grande produção e colocação


dessas mercadorias no mercado, muito mais do que se precisa; e com o abusivo
aumento da produção, algumas matérias-primas começam a faltar, fazendo com
que o preço dessas mercadorias aumente, diminuindo assim o consumo.

UNI

O que se conclui é que, tanto pela relação trabalho x capital quanto pela anarquia
da produção, se tem grandes estoques e queda da produção, resultando no desemprego e
subemprego e baixos salários pela excessiva força de trabalho.

As crises do sistema capitalista não ocorrem naturalmente, são incoerências


do modelo capitalista de produção, devido à sua própria contradição, à fabricação
socializada e do acúmulo privado da riqueza por parte da minoria.

Netto e Braz (2006, p. 162) garantem que: “as crises são funcionais ao
modelo de produção capitalista, constituindo num mecanismo que determina a
restauração das condições de acumulação, sempre em níveis mais complexos e
instáveis, assegurando assim a sua continuidade”.

Os autores acima não acusam um esgotamento do sistema capitalista, e


sim conduzem para uma discussão sobre as contradições que existem no modelo
de produção capitalista, afetando fatores políticos e força nas relações entre as
classes sociais. Com isso ocorre um processo de alterações no cerne da sociedade,
conforme os objetivos das classes sociais e de suas forças políticas.

10
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

UNI

Os reflexos das crises são diferentes para a classe social dos trabalhadores e a dos patrões.

Cada classe social, capitalistas (patrões) e trabalhadores, reage de maneira


diferenciada às crises cíclicas da economia capitalista. Para a primeira classe
significa que seu poder econômico está ameaçado, e para a outra classe, a dos
trabalhadores, estes são afligidos, no que diz respeito à sua condição de trabalho,
tanto materialmente como subjetivamente, através de reflexos como o desemprego,
perdas salariais, crescimento do chamado exército de reserva de mão de obra,
desarticulação das suas organizações e lutas de classes.

Segundo Mota (2009, p. 55),

Do ponto de vista objetivo, este movimento materializa-se na c r i a ç ã o


de novas formas de produção de mercadorias, mediante a
racionalização do trabalho vivo pelo uso da ciência e tecnologia,
regido pela implantação de novos métodos de gestão do trabalho que
permitem às firmas o aumento da produtividade e a redução dos custos
de produção.

As chamadas curvas cíclicas das crises econômicas incidem em dinâmicas


das afinidades sociais, ou seja, na restauração das relações sociais, através da
intervenção do Estado.

FIGURA 5 – CRISES DO CAPITALIMO

Fonte: A autora

11
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

O Estado redefine sua estrutura de intervenção, através de novos


mecanismos institucionais, como, por exemplo, a criação de novos sistemas de
proteção social. Porém, o Estado intervém diretamente na política econômica,
gerando uma relação contínua entre Estado, mercado e sociedade.

Nos países centrais, após a Segunda Guerra Mundial, até a década de


70, houve uma fase de reconstrução, que foi marcada pelo desenvolvimento do
capitalismo, com uma grande intervenção estatal. O modelo de produção fordista
unificou as ações econômicas do modelo econômico keynesiano, resultando em
um equilíbrio do modo de acumulação capitalista, compreendido como fordista-
keynesiano, segundo Harvey (1992, p. 121):

(...) O Estado teve que assumir novos (keynesianos) papéis e construir


novos poderes institucionais; o capital corporativo teve de ajustar as
velas  em certos aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da
lucratividade segura; e o trabalho organizado teve de assumir novos
papéis e funções relativas ao desempenho nos mercados de trabalho e
nos processos de produção. “O equilíbrio de poder tenso mas mesmo
assim firme, que prevalecia entre o trabalho organizado, o grande
capital corporativo e a nação-Estado, e que formou a base do poder da
expansão do pós-guerra.

DICAS

Você, acadêmico(a), deve assistir ao filme: Tempos Modernos, de Charles Chaplin.

FIGURA 6 – TEMPOS MODERNOS

FONTE: Disponível em: <http://chapeudosol.wordpress.com/2010/09/18/marx-


em-tempos-modernos/>. Acesso em: 16 nov. 2014.

12
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

Atualmente estamos vivenciando um processo de globalização da


economia, que deixou de ser uma crise cíclica do capitalismo para se tornar um
modelo estruturado e permanente, devido à forma como as dimensões capitalistas,
produção, consumo e realização, se organizam pela acumulação entre si.

FIGURA 7 – CONSUMO

FONTE: Disponível em: <http://www.debatesculturais.com.br/


reflexoes-sobre-o-capitalismo-putrefato/>. Acesso em: 25 nov.
2014.

Para Mészarós (2004), a crise capitalista que está inserida no mundo, desde
os anos 70, está fundamentada em algumas características, sendo elas:
1. Mais do que restringido a uma esfera particular (por exemplo,
financeira, comercial ou de um ou outro ramo da produção, ou de um
ou outro setor particular de trabalho, com a sua gama específica de
capacidades e grau de produtividade etc.), o seu caráter é universal; 2.
Mais do que limitado a uma série particular de países (como foram
todas as mais importantes crises do passado, incluindo a “grande
crise mundial” de 1929-1933), o seu alcance é realmente  global  (no
sentido mais extremadamente literal do termo); 3. Mais do que restrita
e  cíclica,  como foram todas as crises anteriores do capitalismo, a
sua  escala temporal é alargada,  contínua —  permanente, se se quiser
— e 4. No que respeita à sua modalidade de desenvolvimento, defini-la
como sub-reptícia poderia ser uma descrição adequada — em contraste
com as erupções e desmoronamentos mais espetaculares do passado
—, com a advertência de que não se excluem para o futuro nem mesmo
as mais veementes e violentas convulsões, uma vez quebrada aquela
complexa máquina hoje ativamente empenhada na “gestão” da crise e
na transferência mais ou menos provisória das crescentes contradições. 

Diante disso, percebe-se que as crises geradas pelo sistema capitalista não
possuem reflexos somente no setor econômico de um sistema, mas também no
que se refere ao campo social e político, devido ao papel impotente que o Estado
assume diante dessa nova configuração do modelo de produção econômico.

13
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Para lanni (1992, p. 11), o significado de globalização é: “expressa um novo


ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório
de alcance mundial”.

No mundo todo, nas últimas décadas do século XX foram envolvidas


pela globalização desde as nações desenvolvidas e subdesenvolvidas, formas
de governo, classes sociais, pessoas, culturas, enfim, todos os segmentos sociais.
Aconteceram várias modificações em todos os setores, no que diz respeito à
economia, houve a criação de novas tecnologias, facilitando a comunicação e o
acesso às informações, os aparelhos e capitais se expandiram.

O processo de globalização está inserido não somente na internacionalização
do capital, na relação de consumo e troca, como também nas expressões políticas
e sociais.

Nesse contexto, a questão social se globaliza e passa a ter novas dimensões
e características, como, por exemplo, o aumento dos índices de desemprego e
subemprego, criando uma flexibilidade globalizada do capitalismo no mundo do
trabalho, com o mínimo de garantia e proteção social.

Um exemplo são as empresas dos países asiáticos, que entram na


concorrência do mercado mundial, com melhor desempenho de fabricação e com
preços mais baixos, mas sempre com mão de obra informal, ou sem garantias
trabalhistas.

Marx, em 1845, dizia:

No desenvolvimento das forças produtivas atinge-se um estádio no


qual se produzem forças de produção e meios de intercâmbio que, sob
as relações de produção vigentes, só causam desgraça, que já não são
forças de produção, mas forças de destruição [...] Sob a propriedade
privada, estas forças produtivas recebem um desenvolvimento apenas
unilateral, tornam-se forças destrutivas para a maioria [...] Chegou-
se, portanto, a um ponto tal que os indivíduos têm de apropriar-se da
totalidade existente das forças produtivas, não só para alcançarem a sua
auto-ocupação, mas principalmente para assegurarem a sua existência.
(MARX, 1845 apud MÉSZARÓS, 2004).

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, é de fundamental importância estudar, conhecer, compreender


e avaliar o novo modelo de produção capitalista, para intervir profissionalmente.

14
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

A economia de mercado, com o modelo capitalista de globalização, assume


o controle das relações sociais de produção entre as diversas nações, invadindo a
particularidade de cada povo.

Analisando a figura abaixo, percebe-se que o ciclo dessa crise é estável, e


se estabeleceu na sociedade mundial através da abertura da economia do capital,
gerando uma maior competitividade de mercado.

FIGURA 8 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: A autora.

Para Ramalho (2012):

É inquestionável que a globalização trouxe avanços em vários segmentos


da sociedade. Contudo, tais avanços permitiram a criação de uma
ideologia dominante consolidada nas crenças do progresso prometido
da globalização. Esta acabou por cinzelar o mundo e ter causado
uma espécie de cegueira sobre as suas consequências, minimizando
a importância de resposta aos problemas dela emergentes que se
traduziram em disparidades na riqueza e no bem-estar, no desemprego
estrutural, na insegurança humana, na degradação da natureza e no
enfraquecimento dos Estados-nação.

A globalização mundial, não só na dimensão econômica, mas em todas


as outras, como por exemplo a social, política e cultural, afeta diretamente todas
as relações sociais. O profissional de Serviço Social necessita criar instrumentos
técnico-operativos para atuar diante dessa conjuntura.

15
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

DICAS

Para compreender um pouco mais, leia:

IAMAMOTO, Marilda Villela. Trabalho e Indivíduo Social, 3ª Edição. São Paulo: Cortez, 2008

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPITALISMO: MAIS‑VALIA, MAIS CRISE E MAIS BARBÁRIE

A crise capitalista atual não nos conduzirá à superação da ordem burguesa.


O capitalismo, por si só, sempre dará em mais capitalismo. A natureza da crise
do capital que se aprofundou a partir de 2008 não é diferente, em sua essência,
das crises que abateram o sistema em tantas outras vezes, tipificadas pelos traços
constitutivos do estágio imperialista que se estruturou justamente a partir de
outra grande e grave crise, a de 1873. Ela é movida pela natureza contraditória
do desenvolvimento capitalista que, ao potencializar seu processo de reprodução
ampliada (sua própria acumulação de capital), reproduz os fatores que exponenciam
suas contradições e acionam crises que, desde as últimas décadas do século XX,
têm maior duração e se exprimem em períodos menos espaçados (e sem ondas
longas expansivas), alternando períodos (espasmódicos) de crescimento, auge,
crise, recessão/depressão, retomada...

A contradição central (a produção social e a apropriação privada) e o


caráter anárquico da produção potencializam e assentam o desdobramento das
crises capitalistas, que podem se expressar na tendência de queda da taxa média de
lucro e/ou na combinação superprodução de mercadorias/subconsumo das massas
trabalhadoras. E é o aumento da população sobrante (do exército industrial de
reserva) e a massa de capitais excedentes que encontra dificuldades para se valorizar
(a superacumulação) que têm tornado o metabolismo social do capital ainda mais
sedento e voraz na busca de novos espaços de acumulação e de valorização do valor.
A análise de Mandel é formidável, porque é a que melhor aponta esses elementos
como aqueles que comandam o capitalismo tardio, indicando as questões centrais
para pensar o capitalismo contemporâneo, especialmente duas: o aumento da
composição orgânica do capital e o problema da crescente prevalência do capital
constante sobre a variável e, decorrente daí, a tendência de redução do trabalho
vivo e o problema da relação criação/realização da mais‑valia.

Além desses fatores macroestruturais, a especificidade da crise atual,


analisada com rigor por Mészáros, está assentada em duas características intrínsecas
e que também se expressam na dinâmica estrutural do MPC contemporâneo: ela
acentua o caráter destrutivo da produção capitalista, de modo que o metabolismo
social comandado pelas forças do capital faz predominar, de maneira incomparável,
16
TÓPICO 1 | AS TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MODELO CAPITALISTA

tendências altamente destruidoras da exploração da natureza que concorrem até


mesmo para criar sérios obstáculos à própria reprodução da vida social; por outro
lado, e correlatamente, esgotaram‑se os mecanismos estruturais (posto que os
paliativos sempre hão de existir) de autorregulação do sistema sociometabólico
do capital, uma vez que o caráter permanente da crise sobressai em detrimento da
sua forma cíclica de se expressar, prevalente até os anos 1970. Mészáros caracteriza
muito bem a crise adjetivando‑a, corretamente a meu ver, como uma rastejante.

Aqui, quero salientar duas observações: a primeira diz respeito à


predominância de análises catastrofistas sobre a crise contemporânea. A sua
forma a‑histórica de apreender a realidade só conduzirá a “saídas” igualmente
a‑históricas que podem se expressar em promessas voluntaristas, como as que
pululam nos países centrais tocadas pela “juventude indignada” dos setores
pequeno‑burgueses das grandes cidades e pelos ecoambientalistas de todo tipo;
ou em “soluções” fatalistas que podem dar tanto nas promessas que promovem
a (improvável) ruptura abrupta com a ordem burguesa baseada em prognoses
fantásticas sobre o futuro (e, evidentemente, numa equivocada análise do presente)
ou, ao contrário, podem resultar no mais absoluto niilismo, inofensivo e inepto.

Mesmo que não possamos debitar à teoria o rumo de algumas das


expressões das lutas sociais, é certo que ela representa parte do esforço de autores
que, ainda que não possam ser responsabilizados por seus rumos, mantêm notória
influência nesse campo. São vários os exemplos que podemos colecionar, mesmo
que partam de perspectivas teóricas diversas, que podem nos levar a caminhos
diferentes: desde Kurz nos anos 1990, passando por Negri/Hardt na década de
2000 e pelos diversos estudos que colocam o acento na questão ambiental (que é de
fato uma questão relevante, mas não a central), como o que se faz notar dos textos
de Boaventura Sousa Santos.

A segunda observação diz respeito às correntes que não entendem a


natureza da crise contemporânea e que acabam compreendendo‑a como mais
uma crise do capital, passível de solução, regulação ou medidas anticíclicas. Aqui
aposta‑se na administração de uma dinâmica que é cada vez mais incontrolável e
que já não mais comporta formas de autorregulação. Pior: aposta‑se no controle
e na administração das consequências sociais do inadministrável sistema do
capital. Vê‑se tal equívoco nas correntes que apostam numa terceira via tardia,
nas saídas ditas neokeynesianas (que no Brasil têm atendido pelo nome de
neodesenvolvimentismo que se expressa, na verdade, como um arremedo do
modelo desenvolvimentista) ou, até mesmo, no sonho de uma reedição saudosa
de um novo Welfare State.

O suposto neodesenvolvimentismo, quando comparado aos traços


gerais das políticas desenvolvimentistas - que, de modo muito problemático e
diferenciado, conhecemos ao longo do período 1930 e 1980 no Brasil através de
algumas experiências implementadas -, está muito longe do modelo original.
Segundo especialistas, quando comparada ao paradigma desenvolvimentista que
se conheceu no século passado, a hipótese neodesenvolvimentista “se desmancha
no ar”, e as razões são claríssimas, seja porque: “a) apresenta taxas de crescimento
17
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

bem mais modestas; b) confere importância menor ao mercado interno, isto é, ao


consumo das massas trabalhadoras; c) dispõe de menor capacidade de distribuir
renda; d) aceita a antiga divisão internacional do trabalho, promovendo uma
reativação, em condições históricas novas, da função primário‑exportadora do
capitalismo brasileiro; e) é dirigida politicamente por uma fração burguesa, a qual
denominamos burguesia interna, que perdeu toda a veleidade de agir como força
anti-imperialista”.

Para além das muitas polêmicas que o tema suscita, uma definição
empregada para explicar o que chamo de hipótese desenvolvimentista é
esclarecedora: “[...] o neodesenvolvimentismo é o desenvolvimento possível
dentro do modelo capitalista neoliberal [...]”. Ora, sabemos que o neoliberalismo
se caracteriza justamente por políticas e medidas que obstam o desenvolvimento e
o crescimento econômico, tornando muito difícil sustentar tal afirmação.

Ainda sobre a segunda observação: o entendimento do capitalismo


contemporâneo parece ser levado para um beco sem saída, justamente porque
mostram‑se inúteis as saídas de administrá‑la. Namora‑se o capital, imperando o
possibilismo que procura agir nos espaços cada vez mais estreitos e restritos e que
atua nas supostas brechas por dentro do Estado capitalista. O trabalho torna‑se
parceiro do capital e seus representantes, os representantes do capitalismo nos
governos. Busca‑se a hegemonia em comunhão com os interesses maiores do
capital que faz do Estado e dos governos de plantão seus prepostos, consolidando
aquilo que Francisco de Oliveira (2007) denominou de “hegemonia às avessas”, pela
qual a esquerda exerce o poder para realizar o projeto do capital, por intermédio
de meios políticos que rebaixam sobremaneira seus horizontes. Ela (a “hegemonia
às avessas”) é recente entre nós e começou em 2003, mas é velha conhecida dos
europeus cujos governos tocados por partidos socialistas desde os anos 1980 são
os melhores exemplos. Recorde‑se dos casos francês (com Mitterrand), espanhol
(com Gonzales) e português (com Soares).
FONTE: BRAZ, Marcelo. Capitalismo, crise e lutas de classes contemporâneas: questões e
polêmicas. Serv. Soc. Soc. [online], n. 111, p. 468-492, 2012. ISSN 0101-6628. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-46282012000300005&script=sci_arttext>. Acesso
em: 20 nov. 2014.

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico pudemos compreender as crises econômicas do sistema
capitalista. Foram abordados os seguintes itens:

• Os conceitos fundamentais sobre o significado de capitalismo e as transformações


que ocorreram no modelo de produção, desde o final da década de 70 do século
XX.

• As mudanças sofridas na acumulação capitalista, como na organização do


trabalho e no modo de viver dos trabalhadores no decorrer do processo histórico.

• As crises do sistema capitalista são cíclicas e periódicas, oriundas dos problemas


de acumulação do capital, sendo sempre econômicas e não culturais, religiosas,
entre outras dimensões, porém se relacionam entre si, devido ao fato de que a
crise econômica vivenciada no mundo atual está relacionada com o modo de
produção.

• O capital se expande pelo modelo de produção, pelo que se chama da apropriação


da mais-valia, que é o valor total de trabalho empregado na produção de
mercadoria, ou seja, é o trabalho excedente que não é pago.

• Os bens materiais se concretizam através da força do trabalho do homem, e se


valorizam através do que se chama de mercadoria.

• Cada classe social, capitalistas (patrões) e trabalhadores, reage de maneira


diferenciada às crises cíclicas da economia capitalista.

• Nos países centrais, após a Segunda Guerra Mundial, até a década de 70, houve
uma fase de reconstrução, que foi marcada pelo desenvolvimento do capitalismo,
com uma grande intervenção estatal.

• O Estado redefine sua estrutura de intervenção através de novos mecanismos


institucionais, como, por exemplo, a criação de novos sistemas de proteção
social. Porém, o Estado intervém diretamente na política econômica, gerando
uma relação contínua entre Estado, mercado e sociedade.

• Atualmente estamos vivenciando um processo de globalização da economia,


que deixou de ser uma crise cíclica do capitalismo para se tornar um modelo
estruturado e permanente.

• O processo de globalização do capitalismo está inserido não somente na


internacionalização do capital, na relação de consumo e troca, como também
nas expressões políticas e sociais.

19
AUTOATIVIDADE

1 Partindo da leitura complementar, comente sobre a crise do capital na


atualidade.

2 Indique três consequências da globalização da economia.

20
UNIDADE 1
TÓPICO 2
OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À
CRISE DO CAPITALISMO

1 INTRODUÇÃO
A história do Serviço Social está fundamentada em duas teses distintas uma
da outra. Montaño (2002), na sua primeira afirmação sobre a origem da profissão,
ressalta que a mesma foi oriunda do capitalismo na sociedade.

Na segunda tese ele defende a origem da profissão, sendo endogenista,


ou seja, “profissionalização, organização e sistematização da caridade e da
filantropia’’. (MONTAÑO, 1998, p. 16).

O objeto de atuação historicamente considerado pelo Serviço Social é a luta


de classes, e que tem influências centradas no sistema capitalista. Diante disso,
esse tópico abordará como o Serviço Social tem se reportado diante dos desafios e
perspectivas da crise do sistema capitalista atual.

FIGURA 9 – DESAFIO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.


php?pid=S0101-66282010000400003&script=sci_arttext>.
Acesso em: 29 nov.2014.

21
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

2 A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO


SOCIAL DIANTE DOS DESAFIOS E PERSPECTIVAS
CONTEMPORÂNEAS
O cenário da crise contemporânea do sistema capitalista e da revolução
tecnológica e industrial que estamos vivendo acende mudanças na sociedade em
sua totalidade, em todas as dimensões: econômica, social, cultural e política, que
disparam a disputa entre as classes sociais, concentrando a riqueza produzida e
aumentando o empobrecimento da população.

Essa atual conjuntura afeta diretamente o mundo do trabalho, com o


elevado número de desemprego e subempregos, emergindo diretamente em novas
demandas para a atuação do Serviço Social.

Nessa nova ordem conjuntural, com a materialização da crise


contemporânea e as mudanças do modelo de produção capitalista, ambas
fundamentadas distintamente umas das outras, mas interligam mediante alguns
fatores que devem ser considerados.

A crise contemporânea está se efetuando em uma crise dinâmica, onde


existe a acumulação do capital, onde a produção é maior que o consumo, onde
o capitalismo se instaura sob o escudo da especulação econômica e financeira,
gerando uma crise mundial, em que principalmente países subdesenvolvidos são
obrigados a apelarem a órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) para enfrentar
as crises econômicas, gerando ainda mais desemprego e a miserabilidade da classe
trabalhadora.

Já o segundo modelo de crise tem suas particularidades na expansão


e reestruturação do capitalismo, que foi defendido como o modelo fordista/
keynesiano, visto no tópico anterior, mas que se configura na produção em grande
escala, onde o trabalhador não sabe o valor total de sua força de trabalho. Mesmo
diante das dificuldades dos trabalhadores a um salário digno, foi no modelo
fordista que houve a negociação da jornada de oito horas diárias de trabalho, entre
outros benefícios, mas em virtude da diminuição da carga horária houve também
um aumento de trabalho, onde trabalhadores, para atingir as metas, precisaram
acelerar o seu ritmo de produção.

Os desafios e as perspectivas da profissão do Serviço Social na crise


contemporânea requerem, acima de tudo, refletir qual o comprometimento e
limites que se tem com a sociedade na sua individualidade e totalidade, quais os
novos espaços de atuação e trajetos que norteiam a atuação profissional e também
resgatam os princípios éticos da profissão.

22
TÓPICO 2 | OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO CAPITALISMO

FIGURA 10 – DESAFIOS DO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <http://www.agronline.com.br/artigos/modelo-tecnico-


caminho-agonegocio->. Acesso em: 25 nov. 2014.

O Serviço Social, como profissão, sempre teve sua trajetória fundamentada


no momento histórico em que atua, moldando e adaptando suas necessidades
dentro das suas especificidades na intervenção prática, teórica e metodológica.

Foi nos anos 1980 que o Serviço Social começou a ter uma relação com a
teoria marxista, resultando em novos referenciais teórico-metodológicos de atuação
para os profissionais, através de amplas reflexões da categoria e de pesquisas com
produções teóricas.

A ruptura do Serviço Social com o modelo conservador teve visibilidade


entre os anos de 1980 e 1990. Para as autoras Yazbeck, Martinelli e Raichelis (2008,
p. 22), o Serviço Social tem sua evolução pautada, pois:

[...] a herança conservadora e antimoderna, constitutiva da gênese


da profissão, atualiza-se e permanece presente nos tempos de hoje.
Maturação que se expressa pela democratização da convivência de
diferentes posicionamentos teórico-metodológicos e ideopolíticos no
final da década.

Os avanços que a profissão teve são significativos no que conduz sua


prática, foram oriundos da organização, pesquisas dos assistentes sociais,
resultando em novos espaços ocupacionais para intervir junto à sociedade, porém,
em muitos deles, como objetivos completamente contrários aos da profissão. Ainda
Yazbek, Martinelli e Raichelis (2008, p. 15) afirmam: “[...] Maturação que ganhou
visibilidade na sociedade brasileira pela intervenção dos assistentes sociais nos
consideráveis avanços na proteção social, garantidos na Constituição Federal de
1988 e expressos, por exemplo, no ECA, LOAS, no SUS”.

Ao iniciar uma reflexão acerca da importância da atuação do Serviço Social


diante da realidade contemporânea, deve-se sempre levar em consideração fatores
econômicos, sociais, culturais e políticos da realidade estudada.

23
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Conforme Iamamoto (2006, p. 67),

O Serviço Social teve conquistas rompendo com o conservadorismo,


e tem sua atuação pautada para o fim da opressão de classe sobre
as questões que dizem respeito à sobrevivência social e material dos
setores majoritários da população trabalhadora.

Diante da história de atuação profissional do assistente social, pode-se


conferir que este tem suas práticas voltadas para as relações sociais estabelecidas
no contexto histórico.

Iamamoto (2006, p. 55) descreve que:

O Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade
[...] a conjuntura não é o pano de fundo que emoldura o exercício
profissional; ao contrário, são partes constitutivas da configuração do
trabalho do Serviço Social, devendo ser apreendidas como tais.

Para o profissional de Serviço Social entender e intervir em todas essas


dimensões na atual conjuntura econômica em que a sociedade se encontra,
necessita ter uma visão complexa para que possa, de forma teórico-prática, realizar
suas atribuições como profissional, tanto nas políticas públicas, como também na
elaboração de novas teorias profissionais. Assim, para Iamamoto (2006, p. 55-56),

[...] o esforço está, portanto, em romper qualquer relação de exterioridade


entre a profissão e a realidade, atribuindo-lhe a centralidade que deve
ter no exercício profissional [...] e o reconhecimento das atividades de
pesquisa e espírito indagativo como condições essenciais ao exercício
profissional.

FIGURA 11 – O MUNDO CONTEMPORÂNEO

FONTE: Disponível em: <http://nusocial.wordpress.com/category/as-


formas-de-enfrentamento-da-questao-social-nas-decadas-de-30-e-40/>.
Acesso em: 22 nov. 2014.

24
TÓPICO 2 | OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO CAPITALISMO

E
IMPORTANT

Diante dessa afirmação da autora acima citada, o Serviço Social utiliza-se da


mediação como instrumental técnico e operativo da sua intervenção teórico-prática.

Sobre mediação, Pontes (2000) coloca que é conjunto objetivo e ontológico


que está efetivado na realidade, sendo estudada como um dos principais atores na
dialética, devido ao fato de esta ser contabilizada como real, como princípios da
racionalidade.

Como a mediação atua diretamente na realidade, se torna um instrumento


fundamental para o profissional de Serviço Social na sua prática teórico-
metodológica no cotidiano. Torna-se essencial para o “desvendamento dos
fenômenos reais e a intervenção do assistente social” (PONTES, 2000, p. 43).

A profissão está regulamentada como sendo liberal, dispondo de certa


autonomia no seu exercício profissional, mas o assistente social, como outro
trabalhador, é um assalariado, pois vende sua força de trabalho especializada.

Para Iamamoto (2007), essa situação faz com que o assistente social tenha
seu trabalho apropriado por empregadores, fazendo com que o profissional técnico
não tenha muita autonomia nas suas ações.

Os assistentes sociais precisam desenvolver ações propositivas, com metas


de intervenções que busquem atender a demanda da população de usuários do
Serviço Social.

O desenvolvimento do modelo de produção que está enraizado no


sistema capitalista gera o desequilíbrio social, através da desigualdade de classes
e das expressões geradas pelas questões sociais, que configuram a realidade
contemporânea e precisam ser compreendidas e analisadas criticamente pelo
assistente social.

25
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

DICAS

Para aprofundar melhor seus estudos, não deixe de ler o livro indicado:

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na


Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 10ª.
ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Esta obra se refere a uma nova agenda de atuação do assistente


social diante das questões voltadas para o trabalho e para a
formação profissional.

O profissional de Serviço Social deve estar em constante aprendizado com a


realidade cotidiana, necessitando conhecer novas possibilidades de demanda e de
intervenção, podendo intervir transformando-as através das instrumentalidades
nos espaços onde o Serviço Social está presente.

E
IMPORTANT

A instrumentalidade é uma propriedade e/ou a capacidade que a profissão


vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais
objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio da instrumentalidade
que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas
e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social; o
nível do cotidiano. (GUERRA, 2002, p. 53).

26
TÓPICO 2 | OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO CAPITALISMO

O diferencial da profissão está na forma que a mesma busca para a


efetivação dos direitos sociais da população em que está intervindo, podendo ser
nos diversos espaços ocupados na atuação profissional. O assistente social precisa
ser um profissional propositivo e não apenas executor de tarefas cotidianas.

Atualmente o Serviço Social está inserido num contexto onde existem diversas
expressões das questões sociais, pois elas vêm aumentando significativamente.
Diante desse cenário, os assistentes sociais têm por foco principal, em seus desafios
profissionais, a permanente capacitação, para então agir como ator protagonista na
implementação de políticas sociais.

Esse agir profissional diante das políticas sociais necessita ser através
de mecanismos multidisciplinares e interdisciplinares, formando equipes de
profissionais que consigam olhar a realidade contextualizada de forma crítica,
fazendo com que a população atendida participe desse processo.

Para Iamamoto (2006, p. 20), essa relação:

[...] se caracteriza como um dos maiores desafios sociais vividos no


presente, o de desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade
e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e
efetivar direitos, a partir das demandas emergentes no cotidiano. Enfim,
ser um propositivo e não executivo.

É importante que o Serviço Social analise todas as mudanças sociais,


culturais, políticas e econômicas que estejam acontecendo em todo o mundo,
com ênfase nos países vizinhos da América Latina. É preciso enfrentar os desafios
impostos pela conjuntura atual, levando em consideração as dimensões que estão
inclusas na sociedade, que são: as políticas, sociais, culturais e econômicas.

Na Constituição Federal de 1988 foram garantidos vários direitos sociais.


O profissional assistente social precisa estar articulado com todos os segmentos da
sociedade para que esses direitos sejam garantidos, podendo ser nos segmentos
ligados às questões de gênero, raça, etnias, nos movimentos sociais e sindicais,
entre tantos outros.

O desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho


profissional no cenário atual; traçar horizontes para formulação de
propostas que façam frente à questão social e que sejam solidários com
a vida daqueles que vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos
que lutam pela preservação e conquista de sua vida, da humanidade.
(IAMAMOTO, 2006, p. 75).

Se resgatarmos a história do Serviço Social, podemos perceber que o
mesmo esteve sempre na busca de novos objetos de estudos, através da construção
e reconstrução deles. Diante disso, podemos citar o Movimento de Ruptura do
Serviço Social, pois este representou um marco da história da profissão, com
avanços significativos na busca da efetivação e legitimação da atuação do assistente
social na sociedade.
27
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Muitos dos profissionais, nas suas práxis sociais, ainda estão com uma
visão retrógrada, com práticas baseadas no imediatismo, fragmentando assim o
que foi conquistado coletivamente por outros assistentes sociais no decorrer da
história teórico-metodológica da profissão.

Guerra (2002), sobre esse assunto, afirma que:

Ao atribuir às teorias uma autonomia ante a prática, os agentes


sociais perdem de vista a sua particularidade enquanto ser social,
a particularidade está localizada nas faculdades subjetivas de que
dispõem para superação da facticidade fenomênica posta nas/pelas
suas relações sociais. De outro modo, ao se descurar da causalidade,
das determinações universais do movimento histórico, da autonomia
relativa da teoria perante a prática, as ações profissionais adquirem um
caráter volitivo. (GUERRA, 2002, p. 184).

Ao relacionar o conceito de sujeito com o objeto, de teoria com a prática


e até da natureza do pensamento, consequentemente percebe-se que todos são
diferentes um do outro, o que ocorre é uma interlocução entre todos, promovendo
assim a capacidade de mudanças nos fatos.

O princípio centralizador da profissão está na emancipação dos usuários


do Serviço Social, através da garantia de direitos sociais, tendo como mecanismos
as políticas públicas sociais, através de uma atuação teórica, crítica e reflexiva que
se concretiza através do Projeto Ético-Político do Serviço Social.

O Projeto Ético-Político tem como objetivo nortear a prática da profissão,


buscando efetivar a prática na busca da transformação e mudanças coletivas
através da garantia dos direitos sociais. É importante defender esse projeto, pois
a partir de então estará comprometido a atuar contra as mazelas da nova ordem
social. Iamamoto (2007, p. 228) enfatiza:

[...] o trabalho profissional cotidiano passa a ser conduzido segundo


dilemas universais, relativos à re-função do Estado e sua progressiva
absorção pela sociedade civil que se encontra na raiz da construção
da esfera pública – da produção e distribuição mais equitativa da
riqueza, da luta pela ultrapassagem das desigualdades, pela formação e
concretização dos direitos e da democracia.

Nesse sentido, os profissionais buscam se fortalecer enquanto categoria


profissional, na busca de uma nova sociedade, através de estratégias de intervenção
para concretizá-lo.

Essa intervenção é um desafio para o Serviço Social na atual conjuntura


econômica, que traz como consequência a precarização do mundo do trabalho,
que resulta na flexibilidade, terceirização, subemprego, entre outros, que atingem
diretamente a classe trabalhadora, afetando também as esferas estatais.

28
TÓPICO 2 | OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO CAPITALISMO

Com isso, o assistente social, na sua intervenção na contemporaneidade,


deve estar pronto a assumir tarefas para enfrentar os desafios propostos, ampliando
a compreensão das mudanças que estão acontecendo em todo o mundo.

UNI

O assistente social deve ser um profissional flexível e disponível para as


transformações que afetam o mundo do trabalho, mas sempre visando as mudanças sociais,
sem deixar de lado o projeto ético-político da profissão.

FIGURA 12 – PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://www.galizacig.gal/actualidade/200106/olhohistoria_as_


dimensoes_da_crise.htm>. Acesso em 25 nov. 2012.

Outro desafio que está imposto aos profissionais de Serviço Social é refletir
sobre o norte que a profissão terá na atual crise da produção capitalista e os
avanços das políticas de globalização. O assistente social deve sempre defender
um novo modelo de sociedade, onde a distribuição da riqueza deve ser igualitária,
estimulando o desenvolvimento de novas políticas públicas, através de projetos e
programas que garantam aos usuários do Serviço Social os seus direitos sociais.

Iamamoto (2006, p. 52) enfatiza o grande desafio para o assistente social na


contemporaneidade: [...] “as estratégias, táticas e técnicas do trabalho profissional,
em função das particularidades dos temas que são objetos de estudo e ação do
assistente social”.

29
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Diante dos desafios acima descritos, pode-se concluir que o Serviço Social,
frente a qualquer projeto e/ou programa de intervenção, precisa estar organizado
enquanto categoria profissional. Conforme Sant´Ana (1999, p. 73), o Serviço
Social necessita realizar esforços para a “superação do hiato hoje existente entre a
vanguarda profissional e a base da categoria”.

A profissão necessita resgatar a teoria social de Marx, pois a mesma


prospera em uma análise crítica da realidade. Atualmente os profissionais não têm
mais se reportado às teorias que fundamentam a prática e atuação profissional,
como no caso da categoria relacionada ao trabalho.

DICAS

Acadêmico, complemente seus estudos lendo os


livros:

NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. 8.


ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.

ESTEVÃO, Ana Maria R. O que é serviço Social?. São Paulo:


Brasiliense, 2011.

30
TÓPICO 2 | OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À CRISE DO CAPITALISMO

LEITURA COMPLEMENTAR

O SERVIÇO SOCIAL NA CENA CONTEMPORÂNEA

O Serviço Social brasileiro contemporâneo apresenta uma feição acadêmico-


profissional e social renovada, voltada à defesa do trabalho e dos trabalhadores,
do amplo acesso à terra para a produção de meios de vida, ao compromisso com a
afirmação da democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça social no terreno
da história. Nessa direção social, a luta pela afirmação dos direitos de cidadania,
que reconheça as efetivas necessidades e interesses dos sujeitos sociais, é hoje
fundamental como parte do processo de acumulação de forças em direção a uma
forma de desenvolvimento social inclusiva para todos os indivíduos sociais.

Esse processo de renovação crítica do Serviço Social é fruto e expressão


de um amplo movimento de lutas pela democratização da sociedade e do Estado
no país, com forte presença das lutas operárias, que impulsionaram a crise da
ditadura militar: a ditadura do grande capital (IANNI, 1981). Foi no contexto
de ascensão dos movimentos políticos das classes sociais, das lutas em torno da
elaboração e aprovação da Carta Constitucional de 1988 e da defesa do Estado de
Direito, que a categoria de assistentes sociais foi sendo socialmente questionada
pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil. E não ficou a
reboque desses acontecimentos, impulsionando um processo de ruptura com o
tradicionalismo profissional e seu ideário conservador. Tal processo condiciona,
fundamentalmente, o horizonte de preocupações emergentes no âmbito do Serviço
Social, exigindo novas respostas profissionais, o que derivou em significativas
alterações nos campos do ensino, da pesquisa, da regulamentação da profissão e
da organização político-corporativa dos assistentes sociais.

Nesse lapso de tempo, o Serviço Social brasileiro construiu um projeto


profissional radicalmente inovador e crítico, com fundamentos históricos e teórico-
metodológicos hauridos na tradição marxista, apoiado em valores e princípios
éticos radicalmente humanistas e nas particularidades da formação histórica do
país. Ele adquire materialidade no conjunto das regulamentações profissionais: o
Código de Ética do Assistente Social (1993), a Lei da Regulamentação da Profissão
(1993) e as Diretrizes Curriculares norteadoras da formação acadêmica (ABESS/
CEDEPSS, 1996, 1997a, 1997b; MECSESU/CONESS/Comissão de Especialistas de
Ensino em Serviço Social, 1999 MEC-SESU, 2001).

Os(as) assistentes sociais atuam nas manifestações mais contundentes da


questão social, tal como se expressam na vida dos indivíduos sociais de distintos
segmentos das classes subalternas em sua relação com o bloco do poder e nas
iniciativas coletivas pela conquista, efetivação e ampliação dos direitos de cidadania
e nas correspondentes políticas públicas.

Os espaços ocupacionais do assistente social têm lugar no Estado – nas


esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário –, em empresas privadas

31
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

capitalistas, em organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e na assessoria


a organizações e movimentos sociais. Esses distintos espaços são dotados
de racionalidades e funções distintas na divisão social e técnica do trabalho,
porquanto implicam relações sociais de natureza particular, capitaneadas por
diferentes sujeitos sociais, que figuram como empregadores (o empresariado, o
Estado, associações da sociedade civil e, especificamente, os trabalhadores). Elas
condicionam o caráter do trabalho realizado (voltado ou não à lucratividade do
capital), suas possibilidades e limites, assim como o significado social e efeitos na
sociedade. Ora, as incidências do trabalho profissional na sociedade não dependem
apenas da atuação isolada do assistente social, mas do conjunto das relações e
condições sociais por meio das quais ele se realiza.

Nesses espaços profissionais os(as) assistentes sociais atuam na sua


formulação, planejamento e execução de políticas públicas, nas áreas de educação,
saúde, previdência, assistência social, habitação, meio ambiente, entre outras,
movidos pela perspectiva de defesa e ampliação dos direitos da população. Sua
atuação ocorre ainda na esfera privada, principalmente no âmbito do repasse
de serviços, benefícios e na organização de atividades vinculadas à produção,
circulação e consumo de bens e serviços. Mas eles(as) também marcam presença
em processos de organização e formação política de segmentos diferenciados de
trabalhadores (CFESS, 15/05/2008).

Nesses espaços ocupacionais esses profissionais realizam assessorias,


consultorias e supervisão técnica; contribuem na formulação, gestão e avaliação
de políticas, programas e projetos sociais; atuam na instrução de processos
sociais, sentenças e decisões, especialmente no campo sociojurídico; realizam
estudos socioeconômicos e orientação social a indivíduos, grupos e famílias,
predominantemente das classes subalternas; impulsionam a mobilização social
desses segmentos e realizam práticas educativas; formulam e desenvolvem projetos
de pesquisa e de atuação técnica, além de exercerem funções de magistério, direção
e supervisão acadêmica.

Os assistentes sociais realizam assim uma ação de cunho socioeducativo


na prestação de serviços sociais, viabilizando o acesso aos direitos e aos meios
de exercê-los, contribuindo para que necessidades e interesses dos sujeitos sociais
adquiram visibilidade na cena pública e possam ser reconhecidos, estimulando a
organização dos diferentes segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliação
dos seus direitos, especialmente os direitos sociais.

Afirma o compromisso com os direitos e interesses dos usuários, na defesa


da qualidade dos serviços sociais.

FONTE: IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na cena contemporânea. In: Serviço Social:
direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS; ABEPSS, 2009. p. 18-20.

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:

• A fundamentação histórica do Serviço Social está fundamentada em duas teses


distintas uma da outra.

• O objeto de atuação historicamente considerado pelo Serviço Social é a luta de


classes.

• A crise contemporânea do sistema capitalista e a revolução tecnológica e


industrial trazem mudanças na sociedade em sua totalidade, em todas as
dimensões: econômica, social, cultural e política.

• Na atual conjuntura, onde está materializada a crise contemporânea e nas


mudanças no modelo de produção capitalista.

• Os desafios e as perspectivas do Serviço Social, na contemporaneidade,


requerem acima de tudo refletir qual o comprometimento e limites que se tem
com a sociedade, resgatando os princípios éticos da profissão.

• O Serviço Social utiliza-se da mediação como instrumental técnico e operativo


da sua intervenção teórico-prática.

• Os assistentes sociais precisam desenvolver ações propositivas, com metas de


intervenções que busquem atender a demanda da população de usuários do
Serviço Social.

• O profissional de Serviço Social deve estar em constante aprendizado com a


realidade cotidiana, necessitando conhecer novas possibilidades de demanda e
de intervenção.

• Os assistentes sociais precisam refletir sobre o norte que a profissão terá sobre a
atual crise da produção capitalista e os avanços das políticas de globalização.

• O Serviço Social, frente a qualquer projeto e/ou programa de intervenção, precisa


estar organizado enquanto categoria profissional.

33
AUTOATIVIDADE

1 Elabore um pequeno texto sobre a atuação do Serviço Social no Brasil, diante


da crise do capitalismo contemporânea.

2 Como deve ser a intervenção do Serviço Social nas políticas públicas perante
as dimensões: econômica, social, cultural e política na atual conjuntura?

34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS


PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O
SERVIÇO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Para entender melhor as dimensões geradas na crise econômica
contemporânea, se faz necessário que se tenha conhecimento do contexto político,
social, cultural e econômico, considerando também as suas repercussões no campo
do conhecimento, das ideias e dos valores em que se constitui uma sociedade.

Atualmente se tem estudado, pesquisado e produzido muito sobre o que se


chama de pós-modernidade e de suas teorias. Nesse sentido, se faz necessário realizar
um resgate dos significados e da complexidade desse período, e como ele influencia
na profissão de Serviço Social.

Os conceitos apresentados através das análises realizadas vão além das


formulações conceituais básicas sobre pós-moderno, pós-modernismo e pós-
modernidade, conforme defende Featherstone (1995), para outras análises mais
polemizadas sobre a concepção pós-moderna.

Nesse sentido, esse tópico fará um resgate do projeto de modernidade,


sendo esse um dos atores principais das críticas da pós-modernidade, e da
importância de se entender tais críticas e a sua influência para a atuação do Serviço
Social, como profissão que defende um Projeto Ético-Político.

35
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

2 AS EXPRESSÕES IDEOCULTURAIS DA CRISE


DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEA E SUA
INFLUÊNCIA TEÓRICA-PRÁTICA PARA O SERVIÇO SOCIAL

FIGURA 13 – EXPRESSÕES PÓS-MODERNAS

FONTE: Disponível em: <http://www.ideiademarketing.com.br/


category/consumo-2/>. Acesso em: 25 nov. 2014.

Os séculos XVI e XVII foram marcados pelas chamadas revoluções


científicas, e são reconhecidos como início do pensamento moderno. Ao longo
desses anos, através da ciência astronômica e da física, se concretizou uma nova
forma de pensar e desenvolver a ciência.

Foi nesse período que houve uma mudança da realidade em que se vivia,
através de uma forma diferenciada de ver o mundo. As explicações que estavam
enfatizadas na fé e na religião são substituídas pelo saber científico. Essa nova
forma de pensar o mundo, deixando para trás a percepção dogmática e limitada,
teve interferência em todas as dimensões: econômica, política, cultural, social e
religiosa.

36
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

E
IMPORTANT

“A modernidade rompeu com o mundo sagrado que era, ao mesmo tempo,


natural e divino, transparente à razão e criado.” (TOURAINE, 1994, p. 12).

Na época a teologia era o centro do pensamento medieval, através dela


a religiosidade estava sustentada. Mas, durante os dois séculos, as modificações
foram radicais ao extremo, o mundo começou a ser visto através do pensar e fazer
da humanidade, colocando o homem como ator das relações sociais estabelecidas
pela sociedade. Touraine (1994, p. 18) sustenta que: “A ideia de modernidade
substitui Deus no centro da sociedade pela ciência, deixando as crenças religiosas
para a vida privada”.

O racionalismo foi a marca principal do século XVII, onde a necessidade de


valorizar a razão rompeu com o período medieval, revogando um novo conceito
de mundo, onde se fundamenta no autoritarismo e na manifestação.

Capra (2001), quando aborda esse assunto sobre a ruptura da modernidade


com o período medieval, enfatiza que: “A noção de universo orgânico, vivo e
espiritual foi substituída pela noção do mundo como se ele fosse uma máquina,
e a máquina do mundo converteu-se na metáfora dominante da era moderna”
(CAPRA, 2001, p. 49).

DICAS

Acadêmico, não deixe de ler ou assistir ao filme: CAPRA, Fritjot. O Ponto de


mutação. Trad. – Álvaro Cabral. 22. ed.- São Paulo: Edit. Cultrix, 2001.

Diante disso, pode-se afirmar que a ciência moderna efetivou com sucesso
o que se chama de processo de desconstrução, ruptura e negação dos modelos que
estavam inseridos nos séculos anteriores aos de XVI e XVII.

Essa ciência moderna ou Nova Ciência iniciou seu processo de construção


ao efetivar suas bases fundamentadas cientificamente e socialmente com o trabalho
de Copérnico, durante o século XVI, e Galileu e Descartes, no século XVII e após
com Newton. Novak (1981, p. 28) diz que: “Paradigmas ajudam o cientista a ver
novos significados em dados antigos ou buscar novas informações para solução de
quebra-cabeças”.

37
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Sendo assim, a modernidade estabeleceu um novo padrão para efetivar a


realidade, o real, com princípios norteadores da razão, ou melhor, descrevendo, na
habilidade do ser humano, homem, em formular as teorias científicas com base nas
leis objetivas. Descartes iniciou essa maneira de pensar, baseado em um projeto
epistemológico com princípios na cultura racionalista.

DICAS

Para saber mais sobre pensamento de Descartes, leia ‘‘Os nossos sentidos
enganam”, da coleção Os Pensadores, da quarta parte do Discurso do Método.
DESCARTES. Discurso do método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).

As reflexões sobre os meios de organização e sistematização da razão


aconteceram através do pensamento filosófico de Immanuel Kant, através de
um conceito baseado em uma teoria mais científica dos dados empíricos. Ele
busca a superação dos pensamentos de seus antecessores, discutindo a razão e
a experiência, pelas condições que se dá a cada uma delas no procedimento do
conhecimento.

Nos pensamentos de Kant, sobre o modelo de produção do conhecimento,


estão em evidência dois dados que são importantes a serem analisados: o primeiro
é sobre o elemento que gera a ação do pensamento, e também da maneira que
o sujeito participa do processo de conhecimento. Quando relaciona a razão com
a experiência, conclui-se que o sujeito da ação não tem condições de perceber a
realidade em si, somente reconhecer a aparência e o que se chama de expressão
fenomênica.

Para Tonet (2006), a realidade analisada está fundamentada pela “razão


fenomênica”, onde o sujeito, a partir de um conhecimento, de maneira subjetiva,
através de dados empíricos, tem um ponto de início e um de chegada.

A maneira de pensar, centralizada na condição individual e independente


de cada sujeito, indivíduo, foi aplicada até o século XVIII, durante o período
Iluminista. Esse modelo de pensar moldado na subjetividade foi questionado no
século XIX por Hegel.

Para Simionatto (2009, p. 89),

Na polêmica com Kant, Hegel estabelece a distinção entre objetividade


e subjetividade no processo do conhecimento e reafirma a razão como
base absoluta da existência humana. A “razão fenomênica” ou a crítica
presente em Kant é substituída, em Hegel, pela “razão dialética”

38
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

capaz de captar a processualidade dos fenômenos sociais para além


de sua mera aparência. A partir de Hegel, portanto, desenvolve-se
uma proposta revolucionária de compreensão do real, sintetizada por
Coutinho (1972, p. 14) em três núcleos: o humanismo, que remete à
compreensão do homem enquanto “produto da sua própria atividade,
de sua história coletiva”; o historicismo concreto, relativo à “afirmação
do caráter ontologicamente histórico da realidade, com a consequente
defesa do progresso e do melhoramento da espécie humana”; e a
“razão dialética”, que implica na compreensão objetiva e subjetiva da
realidade, inaugurada com o pensamento hegeliano. Essa proposta
contribuirá para a formação teórica de pensadores como Marx, Engels e
toda a tradição marxista.

Como você estudou no Tópico 1 desta unidade de ensino, entre os séculos


XVIII e XIX houve a transição do Estado feudal para o Estado burguês, surgindo um
novo modelo de produção, o modo de produção capitalista, trazendo mudanças
significativas nas dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais. No modelo
Estado burguês acontece o fortalecimento da classe burguesa, e com ela o início de
um modelo de modernização.

Existem duas matrizes teóricas que contradizem esse período da


implementação da razão moderna:

• A Matriz Positivista: que é defendida por August Comte, negava à ciência a


probabilidade de investigar as causas de fenômenos de ordem natural e social,
considerando esse tipo de pesquisa desnecessária. Considerada como um
suporte da burguesia, para defender seus interesses e ideários, através da defesa
de um sistema capitalista fortalecido, erradicando qualquer tipo de intimidação
por parte da classe trabalhadora ou de lutas sociais. Dessa matriz surgem as
vertentes que são chamadas de funcionalismo, estruturalismo e estrutural-
funcionalismo, que estão focadas em um mecanismo que cria instrumentos para
manipular a realidade, contrariando a dialética das práxis sociais do sujeito.

• A teoria social Marxista: é defendida por Karl Marx, sendo posterior às ideias
positivistas, e se torna uma das maiores demonstrações da modernidade. Para
Marx, ao contrário de Comte, as sociedades são o elemento fundamental do
processo de revolução social, conforme o interesse de cada classe social, através
da razão dialética, razão ontológica, visando a totalidade das práxis do homem.

DICAS

Para aprofundar seu estudo, faça a leitura do livro: KONDER, Leandro. O que é
Dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção Primeiros Passos: 23).

39
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

As maiores teorias sociais, que foram apresentadas e defendidas por alguns


pensadores, tiveram sua afirmação durante o século XX, onde tiveram um papel
fundamental nas mudanças da sociedade.

Novamente, citando o que já foi estudado no Tópico 1, a crise do capital, que


ocorreu entre as décadas de 60 e 70, realizou importantes mudanças em diversos
níveis sociais. Os ideários da razão moderna não foram alcançados conforme se
propunha, pois tinham como objetivo aumentar o nível igualitário da sociedade,
através de paradigmas de liberdade, igualdade e fraternidade. Esses paradigmas
e os projetos da razão moderna foram questionados com o fim do socialismo real
no leste europeu.

Simionato (2009, p. 90) defende que:

A “razão dialética”, colocada em xeque, teria se esgotado, cedendo


lugar ao irracionalismo e ao relativismo. Ampliou-se a partir de então
o embate entre modernidade e pós-modernidade, destacando-se a
novidade dos chamados “novos paradigmas” como caminhos analíticos
alternativos para se fazer ciência e se conhecer a realidade social.

Com esses novos paradigmas, o Estado, como soberano nas decisões


políticas, perde espaço para o mercado e interesses transnacionais. Com a abertura
de mercado, a mundialização do capital ganhou forças através de ações de
mudanças econômicas, com foco neoliberal.

O modelo neoliberal tem como base o retorno de pensamentos que eram


defendidos nos princípios liberais que estavam implementados no século XIX, ou
seja, neo – novo – e liberalismo. Sendo considerado uma corrente de pensamento
econômico e político que defende o completo desengajamento do Estado na
economia, através da supremacia do mercado e da privatização.

Através do conceito acima citado, pode-se afirmar que o neoliberalismo


assume um método político e econômico fundamentado na retirada das ações
governamentais da economia, e também focando projetos com importâncias
individuais e/ou de grupos restritos, desarticulando os interesses coletivos e
universais.

DICAS

É de fundamental importância ler o livro Crise do socialismo e ofensiva neoliberal,


de José Paulo Netto (1993).

40
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

Nesse período existe uma fragmentação dos atores políticos perante as


representações políticas, sindicatos e organizações de classes, que tinham como
objetivo projetos voltados para os interesses coletivos. A chamada razão dialética,
que tinha como princípio analisar a realidade social, é desqualificada para as
convergências fragmentadas em que estão inseridas no sistema de globalização.
Para Simionatto (2009), essa nova maneira de organização está explícita em:

As novas formas de organização social e expressões culturais


movimentam-se e expressam, ainda, nos locais e cosmopolitas nacionais
e internacionais, públicos e privados. Afirmam-se a autonomia e
as identidades locais, com o retorno da valorização de instituições
como família e comunidade, permeadas por uma ideia abstrata de
solidariedade. A separação entre indivíduos/classe e sua relação com
grupos coletivos e a primazia do privado sobre o público contribuem,
de forma incisiva, para o aumento da alienação, o esvaziamento das
ações histórico-sociais na neutralização e a banalização do agir político.
(SIMIONATTO, 2009, p. 11).

Essa substituição de interesses coletivos por objetivos individuais e


específicos se concretiza sobre a ótica da política da pós-modernidade, colocando
em jogo as conquistas sociais. No campo das conquistas sociais públicas - como,
por exemplo, o direito à moradia, educação, saúde, emprego, acesso à terra -, estas
acabam sendo fragmentadas e burocratizadas pelo próprio Estado, que fica à
mercê da vontade do capital.

Para Gramsci (2000), essas ações localistas, parciais e individuais são


chamadas de “pequena política”, e necessitam estar vinculadas a outras relações,
ou seja, “grande política”.

A despolitização das lutas de classes e globais são ações primordiais da


burguesia, diminuindo apenas interesses particulares, descartando assim o
fortalecimento do setor privado para com as instâncias públicas.

As ações teóricas, metodológicas, organizativas, práticas, operativas da


profissão de Serviço Social foram amplamente afetadas com as transformações das
dimensões econômicas, culturais, políticas e sociais no período pós-modernidade.

Para referenciar as consequências da pós-modernidade no Serviço Social,


se faz necessário relembrar que um dos primeiros elementos que esteve presente
desde o nascimento da profissão foi o conservadorismo, que estava eminente em
um modelo da razão restauradora, que surge na Europa, contrária às manifestações
com caráter revolucionário que ocorreram até o ano de 1848, e estava influenciada
pelo catolicismo social, e da versão reformista que foi influenciada pelo Serviço
Social norte-americano, herdado da religião protestante, onde se articula com a
classe dominante, a fim de atuar para reformular e adequar a ordem em vigência.

Apesar destas diferenças, registra-se na história do desenvolvimento


profissional das duas matrizes uma série de cruzamentos, principalmente
a partir dos anos 1930. Desse modo, quando o Serviço Social surge no

41
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Brasil – a partir de 1936, institucionalizando-se na década de 40 –, ele


possui em seu arcabouço teórico original traços mesclados tanto do
Serviço Social europeu quanto do norte-americano. (SANTOS, 2007, p.
52).

E
IMPORTANT

O conservadorismo é um traço constitutivo da profissão não apenas em sua


dimensão ideo-teórica (isso não quer dizer que seja o único), mas no traço elementar da
profissão, qual seja: a sua inserção na divisão sociotécnica do trabalho, em que as demandas
para suas respostas profissionais advêm da necessidade de reprodução das relações sociais
capitalistas de reprodução. No entanto, estas respostas, assim como a lógica das relações
sociais, só podem existir em relação. O que pressupõe dizer que a atuação do assistente social
é polarizada, de um lado, pela demanda do capital e, do outro, pelas necessidades do trabalho,
fortalecendo um ou outro por meio da mediação do seu oposto, mas tendendo a ser cooptada
pela classe dominante. (IAMAMOTO, 1995 apud SANTOS, 2007).

No Brasil, a ação das duas vertentes teve um desenvolver primeiramente


entre as décadas de 20 e 30 com o interesse de criar a primeira escola de Serviço Social,
representada pelo movimento da Igreja Católica, com influência conservadora,
para o enfrentamento da questão social imposta na época.

O Serviço Social brasileiro foi se institucionalizando através de influência


de caráter reformista, pois tinha como promoção o Estado, que tinha como objetivo
estimular a reformulação das políticas de produção.

Outro modelo que compõe a teoria metodológica do Serviço Social


é o sincretismo, ou seja, a reunião de doutrinas diferentes que na época estava
interligado para subsidiar novas teorias de intervenção para a profissão, através
da produção de novos conhecimentos teóricos.

E
IMPORTANT

O sincretismo científico, no entanto, tem em suas origens determinações de


outras formas de sincretismo, “o sincretismo derivado de configuração do espaço sócio-
ocupacional [...], expressando-se pelo menos de três maneiras distintas: no âmago do seu
universo problemático original, no horizonte do exercício profissional [o cotidiano] e nas
modalidades específicas de intervenção”. (SANTOS, 2007, p. 64).

42
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

Como se pode observar, a profissão no Brasil teve suas matrizes no


pensamento conservador da doutrina da Igreja, através do pensamento do
modelo europeu e norte-americano, conforme já foi citado, o que reflete em uma
forte negação ao modernismo e pós-modernismo, afetando diretamente a atuação
profissional, pois é contrário a um pensamento liberalista e socialista.

Mesmo com toda raiz teórica fundamentada na ideologia conservadora


da Igreja, a atuação da profissão teve um desenvolvimento sócio-histórico, com
duas vertentes do pensamento contemporâneo, sendo elas: racionalismo, com
característica formal e abstrata, que é vinculada nas abordagens funcionalistas,
estrutural e sistêmicas; e a vertente marxista, que se fundamenta no racionalismo
e na teoria crítico-dialética.

FIGURA 14 – DIALÉTICA

FONTE: Disponível em: <https://blogdoces.files.wordpress.com/2010/08/


sopa-mafalda.jpg> Acesso em 29 nov. 2014.

Uma das expressões da razão moderna é a teoria do pensamento positivista,


devido às exigências de consolidação do capital monopolista no país, de forma já
estudada, um modelo formal e abstrato. Essa expressão foca no imediatismo com
as ações práticas e empíricas. Sendo assim, a profissão atua de forma pragmática,
através do enquadramento do indivíduo na realidade.

Essa atuação positivista da profissão começou a ser questionada pelo


Movimento de Reconceituação que aconteceu na América Latina nos anos de 1960.

43
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

O Serviço Social amplia suas fundamentações teóricas a partir da interlocução com


as ciências sociais que estavam vinculadas à teoria crítica-dialética.

A aproximação com o pensamento marxista estava atrelada primeiramente


pela vinculação dos assistentes sociais a algumas organizações sociais que estavam
no auge durante o período da década de 60, estes tinham uma atuação mais
partidária que crítico-teórica.

Os profissionais de Serviço Social, diante dessa prerrogativa de atuação,


começam a desenvolver questionamentos sobre a práxis profissional, colocando sob
interrogação o papel fundamental do Estado diante das intervenções econômicas,
políticas, sociais, culturais, entre outras, como também questionamentos sobre a
organização das classes sociais e repensando os referenciais teórico-metodológicos
da profissão.

Novamente citando Simionatto (2009) sobre a aproximação do Serviço


Social com a atuação teórico-crítica, este afirma que:

Permitiu, igualmente, compreender o significado social da profissão


na divisão sociotécnica do trabalho e no processo de produção e
reprodução das relações sociais, os diferentes projetos societários em
disputa e redirecionamento das ações profissionais na perspectiva dos
setores e das classes subalternas. (SIMIONATTO, 2009, p. 99).

A profissão começou, após o Movimento de Reconceituação, a assumir uma


postura mais crítica e também valores voltados à liberdade, igualdade, democracia,
justiça social, que foram frutos de estudos e de conhecimentos acumulados no
decorrer da história da profissão. O conjunto de conhecimentos resultou em uma
proposta de mudanças e transformação da conjuntura que estava vigente. Podemos
citar os documentos que serviram de base para uma nova concepção da profissão:

• Projeto Curricular de 1982.


• Código de Ética de 1986, e que foi revisado e aprovado em 1993.
• Lei de Diretrizes e Bases de 1996.

A partir de então, o Serviço Social começa a ter uma postura voltada


ao projeto da modernidade, vinculado à razão crítica, com uma visão na
totalidade do processo histórico, e com uma prática profissional que vai além da
instrumentalidade que sustenta o modelo capitalista.

44
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

FIGURA 15 – MOVIMENTOS DE CLASSES

FONTE: Disponível em: <http://www.mst.org.br/congresso6/O-Estado-burgues-e-


a-luta-pela-Reforma-Agraria> Acessado em 01 nov.2014.

Porém, essa estrutura de combate ao sistema capitalista, através de um


projeto político crítico, começou a ser abalada na década de 90, quando o modelo
neoliberal se estruturou até os dias atuais em diversos países.

O neoliberalismo tem influenciado a profissão através de dois caminhos,


e que podem ser analisados da seguinte forma: em primeiro nível, pelo
questionamento da teoria marxista, dialética, através do conhecimento teórico-
metodológico do Serviço Social e que consequentemente gera o fortalecimento do
conservadorismo, que tem sua raiz na pós-modernidade. Em segundo nível, se
dá através da precarização das condições de trabalho e das demandas que estão
surgindo para o Serviço Social.

As fragmentações das condições de trabalho e as mudanças dos espaços


de trabalho ocupados pelo assistente social geram um novo tipo de prática e de
vínculo profissional, refletindo diretamente no contexto das questões sociais, pois
as mudanças estão explícitas nas alterações das políticas sociais públicas, que se
refletem na diminuição de investimentos nas mesmas e aumentando o campo de
trabalho no que se define hoje como o terceiro setor.

45
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

E
IMPORTANT

O terceiro setor compõe no campo de atuação pública, mas não governamental,


constituído através de organizações, instituições ou entidades privadas, sem fins lucrativos.

O Serviço Social, sendo uma profissão situada na divisão societária do


trabalho, tem seu fazer e agir perante as demandas impostas pela ordem social
vigente, dos diferentes setores das classes sociais.

As autoras Mota e Amaral (1998) definem que a profissão está situada


num conjunto de necessidades de cunho político, social, cultural e material e que
necessitam ser situadas nas transformações do sistema capitalista na atualidade.

Essas necessidades e/ou demandas dos sujeitos se tornam os objetos de


ação profissional do Serviço Social, mas como estão fundamentadas no mecanismo
do sistema capitalista, se tornam questões imediatas a serem resolvidas, e muitas
delas relacionadas com a dependência da produção e reprodução material da
vida desses indivíduos, chamados nos dias atuais de usuários das políticas de
assistência social.

Para que o assistente social supere essa prática imediatista, que impede uma
transformação social, é necessário que compreenda as mais diversas determinações
sociais que estão impostas nas novas configurações societárias.

Segundo Guerra (2002, p. 200), é necessário que o assistente social forme


“um conjunto de saberes que extrapola a realidade imediata e lhe proporcione
apreender a dinâmica conjuntural e as correlações de forças manifestadas ou
ocultas”.

Essa ação imediatista que está vinculada no campo de atuação do


Serviço Social pode constituir o fortalecimento do empirismo, como também do
voluntarismo, do conservadorismo, fragmentando a relação teoria e prática, pois
são reflexos do modelo pós-moderno que gera um distanciamento de um saber
mais crítico e total da realidade.

Há necessidade de entender e compreender de forma crítica, trazendo


para reflexões situações que sejam individuais e/ou totais de uma determinada
realidade. Netto (1989, p. 118) afirma que “investir na pós-modernidade é também
levar água ao moinho do conservadorismo”.

Para Simionatto (2009):

46
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

[...] a profissão defronta-se com duas grandes tendências teóricas: uma,


vinculada ao fortalecimento do neoconservadorismo inspirado nas
tendências pós-modernas, que é a ação como um campo de fragmentos,
restrita às demandas do mercado de trabalho, cuja apreensão requer
a mobilização de um corpo de conhecimentos; e técnicas marxistas,
que compreendem o exercício profissional a partir de uma perspectiva
de totalidade, de caráter histórico-ontológico, remetendo o particular
ao universal e incluindo as determinações objetivas e subjetivas dos
processos sociais (SIMIONATTO, 2009, p. 102).

Os desafios que estão impostos para o Serviço Social, no século XXI, estão
fundamentados nas necessidades de aprofundamento e qualificação do projeto
ético-político da profissão, através dos mecanismos teórico-metodológico e
prático-operativo.

DICAS

É importante afirmar que as principais características do projeto ético-político


estão articuladas com projetos para transformação da sociedade diferenciados do modelo
capitalista, permeadas pela consideração da liberdade, emancipação e comprometimento
com a classe de trabalhadores.

A profissão, diante dos desafios, deverá desenvolver então uma teoria social
fundamentada teoricamente na criticidade para combater o conservadorismo que
vem sendo ainda desenvolvido na atuação profissional.

TUROS
ESTUDOS FU

Divisão sociotécnica do trabalho será estudada na próxima unidade.

47
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

A seguir, caro acadêmico, você poderá analisar os conceitos dos importantes


termos utilizados nesse tópico, através da tabela abaixo:

QUADRO 1 – TERMOS IMPORTANTES

DEFINIÇÃO
TERMOS

Teve seu início com René Descartes, no século XVI. Uma das
principais características foi a opção ao ceticismo que estava
Tradição Racionalista sendo desenvolvido na época. Para Descartes, a verdade
poderia se dar através de mecanismos fundamentados na
razão.
Foi representada por Francis Bacon, tendo no conhecimento
a origem da experiência, pois compreende o conjunto de
Tradição Empirista
teorias de explicação, definição e justificativas dos conceitos
relacionados com a experiência.
Esse termo é utilizado para explicar o comportamento
filosófico, científico e racional que estava aplicado
na Europa, durante o século XVIII. Esse período foi
denominado de “Século das Luzes”, implementado
Iluminismo
principalmente na França, por filósofos, pensadores e
cientistas, que tinham uma crença na supremacia da
racionalidade, razão, e de seus resultados práticos para
determinar e combater as injustiças sociais.
Na razão dialética ou então razão ontológica, defende-se
que os processos sociais podem ser reconstruídos pelos
Razão dialética/razão ontológica sujeitos, usando a racionalidade e desvendando a sua
aparência através de diversas aparências, afirmando, assim,
um caráter histórico e criador da práxis da humanidade.
O racionalismo formal-abstrato aborda a realidade de uma
maneira formal e instrumental, com uma visão imediatista
Racionalismo formal-abstrato e manipuladora. O principal pensador foi Comte, através
da sua teoria positivista, e defendido também na teoria
neopositivista de Emile Durkheim.

FONTE: A autora.

48
TÓPICO 3 | A CIÊNCIA MODERNA, A CRISE DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL, FRAGMENTAÇÃO DO TRABALHO E


SERVIÇO SOCIAL

Ana Elizabete Mota


Angela Santana do Amaral

Ao discutirmos sobre a dinâmica da reestruturação produtiva e suas


inflexões sobre a experiência profissional do Serviço Social, estamos assumindo
um duplo desafio: o primeiro deles é o de situar a reestruturação no contexto da
crise capitalista contemporânea, qualificando-a como um processo de restauração
econômica do capital e ambiente de intervenção política das classes e do Estado nas
condições de reprodução social; o segundo consiste em identificar as mediações
que conectam a experiência do Serviço Social às mudanças em curso. Aliás, como
já identificou Netto, “o problema teórico analítico de fundo (...) reside em explicar
e compreender como, na particularidade prático-social de cada profissão, se traduz
o impacto das transformações societárias”. (NETTO, 1996, p. 89).

Nesta direção, a articulação orgânica entre as dinâmicas da economia e da


política, ao tempo em que nos fornece as principais pistas para negar a suposta
“crise da sociedade do trabalho” ou a aparente “autonomia do progresso técnico”
como vetores da reestruturação produtiva, também especifica o leito teórico-
metodológico sobre o qual tentaremos empreender uma abordagem crítica do
discurso político dominante sobre a reestruturação produtiva.

Assim, as formas de objetivação e subjetivação do trabalho coletivo, a


composição e a dinâmica da intervenção das classes sociais e do Estado, apresentam-
se como categorias explicativas dos processos macrossociais contemporâneos que
afetam a vida social e determinam mudanças no conjunto das práticas sociais,
onde se insere experiência profissional do Serviço Social.

Esta recorrência teórica - amplamente referenciada por uma fração dos


intelectuais da profissão - inscreve-se no arcabouço da teoria crítica e vem sendo
responsável não apenas pela capacidade de interlocução do Serviço Social com
outras áreas do saber, mas parece contemplar aquilo que Behring (1993, p. 316)
avalia em termos de influências do pensamento politicista no discurso do Serviço
social.

Nossa hipótese de trabalho neste texto é a de que a atual recomposição


do ciclo de reprodução do capital, ao determinar um conjunto de mudanças na
organização da produção material e nas modalidades de gestão e consumo da força
de trabalho, provoca impactos nas práticas sociais que intervêm no processo de
reprodução material e espiritual da força de trabalho, onde se inclui a experiência
profissional dos assistentes sociais.

49
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Admitimos, portanto, que a trilha por onde caminham os desafios aos


profissionais do Serviço Social - consideradas as particularidades do seu trabalho
- são as novas modalidades de produção e reprodução social da força de trabalho.
Estas últimas, mediadas pelo mercado de trabalho profissional, passam a exigir
a refuncionalização de procedimentos operacionais, também determinando um
rearranjo de competências técnicas e políticas que, no contexto da divisão social e
técnica do trabalho, assumem o estatuto de demandas à profissão.

Este processo desenvolve-se em dois planos: um mais visível e imediato,


relaciona-se com questões que afetam diretamente o exercício profissional, como é
o caso das alterações no mercado de trabalho e nas condições de trabalho; o outro,
mais amplo e complexo, refere-se tanto ao surgimento de novas problemáticas
que podem ser mobilizadoras de competências profissionais estratégicas, como à
elaboração de proposições teóricas, políticas, éticas e técnicas que apresentem-se
como respostas qualificadas ao enfrentamento das questões que lhe são postas.

Por isso mesmo, os desafios a serem enfrentados pela profissão -


consideradas as transformações no “mundo do trabalho” - passam inegavelmente
pela configuração do atual mercado de trabalho dos assistentes sociais. Todavia,
este é apenas um dos indicadores objetivos do rearranjo das diversas atividades
ocupacionais frente às mudanças que ocorrem na divisão social e técnica do
trabalho. As características do “mercado de trabalho profissional” podem oferecer
um conjunto de informações a partir das quais é possível identificar as necessidades
sociais que estão subjacentes às demandas profissionais, posto que, segundo
nosso entendimento, as demandas não se confundem com as necessidades sociais
propriamente ditas.

FONTE: MOTA, Ana Elizabet; AMARAL, Angela Santana do. Reestruturação do capital,
fragmentação do trabalho e Serviço Social. In: MOTA, A. E. (Org). A nova fábrica de consensos.
São Paulo: Cortez, 1998. p. 23-44. Disponível em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/binarios/congresos/
reg/slets/slets-016-040.pdf.>. Acesso em: 30 nov. 2014.

50
RESUMO DO TÓPICO 3
Caro acadêmico, nesse tópico você conseguiu compreender:

• A crise contemporânea do sistema capitalista e a revolução tecnológica e industrial


que estamos vivendo acendem mudanças na sociedade em sua totalidade.

• Os séculos XVI e XVII foram marcados pelas chamadas revoluções científicas, e


são reconhecidos como início do pensamento moderno. Ao longo desses anos,
através da ciência astronômica e na física, se concretizou uma nova forma de
pensar e desenvolver a ciência.

• O racionalismo foi a marca principal do século XVII, onde a necessidade de


valorizar a razão rompeu com o período medieval, revogando um novo conceito
de mundo, onde se fundamenta no autoritarismo e na manifestação.

• A ciência moderna efetivou com sucesso o que se chama de processo de


desconstrução, ruptura e negação dos modelos que estavam inseridos nos séculos
anteriores aos de XVI e XVII.

• As reflexões sobre os meios de organização e sistematização da razão aconteceram


através do pensamento filosófico de Immanuel Kant, através de um conceito
baseado em uma teoria mais científica dos dados empíricos.

• A maneira de pensar, centralizada na condição individual e independente de cada


sujeito, indivíduo, foi aplicada até o século XVIII, durante o período Iluminista.

• O modelo neoliberal tem como base o retorno de pensamentos que eram


defendidos nos princípios liberais que estavam implementados no século XIX.

• Em vista das consequências da pós-modernidade no Serviço Social, se faz


necessário relembrar que um dos primeiros elementos que esteve presente desde
o nascimento da profissão foi o conservadorismo.

• As fragmentações das condições de trabalho e as mudanças dos espaços de


trabalho ocupados pelo assistente social geram um novo tipo de prática e de
vínculo profissional.

• O Serviço Social, sendo uma profissão situada na divisão societária do trabalho,


tem seu fazer e agir perante as demandas impostas pela ordem social vigente.

• Os desafios que estão impostos para o Serviço Social, no século XXI, estão
fundamentados nas necessidades de aprofundamento e qualificação do projeto
ético- político da profissão.

51
AUTOATIVIDADE

1 Descreva sobre as influências do neoliberalismo no projeto ético-político da


profissão de Serviço Social.

2 O novo modelo de organização do trabalho influencia diretamente sobre a


atuação prática do assistente social. Situe alguns desafios para a profissão
diante desse novo cenário da configuração do mundo do trabalho.

52
UNIDADE 1
TÓPICO 4

OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO


DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO DA
MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E
DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

1 INTRODUÇÃO
Nesse tópico serão abordados quais são os desafios do projeto ético-
político na conjuntura econômica, social, política e cultural do momento atual,
através de uma análise da sociedade contemporânea e as suas determinações que
são implementadas no cotidiano de uma sociedade.

Como vimos nos tópicos anteriores, as mudanças geradas pelo capitalismo


em nível mundial, a partir da década de 70, resultam num enorme agravamento da
desigualdade social e estrutural da sociedade humana em todas as suas dimensões.

As consequências que são impostas pelo projeto da modernidade, da crise


do sistema capitalista e da ideologia pós-moderna afetam diretamente a atuação
teórico-metodológica do Serviço Social, devido ao aumento da exploração da
força de trabalho, aumento do desemprego e subemprego estrutural, fragilização
dos direitos trabalhistas historicamente adquiridos, entre outros, que geram uma
insegurança no conjunto das relações sociais que são desenvolvidas no cotidiano.

53
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

2 OS REFLEXOS DA MODERNIDADE E PÓS-


MODERNIDADE PARA O SERVIÇO SOCIAL
PERANTE O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

FIGURA 16 – MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE

FONTE: Disponível em: <http://dissentirecontravir.blogspot.com.br/2012/06/o-que-e-pos-


modernidade.html>. Acesso em: 7 dez. 2014.

Para realizar um estudo da relação do Serviço Social com a modernidade


e pós-modernidade, é necessário criar uma analogia entre a profissão, a questão
social, e também da maneira que a mesma se consolidou no território brasileiro.
Segundo Mota (2010, p. 45), “[...] é a questão social que dá a concretude ao Serviço
Social”.

O pensamento moderno teve seu início através do desenvolvimento das


ciências, no século XVI, mas seu auge foi no século XVIII, conhecido como Século
das Luzes, através da legitimidade de uma nova classe dominante, que determina
uma supremacia intelectual. A modernidade surge por meio da razão dialética e
segue um caminho para a razão instrumental.

Para o conceito de modernidade deve-se ressaltar:

54
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

O conceito de modernização refere-se a um conjunto de processos


cumulativos e de reforço mútuo: à formação de capital e mobilização
de recursos; ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento
da produtividade do trabalho; ao estabelecimento do poder político
centralizado e à formação de identidades nacionais; à expansão dos
direitos de participação política, das formas urbanas de vida e da
formação escolar formal; à secularização dos valores etc. (HABERMAS,
2002, p. 5)

O modelo de modernização abrangeu todas as dimensões do


desenvolvimento do ser humano, através do surgimento dos Estados Nacionais,
da classe dominante/burguesia, do desenvolvimento da classe proletariado, e da
acumulação do capital que atingiu todos os mercados econômicos e financeiros. As
decorrências geradas pela expansão do capitalismo ocasionaram crises intensas em
toda a sociedade, afetando o desenvolvimento da humanidade em sua totalidade.

O primeiro conceito sobre modernidade foi definido por Hegel (2008). O


filósofo Habermas (2002, p. 9) afirma:

Hegel emprega o conceito de modernidade, antes de tudo, em contextos


históricos como conceitos de época: ‘os novos tempos’ são os tempos
modernos. Isso corresponde ao uso contemporâneo do termo em inglês
e francês: por volta de 1800, modern times e temps modernes designam os
três séculos precedentes. A descoberta do ‘Novo Mundo’, assim como o
Renascimento e a Reforma, os três grandes acontecimentos por volta de
1500, constituem o limiar histórico entre a época moderna e a medieval.

O surgimento da modernidade foi marcado por um rompimento com


modelos econômicos, políticos, sociais, culturais de outras épocas, tendo como
princípio suas próprias referências, sendo definido como uma época histórica, pois
tem consciência da ruptura com o passado.

Diante desse contexto, nesse novo período difundido por toda a sociedade,
os indivíduos expandiram todas as suas possibilidades de crescimento no que diz
respeito à sua capacidade de transformação da natureza e constituíram mudanças
no tempo e no espaço através da expansão industrial, dos meios de transportes, da
comunicação, entre outros.

A partir dos estudos e das concepções marxistas, Marx apud Berman (1982,
p. 20) afirma que “[...] todas as relações sociais tornam-se obsoletas antes mesmo
que se ossifiquem, isto é, tudo que é sólido se desmancha no ar [...]”.

Para o autor Berman (1982), o que está colocado para a sociedade é a


radicalização do período da modernidade. Segundo o mesmo, os pensadores
Marx e Nietzsche consideraram o projeto que não tinham terminado, pois a
modernidade, sob influência capitalista, em seu contexto histórico estava apenas
difundida pela Europa. O mesmo autor defende que existiram fases do crescimento
da modernidade, sendo elas:

55
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

• A primeira fase aconteceu entre os séculos XVI até metade do século XVIII, onde
as pessoas estavam quase que dominadas pelo novo modelo de organização da
sociedade.

• A segunda fase aconteceu durante o século XIX, onde a sociedade estava


estarrecida com a diferença dos dois mundos, pois um defendia as tradições e o
outro propondo pensamentos científicos em defesa da razão.

UNI

A radicalização da Modernidade e todas as suas diversas formas se expandiram


por todos os continentes ao longo dos séculos.

Como vimos no Tópico 1 desta unidade, o sistema capitalista não tem ética
quando se refere à busca de oportunidades para se consolidar, gerando assim uma
grande divisão entre as classes sociais, e a modernidade está interligada com a
chegada do capitalismo e suas maneiras destrutivas na sociedade.

FIGURA 17 – CICLOS DA MODERNIDADE

FONTE: A autora.

56
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

A modernidade está fundamentada em contradições, pois a riqueza que é


produzida socialmente pela divisão social do trabalho fica centralizada no poder
das minorias, ou seja, de uma pequena burguesia; a classe trabalhadora produz e
gera a riqueza para os donos do capital, capitalistas, que acabam gerando ainda
mais precárias condições de vida, aumentando o índice de pobreza.

De um lado, tiveram acesso à vida forças industriais e científicas


que nenhuma época anterior, na história da humanidade, chegara a
suspeitar. De outro lado, estamos diante de sintomas de decadências
que ultrapassam em muito os horrores dos últimos tempos do Império
Romano. Em nossos dias, tudo parece estar impregnado do seu
contrário. [...] o homem parece escravizar-se a outros homens ou à sua
própria infâmia. [...] (MARX apud BERMAN, 1982, p. 19).

No cotidiano estamos vivenciando uma realidade contraditória, onde existe


uma expressiva produção da riqueza tanto material como a do conhecimento, e,
ao mesmo tempo, existe uma barreira do capital. Sendo assim, a modernidade é
um dos movimentos mais violentos da história, pois traz resultados contraditórios
que jamais foram vistos pela humanidade, e a classe burguesa é protagonista desse
período. De acordo com Marx (2001), tem um caráter intrínseco de autodestruição
inovadora, tudo é feito para ser colocado no chão.

É importante entender como o sistema capitalista, através do capital,


intervém no avanço da modernidade. Segundo o geógrafo Harvey (1992), se
torna essencial decifrar o movimento do capital num mundo que está cada vez
mais redesenhado pela compressão de tempo e espaço. De acordo com o autor, o
espaço entre as terras/países/cidades foi significativamente diminuído, através dos
meios de transporte, onde aumentou a capacidade de locomoção das pessoas. Um
exemplo citado pelo mesmo: nos séculos XVI e XVII os meios de transporte eram
constituídos por carruagens, barcos a vela e tinham a capacidade no máximo de 16
km/h; e com a modernidade os meios de transporte chegam a até 1.100km/h.

Para avaliar as consequências desse reordenamento na vida das pessoas,


através da aceleração do processo de produção e reprodução das relações sociais,
é indispensável considerar algumas outras descobertas que contribuíram para a
ampliação do capitalismo e da chamada globalização.

Harvey (1992) cita como exemplo alguns instrumentos desenvolvidos para


organizar a vida em sociedade e/ou comunidade, como: o cronômetro, calendários
e mapas. Pois esses instrumentos foram utilizados para ajudar a programar a
ordem do sistema capitalista.

Ainda citando Harvey (1992), no que se refere à expansão do capitalismo


pelas fronteiras mundiais, “[...] o mapeamento do mundo abriu caminho para
que se considerasse o espaço algo disponível à apropriação para usos privados”.
(HARVEY, 1992, p. 209-210).

57
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

E
IMPORTANT

A classe burguesa apoderou-se dos instrumentos para aparelhar, organizar e


disciplinar os trabalhadores nas novas metodologias de produção, fundadas na flexibilidade do
mundo do trabalho.

Essas mudanças que aconteceram no mundo do trabalho, principalmente


no que diz respeito ao estreitamento do tempo e espaço, através da expansão do
capital, estavam sincronizadas entre a transição do modelo de produção fordista
para a acumulação flexível.

Na década de 70 houve um agravamento da situação de instabilidade


econômica devido à Crise do Petróleo de 1973. Com a diminuição da oferta desta
matéria-prima, aumentaram os gastos com energia nos países industrializados.
Diante dessa crise, houve um aumento dos juros do capital financeiro internacional,
onde os empréstimos aos países pobres, ou em vias de desenvolvimento, ficaram
com um custo muito elevado.

Nesse período, a economia brasileira teve um crescimento elevado da


dívida externa e do processo inflacionário, aumentando o desemprego e o arrocho
salarial para os trabalhadores. A condição mundial, após a primeira metade da
década de 70, iniciou um período de recessão da economia, em particular a norte-
americana.

Mediante a crise econômica mundial que se instalou nos anos 70, os


modelos keynesiano-fordista passaram a ser questionados.

O fordismo, sendo um sistema rígido, demonstrou, no que se refere à


produção, perante a crise, não conseguir superar as novas demandas exigidas no
novo contexto econômico. Porém, no Japão, a produção, ao contrário do modelo
fordista, estava baseada no modelo toyotista, onde adotava novos princípios de
flexibilidade da produção, sendo um sistema mais produtivo, ágil e que respondia
com mais eficiência às novas exigências do mercado financeiro perante uma crise
de contradições.

Desta forma, Harvey (1992), comparando o fordismo, apresenta descrição


de uma nova composição produtiva:

A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um


confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade
dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e
padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de
produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimentos de
serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente

58
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.


(HARVEY, 1992, p. 140)

Ao analisar essa transição é importante compreender alguns aspectos que


foram defendidos por Harvey (1992), e que foram a base de um novo modelo de
sociedade, como:

• A crise do sistema de produção, que ocorreu em 1973, devido ao novo modelo


da acumulação, que estava centralizado na firmeza do fordismo, ao novo padrão
que estava se iniciando e que vinha da flexibilidade do modelo toyotista.
• A rapidez do tempo de produção gera uma aceleração equivalente no consumo
e troca de mercadorias.
• Para agilizar o fluxo de dinheiro no mercado financeiro, foram criados bancos
eletrônicos e o que se chama de dinheiro de plástico, cartões de crédito.
• Aumento do consumo de serviços e diminuição do consumo de bens.
• O início do consumo do descartável.
• A superioridade da estética em relação à ética, mudando de forma eminente a
psicologia do ser humano, como sujeito de sua história.
• A manipulação dos desejos de consumo, através da publicidade dos produtos
vendidos.
• A livre concorrência do mercado da construção de imagens, ou consultoria de
figura pessoal.
• O aparecimento da réplica, tornando quase que impossível de ser percebida a
diferença entre o original e a réplica/falso.

A modernidade precisa ser olhada como sendo uma condição histórica,


que tem como objeto intermediar o presente e o futuro, para uma compressão
entre o espaço e o tempo. Assim, as transformações que ocorreram durante o
século XX não poderão ser aproximadas ou comparadas como um modelo novo,
pois sua essência se apodera do modelo de uma sociedade capitalista, através de
um cenário contemporâneo analisado pelo materialismo histórico.

Com todas as transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho,


como, por exemplo: desemprego, subemprego, flexibilização das condições e do
mercado de trabalho, perdas dos direitos adquiridos pela classe trabalhadora
devido ao crescimento do modelo neoliberal durante o século XX e começo do
século XXI, se faz necessária uma análise dos pressupostos fundamentados no
materialismo-histórico, visto que se faz presente no pensamento crítico-dialético.

59
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

FIGURA 18 – TAYLORISMO

FONTE: Disponível em: <http://freeapktodownload.com/apps/fordismo-


taylorismo-e-toyotismo-carregar-compartilhar>. Acesso em: 7 dez. 2014.

O monopólio do capital, com o modelo de acumulação flexível, não foi


abolido, sendo modificado através do modelo de produção, que visa à alta
lucratividade e elevadas taxas de juros e a expansão do capital de forma globalizada.

Como estudamos anteriormente, foi no século XX que o Serviço Social surge


no Brasil, como instrumento para atender de imediato as questões sociais, que se
consolidaram através do novo modelo de produção capitalista. No país, esse novo
processo de produção foi implementado mais tarde, se comparado com os outros
países do mundo. O Estado começa então a ser pressionado a dar uma resposta
aos problemas sociais que estão emergindo. Durante esse período começam a
ser criadas as primeiras políticas públicas sociais para atender as necessidades da
população e instrumentalizar a profissão do Serviço Social.

Para Iamamoto (2007, p. 171, grifo do autor):

A profissionalização do Serviço Social pressupõe a expansão de produção


e de relações sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e
urbanização, que trazem, no seu verso, a questão social.

60
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

FIGURA 19 – INTERVENÇÃO DO ESTADO

FONTE: Disponível em: <http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=9146.>.


Acesso em: 3 nov. 2014.

A atuação do profissional de Serviço Social está inteiramente ligada aos


limites do sistema capitalista e sua expansão, onde se fundamenta na exploração
do ser humano pelo próprio ser humano.

E
IMPORTANT

Mesmo que o Serviço Social esteja inserido na sociedade capitalista, tem condições
teórico-metodológicas para se contrapor à nova ordem societária.

A primeira escola de Serviço Social surgiu na cidade de São Paulo, no ano


de 1936, sendo que os primeiros profissionais foram formados para atender as
demandas sociais impostas pela sociedade, através das primeiras políticas sociais.

As ações da profissão têm uma ligação com a Igreja Católica, através de


particularidades de benevolência, filantropia e caridade, porém durante a sua
atuação prática foram desenvolvidos métodos para ultrapassar e mudar esse modo
de agir, através de mecanismos de intervenção, possibilitando uma inserção na
sociedade com um olhar mais crítico, efetuando uma profissionalização no Serviço
Social.

Sobre a profissionalização do Serviço Social, Netto e Braz (2006, p. 73, grifo


dos autores) afirmam que:

61
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

A profissionalização do Serviço Social não se relaciona decisivamente


à “evolução da ajuda”, à “racionalização da filantropia” nem à
“organização da caridade”; vincula-se à dinâmica da ordem monopólica.

Sendo assim, a profissão surge e se fortalece na divisão social do trabalho,


através do desenvolvimento do sistema capitalista e na expansão dos centros
urbanos, em um momento onde há hegemonia do capital, emergindo assim as
questões sociais.

Ao se analisar a história do Brasil, a Era Vargas, onde se deu o início da


profissão no país, tem uma grande influência, devido aos conflitos gerados, sendo
a violência uma das características do período, pela prova de superação da luta
da classe contra a repressão e a tortura. Entre as décadas de 40 e 50 acontece
um processo de institucionalização do Serviço Social, que foi influenciado pelo
desenvolvimentismo da conjuntura que estava vigente no país.

O Serviço Social, na década de 50, ganha maior espaço na sua atuação através
do avanço da industrialização e do surgimento das instituições de assistência.

Na década de 60, no governo de João Goulart, aconteceram algumas


reformulações nas políticas públicas, onde o Serviço Social teve uma maior
participação na elaboração e planejamento das mesmas, porém com uma visão
desenvolvimentista, que propunha uma mudança no contexto de um governo
populista, com o crescimento dos movimentos sociais de base, resultando no
Golpe de 64.

FIGURA 20 – GOLPE DE 64

FONTE: Disponível em: <http://www.unisinos.br/blogs/ihu/category/golpe-de-64/>. Acesso


em: 4 dez. 2014.

62
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

A intervenção profissional, entre as décadas de 70 e 80, foi fortemente


repensada, através do então chamado Movimento de Reconceituação, período no
qual, no Brasil, emergia pela necessidade de uma mudança estrutural na sociedade
e na democracia. Para Netto (2007, p. 248):

[...] é somente quando a crise da autocracia burguesa se evidencia,


com a reinserção da classe média operária na cena política brasileira
desatando uma nova dinâmica na resistência democrática, que a
perspectiva da intenção de ruptura pôde transcender a fronteira das
discussões em pequenos círculos acadêmicos e polarizar atenções de
segmentos profissionais ponderáveis.

E
IMPORTANT

Nessa perspectiva inovadora do Serviço Social, é importante citar alguns


documentos que foram fundamentais nesse processo de mudanças na profissão, são eles:

• Documento de Araxá (1967)


• Documento de Teresópolis (1970)
• Documento de Sumaré e Documento do Alto da Boa Vista (1984).

Também é importante o Congresso da Virada (1979) – IIII Congresso Brasileiro de Assistentes


Sociais, onde os profissionais assumem uma nova postura frente à lógica do sistema capitalista.

A crítica ao Serviço Social tradicional diante da perspectiva de mudanças


foi efetivada com o Método de Belo Horizonte, Método de BH, que foi uma
experiência realizada na Universidade Católica de Minas Gerais, entre o período
de 1972 e 1975, sendo essa uma alternativa global ao modelo tradicionalista, pois
assumiu um novo referencial teórico e a defesa dos trabalhadores. A partir de
então, com esses novos referenciais, a profissão constitui o chamado Projeto Ético-
Político.

O Projeto Ético-Político da profissão se constitui através de três documentos


que são considerados os mais importantes no avanço da atuação profissional, que
são:

• Código de Ética de 1993.


• Diretrizes Gerais para o curso de Serviço Social – Associação Brasileira de Ensino
e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), de 1996.
• Lei Orgânica da Assistência Social - Lei nº 8.662 – Regulamenta a profissão, de
1993.

63
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

A necessidade de novos referenciais teóricos para a práxis dos profissionais


é direcionada para uma ação social e política, com proximidade na teoria de Marx.
Mesmo que não seja uma prática completamente baseada nos documentos escritos
por Karl Marx, ficou marcado como um grande processo de redirecionamento da
teoria e prática do Serviço Social. Netto (2007) diz que essa afinidade da dimensão
prática com a teoria social marxista é chamada de “marxismo sem Marx”:

Sem perder de vista a importância teórica e ideológica desta incorporação,


realizada em condições favoráveis (recorda, mais uma vez, o quadro
da sociedade e das universidades brasileiras da época), o fato é
que na inspiração marxista de que se socorrem os formuladores
belo-horizontinos se encontram os nós problemáticos que rebatem
comprometedoramente na sua contribuição renovadora. (NETTO, 2007,
p. 287, grifo do autor).

Essa aproximação com a realidade foi um grande marco para os profissionais,


pois potencializou o reconhecimento da essência da profissão, fundamentando
o movimento de um projeto profissional a de um projeto societário, afirmando
o compromisso do Serviço Social com as mudanças da realidade social dos
indivíduos na sociedade capitalista, através de novos referenciais para a nova
ordem societária.

No século XX, através do desenvolvimento das ciências sociais e humanas,


houve uma significativa apropriação desses novos referenciais da profissão,
através de novos conhecimentos e novas teorias. As novas formas de intervenção
social aperfeiçoam uma nova produção e reprodução nas relações sociais, em
decorrência do dinamismo das transformações atuadas pelo capitalismo. Sobre
essa inserção nas relações sociais, Chauí (2006) pressupõe que:

Em sua forma contemporânea, a sociedade capitalista é caracterizada


pela fragmentação de todas as esferas da vida social, desde a produção,
com a dispersão espacial e temporal do trabalho, até a distribuição dos
referenciais que balizavam a identidade de classes e as formas de luta
de classes. A sociedade aparece como uma rede móvel, instável, efêmera
de organizações particulares definidas por organizações particulares e
programas particulares, competindo entre si (CHAUÍ, 2006, p. 324).

64
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

DICAS

Caro(a) acadêmico(a), não deixe de ler o livro abaixo citado, ele é


essencial para aprofundar seus conhecimentos.

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do


Serviço Social no Brasil pós- 64. São Paulo: Cortez, 2007.

CASTRO, Manuel M. História do Serviço Social na América


Latina. 12ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

Importantes pensadores influenciaram para que as novas teorias fossem


reformuladas, elaborando novos conceitos da existência do universo e da crença
em Deus pela razão moderna. Dentre esses pensadores podemos citar:

• Émile Durkheim (1859-1917): foi o mentor da sociologia acadêmica, era defensor


de uma razão formal, onde a realidade coincidia com essência social.

• Max Weber (1864-1920): defendia que o objeto de estudo é a ação do ser, através
da busca do ideal, onde todos devem chegar ao mesmo resultado se utilizarem
os mesmos mecanismos e instrumentais.

• Karl Marx (1818-1883): através de entendimento do materialismo histórico


dialético, a realidade é um processo histórico, e que está em constante movimento.

A relação que o Serviço Social tem com essas teorias se justifica quando a
profissão surge, no início do século XX, com o comprometimento de cuidar das
pessoas que estavam em situação de vulnerabilidade social.

Sobre esse período, Iamamoto (1997) afirma:

Nos anos 30, reconhecidas as tensões de classe, que acompanham o


processo de consolidação do mercado capitalista de trabalho, tenta-se
institucionalizar um tipo de ação social que, no âmbito das relações
Estado/Sociedade, tenha como alvo a situação social do operariado
urbano e do exército industrial de reserva, no sentido de atenuar as
sequelas materiais e morais derivadas do trabalhador assalariado.
(IAMAMOTO, 1997, p. 114).

O Serviço Social na atualidade é o resultado de todo um processo histórico


da profissão, desde o início da mesma, depois com a influência das teorias

65
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

positivista e funcionalista, resultando em uma maturidade teórica e metodológica,


a atuação profissional.

Foi no Movimento de Reconceituação que o Serviço Social teve um novo


redirecionamento na sua atuação como profissão, através de uma atuação voltada
para as questões sociais e políticas, porém transformando a realidade da sociedade,
através da aproximação da teoria dialética.

Através da aproximação da profissão com a teoria social de Marx, o Serviço


Social potencializa e qualifica sua atuação com ações e proposições, voltadas para
uma transformação social vinculada ao projeto profissional. A teoria social de
Marx permite o conhecimento da forma de existir da realidade societária através
dos fenômenos e aponta para uma nova organização da sociedade.

As transformações na sociedade mundial, principalmente no que se refere


à questão do trabalho, são reflexos das transformações societárias que aconteceram
após a década de 70.

FIGURA 21 – MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://www.fcc.org.br/bdmulheres/


serie2.php?area=series>. Acesso em: 5 dez. 2014.

66
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

Ao analisar determinadas ações impostas pelo capitalismo para dinamizar


a flexibilização da economia, pode-se concluir que os problemas gerados pelo
sistema capitalista não foram resolvidos, mas tiveram uma grande expansão em
todas as dimensões sociais.

Para Hobsbawm (1995), existem três grandes pilares problemáticos de


sustentação dos problemas sociais: o crescimento da distância entre os países ricos
dos países pobres; o aumento do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica.

Na década de 1970, as disparidades entre as diferentes partes do mundo


pobre tornam inúteis essas cifras globais. A essa altura algumas regiões,
como o Extremo Oriente e a América Latina, tinham produção superior
à taxa de crescimento de suas populações, enquanto a África ficava para
trás em mais de 1% ao ano. [...] Enquanto isso, o problema do mundo
desenvolvido era que produzia tanto alimento que não sabia o que fazer
com o excedente, e na década de 1980 decidiu plantar substancialmente
menos, ou então (como na Comunidade Europeia) vender suas
“montanhas de manteiga” e “lagos de leite” abaixo do custo, com isso
solapando os produtores nos países pobres. (HOBSBAWM, 1995, p.
256).

Como estudamos no Tópico 1, o capitalismo tem contínuas crises ao longo


da sua história, cada uma delas tem um reflexo diferente, dependendo de sua
natureza e de seus caminhos seguidos, que são efetivados pelo capital globalizado
que temos atualmente no século XXI.

E
IMPORTANT

A economia mundial deixou de ser responsabilidade dos Estados Nacionais,


sendo gerenciada por organizações financeiras internacionais, como, por exemplo: Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
(BIRD), além do domínio dos países ricos sobre os países subdesenvolvidos ou em vias de
desenvolvimento, como o Brasil, China, Rússia e outros, impondo as suas políticas financeiras,
por terem o domínio do mercado mundial.

67
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

Essas mudanças geradas em decorrência de uma nova imposição do


capital financeiro mundial aparecem com o pensamento pós-moderno, que visa
à preocupação dos acontecimentos através da diminuição da racionabilidade e
ampliando o campo de atuação para diversos racionalismos.

Para Netto (1989):

[...] a retórica pós-moderna não é uma intencional mistificação elaborada


por moedeiros falsos da academia e publicitada pela mídia a serviço do
grande capital. Antes, ela é um sintoma das transformações em curso na
sociedade tarda-burguesia [...]. (NETTO, 1989, p. 98).

O Serviço Social sofre influências com a mudança da ordem societária, do
espaço/território e da objetivação das questões sociais, que a cada dia aumentam
por decorrência do próprio sistema capitalista. A profissão que estava em um
processo de Reconceituação necessitou atuar com as transformações da sociedade
que foram impostas pelo modelo de produção capitalista contemporâneo.

UNI

A contemporaneidade é intensamente marcada pelas mudanças que ocorreram


no começo da primeira década do século XXI, sendo essas fundamentais para compreender os
processos de desenvolvimento dos anos de 1980, 1990 e do século XXI.

Após o período do Movimento de Reconceituação do Serviço Social, a


profissão tem um novo direcionamento no seu projeto ético-político, através de
uma atuação voltada para o social e político, mas com uma intervenção voltada
para a realidade e transformação social, e contrária aos interesses da burguesia e
da lógica do sistema capitalista. O Serviço Social, diante dessa mudança de atuação
profissional, busca instrumentos de emancipação da sociedade.

A condição que a profissão tem em entender a sua atuação, limites de


intervenção e de transformação da realidade, está fundamentada em um referencial
teórico-crítico que manifesta o modelo de organização da sociedade, considerando
o seu processo histórico e sua historicidade, objetivando as mudanças das relações
de produção e reprodução.

O Projeto Ético-Político do Serviço Social foi estabelecido como sendo


hegemônico para a atuação profissional da categoria, preconizando o conhecimento
da realidade e das demandas de atuação, e potencializando as condições objetivas
e subjetivas de suas ações.

68
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

UNI

Ao afirmar que o Projeto Ético-Político do Serviço Social é hegemônico, não se


pode dizer que o entendimento é homogêneo.

HEGEMÔNICO: significa que é predominante, influente, preponderante. Eles são


profissionais hegemônicos [...]. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/
hegem%C3%B4nico/>. Acesso em: 7 dez. 2014.

HOMOGÊNEO: significa que é único, sem partes/elementos/substâncias diferentes, pode ser


formado de coisas diferentes, mas se tornando em uma coisa só. Disponível em: <http://www.
dicionarioinformal.com.br/hegem%C3%B4nico/>. Acesso em: 7 dez. 2014.

A visão crítica não foi inspirada na teoria social de Marx, como referencial
teórico. Quando se refere à dimensão de totalidade é para identificar os movimentos
da realidade, delimitando assim a atuação profissional.

Em relação à assimilação da teoria social de Marx com o Serviço Social,


Netto (1989) ressalva:

Animem-me porque é um signo inconteste da pertinência contemporânea


da interlocução entre o serviço social e a tradição marxista, porque
atesta que ela possui um significado concreto para nós, porque assegura
que a sua inserção não é algo artificioso ou aleatório [...] me preocupa,
porque pode induzir à falsa ideia de uma hegemonia da tradição
marxista no cenário profissional – e não creio que esteja sendo o quadro
real (NETTO,1989, p. 100).

No momento em que o profissional compreende a sua atuação na dimensão


da prática social/práxis e a centralidade do trabalho, começa a entender que a
sociedade capitalista se desenvolve conforme os interesses da burguesia.

O Serviço Social não pode atuar isolado para combater os interesses do


capital, precisa de uma articulação com as demais áreas das ciências humanas,
pois a dimensão do ser social, do sujeito coletivo, depende de ações coletivas e
potencializadas para a retomada e fortalecimento de atitudes contra a agressão do
capitalismo.

As possibilidades de ações, limites de intervenção à compreensão do real


significado da profissão de Serviço Social, apontam para um direcionamento do
exercício da atuação profissional.

O profissional assistente social tem o compromisso ético de atuar na defesa


e na garantia dos direitos sociais, políticos e civis das pessoas, que atualmente são
chamados de excluídos, deve trabalhar para combater toda a forma de exploração
do trabalhador. A atuação profissional deve sempre estar voltada ao processo

69
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

de concepção de uma consciência fundamentada na emancipação da classe


trabalhadora, dos excluídos e de todos que necessitam do Serviço Social. Netto
(1992) afirma que está “[...] convencido de que o recurso à tradição marxista pode
nos clarificar criticamente o sentido, a funcionalidade e as limitações do nosso
exercício profissional” (NETTO, 1992, p. 99).

FIGURA 22 – DIREITOS DO EXCLUÍDOS

FONTE: Disponível em: <http://cetspeducacao.blogspot.com.br/2012/03/integrados-


e-excluidos.html>. Acesso em: 7 dez. 2014.

DICAS

Por CLASSE DE TRABALHADORES entende-se que são as pessoas que vivem do


trabalho, nas mais diversas variações e composição. (ANTUNES, 1997).

70
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

A aproximação do Serviço Social com a teoria social de Marx oferece


subsídios para uma emancipação do ser humano, através das dimensões sociais,
culturais, políticas e econômicas, fazendo do homem um verdadeiro cidadão,
independente de sua liberdade social.

Sobre emancipação, se faz necessário citar Marx: “A emancipação política


aparece logo no fato de que o Estado pode libertar-se de uma barreira sem que o
homem esteja realmente livre dela, [no fato de] que o Estado pode ser um Estado
livre sem que o homem seja um homem livre”. (MARX, 2007, p. 52, grifo do autor).

Considerar a atuação profissional, na conjuntura do modelo de


modernidade e pós-modernidade, no que se refere à emancipação, enfatiza o
caráter antagônico que o Serviço Social possui, porém ressalva o compromisso
com a classe trabalhadora na efetivação de um projeto societário que defenda o
interesse dos excluídos.

O trabalho do assistente social não se dá com resultados rápidos e imediatos,


mas em atuar na garantia de direitos, na busca de uma melhor condição de vida,
na transformação de conceitos já impregnados pela sociedade; necessita de muito
embasamento teórico e ética profissional, para que a práxis não seja contrária ao
Projeto Ético-Político do Serviço Social. Iamamoto (2000) destaca:

[...] entender a prática profissional supõe inseri-la no jogo das relações


das classes sociais e de seus mecanismos de poder econômico, político
e cultural [...] a prática profissional tem um caráter essencialmente
político: surge das próprias relações de poder presentes na sociedade
[...] exige recursos teóricos e um horizonte político para decifrar a
dinâmica conjuntural, os sujeitos coletivos aí presentes e suas relações
com a profissão. (IAMAMOTO, 2006, p. 121-123-125).

Os assistentes sociais têm o compromisso e o comprometimento com a


transformação da ordem mundial, mesmo com as complexidades impostas no
trabalho cotidiano, nas ações imediatas e de emergências que são reflexos do
sistema capitalista. É fundamental que o profissional não entre no conformismo
e na aceitação da atual realidade da sociedade, e sim, deve estar fortalecido para
atuar com o objetivo de transformar a sociedade em que está inserido, fazendo
com que o ser humano se sinta parte do processo de transformação.

71
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

DICAS

Caro acadêmico, na sua vida profissional você precisará relacionar sempre a teoria
com a prática. Para aprofundar seus conhecimentos, sugiro que você leia os seguintes livros.

Este livro avalia e analisa as dimensões sociais, políticas e culturais da crise das sociedades atuais.
Trata-se de crise global, que assume formas diversas em diferentes países, em decorrência da
posição que ocupam no sistema mundial.

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social


e o político na pós-modernidade. 2. ed. São Paulo: Cortez,
1996.

A Era dos Extremos é um testemunho sobre o século XX. O


seu tempo de vida coincide com a maior parte da época em
que o livro é escrito.

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX.


São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

72
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

LEITURA COMPLEMENTAR

A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:


a reatualização do conservadorismo no Serviço Social

Marisa Albuquerque Cordeiro


Cristiane Porfírio
Jeriel Silva Santos

O PROJETO DA MODERNIDADE E O COMBATE CAPITALISTA À RAZÃO

O projeto da modernidade estava centrado no domínio da razão pelo homem


e coincidiu com a promessa do sistema recentemente descoberto, o capitalista,
em satisfazer as necessidades humanas – que mais tarde foi denunciado pelo
próprio movimento a realidade e pela oposição proletária. Conforme sinalizada
por Coutinho (2010), quando a burguesia, ameaçada pela oposição do proletariado
se torna uma força conservadora, interessada na perpetuação da sua ordem, sua
vertente ideo-política se expressa no conservadorismo, que passa a dinamizar uma
reação cada vez mais incisiva sobre a razão e os princípios emancipatórios.

Essa reação trouxe como consequência o empobrecimento da razão pela sua


intensiva subjugação à esfera da razão formal, ao estruturalismo e ao irracionalismo
(COUTINHO, 2010). Observe-se que estas transformações estavam profundamente
interligadas às condições históricas e sociopolíticas que começavam a explicitar as
contradições do modo de produção burguês, em que o homem, cada vez mais, se
vê sujeito ao mundo das mercadorias. Nesse sentido, a ordem burguesa necessitava
de mecanismos ideológicos e sistemas teórico-filosóficos capazes de sustentar a
sua ordem antagônica, é nesse contexto que o conservadorismo se articula como
uma de suas expressões.

[...] vemos precisamente um rompimento com a tradição progressista;


não se trata de uma real continuidade, mas, antes, do fato de que as
filosofias da decadência “tiram vantagem de onde podem” (Molière),
ou seja, utilizam elementos filosóficos fetichizados num sentido oposto
ao originário. (Ibid., p. 24).

Desse modo, surgem duas grandes matrizes teóricas da razão moderna,


que causaram intenso impacto no século XX. Correspondendo, de um lado, à
perspectiva revolucionária inaugurada com a teoria social de Karl Marx, e de outro,
com o sistema positivista de August Comte. De acordo com Simionatto (2009), o
positivismo comteano emerge como “um sustentáculo da ordem burguesa”, uma
vez que expostos seus antagonismos de classe.

A EMERGÊNCIA DO PENSAMENTO PÓS-MODERNO

Aqueles, anteriormente citados, formam os principais matizes do


pensamento moderno durante o século XX. No entanto, a crise do capitalismo
73
UNIDADE 1 | A EXPANSÃO E CRISE DO CAPITALISMO NA CONFIGURAÇÃO DA PÓS-MODERNIDADE

contemporâneo e seu processo de reestruturação produtiva deflagrada a partir


dos fins de 1960 provocaram intensas mudanças nas mais diversas esferas da
vida social. Na esfera política, é perdida a ideia de Estado-nação em lugar dos
interesses transnacionais. Com a mundialização do capital, são realizadas reformas
econômicas de cunho neoliberal, centradas na privatização e na supremacia do
mercado que, esvaziando e inferindo nas possibilidades de construção de outras
formas de sociabilidade, enfocam projetos de grupo específicos no lugar dos
interesses universais e de classe.

No lugar das representações políticas como os partidos e sindicatos,


evidencia-se a micropolítica, representada na fragmentação dos sujeitos políticos
que cada vez mais se distanciam de um projeto coletivo. Nas perspectivas
ideoteórica e cultural, as principais mudanças se dão em torno do discurso sobre
o fracasso do projeto da modernidade, nas possibilidades do conhecimento em
apreender a realidade, por consequência da sua ‘fragmentação’ e ‘multiplicidade’;
e na ascensão da sociedade do “descarte” (SIMIONATTO, 2009), com a crescente
desvalorização dos valores, relacionamentos e do modo de ser e agir, com a
exaltação do efêmero e do passageiro.

As novas formas de organização social e expressões culturais


movimentam-se e expressam-se, ainda, nos espaços locais e
cosmopolitas, nacionais e internacionais, públicos e privados. Afirmam-
se a autonomia e as identidades locais, com o retorno da valorização
de instituições como família e comunidade, permeadas por uma
ideia abstrata de solidariedade. A separação entre indivíduo/classe
e sua relação com grupos coletivos e a primazia do privado sobre o
público contribuem, de forma incisiva, para o aumento da alienação, o
esvaziamento das ações histórico-sociais, a neutralização e a banalização
do agir político (SIMIONATTO, 2009, p.11).

Emerge, no âmbito do conhecimento, uma dita crise dos paradigmas


(TONET, 2004), configurada pelo discurso da perplexidade do estudo da realidade,
visto que esta se desdobrou numa estrutura complexa e ‘hiper-real’ (SANTOS,
1996), na qual se perde do panorama o debate das classes sociais e instaura-se o fim
das ideologias e das utopias – aproveitando-se da “queda” do dito socialismo real.

Centralizando a problemática na relação entre objetividade e subjetividade,


na qual os sistemas macroteóricos de análise estariam superados, dentre os
pressupostos desta crise, o principal alvo é a tradição marxista, em que está
sustentada a defesa epistemológica de sua insuficiência diante da compreensão
da realidade, por sua equivocada caracterização com um modelo economicista
e determinístico, incapaz de apreender as questões de subjetividade. À razão
dialética cabe, cada vez mais, um processo de total empobrecimento, cedendo
lugar ao relativismo e, muitas vezes, ao irracionalismo (SIMIONATTO, 2009).

Eis aí o movimento que se convencionou denominar pós-moderno. É nele


que gravitam as expressões neoconservadoras, que inferem nas mais diversas
dimensões e esfera da vida social.

74
TÓPICO 4 | OS DESAFIOS DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE AO PROJETO
DA MODERNIDADE, DA CRISE DO SISTEMA CAPITALISTA E DA IDEOLOGIA PÓS-MODERNISMO

Para Jamesno (1985), isso significa dizer que a pós-modernidade está bem
mais articulada à lógica do capitalismo avançado do que à substituição a uma
suposta falência do projeto da Ilustração – que mantém seus ideais como uma
ameaça à ordem burguesa. O que temos aqui, de acordo com Santos (2007), é o
chão histórico de um cenário de crise do capitalismo contemporâneo, é um aspecto
determinado do projeto moderno, em que se insere a modernidade burguesa, com
sua tendência totalizante em abarcar as esferas da vida com saídas para suas crises
de acumulação.

Nesse sentido, novas estratégias são reeditadas em nome da sua perpetuação


como ordem vigente, e o que se vê, ao contrário do que é disseminado pelo
pensamento neoconservador – que, sob as ameaças revolucionárias, convencionou
articular-se à burguesia, não é o atestado de morte do projeto da modernidade,
mas uma intensa ofensiva aos ideais universais em detrimento de uma cultura da
crise, isto é, uma tendência para situar à era “pós-moderna” (HARVAEY,1996) a
efemeridade – isto é, a intensa negação histórica do passado, com ênfase ao aqui e
o agora, que se vive num “presente perpétuo” (JAMESON, 1985); a fragmentação
, a incerteza, a insegurança e a instabilidade como componentes principais. Desse
modo, esse discurso, travestido pelo pensamento pós-moderno, será alicerce
ideocultural da sociedade burguesa contemporânea. (SANTOS, 2007).

Portanto, compreendemos que a emergência do pós-modernismo não


denota o perecimento da modernidade. É necessário que essa possibilidade
seja problematizada a fim de esclarecer ao leitor as conexões internas e os
antagonismos que permeiam o movimento desse pensamento. Fazemos uma
alusão a Marx, quando este, no diálogo com Hegel, diz que a história do mundo
ocorre duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda como farsa (MARX, 1984),
para deduzirmos que o movimento pós-moderno reafirma a lógica cultural do
capitalismo contemporâneo, na tentativa de maquiar seus produtos contraditórios
e advogar sua manutenção. No entanto, o seu debate é hoje uma realidade e seus
rebatimentos, como representação da hegemonia ideocultural capitalista, na vida
social, são inegáveis.

FONTE: Disponível em: <.ratio.edu.br/dados/trabalhosociedade/primeirarevista/08%20


A%20HEGEMONIA%20P%C3%93S-MODERNA%20NO%20CAPITALISMO%20
CONTEMPOR%C3%82NEO%20a%20reatualiza3%7%C3%A3o%20do%20conservadorismo%2-
0no%20Servi%C3%A7o%20Social.pdf.>. Acesso em: 8 dez. 2014.

75
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:

• O pensamento moderno teve seu início através do desenvolvimento das ciências,


no século XVI, mas seu auge foi no século XVIII.

• A modernidade surge por meio da razão dialética e segue um caminho para a


razão instrumental.

• As decorrências geradas pela expansão do capitalismo ocasionaram crises


intensas em toda a sociedade, afetando o desenvolvimento da humanidade em
sua totalidade.

• A modernidade está fundamentada em contradições, pois a riqueza que é


produzida socialmente pela divisão social do trabalho fica centralizada no poder
das minorias.

• A modernidade é um dos movimentos mais violentos da história, pois traz


resultados contraditórios que jamais foram vistos pela humanidade.

• Na década de 70 houve um agravamento da situação de instabilidade econômica


devido à Crise do Petróleo de 1973.

• Mediante a crise econômica mundial que se instalou nos anos de 70, os modelos
keynesiano-fordista passaram a ser questionados.

• O monopólio do capital, com o modelo de acumulação flexível, não foi abolido,


sendo modificado.

• A atuação do profissional de Serviço Social está inteiramente ligada aos limites


do sistema capitalista e sua expansão.

• A intervenção profissional, entre as décadas de 70 e 80, foi fortemente repensada,


através do então chamado Movimento de Reconceituação.

• No século XX, através do desenvolvimento das ciências sociais e humanas,


houve uma significativa apropriação desses novos referenciais da profissão,
através de novos conhecimentos e novas teorias.

• O Serviço Social na atualidade é o resultado de todo um processo histórico da


profissão.

• O Serviço Social não pode atuar isolado para combater os interesses do capital,
precisa de uma articulação com as demais áreas das ciências humanas.

76
• O Serviço Social sofre influências com a mudança da ordem societária, do
espaço/território e da objetivação das questões sociais.

• A atuação profissional deve sempre estar voltada ao processo de concepção de


uma consciência fundamentada na emancipação da classe trabalhadora.

• A aproximação do Serviço Social com a teoria social de Marx oferece subsídios


para uma emancipação do ser humano.

• Os assistentes sociais têm o compromisso e o comprometimento com a


transformação da ordem mundial.

77
AUTOATIVIDADE

1 Relate como a modernidade e pós-modernidade influenciaram nas dimensões


sociais, culturais, econômicas e políticas da sociedade.

2 Diferencie o modelo fordista do modelo toyotista de produção.

78
UNIDADE 2

O SERVIÇO SOCIAL E AS
TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO
CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender os aspectos da divisão sociotécnica da profissão de Serviço


Social no sistema capitalista;

• entender o Serviço Social como trabalho assalariado;

• analisar a trajetória do Serviço Social nos espaços de atuação nas esferas


públicas;

• identificar as áreas de intervenção, atribuições da profissão nas empresas


privadas e particulares;

• compreender o projeto ético-político profissional.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos e ao final de cada um deles você
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO


SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

TÓPICO 2 – OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO


PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL NA ESFERA ESTATAL
E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

TÓPICO 3 – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS


EMPRESAS PRIVADAS

TÓPICO 4 – A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS


ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA

79
80
UNIDADE 2
TÓPICO 1

A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE


SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

1 INTRODUÇÃO
Através deste tópico, da segunda unidade, o(a) acadêmico(a) conhecerá
melhor a trajetória do fazer profissional do assistente social. Nesse contexto, será
fundamental analisarmos e entendermos como o sistema capitalista influenciou o
surgimento do Serviço Social, e também como determina a divisão social e técnica
da profissão nos seus instrumentos de trabalho, enfatizando a forma de intervir no
seu fazer e agir profissional contemporâneo.

Segundo Raichelis (2011, p. 420),

O Serviço Social como profissão emerge na sociedade capitalista em seu


estágio monopolista, contexto em que a questão social, pelo seu caráter
de classe, demanda do Estado mecanismos de intervenção não apenas
econômicos, mas também políticos e sociais.

Nesse sentido, estudaremos as dimensões da instrumentalidade da atuação


do assistente social com uma visão teórica e dialética contemporânea, identificando
os fundamentos teóricos das práxis profissionais na atualidade com instrumentos
e técnicas utilizadas pelo Serviço Social.

Em seguida, conheceremos os principais instrumentos e técnicas utilizados


pelo assistente social no cotidiano de sua prática profissional, identificando seus
conceitos e procedimentos inerentes, compondo, assim, o que nós chamamos de
competência técnica do profissional de Serviço Social e que leva o assistente social
a saber intervir nos problemas sociais trazidos pelas demandas postas à profissão
na atualidade.

81
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

2 O SIGNIFICADO SÓCIO-HISTÓRICO DO SERVIÇO


SOCIAL COMO PROFISSÃO NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA

FIGURA 23 – DIVISÃO SOCIOTÉCNICA

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_


arttext&pid =S0101-66282010000100008>. Acesso em: 9 dez. 2014.

Ao realizar uma análise do Serviço Social no método de reprodução das


relações sociais, devemos iniciar do ponto de partida da maneira como o assistente
social se constitui na profissão, mostrando como acontece a sua inclusão na
sociedade. Essa análise acontecerá a partir dos serviços, demandas e pertinências
que estão situados internamente em si próprios mediante os desafios da profissão.

O Serviço Social não pode ser analisado em suas próprias dimensões,


precisa ultrapassar os contextos sociais de suas relações na sociedade que
defende o sistema capitalista, em especial nas respostas que a sociedade e o
Estado estabelecem mediante as questões sociais impostas para as diferentes
classes antagônicas ao modelo capitalista e as suas revelações nas mais diversas
dimensões, que compõem a sociabilidade das pessoas e que se fazem presentes na
atuação profissional cotidianamente.

82
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

E
IMPORTANT

Segundo Yazbeck (2009, p. 127), “Questão social é a expressão das desigualdades


sociais constitutivas do capitalismo. Suas diversas manifestações são indissociáveis das
relações entre as classes sociais que estruturam esse sistema, e nesse sentido a Questão Social
se expressa também na disputa política”.

Para uma melhor concepção do Serviço Social como profissão inserida na


sociedade capitalista, se faz necessário entender o significado de reprodução social,
na teoria social de Marx, que se define como determinadas relações sociais no
modelo de produção do capital. Nesse contexto, a reprodução das relações sociais
é percebida como sendo a reprodução da vida social em toda a sua totalidade, e que
envolve não apenas a produção e reprodução de bens materiais na sociedade, mas
também a reprodução social, cultural, religiosa e política que definem a consciência
social, que resulta na forma em que o ser humano se situa na coletividade social.

Iamamoto e Carvalho (2011, p. 65) ressalvam que a reprodução das relações


sociais, “com a reprodução do capital, permeia as várias ‘dimensões’ e expressões
da vida em sociedade”.

Toda essa ação de reprodução total das relações sociais na sociedade é muito
complexa, pois se torna um mecanismo capaz de gerar mudanças, da diversidade,
da criação do novo, e de uma totalidade em constante movimento de reelaboração,
criando condições de superar os conflitos gerados da relação entre classes sociais.

Compreender o conceito acima de reprodução social é fundamental para


entender de que forma a profissão de Serviço Social se coloca como instituição
permeada nas dimensões da sociedade. Iamamoto e Carvalho (2011) analisam o
Serviço Social através de duas perspectivas que se complementam:

• Como realidade vivida e representada na e pela consciência de seus agentes


profissionais e que se expressa pelo discurso teórico e ideológico sobre o
exercício profissional.

• Como atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais objetivas


que imprimem certa direção social ao exercício profissional, que independem de
sua vontade e/ou da consciência de seus agentes individuais.

Estas duas perspectivas, apesar de serem interdependentes, formam


integração contraditória na atuação profissional, podendo gerar uma desarticulação
entre as finalidades das práxis do assistente social.

Quando falamos que o Serviço Social tem um espaço na divisão sociotécnica


do trabalho, é importante rever qual foi a divisão que correspondeu a uma influência
83
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

das precisões do modelo de produção capitalista. A profissão de Serviço Social,


entre outras, surgiu no período de uma das crises capitalistas, especificamente no
século XIX, como já vimos na Unidade 1 deste Caderno de Estudos.

FIGURA 24 – SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL

FONTE: A autora

Na divisão sociotécnica do trabalho, o Serviço Social foi regulamentado


como profissão pela Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, tendo alterações impostas
pelas resoluções do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS nº 290/94 e de nº
293/94, e delimitada pelo Código de Ética, aprovado pela resolução do CFESS n º
273/93, de 13 de março de 1993.

A profissão de Serviço Social é reconhecida desde a sua origem, mas


é necessário analisar a sua natureza e as formas que decorrem de sua origem e
construção. Alguns autores, como Iamamoto e Carvalho (2009), analisam que o
fundamento da profissão é a sua expectativa sócio-histórica. Os mesmos autores
garantem que a ascendência do Serviço Social no Brasil, nos anos 1930, está
interligada à classe burguesa emergente, como uma tática da burguesia para
disciplinar e diminuir os problemas sociais, gerados pela expansão do sistema
capitalista.

A origem do Serviço Social como profissão é histórica, e a sua introdução na


divisão sociotécnica do trabalho está interligada e articulada com as configurações
assumidas pelas lutas das classes sociais subalternas, como o grupo do poder, no
enfrentamento das questões sociais, emergente do próprio sistema.

Para Iamamoto (1997, p. 87), “ainda do caráter das políticas do Estado,


que articuladas ao contexto internacional, vão atribuindo especificidades à
configuração do Serviço Social na divisão social do trabalho”.

Perante esse aspecto, o Serviço Social materializa-se como profissão diante


da divisão do trabalho, sendo fundamental analisar, entender e reconhecer a sua
vinculação e influência da Igreja Católica e nas contrariedades que são visíveis na

84
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

conjuntura social atual, pois “supõe inseri-la no conjunto das condições e relações
sociais que lhe atribuem um sentido histórico e nas quais se torna possível e
necessária”. (IAMAMOTO,1997, p. 88).

Com a propagação do capital no Brasil, através do desenvolvimento


do capitalismo, houve o crescimento da economia, através do novo modelo de
produção, mas as contradições geradas por esse período trazem consequências
na fragilização da organização do trabalho, na concorrência dos trabalhadores
na busca de um espaço no mercado de trabalho, fazendo com que a qualificação
profissional fosse cada vez mais essencial.

É neste contexto, em que se afirma a hegemonia do capital industrial e


financeiro, que emerge sob novas formas a chamada ‘questão social’, a
qual se torna base de justificação desse tipo de profissional especializado
[...] É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição
entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos
de intervenção, mais além da caridade e repressão (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2011, p. 77).

A ampliação do sistema capitalista beneficia a aliança do grupo


predominante, ou como é chamada, de classe dominante, com o Estado, é o que
gera o fortalecimento do primeiro grupo, consequentemente enfraquece as lutas,
reivindicações e organizações de base dos trabalhadores.

Desde sempre, o Serviço Social é rotulado com a marca da solidariedade,


do apoio, da ajuda, da benevolência de ações que estão envolvidas com as questões
sociais, e do controle social e da erradicação da pobreza, com ênfase para as que
estão à vista da burguesia.

Analisando o contexto acima, pode-se constatar que o Serviço Social


assume uma parte das tarefas que objetivam a reforma social, ou seja, concretizar
atuações no campo psicossocial. Os perímetros instituídos nessa tarefa derivam
dos que sustentam o sistema capitalista como também a ordem social em vigência.

E
IMPORTANT

O Serviço Social contribuiu substantivamente para fortalecer o domínio e a


repressão praticados pela classe dominante e pela burguesia, perante o desenvolvimento veloz
da miserabilidade e da pobreza, pois foi uma profissão que nasceu para controlar a demanda
gerada pelo capitalismo, nasceu do sistema capitalista.

85
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Esse domínio originou-se da intimidação à ordem social, atribuído pela


burguesia à classe de trabalhadores do modelo de produção. Nesse contexto a
classe dominante determina e produz algumas categorias profissionais, e o controle
nas configurações da atuação e construção do exercício profissional, como, por
exemplo, a atuação de uma assistente social em uma empresa privada, onde o
trabalhador precisa atuar conforme os interesses do seu patrão, porém deve seguir
o princípios éticos e políticos da profissão.

No Serviço Social a identificação desse controle acontece no decorrer


da história da profissão, quando adota e assume o projeto ideológico da classe
burguesa, facilitando a sustentação da sociedade capitalista.

Nessa época os profissionais que participavam dessa concepção do Serviço


Social estavam inseridos na busca de uma teoria que oferecesse a manutenção do
fazer e agir profissional, diante do desafio de dar respostas às demandas sociais,
proporcionando também mecanismos para que a profissão continuasse atuando
no contexto nacional.

Como já foi estudado, desde o início do Serviço Social como profissão, o


trabalho realizado pelos assistentes sociais foi focado principalmente nas pessoas
que vivem em situação de pobreza e/ou de vulnerabilidade social. Essas pessoas
excluídas do sistema de produção de bens e serviços vão à busca do assistente social,
como sendo o profissional que poderá auxiliar através do amparo e orientação, a
fim de desfrutar dos seus direitos sociais, oferecidos pelo Estado.

Sendo assim, o profissional começa a atuar em caminhos duplos, além de


compreender as expressões geradas pela questão social que são os elementos de
sua prática profissional, prevalecem, inicialmente, atuações apontadas para as
demandas de seus usuários, que estão inseridos no meio social em que vivem.

A partir do momento em que o assistente social começa sua atuação nessa


outra perspectiva, a profissão começa a trilhar novos caminhos, através de ações
que definem a mudança de conduta das pessoas e sua inclusão na sociedade, por
meio da ordem e justiça social, como também no controle da pobreza, mesmo
através da solidariedade dos indivíduos. Segundo Torres (2009),

O objeto de intervenção assume alguns relevos, porém, sem perder


seu cariz: a articulação harmoniosa entre o Estado e a sociedade para a
garantia do desenvolvimento econômico e do bem comum. Identifica‐
se aqui uma forte influência dos princípios da Igreja defendidos nas
encíclicas papais, que determinam uma ação mais direta da Igreja na
vida em sociedade.

A origem histórica dos mecanismos de intervenção, em que o Serviço Social


está determinado - sócios, econômicos, culturais e políticos - está fundamentada
no conjunto evolutivo de um sistema capitalista, na sua fase monopolista,
implementado na sociedade.

86
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O papel do Estado foi redefinido com a crise do capitalismo, houve uma


mudança nos seus princípios e nas suas estratégias no que se refere ao ciclo de
acumulação capitalista. O Estado assumiu um caráter burguês intervencionista no
que diz respeito às políticas econômicas e públicas, emergindo a questão de classe
social, e, consequentemente, as profissões que surgiram nesse período detiveram o
olhar para os mais excluídos, como foi o caso do Serviço Social.

Para Guerra (1995, p. 153), “[...] o processo de institucionalização da


profissão é uma decorrência necessária dos interesses e demandas das classes
sociais, que se antagonizaram no processo produtivo capitalista”.

Essa fase se torna fundamental para compreender como o Serviço Social


se institui na divisão sociotécnica no mundo do trabalho, sendo nessa rede de
deliberações e intervenções que a profissão explica sua atuação na sociedade.

As transformações que ocorreram no mundo do trabalho tiveram reflexos


no Serviço Social, fazendo com que participe da divisão técnica do trabalho,
colaborando para produção e reprodução das relações sociais implantadas na
sociedade. Cabe ressaltar que não se sintetiza apenas na questão da reprodução da
força de trabalho, e sim em uma diversidade de ações realizadas e desenvolvidas
pelo ser humano no que diz respeito ao processo de reprodução do trabalho e das
forças produtivas com ênfase na reprodução ideológica.

Quando falamos da divisão técnica do trabalho para o Serviço Social, torna-


se importante estudar que essa foi resultado de uma influência das necessidades
da produção do sistema capitalista.

Conforme Martinelli (2009, p. 66):


A origem do Serviço Social como profissão tem, pois, a marca profunda
do capitalismo e do conjunto de variações que a ele estão subjacentes –
alienação, contradição, antagonismos –, pois foi neste vasto caudal que
ele foi engendrado e desenvolvido.

Com a necessidade de atender as questões sociais geradas pelo sistema
capitalista, é que o surgimento do Serviço Social como profissão no mundo todo
ganha significado histórico, pois se alude ao enfrentamento dos diversos interesses
de todas as classes sociais.

A inserção do Serviço Social, no capitalismo monopolista, busca atender as


exigências conflitantes da classe trabalhadora, ou seja, atender as necessidades de
acúmulo e também as de demandas geradas por tal sistema.

Iamamoto (1997, p. 88) defende:

O Serviço Social afirma-se como um tipo de especialização do trabalho


coletivo, ao se constituir em expressão de necessidades sociais derivadas
da prática histórica das classes sociais no ato de produzir e reproduzir
seus meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada.

87
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Conforme Iamamoto (1997), a inserção contraditória do Serviço Social


como profissão no capitalismo é decorrente da própria natureza da reprodução
social, que se manifesta pela articulação conflituosa que existe nas instituições
sociais pelo enfrentamento das concepções sociais opostas.

A instituição do Serviço Social, como profissão, na sociedade capitalista,


tem como centro de atuação responder à reprodução das relações sociais
contrárias. De tal modo, a profissão é influenciada pelos interesses diferentes dos
segmentos existentes na sociedade, que se resume no poder do Estado, onde a
classe dominadora está inserida, e da classe dos trabalhadores, onde a reprodução
social acontece.

UNI

Como decorrência dessa compreensão da profissão, é possível afirmar o


caráter essencialmente político da prática profissional, uma vez que ela se explica no
âmbito das próprias relações de poder na sociedade. Caráter que, como vimos, não decorre
exclusivamente das intenções do profissional, pois sua intervenção sofre condicionamentos
objetivos dos contextos onde atua. No entanto, isso não significa que o assistente social se
coloque passivamente diante das situações sociais e políticas que configuram o cotidiano
de sua prática, mas porque participa da reprodução da própria vida social é que o Serviço
Social pode definir estratégias profissionais e políticas no sentido de reforçar os interesses da
população com a qual trabalha. Por isso a possibilidade da profissão colocar-se na perspectiva
dos interesses de seus usuários depende da construção de um projeto profissional coletivo que
oriente as ações dos profissionais em seus diversos campos de trabalho.

FONTE: Yazbeck (2009, p. 129)

A conflitividade da questão social, alocada na ordem burguesa, faz com


que novas formas de intervenção social comecem a avançar. O Serviço Social é uma
das profissões que se assenta na divisão sociotécnica do trabalho para diminuir os
reflexos e resultados de uma distribuição de riquezas desigual.

O enfrentamento dos diversos interesses das classes sociais adversas,


sobre as questões sociais, que são o cerne do sistema capitalista em todo momento
histórico e geográfico, foi o que deu sentido à origem da profissão mundialmente,
e que veio para “ajudar” a atender as demandas da classe dos trabalhadores.

As novas configurações técnicas de intervenção social avançaram para


trazer formas de estabelecer e construir uma sociedade igualitária e pacífica,
tentando solucionar os conflitos gerados entre a classe burguesa com a questão
social.

88
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

E
IMPORTANT

O Serviço Social se insere na divisão sociotécnica do trabalho para atuar como


instrumento a serviço da legitimação da sociedade, com mecanismos para minimizar as
sequelas das desigualdades sociais, oriundas da forma inadequada de distribuição da riqueza,
fundamentada na lógica capitalista.

Guerra (1995, p. 155) se manifesta afirmando que [...] “as práticas


especializadas podem ser entendidas como tecnologias, já que contribuem na
subsunção real do trabalhador ao capital”.

Existe uma contrariedade que se encobre na sociedade burguesa nas políticas


públicas e que geram impasses na atuação dos profissionais que estão inseridos
nesse contexto. Se analisarmos o Serviço Social, esses impasses são visíveis, pois
a atuação da profissão está quase que exclusivamente na prestação de serviços
públicos ou por ele financiado. Na prática diária, o profissional, em alguns campos
de trabalho, é o mediador no repasse de recursos para o complemento da renda
familiar dos trabalhadores, que devido a baixos salários necessitam buscar auxílio
para sobreviver nas políticas públicas. O profissional precisa agir na garantia dos
direitos sociais, que são lutas históricas dos movimentos sociais e do trabalhador,
atuar também na constituição de uma consonância social necessária para conservar
e controlar as forças contrárias ao sistema.

FIGURA 25 – FORÇAS CONTRÁRIAS AO SISTEMA

FONTE: Disponível em: <http://www.baupirata.com/arquivos/omapa/


burguesia.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2014.

89
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Perante esse cenário do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho,


é importante mencionar que o assistente social se configura como sendo um
trabalhador assalariado, e que está inserido também em movimentos de classes,
participando de toda a dinâmica da luta por melhores condições de vida.

Esse aspecto, para Guerra, significa que:

[...] parte constitutiva da sua força de trabalho, o assistente social vende


um conjunto de procedimentos (histórico e socialmente) reconhecido
que tanto determina a existência da profissão quanto circunscreve a
intervenção (GUERRA, 1995, p. 155).

Conforme Guerra (1995), os profissionais que atuam na esfera pública


podem adotar uma posição que resultará na separação da categoria profissional
dos demais trabalhadores que estão submetidos ao trabalho assalariado, e isso
decorre das tensões e pressões da relação capital x trabalho.

FIGURA 26 – CAPITAL X TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-jENEwgIHees/UzI2QkcXZJI/AAAAAAAAEtE/


Fy-zYT-9Tw0/s1600/Trabalho+X+Capital.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2014.

Com esta divisão social do trabalho, o Serviço Social adere a uma posição
especializada variável, pois existem assistentes sociais que ocupam cargos
hierárquicos muito superiores e elevados nas tomadas de decisões, mas também,
em grande porcentual, encontram-se profissionais nos lugares de atuação direta de
base ou de intervenção em instituições sociais. Porém, a intervenção profissional
nas políticas públicas continua tendo a mesma importância na linha graduada de
valores.

90
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

Na visão de uma escala de poder, existem muitos críticos que defendem o


“poder piramidal”, onde a atuação direta pode ser representada por um nível de
domínio mais ativo e efetivo, em todos os níveis hierárquicos e com influência na
gestão orçamentária das políticas públicas voltadas às questões sociais.

DICAS

Acadêmico(a), para você aprofundar seus conhecimentos, não deixe de ler este
livro:

O referido livro apresenta para os assistentes sociais uma síntese crítica


dos problemas centrais da profissão, através de um foco teórico e
singular e reconhecida a sua competência.
IAMAMOTO, Marilda V. Renovação e Conservadorismo no Serviço
Social. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

Além da atuação em instituições públicas, a profissão se insere nas


organizações socioassistenciais. O assistente social, nessas organizações, necessita
desenvolver sua atuação prática, através das demandas da instituição e dos gestores
que contratam o profissional, reconhecendo-o como um trabalhador assalariado.

As profissões que estão inseridas no contexto de deliberações sociais


necessárias às configurações do mundo do trabalho na sociedade capitalista, como
no caso da prática profissional do assistente social, estão atreladas à condição de
trabalhador com algumas determinações, que são: “[...] o trabalho assalariado,
o controle de força de trabalho e a subordinação do conteúdo do trabalho aos
objetivos e necessidades das entidades empregadoras”. (COSTA, 2000, p. 37).

O Serviço Social tem sua regulamentação como sendo uma profissão de


caráter liberal, porém os assistentes sociais são contratados como profissionais
assalariados, prestando serviços nas mais diversas áreas das políticas sociais e em
outras que interferem diretamente na autonomia enquanto profissional.

Ao referenciar a autonomia profissional, significa que a partir do momento


em que o mesmo admite as finalidades e os objetivos de uma instituição, seja ela
pública, privada ou do terceiro setor, como sendo os da profissão, ocasiona para

91
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

muitos profissionais problemas em distinguir suas competências e pertinências


por meio dos instrumentais teóricos e práticos utilizados pelo Serviço Social.
Pois o assistente social é contratado como um trabalhador, e acredita que realiza
suas tarefas e atribuições que foram apontadas pelo seu gestor, ocasionando um
distanciamento na maioria das vezes da prática com a teoria, assim o profissional
perde seu referencial de autonomia.

Para que o assistente social consiga ter sua autonomia profissional, enquanto
trabalhador e inserido no mercado de trabalho, é fundamental que o mesmo tenha
certo “afastamento” ou um olhar analítico e consiga visualizar, compreender,
examinar, avaliar e desenvolver ações para que seu trabalho se concretize.

UNI

O assistente social não deverá moldar a instituição como um conjunto de ações


solidificadas e que não possam sofrer alterações no seu contexto social.

O “afastamento” que o profissional deverá ter é no sentido de um


olhar diversificado para a realidade em que está atuando, e que deverá estar
fundamentado na sua práxis, como, por exemplo, o levantamento de demandas
que necessitam de uma intervenção técnica profissional, não deve ficar restrito
somente nas demandas apresentadas e que estão sendo oferecidas pela instituição,
e sim detectar novas demandas que poderão estar ocultas no cotidiano do
atendimento institucional. O profissional deverá realizar um reconhecimento
das relações de poder local municipal que não se restringe apenas na questão
política, como prefeito e vereadores, e sim nas relações que estão difundidas na
sociedade organizada, conhecer e se apropriar das condições práticas de trabalho
e do projeto profissional, e fundamentalmente, conhecer a realidade social e as
condições objetivas de vida dos usuários e da comunidade.

A construção do exercício profissional do Serviço Social, no Brasil e


na América Latina, após o Movimento de Reconceituação, em nosso país foi
marcada pela renovação de novas linhas de prática dos profissionais, mediante as
perspectivas nas matrizes conservadoras e críticas.

• Matriz conservadora – tem sua atuação fundamentada no pensamento positivista


e no funcionalismo estrutural e tem como objetivo de domínio e legitimidade do
poder influente e dominador, com referências na teoria da Igreja e na lógica do
sistema capitalista. Nessa perspectiva, o profissional do Serviço Social tem sua
atuação na transformação do comportamento e das mudanças do meio social.
Diante dessa perspectiva, o Serviço Social desenvolve sua prática através das
demandas já estabelecidas pela instituição onde o profissional foi contratado
como trabalhador assalariado.

92
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

• Matriz crítica - sua atuação está de acordo com a concepção do projeto societário
das classes subordinadas e da fundamental articulação da prática profissional
com o conhecimento e reconhecimento da realidade social. Através dessa
perspectiva que se entende a atuação do assistente social, se constrói permeada
nos diversos instrumentais que determinam a importância do método histórico
e social que estão inseridos no exercício do fazer profissional. Outro aspecto
dessa perspectiva é demonstrado na fundamentação teórico-metodológica,
técnico-operativa e ético-política que resultará em um diagnóstico a partir da
análise da conjuntura da realidade social e das condições de vida dos usuários.

A autora Silva e Silva (2002, p. 223) afirma que os assistentes sociais


que participam da matriz crítica encontram o seguinte desafio: “[...] a busca de
mediações analíticas capazes de dar conta da complexidade dos fenômenos sociais
com os quais nos deparamos no cotidiano de nossa prática profissional [...]”.

Através da aproximação do Serviço Social com a teoria social de Marx,


ressalvam dois pontos a serem analisados pelos assistentes sociais: no primeiro
vincula a profissão com o trabalho, e no segundo ponto a seriedade da questão
analítica como membro da extensão interventiva do fazer profissional. Se ambos
os pontos forem analisados, percebe-se que afirmam o debate da profissão nos
espaços sócio-ocupacionais, através da atuação profissional que se desenvolve
da seguinte maneira: “[...] resgatar a prática do Serviço Social enquanto trabalho
significa recuperar no âmbito das particularidades profissionais, aquelas forças
e relações e seus sujeitos de classes. É revisitar a história do Serviço Social [...]”
(CARDOSO et al., 1997, p. 28).

Nos dias atuais e nos mais diversos campos de trabalho do Serviço Social,
após a renovação da profissão, ainda encontram-se assistentes sociais atuando
nas duas matrizes contraditórias, consequentemente isso gera desordens entre as
mesmas. Como já estudado até o momento, é importante entender que a direção
teórico-metodológica da profissão foi fundamentada na coletividade, e pode
ser assimilada de maneiras diferentes por cada profissional, pela maneira que
compreendem, entendem e assimilam a importância da adequação do Serviço
Social mediante as questões sociais.

UNI

No exercício profissional, o assistente social necessita traçar uma direção teórico-


metodológica configurada em ações que favoreçam visibilidade, que sejam coerentes e
integradas com a fundamentação teórica e prática do Serviço Social.

93
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

É por meio das expressões das questões sociais, geradas pelo sistema
capitalista, que o assistente social consegue visualizar, identificar e analisar as
disparidades societárias e a exclusão social dos usuários do Serviço Social e que se
encontram na classe subalterna.

Para Yasbek (1999, p. 95), “[...] a subalternidade é aqui entendida como


resultante direta das relações de poder na sociedade e se expressa em diferentes
circunstâncias e condições da vida social, além da exploração do trabalho. (Ex.: a
condição do idoso, de mulher, de negro etc.)”.

FIGURA 27 – EXCLUSÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://web.icicom.up.pt/otherside/2009/09/_este_e_


um_dos.html>. Acesso em: 18 dez. 2014.

O progresso mundial do pensamento neoliberal produziu mudanças


estruturais no mercado de trabalho, isso fez com que a atuação do assistente social
aumentasse; entretanto, houve redução dos investimentos nas políticas públicas
sociais.

As demandas atuais da profissão de Serviço Social são consequência das


mudanças que ocorrem nas configurações de gestão e enfraquecimento da força
de trabalho e as formas atuadas de gestão e as novas maneiras implementadas na
sociedade em decorrência da implementação do neoliberalismo no Brasil.

No final da década de 80 e início da década de 90, através do governo


Fernando Collor, o neoliberalismo é instaurado no país, com o discurso de que
para haver o desenvolvimento é necessário reduzir a linha de pobreza. Através
desse discurso, o Estado se torna mínimo e o mercado financeiro é representado
pelos países desenvolvidos e ricos, gerenciadores das direções sociais, políticas,

94
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

econômicas e culturais mundiais. No governo de Fernando Henrique Cardoso o


neoliberalismo, através de seu projeto, se solidifica na sociedade brasileira.

FIGURA 28 – ESTADO MÍNIMO

FONTE: Disponível em: <http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_


sessao=50&id_publicacao=131&id_indice=601>. Acesso em: 13 dez. 2014.

O sistema neoliberal, mediante esse ponto de vista, não é considerado uma


ideologia, mas sim como um projeto que tem como objetivo a caracterização da
sociedade, através da livre concorrência de mercado, a preponderância das leis
mercantis que iguala as atividades e os meios econômicos.

O neoliberalismo, a partir do seu desenvolvimento e ataque, causa o


desequilíbrio dos direitos sociais adquiridos até o momento, como, por exemplo,
alto índice de desemprego, condições de trabalho precárias, perdas salariais
adquiridas, privação da autonomia sindical, com isso ocorreu uma desestruturação
na organização das categorias profissionais.

Em uma simples análise de conjuntura a respeito da reestruturação do


modelo de produção e das leis do capital, através do mercado, percebe-se que
os trabalhadores são levados a contribuir com o sistema capitalista, mediante o
acúmulo do capital, de forma participativa e que resulte na lucratividade. Sendo
assim, cria-se uma relação entre patrão e empregado, onde o trabalhador deverá
realizar da melhor forma possível seu trabalho, com toda a sua capacidade, para
gerar o bem da empresa e o seu próprio bem.

UNI

O Neoliberalismo resulta sobre o trabalhador uma exploração da força de trabalho,


e um aumento da lucratividade.

95
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Diante das transformações provenientes da minimização do Estado e


de uma nova configuração através da reestruturação do modelo de produção,
os profissionais das mais diversas áreas tiveram que redimensionar a atuação
profissional para continuar a permanecer no mercado de trabalho. Essa configuração
refletiu no Serviço Social, pois se expandem
os novos espaços ocupacionais do assistente social, derivados das
demandas postas pelo processo de reestruturação produtiva, no
âmbito das organizações públicas e privadas, mais exatamente dentro
do conjunto de práticas que objetivam a implantação de processos de
qualidade voltados à maior rentabilidade no mercado profissional.
(ANDRADE, 2000, p.175).

O sistema capitalista tem como marco a cultura de qualidade total, sendo


essa uma das novas pertinências ao Serviço Social. Para os assistentes sociais, é
impositivo criar maneiras para um consenso em volta dessa nova cultura, através
de um desempenho produtivo do trabalho com os objetivos de gerar, garantir e
inovar a qualidade dos bens e serviços. Andrade (2000, p. 185) afirma que:

Como se percebe, os processos que vêm sendo desenvolvidos pelas


organizações, apesar da aparência de modernidade, reeditam o que
o Serviço Social vem fazendo há muitos anos. Ou seja, a natureza
do trabalho não mudou, pois continua voltada para o processo de
reprodução da força de trabalho, mas com outra roupagem e através de
novas estratégias que reforçam o discurso da coesão social.

As novas configurações e estratégias que foram induzidas no mercado


de trabalho, para legitimar as empresas no sistema capitalista, resultaram no
crescimento do campo de atuação profissional. O Serviço Social é uma das
profissões que devido às demandas sociais se expandiu. Nesse sentido, Iamamoto
(2009, p. 131) confirma:

Os novos requisitos de qualificação, que extrapolam o campo empresarial,


envolvem capacitação para atuar em equipes interdisciplinares, para
atuar em programas de qualidade total e para elaboração e realização
de pesquisas; reciclagem do instrumental técnico; capacitação em
planejamento (planos, programas e projetos), aprofundamento de
estudos sobre áreas específicas de atuação e temas do quotidiano
profissional, entre outros. Tais elementos são indispensáveis para que
o assistente social possa responder às novas e antigas atribuições que
abrangem funções de coordenação e gerenciamento, planejamento,
socialização de informações referentes a direitos sociais, mobilizações
da comunidade para implementação de projetos, além de orientações,
encaminhamentos e providências.

Diante da política neoliberal, algumas frentes das políticas públicas


sofreram perdas, porém em outras, devido ao progresso das conquistas no campo
dos direitos sociais, houve significativo avanço, primeiramente com a Constituição
Federal de 1988.

96
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O Serviço Social, na década de 90, teve sua atuação profissional e como


categoria de trabalho fortalecida e envolvida no processo de elaboração, discussão
e aprovação de algumas legislações de suma importância para a área da assistência
social e no campo exclusivo da profissão: a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Código de Ética e a Lei de
Regulamentação da Profissão.

Se analisarmos as políticas públicas na área de assistência social, neste


contexto neoliberal, com a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social –
nº 8.742 (LOAS), de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências, conforme artigo 1º da mesma:

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é


Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos
sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa
pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. (BRASIL, 1993).

A aprovação da LOAS, em 1993, foi um processo de muita luta da categoria


profissional, como também a sua implementação no ano de 1995, porém se tornou
um dos grandes momentos da profissão, pois, conforme a lei, é “direito do cidadão
e dever do Estado”, conduzindo todas as lutas para implementação de uma
política de assistência social que tivesse condição de concretizar o que garante a
Constituição Federal.

Diante da importância do direito à Cidadania, o Estado foi obrigado a


constituir uma política de assistência social, rompendo com as ações dispersas e
descontinuadas que eram desenvolvidas até o momento, e também de filantropia
que era concedida pela iniciativa privada. O Estado passou a ser considerado como
protagonista das políticas de assistência social e não mais como subsidiário nas
ações desenvolvidas pela sociedade civil.

Somente a partir de 1995 é que a LOAS começou a ser implementada, e a sua


descentralização foi um processo longo; foi efetivada com a aprovação da Norma
Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – SUAS em 2005.

Com a implementação da LOAS, surgiu a necessidade de ampliar a


contratação de assistentes sociais, para atuarem nas esferas municipais da Política de
Assistência Social. A atuação profissional teve outros avanços nas políticas públicas
através da participação nos conselhos municipais, através da representatividade
como categoria profissional, representante de sua instituição de trabalho.

Com a mudança do Governo Federal no início dos anos 2000, a Política


de Assistência Social teve uma profundidade maior, através das alterações nas
dimensões e configurações técnico-políticas. Os assistentes sociais também
participaram efetivamente de toda a discussão em torno da elaboração e aprovação
de outras legislações importantes para a área social, como: Estatuto do Idoso, Lei
de acessibilidade de pessoas com deficiência, Lei Maria da Penha e outras.

97
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

DICAS

Então, acadêmico, não deixe de conhecer essas leis, citadas acima, pois serão de
fundamental importância na profissão.

Como consequência dessas novas legislações sancionadas pelo Governo


Federal, o Estado se tornou o responsável por elaborar, implantar e programar
políticas sociais, através de serviços, programas, projetos, para que as mesmas
fossem efetivadas. Essa responsabilidade abrange todas as esferas de Governo
(Federal, Estadual e Municipal), que além operacionalizar os serviços, é obrigado a
evidenciar a criação e implantação dos Conselhos Deliberativos, na elaboração de
planos nacionais, estaduais e municipais de todas as políticas públicas, como, por
exemplo: Plano Municipal de Assistência Social, Plano Municipal de Habitação,
Plano Municipal de Educação, Plano Diretor Municipal, entre outros.

E
IMPORTANT

A elaboração desses planos deve ter uma metodologia participativa, que envolva
todos os setores da sociedade: público, privado e não governamental.

A profissão inserida no contexto societário tem uma posição privilegiada


na implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Diante do
conhecimento específico da área, vem sendo o protagonista da efetivação do SUAS.

Diante da efetivação do SUAS, a Assistência Social vem se instituindo na


prestação de serviços sociais governamentais, e que tem a função de atuar sobre
recursos financeiros públicos, efetuando dessa forma uma redistribuição da
chamada “mais-valia social”.

O profissional, através de seu trabalho, se registra no teor da defesa e


efetivação dos direitos sociais e da cidadania. O assistente social que estiver atuando
na gestão da Política de Assistência Social poderá colaborar para a democratização
das ações desenvolvidas.

A Política de Assistência Social tem sua centralidade no amparo e proteção


social, tendo como foco a intervenção técnica da pobreza absoluta que tensiona
as ações diárias do profissional, intervindo na matriz crítica da profissão. As
demandas dos usuários, conquistas de seus direitos são afetadas pelas condições

98
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

institucionais que, muitas vezes, determinam e delimitam a atuação profissional,


através de olhares e ações tecnicistas, com o fortalecimento da matriz conservadora
do Serviço Social.

Como exemplo da descrição acima, pode-se analisar, em âmbito municipal,


a atuação de profissionais que atuam diretamente com pessoas em situação de rua.
Os gestores municipais, em muitas situações, impõem que o profissional retire
da rua a pessoa, sem um amparo social e político para atender a demanda, ou
até mesmo sem respeitar os direitos humanos das pessoas, resolvendo apenas a
questão imediatista e tecnicista, sem respeitar o que está na Política Nacional de
Assistência Social – PNAS.

Um dos maiores desafios da profissão, que está inserida na sociedade


contemporânea, no que diz respeito às políticas públicas, em todas as áreas, é
a democratização do trabalho do profissional do Serviço Social. Esse desafio só
será possível a partir de um trabalho interdisciplinar e na construção de uma rede
de serviços públicos com o envolvimento de entidades da sociedade civil, e dos
usuários.

A efetividade da universalização de direitos, da equidade dos espaços


coletivos, da garantia dos direitos das políticas públicas sociais, acontecerá através
de ações estratégicas que radicalizem a democracia e cidadania.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a), sugiro que você leia estes livros, para aprofundar
melhor ainda seus conhecimentos.

IAMAMOTO, Marilda Villela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais


e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórica-
metodológica. 33. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

FALEIROS, Vicente de Paula. Saber Profissional e Poder Institucional. 10. ed.


São Paulo: Cortez, 2011.

99
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

LEITURA COMPLEMENTAR

SERVIÇO SOCIAL E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL: desafios e perspectivas


contemporâneas

Maciela Rocha Souza

Desafios e perspectivas do exercício profissional na contemporaneidade

Refletir o Serviço Social na contemporaneidade é, antes de tudo, perceber a


realidade política, econômica, social e cultural da sociedade analisada. É reconhecer
que ela é mutável e, portanto, histórica. Pois o Serviço Social intervém na realidade,
nos processos de reprodução das relações sociais estabelecidas e determinadas
historicamente. Assim,

O Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade [...]
a conjuntura não é pano de fundo que emoldura o exercício profissional; ao
contrário, são partes constitutivas da configuração do trabalho do Serviço
Social, devendo ser apreendidas como tais. (IAMAMOTO, 2001, p. 55).

Nesse sentido, compreender a realidade em toda a sua complexidade é um


desafio apresentado ao assistente social, que tem sido convocado a dar novas respostas
no âmbito do exercício profissional, não mais apenas na execução, mas também
na formulação e gestão das políticas públicas, assim como na formulação de novas
elaborações teóricas, compreendendo que:

[...] o esforço está, portanto, em romper qualquer relação de exterioridade


entre profissão e realidade, atribuindo-lhe a centralidade que deve ter no
exercício profissional [...] e o reconhecimento das atividades de pesquisa e
o espírito indagativo como condições essenciais ao exercício profissional.
(IAMAMOTO, 2001, p. 55-56).

É nesse contexto que a mediação aparece como categoria fundamental para


o trabalho do assistente social. Para Pontes (2000), a mediação é uma categoria
objetiva e ontológica que está presente na realidade. Ela é estudada como uma das
categorias centrais da dialética, pois pertence ao real, mas é também elaborada na
razão. A mediação é permeada de dinamismo e articulação que se move no interior
das contradições estruturais sócio-históricas.

Como o Serviço Social tem sua essência de atuação na intervenção da realidade,


a categoria da mediação se torna fundamental para o “desvendamento dos fenômenos
reais e a intervenção do assistente social” (PONTES, 2000, p. 43), através da tríade
singularidade – particularidade – universalidade (PONTES, 2007), necessárias para
apreensão de mediações nas determinações dos complexos sociais.

100
TÓPICO 1 | A DIVISÃO SOCIOTÉCNICA DA PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O desenvolvimento do modo de produção capitalista e o consequente


aprofundamento da desigualdade social e das expressões da questão social se
configuram como a atual realidade que precisa ser apreendida pelo Serviço Social. Nesse
sentido, o assistente social, ao apreender a realidade, percebe novas possibilidades
de demanda e atuação, podendo transformá-las segundo sua intencionalidade e
instrumentalidade em novos espaços e perspectivas para o exercício profissional.

A instrumentalidade é analisada por Guerra (2011) enquanto condição


de reconhecimento social da profissão, pois ela se dá no cotidiano do trabalho do
assistente social por meio da capacidade de criação, adaptação e transformação das
condições objetivas e subjetivas do fazer profissional.

A intencionalidade dos assistentes sociais, presente na instrumentalidade, é


mediada pela lógica da instituição em que está inserido e na qual em muitos casos o
profissional fica submetido. Mas, exatamente por tratar a instrumentalidade enquanto
prática de mediação e como campo da cultura profissional é que se possibilita,
contraditoriamente, ao assistente social, usar os conhecimentos disponíveis e construir
um modo de fazer que lhe é próprio. Assim, produz elementos novos e reconstrói sua
prática profissional composta de referenciais teóricos e metodológicos, ético-políticos
e técnico-operativos que possibilitam a negação da prática puramente imediata e
espontânea, reelaborando novas respostas socioprofissionais. (GUERRA, 2011).

Sendo assim, compreender as transformações da sociedade é também


perceber que o Serviço Social precisa responder e antecipar essas novas demandas,
e para isso os espaços de atuação do assistente social exigem um profissional cada
vez mais qualificado e especializado, que analise criticamente a realidade social e
que faça uso das mediações no exercício profissional; que seja um profissional não
apenas interventivo, mas também propositivo e pesquisador diante dessas demandas,
requisitos necessários para inserção, permanência e identificação de novos espaços de
ocupação deste profissional no mercado de trabalho.

Note-se que “novas possibilidades de trabalho se apresentam e necessitam


ser apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem,
outros o farão, absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a eles
reservados” (IAMAMOTO, 2001, p. 48).

A responsabilidade da compreensão e, mesmo, do enfrentamento desse


contexto desafiante do qual os assistentes sociais vivenciam deve partir de uma ação
coletiva do conjunto da categoria.

Por isso, cabe às unidades de ensino, de pesquisa, de organização e representação


dos assistentes sociais oportunizar espaços (para estudantes e profissionais) de formação
e reflexão que possibilitem desvendar e construir estratégias de enfrentamento das
múltiplas determinações impostas ao Serviço Social na contemporaneidade.

FONTE: Disponível em: <http://fjav.com.br/revista/Downloads/edicao07/Servico_Social_e_o_


Exercicio_Profissional_Desafios_e_Perspectivas_Contemporaneas.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2014.

101
RESUMO DO TÓPICO 1
Acadêmico(a), neste tópico você pôde compreender que:

• Para uma melhor concepção do Serviço Social como profissão inserida na


sociedade capitalista, se faz necessário entender o significado de reprodução
social, na teoria social de Marx.

• A reprodução das relações sociais é percebida como sendo a reprodução da vida


social em toda a sua totalidade.

• Na divisão sociotécnica do trabalho, o Serviço Social foi regulamentado como


profissão pela Lei nº 8.662, de 07 de junho de 1993.

• A origem do Serviço Social como profissão é histórica, e a sua introdução na


divisão sociotécnica do trabalho está interligada e articulada com as configurações
assumidas pelas lutas das classes sociais subalternas.

• O Serviço Social assume uma parte das tarefas que objetivam a reforma social,
ou seja, concretizar atuações no campo psicossocial.

• Os perímetros instituídos nessa tarefa derivam dos que sustentam o sistema


capitalista, como também a ordem social em vigência.

• O progresso mundial do pensamento neoliberal produziu mudanças estruturais


no mercado de trabalho.

• O neoliberalismo, a partir do seu desenvolvimento e ataque, causa o desequilíbrio


dos direitos sociais adquiridos.

• O sistema capitalista tem como marco a cultura de qualidade total, sendo essa
uma das novas pertinências ao Serviço Social.

• No período da política neoliberal, algumas frentes das políticas públicas sofreram


perdas, porém em outras, devido ao progresso das conquistas no campo dos
direitos sociais, houve significativo avanço, como para o Serviço Social.

• A aprovação da LOAS, em 1993, foi um processo de muita luta da categoria


profissional, como também a sua implementação no ano de 1995.

• Diante da importância do direito à Cidadania, o Estado foi obrigado a constituir


uma política de assistência social.

• Com a implementação da LOAS, surgiu a necessidade de ampliar a contratação


de assistentes sociais, para atuarem nas esferas municipais da Política de
Assistência Social.
102
• A partir do ano de 2000, a Política de Assistência Social teve uma profundidade
maior, através das alterações nas dimensões e configurações técnico-políticas.

• A profissão inserida no contexto societário tem uma posição privilegiada na


implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

• A Política de Assistência Social tem sua centralidade no amparo e proteção


social, tendo como foco a intervenção técnica na pobreza absoluta.

• Um dos maiores desafios da profissão, que está inserida na sociedade


contemporânea, no que diz respeito às políticas públicas, em todas as áreas, é a
democratização do trabalho do profissional do Serviço Social.

103
AUTOATIVIDADE

1 Descreva o novo papel do Estado perante a efetivação da LOAS.

2 Conforme a autora do texto da leitura complementar, “realidade em toda


a sua complexidade é um desafio apresentado ao assistente social, que tem
sido convocado a dar novas respostas no âmbito do exercício profissional”.
Diante dessa afirmativa, assinale a alternativa CORRETA:

a) O assistente social deverá focar seu exercício profissional nas demandas do


seu cotidiano.
b) O profissional de Serviço Social deverá atuar somente na gestão das políticas
públicas.
c) Como profissional deverá, além de atuar na gestão, desenvolver políticas
públicas.
d) Todas as alternativas estão corretas.

104
UNIDADE 2 TÓPICO 2

OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE
INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS
PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

1 INTRODUÇÃO
O Serviço Social é uma profissão que está fundamentada em um processo de
transformação histórica da sociedade, e que sempre esteve amparado nos valores
humanos, perante a historicidade profissional, que neste tópico será discutido,
sobre os espaços sócio-ocupacionais do assistente social.

A importância de conhecer estes espaços de intervenção acontece pela


necessidade de distinguir o profissional de Serviço Social como sendo um
trabalhador assalariado, mas que possui todo um processo de transformação social.

Caro(a) acadêmico(a), para compreender e conhecer melhor os espaços


sócio-ocupacionais onde você irá atuar como assistente social, precisará saber
e ter conhecimento sobre o contexto do saber e fazer profissional e do domínio
institucional, que já foi abordado brevemente no tópico anterior, tornando-se
simples entender a definição desses espaços sócio-ocupacionais do assistente social,
como também a sua atuação como trabalhador inserido no sistema capitalista.

105
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

2 O SERVIÇO SOCIAL COMO TRABALHO


ASSALARIADO E A SUA TRAJETÓRIA EM ESPAÇOS
DE ATUAÇÃO NAS ESFERAS PÚBLICAS

FIGURA 29 – ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.


php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282011000400010>.
Acesso em: 21 dez. 2014.

O desenvolvimento e as transformações dos espaços ocupacionais


da profissão de Serviço Social necessitam de uma análise no seu processo de
transformação histórica, a partir das configurações definidas pelo sistema capitalista
no processo de fortalecimento da acumulação do capital mediante panorama das
crises econômicas mundiais.

Diante da superioridade da economia financeira e na incansável busca de


aumento dos lucros, através dos modelos de produção, que se desenvolvem e se
renovam diariamente, através de estratégias que incidem diretamente no mundo
do trabalho e nos direitos adquiridos pelos trabalhadores. Como foi apresentado
na primeira unidade deste Caderno de Estudos, as providências e medidas
tomadas para superar as crises econômicas acontecem através da ampliação da
monopolização territorial, e na expropriação e exploração da força de trabalho
excedente.

106
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

E
IMPORTANT

As estratégias utilizadas para superar a crise afetam simultaneamente o direito à vida


da humanidade, através do uso incontrolável dos recursos naturais, sendo eles imprescindíveis
na continuidade e prevenção da vida e dos direitos sociais adquiridos pela classe operária.

Conforme Iamamoto (2009, p. 342)

Essas estratégias defensivas aliadas às características históricas


particulares que presidiram a revolução burguesa no Brasil
(FERNANDES, 1975; IANNI, 1984, 2004) têm indicado na dinâmica
das relações entre o Estado e a sociedade de classes, especialmente a
partir da década de noventa do século XX, alterando a forma assumida
pelo Estado e a destinação do fundo público; a tecnologia e as formas
de organização da produção de bens e serviços; o consumo e controle
da força de trabalho e as expressões associativas da sociedade civil,
entendida enquanto sociedade de classe.

O mercado, através da invasão liberal, favorece subsídios para mundialização


do capital financeiro, e eleva o mercado como sendo instrumento regulador
soberano das relações das classes sociais opostas, resultando na individualidade
e competitividade produtiva do trabalhador. Com esse individualismo da classe
trabalhadora, as formas de lutas pelos direitos coletivos são desarticuladas. Um
exemplo de individualismo da classe trabalhadora é a terceirização da força de
trabalho, que resulta na precarização do trabalho.

Com a privatização, os serviços que estão relacionados ao bem-estar da


sociedade passam a ser gerenciados pelo setor privado. Os usuários, enquanto
cidadãos de direitos e suas famílias, que dependem do voluntariado ou dos diferentes
segmentos sociais para complementação da renda familiar, ficam atrelados ao
privado, e nesse contexto aumenta o desemprego, aumentando o número de
trabalhadores excedentes, entre outras questões que já foram apresentadas na
primeira unidade deste caderno, que atingem a classe trabalhadora, restando ao
Estado a responsabilidade de diminuir a vulnerabilidade social e da pobreza.

O Estado, para amenizar as consequências da política econômica de


privatização, começa a dar ênfase às políticas sociais que objetivam a manutenção
dos mínimos necessários para a crescente classe subalterna excedente da sociedade,
resultando na pobreza extrema. O Estado também necessita manter seu domínio
político, entre as diferentes classes sociais instaladas com o capitalismo.

Iamamoto (2009, p. 343) defende que:

A ampliação exponencial das desigualdades de classe, densas de


disparidades de gênero, etnia, geração e desigual distribuição territorial,

107
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

radicaliza a questão social em suas múltiplas expressões coletivas


inscritas na vida dos sujeitos, densa de tensões entre consentimento
e rebeldia, o que certamente encontra-se na base da tendência de
ampliação do mercado de trabalho para a profissão de Serviço Social
na última década.

A questão social é indispensável na elaboração de ações e estratégias tanto


no campo político como ideológico, na efetivação e legitimação do domínio de
classe, que estão inseridas nas necessidades e lutas sociais e que não são isentas
das políticas públicas. A mídia e as empresas privadas têm um papel fundamental
no que se refere à definição de classe, as iniciativas empresariais se articulam como
fonte da reestruturação da produção, gerando encargos sociais, criando assim uma
necessidade de ampla reorganização estrutural do Estado, no que corresponde às
políticas sociais.

As políticas sociais começam a se estabelecer mediante a triagem de ações,


onde é necessário privatizar, focalizar e descentralizar, gerando assim demanda
necessária para a intervenção do profissional de Serviço Social. Diante da política
de privatização, gera uma nova organização dos recursos públicos, favorecendo o
capital financeiro mediante a política do trabalho.

Todas as mudanças que ocorreram nos espaços de atuação do assistente


social têm suas bases no contexto social desses processos acima relacionados, e
que no decorrer da história se expressarão pelo ciclo acumulativo do capital e por
interesses restritos voltados ao conjunto do poder político e na relação de forças,
que diminui os direitos conquistados pelos trabalhadores.

Para Iamamoto (2009):

[...] os espaços ocupacionais refratam ainda as particulares condições


e relações de trabalho prevalentes na sociedade brasileira nesses
tempos de profunda alteração da base técnica da produção com a
informática, a biotecnologia, a robótica e outras inovações tecnológicas
e organizacionais, que potenciam a produtividade e a intensificação do
trabalho. (IAMAMOTO, 2009, p. 343).

Com essa historicidade cíclica surgem as novas configurações do mercado


de trabalho, novos e diversificados espaços de atuação do assistente social, novas
demandas, exigências, habilidades, atribuições e competências profissionais. O
mercado profissional começa a exigir novas especificidades de conhecimentos
acadêmicos, que no decorrer de sua atividade profissional sejam relacionados aos
processos de transformações sociais, seguindo o projeto ético-político e técnico-
político da profissão de Serviço Social.

108
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO
FIGURA 30 – SERVIÇO SOCIAL E TRANSFORMAÇÕES NOS
ESPAÇOS DE TRABALHO.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.


php?pid=S0101-66282014000300007&script=sci_arttext>. Acesso
em: 21 dez. 2014.

Iamamoto (1997) ressalta que o espaço profissional é o resultado de um


produto histórico e que está submetido por algumas questões: a) pela condição de
luta condicionada para a hegemonia, que se constitui entre as classes sociais e seus
acordos; b) na maneira das respostas teóricas, práticas e políticas apresentadas
pela categoria profissional. Esta última está fundamentada no reconhecimento da
atuação profissional que configurou através do processo histórico da profissão
como aos usuários a quem o trabalho é disponível.

UNI

A relação de forças entre as classes e grupos sociais gera, em todas as dimensões


da sociedade, limites e probabilidades, possibilitando que o assistente social faça sempre uma
análise da realidade em que está intervindo, através da sua capacidade técnica e política na
conjuntura atual, não se limitando apenas nas demandas já consolidadas, apropriando-se de
novas demandas que aparecem para o Serviço Social.

109
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Conforme você, acadêmico, estudou no Tópico 1 desta unidade, o Serviço


Social teve um elevado e significativo aumento no que diz respeito à atuação
profissional, devido às políticas neoliberais e suas consequências que afetaram os
trabalhadores na condição de trabalho. Diante do crescimento de profissionais,
o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS publicou uma pesquisa que foi
realizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Conselhos Regionais
de Serviço Social (CRESS), no ano de 2004, através dos assistentes sociais inscritos
no CRESS e com o registro do conselho ativo, num total da época de 61.151
profissionais.

UNI

O Brasil tem hoje aproximadamente 120 mil profissionais nos 25 Conselhos


Regionais de Serviço Social (CRESS) e duas Seccionais de Base Estadual. É o segundo país no
mundo em quantitativo de assistentes sociais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
FONTE: Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/perguntas-frequentes>.
Acesso em: 22 dez. 2014.

Essa pesquisa consegue dar visibilidade ao mundo, sobre o Serviço Social


brasileiro, relacionando as duas determinações do trabalho desenvolvido pelo
assistente social como sendo trabalho concreto e trabalho abstrato, nas dimensões
que se tornaram indissociáveis para pensar, efetivar e programar o trabalho do
Serviço Social, inserido num contexto da sociedade burguesa.

Iamamoto (2009) descreve a pesquisa da seguinte forma:

Pesquisa sobre o perfil dos assistentes sociais no Brasil, promovida pelo


Conselho Federal de Serviço Social, com base em dados em 2004 (CFESS, 2005),
constata que, no nível nacional, 78,16% dos assistentes sociais atuam em instituições
públicas de natureza estatal, das quais 40,97% atuam no âmbito municipal, 24%
estaduais e 13,19% federais.

Assim, assistente social no Brasil é majoritariamente um funcionário


público, que atua predominantemente na formulação, planejamento e execução de
políticas sociais com destaque às políticas de saúde, assistência social, educação,
habitação, entre outras. O segundo maior empregador são empresas privadas, com
13,19% (o mesmo índice que as instituições federais), seguido do “Terceiro Setor”,
com 6,81% (englobando Organizações Não Governamentais (ONGs), associações,
cooperativas, entre outras que viabilizam a chamada “responsabilidade social”).

A grande maioria dos profissionais, 77,19%, possui apenas um vínculo

110
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

empregatício; 10,31% registram dois vínculos e apenas 0,76, três ou mais. A ausência
de vínculos é expressiva (11,74%), indicando a não inserção no mercado de trabalho
na área de Serviço Social.

O principal tipo de vínculo é o de estatutário (55,68%), prevalecente em todas


as regiões. Seguem os contratos com base na Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), que representam 27,24%; os contratos temporários representam 9,41% e
serviços prestados, 5,84%. Os demais vínculos não são significativos.

A jornada de trabalho predominante é de 40 horas, abrangendo 50,70% dos


assistentes sociais, seguida da jornada de 30 horas (28,65%). A carga de mais de 40
horas ocupa o terceiro lugar.

O nível salarial, em salários mínimos, observa a seguinte ordem de maior


incidência: 4 a 6 SM; 7 a 9 SM, mais de 9 SM e até 3 SM. Já a renda familiar é mais
elevada que a renda profissional, correspondendo a mais de 9 salários mínimos.

A qualificação dos assistentes sociais brasileiros é a seguinte: 55,34% têm


graduação; 35,26% têm título de especialista; 6,49% têm mestrado; 1,24%, doutorado
e 0,67%, pós-doutorado.

No que se refere à participação em atividade política, 68% não registram


qualquer participação e 32% registram algum tipo de participação: em movimento
da categoria de assistente social (44,89%); em movimentos sociais (32,18%), em
movimento partidário (12,62%) e no movimento sindical (10,40%).

Outro dado a destacar é a presença de 30,44% de assistentes sociais nos


Conselhos de Direitos ou de Políticas Sociais, como profissionais e militantes de
base, envolvidos no exercício democrático do acompanhamento de gestão e
avaliação da política, dos planos que as orientam e dos recursos destinados à sua
implementação. As maiores frequências incidem nas áreas de: assistência (35,45%),
criança e adolescente (25,12%), saúde (16,67%), idoso (7,08%), direitos humanos
(6,57%), mulher (4,23%), portador de deficiência (1,41%).

O perfil desse trabalhador é de uma categoria fundamentalmente feminina


(97%), com a presença de apenas 3% de homens; as idades prevalecentes encontram-
se nas faixas entre 35 a 44 (38%) e 25 a 34 anos (30%), ainda que 25% estejam na
faixa entre 45 e 59 anos. A maioria professa a religião católica (67,65); seguem-se a
protestante (12,69%) e a espírita kardecista (9,83%), e 7,92% não têm qualquer religião.
As demais preferências religiosas não têm incidência significativa. A maioria dos
assistentes sociais se identifica como branca (72,14%) e as que se declaram pretas
e negras totalizam 20,32%. Em relação à orientação sexual, 95% são heterossexual,
3%, homossexual e 2%, bissexual. A maioria (53%) é casada e 47% são solteiros.

FONTE: Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/FH41e7O0eM1MvI8g3552.pdf>.


Acesso em: 22 dez. 2014.

111
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

DICAS

Para conhecer melhor e na íntegra essa pesquisa, acesse o site: <http://www.cfess.


org.br/pdf/perfilas_edicaovirtual2006.pdf>.

Conforme a síntese realizada pela autora, pode-se perceber que as


categorias e analogias e as relações existentes no campo de trabalho do assistente
social restringem a atuação profissional, podendo-se avaliar através da práxis
profissional as afinidades entre o projeto ético-político e o da condição de
trabalhador assalariado.

Conforme o resultado da pesquisa acima descrita, a grande maioria dos


assistentes sociais está inserida através de um vínculo empregatício, no setor
público, principalmente em nível municipal, nas políticas públicas, onde se abre
um leque de campo de trabalho para o profissional, como o SUAS, SUS, Habitação,
Meio Ambiente entre outros, possibilitando também a visualização de possíveis
campos de estágio para futuros profissionais do Serviço Social.

UNI

Sobre Políticas Públicas estudaremos na próxima unidade.

Mesmo o profissional atuando na divisão sociotécnica do trabalho em


esfera pública, está inserido dentro de uma instituição. O conceito que se tem de
instituição é maior que o de organização. As instituições se configuram como sendo
espaços de lutas pelo e de poder, onde se encontram as demandas sociopolíticas e
que se transformam em objeto de atuação do assistente social.

No campo sociológico, as instituições se inserem na sociedade, através da


forma como a mesma se organiza no decorrer da história, como, por exemplo: a
família, a religião, a educação, entre outros. (FALEIROS, 2005).

Conforme Faleiros (2005), o objeto de atuação profissional do assistente


social, mediante as reflexões que existem entre o poder institucional, está focado
sobre uma visão de luta das classes organizadas e articuladas às relações de poder,
de hegemonia e contra-hegemonia de uma instituição. Para o autor, instituição
pode-se considerar como um instrumento de prestação de serviço.

Diante das afirmações do autor, então, as demandas que definem a

112
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO
intervenção profissional de um assistente social, como encaminhamentos,
informações, solicitação de recursos, capacitação, elaboração e execução de
projetos, são determinadas pela instituição em que está atuando, nas mais diversas
áreas, sejam elas oriundas do setor público, privado e do terceiro setor.

FIGURA 31 – SEGMENTOS DA SOCIEDADE

FONTE: Disponível em:<http://redeadministradores.blogspot.com.


br/2012/01/o-que-e-o-terceiro-setor-e-relacao-da.html>. Acesso em: 23
dez. 2014.

As relações institucionais, internas e externas, inerentes na luta pelo poder,


conforme os interesses de cada segmento, podem gerar conflitos, entre técnicos
das diferentes profissões com auxiliares que também atuam na mesma instituição,
como também gerados entre profissionais, políticas sociais e o projeto institucional.
Conflitos também podem surgir entre profissional e instituição, entre usuário e
profissionais, ocasionando contradições que geram um processo de interesses e
projetos, voltados na luta pelo poder.

Conforme Faleiros (2005, p. 33):

As relações institucionais podem ser entendidas sob diversos ângulos,


valorizando os conflitos entre os atores institucionais ou tomando o
projeto profissional com mediação harmonizadora de conflitos.

As relações que existem nos conflitos institucionais estão ligadas a uma


correlação de forças, do jogo de interesses individuais, coletivos, políticos, culturais,
religiosos, econômicos, entre outros, tensionados na lógica coletiva, individual
e privados no exercício profissional, e que estabelecem casos de intervenção
profissional nas instituições onde o assistente social está inserido.

Como você já estudou no decorrer desta disciplina, um dos principais


instrumentos de intervenção profissional é a mediação. Perante ela o assistente
social atua diante dos conflitos, precisa ter condições teóricas e práticas para

113
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

responder às demandas dos usuários, como a questão social, que constitui seu
compromisso ético profissional de maior importância. E também, é obrigado a
dar respostas aos interesses institucionais, que não estejam vinculados em uma
perspectiva de neutralidade, e de acordo com os princípios da formação teórico-
metodológica e ético-política.

Iamamoto (2000) afirma que a partir de década de 1980, a profissão estava


historicamente institucionalizada e sendo considerada como [...] “especialização
do trabalho coletivo, dentro da divisão sociotécnica do trabalho, participa do
processo de produção e reprodução das relações sociais”. (IAMAMOTO, 2006, p.
35).

Historicamente, a maior concentração de campo de trabalho para o assistente


social está no poder público estadual e municipal, através da administração direta.
Foi através da Constituição Federal de 1988 que a assistência social começou a se
destacar nas políticas públicas, ampliando novas perspectivas de trabalho e de
atuação profissional.

Foi através das políticas públicas na área da saúde, inicialmente, que a


profissão teve seu desempenho, através da criação do Sistema Único de Saúde -
SUS, que estava garantido na Constituição.

UNI

Conforme a Constituição Federal de 1988:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24 dez. 2014.

Além da implementação do SUS, a Constituição Federal de 88 estabeleceu


também uma nova percepção de assistência social, através de uma política pública,
que é conhecida como Política Nacional de Assistência Social, pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS, que já foi mencionada nesta unidade e será aprofundada
na próxima unidade. Porém, a mesma garante a assistência social como um direito
de todos os cidadãos e um dever do Estado, e não pode ser contributiva.

114
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

UNI

A LOAS coloca a Assistência Social como elemento da Política de Seguridade


Social, não contributiva, prevendo os mínimos sociais, com ações e parcerias entre setor
público e sociedade.

Mesmo o profissional de Serviço Social estando, em grande porcentual,


atuando na esfera pública, não deixa de estar inserido na divisão do trabalho, que
se revela nas mais diversas maneiras, conforme já descrito, e que se limita, em
muitas vezes, nas tarefas como servidores do setor público.

Existem muitas e importantes discussões que estabelecem parâmetros para


que o profissional desenvolva suas atividades nas políticas de saúde e assistência
social, mediados pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social. Sob o comando do
CFESS, podemos citar os documentos que foram publicados na série:

• Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Públicas. (CFESS, 2009a; CFESS,


2009b).

E ainda:

• Resolução do CFESS n. 493/2006, que dispõe sobre condições éticas e técnicas do


exercício profissional do assistente social, expressando assim a importância do
reconhecimento das condições de trabalho do profissional.

O trabalho e os métodos de um profissional de Serviço Social, nos mais


diversos espaços sócio-ocupacionais, envolvem a qualidade do trabalhador
tecnicamente especializado.

115
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

DICAS

Para um melhor aprofundamento deste tema, se faz necessário que você leia os
livros abaixo sugeridos.

SILVA, Marta Borba. Assistência Social e seus usuários: entre a rebeldia


e o conformismo. São Paulo: Cortez, 2014.

Estamos diante de um livro instigante e mobilizador, escrito com


paixão pela justiça, que nos coloca frente ao usuário da Assistência
Social e nos leva a levantar novas questões, tratando-se de leitura
obrigatória para todos que buscam conhecer um pouco melhor a
realidade das classes subalternas em relação com a Assistência Social.
Como livro, interessa a todos os que defendem que cabe ao Estado
garantir a vida com dignidade à população, cujo direito mais universal
é o da sobrevivência. Leitura imprescindível para os que buscam
enfrentar e minimizar as injustiças do tempo presente pela mediação
de políticas públicas.

SILVA, Maria Ozinira Silva (coord.). O Serviço Social e o Popular. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

116
TÓPICO 2 | OS ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NA ESFERA ESTATAL E INSTÂNCIAS PÚBLICAS DE CONTROLE DEMOCRÁTICO

LEITURA COMPLEMENTAR

DEMANDAS HISTÓRICAS E AS RESPOSTAS PROFISSIONAIS


DO SERVIÇO SOCIAL: AS RELAÇÕES COM AS ESFERAS
SOCIOINSTITUCIONAIS

Cacildo Teixeira de Carvalho Neto

DEMANDAS SOCIAIS, RESPOSTAS COLETIVAS

Na sociedade contemporânea temos que a desigualdade social é fruto de um


contexto de expropriação do trabalho e dos direitos sociais; que a sociabilidade entre
os homens estabeleceu que as relações fossem determinadas, e essa imposição social
provocou interstícios entre os próprios homens, legitimou a divisão social de classes
e elucidou a questão social. A desigualdade social apresentada hoje é a metamorfose
das características do modo capitalista de produção, e a questão social se apresenta,
nos dizeres de Iamamoto, com uma nova roupagem, evidenciando a naturalização
dessa questão social e a banalização do homem.

A questão social é o eixo central do trabalho do assistente social, que as


demandas emanadas da população exigem respostas políticas à luz do projeto ético-
político do Serviço Social. Apresentada por suas manifestações tais como a miséria,
o trabalho escravo e infantil, a falta de acesso à saúde, educação, a violência e suas
multiformas, entre outras mais, representa a fragilidade na legitimação política, na
intervenção do Estado com propostas aludidas nos mínimos sociais, na ausência da
sociedade civil na efetivação de direitos e na ideologia capitalista/burguesa.

Na contemporaneidade há crise no mundo do trabalho, e tal crise potencializa


a questão social, pois segundo Iamamoto (2008, p. 140), “o trabalho encontra-se no
centro da questão social: tanto as formas de trabalho, quanto a apologia do trabalho,
ou seja, sua louvação ou beatificação expressa na ética do trabalho”.         

O desemprego potencializa a desigualdade social, leva o sujeito à margem


da sociedade, provoca a esta parcela da população a mais humilhante das condições
humanas, esta parcela está banalizada, pois perante a sociedade capitalista as
políticas sociais já são suficientes, e tal fato (o desemprego) é natural, consequência
lógica e necessária à permanência do capital. Iamamoto parafraseando Octavio Ianni
nos diz que:

No pensamento social brasileiro, a questão social recebe diferentes


explicações e denominações: coletividades anormais, sociedade civil
incapaz, povo amorfo, sendo o tom predominante a suspeita de que
a vítima é culpada, e a pobreza, um estado da natureza (IANNI apud
IAMAMOTO, 2008, p. 140).

O projeto neoliberal brasileiro desenha suas estratégias para a manutenção da


desigualdade social e o desemprego, atesta a (des)regulação da sociedade para manter
a dependência econômica das organizações internacionais, como o Fundo Monetário

117
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Internacional (FMI), e Banco Mundial representado pelo Banco Internacional para


Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); como também a necessária manutenção
do exército industrial de reserva. Neste contexto a sociedade brasileira faz parte dos
países semiperiféricos, explorado em suas reservas naturais e humanas, exploração
essa que aflige as formas de sociabilidade, apontando que há uma debilidade da
estrutura social frente às leis mercantis que organizam a sociedade contemporânea
capitalista. 

É neste contexto social de desigualdade, refrações políticas, perda dos direitos


sociais, de reprodução da rebeldia e da resistência que atua o assistente social. É com
este panorama de demandas que se desenvolvem as respostas profissionais, a partir
do compromisso ético-político, da competência técnico-operativa e do conhecimento
teórico-metodológico.

A ação profissional está envolta em conflitos, articulações políticas e


econômicas, e a interesses individualistas; o processo de trabalho do assistente
social transita por todas as formas de expressões da questão social, em todas as
áreas e/ou setores, e segmentos. Requerem deste profissional respostas articuladas
às reais necessidades da população usuária, condizentes à proposta do projeto
ético-político da profissão, que preze pela liberdade e democracia. Através de
estratégias construtivas de um trabalho social voltado à classe trabalhadora e à
parcela expropriada deste trabalho, vitimizada pelas relações sociais de produção e
reprodução capitalista.

A realidade exige do assistente social um profissional culto, com conhecimento


generalista crítico, capaz de desenvolver caminhos para a emancipação política
do sujeito. Para isso é necessário articular forças coletivas, sejam elas dos setores
institucionais e movimentos sociais; tornar os espaços públicos realmente públicos;
reorganizar os espaços representativos da classe trabalhadora; efetivar ações sociais
que conduzam ao planejamento, implementação e avaliação de políticas, programas
e projetos sociais, bem como na gestão de recursos e de pessoal; “a categoria dos
assistentes sociais, articulada às forças sociais progressistas, vem envidando esforços
coletivos no reforço da esfera pública, de modo a inscrever os interesses das maiorias
das esferas de decisão política (IAMAMOTO, 2009, p. 366).

O trabalho coletivo dos assistentes sociais deve ser compreendido em


todos os aspectos, na articulação do profissional com seus usuários, com órgãos
representativos de classe, com o Estado e com a classe capitalista. Superar a
intermediação e alcançar a mediação nesta relação se apresenta como desafio, pois
será a partir desta categoria, a mediação, que o trabalho do assistente social romperá
as amarras institucionais privadas e/ou estatais, e potencializará a participação
dos usuários dos serviços sociais na construção de uma democracia participativa e
transformar, assim, a realidade.
FONTE: NETO, Cacildo Teixeira de Carvalho. Demandas históricas e as respostas profissionais
do serviço social: as relações com as esferas socioinstitucionais. In: SEMINÁRIO DE SAÚDE DO
TRABALHADOR DE FRANCA, 7, 2010, FRANCA. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/
scielo.php?pid=MSC0000000112010000100039&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 dez. 2014.

118
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você teve a oportunidade de estudar sobre:

• Os espaços ocupacionais do profissional de Serviço Social necessitam de uma


análise no seu processo de transformação histórica, para compreender o seu
desenvolvimento a partir do crescimento da sociedade capitalista.

• A superioridade da economia financeira na incansável busca de aumento dos


lucros, através dos modelos de produção, que incidem diretamente no mundo
do trabalho e nos direitos adquiridos pelos trabalhadores.

• O mercado, através da invasão liberal, favorece subsídios para a mundialização


do capital financeiro.

• O aumento do número de privatizações das empresas que eram de


responsabilidade do Estado, gerando a mercantilização dos serviços oferecidos,
visando a contentamento das necessidades sociais, elevando o aumento da
produção e da movimentação de mercadorias.

• O Estado, para amenizar as consequências da política econômica de privatização,


começa a dar ênfase às políticas sociais.

• A questão social é indispensável na elaboração de ações e estratégias tanto no


campo político como ideológico, na efetivação e legitimação do domínio de
classe, que estão inseridas nas necessidades e lutas sociais e que não são isentas
das políticas públicas.

• As políticas sociais começam a se estabelecer mediante a triagem de ações, onde


é necessário privatizar, focalizar e descentralizar.

• O mercado profissional começa a exigir novas especificidades de conhecimentos


acadêmicos.

• As categorias e analogias e as relações existentes no campo de trabalho do


assistente social restringem a atuação profissional, podendo-se avaliar através
da práxis profissional as afinidades entre o projeto ético-político e o da condição
de trabalhador assalariado.

• A maioria dos(as) assistentes sociais está inserida, através de um vínculo


empregatício, com o setor público.

• O profissional atuando na divisão sociotécnica do trabalho, em esfera pública,


está inserido dentro de uma instituição.

119
• As instituições se configuram como sendo espaços de lutas pelo e de poder.

• O poder institucional está focado sobre uma visão de luta das classes organizadas
e articuladas às relações de poder, de hegemonia e contra-hegemonia de uma
instituição.

• As demandas que definem a intervenção profissional de um assistente social,


como encaminhamentos, informações, solicitação de recursos, capacitação,
elaboração e execução de projetos, são determinadas pela instituição em que
está atuando.

• As relações que existem nos conflitos institucionais estão ligadas a uma


correlação de forças, do jogo de interesses individuais, coletivos, políticos,
culturais, religiosos, econômicos, entre outros.

• Foi através da Constituição Federal de 1988 que a assistência social começou a


destacar-se nas políticas públicas, ampliando novas perspectivas de trabalho e
de atuação profissional.

120
AUTOATIVIDADE

1 O Serviço Social ganhou mais espaços no poder público, devido à garantia


de alguns direitos sociais previstos na Constituição Federal de 1988. Assinale
a alternativa correta.

a) As demandas populacionais não têm nenhuma importância nos espaços


sócio-ocupacionais do assistente social.
b) Devido à implementação do SUS, a área da saúde foi a que mais absorveu
profissionais de Serviço Social.
c) A Política Nacional de Assistência Social já está implementada em todos os
estados nacionais.
d) Os assistentes sociais devem primeiramente resolver as demandas imediatas
e emergenciais, sem levar em conta o contexto das questões sociais.

2 Com base no Tópico 2, conceitue o que você compreendeu por espaços sócio-
ocupacionais tradicionais do Serviço Social.

121
122
UNIDADE 2
TÓPICO 3
O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE
SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

1 INTRODUÇÃO
A empresa privada, como foco capitalista, desde as décadas de 80 vem
sofrendo um conjunto de mudanças, que são oriundas do novo modelo de
acumulação do capital, necessitando assim adaptarem-se às necessidades de um
mercado competidor e globalizado.

Essas mudanças, que vêm ocorrendo durante quatro décadas, com aval e
influência estatal, abrangem a organização do modelo de produção, nos processos
internos e externos de trabalho, que é fortalecida pelo desenvolvimento de novas
tecnologias de produção ligadas a novas formas organizacionais. Os trabalhadores
são conduzidos a novas condições de inclusão no mercado de trabalho e sendo
através de requisitos que contrapõem aos instrumentos de proteção social.

Durante os anos de 1980, o setor empresarial estava fixado num cenário


de dinamicidade, devido ao crescente processo de instrumentos inovadores, para
informatização dos novos processos de trabalho. Essa fase ficou conhecida como
reengenharia do trabalho, pelo expressivo aumento de informatização utilizada
nos processos de trabalho, implementação dos programas de qualidade total,
modernização física das indústrias, e outras inovações. Ao longo dos anos de 1990
e 2000, o setor empresarial destaca as competências, qualificação, adaptabilidade
do trabalhador nas novas mudanças do mercado de trabalho. Os objetivos
empresariais passaram a ter o envolvimento e participação dos trabalhadores, que
começaram a ser chamados de “colaboradores”.

As privatizações e fusões das empresas foram os principais legados dessa


época, trazendo novos modelos de produção de mercadorias mais exigentes e
rentáveis, reduzindo consideravelmente os cargos e postos de trabalho, exigindo
novos padrões de desempenho e controle dos trabalhadores.

Diante desse novo cenário do sistema capitalista, terceirização, flexibilização


e precarização do mercado de trabalho, com uma cultura de maior produtividade,
competitividade e lucratividade, os direitos trabalhistas acabam sendo afetados.

As empresas passaram a defender a retórica ideia da “responsabilidade social


corporativa”, defendendo um compromisso ético para com o desenvolvimento
sustentável, enfatizando que o Estado não consegue suprir as demandas dos

123
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

problemas sociais que estão cada vez maiores no Brasil. O setor privado defende
a extinção de projetos e sistemas de proteção social, para com ações que foquem a
erradicação da pobreza.

Mediante essa nova conjuntura do sistema de produção, surgem novas


frentes de trabalho para o profissional de Serviço Social nas empresas privadas, nos
mais diversos espaços, como, por exemplo: projetos e programas participativos, de
qualidade de vida, de educação ambiental, gerenciamento de recursos humanos,
entre outros.

2 O SERVIÇO SOCIAL COMO PROFISSÃO INSERIDA


NAS EMPRESAS CAPITALISTAS

A conjuntura política e econômica do Brasil, no final dos anos de 1970 e


início dos anos de 1980, favoreceu a ampliação de vagas para assistentes sociais em
empresas privadas, pois os trabalhadores estavam se inserindo em um processo
massivo de organização e representação social e política dos trabalhadores, com
o surgimento dos sindicatos, das comissões de fábrica e partidos políticos, que
tinham como objetivo combater relações com o modo de produção do capital.

FIGURA 32 – DÉCADA DE 70 E 80 – ORGANIZAÇÃO POPULAR

FONTE: Disponível em: <http://jufraleao.blogspot.com.br/2011_12_04_


archive.html>. Acesso em: 27 dez. 2014.

Esse período, para a profissão do Serviço Social, ficou marcado pelo


início do rompimento do pensamento conservador e das dimensões políticas que
estavam inseridas no exercício profissional dos assistentes sociais. Questionando
os princípios e a práxis que estavam vinculados na trajetória sócio-histórica da
profissão, resultando numa categoria profissional com a atuação centralizada em

124
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

um pensamento crítico, voltado para as demandas das classes em vulnerabilidade


social, e tendo a teoria social de Marx como base teórica, compreendendo a
realidade social a partir de suas relações contraditórias e que foram apontadas nas
categorias históricas e objetivas.

FIGURA 33 – PENSAMENTO MARXISTA

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.


php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282010000100002>.
Acesso em: 27 dez. 2014.

Decorrente do novo modelo de produção, a expansão do capital fez com que


as empresas estatais com domínio público, e as privadas, agregassem assistentes
sociais no quadro de profissionais. Mota (1991) afirma que:
[...] a presença do assistente social numa empresa, antes de qualquer
coisa, vem confirmar que a expansão do capital implica na criação de
novas necessidades sociais. Isto é, a empresa, enquanto representação
institucional do capital, passa a requisitar o assistente social para
desenvolver um trabalho de cunho assistencial e educativo junto ao
empregado e sua família. (MOTA, 1991, p. 16).

O Serviço Social era contratado pelas empresas privadas, na época acima


descrita, para que o assistente social tivesse como objetivo, no seu exercício
profissional, mediar situações conflituosas entre trabalhadores e patrões, mantendo
a força de trabalho existente.

O assistente social neste posto de trabalho estaria atuando de forma


contrária aos interesses voltados aos trabalhadores e ao capital, pois precisaria
atender às necessidades do seu empregador, e, também, as demandas sociais da
classe trabalhadora e de sua família.

125
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

As autoras Amaral e Cesar (2009) destacam:

Dessa forma, a empresa conseguia controlar e disciplinar sua força


de trabalho aos níveis de produtividade requeridos ao seu processo
produtivo, participando ativamente da dinâmica de reprodução social
das classes de trabalhadores. Ao interferir diretamente na esfera da
reprodução social, os assistentes sociais, na condição de assalariados
e submetidos às condições e relações de trabalho do conjunto dos
trabalhadores, definem seus objetivos profissionais, desenvolvem
iniciativas e estratégias para responder aos “problemas sociais” postos
pelos empregadores. Mas, é nesse mesmo processo que os assistentes
sociais podem se apropriar criticamente dos objetos de intervenção
originários dos seus empregadores e qualificar as suas práticas, por
meio da problematização das situações reais que geram as necessidades
dos trabalhadores e, assim, fortalecer os projetos das classes subalternas.
(AMARAL; CESAR, 2009, p. 414)

Foi no interior das empresas privadas que o movimento sindical começou


a se fortalecer politicamente, durante os anos de 1980, pois os trabalhadores
organizados pela sua base de trabalho começaram a exigir melhorias nas
qualidades de vida e trabalho, pela democratização das afinidades de trabalhos, na
implementação de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), criação
da comissão de trabalhadores de fábricas e outras que se instituíam como uma
afronta aos interesses da classe burguesa.

FIGURA 34 – CIPA

FONTE: Disponível em: <http://www.sindmetau.org.br/site/index.php/destaque/18871-


cipa-dos-trabalhadores-e-importante-ferramenta-de-protecao-e-organizacao.html>.
Acesso em: 28 dez. 2014.

126
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

Com essa nova reorganização do mercado de trabalho e da economia, o


setor empresarial da sociedade teve que se adaptar às novas exigências mercantis
mundiais, através da inovação e modernização do sistema de produção, através da
implementação de novas tecnologias e de mudanças organizacionais, infundidas
pelos modelos americano e japonês, aumentando o índice de produtividade e
desempenho por parte dos trabalhadores, e dessa forma podendo integrar e
interagir com a economia mundial.

No Brasil, a implementação tecnológica e as reformas organizacionais,


sendo parte necessária para integrar a economia mundial, de forma estratégica,
logo foram realizadas pelas empresas, em sua grande maioria, no início de 1990.

UNI

O setor empresarial teve que criar mecanismos de cunho social e político, com a
participação dos trabalhadores, dando legitimidade nesse processo.

Os assistentes sociais tiveram participação ativa com a gestão empresarial,


nesse período de mudanças no setor industrial, através da implementação dos
Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), que eram definidos como um grupo
pequeno e formado por funcionários voluntários, que pertenciam ou não à mesma
área de trabalho, mas que eram treinados da mesma forma, para entender a
filosofia e objetivos, para melhorar o desempenho da produção, diminuir custos,
elevar a eficiência, principalmente no que se refere à qualidade de seu trabalho, ou
de suas mercadorias.

FIGURA 35 – CCQs

FONTE: Disponível em: <http://www.folhavitoria.com.br/economia/


blogs/gestaoeresultados/files/2012/07/DSC03752.jpg>. Acesso em: 28
dez. 2014.

127
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

A profissão do Serviço Social, durante esse período, ocupava um espaço


de trabalho nas empresas nas áreas de recursos humanos, onde os assistentes
sociais desenvolviam um papel incisivo neste contexto, pois as respostas do
setor empresarial para as reivindicações dos trabalhadores eram apresentadas e
resolvidas nas comissões com representação de todos os segmentos da empresa,
sendo que o profissional realizava a mediação dos interesses de cada um.

Em nenhum momento a classe empresarial, durante essas décadas, realizou


algum empenho intenso para realizar uma ação sociopolítica em consonância com
as reformas do sistema capitalista em ciclo, afetando assim o processo de produção
e as decisões sobre a produtividade, onde o profissional de Serviço Social não
estava livre de práticas contraditórias.

Amaral e Cesar (2009) revelam:

Tensionadas pela ação sindical, as práticas que visavam à integração


dos trabalhadores aos objetivos empresariais eram questionadas,
e também, o Serviço Social era instado a fazer uma leitura crítica
dessas iniciativas e a responder – ainda que se reconhecendo como
“atividade subordinada” – a um conjunto de demandas do trabalho.
Nesse tensionamento, estavam postos os limites - dados pelas condições
objetivas de trabalho – e, ao mesmo tempo, as possibilidades de
intervenção dos assistentes sociais nos processos sociais, traduzidas
na sua capacidade de compreender a realidade, propor alternativas e
negociar, junto às direções empresariais, o atendimento de necessidades
fundamentais à reprodução da força de trabalho. (AMARAL; CESAR,
2009, p. 415).

Esse processo de mudanças nos setores industriais, com a inovação


tecnológica e organizativa nos anos de 1990, sofreu novas transformações no início
dos anos 2000, afetando a reorganização do modelo de produção das mercadorias
e dos lucros, sendo esse último considerado uma tática para garantir a acumulação
capitalista, ou então a fase chamada de “acumulação flexível”.

A descrição da acumulação flexível acontece pelas suas principais linhas de


ações, sendo elas:

• A financeirização da economia, onde as transações e mercados financeiros se


fortalecem no sistema econômico mundial, abrindo novas possibilidades de
investimento do capital.
• A entrada de tecnologias avançadas no modelo de produção.
• O destaque nos processos de gerenciamento de informações.
• A redução do controle governamental sobre os mercados, os tornando mais
livres para uma maior concorrência.
• A flexibilização dos trabalhos e das leis trabalhistas.
• A diminuição, suspensão e eliminação dos direitos sociais.
• A perda de território da produção de mercadorias e outros.

As consequências da acumulação flexível do capital e de suas ações são

128
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

visíveis nas privatizações de instituições estatais, fusões de grandes companhias


empresariais privadas, diminuição e eliminação nos postos de trabalho, e
outras mudanças nos processos de trabalho que atingem a atuação profissional
do assistente social, diante dos seu referencias técnico-operativos e nos demais
conhecimentos acumulados historicamente na profissão, tendo que estar atento às
novas exigências e qualificações impostas pela nova ordem social.

DICAS

Acadêmico(a), este livro se faz necessário para aprofundar seus


conhecimentos, não deixe de ler.

A autora analisa a requisição do Serviço Social na ótica da empresa


capitalista, as estratégias e respostas do Serviço Social, o potencial
negador do trabalhador e a construção de uma nova prática
profissional inscrita no horizonte de interesses de trabalhadores. Uma
obra que enriquecerá a polêmica em torno da prática profissional na
empresa.

MOTA, Ana Elisabete. O feitiço da ajuda: as determinações do


serviço social na empresa. São Paulo: Cortez, 1991.

As novas estratégias que foram desenvolvidas para o reordenamento


do modelo de produção, e as forças produtivas, foram consequências da crise
econômica que afetou todo o sistema capitalista mundial, entre os anos de 1980 e
1990, e teve como principal objetivo o reconhecimento e o predomínio do modelo
ideológico do capital, afetando diretamente o mundo do trabalho.

UNI

A vida social no Brasil foi intercedida pelos modelos capitalistas, afetada


diretamente pelas transformações no mundo do trabalho, através das dimensões: política,
social e econômica.

129
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Citando novamente as autoras Amaral e Cesar (2009), elas enfatizam que


esse processo de mudanças tem como questão determinante a redefinição do
modelo de produção, e essa estrutura está mobilizada nas seguintes formas:

a) as empresas utilizam inovações tecnológicas – que permitem a substituição


da eletromecânica pela eletrônica e uma crescente informatização do
processo de produção que, por sua vez, exige uma maior qualificação para
determinados segmentos de trabalhadores. Para isso, as empresas investem
em treinamento e buscam elevar os níveis de escolaridade da força de
trabalho. Essa requalificação, associada ao desenvolvimento da polivalência
e multifuncionalidade, também evidencia o processo de precarização das
condições em que o trabalho se realiza, pois intensifica-se o ritmo de execução
das tarefas em prol de maior produtividade, além de eliminar postos e
ocupações, aumentando o desemprego.

b) controle da força de trabalho – as empresas sofisticam os mecanismos de


adequação do comportamento produtivo aos novos métodos de produção,
buscando obter a adesão do trabalhador às metas de qualidade e produtividade.
A natureza da relação salarial se afasta do processo de negociação coletiva e
se concretiza na estratégia de individualização dos salários e na negociação
direta empresa-trabalhador, sitiando os sindicatos e esvaziando o conteúdo
político das reivindicações dos trabalhadores. São formulados critérios
meritocráticos de julgamento no sistema de avaliação de desempenho e,
sob pretensa horizontalização das relações de trabalho, são implementados
programas participativos com base na Gestão de Qualidade Total. Tais
estratégias, por sua vez, se associam aos incentivos, que passam a compor o
sistema de remuneração, e à ascensão funcional, condicionando-os à geração
de resultados.

c) reprodução material da força de trabalho – as empresas oferecem aos seus


empregados um leque de benefícios e serviços sociais, chamados de “salários
indiretos”, que constituem um importante instrumento para mobilizar o
consenso em torno das metas de produção. Desse modo, ao mesmo tempo
em que se verifica a diminuição da intervenção estatal, com a retração das
coberturas públicas e o corte nos direitos sociais, assiste-se à transferência
dos mecanismos de proteção do Estado para as grandes corporações que
refuncionalizam, de acordo com seus interesses, a esfera dos “benefícios
ocupacionais”. Com isso, as empresas ampliam os sistemas de benefícios e
incentivos, reforçando a dependência dos trabalhadores e intensificando a sua
subordinação à disciplina fabril.

d) reprodução espiritual da força de trabalho – as empresas investem num


processo de “aculturamento” dos empregados e em formas ideológicas
que pressupõem um “moral de envolvimento” para a geração de um novo
comportamento produtivo adequado aos novos métodos de produção.

130
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

Esta “moral de envolvimento” passa a permear os discursos e as práticas


gerenciais, cujas prerrogativas são o “colaboracionismo entre as classes” e
o “engajamento dos colaboradores” ou “associados. Disseminando valores
e formas de racionalidade, as empresas estabelecem uma lógica menos
despótica e mais consensual, envolvente e manipulatória que atinge a
consciência, a subjetividade do trabalho e as suas formas de representação.
FONTE: Amaral e Cesar (2009, p. 417-418)

A gestão empresarial necessita criar estratégias para que aconteça o


engajamento dos colaboradores, mediante os objetivos desse novo modelo de
produção. Assegurar a participação dos trabalhadores é uma tarefa árdua, pois
não se pode ficar somente no campo do trabalho e sim considerar as necessidades
sociais, de segurança, fisiológicas, autorrealização e outras.

A empresa, para ministrar essas necessidades, constitui políticas de


recursos humanos, com objetivos de: defender o envolvimento do trabalhador
com as metas, ampliar e desenvolver aptidões e capacidade para atender o setor
da produção, além de treinar, reeducar, reconhecer o desempenho individual de
cada trabalhador, e com critérios vinculados às necessidades sociais, de segurança,
fisiológicas, autorrealização de cada indivíduo na condição de trabalhador.
Visando amenizar conflitos no reconhecimento por desempenho, a geração de
resultado servirá de parâmetros para estabelecer a remuneração.

FIGURA 36 – RELAÇÃO RH X GQT

Administração de 
Recursos Humanos
FONTE: A autora

As políticas de recursos humanos, nos anos de 1990, principalmente


na área empresarial no Brasil, ganharam um novo impulso, após o período de
flexibilização da economia e da produção, nas seguintes maneiras: incentivo na
qualificação profissional do trabalhador, através de investimentos privados,
iniciação de metodologias participativas no gerenciamento da produção e das

131
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

metas empresariais, através da inclusão da classe dos trabalhadores, ajustes das


normas de benefícios sociais com as de estímulo à produtividade no campo do
trabalho, elaboração de métodos de avaliação e monitoramento do espaço interno
das empresas.

Para o autor Cesar (1998), o Serviço Social nas empresas deixou as


demandas que estavam sendo trabalhadas pelo assistente social e aderiu às novas
racionalidades, técnica, ideológica e política, perante a reorganização da gestão de
recursos humanos, através de estratégias e táticas assegurando a legalidade social.

Mesmo o profissional tendo que aderir às novas demandas nas empresas,


a sua atuação sempre esteve voltada para um fazer educativo, objetivando
transformações diárias do trabalhador, em relação a costumes, condutas, hábitos e
atitudes para um melhor desempenho no trabalho.

A empresa, ao contratar um assistente social, conhecendo sua atuação


profissional, solicita que o mesmo responda às questões sociais, que afetam na
produtividade, como, por exemplo: a ausência prolongada de um trabalhador de
seu local de trabalho, o desrespeito hierárquico, tumultos internos ao ambiente de
trabalho, conflitos pessoais e familiares, problemas financeiros e de saúde, entre
outros.

Segundo Mota (1991, p. 31), “É evidente que a racionalidade se prende tanto


ao caráter de eficiência da administração de benefícios materiais como ao caráter
educativo dessa administração, instituído nas orientações de condutas desviantes
de empregado e sua família”.

Através do pensamento da autora pode-se definir que o profissional de


Serviço Social possui propriedades de intervenção teórico-metodológicas no
cotidiano dos trabalhadores, mesmo sendo no seu espaço de trabalho, como na
sua vida individual ou familiar.

UNI

O assistente social intervém como mediador da relação do trabalhador com a


empresa, criando projetos e programas que integrem todo o contexto social, gerando uma
maior disciplina e controle da classe trabalhadora, mediante a sua submissão às condições de
valorização no sistema capitalista.

132
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

Acadêmico(a), depois de compreender as mudanças que aconteceram na


sociedade capitalista, desde os anos de 1970, e como se deu a inserção do Serviço
Social nas empresas privadas, se faz necessário entender o significado do Projeto
Ético-Político do Serviço Social.

O Projeto Ético-Político do Serviço Social na divisão societária do trabalho


coloca-se com uma provocação a ser enfrentada pela categoria profissional até o
momento atual, mediante as limitações encontradas no exercício da profissão, pelo
vínculo empregatício, na esfera privada.

Faz-se necessário que o assistente social, no exercício da profissão,


desenvolva um trabalho eficaz, eficiente e com efetividade, valorizando o ser
humano na sua totalidade, na defesa de seus direitos sociais.

O assistente social precisa atender às demandas institucionais pelas quais


foi contratado, porém, deve ter audácia de ir além do que é de sua competência,
através de estratégias profissionais que consigam envolver todas as categorias
profissionais e familiares de forma participativa na garantia de seus direitos
enquanto cidadãos.

Essa participação não pode ficar centralizada nos interesses pessoais e/ou
individuais, em uma relação de cidadão trabalhador, e sim em uma base coletiva,
que tenha interesses comuns da classe trabalhadora.

O assistente social, além de ser um mediador dos interesses do empregador


com o trabalhador, deverá se tornar um articulador, um assessor, um orientador,
mas deverá ter nitidez de que só chegará a um resultado positivo e sustentável se
o profissional estiver ao lado, caminhando e avançando junto com o usuário dos
seus serviços ofertados.

UNI

É importante que o assistente social caminhe lado a lado com o trabalhador,


podendo só assim perceber as mudanças do usuário da instituição.

Acadêmico(a), sobre essa discussão serão apresentados alguns itens


importantes para seus estudos, sendo importante muita leitura e pesquisa sobre a
discussão abaixo.

O assistente social não é o único profissional responsável no enfrentamento


das demandas trazidas pelos trabalhadores à empresa e/ou instituição, o mesmo
também participa deste processo. Se for requisitado para realizar um trabalho em
equipe, com a nitidez de - que ele “pode” fazer, se for uma tarefa determinada pela

133
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

empresa onde está prestando seu serviço, - o que ele “quer” fazer – que interfere
no seu comprometimento profissional -, e o que “deve” fazer – conforme sua
competência profissional e de interesse do seu projeto profissional.

O Projeto Ético-Político deverá estar sempre guiando a atuação profissional,


através dele pode-se avançar em algumas conquistas, mesmo não podendo mudar
completamente a organização interna de uma empresa.

Muitas empresas limitam o profissional de Serviço Social no trabalho


rotineiro e de tarefas básicas da Gestão de Pessoas/Recursos Humanos. Em outras,
o exercício profissional se resume à fiscalização e controle dos funcionários, sem
nenhuma intervenção crítica e transformadora.

O autor César (apud ABREO, 2003) enfatiza quatro das mais importantes
características para o profissional de Serviço Social atuar no setor empresarial
privado:

• A busca constante pelo conhecimento para que o trabalho de orientação aos


funcionários possa ser de qualidade e proporcione um elevado grau de
emancipação e participação. Para tanto, o profissional também deve conhecer as
políticas da empresa e a rotina dos empregados.
• Ser um profissional competente no desenvolvimento das atividades. Desta
forma, o profissional será capaz de executar não somente as ações que lhe são
impostas, mas também criar novas ações pautadas no seu compromisso ético-
político e profissional.
• Manter um ambiente agradável no núcleo profissional. O profissional, ao se
confrontar diretamente com funcionários ou chefia, além de criar um clima
tenso, provavelmente não conseguirá atingir seus objetivos de novas ações
propostas. Para tanto, a negociação e as ações estratégicas se colocam como a
melhor alternativa para efetivação da transformação que se espera.
• Desenvolver o trabalho em conjunto com os demais funcionários, de forma
cooperada para que se obtenha êxito.

Apesar de o profissional estar atuando em um espaço contraditório, dos


princípios de sustentação básica da profissão, e que sua práxis esteja voltada para
a ampliação da produção realizada pelos trabalhadores, o mesmo não deve se
afastar da luta pela garantia dos direitos sociais e trabalhistas, sendo essa uma
realidade possível de ser conquistada.

Outro fator importante, que o assistente social deve buscar, é uma maior
autonomia dos trabalhadores e sua participação, para que sejam incluídos como
indivíduos sociais nas relações sociais e não apenas como classe trabalhadora
assalariada. Ou seja, o empregador precisa compreender a vida do trabalhador em
sua totalidade, e não apenas o trabalho sendo a única relação social.

A atuação de um assistente social deve ter também o foco nas implicações


que o modelo de produção capitalista traz para a vida cotidiana da classe dos

134
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

trabalhadores, como, por exemplo: o estreitamento da relação capital x trabalho,


via exploração da força de trabalho humana, com a flexibilização e terceirização do
trabalho, as influências sociais e psicológicas são inúmeras que acarretam prejuízos
ao trabalhador e seu meio social (amigos, familiares), pela questão da instabilidade
do emprego e pressão para o aumento da produtividade.

Atualmente consegue-se perceber que o mundo todo está se utilizando da


tendência de gestão compartilhada, porém no campo empresarial este modelo
serve como um falso discurso, diante dos objetivos do capital. O Serviço Social
pode se apropriar desse espaço como um meio de atuação, criando mecanismos
para que o trabalhador seja compreendido, valorizado e potencializado como
ser social, que tenha direito de participação, com direito a voz, expressando sua
opinião, que seja ouvido e que consiga avançar na efetivação de conquistas dos
direitos enquanto cidadão.

Ao utilizar os instrumentos técnico-operativos da profissão de Serviço


Social, como: projeto de pesquisas com todos os funcionários e de todos os setores
da empresa, elaborar um programa de desligamento, efetivar periodicamente
reuniões de grupos, capacitação para funcionários, realizar uma agenda de
atendimento individual, ou em grupo, se houver necessidade realizar visitas
domiciliares e outros, o assistente social irá seguir a direção do Projeto Ético-
Político, sendo que esse guiará a práxis profissional neste contexto de conflitos
entre interesses.

FIGURA 37 – INFLUÊNCIA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

FONTE: A autora

135
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

O assistente social precisa ter claro que sempre existiram intervenções


imediatas e sempre existirão, mas que sua intervenção pode ir além da realidade
vivenciada, buscando novas maneiras para superar as demandas sociais que
surgem do sistema capitalista.

LEITURA COMPLEMENTAR

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS CAPITALISTAS

Angela Santana do Amaral


Monica de Jesus Cesar

O SERVIÇO SOCIAL NOS PROGRAMAS EMPRESARIAIS

[...] trabalho do assistente social nas empresas, destacam-se os programas


a seguir listados.

Programa de Treinamento e Desenvolvimento – diretamente relacionado


com as novas modalidades de consumo da força de trabalho, esse programa
diz respeito à adequação do funcionamento do mercado interno e trabalho e à
requalificação da força de trabalho requerida pelos novos métodos de produção,
congregando as funções de: formação; treinamento; capacitação e desenvolvimento;
mobilidade e sucessão.

À medida que os planos de treinamento integram a estratégia de qualidade


e produtividade, eles são precedidos por levantamentos de necessidades e seguidos
por processos de avaliação dos resultados da sua aplicabilidade [...]. 

[...] Temas como desenvolvimento de equipes, cooperação intergrupal,


relacionamento interpessoal, entre outros, tornam-se objetos das atividades de
treinamento organizadas pelos profissionais. Cabe ressaltar que, como todo
trabalhador, o assistente social também é submetido aos programas de treinamento
das empresas, sejam eles técnicos ou comportamentais, para a conformação de um
perfil profissional.

Programas Participativos – estes programas se pautam na Gestão da


Qualidade Total, cujo pressuposto é o da satisfação das necessidades dos clientes
externos e internos das organizações. Para isso, são realizados investimentos
para elevar os padrões de qualidade e confiabilidade dos processos, produtos e
serviços, bem como para fomentar a participação dos trabalhadores que, dentro da
ordem e do universo da empresa, passam a ser estimulados por meio de incentivos
materiais e simbólicos.

Com a incorporação da “cultura da qualidade”, o trabalho do assistente


social é redimensionado e passa a assumir o papel de impulsionador da inovação e
136
TÓPICO 3 | O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EMPRESAS PRIVADAS

mudança, principalmente no que toca à “democratização” das relações de trabalho,


[...]

Estes últimos se beneficiaram pelo crescimento profissional e pela


possibilidade de transcenderem seu papel meramente executor, para se tornarem
sujeitos ativos no processo de produção.

[...] a intervenção profissional se estabelece com base nos princípios


do envolvimento e do comprometimento, tendo por objetivo adequar ideias,
comportamentos e atitudes. Assim, o Serviço Social busca promover a “valorização
do empregado”, desenvolvendo ações incentivadoras do seu envolvimento com o
trabalho e a empresa. [...] a inserção do assistente social ocorre pelo reconhecimento,
por parte da gerência, da sua facilidade de persuasão e inserção no cotidiano dos
trabalhadores, o que reitera o caráter pedagógico de sua ação.

Programa de Qualidade de Vida – no discurso empresarial,


o termo “qualidade de vida” é empregado para enunciar a
conjugação de interesses entre patrões e empregados, isto
é, a associação entre os objetivos das empresas de aumentarem a produtividade e
as necessidades de “bem‐estar” dos trabalhadores.

[...]
os programas de “qualidade de vida no trabalho” seguem a tendência já 
apontada, ou seja, visam conformar um comportamento adequado aos novos
métodos de produção [...].

Condizentes com as novas modalidades de reprodução da força de
trabalho, esses programas buscam, por meio dos serviços sociais e das ações socio-
educativas, o  enquadramento de  hábitos  e  cuidados  com  a  saúde,  alimentação,
lazer etc., que implica uma intervenção  normativa sobre a vida do trabalhador
dentro e fora da em-presa. 

Além disso, muitos  desses  programas  são  estruturados  em  função  das


consequências nocivas das mudanças efetuadas na produção sobre as condições
de vida e  de  trabalho,  como aumento  do  desgaste  e  da  instabilidade,  que 
associam  antigas  doenças  profissionais com  novos  distúrbios  e  patologias 
vinculadas  ao  sofrimento psíquico e às psicopatologias (cf. MELO et al., 1998).
Com  isso,  há  uma  reatualização  da  intervenção  do  assistente  social  na
prevenção de acidentes e doenças,  bem  como  uma revalorização  das  atividades 
desportivas e  re-creativas,  voltadas  para  o  combate  ao  estresse. 

[...] o trabalho do assistente social, nesse tipo de programa, tem  como  base 


o levantamento  do  nível  de  satisfação  no  trabalho,  tendo  em  vista  a instru-
mentalização  das  ações  gerenciais  para  a  melhoria  da  “qualidade  de  vida”, 
que abrange questões relativas às políticas de recursos humanos. 

Programa de Clima ou Ambiência Organizacional – esse programa comporta


os fatores do “ambiente de trabalho” que afetam o comportamento produtivo. Nas
137
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

empresas, o clima organizacional é concebido como um conjunto de aspectos que


caracterizam uma determinada corporação e influenciam o comportamento dos
trabalhadores, ou seja, se refere à relação existente entre organização do trabalho,
satisfação e desempenho.

[...]
a
“atmosfera da empresa” é considerada um conjunto mensurável de propriedades
do  ambiente de trabalho” que, percebidas direta ou indiretamente pelos  trabalha-
dores, são capazes de influenciar sua motivação e  desempenho. Associada aos
processos de comunicação interna, ela é consi-derada uma condição estratégica [...].

A atuação do assistente social incide, então, na mensuração dessas


propriedades, principalmente, por meio da aplicação periódica de questionários
compostos de percepção dos empregados sobre a organização do trabalho,
as relações e condições de trabalho. Os resultados desse tipo de pesquisa são
analisados e transmitidos para as chefias e seus subordinados, servindo como
indicadores para a implementação de modificações nos sistemas gerenciais, o
aprimoramento das políticas de recursos humanos e o desenvolvimento de ações
sociais, com vistas à melhoria do clima organizacional e, consequentemente, do
aumento da produtividade do trabalho.

Cabe destacar que o conjunto de ações sociais que a empresa desenvolve


para atender, internamente, às necessidades dos seus empregados passou a
compor a ideia da “responsabilidade social corporativa”, que ganhou consistência
no meio empresarial, no decorrer dos anos de 1990 [...].
FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Public/Pictures/Downloads/3_-_Texto-base_III%20(8).
pdf>. Acesso em: 31 dez. 2014.

138
RESUMO DO TÓPICO 3
Nesse tópico você conseguiu conhecer e aprender como o Serviço Social
se adéqua à condição de trabalho na esfera empresarial:

• A empresa privada, como foco capitalista, desde a década de 80 vem sofrendo


um conjunto de mudanças, que são oriundas do novo modelo de acumulação
do capital.

• Durante os anos de 1980, o setor empresarial estava fixado num cenário de


dinamicidade, devido ao crescente processo de instrumentos inovadores, para
informatização dos novos processos de trabalho.

• Ao longo dos anos de 1990 e 2000, o setor empresarial destaca as competências,


qualificação, adaptabilidade do trabalhador nas novas mudanças do mercado
de trabalho.

• Conjuntura política e econômica do Brasil, no final dos anos de 1970 e início


dos anos de 1980, favoreceu a ampliação de vagas para assistentes sociais em
empresas privadas.

• A profissão de Serviço Social ficou marcada pelo início do rompimento do


pensamento conservador e das dimensões políticas que estavam inseridos no
exercício profissional dos assistentes sociais.

• Foi no interior das empresas privadas que o movimento sindical começou a se


fortalecer politicamente, durante os anos de 1980.

• Nos anos 80, devido à organização dos trabalhadores, há implementação de


Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs).

• Nos anos 90, o setor empresarial teve que criar mecanismos e instrumentos de
cunho social e político, com a participação dos trabalhadores.

• Foram implementados os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs).

• Os assistentes sociais ocupavam um espaço de trabalho nas empresas nas áreas de


recursos humanos, tinham um papel incisivo neste contexto, pois as respostas do
setor empresarial para as reivindicações dos trabalhadores eram apresentadas e
resolvidas nas comissões com representação de todos os segmentos da empresa,
sendo que o profissional realizava a mediação dos interesses de cada um.

• No início dos anos 2000, mediante a reorganização do modelo de produção


das mercadorias e dos lucros, sendo esse último considerado uma tática para

139
garantir a acumulação capitalista, ou então a fase chamada de “acumulação
flexível”.

• As consequências da acumulação flexível do capital e de suas ações são visíveis


nas privatizações de instituições estatais, fusões de grandes companhias
empresariais privadas, diminuição e eliminação nos postos de trabalho.

• As empresas necessitam criar estratégias para que aconteça o engajamento dos


colaboradores, mediante os objetivos desse novo modelo de produção.

• A empresa, para ministrar essas necessidades, constitui políticas de recursos


humanos, com objetivos de: defender o envolvimento do trabalhador com as
metas, ampliar e desenvolver aptidões e capacidade para atender o setor da
produção.

• As políticas de recursos humanos, nos anos de 1990, ganharam um novo


impulso, após o período de flexibilização da economia e da produção.

• O assistente social, além de ser um mediador dos interesses do empregador com


o trabalhador, deverá se tornar um articulador, um assessor, um orientador,
mas deverá ter nitidez de que só chegará a um resultado positivo e sustentável
se o profissional estiver ao lado, caminhando e avançando junto com o usuário
dos seus serviços ofertados.

• O profissional pode estar atuando em um espaço contraditório, dos princípios


de sustentação básica da profissão, e sua práxis voltada para a ampliação da
produção realizada pelos trabalhadores.

• O campo empresarial tem se utilizado do termo gestão compartilhada, e o


Serviço Social pode se apropriar desse espaço como um meio de atuação, criando
mecanismos de defesa social para o trabalhador.

140
AUTOATIVIDADE

1 As demandas do Serviço Social sofreram muitas transformações, a partir


da década de 90, através da flexibilização da economia, reestruturação da
economia, mudanças no mundo do trabalho, a minimalização do Estado e
diminuição dos direitos sociais. O modelo de política especificado acima
alterou as condições de trabalho, demandas e respostas dos assistentes
sociais, em todos os setores em que atua. Esse modelo é denominado:

a) Pós-modernidade;
b) Democracia;
c) Neoliberalismo;
d) Ditadura.

2 Os desempenhos dos assistentes sociais nas empresas privadas revelam


que há uma demanda crescente de participação nos Círculos de Controle
de Qualidade (CCQ), apontado à adesão dos trabalhadores às metas
empresariais de concorrência e produtividade. Ocasionando o aumento de
profissionais do Serviço Social para a área de Recursos Humanos, no setor
privado, enfatizando a criação de procedimentos que contribuam para a
produtividade e a participação dos trabalhadores. Como você entende esse
redirecionamento do Serviço Social?

141
142
UNIDADE 2
TÓPICO 4

A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS


ORGANIZAÇÕES DA CLASSE TRABALHADORA
E NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO
LUCRATIVAS

1 INTRODUÇÃO
Este último tópico da Unidade 2, deste Caderno de Estudos, faz com que
você, acadêmico, pense e reflita sobre a atuação do assistente social nos campos
de trabalho que estão também inseridos na divisão societária do capitalismo
contemporâneo, mas com maiores obstáculos e polêmicas, diante da práxis
profissional no Brasil.

O primeiro deles traz a discussão da atuação profissional do assistente


social nas organizações da classe trabalhadora, levantada pelo Conselho Federal
de Serviço Social (CFESS) e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social (ABEPSS), e já no segundo campo de atuação, focado para o assistente social
nas organizações privadas e não lucrativas.

São campos de atuação polêmicos, pois primeiramente estimulam uma


discussão sobre o trabalho do assistente social, que se iniciou no final da década de
90, através de alguns assistentes sociais. Sendo esse um debate relevante, porém,
será apresentado neste tópico juntamente com os procedimentos reais do trabalho
do Serviço Social, como profissão, em organizações da classe dos trabalhadores. As
complexidades desses procedimentos ocorrem a partir de duas bases de referenciais
institucionais e diferente uma da outra. A primeira se refere ao trabalho do
assistente social como profissional, inserido nas organizações autônomas da classe
trabalhadora; já na segunda, apresenta o trabalho desenvolvido pelo profissional
de Serviço Social nos movimentos e organizações da classe trabalhadora.

O segundo campo de atuação que gera polêmica, para o Serviço Social, é


nas organizações privadas e não lucrativas, como sendo um campo de exercício
profissional sócio-ocupacional para os assistentes sociais. Na redefinição do
modelo de produção e do papel do Estado no Brasil, que ocorreu no início da
década de 1990, onde novas relações do Estado x Sociedade foram delineadas e
trazendo novas pertinências, habilidades, funções para o Serviço Social.

143
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

2 DESAFIOS, LIMITES E TENDÊNCIAS DO TRABALHO


DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA
CLASSE TRABALHADORA

Diante da atual conjuntura política, cultural e econômica do Brasil, é


importante rever dois aspectos centrais: das resoluções históricas da atuação do
assistente social nas organizações dos trabalhadores e também como trabalhador
assalariado. O significado dos fundamentos histórico- políticos da profissão é o
primeiro aspecto que precisa ser levado em conta, pois constitui o projeto ético-
político do exercício do Serviço Social, e que, como já estudamos, está fundamentado
em três instrumentos importantes: o Código de Ética da Profissão, as Diretrizes
Curriculares dos Cursos de Graduação e a Lei que Regulamenta a Profissão. Estes
instrumentos estão vinculados às lutas de classes subalternas.

UNI

Os instrumentos sustentam teoricamente o Serviço Social como profissão, o


Código de Ética do Serviço Social e as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação de
Serviço Social, ao mesmo tempo em que resumem um período histórico de organização e
luta dos assistentes para superar a perspectiva tradicional e o significado do projeto ético da
profissão, constituindo como mecanismo de oposição e luta ao movimento conservador, que
se fortaleceu com a crise do capital que ocorreu nos anos de 1970.

Outro aspecto a ser considerado é de que o projeto conservador da


classe burguesa, que através da supremacia do capital econômico e financeiro se
concretizou no país com a aderência das maiores organizações dos trabalhadores
do Brasil, sendo elas: Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Partido dos
Trabalhadores (PT). As duas instituições formadas a partir da organização dos
trabalhadores se estruturam sob a mesma lógica de aparelhamento da sociedade,
intencionando o trabalho do assistente social nessas instituições da classe
trabalhadora.

DICAS

Para entender melhor essa tendência do Serviço Social, é importante relembrar o


Movimento Latino-Americano de Reconceituação.

144
TÓPICO 4 | A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA
CLASSE TRABALHADORA E NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS

No Brasil, através de um aprofundamento teórico-crítico da formação


profissional, os assistentes sociais formulam uma crítica aos modelos de processos
de trabalho, que eram aplicados pelos profissionais de Serviço Social, apontando
para novas concepções históricas de emancipação profissional e social, envolvendo
toda a sociedade. Com a possibilidade de uma reorganização e redirecionamento
da atuação dos assistentes sociais, houve um interesse maior, pelos próprios
profissionais, em estudar o movimento de organização da classe trabalhadora.

Segundo Cardoso e Lopes (2009):

O primeiro momento de síntese desse processo de crítica e indicação


da possibilidade de vinculação da profissão à luta e organização dos
trabalhadores, orientada pelos interesses dessa classe, se expressa em
um contexto econômico e político bastante favorável, no âmbito do
movimento de ascensão das lutas sociais populares e, em particular, da
organização e luta dos trabalhadores no país. Entre os trabalhadores
urbanos cresceu a tendência que apontou para a necessidade de um
“Novo Sindicalismo” e empreendeu um amplo esforço de construção da
Central Única dos Trabalhadores (CUT) em um confronto de tendências
político-organizativa em relação a uma central; e de um Partido dos
Trabalhadores (PT) como partido de quadros e de massa, fincado em seu
início, fundamentalmente, nos centros urbanos a partir de São Paulo,
mas avançando para o campo. Ao mesmo tempo crescia o movimento
dos trabalhadores rurais pela Reforma Agrária, apresentando um fato
novo que foi a organização do MST (LOPES, 2005). Nesse momento,
os assistentes sociais, além de avançarem em sua própria organização
como categoria profissional, rumo à organização sindical, encontraram
um terreno fértil para se desenvolverem no trabalho profissional,
portanto, como assalariados nas organizações da classe trabalhadora;
um trabalho realizado, fundamentalmente, a partir de instituições
(tradicionais) empregadoras de assistentes sociais abertas a essa
tendência da prática profissional e com base na articulação com os
movimentos sociais populares da classe trabalhadora, incentivando
os processos organizativos e apoiando as suas lutas e reivindicações;
mas, também, em instituições de organização autônoma da classe
trabalhadora, como os sindicatos, por exemplo. (CARDOSO; LOPES,
2009, p. 464-465).

O movimento dos operários e as lutas sociais, durante o fim da década


de 70 e início da década de 80 no Brasil, estavam crescendo, e em nível mundial
iniciou a ascensão do projeto neoliberal, sendo que no país se efetivou somente
em 1990. Para Antunes (2006), este projeto se fortaleceu, criando empecilhos e
obstáculos para a continuidade do progresso e da perspectiva de emancipação
dos trabalhadores, o movimento dos trabalhadores, diante da reestruturação da
produção e das relações de trabalho e ideologia neoliberal, que vêm acabando com
direitos que a classe trabalhadora conquistou ao longo de sua história de lutas.

145
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

E
IMPORTANT

O Projeto Neoliberal teve seu início no ano de 1979, com a eleição de Margareth
Thatcher para governar a Inglaterra.

No Brasil, após o surgimento e fortalecimento do modelo conservador,


os movimentos sociais, que tinham como objetivo a busca de uma sociedade
emancipatória e livre, começaram a declinar. O Serviço Social reagiu a esse modelo,
através da hegemonia da profissão pelo pensamento teórico de Marx.

O projeto teórico-metodológico do Serviço Social, fundamentado na teoria


marxista, teve um avanço nas condições objetivas de atuação, nos espaços de
organização da classe trabalhadora, porém no governo do Presidente Luis Inácio
Lula da Silva tornou-se mais complexo. Essa complexidade de atuação profissional
em um governo que teve total apoio das organizações de classe, para ter condições
de governabilidade, não conseguiu romper com os paradigmas do modelo
conservador e implantar o sistema socialista, que sempre defendeu, mesmo com a
implantação de políticas públicas para beneficiar as classes subalternas.

Entre as organizações de classe, que objetivam a mediação dos interesses


dos trabalhadores no país, é notável que o Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra (MST) foi um dos que conseguiu manter o seu projeto emancipatório na
perspectiva de uma igualdade na divisão das terras, e também no combate entre
as diferenças do campo e da cidade. A CUT, e outras centrais de trabalhadores,
devido ao modelo de flexibilização e terceirização da produção, tiveram sua
estrutura ideológica fragmentada, decorrente de vários fatores, como, por
exemplo: a demissão em massa, novos recursos tecnológicos, terceirização da força
de trabalho, entre outros que já foram apontados.

FIGURA 38 – MST

FONTE: Disponível em: <http://militanciaviva.blogspot.com.br/2013/11/o-


pt-trocou-um-projeto-de-brasil-por-um.html> Acesso em: 4 jan. 2015.

146
TÓPICO 4 | A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA
CLASSE TRABALHADORA E NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS

Como você já estudou anteriormente, todas essas transformações na


reestruturação do modelo de produção e nas relações de trabalho tiveram um
grande choque sobre a classe trabalhadora, refletindo nas suas organizações de base.
O Serviço Social se torna uma profissão relevante neste processo, principalmente
nas condições objetivas de seu exercício profissional, fundamentado no Projeto
Ético-Político Profissional, e que objetivava a emancipação da sociedade na sua
totalidade.

Essas organizações de base se fortaleceram e vincularam-se com o projeto


ético-profissional, conforme seus interesses societários, constituindo-se como os
sindicatos de categorias profissionais e/ou de área (têxtil, metalúrgicos, professores
etc.), os movimentos sociais urbanos e rurais (MST, Movimento Nacional pela Luta
da Moradia – MNLM, Movimentos de Mulheres, Movimentos dos Atingidos pelas
Barragens, Movimento Estudantil), associações de profissionais e outros.

Com a efetivação do modelo neoliberal no Brasil, no início dos anos de 1990,


os espaços institucionais que atuavam com as políticas sociais enfrentaram um
novo redirecionamento da implementação dessas políticas, pois o neoliberalismo
tem como foco a privatização das políticas públicas através de sua mercantilização,
com a transferência das competências que eram de responsabilidade do Estado
para o setor privado.

Para minimizar as demandas causadas pelo neoliberalismo, o Estado


institui programas, com princípios enraizados no assistencialismo e ações
fragmentadas que atendem às necessidades imediatas da população, sendo
que muitas organizações sociais foram agregadas a estes programas, devido às
necessidades das classes subalternas.

Com a dominação do modelo neoliberal, o Serviço Social tem uma atuação


nas organizações da classe trabalhadora voltada para duas grandes perspectivas,
que permeiam tanto os projetos profissionais como os societários, que estão sendo
disputados no momento atual, pelas classes sociais antagônicas. As perspectivas
são essas:

• Perspectiva de resistência ao modelo capitalista, através do fortalecimento e


emancipação da classe trabalhadora e de toda a sociedade.
• Perspectiva da continuidade do sistema capitalista, através da subalternidade
da classe trabalhadora.

Pode-se afirmar que através dessas perspectivas, os interesses profissionais


e societários lutam pela hegemonia política das organizações de base da classe
trabalhadora, principalmente no interior dos movimentos sociais, sendo que
terá a hegemonia aquela que tiver maior relação de forças na disputa política na
sociedade.

147
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

FIGURA 39 – HEGEMONIA DE PODER

FONTE: Disponível em: <http://cassfac.blogspot.com.br/2011/02/mess-


movimento-estudantil-de-serviso.htmlm/>. Acesso em: 5 jan. 2015.

A terminologia sobre hegemonia nas relações sociais da sociedade é


bastante discutida por Gramsci, sendo uma possibilidade de as classes minoritárias
e subalternas romperem com o predomínio ideológico da classe burguesa. A
hegemonia ideológica, econômica, social e política da sociedade pelos trabalhadores
não acontecerá fora do contexto das mudanças de sistemas econômicos, mesmo
que não exista uma relação de vinculação entre as mesmas.

E
IMPORTANT

Para a conquista política das classes subalternas, dos trabalhadores, é fundamental


que exista a ORGANIZAÇÃO E A CONSCIÊNCIA DE CLASSE.

O Serviço Social passou a atuar como profissão, nas organizações de


classes, no desenvolvimento de proposta para capacitação e formação política e
organizativa de todas as classes de trabalhadores, para que as mesmas pudessem
intervir de maneira politizada, possibilitando ações estratégicas e táticas nas críticas
ao sistema capitalista e sua ideologia, agindo na elaboração de novas e próprias
técnicas de oposição ao enfrentamento dos interesses da classe burguesa, como
também de superação da exploração e opressão a que essa classe trabalhadora está
submetida. E na ampliação de estratégicas que possuam o foco no fortalecimento
dessas organizações de classe, que resulte na emancipação de toda a sociedade.

148
TÓPICO 4 | A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA
CLASSE TRABALHADORA E NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS

Os profissionais que atuam nas organizações visam à conquista da


hegemonia, fundamentada no pensamento teórico de Gramsci, como também a
teoria marxista. Gramsci (1978) descreve:

(...) entende que “uma massa humana não se distingue e não se torna
independente por si, sem organizar-se; [...] e não existe organização
sem intelectuais, isto é, sem organizadores e dirigentes [...]”. Isso supõe
um trabalho sistemático de caráter educativo-organizativo para elevar
intelectualmente grupos subalternos cada vez mais amplos e suscitar
o surgimento de intelectuais de tipo novo, que emergindo das massas,
permaneçam a elas vinculados. (GRAMSCI, 1978, p. 21).

O trabalho do assistente social nessas organizações se dá em duas


dimensões, sendo que na primeira realiza seu trabalho em campos ocupacionais
das instituições empregadoras, que contratam de forma autônoma os profissionais
de Serviço Social; e na segunda, desenvolve seu trabalho nas instituições e nos
movimentos de organização com vínculo trabalhista, ou seja, trabalhador
assalariado.

QUADRO 2 – DEFINIÇÃO DE TRABALHADOR AUTÔNOMO X EMPREGADO


Vínculo Conceito
É o profissional que realiza sua atividade profissional sem
vínculo empregatício, de forma eventual e não habitual.
Autônomo Ex: Advogado, que mantém seu próprio escritório, com
diversos clientes, o os próprios assistentes sociais que prestam
assessoria e consultoria técnica, sem vínculo empregatício.
É o trabalhador que está subordinado às regras e ordens,
sendo uma pessoa física que trabalha cotidianamente e/
Empregado
ou periodicamente, com vínculo empregatício, conforme a
Consolidação das Leis Trabalhistas.

FONTE: A autora
 
Conforme foi estudado nesse tópico, nas organizações de classe, desde
1990, não houve avanço da classe trabalhadora nos seus objetivos de emancipação
da sociedade, tanto em nível político como social, pois o controle do modelo
de produção e do pensamento neoliberal foi mais imbatível que o conjunto de
trabalhadores. Para o Serviço Social, o projeto ético-político-profissional teve outras
perspectivas de intervenção, possibilitando novas ações de atuação profissional.
Como, por exemplo, a Lei Orgânica da Assistência Social.

Dessa forma, o assistente social, nas organizações de classe e/ou nos


movimentos sociais, pode desenvolver suas atividades profissionais de forma
autônoma, a partir das demandas de cada movimento organizado. Devido às relações
internas e à estruturação organizacional dessas organizações, alguns profissionais,
na atuação e desenvolvimento de suas funções no cotidiano, não se reconhecem

149
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

como profissionais do Serviço Social, mas o que se precisa levar em consideração,


mediante a identidade profissional, são os procedimentos reais da profissão diante
das demandas sociais de cada movimento. Sendo que essas demandas necessitam
quase sempre de uma interdisciplinaridade, composta por profissionais de diversas
áreas.

FIGURA 40 – TRABALHADOR X PATRÃO

FONTE: Disponível em: <http://quadrinholatra.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html>.


Acesso em: 5 jan. 2015.

O assistente social pode desenvolver as ações e/ou as estratégias, nas


organizações da classe trabalhadora, como autônomo ou então assalariado,
focando em alguns dos objetivos, como: realizar a prestação de assessoria técnica
e política aos segmentos da classe trabalhadora, elaborar em conjunto com os
trabalhadores ações socioeducativas e de formação, que contribuam na estruturação
de um conjunto de experiências de todos os segmentos já organizados, realizar
pedagogicamente um trabalho em conjunto com as organizações de classe, que
auxilie na formação política dos trabalhadores, para que eles sejam os protagonistas
de uma nova ordem hegemônica na sociedade.

Neste contexto, as autoras Cardoso e Lopes afirmam que:

É fundamental ressaltar a importância de todas essas estratégias de


luta e resistência, sobretudo de união e organização dos trabalhadores
e dos expropriados dos mais ínfimos direitos, mas é indispensável
que tenhamos clareza de que a efetiva solução para o agravamento da
questão social nos países de capitalismo dependente só é possível com
a construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo, que garanta
a emancipação da humanidade e supere, portanto, as desigualdades
sociais e a questão social. Uma tarefa que é, fundamentalmente, da classe
trabalhadora, na qual as práticas profissionais, enquanto expressão da
práxis, têm papel relevante. (CARDOSO; LOPES, 2009, p. 475).

150
TÓPICO 4 | A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES DA
CLASSE TRABALHADORA E NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS

DICAS

Para você, acadêmico(a), aprofundar seu conhecimento diante deste tópico, é


fundamental a leitura indicada abaixo:

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências e lutas dos
trabalhadores da Grande São Paulo (1970-80). 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

LEITURA COMPLEMENTAR

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES


PRIVADAS NÃO LUCRATIVAS

Mônica Maria Torres de Alencar

O processo da contrarreforma do Estado brasileiro com a transferência dos


serviços sociais para o “terceiro setor” repercute na profissão de Serviço Social,
no seu espaço ocupacional, nas condições e relações de trabalho, criando novas
funções e competências. Mas, quais os elementos desse processo?

Historicamente, o Serviço Social constituiu-se como uma especialização


do trabalho coletivo, na divisão sociotécnica do trabalho, no quadro do
desenvolvimento das relações sociais capitalistas (IAMAMOTO, 1982). Para Netto
(1992), o surgimento do Serviço Social como profissão vincula-se às peculiaridades
da “questão social” em um momento histórico específico, o da ordem monopólica,
a partir do qual se internaliza na ordem econômica, passando a ser alvo das
políticas sociais. No marco histórico de crescente potencialização das contradições
do capitalismo, alterou-se a dinâmica da sociedade, a qual redimensionou e
refuncionalizou o Estado.

151
UNIDADE 2 | O SERVIÇO SOCIAL E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Entre os principais elementos, situa-se o argumento de sua base de


sustentação e legitimação através da generalização e institucionalização dos
direitos sociais (NETTO, 1993).

Durante esses anos, foi articulado um padrão de regulação social pautado


no reconhecimento político dos direitos do trabalho, dando origem a um amplo
processo de institucionalização do mercado de trabalho e de um sistema de
proteção social calcado no Welfare State ou Estado-Providência. Abriu-se o espaço
para a interiorização do conceito de direito e proteção social com a eclosão da
perspectiva de cidadania nos termos de Marshall (1967), incluindo, além dos
direitos civis, os direitos políticos e sociais. Passaram a ganhar força as concepções
que feriam o primado do liberalismo pautado na autorregulação do mercado e
legitimavam, apoiadas nas proposições keynesianas, a interferência do Estado nos
processos econômicos e sociais.

Os chamados “anos dourados” se caracterizaram pela forte intervenção


do Estado, que tornou-se o verdadeiro mestre de obras do processo global
de reprodução do capital (BIHR, 1998, p. 113). No marco do chamado período
fordista-keynesiano, ampliou-se e diversificou-se a intervenção do Estado: no
plano econômico, além de suas funções de regulação conjuntural e de planificação,
garantiu a produção e a socialização de um grande número de meios de produção;
no plano social, garantiu a reprodução social da força de trabalho mediante a
contratualização do salário direto, a instituição dos salários indiretos e ampla
garantia das necessidades sociais, tais como habitação, saúde, educação, formação
profissional, social e cultural; no plano político, o Estado criou as condições
institucionais de um “equilíbrio de compromisso” entre o conjunto das classes
sociais (BIHR, 1998, p. 113). Tornou-se possível compatibilizar a dinâmica da
acumulação e da valorização capitalista com a garantia de direitos políticos e
sociais mínimos (NETTO, 1993), no marco de um padrão de desenvolvimento
econômico, sustentado por uma onda longa expansiva (MANDEL, 1982), o que
tornou viável o financiamento da estrutura sociopolítica peculiar ao Welfare State.

O fato é que, por meio das políticas sociais, o Estado intervém sobre as
sequelas da “questão social”, compondo áreas e campos através da intervenção de
uma “instância política que, formal e explicitamente, mostrava-se como expressão
e manifestação da coletividade” (NETTO, 2001, p. 30). Nesse contexto histórico,
funda-se o espaço sócio-ocupacional para a configuração do mercado de trabalho
do assistente social, determinado por um conjunto de demandas específicas que
se adensam a partir de condições histórico-sociais particulares, que abrem “espaço
em que se possam mover práticas profissionais como a dos assistentes sociais”,
ou seja, “cria e funda a profissionalidade do Serviço Social” (NETTO, 2001, p. 69).
No marco do conjunto de procedimentos técnico-operativos, que compõem as
políticas sociais.

Ora, o conjunto de mudanças no padrão de resposta à questão social nas


últimas décadas tem implicado o reordenamento do espaço socioprofissional, à
medida que reconfigura de forma significativa o campo das políticas, mediante

152
as tendências de privatização, mercantilização e refilantropização das formas de
enfrentamento da “questão social”.

A retração do Estado quanto à responsabilidade no enfrentamento da


questão social, mediante a transferência de responsabilidades do Estado para
o “terceiro setor”, identificado erroneamente como a sociedade civil, altera
substantivamente a orientação e a funcionalidade das políticas sociais, e, por
consequência, a profissão sofre alterações na sua demanda e no seu campo
de atuação, na sua modalidade de intervenção e no seu vínculo empregatício
(MONTAÑO, 2002).

O primeiro elemento a assinalar é que aquele espaço profissional-


ocupacional dos assistentes sociais, constituído sob os princípios da politização
da questão social, passa a ceder lugar às chamadas organizações sociais, imbuído
dos princípios da ajuda e solidariedade e que pode levar à desprofissionalização
do atendimento social. Para Iamamoto (2005), os projetos sociais das organizações
privadas são movidos pelo interesse privado em detrimento do interesse público.
Ocorre que, sendo o atendimento voltado para grupos e segmentos sociais
específicos, ele tem por base os princípios da seletividade e da elegibilidade do
atendimento social. O trabalho do assistente social passa a ter, portanto, sentidos
e resultados sociais bem distintos, o que altera o significado sócio do trabalho
técnico-profissional, bem como ainda seu nível de abrangência.

Por outro lado, observa-se que, com a tendência de redução do Estado, tem-
se a diminuição do espaço profissional do assistente social mediante os processos
de diminuição das despesas estatais na órbita da esfera social, acarretando a
racionalização dos gastos sociais com as políticas sociais, com implicações nos
postos de trabalho para o assistente social na esfera pública, com a diminuição de
demandas, sucateamento do aparato organizacional e institucional, a precarização
das condições de trabalho, principalmente em face do perigo da terceirização.

Quanto ao mercado de trabalho aberto no chamado “terceiro setor”, este


está muito “longe de se constituir como um canal minimamente expressivo e estável
de absorção de profissionais (não só de assistentes sociais)”, dado que “apostar nas
ONGs como saída profissional é desconhecer os graves riscos de pluriemprego”
(NETTO, 1996, p. 122). De fato, a inserção dos assistentes sociais nestes espaços
sócio-ocupacionais tende a ser caracterizada pela precariedade das inserções
empregatícias, predominando a flexibilização das relações contratuais, marcada
pela rotatividade de emprego, multiplicidade dos vínculos de trabalho e níveis
salariais reduzidos, jornada de trabalho de tempo parcial (SERRA, 2000, p. 182).
Para Netto (1996), configura-se uma processualidade que produz a fragmentação
do mercado de trabalho que pode, inclusive, acarretar a desagregação profissional.
A crescente segmentação do mercado de trabalho estabelece uma diferenciação nas
condições de trabalho nas instituições estatais e nas da iniciativa privada e alterando
as atribuições e papéis profissionais, efetivando numa direção conciliadora e/ou
numa perspectiva doutrinadora (MONTAÑO, 2002). [...]
FONTE: Disponível em: <file///C:/Users/Public/Pictures/Downloads/5_-_Texto-base_V%20(3).
pdf>. Acesso em: 5 jan. 2015.

153
RESUMO DO TÓPICO 4
• No Brasil, através de um aprofundamento teórico-crítico da formação
profissional, os assistentes sociais formulam uma crítica aos modelos de
processos de trabalho, que eram aplicados pelos profissionais de Serviço Social,
apontando para novas concepções históricas de emancipação profissional e
social, envolvendo toda a sociedade.

• O movimento dos operários e as lutas sociais, entre o fim da década de 70 e


início da década de 80, no Brasil, estavam crescendo, e em nível mundial iniciou
a ascensão do projeto neoliberal.

• No Brasil, após o surgimento e fortalecimento do modelo conservador, os


movimentos sociais começaram a declinar.

• O Serviço Social reagiu a esse modelo, através da hegemonia da profissão pelo


pensamento teórico de Marx.

• O projeto teórico-metodológico do Serviço Social, fundamentado na teoria


marxista, teve um avanço nas condições objetivas de atuação, nos espaços de
organização da classe.

• Entre as organizações de classe, que objetivam a mediação dos interesses dos


trabalhadores no país, é notável que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST) foi um dos que conseguiu manter o seu projeto emancipatório.

• A CUT, e outras centrais dos trabalhadores, devido ao modelo de flexibilização


e terceirização da produção, tiveram sua estrutura ideológica fragmentada.

• A hegemonia ideológica, econômica, social e política da sociedade pelos


trabalhadores não acontecerá fora do contexto das mudanças de sistemas
econômicos, mesmo que não exista uma relação de vinculação entre as mesmas.

• O assistente social pode desenvolver as ações e/ou as estratégias, nas organizações


da classe trabalhadora, como autônomo ou então assalariado.

154
AUTOATIVIDADE

1 Como profissional do Serviço Social, descreva quais as perspectivas que


o assistente social deve ter para executar os projetos prioritários numa
organização da classe trabalhadora.

2 Descreva uma organização de classe dos trabalhadores, citando seus


princípios.

155
156
UNIDADE 3

O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS


POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender o conceito de políticas públicas;

• analisar as políticas públicas;

• entender os ciclos das políticas públicas;

• compreender os conceitos das dinâmicas internas das políticas públicas;

• identificar teoricamente os problemas sociais da atualidade;

• entender o papel das políticas públicas na minimização dos problemas


sociais;

• avaliar o desenvolvimento das políticas públicas no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 3, última unidade deste Caderno de Estudos, está dividida em
quatro tópicos. Serão apresentados os conceitos de políticas públicas para
que o acadêmico consiga reconhecer os sujeitos e atores que nelas estão en-
volvidos e o papel do Serviço Social como profissão. Para um melhor apro-
fundamento do conteúdo e fixar melhor seus conhecimentos, no final de cada
tópico você terá oportunidade de realizar as atividades propostas.

TÓPICO 1 – CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

TÓPICO 2 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE


EFETIVAÇÃO

TÓPICO 3 – AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES

TÓPICO 4 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS


DO ESTADO BRASILEIRO

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 1

CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico serão apresentados os principais conceitos teóricos existentes


sobre as políticas públicas implementadas no Brasil, no sistema capitalista. Como
foi apresentado no decorrer deste caderno, nas unidades anteriores, o Serviço Social,
como profissão, em sua maioria está inserido nas políticas públicas. Diante disso,
é de fundamental importância compreender alguns paradigmas que envolvem a
atuação do profissional na execução dessas políticas: conceitos principais, sujeitos
e atores, análises do desenvolvimento sistêmico e a participação popular com as
inovações nas políticas públicas.

Esses paradigmas são importantes, pois irão subsidiar teoricamente a


atuação prática do assistente social em todas as esferas dos setores públicos, tanto
na elaboração, gestão, implementação e/ou execução das políticas públicas. As
reflexões sobre as mesmas são de fundamental importância para compreender
o papel do Estado diante das demandas sociais que afetam a sociedade
contemporânea.

Os problemas sociais, oriundos das desigualdades sociais do capitalismo,


estão sendo tratados como um conjunto de questões que resultam em ações
articuladas em todos os níveis governamentais.

Essas ações governamentais resultam nas políticas sociais e têm prioridade


conforme decisões ideológicas de cada nível de governo. Podem ser consideradas
as políticas públicas de maior relevância: educação, saúde, assistência social,
trabalho e geração de renda, meio ambiente, habitação, entre outras.

O Serviço Social, como profissão inserida na divisão sociotécnica do


trabalho, tem um papel fundamental junto ao Estado no desafio de implementação
das políticas públicas para combater as demandas sociais da atual conjuntura
econômica, social e política do país.

159
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

2 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS, CICLOS


E ANÁLISES NO MODELO SISTÊMICO

As políticas públicas estão inseridas em um conjunto de ações


governamentais que permeiam por toda a sociedade, através de decisões e
diretrizes nas esferas sociais, urbanísticas, infraestrutura, ambiental, econômica,
cultural, dentre outras.

Esse conjunto de decisões e diretrizes públicas se torna uma maneira de


planejar a atuação governamental, com o objetivo de ordenar e coordenar os
recursos financeiro, físico e pessoal destinados aos objetivos planejados, e que são
“socialmente relevantes e politicamente determinados”. (BUCCI, 2002, p. 241).

Diante disso, pode-se afirmar que as políticas públicas se tornam


instrumentos de organização governamental, com propriedades específicas,
conforme aponta Kauchakje (2011, p. 76):

• Supõem a fixação de metas, diretrizes ou planos governamentais;


• Distribuem bens públicos;
• Transferem bens desmercadorizados;
• Estão voltados para os interesses públicos, que são pautados nos
embates entre interesses sociais contraditórios, ou seja, sobrevivência
versus desejo de obtenção de capital e lucro;
• São a base de legitimação do Estado.

Para uma melhor compreensão da definição de políticas públicas, se


faz necessário, inicialmente, definir alguns conceitos importantes que estão
relacionados com as mesmas.

Um dos conceitos, que implica na ocorrência de diferentes concepções, é o


de sociedade. Podem ser citados alguns pensadores clássicos que descrevem sobre
essa questão, como Émile Durkheim, Marx Weber e Karl Marx, todos com uma
visão conservadora ou crítica da sociedade capitalista do século XIX.

Émile Dukheim (1858-191): Para Durkheim, a sociedade é um conjunto


de regras e normas, padrões de conduta, pensamentos e sentimentos inexistentes
na consciência individual; os sentimentos não estão inseridos no coração, mas na
experiência social, concretizada nas instituições, que têm o objetivo de instituir
valores de referências. Ou seja, tudo está moldado antes de nascermos, e após a
morte não irá junto para o túmulo.

As regras, normas e instituições são definidas por leis sociais, que têm
características das leis naturais, e dirigem os fenômenos sociais, independente
da vontade dos indivíduos.

Durkheim concebe a sociedade como um “todo harmônico”, onde existe

160
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

um bem comum, tal qual um organismo; ele chega a dizer que, da mesma
maneira que num corpo vivo certos órgãos ou tecidos recebem maior irrigação
sanguínea por desempenharem funções vitais, na sociedade, certas classes que
exercem ocupações fundamentais devem necessariamente ser privilegiadas. Assim
se explicaria inclusive a concentração de poder e riquezas nas mãos da burguesia
industrial, classe à qual o autor, não por acaso, estava ligado.

Max Weber (1864-1920): Weber não enxerga a sociedade como algo além ou
acima do indivíduo; os padrões, as convenções, limites, regras etc. se constroem e se
modificam pelas relações sociais estabelecidas no cotidiano dos indivíduos.

Tem a ver com as motivações dos indivíduos e com as relações que atribuem
às suas ações com quem interagem. A sociedade é constituída nas relações sociais.

Para o autor: “As ideias coletivas, como o Estado, o mercado econômico,


as religiões, só existem porque os indivíduos orientam reciprocamente suas
ações, estabelecendo, dessa maneira, relações sociais que têm de ser mantidas
continuamente pelas ações individuais.”

A visão weberiana tem a ver com a tradição liberal à qual se filia, isto é, a
ênfase dada ao indivíduo como sendo o grande responsável com seus méritos e
fragilidades por tudo o que existe, inclusive pela posição ocupada no quadro de
classes sociais.

Karl Marx (1818-1883): Marx diverge da concepção weberiana, não


priorizando o indivíduo e suas motivações; sem enfatizar as condições materiais
das quais parte, não se chega a nenhuma conclusão. Não é qualquer relação social
que permite entender a sociedade, mas as suas relações de produção.

O autor estava particularmente preocupado em estudar a sociedade


capitalista e não em elaborar uma teoria geral sobre ela – esta era uma preocupação
de Durkheim –, nesta sociedade as relações de produção se caracterizam pela
propriedade privada dos meios de produção (máquinas, ferramentas, capital
etc.); os detentores dos mesmos se acham em condições de explorar o trabalho
daqueles que não são proprietários e que não possuem nada além da força de
trabalho, usualmente oferecida em troca de um salário, onde a exploração se
configura através da mais-valia absoluta, o trabalho não pago ao trabalhador
que passa a ser capital acumulado pelo outro lado da relação: “o patrão”,
representante da classe capitalista (a que acumula capital).

É essa relação que permite, portanto, a existência dessa sociedade. Sendo


assim, sociedade para Marx não é um todo harmônico, onde as classes devem
cooperar para o perfeito funcionamento do todo.
FONTE: Adaptado de: <http://www2.ifrn.edu.br/ppi/lib/exe/fetch.php?media=textos:cap02:03_
classicos_sociologia_sociedade.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2015.

161
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Então, pode-se concluir que sociedade é a união de grupos sociais,


formados por pessoas com interesses diversos, porém completam-se atendendo
às necessidades coletivas, e que têm como característica principal a diversidade e
diferenciação social de seus componentes. Ou seja, as diferenças entre sexo, idade,
estado civil, nacionalidade, religião, profissão, renda, como de valores, ideias,
ideologias e outros atributos que estão inseridos nos indivíduos.

Essa diferenciação individual do conjunto que compõe uma sociedade


originará contribuições para a satisfação das necessidades e interesses para a vida
coletiva.

FIGURA 41 – SOCIEDADE

FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/


Sociedade1.jpg>. Acesso em: 9 jan. 2015.

Já o conceito de interesse está vinculado a qualquer valor considerado


importante, que seja útil ou lucrativo em todos os segmentos, como moral, social e
material, gerando assim necessidades de bens materiais ou ideais.

QUADRO 3 – DIFERENÇA ENTRE NECESSIDADES DE BENS MATERIAIS OU IDEAIS

Não são somente aquelas que se mencionam em


relação à sobrevivência física da humanidade, como a
Necessidades materiais moradia, alimentação, vestuário, e que dizem respeito
também aos nossos desejos de consumo, de posse, de
ostentação.

162
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

São aquelas que fazem alusão ao crescimento e


desenvolvimento cultural e intelectual, religioso,
através da participação em eventos e debates
Necessidades ideais
filosóficos e políticos, participação de cultos religiosos,
independente da religião, ser coerente com seus
pensamentos ideológicos.

FONTE: A autora.

No determinado grupo social e/ou na sociedade em sua totalidade, os


componentes e os grupos se associam, se separam e se dissociam, resultando em
processos sociais associativos e não associativos (dissociativos).
 
Ao estudar os processos associativos, definem-se como cooperação,
convivência e consenso grupal. E nos processos dissociativos, se firmam através da
relação de divergências na oposição e conflitos, e que se manifestam de diferentes
maneiras.

Os principais processos sociais associativos são: Cooperação, acomodação


e assimilação. E os principais processos sociais dissociativos são: Competição e
conflito.

Estudando cada um desses processos se compreenderá as relações internas


de sociedade.

Cooperação

FIGURA 42 – COOPERAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://sociologiacemtn.blogspot.com.br/2011/02/


apostila-1-bimestre.html>. Acesso em: 10 jan. 2015.

163
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

A cooperação é a configuração da interação social de diversos grupos e/


ou comunidade, diferentes indivíduos cogitam, através do trabalho, um resultado
que tenha um mesmo fim. Vários exemplos a partir da organização de classe serão
citados: reunião com pais de uma unidade infantil de ensino, para participarem na
organização de um almoço festivo para arrecadar fundos; reunião de vizinhos para
limpar uma área pública; mutirões de beneficiários de programas habitacionais
para construírem suas próprias casas, associação de moradores etc.

Acomodação

FIGURA 43 – ACOMODAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-O1Jt3P2n5sQ/


TsfTriDAoHI/AAAAAAAAAAc/Qn8Pygtd37E/s1600/trite2.jpg>. Acesso
em: 11 jan. 2015.

A acomodação acontece quando o ser humano não contesta a situação


que lhe é imposta pela sociedade na sua totalidade, sem que ocorram mudanças
internas. Um exemplo é a manipulação do pensamento das pessoas que ocorre
pelos meios de comunicação.

Assimilação

164
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 44 – ASSIMILAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.tudum.com.br/como-ensinar-uma-


crianca-a-andar/>. Acesso em: 11 jan. 2015.

A assimilação ocorre quando os seres humanos, independente da sua


condição social, se tornam semelhantes, através de transformações internas
nas pessoas, ou de um grupo, na forma de pensar e agir. Um exemplo é o
desenvolvimento físico de uma criança.

Competição

FIGURA 45 – COMPETIÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.sobreadministracao.com/wp-content/


uploads/2011/03/mercado-de-trabalho.jpg>. Acesso em: 11 jan. 2015.

A competição ocorre quando os seres humanos lutam por interesses e


objetivos próprios, lutando um contra o outro e buscando cada qual seu espaço
mais elevado, culturalmente, politicamente, financeiramente, profissionalmente,
entre outros, na sociedade. Alguns exemplos, como: vaga no mercado de trabalho,
disputa no esporte, conquista de poder.

165
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Conflito

FIGURA 46 – CONFLITO

FONTE: Disponível em: <http://yurileveratto.com/po/articolo.php?Id=176>.


Acesso em: 11 jan. 2015.

Os conflitos sociais, como os outros processos sociais, são considerados


formas de interação social que abrangem os seres humanos como indivíduos,
organizações coletivas, grupos culturais, étnicos, entre outros. Esse processo se
dá pelos choques entre interesses das classes sociais antagônicas nos diferentes
segmentos da sociedade.

Analisando a estrutura organizacional da sociedade, pode-se perceber que


a mesma está interligada pela vivência coletiva. Apesar de existirem interesses
diferentes, se faz necessário que os indivíduos realizem alguns consensos no que
diz respeito às regras e limites para uma maior e melhor coletividade.

A diferença existente entre os conflitos sociais e as competições se dá pela


possibilidade do uso da violência para coibir as situações de confrontos, ou seja,
de guerras.

UNI

Os consensos entre as organizações coletivas se dão através de acordos


construídos conforme seus princípios, valores e normas...

166
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Nem sempre esses consensos acontecem pacificamente, e para administrá-


los internamente, nos conflitos sociais, se faz por meio da coerção e da política.
A coerção é o ato de conter, de reprimir, de frear. O Estado, através da política,
utiliza-se do seu poder soberano para exercer essa prática através de sua força pela
coerção policial.

FIGURA 47 – COERÇÃO POLICIAL

FONTE: Disponível em: <https://andradetalis.files.wordpress.com/2013/03/


polc3adcia-joga-spray-de-pimenta-em-fotografos-jornalista-e-ativistas-dos-
movimentos-sociais-que-defendem-objetivo-dispersar-manifestantes-qualquer-
maneira-vale-chute-pontapc3a9-tiros-de.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2015.

A política pública tem um papel fundamental no controle dos conflitos,


através da construção de consensos entre os interesses antagônicos dos setores
envolvidos. O autor Schmitter (1984, p. 34) define o que é política de forma clara e
simples. “Política é a resolução pacífica dos conflitos”.

Analisando teoricamente este conceito sobre política, conclui-se que é um


conceito amplo e não tem muitas discriminações. Para Rua (1998), se faz necessário
delimitar mais, sendo que, para a autora, política é um conjunto de métodos formais
e informais que se concretizam nas esferas de poder, e que visam à solução pacífica
dos conflitos que envolvem tanto o poder como os bens públicos.

No senso comum, a grande maioria das pessoas define política como sendo
somente no período eleitoral, onde a disputa pelo cargo eleitoral se dá na promessa
e/ou proposta de uma melhor qualidade de vida social. Porém, muitos desses
candidatos não conhecem ou se fazem de desentendidos a respeito da dimensão
política que envolve o setor público, e usam o eleitor como trampolim para sua
ascensão pessoal e política.

Diante desse contexto, relacionam as ações públicas com as promessas


eleitorais, tornando as pessoas desacreditadas da “política”, e que ficam à mercê
desses processos. Conforme vimos nas unidades anteriores, o capitalismo se
reorganiza conforme seus interesses, e no campo governamental acontece através
das políticas públicas.

167
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

As políticas públicas se referem às elaborações, articulações e reformulações


de decisões realizadas pelo poder público, sendo que o desenvolvimento das
mesmas acontece nos setores públicos, buscando uma atuação coletiva.

QUADRO 4 – QUAL A DIFERENÇA ENTRE DECISÃO POLÍTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS?

DECISÃO POLÍTICA POLÍTICA PÚBLICA


É o processo que resulta na implementação das diversas
ações oriundas das decisões políticas escolhidas. Mesmo
que a política pública esteja envolvida pelas decisões
Significa o resultado das opções de
políticas, nem todas as decisões políticas se tornam
diversas alternativas, propostas pelos
políticas públicas. Como exemplo de decisão política e
intérpretes envolvidos, conforme o grau
que não se torna uma política pública, é o aumento da
de importância e dos objetivos a que se
passagem de ônibus municipais, sendo uma decisão entre
pretende chegar, bem como dos meios
pessoas interessadas do poder público e privado, e através
disponíveis para alcança-los.
de decreto do gestor público se é executado. Mas o SUAS,

SUS, os diversos programas de financiamento da educação
de terceiro grau, ou então os financiamentos para cursos
de ensino técnico, são políticas públicas.

FONTE: A autora.

Mesmo que as políticas públicas se relacionem com os setores privados


e sociais, como, por exemplo, a família, a religião, o mercado, na elaboração e
implementação elas não são privadas, continuam sendo públicas, e tendo o Estado
poder legítimo sobre as mesmas, pois envolve instrumentos, conteúdos e aspectos
de intervenção institucional pública. Os instrumentos são as formas utilizadas
para alcançar um objetivo, os conteúdos são todos os objetivos que estão inseridos
no contexto das políticas públicas, e os aspectos são os processos institucionais
necessários para efetivação das mesmas.

Queiroz (2011, p. 97) sintetiza a política pública como sendo:

Em síntese, as políticas públicas são, no Estado democrático de


direito, os meios que a administração pública dispõe para a defesa
e a concretização dos direitos de liberdade e dos direitos sociais dos
cidadãos, estabelecidos numa Constituição Federal.

168
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

E
IMPORTANT

As políticas públicas se tornam o resultado das ações das decisões políticas,


objetivando a resolução de conflitos sociais.

Para entender e compreender o papel do Serviço Social nas políticas


públicas contemporâneas é necessário esclarecer qual é a importância de uma
análise das políticas públicas. O autor Wildavski (1968, p.15) expõe:

[...] o papel da análise de política é encontrar problemas onde soluções


podem ser tentadas, ou seja, “o analista deve ser capaz de redefinir
problemas de uma forma que torne possível alguma melhoria”. Portanto,
a análise de política está preocupada tanto com o planejamento como
com a política.

Nesse sentindo, a análise de política pública é uma tarefa multidisciplinar,


que tem como objetivo analisar as ações desenvolvidas no governo e suas
consequências para a sociedade.

Para os autores Ham e Hill (1985), o estudo sobre as análises das políticas
públicas está classificado em duas classes, sendo elas:

• A classe que tem como objetivo formular, programar e avaliar os conhecimentos


produzidos nesses processos de elaboração das ações políticas, resultando numa
orientação extremamente descritiva.

• A classe que está destinada a auxiliar os formuladores das políticas públicas,


adicionando conhecimento ao processo de elaboração das mesmas, e assume um
papel fundamental na orientação das decisões, tendo uma função com caráter
prescritivo ou propositivo.

E
IMPORTANT

Toda a análise da política pode ter como objetivos: aperfeiçoar o entendimento


no que se refere à política e também do processo político, e apresentar propostas para um
melhor desenvolvimento e aperfeiçoamento das políticas públicas em todos os setores e
esferas governamentais.

169
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

As políticas públicas, ao serem elaboradas, se fundamentam em várias


teorias e metodologias, sendo duas delas que se destacam:

• A primeira é o método racional-compreensivo, que está atrelado com a


macropolítica e suas análises do contexto político e institucional.

• A segunda é o método incrementalista, que se coliga à micropolítica e na


investigação de soluções para situações problemáticas mais imediatas e urgentes.

Lindblom (1981) faz uma avaliação crítica sobre o método racional-


compreensivo. Segundo ele, este método parte da probabilidade de que a
intervenção nas políticas públicas deve fundamentar-se numa ampla análise
relacionada com os problemas sociais e que crie estratégias para atender os
problemas sociais mais relevantes da sociedade, visando a implementação dos
objetivos já constituídos.

Nesse método, segundo a visão do autor, as decisões adotadas devem


levar em consideração a totalidade dos atores envolvidos, requerendo muitas
informações, metodologias e análises dos processos em execução, para conseguir
atender aos objetivos propostos. Por ser um método que determina a adaptação
dos meios e fins, o autor define como “análise política”.

O autor defende que a sociedade precisa de decisões e respostas imediatas


para a solução das demandas que são impostas pelo sistema capitalista. Diante
disso, defende que as políticas públicas estejam fundamentadas no método
incremental, pois as ações são imediatistas, sem uma análise e implementação de
programas contínuos.

Para o melhor desenvolvimento das políticas públicas, é necessário ter um


consenso em torno das duas teorias, mesmo que no método racional-compreensivo,
devido à sua complexidade, um consenso se torne mais difícil.

UNI

Faz-se necessário trabalhar com a “análise de políticas”, visando à discussão


setorial das demandas.

170
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Para Dey (1981), são identificados vários padrões de estudo sobre as


políticas públicas, que são:

• Modelo institucional: destaque é para o poder do Estado na elaboração e


implementação das políticas públicas.
• Modelo da teoria do grupo: a política é vista como artifício para obtenção de
igualdade e equilíbrio entre os diferentes interesses dos grupos.
• Modelo elitista: a política é vista como o resultado dos interesses da classe
dominante, das elites da sociedade e governamentais.
• Modelo de política racional: a política deve realizar o cumprimento das metas
planejadas, envolvendo cálculos dos valores sociais, econômicos e políticos
como ideia de eficiência no desenvolvimento das políticas públicas.
• Modelo da teoria dos jogos: a política é como um jogo, com escolhas racionais
de seus atores, tornando-se um contexto de competitividade, onde se tem que
escolher pelas opções dadas.
• Modelo incrementalista: é a continuação das políticas públicas já implantadas
e que estão sendo aplicadas, porém com algumas modificações para a sua
melhoria.
• Modelo sistêmico: a política é defendida como o resultado de um modelo ou
de um sistema político, que é um conjunto de composições e processos que se
relacionam entre si, produzindo valores para a sociedade em sua totalidade.

FIGURA 48 – MODELO SISTÊMICO

FONTE: Disponível em: <http://www.portaldodesenvolvimento.com.


br/estrategias-de-desenvolvimento-local-e-regional-clusters-politica-
de-localizacao-e-competitividade-sistemica/>. Acesso em: 22 jan.
2015.

171
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Além da classificação referenciada acima, existe ainda a definição dos tipos


de política pública, que se dá pelas formas diferentes de serem uma da outra,
sendo divididas pelos seguintes tipos:

• Políticas estabilizadoras: seu objetivo é elevar o nível de empregos, estabilizar


os preços e gerar o crescimento econômico, aumentar a renda per capita.
A efetivação dessa política acontece por dois vieses econômicos, sendo os
primeiros os fiscais, que têm como exemplo a política tributária; e por segundo,
os monetários, que têm como exemplo na política monetária o controle da oferta
do papel-moeda, as taxas de juros.

• Políticas reguladoras: o objetivo é regular a atividade econômica, através de


legislação específica e disposições administrativas, o que a tem tornado uma das
políticas regulamentadoras mais eficientes diante das concessões dos serviços
públicos para iniciativas privadas. Exemplos dessas políticas são os órgãos de
defesa e proteção ao consumidor, PROCON, que estão atuando em todo o Brasil
na defesa dos direitos dos consumidores.

• Políticas alocativas: o objetivo é oferecer bens e serviços através das políticas


públicas que são oferecidas para a população, independente da condição social.
Têm como exemplo os serviços públicos de transportes.

• Políticas distributivas: têm como objetivo as distribuições de benefícios


individuais e/ou de renda, e que normalmente são efetuadas pelo modelo
clientelista. Um exemplo utilizado para essa política é o Programa “Criança
Esperança”, onde os recursos arrecadados são distribuídos.

• Políticas compensatórias: essa política tem como objetivo atender a população


que encontra-se em vulnerabilidade social, acontece através da transferência de
renda ou de recursos materiais e tem por finalidade a garantia de direitos do
cidadão. Um exemplo de políticas compensatórias são as políticas públicas de
erradicação da pobreza, onde se pode citar o Programa Bolsa Família, sendo
esse um programa de governo, inserido em uma política pública.

As políticas públicas acontecem em um contexto marcado pelas relações


de poder entre o Estado e a sociedade. Em muitas situações se tornam tensas,
pela dimensão política que envolve os interesses coletivos e individuais de cada
segmento. Para realizar uma análise das mesmas se faz necessário compreender
os ciclos políticos, levando em consideração as suas principais dimensões e suas
complexidades.

O processo político acontece diante do ciclo de políticas, resultando


no conjunto de ações políticas que permite, assim, a identificação e análise dos
processos políticos e seus interesses.

O ciclo das políticas pode ser identificado por fases consecutivas, sendo
elas:

172
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

• A elaboração de uma agenda, que acontece quando alguma circunstância se


torna um problema para a sociedade, como também um problema político,
onde grupos de gestores públicos e sociedade civil priorizam a discussão.

• A elaboração de alternativas acontece quando o grupo ligado nas discussões


consegue envolver o problema social/político nas atividades desenvolvidas,
através de propostas para resolução do mesmo. Nem sempre as discussões
acontecem com os mesmos interesses; a partir do momento em que se consegue
chegar a um consenso, que seja melhor para a maioria, acontece a chamada
tomada de decisão.

• A tomada de decisão nem sempre constitui o conjunto final das decisões que
foram tomadas para a resolução do problema, que poderá se tornar uma política
pública, e sim em decisões que poderão auxiliar na formação de um núcleo da
política que poderá ser implementada.

• A implementação de uma política pública é o conjunto das decisões que


foram deliberadas pelo grupo de gestores e/ou sociedade civil, e que resulta
em uma política pública. Para a implementação de alguma política pública se
faz necessário um planejamento estratégico das ações a serem implementadas,
pontuando metas, objetivos, público a ser atendido, prazo, recursos pessoais
e financeiros, entre outros, além do monitoramento contínuo das ações, que
atualmente é um instrumento de gestão das políticas públicas, e, por último, a
avaliação de todo o processo.

• A avaliação tem como objetivo avaliar os resultados positivos e negativos de uma


determinada política pública, a avaliação pode expressar critérios e valores para
serem revistos e ajustados a fim de que os objetivos esperados sejam alcançados.

Os elementos básicos de uma avaliação são:

• critérios;
• indicadores;
• padrões.

E os principais critérios que estão sendo usados para avaliações são:

• economicidade;
• eficiência econômica;
• eficiência administrativa;
• eficácia;
• equidade.

173
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

FIGURA 49 – CICLOS DAS POLÍTICAS

Implementação

FONTE: Disponível em:<http://www.igepri.org/observatorio/?p=6794>. Acessado em: 23


jan. 2015.

Após o período de implementação, de amadurecimento e estabilização,


as políticas públicas tendem a ganhar certa autonomia, como se tivessem vida
própria. Em muitos casos, após a implementação de uma política pública a causa
da sua criação foi resolvida, porém a política continua sendo aplicada, decorrente
da sua organização estratégica e política.

174
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

DICAS

Acadêmico, a leitura desse livro é fundamental para você aprofundar melhor o seu
conhecimento.

ALENCAR, Mônica Maria Torres de Almeida; NEY, Luiz Teixeira de. Serviço Social: trabalho e
políticas públicas. Imprenta: São Paulo, Saraiva, 2012.

175
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

LEITURA COMPLEMENTAR

POLÍTICAS PÚBLICAS: a implementação como objeto de reflexão teórica e


como desafio prático

Angela Maria Siman

Considerando o amplo, diversificado e indefinido uso do termo política,


o primeiro desafio que se apresenta, para o estudo de políticas públicas, é o de
esclarecer o seu significado na perspectiva da ciência política. De maneira geral, as
pessoas, fora do universo científico, definem política como o momento eleitoral em
que um grande número de candidatos disputa um cargo no governo, e em nome
disso fazem uma série de promessas em termos de promoção do bem-estar social,
levando os indivíduos a acreditarem na boa vontade e altruísmo.

Nessa visão, são os políticos profissionais que, portanto, fazem a política.


Em muitos casos, e muito frequentemente, as pessoas são céticas e tendem a
considerar a política como algo ou alguém que é, por natureza, nocivo à sociedade,
ou seja, os politiqueiros são indivíduos imbuídos do desejo de maximizar seus
interesses particulares, e isso faz com que as pessoas prefiram manter-se alheias
a esses processos, como se a política não fosse parte constitutiva essencial da vida
social.

De qualquer modo, mesmo para os mais descrentes e os menos esclarecidos,


política diz respeito a governo, ou seja, ela se relaciona, diretamente, com as ações
do governo, embora não haja na literatura pertinente uma definição clara e precisa
do conceito.

Segundo Max Weber (1921), “o conceito é extremamente amplo e


compreende qualquer tipo de liderança independente em ação”.

Contudo, é possível fazer, ainda que de maneira puramente conceitual,


uma distinção entre o termo política para fazer referência ao exercício de alguma
forma de poder, que é a capacidade de influenciar o comportamento das pessoas,
e o termo policy como tradução da ideia de organizações oficiais ou Estado, cujo
trabalho é cuidar da ordem pública, formulando e tomando decisões que afetam
a coletividade. Em outras palavras, policy significa a atividade do governo de
desenvolver políticas públicas.

Para a maioria dos estudiosos, políticas públicas referem-se à alocação


imperativa de valores pelo Estado para a sociedade, ou seja, expressam a capacidade
do governo em realizar as preferências dos cidadãos.

Nesse sentido, os governos devem ser perfeitos agentes do público


(PRZEWORSKI, 1995), a ação do Estado torna-se condição necessária, como suporte
institucional, para a busca da justiça social. Esse entendimento vai encontrar

176
TÓPICO 1 | CONCEITUANDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS

respaldo teórico nas análises que salientam as limitações do mercado, tanto no que
se refere ao crescimento econômico, como no âmbito dos aspectos relacionados às
desigualdades sociais.

O Estado passa a ser visto como uma instância institucional competente


de coordenação de interesses, corrigindo ou eliminando as imperfeições e falhas
que operam no mercado. Dentre suas tarefas essenciais destaca-se a promoção da
justiça social, traduzida em termos de um compromisso com os direitos sociais dos
indivíduos concebidos como cidadãos.

As estruturas e instituições governamentais sempre foram o foco central


dos estudos da ciência política. As atividades políticas são sempre vistas como
concentradas em alguma instituição governamental particular, o que significa
dizer que há uma estreita relação entre política pública e instituição governamental.
Nessa perspectiva, a política é considerada como output institucional, ou seja,
a política só se torna pública quando ela é adotada, implementada e garantida
por alguma instituição governamental, que lhe concede legitimidade através das
obrigações legais que fundamentam a obediência dos indivíduos às prescrições do
Estado.

E mais, somente o Estado produz políticas públicas universalistas,


garantindo sua execução através da coerção, isto é, uma violação das políticas é
punida legitimamente pelo Estado.
FONTE: SIMAN, Angela Maria. Políticas públicas: a implementação como objeto de reflexão
teórica e como desafio prático. Tese apresentada ao Programa de Doutorado em Ciências Sociais
da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2005. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp009595.
pdf>. Acesso em: 23 jan. 2015.

177
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você teve a oportunidade de aprender sobre:

• As políticas públicas estão inseridas em um contexto social, político e econômico.

• O conceito de sociedade.

• Diferença entre necessidades de bens materiais ou ideais.

• Os processos associativos definem cooperação, convivência e consenso grupal.

• Os processos dissociativos se firmam através da relação de divergências na


oposição e conflitos, e se manifestam de diferentes maneiras.

• Os principais processos sociais associativos são: Cooperação, acomodação e


assimilação.

• E os processos sociais dissociativos principais são: Competição e conflito.

• Os conflitos sociais, como os outros processos sociais, são considerados formas de


interação social que abrangem os seres humanos como indivíduos, organizações
coletivas, grupos culturais, étnicos, entre outros.

• A diferença existente entre os conflitos sociais e as competições se dá pela


possibilidade do uso da violência para coibir as situações de confrontos, ou seja,
de guerras.

• A política tem um papel fundamental no controle dos conflitos, através da


construção de consensos entre os interesses antagônicos dos setores envolvidos.

• As políticas públicas se referem às elaborações, articulações e reformulações


de decisões realizadas pelo poder público, sendo que o desenvolvimento das
mesmas acontece nos setores públicos, buscando uma atuação coletiva.

• Análise de política pública é uma tarefa multidisciplinar, que tem como objetivo
analisar as ações desenvolvidas no governo, e suas consequências para a
sociedade.

• As políticas públicas, ao serem elaboradas, são fundamentais em várias teorias


e metodologias.

• Os modelos de políticas públicas são: modelo institucional, modelo da teoria do


grupo, modelo elitista, modelo de política racional, modelo da teoria dos jogos,
modelo incrementalista, modelo sistêmico.

178
• As políticas públicas acontecem em um contexto marcado pelas relações de
poder entre o Estado e a sociedade.

• O processo político acontece diante do ciclo de políticas, resultando no conjunto


de ações políticas.

• O ciclo das políticas pode ser identificado por fases consecutivas.

• Os elementos básicos de uma avaliação são: critérios, indicadores, padrões.

• Os principais critérios que estão sendo usados para avaliações são: economicidade,
eficiência econômica, eficiência administrativa, eficácia e equidade.

• Os tipos de políticas públicas.

179
AUTOATIVIDADE

Pesquise em sua cidade, comunidade, bairro ou ambiente de trabalho


um exemplo prático: Cooperação, acomodação e assimilação. Justificando
através de um pequeno texto o motivo por ter selecionado cada um deles,
importante citar a fonte de onde se tirou cada situação.

180
UNIDADE 3
TÓPICO 2

AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS


DE EFETIVAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico serão apresentados os fundamentais conceitos e exemplos


práticos que são utilizados para entender os ciclos das políticas públicas e a
efetivação das mesmas na sociedade, através dos processos que discutem e avaliam,
produzem e reproduzem as novas políticas públicas.

Nesses processos são apontados diversos contextos teóricos e práticos que


precisam ser estudados para entender as mudanças internas e externas que ocorrem
durante a implantação e desenvolvimento das políticas públicas. Entre eles estão:
tipos e lógicas na formulação das agendas para a elaboração das políticas públicas,
levantamento de demandas, pontuar as decisões deliberadas e as não deliberadas,
mapeamento da rede de atendimento, forma de comportamento e envolvimento
dos atores envolvidos, negociação dos conflitos e interesses existentes, elaboração
de modelos e critérios de avaliação, que podem ser através de: eficiência, eficácia,
efetividade, equidade, sustentabilidade e monitoramento das políticas públicas no
Brasil.

Também se faz necessário entender os conceitos e a evolução e


regulamentação das políticas públicas no país nas diversas áreas existentes para
atender as necessidades da população que delas necessita e suas constantes
transformações.

181
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

2 ELABORAÇÃO E EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS NO CONTEXTO DO SISTEMA CAPITALISTA

FIGURA 50 – POLÍTICAS PÚBLICAS

FONTE: Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/?m=20110706&cat=3>.


Acesso em: 26 jan. 2015.

Para iniciar os estudos sobre a elaboração e efetivação das políticas públicas


é necessário entender a metodologia que é utilizada por gestores públicos para que
seus interesses políticos consigam atender a demanda imposta pela sociedade.

Inicialmente se faz necessário compreender o início desse processo,


que acontece através de uma “agenda de política pública”, que incide em uma
classificação de prioridades preestabelecidas, onde gestores públicos usam do seu
poder enquanto governo para impor seus interesses, tornando-se um método de
exercer o poder e de competitividade.

No debate que envolve as políticas públicas se torna comum o uso de várias


formas da terminologia e significado das “agendas”, como, por exemplo: “agendas
da sociedade”, “agendas de governo” e/ou “agendas de Estados”, e isto acontece
devido aos interesses diversos dos segmentos da sociedade.

O termo “agendas da sociedade” pode-se considerar como sendo uma


agenda sistêmica, pois faz referência a um conjunto de questões que interessam
tanto ao poder público como à sociedade civil. Como exemplo de uma agenda
sistêmica podemos citar: a violência urbana, a degradação do meio ambiente,
saneamento básico, moradia.

182
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

FIGURA 51 – AGENDA SISTÊMICA

FONTE: Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/giro-sustentavel/


seminario-aponta-avancos-nos-objetivos-do-milenio/> Acesso em: 26 jan. 2015.

E
IMPORTANT

A “agenda governamental” tem como suporte o conjunto de questões e problemas


específicos que um governo, tanto nos níveis federal, estadual e municipal, resolveu ter
como prioridade para resolver. E que dependerá de fatores e acordos entre partidos políticos,
ideologias, mobilização e visibilidade política.

Internamente, em um governo, pode-se ainda ter as “agendas de decisões”,


que são deliberações tomadas em médio e curto prazo e que podem envolver
não só o Poder Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário. Exemplo:
desapropriação de uma área de risco, que está ocupada irregularmente, onde o
poder jurídico pode entrar com uma ação para demolição e retirada das pessoas
que residem em áreas consideradas de risco.

Para Rua (2009, p. 67), “A formação da agenda é fortemente afetada, de


um lado, pelos atores políticos; e, de outro, pelos processos de evidenciação dos
temas”.

183
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

FIGURA 52 – AGENDAS DE DECISÕES

FONTE: Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/rio/ha-tres-anos-mp-


entrou-com-uma-acao-para-demolir-as-construcoes-em-areas-de-risco-no-
caleme-em-teresopolis-914490.html>. Acesso em: 26 jan. 2015.

Na elaboração das agendas, em todas as suas categorias ela é influenciada


por atores que representam algum setor de interesse governamental, e esses são
classificados em duas tipologias, sendo elas:

QUADRO 5 – ATORES GOVERNAMENTAIS / NÃO GOVERNAMENTAIS


ATORES GOVERNAMENTAIS ATORES NÃO GOVERNAMENTAIS
Os atores não governamentais são os que compõem
Os atores governamentais são todos os grupos de instituições de ensino, pesquisa, núcleos
cargos eletivos, desde o cargo da Presidência acadêmicos, empresas de consultoria, organizações
da República a outros políticos eleitos internacionais (ONU, Unesco), e privadas (Organizações
em todas as esferas governamentais; Globo), sindicatos de classes de trabalhadores ou
funcionários públicos nomeados ou de patronais , associações de categorias profissionais,
carreiras, funcionários do Poder Judiciário partidos políticos, empresas privadas, organizações não
e do Legislativo, empresas do setor público governamentais, movimentos sociais (MST, Movimento
e as organizações governamentais. ambientalista, Movimento feminista, Movimento da luta
contra homofobia, entre outros), igrejas.
FONTE: A autora

As configurações e as capacidades de desenvolvimento das ações dos atores


envolvidos nas discussões das diferentes formas de agendas estão condicionadas
na relação do espaço e do tempo.

Nesse sentido, vários exemplos poderão ser citados com atores


governamentais e não governamentais. Entre os atores governamentais pode-se

184
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

citar a relação do poder público com as políticas públicas de economia solidária no


Brasil, onde diversos segmentos do poder público, através de funcionários efetivos
e nomeados, se envolveram, sendo uma política pública defendida pelos interesses
ideológicos do governo do Presidente Lula, que afetaria as políticas econômicas e
sociais com programas e projetos que alcancem os objetivos políticos da política
pública da economia solidária. Com os atores não governamentais pode-se usar
como exemplo o crescimento das igrejas e templos evangélicos no Brasil, num
país que no seu contexto histórico a religião católica foi predominante, e com o
passar dos anos as igrejas evangélicas começaram a se fortalecer, tendo influência
também no campo político.

Em relação aos atores, existe ainda uma subdivisão interna na sua tipologia,
diante da exposição pública, sendo eles:

• Atores visíveis: são aqueles que ganham a maior visibilidade da mídia e de


toda a sociedade, como, por exemplo, cargos políticos: presidente da República,
senadores, deputados federais e estaduais, governadores estaduais, prefeitos
municipais, vereadores, lideranças políticas dos partidos políticos, as entidades,
organizações civis, os movimentos sociais com maior relevância social.

• Atores invisíveis: são aqueles que estão envolvidos diretamente com a questão
burocrática na efetivação das ações definidas nas agendas das políticas públicas.
Por exemplo: funcionários de carreira e/ou que são nomeados como cargos de
confiança, que normalmente desenvolvem alguma atividade ou têm vínculos
com os movimentos sociais. Acadêmicos, assessores parlamentares, consultores
que prestam assessoria especializada. Sendo que esses atores possuem uma
maior influência para elaborar alternativas que dão a solução para as demandas
das políticas.

Para Rua (2009), outro fator que influencia na elaboração das agendas
de políticas é a evidência que as demandas ganham perante o processo de suas
efetivações, e que variam da seguinte maneira:

• o reconhecimento da existência de problemas, a partir de eventos


momentâneos, da forma de manifestação das demandas, das crises e
das informações sobre eventos (indicadores, estatísticas, pesquisas e
outras fontes);

• a proposição de políticas públicas que é afetada pela ação dos atores


visíveis, dos atores invisíveis e das comunidades políticas. Ou seja: nas
organizações governamentais, no meio acadêmico, nos partidos políticos
ou nas organizações da sociedade, costumam já existir propostas que
viabilizam a solução de determinados problemas; e

• o fluxo da política, que envolve o clima de sentimento nacional com


relação aos governos e aos temas, as forças políticas organizadas e a
disputa interpartidária e eleitoral. (RUA, 2009, p. 69).

185
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Uma melhor compreensão das metodologias utilizadas na elaboração das


agendas só ocorrerá se forem analisados alguns aspectos referentes às demandas
da sociedade na sua totalidade. As demandas, por serem tratadas como questões
sociais, econômicas e/ou políticas, nem sempre são as mesmas, iguais ou com o
mesmo caminho, e podem abranger várias esferas de políticas públicas, como a
social, a defesa, econômica, cultural, esporte, entre outras.

FIGURA 53 – DEMANDAS POLÍTICAS

FONTE: Disponível em: <http://www.redehumanizasus.


net/10019-a-exploracao-da-demanda-reprimida-como-vantagem-
mercadologica>. Acesso em: 27 jan. 2015.

Se analisarmos as demandas existentes nas agendas das políticas, pode-se


perceber que existem três conceitos sobre as mesmas, que são:

• Demandas novas: são decorrentes de novas questões, oriundas das


transformações sociais e/ou tecnológicas, que envolvem novos atores políticos,
e ganham visibilidade no debate político. Um exemplo concreto sobre uma
demanda nova na agenda governamental, como uma política de defesa, foi
a descoberta, pela Petrobrás, de petróleo na região do pré-sal, onde se teve a
necessidade da intervenção da defesa naval.

• Demandas recorrentes: estão expressas nos problemas que não se consegue


resolver ou que foram mal resolvidos e acabam voltando para a discussão
política e na agenda de governo. A educação e a habitação são exemplos de
demandas recorrentes da política social. Se um município investe recursos na
construção de uma unidade de educação infantil, creche, em um determinado
bairro, pode resolver a demanda daquela comunidade, mas não consegue
resolver de toda uma cidade. Ou então, programas habitacionais, onde toda
a demanda habitacional não é atendida, as agendas governamentais criam
critérios de seleção das prioridades aos beneficiários.

186
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

• Demandas reprimidas: são os problemas ou questões da sociedade que


não chegam às agendas políticas, que muitas vezes não são de interesses
governamentais, que chegam a ser barradas pelos chamados atores invisíveis, ou
então que não sensibilizam os poderes governamentais. Como exemplo pode-se
citar a falta de profissionais especializados nos diversos setores da agenda das
políticas de saúde, sendo que os usuários são inscritos em filas de espera para
serem atendidos. Para Rua (1998), as demandas reprimidas podem se constituir
“estado de coisa” ou situações de “não decisão”. Sendo “estado de coisa”, pelo
tempo que se demora para que a questão que incomoda a sociedade como um
todo seja resolvida pelo poder público.

A sobrecarga de demandas acontece quando as demandas são acumuladas


de forma excessiva, sem soluções admissíveis por parte dos atores responsáveis,
gerando uma crise que pode ameaçar a estabilidade política de um determinado
sistema e também levando em muitas situações à ruptura institucional, gerando
crises governamentais, como as influências das tantas complexidades que envolvem
todas as demandas reprimidas, como as novas, gerando assim uma diminuição no
apoio e envolvimento para encaminhamento das soluções plausíveis.

E
IMPORTANT

“As escolhas feitas nesse momento são expressas em leis, decretos, normas,
resoluções, entre outros atos da administração pública.” (LOPES; AMARAL; CALDAS, 2008, p.
13).

Em nossas vidas, tanto no campo pessoal como profissional, somos levados


diariamente a tomarmos decisões importantes que podem refletir positivamente ou
negativamente no decorrer de uma caminhada. Nas políticas públicas as tomadas
de decisões também são cotidianas. Os atores que estão envolvidos nas tomadas de
decisões governamentais, estão representando interesses muitas vezes diferentes.
Conforme Secchi, 2010, “[...] representa o momento em que os interesses dos atores
são equacionados e as intenções (objetivos e métodos) de enfrentamento de um
problema público são explicitadas”. (SECCHI, 2010, p. 40).

As alternativas para a resolução de uma demanda são formuladas a


partir do momento em que a mesma entra na agenda governamental, e os atores
envolvidos poderão desenvolver diversas maneiras de comportamento durante
esse processo, sendo esse um momento de tomar decisões, essenciais e inerentes
à vida pessoal ou em sociedade e das instituições envolvidas com essas questões.
Para Secchi (2010), a tomada de decisões apresenta-se de três maneiras:

• os tomadores de decisão já conhecem as demandas que causam os problemas e


buscam as soluções;

187
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

• os tomadores de decisão acordam os problemas e as possíveis soluções;


• os tomadores de decisão possuem os recursos para solucionar os problemas e
buscam os mesmos através do levantamento de demandas.

Sendo essencialmente importante, primeiramente, a definição do processo


da tomada de decisões, deliberando qual será a forma de dar continuidade ao
processo.

Os autores Lopes, Amaral e Caldas (2008) alertam que:

Primeiramente deverá se decidir quem participará do processo, se este


será aberto ou fechado. Caso venha a ser aberto é preciso determinar
se haverá ou não uma consulta ampla aos beneficiários. No caso
de se prever tal tipo de consulta (como, por exemplo, Orçamento
Participativo), é necessário estabelecer se a decisão será ou não tomada
por votação, as regras em torno da mesma, o número de graus (direta
ou indireta) que envolverá a consulta que será feita aos eleitores etc.
(LOPES, AMARAL, CALDAS, 2008, p. 13).

O que ocorre na maioria das vezes é que as demandas surgem por primeiro,
e em seguida são tomadas providências para a elaboração das decisões, que muitas
vezes são imediatistas, sem uma discussão aprofundada para resolver as causas
do problema; ou então, a elaboração de mecanismo de prevenção, onde muitos
profissionais técnicos nas diversas políticas públicas são levados a “apagar o fogo”,
sem um processo contínuo, sendo que são analisados através de dois modelos de
racionalidade, sendo eles:

• O de racionalidade absoluta: está baseado em decisões racionais, levando em


consideração os custos e benefícios das ações planejadas como alternativas para
resolver as demandas apresentadas, sendo estudadas pelos atores para que
essas alternativas sejam as melhores.

• O de racionalidade limitada: o que se leva em questão é a grande quantidade


de informações e alternativas, que fazem com que os atores responsáveis pelas
tomadas de decisão tenham certas limitações. Portanto, existe um esforço para
escolher as alternativas mais satisfatórias, e que nem sempre são as melhores.
(SECCHI, 2010)

Existem outros modelos de tomadas de decisões, que acontecem a partir


do incrementalismo, que ocorre em momentos onde o poder político se impõe
às decisões técnicas. Sendo assim, o modelo incremental tem as seguintes
características:

• as demandas, problemas e ações de solução estão em constantes mudanças em


diversos contextos da tomada de decisão;
• as decisões que serão tomadas no momento estão relacionadas com decisões já
tomadas anteriormente;
• os limites impostos pelas organizações e instituições formais e informais se

188
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

tornam obstáculos para os atores envolvidos;


• o poder de decisões está vinculado aos interesses dos atores envolvidos.
(SECCHI, 2010).

Nas políticas públicas, outros autores desenvolveram diversos conceitos


sobre os modelos de tomadas de decisões, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 6 – CONCEITOS SOBRE TOMADAS DE DECISÕES


Codições Análise das Modalidade de Critérios de
Modelos
Cognitivas alternativas escolha decisão
Racionalidade Análise completa
absoluta Certeza e cálculos de Cálculo Otimização
consequências
Racionalidade Comparação das
Pesquisa
limitada Incerteza alternativas com Satisfação
sequencial
as expectativas
Modelo Comparações
Parcialidade Ajuste mútuo de
incremental sucessivas Acordo
(interesses) interesses
limitadas
Encontro de
Modelo de fluxo
Ambiguidade Nenhuma soluções e Casual
múltiplo
problemas
FONTE: Adaptado de: Bobbio (2005 apud SECCHI, 2010, p. 44).

Pode-se constatar que a tomada de decisão diante de uma política pública


precisa ser esquematizada de maneira participativa e democrática, onde todos os
segmentos da sociedade sejam envolvidos.

189
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

FIGURA 54 – POLÍTICAS PÚBLICAS PARTICIPATIVAS E DEMOCRÁTICAS

FONTE: A autora

Depois da tomada de decisões sobre as demandas, onde o que foi pensado,


planejado, decidido e proposto, um novo ciclo das políticas públicas se inicia, que
é o de implementação; nesse novo processo serão determinados os resultados de
processo. Para o autor O’ Toole Jr. (2003 apud SECCHI, 2010, p. 44), “[...] a fase de
implementação é aquela em que regras, rotinas e processos sociais são convertidos
de intenções em ações”.

O ciclo de implementação das políticas públicas possibilitará aos atores


envolvidos avaliar e identificar algumas dificuldades ou erros que poderão
aparecer nesse novo processo em todas as políticas públicas. Para Secchi (2010),
“[...] estudar a fase de implementação também significa visualizar erros anteriores
à tomada de decisão, a fim de detectar problemas mal formulados, objetivos mal
traçados, otimismos exagerados”.

Nesse processo, além de identificar os obstáculos encontrados na


implementação das políticas públicas, os atores governamentais e não
governamentais e suas organizações também poderão ser analisados, através
da relação entre os mesmos, do comportamento e das características, devido
à diversidade de interesses. Outros aspectos que podem ser analisados são as
alternativas elaboradas e os recursos financeiros, materiais, humanos, informativos
e políticos.

Os atores públicos que estão à frente desse processo precisam levar em conta
um outro aspecto na implementação de uma política pública, o de gerenciamento
das atividades desenvolvidas, podendo identificar as dificuldades legais ou até

190
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

mesmo organizacionais, os prováveis conflitos devido a interesses distintos, os


acordos e negociações sobre a implementação da política e também estar sempre
visando o melhor resultado para a solução dos problemas.

A implementação de uma política pública pode ocorrer através de duas


formas:

• De cima para baixo: que significa a implementação das políticas públicas através
das decisões tomadas pelo poder governamental para com a sociedade, ou para
os usuários da política, essa forma acontece sem que a comunidade participe.

• De baixo para cima: significa que a sociedade, usuários e população em


geral participam na elaboração das políticas públicas, e se caracteriza
pela descentralização do poder, onde o cidadão tem contato direto com a
administração pública através da participação de todas as fases do processo.

FIGURA 55 – PARTICIPAÇÃO POPULAR

FONTE: Disponível em: <https://portogente.com.br/colunistas/edesio-


elias-lopes/o-estatuto-da-cidade-e-a-gestao-democratica-do-espaco-
urbano-44148>. Acesso em: 30 jan. 2015.

Para saber se uma política pública está tendo êxito durante ou após a sua
implementação é necessário avaliar constantemente as ações que estão sendo
realizadas ou se os objetivos foram alcançados de forma eficiente, eficaz e efetiva.

E
IMPORTANT

Uma avaliação das políticas públicas deve acontecer em todo o seu ciclo, não
apenas no final.

191
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Os autores Lopes, Amaral e Caldas (2008, p. 12) definem o conceito de


avaliação como sendo: “[...] uma fonte de aprendizado que permite ao gestor
perceber quais ações tendem a produzir melhores resultados”.

Segundo os autores citados acima, a avaliação das políticas públicas


possibilita à administração:

• originar informações importantes para a elaboração de novas políticas públicas;

• realizar a prestação de contas de todas as atividades realizadas para toda a


população;

• esclarecer as tomadas de decisões justificando assim as ações efetuadas;

• precaver e ratificar irregularidades durante o processo;

• apresentar a aplicabilidade dos recursos delimitados diante das excessivas e


ilimitadas demandas;

• identificar as dificuldades impostas na implantação de um programa nas


políticas públicas;

• incentivar o diálogo coletivo entre os atores envolvidos no processo;

• provocar a cooperação entre os atores envolvidos no processo.

A avaliação de uma política pública tem uma grande importância diante


do processo, pois as ações que foram desenvolvidas de uma forma ou outra
criaram certo impacto na sociedade, e então avaliá-las se torna um mecanismo de
fortalecimento e aprendizado para todos os atores envolvidos.

É importante que a fase de avaliação seja coerente com os objetivos


propostos, pois é a partir dela que se pode concluir qual resultado se está tendo
perante a resolução das demandas apresentadas, pois é a partir do processo
avaliativo que poderá ocorrer nova reformulação de uma política pública, ou até
mesmo a sua extinção.

Como já vimos anteriormente, as políticas públicas são contextualizadas


diante de um ciclo, e que, independente de qual for sua origem, todo ele está
situado em um período de tempo, que inicia, se desenvolve, se finda. Os ciclos das
políticas públicas podem ser comparados com os ciclos da vida do ser humano:
nasce, cresce, desenvolve-se e acaba morrendo, pois da mesma forma as políticas
são concretizadas, se desenvolvem e são postas em prática, e quando não tiverem
mais a demanda específica para atender, acabam sendo extintas.

192
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

FIGURA 56 – CICLO DA VIDA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&


source=images&cd=&ved=0CAYQjB0&url=http%3A%2F%2Fnutricaoeciclosdavida.
blogspot.com%2F&ei=1bvLVNKoDouaNrf6g5AM&bvm=bv.84607526,d.eXY&psig=
AFQjCNFgMckrJRjHAdTwCQAa_a7kVaYlWw&ust=1422724344677166>. Acesso em:
30 jan. 2015.

A extinção de uma política pública não acontece sem um porquê, ou


simplesmente por acabar, sempre terá uma causa, que segundo Giuliani (2005
apud SECCHI, 2010) está sintetizada em três alternativas fundamentais:

• A demanda que culminou em um problema público foi resolvida com a


implementação da política pública.

• Através da avaliação foi diagnosticado que as ações, metodologias, instrumentos


utilizados nas políticas públicas foram ineficazes.
• Mesmo que uma demanda não tenha sido resolvida, acaba perdendo a ênfase de
importância das agendas políticas e formais.

Além das alternativas acima apresentadas, que podem trazer a extinção de


uma política pública, o autor Secchi (2010) afirma que um determinado momento
histórico no qual uma sociedade se encontra – como, por exemplo: reformas
políticas, mandatos, orçamento – contribui para colocar fim a uma determinada
política pública, ou sendo trocada.

A extinção de uma política pública, após sua implementação, não é uma


tarefa fácil para os seus gestores, pois normalmente encontra-se muita resistência
por parte da população beneficiada, que já está habituada ou então se tornou
dependente da mesma, e por parte da sociedade que após aceita-la e defende-la

193
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

em muitos casos, e das dificuldades legais, pois existem os recursos destinados


para a implementação das políticas públicas.

A dificuldade que se tem em extinguir uma política pública ocorre não


apenas no setor governamental, sendo que a sociedade como um todo pode se
fortalecer através das organizações não governamentais e continuar atuando na
defesa das causas. Um exemplo a ser citado: um governo municipal, através das
demandas ambientais, cria uma política pública de recuperação da mata ciliar dos
rios e ribeirões que estão localizados no contexto geográfico local, após todo o ciclo
de efetivação desta política percebe-se que o problema foi solucionado, através
de parcerias com outros atores políticos governamentais e não governamentais,
então pode-se extinguir a política, mas uma organização não governamental
ambientalista pode continuar atuando em defesa da continuidade de preservação
e recuperação da mata ciliar, e tendo ainda como parceiro o poder público.

Novamente, citando Secchi (2010), o autor afirma que: “[...] as políticas


públicas, após um período de maturação, institucionalizam-se e criam vida
própria. Não são raros os casos em que uma política pública continua viva mesmo
depois que o problema que a gerara já tenha sumido.” (SECCHI, 2010, p. 54).

Ao chegar à fase de extinção das políticas públicas encerra-se o ciclo de
formulação das mesmas.

DICAS

Assista ao filme: Treze dias que abalaram o mundo, com o autor Kevin Costner,
que discute a crise dos mísseis cubanos.

LEITURA COMPLEMENTAR

A AVALIAÇÃO NO CICLO DE GESTÃO PÚBLICA

Maria das Graças Rua

O conceito de avaliação das ações governamentais, assim como o de


planejamento, surge com as transformações no papel do Estado, especialmente devido
ao esforço de reconstrução após a Segunda Guerra, à adoção de políticas sociais e à
consequente necessidade de analisar os custos e as vantagens de suas intervenções.
Mais recentemente, no âmbito do grande processo de mudança das relações entre o
Estado e a sociedade e da reforma da administração pública, que passa do primado
dos processos para a priorização dos resultados, a avaliação assume a condição de
instrumento estratégico em todo o ciclo da gestão pública (KETTL, 2000).

194
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

Segundo Guba & Lincoln (1990), a trajetória histórica dos processos de avaliação
passa de um primeiro estágio, centrado na medida dos fenômenos analisados, para
a focalização das formas de atingir resultados, evoluindo para um julgamento das
intervenções e, finalmente, tendendo a constituir “um processo de negociação entre
os atores envolvidos na intervenção a ser avaliada” (CONSTANDRIOPOULOS, 1997).

O termo “avaliação” é amplamente usado em muitos e diversos contextos,


sempre se referindo a julgamentos. Por exemplo, se vamos ao cinema ou ao teatro,
formamos uma opinião pessoal sobre o que vimos, considerando satisfatório ou não.
Quando assistimos a um jogo de futebol, formamos opinião sobre as habilidades
dos jogadores. E assim por diante. Estes são julgamentos informais que efetuamos
cotidianamente sobre todos os aspectos das nossas vidas. Porém, há avaliações muito
mais rigorosas e formais, envolvendo julgamentos detalhados e criteriosos, sobre a
consecução de metas, por exemplo, em programas de redução da exclusão social,
melhoria da saúde dos idosos, prevenção da delinquência juvenil ou diminuição
de infecções hospitalares. Essas correspondem à avaliação formal, que é o exame
sistemático de certos objetos, baseado em procedimentos científicos de coleta e análise
de informação sobre o conteúdo, estrutura, processo, resultados e/ou impactos de
políticas, programas, projetos ou quaisquer intervenções planejadas na realidade
(RUA, 2000).

As definições de avaliação são muitas, mas um aspecto consensual é a sua


característica de atribuição de valor. A decisão de aplicar recursos em uma ação pública
sugere o reconhecimento do valor de seus objetivos pela sociedade, sendo assim, sua
avaliação deve “verificar o cumprimento de objetivos e validar continuamente o valor
social incorporado ao cumprimento desses objetivos” (MOKATE, 2002).

A avaliação representa um potente instrumento de gestão, na medida em


que pode – e deve – ser utilizada durante todo o ciclo da gestão, subsidiando desde
o planejamento e formulação de uma intervenção, o acompanhamento de sua
implementação, os consequentes ajustes a serem adotados, e até as decisões sobre sua
manutenção, aperfeiçoamento, mudança de rumo ou interrupção.

Além disso, a avaliação pode contribuir para a viabilização de todas as


atividades de controle interno, externo, por instituições públicas e pela sociedade,
levando maior transparência e accountability às ações de governo. Por isso, Mokate
(2002) defende que uma das características-chave da avaliação deve ser sua integração
a todo o ciclo de gestão, desenvolvendo-se simultaneamente a ele, desde o momento
inicial da identificação do problema.

Além dos objetivos relacionados à eficiência e eficácia dos processos de


gestão pública, a avaliação é decisiva para o processo de aprendizagem institucional e
também contribuiria para a busca e obtenção de ganhos das ações governamentais em
termos de satisfação dos usuários e de legitimidade social e política. Por essas e outras
razões, tem sido ressaltada a importância dos processos de avaliação para a reforma
das políticas públicas, modernização e democratização da gestão pública.

Nos países desenvolvidos os processos de avaliação de políticas vêm se


tornando crescentemente institucionalizados. Isso exige o empenho das estruturas
195
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

político-governamentais na adoção da avaliação como prática regular e sistemática


de suas ações, na regulação das práticas avaliativas e no fomento de uma cultura de
avaliação integrada aos processos gerenciais (HARTZ, 2001).

No Brasil, a importância da avaliação das políticas públicas é reconhecida em


documentos oficiais e científicos, mas esse reconhecimento formal ainda não se traduz
em processos de avaliação sistemáticos e consistentes que subsidiem a gestão pública
(HARTZ; POUVOURVILLE, 1998).

Esse consenso no plano do discurso não produz automaticamente a apropriação


dos processos de avaliação como ferramentas de gestão, pois frequentemente a
tendência é percebê-los como um dever, ou até mesmo como uma ameaça, impostos
pelo governo federal ou por organismos financiadores internacionais.

Mokate (2002) identifica algumas das possíveis razões pelas quais a avaliação
não seria facilmente integrada ao ciclo de gestão:

(1) Os paradigmas gerenciais dificultam a apropriação da avaliação pelas equipes


de gestão, na medida em que focalizam mais as atividades e processos do que os
resultados, não valorizando a explicitação de metas e objetivos, e a responsabilização
pelo seu alcance;

(2) As aplicações convencionais dos processos de monitoramento e avaliação têm se


realizado de tal maneira que não têm induzido sua percepção como aliados do
processo de gestão, cabendo frequentemente apenas aos avaliadores externos e
assumindo o aspecto de fiscalização, auditoria ou controle, cujos resultados não
costumam ser utilizados no processo decisório e gerencial.

(3) A complexidade dos objetivos e a adoção de estratégias e tecnologias diferenciadas,


que não necessariamente conduzem ao mesmo resultado, dificultam a avaliação
das intervenções. A sensibilidade dos problemas sociais a múltiplas variáveis faz
com que a seleção de estratégias para seu enfrentamento se baseie em hipóteses
de relações causais. É particularmente difícil atribuir, através da avaliação, as
mudanças observadas a uma intervenção específica operada sobre um problema,
até porque, frequentemente, os efeitos de algumas intervenções só se evidenciam
no longo prazo.

A avaliação tem constituído uma estratégia de mudança do paradigma


gerencial. Sob o ponto de vista da gerência social, as políticas devem ser avaliadas
pelo cumprimento de seus objetivos e os gerentes devem ter incentivos naturais para
utilizar informação no acompanhamento de seu desempenho em relação a esses
objetivos.

Mokate (2002) aponta quatro desafios prioritários para construir um processo


de avaliação aliado à gerência social:

1. A definição de um marco conceitual da intervenção que se pretende avaliar,


indicando claramente objetivos, resultados e as supostas relações causais que
orientam a intervenção, pois quando não se sabe onde e como se quer chegar, torna-
196
TÓPICO 2 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS SEUS CICLOS DE EFETIVAÇÃO

se muito difícil avaliar nosso desempenho.

2. A superação da brecha entre o “quantitativo” e o “qualitativo” na definição de


metas e objetivos e na própria avaliação, gerando complementaridade e sinergia
entre eles.

3. A identificação e pactuação de indicadores e informações relevantes, levando em


conta o marco conceitual e as diversas perspectivas e interesses dos atores envolvidos.

4. A definição e manejo efetivo de fluxos da informação gerada pelo processo avaliativo


e a introdução de estratégias de incentivos que promovam o uso dessa informação.

Para uma cultura gerencial que incorpore uso efetivo da avaliação ao ciclo de
gestão, Mokate (2002) aponta algumas condições:

a) incentivar a flexibilidade e a inovação como mecanismos para assegurar o alcance


de objetivos máximos desejados e tolerar o erro para promover ajustes e mudança
de opções;
b) permitir que, dentro da organização, os que têm a informação possam fazer uso
dela, inclusive disseminá-la, em função dos objetivos pretendidos;
c) definir “valores objetivos” e “valores de referência” que facilitem a interpretação da
informação;
d) adotar incentivos organizacionais e gerenciais que favoreçam o uso da informação
(premiação ou reconhecimento por mérito ou alcance de resultados);
e) estabelecer mecanismos de ajuste para realocação de recursos humanos, físicos e
financeiros, redefinição de estratégias operativas e modificações nos produtos e
serviços para alcançar os objetivos desejados;
f) vincular os indicadores ou informações com os processos decisórios;
g) especificar “pontos de decisão”, fixando prazos e “valores objetivos” para alguns
indicadores;
h) comprometer os gestores e suas equipes com o alcance de metas através de pactos e
contratos de gestão ou desempenho.

A avaliação de desempenho constitui um importante instrumento para a


gestão das intervenções, mas a falta de acordo sobre como medir esse desempenho
ainda é um desafio. Como o desempenho refere-se ao grau de alcance dos objetivos
e os países definem diferentes objetivos, metas e dimensões de desempenho nas
suas avaliações, muitas vezes torna-se difícil fazer análises comparativas. Esse tipo
de avaliação deveria focalizar fundamentalmente qualidade, eficiência e equidade,
mas as experiências internacionais de avaliação de desempenho enfocam de maneira
desigual essas dimensões. Nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) predominam análises sobre a melhoria de resultados e
sobre a “responsabilidade”. Apesar das recomendações de organismos internacionais,
no sentido de que a equidade seja uma dimensão transversal de todas as avaliações
de desempenho, especialmente no caso das intervenções de natureza social, ainda são
poucas as experiências que consolidaram o exame desta dimensão.

FONTE: Disponível em: <http://www.enap.gov.br/downloads/ec43ea4fIndicadores_


desmistificacao_problema_1.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2015.

197
RESUMO DO TÓPICO 2

Caro(a) acadêmico(a), nesse tópico foi possível você estudar sobre:

• Compreender cada ciclo da implementação das políticas públicas.

• Primeira fase do ciclo acontece através de uma “agenda de política pública”,


que incide em uma classificação de prioridades preestabelecidas, onde gestores
públicos estabelecem as prioridades a serem implementadas.

• Existem várias formas utilizadas para o significado das “agendas”, como, por
exemplo: “agendas da sociedade”, “agendas de governo” e/ou “agendas de
Estados”.

• O termo “agendas da sociedade” pode-se considerar como sendo uma agenda


sistêmica, pois faz referência a um conjunto de questões que interessam tanto ao
poder público como à sociedade civil.

• Em um governo pode-se ainda ter as “agendas de decisões”, que são deliberações


tomadas em médio e curto prazo, e que podem envolver não só o Poder
Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário.

• Na elaboração das agendas, em todas as suas categorias ela é influenciada


por atores que representam algum setor de interesse governamental e não
governamental.

• Com relação aos atores, existe ainda uma subdivisão: Atores visíveis e Atores
invisíveis.

• Uma melhor compreensão das metodologias utilizadas na elaboração das


agendas só ocorrerá se forem analisados alguns aspectos referentes às demandas
da sociedade na sua totalidade.

• Existem, nas agendas das políticas, três conceitos sobre demandas: Demandas
novas, Demandas recorrentes, Demandas reprimidas.

• A tomada de decisões apresenta-se de três maneiras: os tomadores de decisão


já conhecem as demandas que causam os problemas e buscam as soluções;
os tomadores de decisão acordam os problemas e as possíveis soluções; os
tomadores de decisão possuem os recursos para solucionar os problemas e
buscam os mesmos através do levantamento de demandas.
• A implementação de uma política pública pode ocorrer através de duas formas:
De cima para baixo e De baixo para cima.

198
• Avaliar constantemente as ações que estão sendo realizadas ou se os objetivos
foram alcançados de forma eficiente, eficaz e efetiva.

• Na fase de avaliação, seja coerente com os objetivos propostos, pois é a partir


dela que pode-se concluir qual resultado se está tendo perante a resolução das
demandas apresentadas.

• A extinção de uma política pública não acontece sem um porquê, ou


simplesmente por acabar, sempre terá uma causa, que está sintetizada em três
alternativas fundamentais: a demanda que culminou em um problema público
foi resolvida com a implementação da política pública; através da avaliação foi
diagnosticado que as ações, metodologias, instrumentos utilizados nas políticas
públicas foram ineficazes; mesmo que uma demanda não tenha sido resolvida,
acaba perdendo a ênfase de importância das agendas políticas e formais.

• A dificuldade que se tem em extinguir uma política pública ocorre não apenas
no setor governamental, sendo que a sociedade como um todo pode se fortalecer
através das organizações não governamentais e continuar atuando na defesa
das causas.

199
AUTOATIVIDADE

1 Além dos exemplos citados no conteúdo desde caderno, pesquise e


contextualize sobre as demandas reprimidas na área das políticas públicas,
no contexto social.

2 Converse com um profissional do Serviço Social sobre a implementação de


alguma política pública em seu município, verificando se todos os processos
do ciclo de implementação foram praticados. Traga os resultados de sua
conversa para a sala de aula e discuta com seus colegas e com seu tutor ou
sua tutora.

200
UNIDADE 3
TÓPICO 3

AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS


DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

1 INTRODUÇÃO

No Tópico 3 desta unidade de ensino abordaremos as políticas sociais


e suas dimensões históricas, tendo como apoio para as reflexões históricas as
configurações pelas quais o Estado brasileiro consegue enfrentar as demandas
sociais na atual conjuntura.

Esse tópico trará a historicidade das questões sociais que serão abordadas.
Apesar de ser um tanto teórico, se faz necessário ter um olhar histórico para poder
compreender como aconteceu o desenvolvimento das políticas sociais no sistema
capitalista e a forma como as mesmas foram institucionalizadas. Além de conhecer
o processo de efetivação das políticas públicas sociais, também deve-se conhecer a
caminhada histórica das instituições sociais.

Como foi apresentado no tópico anterior, nenhuma política pública nasce


pronta ou que não possa sofrer algumas mudanças, é assim também com as
instituições. Ambas são decorrentes de interesses da sociedade em todos os seus
segmentos. Interesses esses que são antagônicos na sua grande maioria.

O objetivo desse tópico é convidá-lo(a) a conhecer não somente os fatos


históricos, porém todo o processo de articulação entre os fatores políticos, culturais
e sociais dos quais depende a implementação de uma política pública.

2 O ESTADO E AS CORRELAÇÕES HISTÓRICAS


ENTRE AS DEMANDAS SOCIAIS
A atual conjuntura econômica mundial, fundamentada no sistema
capitalista, traz como principais demandas sociais a questão da pobreza, da
exclusão e também a questão da cidadania como direito adquirido, sendo que
estão em destaque nas agendas políticas das organizações governamentais e não
governamentais, como, por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU), e
também as agências de fomento, a exemplo do Banco Mundial.

Essas demandas eram consideradas como problemas sociais decorrentes


do crescimento econômico, pois o pensamento era que a distribuição de renda

201
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

e de riqueza aconteceria de forma automática juntamente com o aumento das


taxas econômicas. A partir dos anos de 1970 essa realidade não se concretizava,
forçando algumas agências de fomento, onde são geradas as políticas voltadas ao
interesse do capitalismo, a incluir em suas agendas políticas programas e projetos
enfatizando as questões sociais.

No Brasil, essas mazelas do capitalismo e o aumento significativo de


outras vêm ganhando espaço na discussão em todas as classes sociais, inclusive
da chamada elite brasileira. Um exemplo é a ênfase que a violência urbana vem
ganhando nos diversos segmentos da sociedade e nos meios de comunicação.

Como sendo um país em desenvolvimento, o foco das análises das


demandas apresentadas tem sido analisado da pobreza, em toda sua exatidão,
para a questão da desigualdade social.

FIGURA 57 – DESIGUALDADE SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://www.diarioliberdade.org/brasil/


batalha-de-ideias/38303-rela%C3%A7%C3%B5es-%C3%A9tnico-raciais,-
educa%C3%A7%C3%A3o-e-explora%C3%A7%C3%A3o-capitalista-no-brasil-
reflex%C3%B5es-introdut%C3%B3rias.html>. Acesso em: 2 fev. 2015.

A diferença entre pobreza e desigualdade acontece devido ao fato de a


primeira estar sempre na qualidade que afeta o ser humano na sua individualidade,
e a desigualdade atinge a população de forma conjunta.

E
IMPORTANT

POBREZA: é a condição de indivíduos ou de um grupo.


DESIGUALDADE: é a forma como acontece a distribuição da riqueza.

202
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

A pobreza pode ser caracterizada e definida como a “escassez de renda”, e


para medir suas interferências sobre a sociedade são utilizados indicadores, como:
Produto Interno Bruto (PIB), renda per capita de cada país, estado, cidade ou núcleo
familiar.

Esses indicadores são utilizados em diversos países, como o Brasil, na


elaboração de programas e projetos de combate à pobreza, miséria e fome. Onde
são criados critérios para estabelecer o que é pobreza absoluta. Santos (2009) define
pobreza absoluta como:

Situação na qual a renda dos indivíduos ou famílias está abaixo do


valor considerado mínimo para satisfação de necessidades essenciais –
alimentação, habitação etc. (SANTOS, 2009, p. 19).

Sendo assim, pode-se definir uma linha de pobreza através do valor da


renda, tanto individual como familiar, que consiga garantir as necessidades
básicas, como alimentação, vestuário, educação, habitação, saúde, entre outras. As
pessoas que possuem renda que está abaixo de custear essas necessidades básicas
são consideradas pobres e, ainda, aquelas em que o rendimento é ainda menor, são
de extrema pobreza.

Para Rocha (2008), estabelecer o valor e o custo das necessidades básicas


que não são alimentares é muito complexo, devido à alteração entre diversos
contextos sociais, culturais e políticos, variando também os valores monetários de
uma realidade com a outra. Sendo assim, uma linha de pobreza absoluta estaria
fundamentada em critérios relativos.

O conceito de pobreza relativa passou a ser utilizado em virtude da


complexidade que envolve o conceito de pobreza absoluta. A linha de pobreza
relativa considera o padrão de vida de uma sociedade em sua especificidade. A
pobreza relativa é definida por Santos (2009, p. 19) como sendo:

As linhas de pobreza relativas têm por base a renda média ou mediana


de toda uma população, e mostram, principalmente, como estão
distribuídos os recursos econômicos e sociais entre os diversos grupos
populacionais deste conjunto.

Segundo Rocha (2008), o conceito de pobreza relativa é o mais apropriado


na utilização do mapeamento das áreas que são consideradas bolsões de
pobreza, em diversos contextos sociais e econômicos, mesmo aqueles locais mais
desenvolvidos, ou seja, onde algumas das principais necessidades básicas já foram
acatadas.

203
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

E
IMPORTANT

A pobreza relativa está fundamentada em quanto alguns grupos sociais estão


longe de um padrão de vida considerado médio em uma determinada conjuntura social.

Alguns dos parâmetros que podem ser analisados para redefinir a linha de
pobreza relativa:

• Índices;
• Analfabetismo;
• Dívida externa;
• Renda per capita;
• Produto Interno Bruto;
• IDH – (Índice de Desenvolvimento Humano).

Segundo Rocha (2008), alguns países, incluindo o Brasil, utilizam a renda


como um dos critérios para definir o índice de pobreza, o que não deixa de ser um
instrumento útil, não só porque a economia é monetizada, mas porque oferece
dados estatísticos necessários para a sobrevivência das pessoas, identificando
também a demanda reprimida.

Porém, esse instrumento de utilização para definir critérios é limitado, pois


se foca estritamente na renda per capita de uma pessoa, família, sociedade, não
levando em conta os investimentos nas políticas públicas em suas diversas áreas,
e os benefícios que essas trazem à população, alguns sendo serviços prioritários e
essenciais, como a educação, a saúde, o saneamento básico.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA):

O número de indivíduos em situação de miséria no Brasil subiu pela


primeira vez em dez anos. Em 2013, a população abaixo da linha de extrema
pobreza aumentou 3,68%, a primeira alta desde 2003. Os dados foram divulgados
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

O órgão não apresentou nenhum estudo. Apenas lançou as estatísticas


no Ipeadata, plataforma de dados do IPEA. De acordo com a plataforma, os
dados de 2013 foram incluídos no fim da semana passada, em 30 e 31 de outubro.

O total de pessoas que vivem na extrema pobreza passou de 10.081.225,


em 2012, para 10.452.383 no ano passado. A proporção de extremamente pobres
subiu de 5,29% para 5,50%, também a primeira alta desde 2003.

204
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

Para definir a extrema pobreza, o IPEA considera os critérios da


Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO). Os dois organismos baseiam-se em
uma estimativa do valor de uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias
necessárias para suprir adequadamente uma pessoa.

Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento do IPEA define
diferentes valores para a linha de extrema pobreza em 24 regiões do país. Cada
área tem uma faixa mínima de renda abaixo da qual se caracteriza situação de
miséria.

O IPEA, no entanto, também fez os cálculos conforme os parâmetros


do Programa Brasil Sem Miséria, que estabelece em R$ 77 per capita por mês a
linha de extrema pobreza. Pelos critérios oficiais, o percentual da população em
situação de miséria também subiu, de 3,6%, em 2012, para 4%, em 2013. Foi a
primeira alta desde o início da série histórica, em 2004.

Apesar do aumento da população em extrema pobreza, a população em


situação de pobreza (que enfrentam carências, mas não são classificadas como
miseráveis) continuou a cair no ano passado pelos critérios da FAO e da OMS. O
total passou de 30.350.786 em 2012 para 28.698.598 em 2013, redução de 5,44%.
Em termos percentuais, a fatia de pobres caiu de 15,93% para 15,09%.

O IPEA define a linha de pobreza como o dobro da linha de extrema


pobreza. Pelos parâmetros do Programa Brasil Sem Miséria, no entanto, a
proporção de pobres subiu no ano passado, de 8,9% para 9%.
FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/economia/2014/11/numero-de-
brasileiros-na-extrema-pobreza-aumenta-pela-primeira-vez-em-dez>. Acesso em: 2 fev. 2015.

O uso da terminologia e da expressão “desigualdade social”, juntamente


com o termo “pobreza”, está interligado nas alterações de enfoque na compreensão
de todo contexto que envolve as demandas sociais relacionadas à questão, como o
reconhecimento que alguns grupos sociais têm em relação à situação de pobreza.

Algumas nações (como, por exemplo, o Brasil) não são consideradas como
países pobres, porém a desigualdade social é muito emergente. Mesmo que exista
um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e progressos das condições de vida
de alguns segmentos da sociedade, classe burguesa, não se consegue erradicar o
número de pessoas que estão na linha de pobreza ou abaixo dela.

Santos coloca que:

Para alguns economistas, a desigualdade seria tolerável se houvesse


boas perspectivas de mobilidade social – o que depende, por sua vez, da

205
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

ocorrência de altas taxas de crescimento econômico (acima de 5% ao ano),


durante algum tempo. Estima-se, por outro lado, que a implementação
de políticas de redistribuição de renda seria um meio mais efetivo de
redução do número de pobres do que de um crescimento econômico
sustentado que ocorresse a taxas consideradas plausíveis, na economia
contemporânea (3% ao ano, por exemplo). (SANTOS, 2009, p. 20-22).

O processo de industrialização e de modernização no Brasil ocorreu


somente a partir dos anos de 1930, e deixou a maioria da população fora desse novo
processo econômico, de cunho capitalista. Consolidou uma sociedade fragmentada,
dividida em classes, onde uma delas é detentora dos meios de produção, do poder,
da riqueza, e a outra é excluída e sem acesso aos serviços sociais.

DICAS

Provavelmente você, caro(a) acadêmico(a), já assistiu ao filme de curta metragem


A Ilha das Flores, onde um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num
supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Será? A Ilha das Flores segue o percurso
deste tomate no lixo, entre animais, mulheres e crianças.

Não deixe de assistir: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg>.


Acesso em: 3 fev. 2015.

A palavra exclusão significa a não inserção em um determinado grupo, ou


então em alguma condição ou situação. Existem várias formas de compreender o
significado do conceito de exclusão. Se uma pessoa é excluída de um determinado
grupo fechado, não se torna um problema social, pois estudos antropológicos
indicam a formulação de identidades sociais, onde o indivíduo se identifica ou não
com um grupo social. Esse processo acontece através da inclusão e por exclusão.

Como exemplo pode-se citar partidos políticos, igrejas, tribos, famílias,


países, que criam critérios para avaliar e classificar quem está fora do grupo, e os
que são de fundamental importância para a continuidade no grupo.

As elaborações desses critérios estão condicionadas a cada grupo, suas


culturas, sua origem, seus objetivos, e variam desde convicções políticas, religiosas
e culturais, a nacionalidade, descendência familiar, entre outros.

Quando o conceito de exclusão é utilizado no conjunto das relações das


questões sociais no sistema capitalista atual, se refere aos obstáculos que são
impostos à sociedade, dificultando o acesso dos indivíduos aos seus direitos e
benefícios adquiridos e que são garantidos pelo Estado. Como foi estudado na
primeira unidade deste Caderno de Estudos, as crises econômicas que afetaram
o Brasil nas décadas de 80 e 90, decorrentes das mudanças do sistema capitalista
mundial, cooperaram para o adensamento da exclusão social no processo de
industrialização.

206
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

Os direitos sociais, durante a década de 70 e após a Constituição Federal


de 1988, foram estendidos para a sociedade na sua totalidade, mas mesmo assim
nem todas as pessoas conseguem desfrutar deles, como direitos adquiridos e
conquistados, e exercer sua cidadania.

O conceito de cidadania foi utilizado por Marshall (1967) na metade do


século XX, e expressa o significado contrário ao conceito de exclusão. Segundo o
autor, é quando um indivíduo desfruta da qualidade de cidadão, quando se utiliza
dos direitos registrados pelo Estado e também de uma renda financeira que lhe
permita garantir uma melhor qualidade de vida.

FIGURA 58 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <http://www.sinterc.org.br/2014/10/23/eleicoes-2014-


exercendo-sua-cidadania-pelo-voto/>. Acesso em: 3 fev. 2015.

UNI

Thomas Humphrey Marshall foi um sociólogo inglês, que nasceu em 1893 e


faleceu em 1981. Sua carreira acadêmica foi diversificada, trabalhou temas que vão desde a
Sociologia às políticas sociais, apresentando referências práticas da segunda para a primeira.
Até os dias atuais o autor tem muita influência, através de seus conceitos em que explora as
relações entre as instituições da cidadania e as classes sociais.

207
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Para o autor, o conceito de cidadania está vinculado ao sentimento de


pertencimento e fidelidade para uma nação, constituindo em um patrimônio
coletivo. Nesse sentido, o sentimento de pertencimento se constitui através dos
deveres de cada cidadão para com o Estado, e pelos direitos que o Estado lhe
fornece e garante, como:

Direitos civis: que consistem na liberdade individual, como, por exemplo,


a liberdade de orientação sexual, o direito de ir e vir;

Direitos políticos: que estão referenciados ao direito de votar e ser votado;

Direitos sociais: que se referem a um conjunto de garantias legais e que


asseguram o bem-estar econômico, como, por exemplo, a segurança contra
arranjos sociais e o direito ao acesso aos serviços primordiais para a sobrevivência
da humanidade.

Para Marshall, deveria acontecer uma sucessão histórica no que se refere


a conquistas dos direitos citados acima, devido ao fato de os direitos civis terem
permitido a demanda e obtenção dos direitos políticos, abrindo um leque de
conquistas dos direitos sociais de forma democrática.

Na conjuntura atual, no Brasil, pode-se observar que a história das políticas


públicas na área social, ou seja, as políticas públicas, foi marcada pela limitação
dos direitos sociais para poucos e algumas categorias de trabalhadores, como a
assistência médica e a previdência social. Da forma, como esses direitos foram
impostos para os trabalhadores, determinou o nível de desigualdade entre a nação
brasileira.

A proteção social garantida pelo Estado, a partir da década de 60, através


da reforma estrutural, foi sendo ampliada progressivamente, e refletiu em um
maior compromisso do Estado, através dos orçamentos públicos com serviços e
benefícios sociais. Porém, somente com a Constituição Federal de 1988 é que esses
serviços e benefícios passaram a ter uma consolidação mais eficaz e eficiente.

O Brasil é considerado hoje um país que tem uma das maiores estruturas
constitucionais, que permite progressos no combate à pobreza e às desigualdades
sociais, mas existe um longo caminho a ser trilhado para que nos tornemos um
país mais igualitário e justo.

No início deste tópico foi mencionado que, juntamente com o processo de


industrialização e urbanização do Brasil, as políticas públicas de proteção social
se originaram. O marco inicial das políticas públicas, no Brasil, se deu no ano de
1923, onde foi estabelecido o Decreto nº 4682, conhecido como Lei Eloy Chaves,
homenagem ao deputado federal que a propôs, e que tinha como princípio a
criação obrigatória de um fundo de aposentadorias e pensões, as chamadas Caixas
de Aposentadorias e Pensões – CAPs, o qual atingia todas as ferrovias brasileiras.

No ano de 1926, o sistema das CAPs foi implementado também aos


208
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

trabalhadores de docas e navios, e em seguida para outros segmentos produtivos.


Quem organizava as CAPs eram as empresas privadas, o setor público não tinha
nenhuma participação na sua efetivação, nem através de financiamentos ou de sua
administração. O Estado apenas tinha a função de controle, através da intervenção
do Ministério do Trabalho, que era chamado para mediar conflitos entre as partes
envolvidas.

Segundo Oliveira e Fleury (1986), a Lei Eloy Chaves seria a primeira fase
de consolidação da política social no Brasil, que se prolongou até 1930, onde os
direitos sociais foram ampliados para outros trabalhadores.

De acordo com os autores citados acima, esta fase, que aconteceu entre
1923-1930, foi marcada por três características, o que a diferenciou da política
social após os anos de 1930, sendo elas:

• Respectiva amplitude no plano de pertinências das instituições. A amplitude


em virtude da Lei Eloy Chaves previa os benefícios pecuniários, tais como:
pensões por morte, aposentadorias, pensões de até 50% dos vencimentos aos
que fossem chamados ao serviço militar, e até durar o serviço, e previa também
os serviços assistenciais, como médico e medicamentos. Todos os membros da
família do trabalhador eram beneficiados, porém precisavam residir na mesma
casa e depender da mesma renda familiar. No ano de 1926 foram estabelecidos
legalmente o auxílio-funeral e o pecúlio por morte.

• Prodigalidade nas despesas. O modelo era chamado de pródigo, devido ao


grande número de beneficiados e de serviços oferecidos, havia certa facilidade
para obtenção dos benefícios, e os gastos com o segurado eram bem maiores do
que os das décadas seguintes.

• Natureza basicamente civil privada daquelas instituições, terceira característica


marcante. O gerenciamento das CAPs acontecia pelas comissões integradas,
com a representação da empresa e dos trabalhadores, sendo que a maior
representatividade estava centralizada nos representantes da empresa, total
de três pessoas, uma delas era o coordenador da CAPs, dois representantes
dos trabalhadores, eleitos diretamente. O custeio era feito pela contribuição
de 3% sobre os vencimentos de seus salários de cada trabalhador, as empresas
contribuíam com 1% da renda bruta, e os usuários dos serviços, como os das
ferrovias e dos portos, uma sobretaxa de 1,5% que eram destinados às CAPs, o
Estado não contribuía com nada.

As CAPs se caracterizavam como entidades privadas, mesmo sendo criadas


por leis, através da imposição do Estado, devido à falta de contribuição por parte
do governo.

O Brasil desencadeou uma das maiores transformações do país, que foi


chamada de Revolução de 1930, foi liderada por Getúlio Vargas e ficou conhecida
como a Era Vargas, a qual durou até 1945. Nesses 15 anos o Brasil se industrializou,

209
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

provocando mudanças importantes na estrutura ocupacional da sociedade


e a sua alocação nos setores econômicos, refletindo no aumento do número de
trabalhadores nas empresas privadas, provocando o êxodo rural, um aumento nas
populações das cidades e nas demandas de problemas sociais, como, por exemplo:
falta de escolas, de habitação, de saneamento básico, de saúde, de assistência, entre
outros.

FIGURA 59 – REVOLUÇÃO DE 1930

FONTE: Disponível em: <http://www.grupoescolar.com/a/b/60810.jpg>. Acesso


em: 4 fev.2015.

Novamente citando Oliveira e Fleury (1985), a segunda fase da


implementação da política pública de seguridade social se deu nesse período. No
governo de Vargas foram criados diversos Institutos de Aposentadoria e Pensão
(IPAS), sendo instituições vinculadas aos sindicatos de classes de trabalhadores,
que se destinavam a promover diversos benefícios sociais.

Os IAPAS estavam sob responsabilidade do Estado, ou seja, tutelados


pelo Ministério do Trabalho, como também os sindicatos, e seus representantes e
dirigentes eram escolhidos pelo governo. O Instituto de Aposentadoria e Pensões
dos Marítimos foi o primeiro fundo de pensão a ser criado no Brasil, fundado em
1933. No próximo ano, 1934, foi criado o instituto dos bancários, o IAPB, e em 1938
foi criado o IAPIs, dos industriários, o IAPETEC, dos trabalhadores de carga, e
também o IPASE, dos servidores públicos do Estado.

Cada IAPs tinha sua própria organização e administração. Ofereciam


serviços e benefícios diferenciados para seus segurados, que só tinham direito
se estivessem sindicalizados, devido à correlação e atrelamento entre as duas
organizações. A Lei de sindicalização, de 1931, instituía que toda a iniciativa de
constituir um sindicato deveria ter o aval do Estado, e então, grande parte da

210
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

classe trabalhadora não estava organizada em sindicatos, ficando à margem de


tais benefícios.

E
IMPORTANT

O desenvolvimento do Sistema de Proteção Brasileiro aconteceu de maneira


fragmentada.

Os benefícios que cada IAPs fornecia a seus segurados dependiam da


pressão que a categoria e os sindicatos faziam ao Ministério do Trabalho, sendo
um momento da história do país marcado pela construção do trabalhismo e de
um partido político que veio representar esses interesses, o Partido Trabalhista
do Brasil – PTB, onde cooptava lideranças sindicais em troca de apoio partidário
e vice-versa.

O número de segurados pelo IAPs aumentou muito em relação ao número


de segurados pelas CAPs. Oliveira e Fleury (1986) afirmam que o crescimento
ficou entre 140.000 em 1930, para 2.800.000 em 1945, o que representou um
crescimento do exercício pela cidadania. Mesmo com o aumento de segurados, os
gastos decresceram muito, devido ao esforço do Estado de conter as despesas com
a previdência.

O próximo período da história do Brasil, entre os anos de 1945 e 1964, ficou


conhecido como interregno democrático. Onde as instituições que tinham caráter
democrático eram quase que reguladas pelo Estado, pois o Parlamento e alguns
partidos políticos estavam trabalhando paralelamente, como exemplo o Partido
Comunista do Brasil, que atuou dentro da legalidade apenas por dois anos, entre
1945 e 1947. Mesmo que as organizações sindicais tenham conquistado o direito
de aproximação e articulação com partidos políticos, eram alvos de repressão
governamental.

Este período ficou conhecido como populista, pois os governos estavam


preocupados em resolver as demandas sociais de grupos específicos da sociedade
organizada, independente dos recursos financeiros utilizados.

Santos defende:

O populismo, neste sentido, é também a característica que marca


a política social deste período, pelo menos até 1960, na medida em
que a expansão dos benefícios sociais permanecia sendo feita através
de barganhas políticas particularizadas entre sindicatos e o Estado.
(SANTOS, 2009, p. 55).

211
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Após tramitar durante 14 anos no Congresso Nacional, em 1960 foi aprovada


a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, que estabelecia a homogeneização dos
planos de contribuição e de benefícios entre diversos institutos. Essa lei conseguiu
romper com o processo de uso dos institutos, como mecanismo de troca de favores
políticos entre as lideranças sindicais e políticas.

A unificação do sistema previdenciário no Brasil tinha várias justificativas


técnicas, sendo uma delas a racionalidade e eficiência da gestão e, também, de
sanear as questões financeiras.

Foi no ano de 1966 que vários institutos se unificaram, formando o Instituto


Nacional de Previdência Social – INPS, o qual foi gerido sob uma nova política
autoritária, que era decorrente do Golpe Militar de 1964.

A representação política no INPS foi reduzida apenas para os representantes


do governo militar, sendo extinta a representação da classe trabalhadora na gestão
do Instituto.

DICAS

Para um melhor aprofundamento sobre este período da história brasileira, é


fundamental que você, acadêmico, faça a leitura desse clássico da nossa história.

Um grupo de especialistas dedicou-se durante oito anos a reunir cópias de mais de 700
processos políticos que tramitaram pela Justiça Militar, entre abril de 64 e março de 79. O
resumo desta pesquisa está neste livro. Um relato doloroso da repressão e tortura que se
abateram sobre o Brasil.
ARNS, Paulo Evaristo. Brasil nunca mais. Um relato para a História. Petrópolis: Vozes, 1985.
Perfil dos atingidos. Petrópolis: Vozes, 1988.

212
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

Na primeira unidade deste caderno abordamos as crises econômicas que


afetaram toda a América Latina, envolvendo o Brasil também, devido à crise
da dívida externa desses países. Lembrando que as consequências dessa crise
acarretaram o aumento do desemprego, a estagnação da economia, aumento da
inflação, entre outras.

A Previdência Social, sendo a principal política pública, diante desse


cenário foi afetada por um aumento do déficit contábil, devido à diminuição de
novos contribuintes, e também pelo aumento das despesas, que aconteceu devido
à maturidade do sistema.

Nesse período o Brasil foi tomado por uma forte expansão dos movimentos
sociais de oposição ao regime militar. Durante essa década, de 80, houve uma
redemocratização que consentiu a mobilização da sociedade nos diversos
segmentos societários.

Um dos movimentos que mais repercutiu na história do povo brasileiro foi o


movimento pelas “Diretas Já”, no ano de 1984, que objetivava a derrubada do regime
militar, e trouxe ainda um conjunto de demandas sociais que estavam abafadas
pelos militares, como um novo modelo de democratização e descentralização das
políticas sociais, de reconstruir o direito de exercer a cidadania através de ações
democráticas, enfatizou também as questões das desigualdades sociais, exclusão e
pobreza, que afetavam grande parte da população.

FIGURA 60 – MOVIMENTO PELAS DIRETA JÁ

FONTE: Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/diretas-ja-o-que-foi-


esse-movimento-e-seus-participantes/>. Acesso em: 4 fev. 2015.

213
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

A descentralização das políticas sociais também estava sendo reivindicada


naquele período. Para Almeida (1995), a própria luta contra o autoritarismo e das
questões governamentais, como a corrupção que estava intrínseca na centralização
das decisões e do poder e pela falta de transparência e participação popular.

A promulgação da Constituição Federal, em 1988, teve um reflexo direto


nas demandas acima citadas, sendo chamada “a Constituição Cidadã”, por trazer
em seu conteúdo um capítulo destinado à Ordem Social, visando a garantia dos
direitos sociais para todos os cidadãos. O Artigo 194 especifica e garante que:

[...] A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de


iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos à saúde, à previdência e à assistência social.

Para os serviços sociais, a Constituição prevê:

• universalidade da cobertura e do atendimento;

• igualdade e equivalência dos benefícios para as populações urbanas e rurais;

• irredutibilidade no valor dos benefícios;

• democratização da gestão do sistema, através dos Conselhos da Previdência


e da Saúde, com a participação de trabalhadores, empregadores e outros
representantes da sociedade civil organizada.

Um novo conceito de seguridade social foi a partir da Constituição Federal,


que se constituiria em uma sociedade mais justa e solidária com as pessoas em
situações de vulnerabilidade social.

Para Vianna (2003, p. 2):

[…] a opção pela expressão Seguridade Social, na Constituição


brasileira de 88, representou um movimento concertado com vistas à
ampliação do conceito de proteção social, do seguro para a seguridade,
sugerindo a subordinação da concepção previdenciária estrita, que
permaneceu, a uma concepção mais abrangente. Resultou de intensos
debates e negociações, e significou a concordância (relativa, na verdade)
de diferentes grupos políticos com a definição adotada pela OIT:
seguridade indica um sistema de cobertura de contingências sociais
destinado a todos os que se encontram em necessidade; não restringe
benefícios nem a contribuintes nem a trabalhadores; e estende a noção de
risco social, associando-a não apenas à perda ou redução da capacidade
laborativa – por idade, doença, invalidez, maternidade, acidente de
trabalho - , como também à insuficiência de renda, por exemplo.

Diante dos princípios relacionados anteriormente, a Constituição Federal


impôs algumas alterações significativas no que se refere à proteção social para
a população brasileira. Essas mudanças foram positivas, pois igualaram os
214
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

benefícios previdenciários dos trabalhadores contribuintes rurais com os urbanos,


garantindo para o agricultor que depende da agricultura familiar, ou seja, pouca
condição contributiva, a ter uma contribuição de “segurado especial”, ou seja, é
um beneficiário que está isento da contribuição para a Previdência Social.

Outro fator importante, determinado pela Constituição Federal e


relacionado à Previdência Social, foi a concessão de um benefício não contributivo
para trabalhadores rurais e urbanos com mais de 65 anos, ou para pessoa com
deficiência, quando a renda per capita familiar mensal seja menor que um quarto
do salário mínimo por pessoa. Este benefício, após sua regulamentação, passou a
ser chamado de Benefício de Prestação Continuada – BPC.

A Constituição Federal previu em seu conteúdo que fosse criado um


“Orçamento da Seguridade Social” e a unificação dos Ministérios da Saúde,
Previdência e Assistência Social, para o Ministério da Seguridade Social, integrando
os recursos e as ações para uma única pasta governamental, com o objetivo
também de implementar de forma prática o conceito de seguridade social. O
orçamento previsto deveria ser oriundo de diversas fontes e com exclusividade de
financiamento, das contribuições de toda a sociedade: União, Estado, municípios,
trabalhadores e empresários, como também da arrecadação das loterias federais.

A regulamentação desses dispositivos previstos na Constituição foi


obstruída com o passar dos anos, devido às restrições econômicas e orçamentárias.
Nessa época a inflação estava próximo a 1.500% anual. Além do contexto econômico,
houve a reação das classes conservadoras, pois foram vencidos nas votações sobre
o Capítulo da Ordem Social.

UNI

O Orçamento da Seguridade, previsto pela Constituição Federal de 1988, nunca


foi institucionalizado.

Foi através da reação da classe conservadora que, no ano de 1989, se deu


a eleição para Presidente da República de Fernando Collor de Mello, que adiou
o quanto pôde a regulamentação dos artigos da Ordem Social, e enfatizou a
descaracterização do projeto inicial para a implementação da Seguridade Social.

No governo de Collor, o INPS foi transformado em Instituto do Seguro


Social – INSS, que foi vinculado ao Ministério do Trabalho, como era na época de
Vargas. Sendo assim, o modelo proposto pela Constituição Federal foi revertido,
para o princípio da necessidade social, ou então a ideia de que proteção social
é mérito, que se fundamenta num seguro social, através de atitude contratual e
individual.

215
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Neste período, os organismos financeiros, como o Fundo Monetário


Internacional – FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento,
solicitavam que os países endividados, em especial os países latino-americanos,
fizessem uma adequação estrutural, em virtude à estabilização monetária e a fiscal,
e também recomendavam a redução de gastos do Estado com o social, através das
privatizações dos serviços e programas de proteção social.

Segundo Médice e Maciel (1995), o gasto social em 1992 foi somente de US$
43 bilhões, quando este já chegou a alcançar o valor próximo de US$ 50 bilhões,
antes da nova Constituição Federal. A área da Saúde foi a mais atingida, através de
uma redução de 30% nos seus gastos, entre os anos de 1990 e 1992.

No final de 1992, após o impeachment do Presidente Collor, o seu substituto


Itamar Franco retomou a discussão do processo para regulamentação constitucional
da Seguridade Social, porém de forma diferente da que tinha sido contextualizada
e prevista na Constituição Federal.

Quando a regulamentação da Seguridade Social foi implementada, as


políticas de Saúde, Previdência e Assistência Social foram alocadas em ministérios
diferentes e independentes. Os recursos e as receitas orçamentárias da Seguridade
Social foram divididos e centralizados no Tesouro Nacional.

E
IMPORTANT

A medida de maior impacto social nesse processo foi a ampliação da cobertura


previdenciária para os trabalhadores rurais.

Com a expansão dos benefícios para os agricultores, em quase dois anos


aumentou em um terço o número de beneficiários, aumentando expressivamente
as despesas financeiras e previdenciárias.

Segundo Santos (2009, p. 62),

A proposta dos constituintes era que o Tesouro Nacional subsidiasse


este gasto com recursos provenientes das diversas fontes previstas
na composição do Orçamento da Seguridade. Uma vez que este foi
descaracterizado, o pagamento dos benefícios passou a contar apenas
com a receita das contribuições de empresários e trabalhadores, o que
era, necessariamente, insuficiente. Daí a geração deu déficit nas contas
do INSS, o qual deu ensejo, logo em seguida, à defesa, pelo campo
conservador, de uma reforma da previdência social. Esta passou a ser
vista, então, como um “doente terminal”; e seu equacionamento só seria
viável através da privatização, tal como ocorrera no Chile, em 1981.

216
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

A reforma previdenciária que ocorreu no Chile, em 1981, foi a primeira e


mais radical das reformas que ocorreram nos países latino-americanos, através da
privatização do sistema e mudando seu modelo de regime financeiro.

O Chile foi o primeiro país a realizar uma reforma previdenciária tão


extrema e radical, através da mudança de seu sistema financeiro, onde era de
repartição simples, passou para a capitalização individual, tendo uma similaridade
ao sistema brasileiro de previdência privada.

A Constituição de 1988, no seu Artigo 3º, onde contextualiza os “Atos de


Disposições Constitucionais Transitórias’’, estabelecia uma revisão textual no
prazo de cinco anos, sendo que em 1993 iniciou o debate com diversas propostas
de reforma previdenciária, sendo enfatizado o modelo chileno. Tais propostas não
prosperaram, com forte resistência no parlamento nacional e também internamente
no sistema previdenciário, devido à sua burocracia e ao alto custo que esse processo
teria.

O Ministério da Previdência, devido ao déficit das contas previdenciárias,


tomou como atitude cortar os repasses de recursos financeiros que eram realizados
ao Ministério da Saúde, logo no início dos anos de 1980. Foram quase 13 anos em
que essa área sofreu uma enorme crise de financiamento, e que foi quase sanada
com a criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – CPMF,
onde a receita no início seria destinada para as políticas de saúde. No decorrer
do tempo, outras áreas de políticas públicas também foram beneficiadas, o que
deixou a área da Saúde com diversos problemas, cada vez mais em condições de
precariedade.

Para Santos (2009, p. 66):

O desempenho do gasto social nos governos de FHC foi pouco melhor


do que os das duas gestões que lhe antecederam, especialmente no
primeiro mandato (1995-1998). A estabilização da moeda, a partir
do Plano Real, permitiu certo nível de crescimento da economia e do
consumo, aumentando as receitas de impostos e contribuições.

Mesmo com um maior investimento nas políticas sociais, ainda estavam


atreladas às políticas macroeconômicas, sendo desviadas para programas sociais
que tinham objetivos mais focalizados. Conforme Santos (2009), focalização
compreende o processo de eleição de um determinado segmento específico da
população como objeto de uma política ou de um programa social, como, por
exemplo, as políticas de gênero. O Movimento Feminista das Mulheres, por
exemplo, chama a atenção para a elaboração e implementação de políticas públicas
especialmente para as mulheres.

Em contraponto às políticas focalizadas, existem as políticas universais,


que, sem nenhuma ressalva, são um direito de toda a população. É o caso do
Sistema Único de Saúde - SUS, pois todos os brasileiros, ou estrangeiros que estão
no Brasil, têm acesso a ele.

217
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

O debate que deve acontecer entre as políticas focalizadas e as políticas


universais deve ser um processo político, de responsabilidade do Estado. Pois as
políticas universais garantem o direito de todos os cidadãos a serem atendidos
pelas mesmas, sem nenhum preconceito ou diferenciação, visando a erradicação
da pobreza. As políticas focalizadas defendem que o Estado deve atuar não de
forma universal, mas focando apenas nas classes menos favorecidas.

FIGURA 61 – CONJUNTO DAS ATUAÇÕES SOCIAIS

FONTE: A autora

A política social brasileira, desde 1988, se tornou um conjunto de ações e


medidas universais, como já citado o exemplo do SUS e a Educação Fundamental,
como direitos garantidos pela Constituição Federal; e outras com desempenho
focalizado em alguns setores e segmentos da sociedade, como, por exemplo, o
Programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada.

Mesmo que a política social esteja fundamentada em medidas e ações


de cunho universal, estas podem variar de um período para o outro, conforme
interesses das agendas políticas. Castro e Cardoso Junior (2007) comparam o que
aconteceu durante os dois governos do Presidente Fernando Henrique Cardoso. No
primeiro mandato, entre 1995 e 1998, as políticas sociais tiveram um crescimento
de 22%, porém no final do segundo mandato, no ano de 2002, houve uma queda
de 1%.

Para os mesmos autores, vários fatores contribuíram para que essa queda
acontecesse, entre eles dois acordos realizados com o FMI, nos anos de 1998 e 2002,
que constituíam metas rígidas de superávit fiscal; bem como a crise cambial que

218
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

afetou o Brasil no ano de 1999. Os dois fatores acarretaram a desaceleração da


economia e cortes nos investimentos públicos, principalmente na área social. Os
investimentos na área social do ano de 2002 foram os mesmos que os realizados
em 1998, no governo de FHC.

No início do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de


2003, a situação econômica do Brasil não foi muito diferente do que tinha acontecido
no governo que o antecedeu. No seu início, o governo não só manteve os ajustes
fiscais, como os aprofundou, na medida em que fixou alvos de superávit primário
superiores aos que tinham sido acordados com o FMI.

O ano de 2003, a exemplo dos anos anteriores, foi muito negativo para a
economia brasileira, pois a moeda brasileira, o real, se desvalorizou em relação ao
dólar, e a atividade econômica tolerou recessão, vindo a se recuperar no final do
mesmo ano.

A partir de 2004, o crescimento econômico do país foi retomado, com uma


trajetória crescente até o final do ano de 2008, quando decaiu sobre a economia
mundial a crise imobiliária americana. A arrecadação do Tesouro Nacional,
previdenciária ou a tributária, teve um elevado crescimento, ocasionando uma
maior estabilidade nas contas públicas.

O governo Lula escolheu manter a mesma direção e orientação do governo


de FHC, com foco nos investimentos para a área social. Um dos programas de
maior relevância em seu governo e que teve continuidade no governo da atual
Presidente Dilma Rousseff, é o Programa Bolsa Família, voltado para a erradicação
da pobreza.

A participação social no governo Lula foi um marco para seu governo, que
conseguiu transformá-la em política pública, tornando as políticas uma construção
coletiva entre governo e sociedade civil. A participação popular, a partir de 2003,
se enfatizou por diversas maneiras, como um instrumento passível de promover o
desenvolvimento do Estado brasileiro fundamentado na promoção da igualdade
e, principalmente, na inclusão social.

O Presidente Lula teve dois mandatos, em ambos a participação popular


esteve como prioridade nas agendas das políticas sociais, tendo um objetivo
político e social, onde o Estado e a sociedade agem conjuntamente, moldando,
aperfeiçoando e aprofundando a democracia brasileira.

A participação social foi consolidada como um método democrático


de gestão das políticas públicas, no governo Lula. Nos oito anos de governo,
diferentes práticas participativas foram implementadas, rompendo com as práticas
clientelistas que estavam enraizadas historicamente na sociedade e no governo.

Os Conselhos deliberativos são considerados espaços institucionais de


interlocução do Estado com a sociedade, e desenvolvem um papel estratégico na

219
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

elaboração de políticas públicas. A representatividade nos Conselhos acontece


através de representantes governamentais e da sociedade civil. Muitas das
propostas discutidas nas reuniões dos Conselhos transformam-se em decretos,
portarias e projetos de lei e até em leis aprovadas pelo Legislativo.

As conferências e os conselhos, em todas as esferas governamentais, são


instâncias de participação e deliberação popular. As conferências são espaços para
a formulação de políticas, e de elaboração de diretrizes e maneiras de garantir
as políticas sociais que já estão garantidas em lei. Um exemplo a ser citado são
as Conferências das Cidades, que a partir da participação popular conseguiram
colocar na agenda pública e política questões que se referem à reforma urbana,
pois sempre eram tratadas como problema local.

FIGURA 62 – PARTICIPAÇÃO POPULAR

FONTE: Disponível em <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/


participacao-social-nenhum-passo-atras.html> Acessado em: 05 fev. 2015.

Em 2004 foi criado o Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome


(MDS), que é a instância responsável pela gestão e implementação dos principais
programas de combate à pobreza e à fome no país. Quando o MDS foi criado,
integrou três áreas distintas do governo: o Ministério Extraordinário de Segurança
Alimentar e Combate à Fome (MESA), o Ministério da Assistência Social e a
Secretaria Executiva do Programa Bolsa Família.

A principal atribuição do MDS passou a ser implementar a Política de


Assistência Social, a Política de Segurança Alimentar e Nutricional e o Programa
Bolsa Família. Ao situar a política social na atualidade, deve-se referenciar no
mesmo nível do desenvolvimento econômico.

A questão social, no governo Lula, passou a fazer parte da agenda


governamental, com uma nova concepção, diferente dos hábitos cravados na
cultura política da sociedade brasileira, onde o tema era discutido apenas nos
processos das campanhas eleitorais.

220
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

Através desse novo caráter, as políticas sociais passaram a corresponder à


consolidação dos direitos e à efetivação de ações que acarretaram na redução das
desigualdades sociais.

DICAS

Para acompanhar estatisticamente os dados e os resultados das políticas públicas,


acesse o site: <http://www.ibge.gov.br/home/>.

LEITURA COMPLEMENTAR

AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL NO BRASIL

Arlete Sampaio

[...] Um olhar retrospectivo sobre a política social no país demonstra a ausência


de espaços democráticos em sua formulação, que, somente após o fim da ditadura
militar e a partir da mobilização social, começaram a ser construídos. A história da
República no Brasil deu-se com longos interstícios autoritários. A consolidação desses
espaços vem sendo alcançada nos nove anos do Governo Lula e no Governo Dilma.
Registre-se, ainda, que vivemos o mais longo período de vida democrática da história
brasileira. 

As lutas da sociedade civil que antecederam e caracterizaram o período


da redemocratização deram visibilidade às grandes demandas sociais, que
se transformaram posteriormente em políticas públicas. Movimentos sociais,
associações, entidades de classe e categorias profissionais construíram uma pauta
de reivindicações que incluía direitos civis, políticos e sociais, como a melhoria das
condições de vida, salário, educação e saúde. Esses atores construíram a agenda de
mudanças que desaguou na elaboração da nova Constituição Federal, promulgada em
1988, inaugurando, assim, uma nova ordem democrática. Nesse contexto, a garantia e
a ampliação dos direitos individuais e coletivos estão intimamente ligadas à formação
da consciência política e à construção da cidadania. 

A política de desenvolvimento social com inclusão procura romper com a


lógica adotada pelo Estado brasileiro no passado. Lógica que se baseava na tutela do
Estado sobre as iniciativas da sociedade civil. Em decorrência dessa visão patriarcal,
mesmo quando atuando para proteger direitos sociais, o Estado agia autoritariamente,
negando a participação popular e obstaculizando a construção de uma consciência
pública. 

221
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Com uma atuação corporativa, que substituía a ação independente das


associações profissionais e de classe, o Estado brasileiro sempre defendeu, sob a
aparência de um Estado “protetor”, os interesses de oligarquias portadoras da cultura
do privilégio. Desse modo, o que predominou foi o modelo de desenvolvimento de
reprodução de desigualdades sociais. 

Na contemporaneidade, com a crise do welfare state na Europa, a partir da


década de 1970, e, posteriormente, com a crise do próprio neoliberalismo, o papel do
Estado no desenvolvimento social fica bastante evidenciado. Em todos os modelos e
opções de desenvolvimento em debate reconhece-se a importância do papel ativo do
Estado na promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável. 

A lógica clientelista e assistencialista que sempre marcou a política social


brasileira foi substituída pela visão de um Estado provedor e garantidor de políticas de
proteção e promoção social. O Estado foi remodelado de modo a se tornar agente ativo
no desenvolvimento social e instância promotora de políticas públicas, na perspectiva
de direitos sociais. Essa nova visão do papel do Estado no país foi reforçada com a eleição
do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua vitória representou, indubitavelmente,
uma conquista dos movimentos sociais. Os resultados positivos do Governo Lula,
sua relação com os movimentos sociais, o fenômeno da extraordinária mobilidade
social, tornaram possível a eleição da Presidenta Dilma Rousseff, representando a
continuidade de projeto político iniciado por Lula.

A política social dos Governos Lula e Dilma é marcadamente voltada para os


setores mais necessitados da população. E nessa perspectiva foi construída a estratégia
Fome Zero. Nos oito anos de mandato do Presidente Lula e nesses dois primeiros anos
de mandato da Presidenta Dilma, os dados mostram o impacto da política social no
Brasil. Com uma população estimada em 190,8 milhões de habitantes, 67 milhões de
pessoas são assistidas pelos programas sociais do Governo Federal. As iniciativas da
política social de combate à fome e à pobreza permitiram retirar 28 milhões de pessoas
da pobreza absoluta e reduzir em 62% a desnutrição infantil. 

O Programa Bolsa Família, um dos carros-chefes da política social no Brasil -


que hoje integra o Plano Brasil Sem Miséria -, beneficia mais de 13 milhões de famílias.
Vale registrar que o governo Dilma avançou, ainda mais, ao lançar o Brasil sem
Miséria (BSM), com o objetivo de alcançar as pessoas que permanecem na extrema
pobreza, ainda não beneficiadas pelas políticas sociais do governo. O BSM tem como
foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$
70 mensais, e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos
serviços públicos. Esses e outros planos e programas, aliados ao crescimento real do
salário-mínimo e à geração de cerca de 15 milhões de empregos formais, fizeram com
que 30 milhões de brasileiros ascendessem das classes D e E para a classe C.

De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA),


se projetados os melhores desempenhos brasileiros alcançados recentemente em
termos de diminuição da pobreza e da desigualdade (período 2003-2008) para o ano de
2016, o resultado seria um quadro muito positivo. O país pode praticamente superar a
pobreza extrema, assim como alcançar uma taxa de pobreza absoluta de apenas 4%, o
que significa quase a sua completa erradicação. 
222
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS E SUAS DIMENS­ÕES HISTÓRICAS

Ainda de acordo com o IPEA, a maior parte dos avanços atualmente


alcançados pelo Brasil no enfrentamento da pobreza e da desigualdade está direta ou
indiretamente associada à estruturação das políticas públicas do Estado, motivadas
pela Constituição de 1988. Há ainda três outros importantes fatores: i) a elevação do
gasto social no país, que cresceu de 19% do Produto Interno Bruto (PIB), em 1990, para
21,9% do PIB, em 2005; ii) a descentralização da política social, com o aumento do
papel do município na implementação das políticas sociais, instância que saltou 53,8%
em participação nos gastos sociais no período de 1980 a 2008; e iii) a participação social
na formatação e gestão das políticas sociais.

Apesar dos significativos avanços, as carências do país na área social ainda são
muitas, devido ao legado histórico de reprodução das desigualdades sociais. Embora
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) já inclua o Brasil entre os países que
apresentam alto desenvolvimento humano, sua posição ainda está muito abaixo de
vários vizinhos latino-americanos. 

Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento


(PNUD), o Brasil ocupa a 73ª posição no ranking do IDH 2010, em uma lista de 169
países. O país alcançou o índice de 0,699. Apesar da evolução, continua a exibir um
IDH menor que a média da América Latina e Caribe, que é de 0,704. Na região, o
país mais bem colocado é o Chile, que ocupa a 45ª posição, seguido da Argentina, 46ª,
Uruguai, 52ª, Panamá, 54ª, México, 56ª, Costa Rica, 62ª e Peru, 63ª. O país com a pior
colocação na lista completa é o Zimbábue. Com mais alto índice de desenvolvimento
humano estão, pela ordem, Noruega, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. 

Os avanços nas políticas sociais, bem como a elevação do PIB per capita, têm
importantes reflexos na melhoria do desenvolvimento humano. Educação e saúde
também melhoraram, mas em ritmo menor, já que o analfabetismo adulto tem caído
pouco e a expectativa de vida ao nascer (único componente do índice de saúde) não
costuma sofrer oscilações bruscas de um ano para outro. 

Porém, apesar dos avanços alcançados, o Brasil ainda é um país de elevado


índice de desigualdades sociais. Embora o país apresente queda na desigualdade
social, ainda compõe o grupo dos países mais desiguais do mundo. O índice de
pobreza permanece na faixa de 30,3% da população.

A continuidade das políticas sociais, como políticas de Estado, estabelece


um novo paradigma em que o desenvolvimento social passa a ser entendido em
suas dimensões econômica, política, cultural e socioambiental e contribuirá para a
superação das profundas desigualdades sociais ainda existentes no país, de modo
a garantir a extensão de fato, e não apenas na lei, do status de cidadão a todos os
brasileiros. 

Na nova concepção das políticas públicas, o beneficiado, cidadão sujeito de


direitos, é um agente protagonista e não um objeto da política social.

FONTE: Disponível em: <http://www.democraciasocialista.org.br/democraciasocialista/artigos/


item?item_id=362212>. Acesso em: 5 fev. 2015.

223
RESUMO DO TÓPICO 3

• A atual conjuntura econômica mundial traz como principais demandas sociais a


questão da pobreza, da exclusão e também a questão da cidadania como direito
adquirido.

• No Brasil, essas mazelas do capitalismo e o aumento significativo de outras vêm


ganhando espaço na discussão em todas as classes sociais.

• A diferença entre pobreza e desigualdade acontece devido ao fato de a primeira


estar sempre na qualidade que afeta o ser humano na sua individualidade, e a
desigualdade atinge a população de forma conjunta.

• A pobreza pode ser caracterizada e definida como a “escassez de renda”.

• Para medir suas interferências sobre a sociedade são utilizados indicadores,


como: Produto Interno Bruto (PIB), renda per capita de cada país, estado, cidade
ou núcleo familiar.

• A forma para definir uma linha de pobreza é através do valor da renda, tanto
individual como familiar, que consiga garantir as necessidades básicas, como
alimentação, vestuário, educação, habitação, saúde, entre outras. As pessoas que
têm renda que está abaixo de custear essas necessidades básicas são consideradas
pobres e, ainda, naquelas em que o rendimento é ainda menor, são de extrema
pobreza.

• A palavra exclusão significa a não inserção em um determinado grupo, ou então


em alguma condição ou situação.

• Os direitos sociais, durante a década de 70 e após a Constituição Federal de


1988, foram estendidos para a sociedade na sua totalidade, mas mesmo assim
nem todas as pessoas conseguem desfrutar deles, como direitos adquiridos e
conquistados e exercer sua cidadania.

• O Brasil é considerado, hoje, um país que tem uma das maiores estruturas
constitucionais.

• Para os serviços sociais, a Constituição prevê: universalidade da cobertura e


do atendimento; igualdade e equivalência dos benefícios para as populações
urbanas e rurais; irredutibilidade no valor dos benefícios.

• A Constituição de 1988, no seu Artigo 3º, onde contextualiza os “Atos de


Disposições Constitucionais Transitórias’’, estabelecia uma revisão textual no

224
prazo de cinco anos, sendo que em 1993 iniciou o debate com diversas propostas
de reforma previdenciária.

• A política social brasileira, desde 1988, se tornou um conjunto de ações e medidas


universais, como já citado o exemplo do SUS e a Educação Fundamental, como
direitos garantidos pela Constituição Federal.

225
AUTOATIVIDADE

1 Pesquise sobre a última IX Conferência Nacional de Assistência Social, que


aconteceu em 2013, e escolha uma das deliberações que foram aprovadas e
verifique como anda a implementação da mesma em sua cidade, quais as
dificuldades encontradas, recursos envolvidos, se existe um planejamento
das ações, previsão de implementação, entre outras. Não se esqueça de citar
a fonte de sua pesquisa.

2 Em relação aos Conselhos Municipais e que já estão implementados, escolha


um deles que existe na sua cidade e pesquise sobre algum decreto, resolução ou
projeto lei que foi aprovado pelo Conselho. Descreva como o mesmo contribuiu
para a consolidação da política pública. Traga esse debate para a sala de aula.
Não se esqueça de citar a fonte.

226
UNIDADE 3
TÓPICO 4

AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS


CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO

O último tópico deste Caderno de Estudos da disciplina Serviço Social no


Capitalismo apresentará algumas políticas públicas decorrentes de demandas
sociais contemporâneas e que hoje são campo de atuação do profissional do Serviço
Social.

A escolha de algumas políticas que serão apresentadas se dá pela


centralidade que as mesmas têm adquirido nas agendas governamentais, e que
estão sendo traduzidas em ações e instrumentos com articulações entre todos
os segmentos governamentais e não governamentais, para alcançar os objetivos
traçados.

A compreensão das políticas públicas de Saúde e Educação é de fundamental


relevância para entender o seu papel estratégico no desenvolvimento do país,
de forma mais igualitária e justa para toda a população. A Constituição Federal
de 1988 determina que a execução dessas políticas deva ser descentralizada, ou
seja, do Governo Federal para os estados e então para os municípios, através da
passagem de responsabilidade e recursos para todas as esferas de governo.

Uma das políticas públicas que vem se estruturando nas últimas décadas
e se fortalecendo no Brasil é a Política Nacional de Assistência Social, PNAS,
aprovada no ano de 2004, e que tem destaque na agenda governamental, em nível
federal, desde o Governo Lula. Que inclui as demandas relacionadas à Segurança
Alimentar. Novas ações foram criadas e outras remodeladas através de projetos
e programas para combater a fome, e também de transferência de renda para
indivíduos em situação de vulnerabilidade social, além de uma nova estrutura no
sistema de proteção social.

Outra política pública que diante do sistema capitalista merece destaque


neste tópico, são as políticas relacionadas às demandas da temática do Trabalho e
da Geração de Renda, que vêm, ao longo da história do desenvolvimento econômico
do Brasil, sendo uma das apreensões do governo brasileiro.

As temáticas apresentadas acima não esgotam o desafio de atuação do


profissional de Serviço Social, nas políticas públicas. Porém, caro(a) acadêmico(a),
esse tópico apresentará as principais áreas de atuação profissional.

227
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

2 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS E CIDADANIA


As políticas públicas podem ser estendidas em programas, projetos e
serviços, e com legislação particular para cada uma delas, como, por exemplo, no
caso das políticas sociais, existe a Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica
de Assistência Social – LOAS, que institui a Política Nacional de Assistência Social;
ou a Lei 8.082, de 19 de setembro de 1990 - Lei Orgânica da Saúde, que dispõe sobre
a Política Nacional de Saúde. As leis devem estar de acordo e fundamentadas na
Constituição Federal de 88.

Conforme o artigo 6º da Constituição Federal:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 9 fev. 2011.

Todos os direitos sociais descritos acima estão referenciados nos seguintes


temas:

• Nos artigos que compõem a Constituição Federal;


• Em leis específicas;
• Nas políticas sociais que projetam e desenham as diretrizes para a implementação
de programas, projetos e serviços, que garantam os direitos previstos em leis.

O quadro abaixo mostra de forma sintetizada as leis que garantem os


direitos sociais do art. 6 da Constituição Federal:

QUADRO 7 – DIREITOS SOCIAIS

LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS QUE


ARTIGOS DA CONSTITUIÇÃO
DIREITOS SOCIAIS GARANTEM CADA DIREITO
FEDERAL DE 1988
SOCIAL
Lei n. 8.082, de 19 de setembro de
Saúde Art. 196 a 200
1990 – Lei Orgânica da Saúde (LOS)
Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que
Previdência Social Art. 201 e 202 dispõe sobre os planos de Previdência
Social e dá outras providências.
Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993
Assistência Social Art. 203 e 204 - Lei Orgânica da Assistência Social
– LOAS.

228
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

Lei 9.394, de 20 de dezembro de


Educação Art. 205 a 214 1996, Lei de Diretrizes de Bases da
Educação Nacional – LDBEN.
Lei 11.124, de 16 de junho de 2005 - Lei
Moradia Art. 183, 187, 191 sobre Habitação de Interesse Social
(SNHIS).
Lei 11.346, de 15 de setembro de
2006 – Lei Orgânica da Segurança
Segurança alimentar e Alimentar e Nutricional (LOSAN),
Art. 200, 208, 227
nutricional que, entre outras providências, cria
o Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional – SISAN.
Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 -
Proteção da família, da
Estatuto da Criança e do Adolescente
criança, do adolescente Art. 226 a 230
– ECA, LOAS, Lei 10.741, de 1º de
e do idoso
outubro de 2003 - Estatuto do Idoso.

FONTE: A autora

A política pública na área da Educação, nos últimos anos, vem tendo


significativos avanços, porém apresenta grandes desafios a serem enfrentados
pelo Estado e pela sociedade brasileira.

O Brasil alcançou praticamente a totalidade da população estudante


entre sete e 14 anos, com idade mínima escolar, mas as condições de acesso e a
permanência dos mesmos na escola ainda são uma questão social a ser superada.
Outra questão que deve ser superada é conseguir atrair os adolescente e jovens
para uma continuidade dos estudos após a conclusão do Ensino Fundamental.

Segundo dados do IBGE (2014), a taxa de analfabetismo das pessoas acima


de 15 anos no país voltou a cair no ano de 2013. Segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), o número de pessoas analfabetas no Brasil
chegava a quase 13 milhões, o que corresponde a 8,3% da população brasileira.
Através da PNAD foi comprovado 0,4% do percentual abaixo do que tinha sido
registrado em 2012, que era de 8,7%. Outro dado fundamental é que a taxa de
analfabetismo funcional, onde indivíduo maior de 15 anos possui escolaridade
menor que quatro anos letivos, diminuiu de 18,3% para 17,8%.

Nessa pesquisa foi verificado que todos os grupos etários tiveram uma
redução na taxa de analfabetismo entre 2012 e 2013. Entre jovens de 15 e 19 anos
foi registrada uma queda com uma porcentagem de 1%, o que não significa que a
política de educação esteja perfeita, pelo contrário, o Estado precisa investir muito
mais na qualidade da mesma.

229
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

No Brasil o sistema educacional está estruturado conforme quadro abaixo:

QUADRO 8 – SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

Destinada à criança de 0 a 6 anos. Compreende creche


Educação Infantil
e pré-escola.
Abrange a faixa etária de sete a 14 anos e com duração de
Ensino Fundamental oito anos. É obrigação do Estado garantir a universalidade
da educação neste nível de ensino.
Ensino Médio e Médio Profissionalizante Duração variável entre três e quatro anos.
Compreende a graduação e a pós-graduação. Os
cursos de graduação têm duração de quatro a seis
anos, para os cursos de mestrado, e entre quatro a seis
anos, para doutorado. Além desses níveis, o sistema
educacional atende aos alunos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. Esse
Ensino Superior
atendimento ocorre desde a educação infantil até os
níveis mais elevados de ensino. Atende também ao
jovem e ao adulto que não tenham seguido ou concluído
a escolarização regular, na idade própria, através dos
cursos e exames supletivos.

FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pequisas/educação.html>. Acesso em:


9 fev. 2015.

A educação como “direito de todos” já estava previsto na Constituição de


1934, elaborada no início da Era Vargas. Mas somente na Constituição de 1988
é que ela se tornou um “dever do Estado”, devendo ser de maneira universal,
principalmente no nível fundamental. Foram definidas as responsabilidades
e competências das esferas governamentais em todos os seus níveis, e também
prevendo as fontes de recursos para o financiamento desta política.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro


de 1996 – LDB, configurou o sistema educacional brasileiro. A LDB impôs diversas
exigências aos entes federados, como as previsões relativas de gasto mínimo
por aluno, onde cada esfera governamental deve promover em sua jurisdição.
Estabeleceu também o aumento para 200 dias letivos em todo o país, totalizando
800 horas-aula anuais a jornada integral, como também medidas de qualificação e
valorização dos profissionais da área da Educação.

Segundo a CF de 88 e a LDB, as competências governamentais estão


distribuídas conforme o quadro abaixo:

230
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

QUADRO 9 – COMPETÊNCIAS GOVERNAMENTAIS


Esfera Atribuições
Responsável por organizar o sistema federal de ensino,
UNIÃO
financiar as instituições que são federais.
Responsáveis por atuar prioritariamente no ensino de
ESTADOS
níveis Fundamental e Médio.
Responsáveis por atuar prioritariamente no Ensino
MUNICÍPIOS
Fundamental e na Educação Infantil.
FONTE: A autora

Cada esfera acima descrita está organizada com sua própria estrutura
organizacional, que são as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, com
seus respectivos Conselhos. O Ministério da Educação - MEC tem seu organograma
muito amplo, conforme as secretarias abaixo relacionadas.

• Secretaria de Educação Básica (SEB);


• Secretaria de Educação Profissional (SETEC);
• Secretaria de Educação Superior (SESU);
• Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão
(SECADI);
• Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE);
• Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (SERES).

Além das secretarias, o MEC possui vários órgãos vinculados que atuam
de forma direta e indireta em todos os níveis de educação, e através de pesquisa e
avaliação do sistema educacional no país.

O Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o INEP,


tem um papel fundamental no desenvolvimento e avaliação do sistema educacional
no Brasil, sendo realizadas as seguintes avaliações:

• Censo Escolar;
• Censo Superior;
• Avaliação dos Cursos de Graduação;
• Avaliação Institucional;
• Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior (SINAES);
• Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM);
• Exame Nacional para Certificação de Competências (ENCEJA);
• Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB).

O INEP, além de levantamentos estatísticos, promove a formação e encontros


para discutir temas relacionados à educação, como também disponibiliza formas
e conteúdos sobre o tema.

231
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

DICAS

Conheça mais sobre o INEP: Acesse: <www.inep.gov.br>.

Conforme a CF de 88, a União, os estados e os municípios deveriam


estabelecer uma parte das receitas orçamentárias para a política de educação. O
MEC centraliza seus recursos e receitas destinados à educação, através do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A política de Educação precisa enfrentar diversos desafios, juntamente


com o governo federal e também com a sociedade civil.

No ano de 2014 foi aprovada a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que


aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências, conforme
segue:

Art. 1o É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com vigência


por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na forma do Anexo,
com vistas ao cumprimento do disposto no  art. 214 da Constituição
Federal.

Art. 2o São diretrizes do PNE:


I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção
da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;
IV - melhoria da qualidade da educação;
V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores
morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;
VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública;
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país;
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure
atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e
equidade;
IX - valorização dos(as) profissionais da educação;
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à
diversidade e à sustentabilidade socioambiental.
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_
Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em: 9 de fev. 2014.

Sendo que os estados e municípios são obrigados a elaborar seus planos de


educação.

232
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

E
IMPORTANT

Para saber mais sobre o PNE, leia o seguinte material, disponível no link: <http://
pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>.

O acesso ao tratamento de saúde no Brasil, até os anos de 1980, estava


limitado somente para os trabalhadores que tinham vínculos com o sistema
previdenciário, através de registro em carteira. Com a redemocratização dos
países, a política de saúde sofreu mudanças, resultou em um novo Sistema Único
de Saúde – SUS.

No ano de 1990 foi aprovada a Lei nº 8.080, de 19 de setembro, que dispõe


sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, para a
política de saúde.

O SUS prevê a universalidade e equidade no acesso, a integralidade das


suas ações e a participação social na sua gestão. A universalidade tem como
princípio a garantia de qualquer cidadão brasileiro ou que esteja no Brasil, o
acesso às políticas de saúde como direito garantido, sem levar em consideração
sua profissão, renda, ou então contribuição com a previdência. O princípio da
integralidade defende que os serviços de saúde devem considerar as necessidades
de cada pessoa, em suas diversas dimensões, como biológica, psicológica e
social. No princípio da participação social, remete à intervenção da sociedade no
planejamento, acompanhamento e avaliação da política da saúde.

A participação social acontece através dos Conselhos e das Conferências de


Saúde e que estão organizados em todos os níveis de governo: nacional, estadual e
municipal. A formação dos conselhos se dá de forma paritária, com representantes
da sociedade civil, usuários, governo, profissionais da saúde, prestadores de
serviço. O Ministério da Saúde, para a distribuição de recursos financeiros, usa
como um dos itens para avaliar a atuação dos Conselhos.

UNI

As Conferências são eventos que acontecem periodicamente, com extensa


participação popular, e que determinam prioridades e as configurações das ações da política
da saúde. Nesse espaço de debate são produzidos relatórios, onde são pautados os principais
problemas e os resultados que foram obtidos com a implementação da política de saúde.

233
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

O SUS envolve ações das instâncias de governo, e prevê a hierarquização


e a regionalização de serviços e ações, resultando em uma responsabilidade
compartilhada no atendimento aos usuários pela União, estados e municípios.
Sendo assim, o município tem como prioridade desenvolver o serviço de atenção
básica, e os Estados e União, os serviços mais complexos e especializados.

O SUS é de responsabilidade de todos os três níveis de governo, através da


vinculação das receitas financeiras. Os recursos federais correspondem a 70%, que
são repassados aos fundos estaduais e municipais de Saúde, ou são diretamente
pagos aos prestadores de serviços.

As receitas do Fundo Nacional de Saúde são reunidas pelo Ministério


da Saúde e repassadas para estados e municípios, conforme critérios que são
acordados entre os níveis de governo. Nem todos os Estados repassam recursos
para os municípios, pois existe uma perspectiva de que esses assumam cada
vez mais uma postura e estreitamento dos serviços com prestadores de serviços
privados.

Todas as decisões relacionadas ao SUS acontecem através de Portarias


Ministeriais, com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS)
e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS).

A política de saúde tem como fundamentos de sua estruturação os seguintes


documentos:

• Normas Operacionais Básicas editadas em 1991, 1992 e 1996;


• Normas da Assistência à Saúde, de 2001 e 2002 (NOB 1991; NOB 1992; NOB
1996; NOAS 2001; NOAS 2002).

A partir de 2007 entra em vigor o Pacto pela Saúde, que substitui as NOBs e
as NOAS que foram divulgadas anteriormente. O Pacto pela Saúde consolidou um
conjunto de reformas institucionais do SUS, que entraram em acordo nas esferas
de governo, onde os recursos foram destinados para finalidades afins, sendo elas:

• Atenção Básica, Médica e Alta Complexidade da Assistência;


• Vigilância em Saúde;
• Assistência Farmacêutica;
• Gestão.

A gestão descentralizada que fundamenta o SUS necessita de muitas


negociações e acordos entre os entes federados, pela heterogeneidade de condições
e interesses das mesmas. Para fortalecer esse processo existem as Comissões
Intergestores, que são: Tripartite – CIT, em nível nacional e com representantes
das esferas governamentais, e a Bipartite – CIB, que se organiza em cada Estado,
com representação nos nível estadual e municipal

234
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

DICAS

Sugere-se que você estude mais sobre o Pacto pela Saúde.


Acesse: <http://conselho.saude.gov.br/webpacto/index.htm>.

Uma das principais estratégias para fortalecer o SUS aconteceu através da


implementação do Programa Saúde da Família – PSF, que foi criado no ano de
1994, com o propósito de garantir o atendimento integral para a população, em
nível básico de proteção.

A atuação do PSF se deu através do acompanhamento das famílias,


que residem em certo território, através de equipes formadas por técnicos das
diversas áreas, médico, enfermeiros, auxiliar de enfermagem e equipe de agentes
comunitários.

Os agentes comunitários são pessoas físicas, com perfil de liderança


comunitária e que acima de tudo conhecem a comunidade na qual irão intervir,
pois irão atender as demandas originadas da falta de cuidados primordiais de
saúde, fazer uma mediação entre equipe técnica e usuários. Como, por exemplo:
em uma visita mensal de rotina, o agente comunitário identifica em uma família a
condição de um idoso que está acamado. O mesmo tem o dever de conversar sobre
a importância de um acompanhamento médico e de comunicar os profissionais,
através de encaminhamento para a unidade de saúde.

No ano de 2012, o Ministério da Saúde lança a Política Nacional de Atenção


Básica, com as seguintes disposições gerais dos princípios e diretrizes gerais da
atenção básica:

A atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no


âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde,
a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução
de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção
integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos
determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão,


democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a
populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade
sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem
essas populações.

235
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar


no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior frequência e
relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade,
resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou
sofrimento devem ser acolhidos.

É desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade,


próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários, a
principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde.

Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade,


do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da
responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social.

A atenção básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção


sociocultural, buscando produzir a atenção integral.

A Atenção Básica tem como fundamentos e diretrizes:

I - Ter território adstrito sobre o mesmo, de forma a permitir o planejamento,


a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e
intersetoriais com impacto na situação, nos condicionantes e nos determinantes
da saúde das coletividades que constituem aquele território, sempre em
consonância com o princípio da equidade;

II - Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade


e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada aberta e preferencial
da rede de atenção, acolhendo os usuários e promovendo a vinculação
e corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde. O
estabelecimento de mecanismos que assegurem acessibilidade e acolhimento
pressupõe uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde
que parte do princípio de que a unidade de saúde deva receber e ouvir todas as
pessoas que procuram os seus serviços, de modo universal e sem diferenciações
excludentes. O serviço de saúde deve se organizar para assumir sua função
central de acolher, escutar e oferecer uma resposta positiva, capaz de resolver
a grande maioria dos problemas de saúde da população e/ou de minorar
danos e sofrimentos desta, ou ainda se responsabilizar pela resposta, ainda
que esta seja ofertada em outros pontos de atenção da rede. A proximidade e
a capacidade de acolhimento, vinculação, responsabilização e resolutividade
são fundamentais para a efetivação da atenção básica como contato e porta de
entrada preferencial da rede de atenção;

III - Adscrever os usuários e desenvolver relações de vínculo e responsabilização


entre as equipes e a população adscrita, garantindo a continuidade das ações
de saúde e a longitudinalidade do cuidado. A adscrição dos usuários é um
processo de vinculação de pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/

236
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

equipes, com o objetivo de ser referência para o seu cuidado. O vínculo,


por sua vez, consiste na construção de relações de afetividade e confiança
entre o usuário e o trabalhador da saúde, permitindo o aprofundamento do
processo de corresponsabilização pela saúde, construído ao longo do tempo,
além de carregar, em si, um potencial terapêutico. A longitudinalidade
do cuidado pressupõe a continuidade da relação clínica, com construção
de vínculo e responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do
tempo e de modo permanente, acompanhando os efeitos das intervenções
em saúde e de outros elementos na vida dos usuários, ajustando condutas
quando necessário, evitando a perda de referências e diminuindo os riscos
de iatrogenia decorrentes do desconhecimento das histórias de vida e da
coordenação do cuidado;

IV - Coordenar a integralidade em seus vários aspectos, a saber: integrando as


ações programáticas e demanda espontânea; articulando as ações de promoção
à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação
e manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias a estes
fins e à ampliação da autonomia dos usuários e coletividades; trabalhando de
forma multiprofissional, interdisciplinar e em equipe; realizando a gestão do
cuidado integral do usuário e coordenando-o no conjunto da rede de atenção.
A presença de diferentes formações profissionais, assim como um alto grau
de articulação entre os profissionais, é essencial, de forma que não só as ações
sejam compartilhadas, mas também tenha lugar um processo interdisciplinar
no qual progressivamente os núcleos de competência profissionais específicos
vão enriquecendo o campo comum de competências, ampliando, assim,
a capacidade de cuidado de toda a equipe. Essa organização pressupõe
o deslocamento do processo de trabalho centrado em procedimentos,
profissionais para um processo centrado no usuário, onde o cuidado do
usuário é o imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-
científica;

e V - Estimular a participação dos usuários como forma de ampliar sua


autonomia e capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das
pessoas e coletividades do território, no enfrentamento dos determinantes e
condicionantes de saúde, na organização e orientação dos serviços de saúde a
partir de lógicas mais centradas no usuário e no exercício do controle social.
A Política Nacional de Atenção Básica considera os termos “atenção básica” e
“Atenção Primária à Saúde”, nas atuais concepções, como termos equivalentes.
Associa a ambos: os princípios e as diretrizes definidos neste documento. A
Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde da Família sua estratégia
prioritária para expansão e consolidação da atenção básica. A qualificação da
Estratégia Saúde da Família e de outras estratégias de organização da atenção
básica deverá seguir as diretrizes da atenção básica e do SUS, configurando
um processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades
locorregionais.

FONTE: Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.


php?conteudo=publicacoes/pnab>. Acesso em: 9 fev. 2015.

237
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

As mudanças que ocorreram no sistema de saúde, a partir da CF, tiveram


como fundamento fazer valer o direito à saúde de forma universal, como também
de rever o conceito da mesma, que vai além da saúde física, abrangendo as questões
psicológicas e sociais da sociedade.

Segundo Bravo (1998), as dificuldades para o financiamento do SUS


existiram desde a sua criação, devido aos interesses das prestadoras de serviços na
área da saúde, e que são chamados de “complexo industrial da saúde”.

A saúde não depende unicamente do SUS, mas também de investimentos


de recursos de outras políticas, como a econômica e social, com a garantia de
emprego, educação, salário, moradia, saneamento básico, transporte, lazer, que
influenciam em uma melhor qualidade de vida e saúde. Sendo assim, a saúde não
pode ser vista somente como atendimento clínico médico, mas também através da
prevenção, recuperação, educação, reabilitação.

Acessar um trabalho digno, com boa remuneração no mercado de trabalho,


e que esteja ligado a benefícios de proteção social, está cada vez mais escasso na
atual conjuntura do sistema capitalista.

Estas referências, no Brasil, não atingem mais que a metade dos


trabalhadores. Uma das formas de acessar o mercado de trabalho desde os anos
de 1930, que decorre do modelo de industrialização e de modernização, é a
informalidade.

Desde a metade da década de 70, como já foi estudado, o modelo capitalista


sofreu algumas mudanças, como a redução das taxas de juros, globalização, novas
tecnologias, que afetaram o mundo do trabalho mundialmente.

Para Cardoso Junior (2000), o mercado de trabalho brasileiro não apresenta


grandes empecilhos para demissões e contratações, pois mesmo a legislação
impondo custos a essas atitudes, estas teriam um custo baixo.

Perante esse contexto, o mercado de trabalho no Brasil teria como principal


característica uma grande diversidade e divisão em segmentos, tanto no ponto de
vista das relações de trabalho. Para situar os aspectos da diversidade das relações
de trabalho, se revogam em dois níveis:

• Um grande número de relações contratuais: que significa trabalhadores com e


sem carteiras de trabalho assinadas, trabalhadores (servidores) no setor público
civil e militar, trabalhadores terceirizados;

• Uma forte disparidade de formas apropriadas de renda pela População


Economicamente Ativa, PEA, onde estão alocados os trabalhadores autônomos,
empregados domésticos.

O Mercado de Trabalho está referenciado em dois conceitos específicos que

238
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

distinguem os diferentes segmentos da sociedade em função da participação no


processo produtivo, que são:

• População em Idade Ativa – PIA: considerada como uma classificação etária que
envolve todas as pessoas que estão teoricamente aptas para desempenhar uma
atividade econômica. A PIA, no Brasil, é formada por toda a população que tem
10 ou mais anos de idade. Existe uma subdivisão da PIA, que é:

o População Economicamente Ativa – PEA: É o potencial de mão de obra


com que o setor produtivo pode contar, ou seja, a população ocupada e a
população desocupada.

o População ocupada: considerada o núcleo de pessoas que trabalham,


como, por exemplo: empregados, por conta própria, empregadores,
não remunerados (que trabalham ao menos 15 horas semanais, como
voluntários, estagiários etc).

o População Desocupada: consideradas pessoas que não têm emprego, mas


que estão procurando uma colocação no mercado de trabalho, através da
busca ativa por uma vaga de emprego.

Sendo assim, pode-se afirmar que a População não Economicamente Ativa


(PNEA) ou a População Economicamente Inativa (PEI) se refere às pessoas que não
estão aptas ao mercado de trabalho ou que renunciaram à procura de empregos.
Incapacitados também incluem donas de casa, estudantes e pessoas com menos de
10 anos de idade.

Segundo Santos (2009), as instituições do mercado de trabalho no Brasil


são regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que prevê os seguintes
direitos:

• Jornada de trabalho de 44 horas semanais;


• Férias anuais de 30 dias, remuneradas;
• Descanso semanal remunerado; décimo terceiro salário;
• Hora extra (cujo valor é 50% acima da hora normal);
• Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS);
• Impossibilidade de redução nominal dos salários (salvo se decidido
em acordo coletivo); e
• Isonomia de salários para funções iguais.
• A CLT aborda ainda indenizações para os casos de demissões sem
justa causa. Ou seja, de acordo com a CLT o empregador tem de:
• Dar aviso prévio de 30 dias (retém-se o trabalhador, por um mês,
dando-lhe algumas horas livres por dia para procurar emprego, ou se
lhe paga um mês de trabalho, sem que ele o exerça);
• Pagar uma multa de 40% sobre o montante do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS);
• Saldar as férias vencidas;
• Pagar as férias proporcionais ao tempo de emprego; e
• Saldar o décimo terceiro salário proporcional aos meses trabalhados.
(SANTOS, 2009, p.127).

239
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

A partir dos anos de 1980, através do estímulo da Organização Internacional


do Trabalho (OIT), difundiu-se em todos os países que tinham adotado a economia
capitalista, a ideia de executar um projeto de Políticas de Mercado de Trabalho, para
dar conta do crescente número do desemprego estrutural, que estava se firmando
através das mudanças econômicas do modo de produção no fim do século XX.

A OIT adotou duas formas para definir esse tipo de política, que são:

• Passivas: são as que assumem o desemprego como um dado, e que têm como
objetivo pacificar os efeitos causados pelo desemprego. Um exemplo desse
tipo de política acontece no Hemisfério Norte, onde existe a antecipação da
aposentadoria, através de programas específicos.
• Ativas: são as que formam programas de intermediação de emprego, para
buscar uma redução dos custos da procura e da oferta de trabalho, programas
e projetos para qualificação da mão de obra, programas de financiamento da
produção de pequena escala, para gerar formas de autoemprego.

Conforme foi visto acima, essa intermediação de empregos é uma ação que
não é nova no Brasil, vem sendo adotada desde a década de 1970, com a criação
do Sistema Nacional de Empregos (SINE). Os governos estaduais, através de
convênios com o Ministério do Trabalho, implementaram postos de atendimento
ao trabalhador.

O seguro-desemprego foi criado em 1986, porém até o ano de 1990 os


critérios que existiam para a elegibilidade de trabalhadores para receber este
benefício eram muito rígidos, sendo que o número de beneficiados era menor.

Na década de 1940 foram criados programas para formação e qualificação


da mão de obra, como:

• Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI): foi criado em 1942, é


considerado hoje um importante polo de difusão de conhecimento aplicado ao
desenvolvimento industrial.

• Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC): foi criado em 1946


pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), oferece educação profissional
para o comércio.

Com a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), em 1990, estes


programas se solidificaram.

O PIS–PASEP é o resultado da unificação dos fundos formados com


recursos do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (PASEP), passando a vigorar em 1976.

Para Santos (2009, p. 132):

240
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

Tem como objetivos integrar o empregado na vida e no desenvolvimento


das empresas; assegurar ao empregado e ao servidor público o usufruto
de patrimônio individual progressivo; estimular a poupança e corrigir
distorções na distribuição de renda; e possibilitar a paralela utilização
dos recursos acumulados em favor do desenvolvimento econômico-
social.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 239, mudou a destinação do


recurso proveniente das contribuições para o PIS e para o PASEP, para o Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT), objetivando o custeio do Programa do Seguro-
Desemprego, do Abono Salarial e outros financiamentos de desenvolvimento
econômico realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES).

O acesso ao seguro-desemprego teve suas regras modificadas, o que


permitiu uma inclusão maior de pessoas desempregadas entre os beneficiários.

Desde o ano de 1996, vários programas, projetos e serviços foram


implementados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, como, por exemplo:

• Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER),


• Programa Nacional de Formação Profissional (PLANFOR),
• Plano Nacional de Qualificação (PNQ), entre outros.

Atualmente o governo federal tem atuado nas políticas públicas que dizem
respeito ao trabalho e renda para que as mesmas atendam todos os cidadãos
brasileiros.

Tendo como destaque o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico


e Emprego (Pronatec); o Sistema Nacional de Emprego (SINE), que mantém um
banco de dados sobre vagas de trabalho, incentiva a qualificação profissional de
trabalhadores que ficaram desempregados; a Lei de Aprendizagem, que beneficia
adolescentes que estão no início de suas carreiras profissionais; a categoria de
Microempreendedor Individual, que instiga profissionais a transformarem seus
saberes em negócios.

Sobre o Pronatec é importante saber que o mesmo foi criado em 2011, por
meio da Lei 11.513/2011, tendo como objetivo expandir, interiorizar e democratizar
a oferta de cursos profissionais e tecnológicos no Brasil. Os cursos são financiados
pelo Governo Federal, gratuitamente, nas instituições da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica e das redes estaduais, distritais e municipais
de educação profissional e tecnológica. As chamadas instituições do Sistema S,
como SENAI, SENAT, SENAC e SENAR, também oferecem cursos do Pronatec.
Desde 2013, as instituições privadas de educação, reconhecidas e habilitadas pelo
MEC, também podem ofertar os cursos do programa.

Uma política pública que merece destaque neste tópico é a de Assistência


Social. Como vimos anteriormente, até a promulgação da Constituição Federal

241
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

de 1988, a Assistência Social no país acontecia de forma voluntarista e eventual,


baseada na filantropia ou programas e serviços focalizados sobre a classe com
mais necessidades.

Através do marco constitucional, a Assistência Social tornou-se uma política


pública. A implementação da mesma, no atual momento, está independente de
qualquer orientação política de governo ou de partido político que está no governo,
e sim uma política pública obrigatória.

O Estado incorporou a Assistência Social no sistema de Seguridade Social,


sendo que o mesmo tem o dever de organizar a política de forma universal,
garantindo para todos os brasileiros. Os recursos para saldar a dívida social
brasileira são insuficientes ainda, perante a grande demanda social.

Outra política pública que abrange a questão social é a de Segurança


Alimentar, que desde o ano de 2003, através do programa Fome Zero, vem tendo
destaque nas agendas governamentais, mesmo que esta política ainda precise
estar mais institucionalizada para se tornar mais efetiva. A questão da Segurança
Alimentar é um tema antigo, que aparece desde os anos de 1940, porém necessita
de um maior aparato político por parte da burguesia, o que dificulta a sua
implementação.

A política de Assistência Social e uma parte da política de Segurança Social


estão alocadas e sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS). Até a data da promulgação da Constituição Federal de
1988, e até o ano de 2004, quando o Ministério foi criado, a Assistência Social esteve
vinculada em diversas pastas ministeriais, como no caso da Saúde e da Previdência
Social. A não criação de um Ministério da Seguridade Social, bem como a falta de
regulamentação do Orçamento da Seguridade, fizeram com que essas áreas das
políticas públicas sofressem bastante, até sua implementação.

Pode-se destacar as atuais atribuições do MDS, como:

• Executar o Programa Bolsa Família (PBF), que está alocado na Secretaria


Nacional de Renda de Cidadania (SENARC);

• Coordenar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), através da Secretaria


Nacional de Assistência Social (SNAS), onde está incluído também o pagamento
do Benefício de Prestação Continuada (BPC), e;

• Coordenar todos os programas relacionados à Segurança Alimentar e


Nutricional, juntamente com a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (SESAN).

Para uma melhor compreensão, estude o organograma abaixo:

242
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

FIGURA 63 – Organograma MDS

FONTE: Disponível em:<http://www.mds.gov.br/backup/institucional/quem-e-quem/imagens/


organograma.jpg/image_view_fullscreen>. Acesso em: 10 fev. 2015.

O Programa Bolsa Família – PBF é um programa que tem como objetivo a


transferência de renda para beneficiar famílias que encontram-se em situação de
vulnerabilidade social e de extrema pobreza em todo o Brasil.

O PBF integra o Plano Brasil sem Miséria, que tem como prioridade de
atuação todos os milhões de brasileiros que possuem renda familiar per capita
menor que R$ 77,00 mensais, e se fundamenta na garantia de renda, na inclusão
produtiva e também no acesso aos serviços públicos.

São três eixos principais que estruturam o Programa Bolsa Família, sendo
eles:

• A transferência de renda que visa sanear de imediato a questão da pobreza;


• As condicionalidades reforçam o acesso aos direitos sociais e básicos que são
garantidos em lei, como educação, saúde e assistência social;
• As ações e programas complementares objetivam o desenvolvimento das
famílias, de modo que os usuários possam superar a situação de vulnerabilidade
social.

A transferência de renda pelo PBF acontece mensalmente, através de um

243
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

depósito bancário diretamente para a família, priorizando o nome da mulher. O


valor repassado varia conforme a estrutura familiar, tamanho da mesma, idade
dos seus membros e a renda familiar.

E
IMPORTANT

A gestão do PBF está instituída pela Lei 10.836, de 2004, e regulamentada pelo
Decreto nº 5.209, de 2004, sendo descentralizada e compartilhada entre União, Distrito Federal,
estados e munícipios. Todos trabalham de forma integrada para ampliar, melhorar e fiscalizar
a execução.

A seleção das famílias para o Bolsa Família é realizada por meio de


informações registradas por cada município através do Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal.

O Cadastro Único é um instrumento de coleta e gestão de dados, que tem


como prioridade mapear e identificar todas as famílias de baixa renda existentes
no território brasileiro.

O programa Fome Zero, para o MDS, está sendo executado juntamente


com outras ações, via PBF, sendo que a criação do programa teve como princípio
a unificação das diversas bolsas e auxílios que tinham sido criados no governo
do Presidente Fernando Henrique Cardoso e no início do governo do Presidente
Lula, como: Bolsa Escola, que era vinculado pelo Ministério da Saúde; Bolsa
Alimentação, administrado pelo Ministério da Saúde; o Auxílio Gás, que era
subsidiado pelo Ministério das Minas e Energia, e, por fim, o Cartão Alimentação,
sob a coordenação do Programa de Segurança Alimentar Fome Zero.

O Decreto nº 6.917 de 2009, afirma que o pagamento dos benefícios


do PBF para as famílias beneficiárias impõe algumas condições, as chamadas
condicionalidades do programa.

Quais são as condicionalidades na área de educação?

• Matricular  as crianças e adolescentes  de  seis a  15 anos  em estabelecimento


regular de ensino;

• Garantir a  frequência escolar de no mínimo 85%  da carga horária mensal


do ano letivo, informando sempre à escola em casos de impossibilidade do

244
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

comparecimento do aluno à aula e apresentando a devida justificativa;


• Informar de imediato ao setor responsável pelo PBF no município, sempre que
ocorrer mudança de escola e de série dos dependentes de seis a 15 anos, para
que seja viabilizado e garantido o efetivo acompanhamento da frequência
escolar.

As  dúvidas da família  sobre o compromisso da educação podem


ser esclarecidas pelo telefone 0800 61 6161 com os técnicos do Ministério da
Educação, que são parceiros do Programa Bolsa Família.

Quais são as Condicionalidades na área da saúde?

Para gestantes e nutrizes:

• Inscrever-se no pré-natal e comparecer às consultas na unidade de saúde mais


próxima da residência, portando o cartão da gestante, de acordo com o
calendário mínimo do Ministério da Saúde;

• Participar das atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre


aleitamento materno e promoção da alimentação saudável.

• Para os responsáveis pelas crianças menores de sete anos:

• Levar a criança às unidades de saúde ou aos locais de  vacinação  e manter


atualizado o calendário de imunização, conforme diretrizes do Ministério da
Saúde;

• Levar a criança às unidades de saúde, portanto o cartão de saúde da


criança, para a realização do  acompanhamento do estado nutricional  e do
desenvolvimento e outras ações, conforme calendário mínimo do Ministério
da Saúde.

As dúvidas da família sobre os compromissos da saúde podem ser


esclarecidas pelo telefone 0800 61 1997 com os técnicos do Ministério da Saúde,
que é parceiro do Programa Bolsa Família.

O que acontece à família quando ela descumpre as condicionalidades


do PBF?

• Advertência, no primeiro registro de descumprimento;

• A partir da segunda ocorrência de descumprimento, a família fica sujeita às


seguintes sanções:

245
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

o Bloqueio do benefício por um mês, no segundo registro de


descumprimento;

o Suspensão do benefício por dois meses a partir do terceiro registro de


descumprimento, e, reiteradamente, a partir da ocorrência de novos
efeitos no benefício por descumprimento;

o Cancelamento do benefício somente após registro no Sistema de


Condicionalidades − SICON de que a família foi inserida em serviço
socioassistencial de acompanhamento familiar do município e,
cumulativamente:

a) permaneça em situação de suspensão durante 12 meses, contados


a partir da data de coexistência do acompanhamento familiar e da
fase de suspensão; e

b) se, após 12 meses, apresentou novo descumprimento com efeito no


benefício nas repercussões posteriores, respeitando os seis meses
para reinício dos efeitos gradativos.

Quais são as condicionalidades do BVJ?

O jovem de 16 e 17 anos deverá estar matriculado na escola e ter frequência


mensal igual ou acima de 75%.

Lembrando que para as crianças com idade entre seis e 15 anos, o


acompanhamento da frequência escolar não muda.

O que acontece quando o jovem descumpre as condicionalidades do


BVJ?

Quando o jovem entre 16 e 17 anos tiver frequência escolar mensal abaixo


de 75%, será considerado em situação de descumprimento de condicionalidade.

A sanção por descumprimento afeta apenas o jovem vinculado ao


BVJ. Os demais benefícios da família são preservados. Todavia, se houver
descumprimento de condicionalidade (saúde e educação) por parte da família,
o benefício variável jovem será afetado.

Como será feita a repercussão do descumprimento da condicionalidade


do BVJ - Benefício Variável Jovem?

O jovem receberá sanção gradativa correspondente ao número de


registro de descumprimento, da seguinte forma:

246
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

1º registro de descumprimento: Advertência – Não há efeito sobre o benefício;


2º registro de descumprimento: Suspensão – O benefício é suspenso por 60 dias.
Não recebe as parcelas suspensas;
3º registro de descumprimento: Cancelamento do benefício.

FONTE: Disponível em: <http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/


condicionalidades/beneficiario/codicionalidades>. Acesso em: 10 fev. 2015.

O PBF é alvo de críticas de analistas da área, por dois aspectos. O primeiro,


por não ser um direito dos cidadãos que dele necessitam, pois o PBF é concedido
conforme a disponibilidade de recursos do Orçamento; e também por não ser um
benefício contínuo. Segundo Santos (2009, p. 105):

Sua concessão não é garantida por lei a qualquer pessoa em estado


de pobreza, fome e desnutrição. Caso fosse assim, aqueles que dele
necessitassem poderiam recorrer à justiça para obtê-lo. Da forma como
está regulamentado, o Bolsa Família é pago apenas àqueles que o
Ministério seleciona entre os mais necessitados, do total daqueles que o
pleiteiam. (SANTOS, 2009, p. 105).

Além do PBF não ser uma política de Estado, mas de governo, podendo ser
cancelada e extinta a qualquer momento da agenda de prioridades do governo.
O segundo aspecto de restrições feitas pelos analistas são as condicionalidades
impostas, mesmo que essas objetivem efetivar um compromisso das famílias com
a redução da pobreza, sendo que as condicionalidades voltadas para a Educação
e Saúde, muitas vezes, não são cumpridas pelas famílias, não porque elas não
querem, e sim pela falta de investimento e de recurso por parte dos três níveis de
governo.

Outro ponto de crítica é o próprio valor do benefício, que é inferior ao


custo de uma Cesta Básica, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

A criação do Benefício de Prestação Continuada, BPC, é uma medida


importante na política social, que também foi instituída na Constituição Federal
de 1988, não somente pelo número de pessoas que são beneficiadas, mas também
pela forma que se institucionalizou.

O BPC é diferente do BPF, pois é garantido pela Constituição, e se constitui


como um direito para todas as pessoas que não podem mais trabalhar, e não
contribuíram com o sistema previndenciário. A aplicabilidade do BPC não está
vinculada com o orçamento público e suas ocilações.

O benefício consiste no pagamento de um salário mínimo mensal para


pessoas com 65 anos de idade ou mais, e para pessoas com deficiência, e que estão
incapacitadas para o trabalho. A renda familiar dos dois casos deve ser inferior a
um quarto do salário-mínimo.

247
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

A gestão, acompanhamento e avaliação do BPC é competência do MDS


e a operacionalização fica sob responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), devido este já possuir uma infraestrutura organizada de gestão e
pagamento de benefícios.

UNI

O BPC não tem base de contribuição, ao contrário das aposentadorias e pensões.


O Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) é a fonte de recursos.

A política de Assistência Social está inserida no Sistema Único de


Assistência Social (SUAS), que estabelece a regulação e organização dos serviços,
programas e projetos da Assistência Social em todo Brasil. O SUAS tem uma
organização parecida à do SUS, pois para a sua implementação abrange parcerias
com a sociedade civil e a pactuação com os diversos setores governamentais.

O SUAS decorre da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), promulgada


em 1993, prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência
social, com ações focalizadas na família.

As ações desenvolvidas no SUAS são de dois tipos:

• Proteção Social Básica (PSB): destinada à proteção das pessoas que vivem em
situação de vulnerabilidade social, que é decorrente da condição econômica,
fragilização ou privação de vínculos afetivo-relacionais familiares e/ou de
pertencimento social.

• Proteção Social Especial (PSE): destinada para caso de risco social de média e
alta complexidade, famílias e indivíduos em situação de abandono, violência
física ou psíquica, abuso sexual, uso de drogas, cumprimento de medidas
socioeducativas, pessoas em situação de rua, criança na condição de trabalho
infantil, entre outras situações de risco.

A Proteção Social Básica tem como dever ofertar serviços próximos onde
seu público-alvo resida, facilitando assim a participação de todos, e propiciar
acolhimento, convivência e socialização das famílias conforme a vulnerabilidade
apresentada.

Os serviços desenvolvidos na PSB devem ser organizados em rede, de


modo a inserir o público-alvo nas diferentes ações apresentadas. A concessão do
BPC e de outros benefícios eventuais também são ações da PSB.

Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) são os responsáveis

248
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

por desenvolver as ações realizadas nos municípios e no Distrito Federal, no que


se refere às PSB.

UNI

Os CRAS são unidade públicas estatais e que prioritariamente devem estar


localizados em áreas de vulnerabilidade social.

As equipes técnicas referenciadas do CRAS executam serviços de caráter


de proteção social básica, como também mapeiam, organizam e coordenam a rede
prestadora de serviços socioassistenciais do território de atuação.

A Proteção Social Especial (PSE) prevê serviços que têm uma interface com
o sistema de garantia de direitos, solicitando, em muitos casos, uma gestão mais
ampla e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos
governamentais.

Os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS)


são as unidades executivas de PSE. Quando um caso é diagnosticado e avaliado
como de média complexidade, necessita de acompanhamento individual e maior
flexibilidade na resolução dos problemas. Os casos de alta complexidade são os
indivíduos que necessitam de proteção integral, como moradia, alimentação e
trabalho protegido.

A articulação entre os três níveis de governo e do Distrito Federal estreita


parcerias com a sociedade civil, contemplando através de ações conjuntas milhões
de brasileiros, em várias faixas etárias, de todas as regiões geográficas do Brasil.
A implementação do SUAS foi aprovada no ano de 2005, através da Norma
Operacional do SUAS e pelo Conselho Nacional de Assistência Social.

Sobre a questão da Segurança Alimentar e Nutricional, o MDS desenvolve


ações que se incluem no Fome Zero, realizado pela Secretaria Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN). Que são elas:

• Banco de Alimentos;
• Cisternas;
• Carteira Indígena;
• Cozinhas Comunitárias;
• Distribuição de Alimentos;
• Educação Alimentar e Nutricional;
• Programa de Aquisição de Alimentos (PAA);
• Restaurante Popular; e
• Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSADs).

249
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Os CONSADs são organizações formais e que reúnem municípios,


formadas por representantes do poder público e da sociedade civil, que elaboram
e desenvolvem diagnósticos e projetos de segurança alimentar e nutricional local.

Os outros Ministérios desenvolvem ações importantes para o Fome Zero,


que são:

• Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE): desenvolvida pelo MEC, e


que tem como objetivo oferecer pelo menos uma refeição para alunos da rede de
ensino pública, da Educação Básica.

• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): sob


a responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
aplica ações específicas na agricultura familiar.

• Política Nacional de Alimentos e Nutrição (PNAN): desenvolvida pelo


Ministério da Saúde, tendo como foco assegurar a qualidade dos alimentos e
promover hábitos de uma alimentação saudável.

As políticas, programas e serviços apresentados estão acordados através


de adaptações institucionais com forte representação e participação, que são
configurados pelos conselhos de representantes dos governos e da sociedade civil.

Na estrutura do MDS existem quatro órgãos colegiados, Santos (2009)


apresenta uma estrutura desses colegiados:

O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); o Conselho Gestor


do programa Bolsa Família; o Conselho Consultivo de Acompanhamento
do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza; e o Conselho de
Articulação de Programas Sociais. Entre estes, tem especial importância
o CNAS, que vamos aqui abordar especificamente. Instituído pela Lei
Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei n. 8742, de 07 de dezembro
de 1993) como órgão deliberativo – ou seja, com poder de decidir sobre
as políticas da área –, está vinculado ao Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome.

O CNAS replica-se ao nível dos estados e municípios, através dos


Conselhos Estaduais e Municipais de Assistência Social.

O CNAS é composto por dezoito membros nomeados pelo Presidente


da República, que têm mandato de dois anos, permitida uma única
recondução por igual período. São eles:

• nove representantes governamentais, incluindo um representante dos


Estados e um dos Municípios; e

• nove representantes da sociedade civil, dentre representantes dos


usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações
de assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro
próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal.

O CNAS é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus

250
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

membros, para mandato de um ano; é permitida uma única recondução


por igual período. Conta também com uma Secretaria Executiva, com
sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo.

No âmbito da Segurança Alimentar figura o CONSEA, instalado


em 30 de janeiro de 2003. Tem caráter consultivo e assessora o
Presidente da República na formulação da política. É formado por 57
conselheiros (38 representantes da sociedade civil e 19 ministros de
Estado e representantes do Governo Federal), além de 23 observadores
convidados. Seu presidente é nomeado pelo Presidente da República
para mandato de dois anos. Sua secretaria é chefiada pelo Ministro do
Desenvolvimento Social. (SANTOS, 2009, p. 110 e 111).

LEITURA COMPLEMENTAR

AS POLÍTICAS SOCIAIS NO CONTEXTO BRASILEIRO: NATUREZA E


DESENVOLVIMENTO

No que diz respeito à questão social, a presente reflexão parte do princípio


relacional da questão social com o modo de produção capitalista, no bojo do
processo de industrialização e do surgimento do proletariado e da burguesia
industrial.

Historicamente, a “questão social” é nominação surgida na segunda


metade do século XIX, na Europa ocidental, a partir das manifestações de
miséria e de pobreza oriundas da exploração das sociedades capitalistas com o
desenvolvimento da industrialização. É neste contexto que iniciam as respostas
para o enfrentamento desse novo jeito do capitalismo surgido naquela época.
Segundo Cerqueira Filho (1982, p.21):

Por questão social, no sentido universal do termo, queremos significar o


conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento
da classe operária provocou na constituição da sociedade capitalista.
Logo, a questão social está fundamentalmente vinculada ao conflito
entre capital e trabalho.

No capitalismo concorrencial, a questão social era tratada de forma


repressiva pelo Estado, ou seja, a organização e a mobilização da classe operária
para a conquista de seus direitos sociais eram casos de polícia. Já no início do século
XX, com o contexto de emergência do capitalismo monopolista, a questão social
torna-se objeto de resposta e de estratégia do Estado, por meio de políticas sociais
como mecanismo básico de controle das classes trabalhadoras e, ao mesmo tempo,
legitima-se como representativo de toda a sociedade. Passa a exigir intervenção
dos poderes públicos nas questões trabalhistas e a criação de órgãos públicos que
pudessem se ocupar dessas questões.

251
UNIDADE 3 | O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

São criados no Brasil novos aparelhos e instrumentos de controle, como


o Ministério do Trabalho e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que
objetivavam mais a desmobilização e despolitização da classe operária emergente
do que a eliminação de conflitos.

Pensar a questão social na contemporaneidade é um desafio, pois esta é


reproduzida pela mundialização da economia e pelo retorno forçado do mercado
autorregulado.

Esses fatores intensificam-se pela competição e pela concorrência nos


Estados por meio de pressões internas e entre os Estados pela intensidade das
pressões externas e pela capacidade de proteção e direitos contra o mercado.
No Brasil isso não ocorre, pois as proteções de trabalho não possuem raízes de
sustentação e sucumbem rapidamente (ARCOVERDE, 2000, p. 77).

No Brasil, hoje, a questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge


intensamente todos os setores e classes sociais, sendo constantemente ameaçada
pelo pauperismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa forma, a
realidade vigente de uma política salarial injusta dificulta a construção de uma
sociedade coesa e articulada por meio de relações democráticas e interdependentes.

O que se tem no país é uma desmontagem do sistema de proteção e


garantias do emprego e, consequentemente, uma desestabilização e uma desordem
do trabalho que atingem todas as áreas da vida social.

Como afirma Arcoverde (idem, p. 79), a questão social brasileira assumiu


variadas formas, tendo como características orgânicas a desigualdade e a injustiça
social ligadas à organização do trabalho e à cidadania.

Resultante da “estrutura social produzida pelo modo de produção e


reprodução vigentes e pelos modelos de desenvolvimento que o país experimentou:
escravista, industrial (desenvolvimentista), fordista-taylorista e o de reorganização
produtiva”.

Assim, as expressões da questão social, tais como as desigualdades e as


injustiças sociais, são consequentes das relações de produção e reprodução social
por meio de uma concentração de poder e de riqueza de algumas classes e setores
dominantes, que geram a pobreza das classes subalternas.

E tornam-se questão social quando reconhecidas e enfrentadas por


setores da sociedade com o objetivo de transformação em demanda política e em
responsabilidade pública.

Com tudo isso, tem-se que a questão social, que deve ser enfrentada
enquanto expressão das desigualdades da sociedade capitalista brasileira, é
construída na organização da sociedade e manifesta-se no espaço societário onde
se encontram a nação, o Estado, a cidadania, o trabalho.

252
TÓPICO 4 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS DO ESTADO BRASILEIRO

Como afirma Iamamoto (2001, p. 28), “o Serviço Social tem como tarefa
decifrar as formas e expressões da questão social na contemporaneidade e atribuir
transparência às iniciativas voltadas à sua reversão ou enfrentamento imediato”.

Dessa forma, é indispensável decifrar as novas mediações, por meio das


quais se expressa a questão social hoje, ou seja, é importante que se possam
apreender as várias expressões que assumem na atualidade as desigualdades
sociais e projetar formas de resistência e de defesa da vida (IAMAMOTO, 2004, p.
268). Continuam questionamentos para o Serviço Social, suas possibilidades e seus
limites, frente aos desafios do mundo contemporâneo. A busca da implementação
de políticas de direito sinaliza como grande desafio ao profissional assistente social
que luta pelo protagonismo das classes subalternizadas.

A década de 1980, no Brasil, pôde ser marcada pela busca da democracia,


pela organização e pela mobilização de diversos segmentos da sociedade civil e
pela luta por direitos sociais, políticos e civis contra governos ditadores.

Após a declaração constitucional em 1988, do direito à participação popular


e à descentralização político-administrativa, foram ampliados os espaços públicos,
por meio de experiências da sociedade civil em conselhos comunitários, conselhos
deliberativos das políticas sociais, associações, sindicatos.

Segmentos da sociedade civil reivindicaram inovações de práticas políticas


do país ao exigir o direito à participação na gestão das políticas públicas.

O cidadão passa a entender que possui direitos e reivindica por sua


efetividade. A democracia passou a conviver com o ajuste estrutural da economia
e com as limitações dos gastos públicos, além da necessidade de preparo dos
conselheiros e dos gestores para a prática da gestão democrática e participativa.

Embora o pacto federativo previsse a corresponsabilidade do poder nas


esferas governamentais, União, Estados e Municípios, este último tornou-se um
ente federado, fortalecendo o processo de municipalização das políticas sociais e
passou a ser o principal responsável pela oferta dos serviços sociais, como a saúde,
a educação, a assistência social, ampliando a complexidade da gestão das políticas
sociais em nível local.

Com isso, o município criou vários mecanismos para efetivar as


determinações constitucionais no que diz respeito à participação e à gestão das
políticas sociais. Surgiram os Conselhos de Políticas Públicas na área da criança
e do adolescente, do idoso, da assistência social, da educação, da saúde e outros.
Entretanto, os Conselhos necessitam ainda aprender a ser deliberativos, pois essa
democracia participativa enfrenta o desafio histórico de uma “cultura” clientelista
e autoritária, pautada no mando e não no direito. [...]

FONTE: Disponível em: <http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-02.pdf>.


Acesso em: 11 fev. 2015.

253
RESUMO DO TÓPICO 4

• As políticas públicas podem ser estendidas em programas, projetos e serviços, e


com legislação particular para cada uma delas.

• A política pública na área da Educação, nos últimos anos, vem tendo significativos
avanços, porém apresenta grandes desafios.

• A Lei de Diretrizes de Bases da Educação, Lei n. 9394, de 20 de dezembro de


1996 – LDB, configurou o sistema educacional brasileiro. A LDB impôs diversas
exigências aos entes federados, como as previsões relativas de gasto mínimo por
aluno, onde cada esfera governamental deve promover em sua jurisdição.

• Conforme a CF de 88, a União, estados e municípios deveriam estabelecer uma


parte das receitas orçamentárias para a política de educação.

• No ano de 2014 foi aprovada a Lei nº 13.005, de 25 de junho, que aprova o Plano
Nacional de Educação – PNE.

• Com a redemocratização dos países, a política de saúde sofreu mudanças,


resultou em um novo Sistema Único de Saúde – SUS.

• No ano de 1990 foi aprovada a Lei nº 8.080, de 19 de setembro, que dispõe sobre
as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, para
a política de saúde.

• O SUS prevê a universalidade e equidade no acesso, a integralidade das suas


ações e a participação social na sua gestão.

• O princípio da integralidade defende que os serviços de saúde devem considerar


as necessidades de cada pessoa, em suas diversas dimensões, como biológica,
psicológica e social. No princípio da participação social, remete à intervenção da
sociedade no planejamento, acompanhamento e avaliação da política da saúde.

• A participação social acontece através dos Conselhos e das Conferências de


Saúde e que estão organizados em todos os níveis de governo: nacional, estadual
e municipal.

• As receitas do Fundo Nacional de Saúde são reunidas pelo Ministério da Saúde


e repassadas para estados e municípios, conforme critérios que são acordados
entre os níveis de governo.

• A partir de 2007 entra em vigor o Pacto pela Saúde, que substitui as NOBs e as

254
NOAS que foram divulgadas anteriormente.

• O Pacto pela Saúde consolidou um conjunto de reformas institucionais do


SUS, que entraram em acordo nas esferas de governo, onde os recursos foram
destinados para finalidades afins.

• O mercado de trabalho no Brasil teria como principal característica uma grande


diversidade e divisão em segmentos, do ponto de vista das relações de trabalho.

• A partir dos anos de 1980, através do estímulo da Organização Internacional do


Trabalho (OIT), difundiu-se em todos os países que tinham adotado a economia
capitalista a ideia de executar um projeto de Políticas de Mercado de Trabalho,
para dar conta do crescente número do desemprego estrutural, que estava se
firmando através das mudanças econômicas do modo de produção no fim do
século XX.

• Atualmente o governo federal tem atuado nas políticas públicas que dizem
respeito ao trabalho e renda para que as mesmas atendam todos os cidadãos
brasileiros.

• Os programas que estão tendo destaque são: o Programa Nacional de Acesso


ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); o Sistema Nacional de Emprego
(SINE), que mantém um banco de dados sobre vagas de trabalho, incentiva a
qualificação profissional de trabalhadores que ficaram desempregados; a Lei de
Aprendizagem, que beneficia adolescentes que estão no início de suas carreiras
profissionais; a categoria de Micro Empreendedor Individual, que instiga
profissionais a transformarem seus saberes em negócios.

• Através do marco constitucional, a Assistência Social tornou-se uma política


pública.

• A implementação da mesma, no atual momento, está independente de qualquer


orientação política de governo ou de partido político que está no governo, e sim
uma política pública obrigatória.

• A política de Assistência Social e uma parte da política de Segurança Social estão


alocadas e sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS);

• Pode-se destacar as atuais atribuições do MDS, como:

o Executar o Programa Bolsa Família (PBF), que está alocado na Secretaria


Nacional
de Renda de Cidadania (SENARC);

o Coordenar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), através da


Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), onde está incluído

255
também o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), e;

o Coordenar todos os programas relacionados à Segurança Alimentar


e Nutricional, juntamente com a Secretaria Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (SESAN).

• O programa Fome Zero, para o MDS, está sendo executado juntamente com
outras ações, via PBF, sendo que a criação do programa teve como princípio a
unificação das diversas bolsas e auxílios que tinham sido criados no governo
FHC e no início do governo Lula.

• A gestão, acompanhamento e avaliação do BPC é competência do MDS e a


operacionalização fica sob responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), devido ao fato de este já possuir uma infraestrutura organizada
de gestão e pagamento de benefícios.

• A política de Assistência Social está inserida no Sistema Único de Assistência


Social (SUAS), que estabelece a regulação e organização dos serviços, programas
e projetos da Assistência Social em todo o Brasil.

256
AUTOATIVIDADE

1 Escolha uma das condicionalidades do Programa Bolsa Família e descreva


seu ponto de vista sobre o mesmo.

2 Descreva com suas palavras o que entendeu sobre o Pronatec.

257
258
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ANOTAÇÕES

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