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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E


ATUÁRIA
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

INVESTIMENTO DE IMPACTO NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DA


SITAWI PARA RESOLVER DESAFIOS DO SETOR

LUAN TOWNSEND DOS ANJOS LOPES

SÃO PAULO
2021
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

INVESTIMENTO DE IMPACTO NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DA


SITAWI PARA RESOLVER DESAFIOS DO SETOR

LUAN TOWNSEND DOS ANJOS LOPES

Monografia submetida à apreciação de banca


examinadora do Departamento de Economia,
como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Econômicas, elaborada
sob a orientação do Professor Doutor Gilson de
Lima Garófalo.

SÃO PAULO
2021

i
TOWNSEND DOS ANJOS LOPES, Luan
Investimento de impacto no Brasil: A contribuição da SITAWI para resolver desafios do setor.
– São Paulo, 2021.

Monografia (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) – PUC – SP,


2021

Orientador: Prof. Dr. Gilson de Lima Garófalo

1. empreendedorismo, negócios de impacto social, investimento de impacto, SITAWI.

ii
Esta monografia foi examinada pelos professores abaixo relacionados e aprovada com nota
final de _________ (__________________________________________)

Orientador: Prof. Dr. Gilson de Lima Garófalo

Autorizo a disponibilização desta monografia para consulta pública e utilização como


referência bibliográfica, mas sua reprodução total ou parcial somente pode ser feita mediante
autorização expressa do autor, nos termos da legislação vigente sobre os direitos autorais.

São Paulo, ____ de _______ de ______. Assinatura: ________________________

iii
DEDICATÓRIA

Ao meu pai e a minha mãe.


Do meu pai herdei o altruísmo,
da minha mãe herdei a responsabilidade.
Se meu propósito é mudar o Mundo, muito se deve a eles.
iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus que me abençoa e me sustenta de pé nesse Mundo em constantes


desafios de evolução, aos meus familiares que investiram e me deram condições de cursar uma
excelente universidade, aos amigos e amigas que de alguma forma me ajudaram em algum
momento da jornada universitária, e finalmente á algumas pessoas especiais que tiveram
participações especiais ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

Ao meu sócio Augusto Dantas, não seria possível chegar até aqui sem sua imensurável
ajuda e apoio incondicional sempre que preciso.

Á minha amiga especialista no assunto de Negócios de Impacto Social e eterna


embaixadora colega de turma do Movimento CHOICE, Ana Luiza Mathias, sem o seu carinho
e nossas conversas eu não conseguiria desenvolver este trabalho.

Aos professores que participaram e orientaram ao longo deste trabalho, Professor


Leonardo Nelmi Trevisan e Professor Gílson de Lima Garófalo, obrigado pela paciência, ajuda
e orientação.

v
“PRATICAMENTE TODOS OS PROBLEMAS SOCIAIS E ECONÔMICOS DO MUNDO
PODEM SER ABORDADOS POR NEGÓCIOS SOCIAIS. O DESAFIO ESTÁ EM INOVAR OS

MODELOS DE NEGÓCIOS E APLICÁ-LOS PARA PRODUZIR OS EFEITOS SOCIAIS

DESEJADOS DE FORMA RENTÁVEL E EFICIENTE. SAÚDE PARA OS POBRES, SERVIÇOS

FINANCEIROS PARA OS POBRES, TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO PARA OS POBRES,

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA OS POBRES, [...] ENERGIAS RENOVÁVEIS PARA OS

POBRES... TODAS SÃO ÁREAS INTERESSANTES PARA O NEGÓCIO SOCIAL.

O NEGÓCIO SOCIAL É IMPORTANTE PORQUE LIDA COM O QUE MAIS PREOCUPA O

SER HUMANO. PODE MUDAR A VIDA DOS 60% DA POPULAÇÃO MUNDIAL MENOS

PRIVILEGIADA E AJUDÁ-LOS A SAIR DA POBREZA.”

MUHAMMAD YUNUS,
EM SEU DISCURSO AO RECEBER O PRÊMIO NOBEL DA PAZ EM 2006
vi
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) .........................................12

FIGURA 2. Jornada empreendedora e suas fases de classificação.........................................18

FIGURA 3. Mapa de tecnologias utilizadas por negócios de impacto social.........................19

FIGURA 4. Investimento de Impacto no espectro de investimento........................................23

FIGURA 5. Fontes e mecanismos do setor financeiro para negócios de impacto.................. 26

FIGURA 6. Composição básica do ecossistema de Finanças Sociais.....................................31

FIGURA 7. Iniciativas do ecossistema de impacto no Brasil................................. ................32

FIGURA 8. Recursos para operações e para impacto SITAWI 2017......................................49

FIGURA 9. Recursos para operações e para impacto SITAWI 2018......................................49

FIGURA 10. Receita líquida SITAWI 2017............................................................................50

FIGURA 11. Receita líquida SITAWI 2018............................................................................50

FIGURA 12. Receita líquida SITAWI 2019............................................................................51

FIGURA 13. Desembolso SITAWI para impacto social de 2010-2019..................................51

vii
LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Média anual da taxa de desemprego x Abertura de novas empresas Brasil........9

TABELA 2. Motivações para empreender no Brasil..............................................................10

viii
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. Glossário de mecanismos financeiros................................................................27

QUADRO 2. Análise da ampliação da oferta de capital..........................................................39

QUADRO 3. Análise da diversificação dos instrumentos.......................................................42

ix
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

CAPÍTULO I – O EMPREENDEDOR E OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL ...... 3

1.1 O agente econômico empreendedor ................................................................................ 3

1.2 O empreendedorismo e a economia................................................................................. 7

1.3 O empreendedorismo social e os Negócios de Impacto Social (NIS) ........................... 12

CAPÍTULO II – O INVESTIMENTO DE IMPACTO ...................................................... 22

2.1 A tese do Investimento de Impacto, questões relevantes e mensuração ....................... 22

2.2 Produtos financeiros e mecanismos para o Investimento de Impacto ........................... 25

2.3 Investimento de impacto no Brasil: atores e resultados do ecossistema ....................... 30

CAPÍTULO III – ESTUDO DO CASO SITAWI ................................................................ 37

3.1 Análise da ampliação da oferta de capital ...................................................................... 39

3.2 Análise da diversificação dos instrumentos.................................................................... 42

3.3 Análise de resultado entre 2017 a 2019 .......................................................................... 48

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 54

x
RESUMO

Apesar de ser um movimento crescente no Brasil, o investimento de impacto, modalidade de


investimento que busca o retorno financeiro e o impacto social e/ou ambiental positivos,
enfrenta alguns desafios. Esse trabalho tem como objetivo entender como dois desses desafios
- a ampliação da oferta de capital para negócios de impacto socioambiental e a diversificação
de produtos e instrumentos financeiros - estão sendo endereçados. Essa é uma pesquisa
qualitativa de análise documental que analisa a SITAWI - investidora de impacto - através de
seus relatórios anuais de impacto de 2017 a 2019. A pesquisa aponta que, apesar da crise
econômica em que o país vive, a organização mobilizou mais capital para o setor nesse período,
e foi pioneira em instrumentos inovadores de investimento como crowdlending.

Palavras-chave: empreendedorismo, negócios de impacto social, investimento de impacto,


SITAWI

RESUMEN
A pesar de ser un movimiento creciente en Brasil, la inversión de impacto, una modalidad de
inversión que busca rendimientos financieros positivos e impactos sociales y/o ambientales
positivos, enfrenta algunos desafíos. Este trabajo tiene como objetivo comprender cómo se
abordan dos de estos desafíos, la ampliación de la oferta de capital para empresas con impacto
social y ambiental y la diversificación de productos e instrumentos financieros. Se trata de una
investigación cualitativa de análisis documental que analiza SITAWI - inversionista de impacto
- a través de sus informes anuales de impacto de 2017 a 2019. La investigación señala que, a
pesar de la crisis económica que vive el país, la organización ha movilizado más capital al sector
en ese período, y fue pionera en instrumentos de inversión innovadores como el crowdlending.

Palabras clave: emprendimiento, negocio de impacto social, inversión de impacto, SITAWI

ABSTRACT
Despite being a growing movement in Brazil, impact investment, an investment modality that
seeks positive financial returns and positive social and/or environmental impacts, faces some
challenges. This work aims to understand how two of these challenges - the expansion of the
capital offer for businesses with a social and environmental impact and the diversification of
financial products and instruments - are being addressed. This is a qualitative research of
documentary analysis that analyzes SITAWI - impact investor - through its annual impact
reports from 2017 to 2019. The research points out that, despite the economic crisis in which
the country lives, the organization has mobilized more capital to the sector in that period, and
was a pioneer in innovative investment instruments such as crowdlending.

Keywords: entrepreneurship, social business, impact investment, SITAWI

xi
INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos países em desenvolvimento com uma das maiores taxas de


desigualdade social do Mundo, um país emergente com grandes problemas sociais e com uma
considerável parcela se sua população ainda vivendo na faixa da pobreza, cerca de 52 milhões
de brasileiros, segundo o IBGE. O país está atravessando uma grave crise econômica e
ambiental que agrava esses problemas, demandando inovações dos diferentes setores
econômicos, novos conceitos de investimento e diferentes maneiras de empreender soluções
para amenizar esse cenário.
O empreendedor é visto por economistas clássicos, desde Adam Smith (1983) a
economistas contemporâneos como Joseph Schumpeter (1997), como um agente econômico
importante, um agente de transformação para o crescimento e desenvolvimento econômico,
como será analisado no início deste trabalho. Através do fomento do ecossistema empreendedor
foi identificado, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (2019), e autores recentes,
que não só o Brasil é uma potência econômica com alta vocação empreendedora, mas também
como esse ecossistema tem uma alta tendência ao conceito de empreendedorismo social, o qual
além de gerar retorno financeiro, tem o propósito maior de gerar soluções para problemas
sociais e ambientais. Essa tendência se concretiza com a disseminação do conceito de
“Negócios de Impacto Social” e outras organizações de apoio e fomento ao ecossistema,
conforme autores especialistas no tema, como Comini, Barki e Aguiar (2012; 2013) explicaram.
Segundo Izzo (2019), a economia está atravessando um momento oportuno para
transformar investimentos que sempre financiaram o crescimento e desenvolvimento de
negócios, pois agora existem instrumentos que também financiam gerando impacto social. O
Brasil conta com um ecossistema de negócios de impacto social recém-criado, e nele um setor
de organizações que promovem e investem em negócios de impacto por todas as regiões
brasileiras (PIPE.SOCIAL, 2019).
No entanto, esse setor enfrenta alguns desafios, conforme enumera a Aliança pelos
Investimentos e Negócios de Impacto (2019). São eles:

- Ampliar a oferta de produtos financeiros de impacto;


- Ampliar os produtos financeiros comprometidos em apoiar negócios de impacto;
- Ampliar os produtos financeiros de impacto que diversifiquem níveis de risco;

1
- Ampliar investimentos que diversifiquem horizontes de investimento (prazo para
resgate);
- Ampliar investimentos que diversifiquem valores mínimos de aplicação,
possibilitando aporte de tickets baixos (até R$ 10 mil);
- Adequar os produtos financeiros de impacto para atender demandas dos
empreendedores para fases diferentes da jornada empreendedor;
- Agregar apoios adicionais, como gestão, contatos e mentoria (smartmoney) aos
produtos financeiros.

Sendo assim, este trabalho tem como objetivo analisar de que forma, e se, organizações
que ofertam ou intermediam investimento de impacto no Brasil, estão endereçando alguns
desses desafios, em especial a ampliação da oferta de capital para o setor, e a diversificação de
instrumentos ou produtos financeiros para o setor. Para isso, realizou-se uma pesquisa
qualitativa de análise documental aplicada a um caso (GIL, 2002) com a SITAWI, organização
brasileira que realiza investimento de impacto há mais de 10 anos. Analisaram-se três de seus
relatórios de impacto. O conteúdo do relatório de 2017, o maior e com informações mais
completas da atuação da organização, por seu aniversário de 10 anos de operações, foi analisado
através de codificação (SALDAÑA, 2009), buscando identificar trechos que mencionassem a
ampliação da oferta de capital e a diversificação de instrumentos no setor de investimento de
impacto. Ademais, analisou-se os resultados financeiros e de investimento reportados pela
SITAWI em 2017, 2018 e 2019 a fim de verificar seu desempenho ao longo desse período e
verificar se a organização contribuiu para o avanço da agenda de investimento de impacto no
Brasil, conforme sugerido pela Aliança (2019).
O presente trabalho está assim organizado: primeiramente um estudo sobre a
importância do empreendedor para o desenvolvimento econômico, em seguida a tendência e o
fomento do empreendedorismo social no Brasil nos últimos anos, e com isso o surgimento do
ecossistema de negócios de impacto social no país. Logo, é apontada a necessidade global do
amadurecimento de um setor que financie esses tipos de organização, através do investimento
de impacto. É trazido então o conceito deste tipo de investimento, seu crescimento, os tipos de
instrumentos e os resultados do setor no Brasil. Por fim, é apresentado o resultado da pesquisa
deste trabalho, com a coleta de dados e análise das operações nos relatórios de impacto da
SITAWI, que demonstram como a organização mobilizou mais capital para o setor nesse
período, e foi pioneira em instrumentos inovadores de investimento como crowdlending.

2
CAPÍTULO I – O EMPREENDEDOR E OS NEGÓCIOS DE IMPACTO
SOCIAL

Neste capítulo será exposto o valor do empreendedor na economia como agente


econômico, o seu papel social contemporâneo para amenizar a miséria, reduzir a pobreza e
desenvolver a nação socioeconomicamente, principalmente através da criação de negócios de
impacto social. O capítulo está dividido em três partes, sendo elas: (1.1) o agente econômico
empreendedor, (1.2) o empreendedorismo e a economia, (1.3) o empreendedorismo social e os
negócios de impacto social, além de uma breve introdução à atual conjuntura do ecossistema
de negócios de impacto social no Brasil.

1.1 O agente econômico empreendedor

O significado do verbo “Empreender” no dicionário da língua portuguesa


(MELHORAMENTOS, 2016) é:

“em·pre·en·der
1. Resolver-se a praticar (algo laborioso e difícil); tentar: Resolveram empreender
aquela escalada perigosíssima.
2. Pôr em execução; fazer, realizar: Conseguiu finalmente empreender uma pesquisa
acadêmica. Empreender uma viagem.” (MELHORAMENTOS, 2021)

É um verbo de ação. O empreendedor, a partir dessa definição, coloca em prática as


soluções para algum problema. A característica de agir, confrontando os riscos ou dificuldades
inerentes ao processo de realização de algo novo, promove esse indivíduo a um importante e
essencial agente econômico.
Há diferentes visões em relação ao papel do empreendedor. Ao mesmo tempo em que
pode ser visto como um agente social astuto e perspicaz, que assume riscos inerentes, pode ser
visto como aquele que tem como único propósito acumular riqueza através de seus negócios.
Alguém que conecta demanda com oferta em uma oportunidade de mercado de forma pontual
ou recorrente, criando uma ou algumas empresas lucrativas. Por consequência, o empreendedor,
segundo essa visão, concentra renda acumulada pelos lucros das empresas, podendo se observar
uma divisão do capital correspondente ao lucro, desproporcional em relação a outras categorias
de agentes econômicos, como, por exemplo, o trabalhador assalariado (SMITH, 1983).

3
Essa visão em relação ao empreendedor ser movido apenas por lucros pode ser explicada
pela teoria econômica clássica, a qual através de autores como Adam Smith (1983) resume que
para empreender se deve obter o máximo dos recursos existentes fazendo melhor o que já está
sendo feito, alcançando-se assim o equilíbrio através da otimização. Com isso, a economia se
move pelo interesse privado dos indivíduos:

Os empregadores de mão-de-obra representam a terceira categoria, a daqueles que


vivem do lucro. É o capital investido em função do lucro que movimenta a maior parte
do trabalho útil de cada sociedade. Os planos e projetos dos investidores de capital
regulam e dirigem todas as operações mais importantes do trabalho, sendo que o lucro
constitui o objetivo proposto e visado por todos esses planos e projetos. (...) O
interesse dos empresários é sempre ampliar o mercado e limitar a concorrência.
Ampliar o mercado muitas vezes pode ser benéfico para o interesse público, mas
limitar a concorrência sempre contraria necessariamente ao interesse público, e só
pode servir para possibilitar aos negociantes, pelo aumento de seus lucros acima do
que seria natural, cobrar, em seu próprio benefício, uma taxa absurda dos demais
concidadãos. (SMITH, 1983, p. 272)

Porém, essa visão se transformou. Para além de melhorar o que já está sendo feito,
através da otimização, o empreendedorismo contemporâneo propõe que se questionem ideias
já conhecidas e se repensem soluções do zero, enfatizando a inovação (THIEL; MASTERS,
2014). Essa transformação pode ser observada a partir da revolução industrial e com suas
invenções decorrentes, onde o empreendedor ficou relacionado a aquele que converte o
conhecimento em um produto comercializável.
Jean Baptiste Say (1983) foi um dos primeiros a argumentar que a teoria econômica
deve ver a mudança como normal e saudável, e criou o termo entrepreneur para denominar
alguém que perturba e desorganiza. Considerava que o empreendedor era o principal
responsável pelo desenvolvimento e crescimento econômico. Separou o conceito de
empreendedor do conceito de provedor de capital, descrevendo o empreendedor como uma
pessoa que inova, que cria, que é um agente de mudanças, e que vai além da imaginação,
desenvolvendo e realizando seus próprios desejos. Thomas Edison, por exemplo, foi um
renomado cientista estadunidense financiado por capitalistas, que além de ser também
considerado um empreendedor por suas invenções, foi um dos que rompeu paradigmas que
revolucionaram a economia global. Exemplos como o dele estimularam esta separação
conceitual previamente argumentada por Say:

Um manufator descobre, às vezes, um processo para confeccionar produtos mais


bonitos ou para produzir mais economicamente coisas já conhecidas. Mantendo

4
segredo disso, consegue, durante muitos anos, talvez durante toda a sua vida e até
legando o processo a seus filhos, obter benefícios que ultrapassam a taxa comum dos
lucros de sua arte. Esse manufator executa, nesse caso particular, dois tipos de
operação industrial: a do cientista, cujas vantagens guarda só para si, e a do
empresário. Existem poucas artes, contudo, em que tais processos podem permanecer
secretos por muito tempo. De resto, isso é uma felicidade para o público, pois, quando
a concorrência dos produtores faz baixar o preço de um produto, a renda dos que o
consomem aumentou, tendo em vista o quanto pagam a menos para obtê-lo. Aplicam
esse excedente em novos consumos; a demanda dos produtos em geral torna-se maior
e a situação dos produtores melhora. Convém observar que só pretendi tratar aqui das
rendas que alguém tem como cientista. Nada impede que um cientista seja ao mesmo
tempo proprietário de um bem de raiz, capitalista ou dirigente de indústria, recebendo
outras rendas a esses títulos diversos. (SAY, 1983, p. 311)

Jean-Baptiste Say (1983), além de ser um renomado autor, foi também ele próprio um
empreendedor. Say foi citado em uma matéria da revista francesa Challenges, explicando as
contribuições dos economistas clássicos para a economia contemporânea, e escrita por Ivan
Best (2007), em seu artigo “O empreendedor no centro”. No artigo, Best argumenta:

Jean-Baptiste Say costuma ser descrito como um seguidor das ideias de Adam Smith,
mas na verdade ele vai muito além. “É o primeiro economista da oferta”, afirma Jean-
Pierre Potier, que dirigiu a coletânea universitária Jean-Baptiste Say, nouveaux
regards sur son oeuvre (Éditions Economica). Ele insiste nas condições da produção,
valorizando o papel do empreendedor. Para os clássicos do século XVIII, a sociedade
se dividia em trabalhadores, rentistas e capitalistas. Jean-Baptiste Say recusou essa
visão. A seus olhos, cada um pode desempenhar uma dessas funções num momento
ou outro. Esse enfoque será retomado posteriormente pela escola neoclássica. (BEST,
2007, p. 47)

Economistas contemporâneos que vieram em seguida, como o economista austríaco


Joseph Schumpeter (1997), baseando-se em Say, romperam com a linha de pensamento da
economia tradicional argumentando que para que a realidade de uma economia sadia, deve-se
ter como princípio central de teoria econômica o desequilíbrio dinâmico provocado pelo
empreendedor inovador, e não o equilíbrio e a otimização (SCHUMPETER, 1997). Schumpeter
revolucionou o pensamento em torno do empreendedor com a criação da expressão “destruição
criativa” para descrever o papel do empreendedor, em que o novo (produto, serviço, mercado,
processo) destrói o velho, não se tratando mais de um agente econômico que supre as demandas
do mercado com ofertas pontuais ou recorrentes. Batizado cerca de duzentos anos atrás e
recentemente resgatado por Schumpeter, somente na década de 70 do século passado o
empreendedor começou a receber mais atenção dos acadêmicos, governos com políticas
públicas desenvolvimentistas e os economistas contemporâneos. Em sua teoria do

5
desenvolvimento, Schumpeter difere o “capitalista” do entrepreneur (traduzido como
empresário):

Mas, qualquer que seja o tipo, alguém só é um empresário quando efetivamente “levar
a cabo novas combinações”, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu
negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios.
Essa é a regra, certamente, e assim é tão raro alguém permanecer sempre como
empresário através das décadas de sua vida ativa quanto é raro um homem de negócios
nunca passar por um momento em que seja empresário, mesmo que seja em menor
grau. (SCHUMPETER, 1997, p. 86)

Em uma linha conceitual parecida com a de Jean-Baptiste Say, o empreendedor para


Schumpeter, inova na combinação de elementos, que por consequência resulta na oferta de
novos processos, mercados internos e externos, produtos ou serviços, e por fim, modelos
organizacionais de empresas (SCHUMPETER, 1997). Em outro trecho, o autor deixa clara a
relação entre inovação, novos mercados e o empreendedor:

É, contudo, o produtor que, via de regra, inicia a mudança econômica, e os


consumidores, se necessário, são por ele ‘educados’; eles são, por assim dizer,
ensinados a desejar novas coisas, ou coisas que diferem de alguma forma daquelas
que têm o hábito de consumir. Daí a prescrever a “destruição criadora”.
(SCHUMPETER, 1997, p. 10)

A “destruição criadora”, introduzida aqui por Schumpeter, ou seja, a substituição de


antigos produtos e hábitos de consumir por novos, é um conceito muito importante para
descrever o processo de desenvolvimento econômico de Schumpeter, pois cria uma mudança
espontânea e descontínua nos canais de fluxo, que por sua vez geram um desiquilíbrio
necessário para alterar o que já existia previamente. O processo de inovar para expandir a
produção e reduzir custos, impulsionada por empreendedores, cria novos mercados com
insumos, máquinas, equipamentos e recursos humanos (SCHUMPETER, 1997). Para
Schumpeter, essa é a base do conceito de desenvolvimento econômico:

O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos, é um fenômeno distinto,


inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência
para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo,
perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio
previamente existente. Nossa teoria do desenvolvimento não é nada mais que um
modo de tratar esse fenômeno e os processos a ele inerentes. (SCHUMPETER, 1997,
p. 75)

6
Novas combinações significam a superação de combinações anteriores, novas empresas
podem implicar, então, no fechamento de empresas. No entanto, nem sempre esse processo
acarreta em falências, já que novas combinações nem sempre usam fatores completamente
ociosos. Com isso, a sobrevivência de empresas depende da identificação de fatores ociosos,
menos produtivos, substituindo-os ou fazendo novas combinações dos recursos disponíveis e
se desenvolvendo, seja com um novo produto, um novo método de produção, um novo mercado
de trabalho, no país ou no exterior, na descoberta de uma nova fonte de oferta de matéria-prima
ou em uma nova forma de modelo organizacional, em todos os casos dando margem ao
surgimento de novas fontes de lucro. Ou seja, o desenvolvimento de uma economia,
independentemente de seu ritmo de crescimento, consiste no emprego diferente dos recursos
disponíveis. À medida que novas combinações surgem, há desenvolvimento (SCHUMPETER,
1997).

Portanto, Schumpeter (1997) não só diferenciou o empreendedor de antigos conceitos,


como associou o empreendedor à inovação, enfatizando a inovação através da “destruição
criativa” e fixando a mesma como pilar central de sua teoria de desenvolvimento econômico.

Concluindo portanto, através de Adam Smith (1983), Jean-Baptiste Say (1983) e


finalmente com Joseph Schumpeter (1997), que o conceito de empreendedor consiste em um
indivíduo de ideia e ação, que causa mudanças, e que, portanto, é de extrema importância por
ter seu valor como agente econômico de mudança em uma economia sadia, sendo o agente
econômico gerador do desenvolvimento.

1.2 O empreendedorismo e a economia

Existem várias definições sobre empreendedorismo, e em todas é possível identificar


que os aspectos relativos ao empreendedor estão presentes como: ação, identificar
oportunidades, fazer novas combinações criativas dos recursos disponíveis, assumir riscos e
desafios. Mas foi Schumpeter (1997) que significou a ação do empreendedor em fazer novas
combinações criativas dos recursos disponíveis como peça central à sua teoria da “destruição
criativa”. Sendo assim, Schumpeter é apontado por muitos, como Dolabela (1999) e Dornelas
(2014), como o “profeta” do que viria anos depois ser batizado como entrepreneurship,
traduzido como empreendedorismo.

7
O empreendedorismo é componente vital para a economia, pois para Schumpeter
(1997), é através dos empreendedores que a economia se desenvolve, gera renda que circula na
economia de forma direta ou indireta, e gera empregos, tudo através da “destruição criativa”,
citada anteriormente. Sobre a geração de novos empregos, essa é uma questão diretamente
relacionada à capacidade do país em gerar ciclos de desenvolvimento econômico. Os ciclos têm
como característica principal o incremento na produção e distribuição de bens e serviços no
país, e por consequência o aumento na oferta de trabalho. Com isso, o empreendedorismo tem
sua importância na economia, dentre outros motivos, pelo fato de que os empreendedores têm
a capacidade de gerar ciclos de desenvolvimento, como foi introduzido por Schumpeter (1997)
e, consequentemente, a gerar postos de trabalho:

No boom os salários devem subir. Porque a nova demanda, primeiro a dos empresários
e depois a de todos os que aumentam as operações com a alta da onda secundária, é,
direta ou indiretamente, de modo especial, uma demanda de trabalho. Portanto,
primeiro o emprego deve crescer e com ele a soma total dos salários do trabalho,
depois a taxa do pagamento de salários e com ela a renda do trabalhador individual.
(SCHUMPETER, 1997, p. 230)

Assim como Schumpeter (1997), diversos outros autores e pesquisadores sobre


empreendedorismo, dentre eles Fernando Dolabela (1999), argumentam que programas de
incentivo ao empreendedorismo e formação de empreendedores, como uma incubadora, por
exemplo, são vitais para o crescimento e desenvolvimento econômico de uma região,
consequentemente para uma economia sadia com a consequente criação de novos empregos:

A importância social e econômica de uma incubadora de empresas é evidente como


suporte ao empreendedor nascente, com a conseqüente criação de novos empregos
diretos e indiretos, fortalecimento sócio-econômico e desenvolvimento tecnológico
da região. (DOLABELA, 1999, p. 233)

Porém, é também importante e interessante observar um movimento recente no Brasil,


ainda na relação entre empreendedorismo e geração de emprego, que, ao passo em que o número
de novos empreendedores representados pela abertura de novas empresas aumentou
substancialmente nos últimos anos, conforme quadro abaixo, podemos também perceber um
aumento do desemprego:

8
Tabela 1: Média anual da taxa de desemprego x Abertura de novas empresas Brasil

Média anual da taxa de Abertura anual de novas Número de MEI’s


Ano
desemprego Brasil empresas total Brasil acumulado Brasil

2012 7,4% 1,66 Mi 2,65 Mi

2013 7,1% 1,87 Mi 3,65 Mi

2014 6,8% 1,90 Mi 4,65 Mi

2015 8,5% 2,02 Mi 5,68 Mi

2016 11,5% 2,05 Mi 6,64 Mi

2017 12,7% 2,27 Mi 7,73 Mi

2018 12,3% 2,63 Mi 7,73 Mi

2019 11,9% 3,17 Mi 9,43 Mi

2020 13,5% 3,36 Mi 11,31 Mi

Fonte: IBGE/Ministério da Economia/Portal do Empreendedor.

Este movimento pode ser um reflexo em parte da crise econômica desencadeada pela
recessão brasileira entre 2014 e 2016 que elevou a escassez de postos de trabalho no país, outra
parte por causa do aumento da informalidade do trabalhador brasileiro, já que o IBGE considera
como uma das categorias de trabalhadores informais os empregados do setor privado sem
carteira assinada. Estes últimos citados, são em grande parte representados pela abertura de
Microempreendedores individuais (MEI’s), já que segundo o Ministério da Economia 79,3%
das empresas abertas só em 2020 foram MEI’s.

Feita essa observação, é importante também analisar que outra parcela de causa desse
movimento de aumento de desemprego e de novos empreendedores, se explica, através da
pesquisa GEM Empreendedorismo no Brasil (2019). Na pesquisa é possível identificar um
aumento de novos empreendedores brasileiros motivados pela escassez de postos de trabalho:

Os resultados do Brasil a partir dessa abordagem mostraram que em 2019, 70,8% dos
empreendedores iniciais indicaram mais do que uma motivação para a abertura do
negócio. Entre os nascentes foram cerca de 80%, 14 pontos percentuais a mais do que
entre os novos com 66%. Isso reforça o argumento que fundamenta a nova
modelagem, de que a decisão para empreender é uma resposta a múltiplos fatores aos
quais os indivíduos são expostos. Ao verificar especificamente cada uma das
motivações, observou-se que um quarto dos empreendedores iniciais estavam
envolvidos em novos negócios para dar continuidade a uma tradição familiar. A
9
ambição de construir uma grande riqueza ou obter uma renda muito alta estava
presente no espectro das motivações de cerca de 37% deles. Destacou-se o fato de que
metade desses empreendedores iniciais também apontaram que fazer diferença no
mundo, ou seja, contribuir para um mundo melhor, foi um dos motivos que os levaram
a empreender. E, por fim, 88,4% dos empreendedores iniciais afirmaram que a
escassez de emprego constituiu uma das razões para desenvolver a iniciativa
empreendedora com a qual estavam envolvidos. (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP
MONITOR, 2019, p. 56)

Tabela 2: Motivações para empreender no Brasil

Empreendedores Empreendedores Empreendedores


Motivações
nascentes (%) novos (%) iniciais (%)

Mais de uma motivação 79,8 66,0 70,8

Apenas uma motivação 20,2 34,0 29,2

Tipos de motivação - - -

Para continuar uma tradição familiar 30,4 25,2 26,6

Para construir uma grande riqueza 45,6 32,4 36,9

Para fazer diferença no mundo 65,3 44,7 51,4

Porque os empregos são escassos 88,7 88,4 88,4

Fonte: GEM 2019

Mas também, é possível analisar na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, de


2019, uma vocação empreendedora existente no Brasil maior que em outros países. Em
momentos de crise econômica como a dos últimos anos desencadeada pela recessão brasileira
entre 2014 e 2016, onde a vocação empreendedora da população brasileira em ter um negócio
próprio, torna-se evidente, assim como a escassez de empregos.

Em 2019, a mesma pesquisa apontou que o Brasil alcançou 23,3% de taxa de


empreendedorismo inicial, considerada a maior marca até agora e o segundo melhor patamar
total de empreendedores (38,7% da população adulta, entre 18 e 64 anos) desde 2002, primeiro
ano da série histórica desta variável. A pesquisa revelou ainda que a taxa de empreendedorismo
potencial em 2019, foi de 30,2%, em outras palavras, de cada 10 brasileiros adultos que não são
considerados empreendedores, três gostariam de abrir um negócio próprio nos próximos três
anos.

As taxas de empreendedorismo inicial, estabelecido e total registradas na pesquisa


fizeram o Brasil alcançar posição de destaque entre os 55 países que participaram do
10
levantamento. O Brasil apresenta a 4ª maior taxa de empreendedorismo inicial, que são novos
negócios de até 3,5 anos de existência (TEA=23,3%), essa marca é a maior em relação às
registradas entre os BRICS, e outros países como, EUA, Colômbia, México e Alemanha. Além
dessa marca, a taxa de empreendedores estabelecidos, que são negócios com mais de 3,5 anos
de existência (TEE=16,3%), colocou o Brasil na 2ª maior marca global, e na taxa total de
empreendedorismo apresentou a 4ª melhor marca (TTE=38,7%). Portanto, a pesquisa constata
a vocação ao empreendedorismo da população brasileira (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP
MONITOR, 2019).

Sabe-se também que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, e países como o


Brasil tem uma propensão maior de estimular o surgimento de empreendedores, pois segundo
Dolabela (1999):

Sabe-se que o empreendedorismo é [...] fruto de hábitos, práticas e valores das


pessoas. Existem famílias (assim como cidades, regiões, países) mais empreendedoras
do que outras. Na verdade, a pessoa aprende a ser empreendedora no convívio com
outros empreendedores, num clima em que ser dono do próprio nariz, ter um negócio
é considerado algo muito positivo. Pesquisas indicam que as famílias de
empreendedores têm maior chance de gerar novos empreendedores e que os
empreendedores de sucesso quase sempre têm um modelo, alguém que admiram e
imitam. (DOLABELA, 1999, p. 31)

Portanto, o fomento do empreendedorismo tem uma grande importância na economia


de uma nação, além do consequente desenvolvimento econômico, gera renda que circula na
economia de forma direta ou indireta, e na geração de empregos tem uma dupla importância,
pois além da geração de empregos através de ciclos econômicos (SCHUMPETER, 1997), se
tornar um empreendedor torna-se também uma alternativa ao desemprego em meio à crises
econômicas e consequente escassez de postos de trabalho, principalmente em países com maior
vocação empreendedora como o Brasil (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR,
2019).

O empreendedorismo, por estes motivos citados acima pela pesquisa GEM (2019) e por
autores como Schumpeter (1997), Dolabela (1999) e Dornelas (2014), vem sendo fortemente
fomentado por algumas iniciativas governamentais que vêm incentivando o empreendedorismo
através de cursos, editais, coworkings, incubadoras universitárias, entre outras iniciativas, para
estimular a criação de novas soluções para o mercado e todas suas importantes consequências
positivas para a economia.

11
Vale destacar também que metade dos empreendedores iniciais apontaram querer “fazer
diferença no Mundo” (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2019), e isso é uma
tendência na criação de soluções empreendedoras, a qual está relacionada com a Agenda de
Desenvolvimento Sustentável 2030. Esse conceito, que vem evoluindo junto com a agenda de
atuação social e responsável das empresas, visa garantir que as necessidades do dia de hoje
sejam atendidas ao mesmo tempo em que se garantam recursos suficientes para as gerações
futuras. Essa agenda foi concretizada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que
reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se desdobram em diversas
metas para serem alcançadas coletivamente até 2030:

Figura 1: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Fonte: Agenda 2030

Esses objetivos estão sendo buscados por governos, grandes empresas, mas também e
principalmente por empreendedores (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2019),
buscando soluções para resolver problemas sociais através de seus empreendimentos. Esse
fenômeno é conhecido também como Empreendedorismo Social.

1.3 O empreendedorismo social e os Negócios de Impacto Social (NIS)

12
O conceito de empreendedorismo já é amplamente conhecido, difundido e divulgado
globalmente, diferente do complemento nominal “social”, apesar de empreendedorismo social
já ser um conceito conhecido desde a década de 1980, quando um novo paradigma de
intervenção social surgiu através de Bill Drayton e a fundação da ASHOKA, com o propósito
de financiar inovadores sociais ao redor do mundo. Outro exemplo é a criação por Edwad Skloot
de uma consultoria com o propósito de ajudar organizações sem fins lucrativos a desenvolver
novas fontes de renda (WOLK, 2007; DEES, 2001).
O empreendedorismo social tem como princípio que o negócio vá além dos objetivos
tradicionais do empreendedorismo como inovar, criar novos hábitos de consumo e de ter lucro
através de seus negócios. O empreendedor social necessita de uma forma diferente de pensar
que tem como objetivo resolver problemas sociais, causar algum impacto social (DEES, 2001).
Ou ainda, conforme definição da Ashoka (2001), empreendedor social é “alguém que tem ideias
novas, pensa e age criativamente, tem personalidade empreendedora e coloca em tudo que
pensa e faz o ideal de produzir impacto social benéfico” (ASHOKA, 2001, p. 35).
Além disso, o empreendedorismo social é uma atividade inovadora, com um objetivo
social diversificado entre setores que vão além do setor privado, como o terceiro setor ou em
organizações híbridas (AUSTIN, STEVENSON & WEI-SKILLERN, 2006).
Essa diversificação do empreendedorismo social entre setores inclusive ajuda a explicar
o nascimento de “Negócios Sociais”. No final do século XX, com o crescimento exponencial
da globalização, houve, por consequência, o aumento de problemas públicos, sociais e
ambientais que levaram a um aumento significativo de organizações do terceiro setor,
acompanhando a demanda por resolver estes problemas globais ou locais. Segundo Salamon
(1998), este aumento de organizações do terceiro setor se deve a pressão da sociedade, das
instituições e de alguns governos que acreditavam que os gastos sociais do Estado estavam
acima do teto que deveriam estar e, assim, organizações privadas também deveriam resolver os
problemas sociais, materializando assim essa pressão, no aumento de ONG’S e cooperativas:

Um dos resultados tem sido o renovado interesse na auto-ajuda ou no


desenvolvimento participativo, uma estratégia de auxílio que enfatiza o engajamento
da energia e do entusiasmo das classes populares por meio de variedade de
organizações não-governamentais. [...] O resultado é um crescente consenso a respeito
das limitações do Estado como agente de desenvolvimento e das vantagens do
envolvimento das instituições do Terceiro Setor para superar essa deficiência.
(SALAMON, 1998, p. 8)

Com o passar do tempo, conforme abordaremos abaixo, esse contexto só se acentuou, e


muitas ONGs e cooperativas, procuraram fugir da dependência de doações em busca de
13
modelos de negócios financeiramente autossustentáveis, ao mesmo tempo em que muitas
empresas iniciaram a implementar em seus respectivos modelos de negócios, responsabilidade
social e ambiental. Ou ainda, empresas passarem a adotar objetivos de impacto social como
principal objetivo no seu modelo de negócios desde o momento de sua fundação. Começa a
surgir um novo conceito de negócios que posteriormente, variando por região global, conforme
abordaremos abaixo, viriam a ser chamados de “Negócios Sociais”.
A origem do conceito de Negócio Social normalmente é atribuída a Muhammad Yunus
com a criação do Grameen Bank em Bangladesh, em 1974 (YUNUS, 2010). Mas existem
algumas perspectivas e correntes diferentes sobre o conceito de negócios sociais ao redor do
Mundo, podendo ser referidos nestas diferentes regiões como negócios inclusivos, empresa
social ou empreendimento social. Segundo Comini, Barki e Aguiar (2012) existem três
abordagens principais que são divididas em: abordagem americana, abordagem europeia e
abordagem de países emergentes.
Na abordagem europeia, o conceito predominante é de Social Enterprise traduzida como
Empresa Social. O tipo de negócio social que mais predominou na Europa é o Work Integration
Social Enterprise (WISE) que tem como objetivo de impacto social reintegrar a população
excluída e marginalizada no mercado de trabalho. Percebe-se na abordagem europeia
características herdadas do modelo de cooperativas como a governança das empresas e
organizações, onde decisões muitas vezes são tomadas em conjunto envolvendo trabalhadores,
fornecedores e consumidores (COMINI, G.; BARKI, E.; AGUIAR, L. T, 2012).
Na abordagem americana, há um conceito mais amplo, de geração de valor
compartilhado. Mas predomina a ideia de que os negócios sejam direcionados e atendam as
necessidades da base da pirâmide (parcela da população mundial mais numerosa e com menor
renda), inclusive por empresas multinacionais com alto potencial de produzir bens e serviços.
Em geral, negócios sociais nesta abordagem são organizações com duplo propósito que
mesclam metas de lucro com objetivos sociais, ou organizações sem fins lucrativos que
desenvolvem atividades comerciais que dão o suporte para a execução de sua missão social.
Boa parte desta abordagem parte do pressuposto que comunidades precisam de empresas, mas
as empresas também precisam das comunidades (PORTER; KRAMER, 2011).
Já na abordagem dos países emergentes, incluindo o Brasil, há principalmente a
referência de Muhammad Yunus como criador do termo de Negócios Sociais (YUNUS, 2010),
e com ele o conceito de que Negócios Sociais são negócios inclusivos.

14
Muhammad Yunus é a principal referência em termos de Negócios Sociais para essa
abordagem. Prêmio Nobel da Paz em 2006, ele foi um dos precursores na criação do termo
Negócios Sociais quando fundou em 1974 o Grameen Bank “banco da vila” em Bangladesh
(YUNUS, 2010). Yunus identificou, em um vilarejo perto da universidade em que lecionava, a
dificuldade de muitas pessoas em obter dinheiro em forma de crédito para financiar formas de
trabalho para sobreviver e ter uma condição melhor de vida. Essas pessoas normalmente
dependiam de agiotas que cobravam juros abusivos, ou tinham solicitações de crédito recusadas
pelos bancos tradicionais, que enxergavam um alto risco na atividade de emprestar dinheiro
para pessoas pobres. Yunus decidiu, então, ele mesmo ser o fiador, e começou emprestando 27
dólares a 42 dessas pessoas, principalmente mulheres, estabelecendo pagamentos semanais e
posteriormente ampliando as operações, levando agentes de crédito acessível para dentro do
vilarejo para acompanhar estes empréstimos. O resultado foi extremamente satisfatório. Um
sistema em que a taxa de inadimplência era próxima de zero, com a abordagem de empréstimos
coletivos lastreados nas relações comunitárias, juntamente com a oportunidade de geração de
renda. Consequentemente, os pagamentos eram honrados, e havia ali uma potencialização do
combate à pobreza, pois emprestar dinheiro à mulheres beneficiava diretamente as crianças da
família, sua educação, e respectivamente toda comunidade:

Quando os homens obtém dinheiro, eles tendem a gastar consigo mesmos, mas as
mulheres trazem benefícios à família inteira, particularmente às crianças. Assim, o
empréstimo feito a elas cria um efeito cascata, que acarreta benefícios sociais e
econômicos para toda a família e, no final das contas, para a comunidade inteira.
(YUNUS, 2008, p. 69)

O Grameen Bank cresceu pelos vilarejos de Bangladesh e existe até hoje, emprestando
dinheiro para população de baixa renda, para que essas pessoas se tornem empreendedoras e
para que crianças tenham um melhor acesso a educação, acelerando o desenvolvimento
econômico e social do país. É um banco financeiramente auto sustentável e até 2010
apresentava um balanço de poupança coletiva de mais de meio bilhão de dólares, servindo de
exemplo para a disseminação do conceito de Negócios Sociais ao redor do Mundo (YUNUS,
2010).
Yunus (2010) parte do princípio de que os Negócios Sociais aumentam o acesso da
população de baixa renda a mercados, gera empregos, melhora a oferta de produtos e serviços,
fomenta o empreendedorismo, e muitas vezes contribui para o maior acesso à tecnologia,

15
infraestrutura e sustentabilidade por quem antes não tinha esse acesso, e, por isso, Negócios
Sociais são negócios inclusivos.
Para Comini, Barki e Aguiar (2013), independente da abordagem do conceito, o negócio
social tem de alguma forma um impacto social na sociedade:

Apesar da ambigüidade e da diversidade de termos, as perspectivas analisadas têm


algo em comum: a existência de organizações que visam resolver problemas sociais
utilizando mecanismos de mercado. As diferenças em suas perspectivas está na
premissa de qual é a forma mais eficaz para atingir o objetivo de ter um impacto social.
(COMINI, G.; BARKI, E.; AGUIAR, L. T, 2013, p.18)

Ainda segundo Comini, Barki, e Aguiar (2013), e explicando a evolução do termo de


Negócios Sociais para “Negócios de Impacto Social”, todas essas formas de organizações
podem transformar o capitalismo em sua lógica de funcionamento, pois essas empresas
inovadoras tem como foco objetivos sociais, preocupação com a sustentabilidade e impacto de
suas atividades na sociedade, além de enxergar o lucro como catalisador para aumentar o seu
impacto social ou para serem financeiramente autossustentáveis:

Assim, o conceito de “negócios com impacto social” incluiria qualquer atividade


empresarial que tenha impacto social dentro de sua ação de negócio. Eles podem
assumir diferentes formas jurídicas: corporações, empresas limitadas e organizações
sem fins lucrativos. (COMINI, BARKI, AGUIAR, 2013, p. 52)

Recentemente Barki, Rodrigues e Comini (2020), analisaram mais uma ampliação de


conceito importante, diferente de “Negócios de Impacto Social” surgiu a conceituação de
“Negócios de Impacto” que são negócios intermediários que podem ser desde uma atividade-
fim até a incorporação de práticas, ao longo de toda a cadeia de valor das organizações
tradicionais, de forma a gerar valor social. E citam para explicar a diferença entre estes dois
conceitos:

Como conceito e construto acadêmico (Dwivedi & Weerawardena, 2018), os negócios


de impacto social podem ser entendidos, então, como um subtipo da definição mais
ampla de negócios sociais e/ou empreendedorismo social; já, no ambiente da prática,
sobretudo no Brasil, o desenvolvimento do campo e do termo “negócios de impacto”
foi altamente influenciado pelo trabalho de organizações intermediárias, que
fomentam e estimulam esse tipo de solução, utilizando essa nomenclatura. (BARKI;
RODRIGUES; COMINI; 2020, p. 491)

16
Ainda Barki, Rodrigues e Comini (2020), ressaltam o crescimento desses negócios
intermediários no Brasil ao longo da década de 2000 e início da década de 2010, para explicar
também a importância de diferenciar Negócios de Impacto de Negócios de Impacto Social, já
que muitos Negócios de Impacto são intermediários em diferentes formatos, de fomento e
investimento, para Negócios de Impacto Social, que vão explicar o crescimento exponencial do
ecossistema de impacto mais a frente.
A Pipe.Social, é uma organização que se intitula uma plataforma-vitrine de negócios de
impacto social e ambiental, para conectar empreendedores com negócios de impacto que
investem e fomentam o ecossistema de impacto socioambiental no Brasil. Em 2019, a
organização elaborou o 2º mapa de negócios de impacto social e ambiental no Brasil, um
mapeamento com uma amostra quantitativa de 1.002 negócios alinhados aos 17 objetivos de
desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (ODS), o mapa tem uma medição a cada dois
anos de dados qualitativos através de entrevistas com os empreendedores mapeados, trazendo
em números atualizados, histórico, atuação, características, desafios e pedidos de ajuda, sobre
os negócios. Também são levantados dados secundários sobre o setor de impacto no Brasil,
agenda, esforços dos diferentes atores e comparação com outros países, para então o
mapeamento analisar o crescimento do setor no país (PIPE.SOCIAL, 2019).
Apesar da conjuntura econômica do Brasil, o pipeline de negócios registrados entre o 1ª
e o 2ª mapeamento da Pipe.Social, aumentou 73%, um crescimento significativo do setor,
quando comparado a outros setores econômicos. Sendo que quatro em cada 10 negócios
mapeados neste intervalo de edições têm menos de dois anos de operação, o que evidencia o
aquecimento do setor. E como público-alvo, 8% dos negócios se dedicam apenas à base da
pirâmide social, 82% além de outros públicos, também se dedicam à base da pirâmide social,
enquanto apenas 8% dos negócios não se dedicam à base da pirâmide social, evidenciando a
predominância de negócios sociais como conceito de negócios inclusivos no Brasil
(PIPE.SOCIAL, 2019; YUNUS, 2010).
Para medir o nível de maturação de um negócio, o mapeamento divide e classifica os
negócios entre fases de uma escala denominada “jornada empreendedora”, considerando a fase
de ideia do negócio como início da jornada empreendedora, e a fase de escala do negócio como
o final da jornada empreendedora (PIPE.SOCIAL, 2019).

Figura 2: Jornada empreendedora e suas fases de classificação

17
Fonte: PIPE.SOCIAL 2019

Dentre inúmeros dados relevantes, o mapeamento destacou que 30% dos negócios da 1ª
edição do mapa atualizaram seus dados na 2ª edição, apontando uma percepção positiva da taxa
de sobrevivência na jornada empreendedora dos negócios. Comparando o cadastro destes
negócios entre a 1ª e a 2ª edição, 33% dos negócios avançaram de fase na jornada
empreendedora, 31% aumentaram faturamento, 26% contrataram mais profissionais
aumentando o tamanho da equipe, e 23% aumentaram o nível de medição de impacto social.
Outros 60% dos negócios mantiveram o cenário e apenas 10% dos negócios apresentaram um
contexto inferior na jornada empreendedora (PIPE.SOCIAL, 2019).
A integração com o setor público foi essencial para esse crescimento. Experiências
internacionais priorizam o governo com três papéis: O de regulador de mecanismos financeiros
de impacto, o de fomentador de temas, modelos e organizações indutoras, e o de comprador de
produtos e serviços originários de negócios de impacto. No intervalo a 1ª e a 2ª edição do
mapeamento, destacou-se a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto, uma
articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da
sociedade civil com intuito de apoiar e fomentar o setor de impacto, facilitando compras
governamentais, apoiando a regulamentação de instrumentos de investimento e apoiando
estratégias regionais de fomento ao setor (PIPE.SOCIAL, 2019).
Foram três recursos disponíveis e essenciais para o crescimento do setor: Dinheiro,
tecnologia e formação técnica (PIPE.SOCIAL, 2019). Sobre dinheiro, iremos aprofundar este
tema no próximo capítulo, pois é o principal recurso de fomento para o crescimento do
18
ecossistema. Sobre tecnologia, o uso de tecnologia nos modelos de negócios aumentam as
chances de investimento, pois indicam maior inovação e probabilidade de escalabilidade do
negócio. As tecnologias que se destacam no mapeamento são big data (27% dos negócios
mapeados), inteligência artificial (26% dos negócios mapeados), internet of things – IOT (22%
dos negócios mapeados), e energias renováveis (20% dos negócios mapeados), dentre outras
tecnologias em menor porcentagem, sendo que 25% dos negócios mapeados não utilizam
tecnologias em seu modelo de negócio. O mapeamento apontou que consequentemente
negócios com alguma tecnologia emergente na sua solução tem maior probabilidade de receber
investimento e mais formação técnica. Além disso, o desenvolvimento de inovação tecnológica,
como citado anteriormente por Schumpeter (1997), impacta profundamente no
desenvolvimento econômico do país. O uso de tecnologia também influencia na jornada
empreendedora, podendo acelerar etapas de crescimento do negócio, levando empreendedores
que não usam tecnologia a rever produtos e modelos de negócio no futuro (PIPE.SOCIAL,
2019).

Figura 3: Mapa de tecnologias utilizadas por negócios de impacto social

Fonte: PIPE.SOCIAL 2019

Além da oferta de dinheiro e tecnologia, que facilitam a escalabilidade dos negócios,


algo crucial para o crescimento do setor, se encontra na oferta de aceleração e formação técnica
voltada para empreendedores de impacto que se diversificou nos últimos anos. Antes muito

19
concentrada na região sudeste do país, o mapeamento identificou que essa oferta expandiu-se
para outras regiões do país, o que aponta uma tendência de crescimento do setor para outras
regiões. Dentre algumas destas iniciativas, observa-se o empreendedorismo de impacto entre
universitários fomentando a base dessa expansão, com programas como, a iniciativa do
Movimento Choice que tem por objetivo disseminar o conceito de negócios de impacto social
nas universidades brasileiras, e a organização internacional Enactus que é dedicada em inspirar
alunos a melhorar o mundo através da ação empreendedora. Além de programas de incubação
e aceleração de impacto como o desenvolvido pela ICE, Anprotec e Sebrae que até o momento
de mapeamento já haviam levado formação sobre o tema para 56 incubadoras e aceleradoras
do Brasil todo (PIPE.SOCIAL, 2019).
O setor também vem sendo pautado na mídia tradicional, e com o crescimento do setor,
cresce também a criação de canais e conteúdos especializados sobre empreendedorismo social,
que ajudam a disseminar o conceito de Negócios de Impacto Social pelo Brasil. Esse
crescimento de exposição de conceito, exemplos de negócios e importância do setor na mídia
consequentemente aumenta o fomento de novos empreendedores para fazer o ecossistema
crescer ainda mais (PIPE.SOCIAL, 2019).
Consequência de maior exposição do setor de impacto é também a maior aproximação
de grandes empresas ao setor, o que, segundo o mapeamento, é uma tendência de crescimento
para os próximos anos junto com a verticalização do ecossistema para gerar impacto nas suas
cadeias de suprimento (PIPE.SOCIAL, 2019). Isso significa para grandes empresas uma
oportunidade de investimento em diferentes mercados que visam resultados financeiros e ao
mesmo tempo contribuição social:

O consumo consciente, a necessidade de marcas mais transparentes e empresas com


uma visão mais clara de propósito e sustentabilidade são algumas das forças que vêm
atraindo grandes empresas para o universo de startups de impacto. Seja para se
conectar com essa inovação de impacto como cliente ou aprendiz, seja para investir
ou desenvolver setores de P&D, as corporações estão buscando os melhores formatos
para se aproximar do setor. Por outro lado, os atores do ecossistema de impacto
também já estão criando modelos de parceria, apoio, patrocínio e até mesmo de P&D
externo para que as empresas entendam como começar a se relacionar de forma
propositiva com esses negócios. (PIPE.SOCIAL, 2019, p. 199)

Os grandes problemas sociais do Brasil sempre ganharam repercussão internacional,


mas junto com o crescimento do ecossistema de impacto, a exposição na mídia e grandes
empresas (muitas estrangeiras) se aproximando do setor, o Brasil ganha repercussão
internacional desta vez como um país de oportunidades para investidores e atores estrangeiros,
20
gerando tendência de cada vez mais atores de vários países, olharem para o Brasil não só como
oportunidade, mas como fonte de troca e inspiração para negócios que queiram trabalhar com
propósito e ser financeiramente sustentáveis (PIPE.SOCIAL, 2019).
Por fim, o mapeamento destaca que muito ainda tem que ser feito para o crescimento do
setor, mas que não há como negar que o ecossistema de impacto vem percebendo melhor as
demandas dos empreendedores. O dinheiro continua a ser o maior pedido de ajuda dos
empreendedores e necessidade para o setor de negócios de impacto social crescer no Brasil
(PIPE.SOCIAL, 2019).
Sendo assim, é necessário aprofundar a discussão sobre Investimento de Impacto no
Brasil, que se coloca como uma alternativa para o crescimento do ecossistema de impacto, para
além do desenvolvimento econômico tradicional, amenizar tantos problemas sociais e
ambientais deste país.

21
CAPÍTULO II – O INVESTIMENTO DE IMPACTO

Neste capítulo será estudado e explicado como funciona a tese de investimento de


impacto, a importância que essa modalidade de investimento tem através do fomento e
aceleração de negócios de impacto social, para o desenvolvimento econômico e para amenizar
consideráveis problemas sociais e ambientais no Brasil. O capítulo está dividido em três partes,
sendo elas: (2.1) A tese do Investimento de impacto, questões relevantes desta tese para o
ecossistema empreendedor e o setor financeiro, (2.2) Produtos financeiros e mecanismos para
o investimento de impacto, definição e operacionalidade de cada instrumento citado, para
melhor entendimento de como o investimento de impacto acontece em termos práticos, (2.3)
Investimento de impacto no Brasil: atores do ecossistema e resultados, uma contextualização
da tese de investimento de impacto no Brasil com os principais atores que ofertam ou são
intermediários de investimento de impacto no ecossistema brasileiro, assim como, alguns
resultados relevantes que demonstram o crescimento do setor de investimento de impacto no
Brasil.

2.1 A tese do Investimento de Impacto, questões relevantes e mensuração

A definição de Investimentos de impacto levou tempo e construção de trabalho, mas o


uso de seu termo começou a ser cunhado ao longo dos anos 2000, e era um conceito que
envolvia investidores que buscavam gerar tanto retorno e valor social e/ou ambiental, ao mesmo
tempo em que esperavam um retorno de capital mínimo deste investimento. Construção de
trabalho essa, que em 2007 e 2008, liderados pela Fundação Rockefeller, reuniu líderes globais
em finanças, filantropia e desenvolvimento, para discutirem a necessidade e a oportunidade de
catalisar, as formas e meios de construir uma indústria mundial para investir em impacto social
e ambiental, que culminou na alocação de U$ 38 milhões nos anos seguintes pela iniciativa de
investimento de impacto da Fundação Rockefeller (ROCKEFELLER, 2012).
Em 2010, um relatório elaborado pelo banco J.P. Morgan (2010), propôs uma definição
mais consolidada de investimento de impacto: “investimentos destinados a criar impacto
positivo além do retorno financeiro.” Além disso, o relatório levantou questões importantes
sobre apetite de risco e sobre o retorno financeiro dos investimentos de impacto: para alguns
investidores, o retorno financeiro deve competir com o investimento tradicional. Alguns
investidores de impacto, como gestores de fundos de pensão, são limitados por um dever

22
fiduciário com seus clientes, cujo dinheiro administram. Esses investidores têm que priorizar a
busca por retorno financeiro competitivo. Investimentos de impacto podem atingir objetivos
sociais e obter retornos ajustados ao risco competitivos com investimentos tradicionais (J.P.
MORGAN, 2010).
Felizmente, ao longo dos últimos anos, a definição de investimento de impacto se
consolidou no setor financeiro, como mostra a Aliança pelos investimentos e negócios de
impacto (2019):

Figura 4: Investimento de Impacto no espectro de investimento

Fonte: ALIANÇA PELOS INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS DE IMPACTO (2019)

O investimento de impacto tem um enorme potencial de promover desenvolvimento ao


atrair investimento para regiões e setores que normalmente não recebem investimento
comercial tradicional. Mas existem desafios, e esses desafios podem ser superados se houver
mais articulação coletiva e troca de informações entre atores tanto do setor privado, quanto da
sociedade civil e do setor público (SIMON; BARMEIER, 2010).
Segundo Simon e Barmeier (2010), em termos práticos, aumentar a transparência de
informações, seja sobre investimentos bem sucedidos ou mal sucedidos, entre os investidores
do ecossistema, aumenta o fluxo de capital para o ecossistema. Por isso, investidores devem
23
visar mais colaboração e menos concorrência, no compartilhamento de dados. Além da
transparência, os autores enfatizam a necessidade de maior padronização, tanto para
metodologias de mensuração do impacto social dos negócios, quanto para a linguagem sobre
conceitos e terminologias do ecossistema de impacto, em um consenso.
As primeiras metodologias de mensuração de impacto social encontravam dificuldades
de precisão na diversidade de setores com possibilidade de investimento de impacto, se
tornando o maior desafio para conseguir padronizar uma metodologia de medição de impactos
sociais e ambientais, já que negócios com objetivos de resolver problemas sociais distintos,
como na habitação, educação ou saúde, merecem comparações distintas nos resultados de
impacto social. A Fundação Rockfeller através da criação da rede Global Impact Investing
Network (GIIN), estava tentando uma padronização para relatórios de métricas sociais, o Impact
Reporting and Investment Standards (IRIS), que, por exemplo próprio, enfrentou a dificuldade
de criar um sistema preciso com tantas distinções entre diferentes setores e negócios com
objetivos de impacto diferentes entre si. Além disso, a metodologia IRIS pedia que os usuários
informassem 170 dados gerais e detalhados sobre seus negócios, parecendo complexa e
demandando muito tempo e trabalho dos empreendedores sociais (SIMON; BARMEIER,
2010).
Posteriormente ao estudo de Simon e Barmeier (2010), aparece a metodologia de
mensuração com a ferramenta theory of change (teoria da mudança) como forma de medir
impactos sociais. Jackson (2013) argumenta que a teoria da mudança é uma ferramenta mais
simples, de fácil e rápida elaboração, visualmente mais fácil de ser compreendida, mais
acessível financeiramente para investidores e empreendedores aplicarem em relação a outras
ferramentas. Outra vantagem é que, é possível combinar a teoria da mudança com outras
metodologias de mensuração, além de ser mais clara e flexível quanto á definição de metas de
atingimento de impacto social, podendo simular cenários desse impacto com ou sem
investimento. O artigo de Jackson (2013) conclui que uma aplicação mais abrangente da teoria
da mudança a todos os níveis do campo é necessária, especialmente para o nível de indivíduos,
famílias e comunidades de baixa renda, onde os resultados sobre os investimentos de impacto
são mais importantes de serem mensurados. Felizmente, a teoria da mudança já é uma
metodologia de mensuração amplamente difundida entre os atores do ecossistema de impacto.
Com metas de retorno financeiro e de impacto social bem estabelecidas, o capital de
investimento privado aplicado em causas sociais tem potencial de diminuir rapidamente a
dependência de doações e outras formas de assistencialismo (SIMON; BARMEIER, 2010).

24
Desde as primeiras reuniões da Fundação Rockefeller sobre o tema em 2007 e 2008,
quando o termo investimento de impacto ainda estava em construção, teve início uma cadeia
de significativos eventos nos anos seguintes pelo setor financeiro global, e mais importante,
houve progresso na construção do campo de investimento de impacto em vários países. Muitos
ganhos tangíveis foram alcançados, mas ainda há muito a ser feito. É importante que os atores
que lideram a construção do campo de investimento de impacto expandam suas parcerias com
outros novos atores para criarem novos produtos financeiros cada vez mais atraentes e que
atendam as mais variadas demandas de investidores e credores, para assim fortalecer a
facilidade de acesso ao investimento de impacto por negócios de impacto, e para facilitar o
impacto social onde mais importa: indivíduos, famílias e comunidades (ROCKEFELLER,
2012).
Por fim, é importante desmistificar uma comum confusão sobre investimentos de
impacto, pois muitos têm confundido o conceito de Investimento de Impacto com Investimento
ESG, mas são conceitos diferentes. O conceito de investimentos ESG (em português a sigla
ASG – ambiental, social e governança, tripé da sustentabilidade), que também são conhecidos
como investimentos socialmente responsáveis, é um conceito que tem o propósito de obter lucro
em torno do tripé da sustentabilidade, e não partem do princípio de gerar impacto positivo para
um problema social ou ambiental, apenas são investimentos que minimizam riscos e aproveitam
oportunidades. Diferente dos investimentos de impacto, que desde o princípio tem a intenção
de resolver um problema socioambiental, normalmente atrelando o investimento à medição do
impacto gerado, ao mesmo tempo em que se tem a intenção de obter retorno financeiro com o
investimento (SETTER, 2021).

2.2 Produtos financeiros e mecanismos para o Investimento de Impacto

Produtos financeiros e mecanismos são os veículos pelos quais os investimentos são


canalizados para oportunidades no ecossistema de impacto. O crescimento da quantidade de
intermediários tem sido acompanhado por um número crescente de produtos financeiros
inovadores e diferentes mecanismos para financiamentos no ecossistema de impacto
(ROCKEFELLER, 2012).
Vários tipos de organizações, com ou sem fins lucrativos, de pequeno, médio ou grande
porte, enfrentam desafios para acessar capital, e não é diferente com os negócios de impacto
social (IZZO, 2011):

25
Para a construção e a expansão de um negócio, seja ele inclusivo, social ou tradicional,
é necessário capital. Na maior parte das vezes, e principalmente quando se considera
negócios com alto potencial de crescimento, o empreendedor ou o time que lidera o
empreendimento não possui o capital suficiente para financiar a sua empresa até que
ela alcance o ponto de equilíbrio e passe a ser lucrativa, financiando sua própria
operação e expansão. Mesmo empresas relativamente mais estruturadas e que já
atingiram há muito tempo o ponto de equilíbrio, precisam de capital para financiar a
sua expansão. Torna-se necessário, portanto, considerar fontes alternativas de
financiamento para o desenvolvimento do negócio. (IZZO, 2011, p. 150)

O produto financeiro ou o tipo de mecanismo que melhor se encaixam para o


crescimento de um negócio de impacto, varia de acordo com a fase em que está classificada na
jornada empreendedora e de suas características específicas como negócio de impacto. Os
principais produtos financeiros e tipos de mecanismos ofertados para um negócio de impacto
não são muito diferentes dos oferecidos para um negócio tradicional. Os atores podem e têm
sido diferentes (IZZO, 2011).
Visando dar um melhor direcionamento aos empreendedores em busca de capital, e
apoiar novos atores que queiram atuar no desenvolvimento e oferta de novos recursos, o
Laboratório de Inovação Financeira ofereceu uma visão estruturada das fontes e mecanismos
disponíveis atualmente no setor financeiro, ao longo da jornada empreendedora dos negócios
de impacto (PIPE.SOCIAL, 2019):

Figura 5: Fontes e mecanismos do setor financeiro para negócios de impacto

Fonte: PIPE.SOCIAL 2019


26
Para aumentar a oferta destes mecanismos, é preciso fomentar o conhecimento sobre
eles. Para que mais atores passem a conhecer e entender o funcionamento dos mecanismos de
captação do ecossistema de impacto, o Laboratório de Inovação Financeira organizou um
glossário explicando cada um destes mecanismos financeiros (PIPE.SOCIAL, 2019):

Quadro 1: Glossário de mecanismos financeiros

Mecanismo financeiro Descrição

Se trata do tipo de crédito mais conhecido, tendo como emissores instituições


financeiras ou outras organizações e pessoas ou empresas como tomadores. Em
geral, são pagas em parcelas, com cobrança de juros e correção monetária. Na
CRÉDITO DIRETO
negociação, alguns dos principais pontos de atenção são: prazo para pagamento,
prazo de carência, antecipação de parcelas, multas por descumprimento do
contrato e garantias.

É aquele que é oferecido por um banco público ou agência governamental com


juros mais baixos do que o Crédito Direto tradicional, desde que o tomador se
enquadre em determinado grupo que o agente público decidiu beneficiar. No
CRÉDITO SUBSIDIADO Brasil há diversos grupos beneficiados, desde produtores rurais, empresas com
projetos de desenvolvimento de tecnologias e cidadãos de baixa renda que
buscam adquirir um imóvel. Cada modalidade tem seus procedimentos de
concessão, com o tomador tendo de justificar sua adequação ao grupo em questão.

São empréstimos que podem ser perdoados em parte ou como um todo caso o
CONDITIONAL LOAN tomador não tenha sucesso em atingir certos patamares. O perdão da dívida a
transforma, efetivamente, em doação.

CONTRATO DE
São contratos de parceria entre o Estado e a iniciativa privada para a execução de
IMPACTO SOCIAL (CIS)
determinadas tarefas que gerem impactos sociais mensuráveis. Tem como centro
/
o pagamento por resultado, ou seja, o negócio social só recebe caso tenha sucesso
SOCIAL IMPACT BOND
na geração de impacto acordada.
(SIB)

Tratam de doações que podem ser convertidas em equity, dívida, participação em


resultados ou royalties, desde que o negócio atinja metas pré-determinadas. São
CONVERTIBLE GRANT
muito utilizadas por doadores que desejam estimular negócios inovadores ou de
impacto socioambiental.

São títulos de dívida emitidas por sociedades anônimas de capital aberto ou


fechado. No momento da emissão já são conhecidos os prazos, modalidade de
DEBÊNTURES
cobrança de juros, possibilidade de conversão em capital social, possibilidade de
pré-pagamento por parte da empresa e diversos outros detalhes.

De um lado, alguém empresta um recurso financeiro, bem ou serviço e, de outro,


DÍVIDA
a companhia assume a obrigação de pagamento nas condições negociadas.

Modalidade híbrida que permite que o investidor tenha a opção de, ao invés de
receber somente o pagamento da dívida acrescida de juros, passar a deter uma
DÍVIDA CONVERSÍVEL participação no capital social da empresa, em seus resultados ou mesmo royalties.
Em geral, tal dívida assume o formato de uma nota conversível em quotas ou de
uma debênture conversível em ações. É similar ao Venture Debt, com a diferença

27
estando no perfil das empresas investidas; no Venture Debt, usualmente o
investimento é feito em startups que se encontram em rodadas intermediárias de
desenvolvimento e, neste caso, o é em empresas de porte maior, tomando recursos
em instituições financeiras ou emitindo títulos diretamente ao mercado.

Modalidades deste tipo buscam compartilhar o risco e retorno de maneira


intermediária, evitando o extremo conservadorismo da renda fixa (que exige
garantias e não tem participação no upside do negócio) com o risco elevado do
equity puro. No Brasil existe um importante incentivo ao uso de instrumentos
DÍVIDA + EQUITY
desta natureza, que parte dos riscos de investidores que investem somente em
(MEZANINO)
Equity estarem sujeitos a problemas fiscais e trabalhistas mesmo não estando
atuantes no dia-a-dia das investidas. Há ainda a preocupação em permitir maior
liquidez, especialmente em áreas em que uma saída tradicional (IPO, aquisição
estratégica) pode ser mais rara.

Um investidor destina recursos financeiros, bens ou serviços para a empresa e


esta cede a ele uma participação em seu capital social, fazendo dele um sócio.
Como sócio, o investidor pode receber parte dos lucros da empresa e participar
de suas decisões, sempre seguindo os documentos que regem estes e outros
EQUITY
procedimentos dentro da empresa. Ele pode passar a ter também diversas
obrigações perante a empresa e em nome dela. Neste mecanismo de
financiamento, o investidor geralmente espera receber parte dos lucros gerados
pela empresa no futuro e, eventualmente, vender sua participação após um tempo.

Ambas as modalidades têm o investidor abrindo mão de participação na gestão


EQUITY COM MENOR do negócio ou de parte dos retornos em troca de uma redução do risco. As Silent
INTERFERÊNCIA NA Participations envolvem uma redução da responsabilidade sobre os problemas na
GESTÃO companhia, enquanto as Preferred Shares envolvem algum tipo de prioridade no
recebimento de lucros ou liquidez de venda.

Mecanismo onde a empresa oferece um pedaço de seu capital social a diversos


EQUITY investidores de uma só vez, sem a necessidade de o fazer em uma oferta pública
CROWDFUNDING de ações em bolsa de valores. O processo é geralmente feito online e com a
possibilidade de receber aportes menores de um número maior de investidores.

Modalidade de fundo que tem no mínimo 50% de seus recursos investidos em


direitos creditórios – direitos derivados dos créditos que uma empresa tem a
FUNDOS DE
receber, como cheques, aluguéis, duplicatas ou parcelas de cartão de crédito. Ou
INVESTIMENTO EM
seja, suponha que a empresa A venda a prazo para a empresa B. Ao invés de
DIREITOS
esperar o pagamento, a empresa A vende o direito de receber o pagamento de B
CREDITÓRIOS (FIDC)
para um FIDC, em troca de um valor menor que o total que B tem a lhe pagar.
Quando finalmente B realiza o pagamento, o dinheiro vai para o FIDC.

São um veículo de investimento bastante disseminado no Brasil, pela regulação


nacional, eles podem investir em empresas que sejam sociedades anônimas
FUNDOS DE
(abertas ou fechadas) ou sociedades limitadas. Devem, ainda, investir no mínimo
INVESTIMENTO
90% de seus recursos em algum tipo de participação em empresas (incluindo
EM PARTICIPAÇÕES
ações e debêntures) e, no máximo, 10% em outros ativos financeiros. Pelos custos
(FIPS)
operacionais, costumam ser utilizados para investimentos de Venture Capital e
Private Equity.

Asseguram o cumprimento de uma obrigação. São muito utilizadas como


condição para concessão de empréstimos. As garantias podem ser pessoais (ex.
GARANTIA
Aval e fiança) ou reais, que recaem sobre bem móveis ou imóveis (ex. penhor,
hipoteca).

São títulos de dívida em que o emissor da dívida só poderá utilizar os recursos


GREEN BONDS captados para financiar projetos considerados sustentáveis ou verdes (ex. Energia
(TÍTULOS VERDES) limpa e renovável, redução de emissões). Muitas vezes, tais títulos são
certificados por uma terceira parte independente.
28
Costuma ser o primeiro investidor de uma empresa nascente ou até mesmo em
INVESTIDOR-ANJO
fase de ideação. Em geral, o ticket varia entre R$ 50 mil e R$ 500 mil.

É uma modalidade de empréstimo destinada para pequenos empreendedores e


MICROCRÉDITO destaca-se por sua agilidade e simplicidade. O valor do microcrédito em geral
varia de R$ 100 a R$ 15 mil.

Modalidade onde que uma pessoa empresta dinheiro diretamente para outra
pessoa ou empresa por meio de serviços online. Baseia-se em um modelo
PEER TO PEER coletivo, de modo que várias pessoas podem oferecer quantias que, juntas,
LENDING formam o valor do empréstimo solicitado pelo tomador. A modalidade é muito
comum entre empreendedores, já que minimiza dificuldades de acesso a crédito,
é rápido e possibilita empréstimos a juros mais baixos.

Para negócios um pouco mais maduros, já prontos a receber uma quantia maior
de recursos, existe o Seed Money. Ele costuma ser considerado o primeiro
SEED MONEY
investimento relevante na empresa, variando entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões no
Brasil.

O Código Civil estabelece que pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,


mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,
SEGURO
relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminado. No caso de
consumação do sinistro, o segurador deverá pagar indenização ao segurado

De um lado, alguém empresta um recurso financeiro, bem ou serviço e,de outro,


TÍTULOS DE DÍVIDA
a companhia assume a obrigação de pagamento nas condições negociadas.

Em termos de investimento profissional em Equity, essas são as modalidades mais


robustas, tanto na expectativa por parte dos investidores, quanto no ganho
VENTURE CAPITAL E financeiro e gerencial por parte do negócio. Financeiramente, só tendem a ficar
PRIVATE EQUITY atrás do lançamento de ações das companhias em bolsas de valores, com os
fundos de Venture Capital fazendo aportes entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões e
os de Private Equity valores à partir de R$ 10 milhões.

Modalidade de crédito oferecido para empresas que não possuem ativos ou fluxo
de caixa suficientes para acessar o mercado de crédito tradicional, ou que
requerem maior flexibilidade. Nesse modelo, o investidor utiliza um instrumento
VENTURE DEBT de crédito para financiar a empresa, mas assume um risco maior (abrindo mão de
garantias, por exemplo) que é mitigado pela possibilidade de algum tipo de
participação, seja nas receitas, lucros ou equity, para capturar eventual upside do
negócio.
Fonte: Laboratório de Inovação Financeira / PIPE.SOCIAL (2019)

Doações não reembolsáveis também são um mecanismo financeiro, e são uma


importante ajuda para empreendedores ao longo da jornada, principalmente nas primeiras fases,
mas a doação não-reembolsável pode gerar dependência financeira dos doadores em alguns
negócios e por isso não deve ser confundida com modelo de negócio, já que bons modelos de
negócios buscam ser sustentáveis financeiramente. Dos 1.002 negócios mapeados, 22%
captaram em algum momento recursos via algum tipo de doação (PIPE.SOCIAL, 2019).
Independente dos mecanismos ou produto financeiro, um investimento de impacto deve
ser analisado por muitos fatores além do fator dinheiro, o mais importante quando se busca
investimentos de impacto é garantir que o financiamento, ou a fonte financiadora esteja bastante
29
alinhada com a visão e os valores do negócio de impacto. Garantir o financiamento pelo
mecanismo correto, no momento correto, com uma equipe qualificada para ter um bom
aproveitamento do recurso no negócio, e de uma fonte alinhada com a visão e valores, que pode
agregar valor à empresa é fundamental para um bom investimento de impacto, para assim
construir negócios de impacto fortes e de sucesso (IZZO, 2011).
Por fim, apesar de uma considerável diversidade de mecanismos, o ecossistema de
impacto ainda enfrenta o desafio de ampliar a oferta de produtos financeiros de impacto. É
necessário mais produtos financeiros comprometidos em apoiar negócios de impacto, além de
produtos financeiros de impacto que diversifiquem níveis de risco (em referência a ativos de
baixo risco), que diversifiquem horizontes de investimento (prazo para resgate), e que
diversifiquem valores mínimos de aplicação, possibilitando aporte de tickets baixos (até R$ 10
mil). Além disso, também é necessário adequar os produtos financeiros de impacto para atender
demandas dos empreendedores, como condições diferentes para fases diferentes da jornada
empreendedor. Em estágios diferentes o empreendedor precisa de condições diferentes de
capital e a possibilidade de agregar apoios adicionais, como gestão, contatos e mentoria
(smartmoney) aos produtos financeiros (ALIANÇA, 2019).

2.3 Investimento de impacto no Brasil: atores e resultados do ecossistema

Para Jackson (2013), o setor de investimento de impacto criou redes, padrões e métricas
e, o mais importante, conseguiu disponibilizar um substancial volume de capital privado e
público para fins sociais e ambientais em todo o mundo. Este estágio inicial de desenvolvimento
do setor foi impulsionado por um grupo de atores que inclui fundações, indivíduos de alto
patrimônio líquido, family offices, bancos de investimento, instituições financeiras de
desenvolvimento e fundos de investimento de impacto.
Conforme o desenvolvimento do setor evoluiu nos últimos anos, novos atores passaram
a compor o mesmo. Para entender melhor o papel destes atores, a Força Tarefa de Finanças
Sociais através de uma carta de princípios para Negócios de Impacto no Brasil (2015) elaborou
uma composição básica do ecossistema de impacto, estruturando os atores entre, atores da
oferta de capital, atores da demanda de capital, e organizações intermediárias. Essas últimas
organizações são atores responsáveis por conectar capital para investimento de impacto entre
os diferentes atores do ecossistema (FTFS, 2015).

30
Figura 6: Composição básica do ecossistema de Finanças Sociais

Fonte: Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil – FTFS (2015)

Os atores intermediários são atores chave para a mudança do modelo mental como os
investidores e empreendedores tem gerenciado recursos. Eles podem ser divididos em quatro
subgrupos: I-) Organizações de monitoramento, avaliação e certificação; II-) Organizações de
recursos e serviços financeiros; III-) Organizações de conhecimento e informações; e IV-)
Organizações de gestão e acesso a investidores. Sendo que uma organização intermediária pode
exercer atividades relativas a mais de um grupo, como por exemplo uma aceleradora, que além
de capacitar empreendedores também facilita o acesso a investidores. Como o ecossistema de
impacto implica na transação de recursos entre atores da oferta e da demanda de capital, tendo
os intermediários com papel chave, é importante o aumento do engajamento com investimento
de impacto ou a quantidade de novos atores intermediários, para o ecossistema de impacto
crescer. O desafio é que tanto atores da oferta quanto atores da demanda de capital, ainda não
conhecem adequadamente as atividades ou não direcionam recursos aos intermediários. É
necessária a valorização dos produtos e serviços oferecidos pelos atores intermediários (FTFS,
2015).
A organização Quintessa, com apoio do Instituto em Cidadania Empresarial (ICE) e do
Instituto Sabin, elabora a cada dois anos, o GUIA 2.5 - mapeamento de iniciativas que
desenvolvem e investem em negócios de impacto no Brasil, atores de oferta de capital e atores
31
intermediários no ecossistema de impacto brasileiro, onde na terceira e mais recente edição
publicada em 2020, foram mapeadas 54 iniciativas de todas regiões do Brasil representando 43
organizações, um aumento significativo em relação as 11 iniciativas mapeadas na primeira
edição em 2015 (QUINTESSA, 2020).
Das 54 iniciativas, 65% das iniciativas estão focadas no desenvolvimento dos negócios
de impacto, enquanto 35% estão focadas em apoiar via aporte financeiro. As iniciativas do
ecossistema foram criadas entre 1997 e 2019. Porém, percebe-se que nos últimos anos os
empreendedores de negócios de impacto tiveram um expressivo aumento na oferta de soluções
focadas no seu apoio. Mais de 74% das iniciativas oferecem os apoios de: Capacitação e
Treinamento, Conexão com potenciais clientes e parceiros, Conexão com potenciais
investidores, Rede de Mentores, Rede entre Empreendedores(as) e Desenvolvimento da gestão
do negócio. Percebe-se também que, o sudeste do Brasil é a região que possui mais sedes de
organizações do ecossistema, com 30 delas. Mas houve da segunda edição do mapeamento para
a terceira e mais recente, uma diversidade geográfica na sede das organizações, com ampliação
para fora do eixo Sudeste, crescendo a quantidade de atores chave do ecossistema de impacto
para mais regiões, criando diversidade geográfica no Brasil. Os resultados são bons e geram
otimismo, com mais iniciativas apoiando negócios de impacto há cada vez mais informação e
amadurecimento do ecossistema de impacto no Brasil (QUINTESSA, 2020).

Figura 7: Iniciativas do ecossistema de impacto no Brasil

Fonte: GUIA 2.5 – Quintessa (2020)

32
Assim como temos oferta de investimento de impacto com atores de oferta e através de
atores intermediários, temos também demanda por investimento de impacto, e muita demanda,
8 em cada 10 negócios estão captando investimento. Sendo que a maioria proporcionalmente
está captando tickets menores: 32% dos negócios estão captando até R$ 100 mil, outros 32%
estão captando entre R$ 101 mil e R$ 500 mil, 17% estão captando entre R$ 501 mil e R$ 1
milhão, e por fim, 19% estão captando acima de R$ 1 milhão (PIPE.SOCIAL, 2019).
Para atender essa demanda, especificamente no Brasil, segundo ANDE e LAVCA,
(2018), dos 33 investidores que já alocaram recursos para o Brasil, 29 estão ativos no país,
sendo destes 12 sediados no Brasil e 17 internacionais. Somente 10 dos investidores locais
declararam o valor em ativos sob gestão, e somam-se U$343 milhões em ativos sob gestão
alocados para investimento de impacto no Brasil. A maior parte desses recursos está alocada
via participação acionária, e os setores com maior número de operações são tecnologia da
informação/comunicação, saúde, educação, e conservação da biodiversidade. As estimativas
agregadas de captação, de apenas 8 investidores que declararam expectativa de captação,
somavam-se para 2018 e 2019 em mais U$190 milhões.
Os investidores declararam 8 saídas de investimentos entre 2016 e 2017, totalizando
U$0,6 milhões entre operações de pagamento de dívida ou venda estratégica da participação
acionária. Fato importante considerando que, não foram reportadas saídas no setor de
investimento de impacto no Brasil antes desse período (ANDE; LAVCA, 2018).
Um marco importante para o setor no Brasil foi em 2017, quando a VOX Investimentos
teve seu primeiro caso de exit de investimento com a empresa TEM, um negócio de impacto
social no setor de saúde. A VOX Investimentos vendeu sua participação de 30% na TEM para
uma seguradora internacional, e com isso obteve um retorno financeiro de 26% a.a. sobre o
capital investido no valor R$ 3 milhões de reais, além de um retorno de impacto, mensurado na
quantidade de 100.000 usuários da empresa TEM que em 2017 economizaram em média R$
406,00 em serviços de saúde (PIPE.SOCIAL, 2019).
Como citado anteriormente, o setor público teve um papel essencial no crescimento do
ecossistema de impacto. Além do mecanismo de compras governamentais, vale ressaltar o papel
como potencializador do crescimento do setor no Brasil, da Estratégia Nacional de
Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO). A articulação de órgãos e entidades da
administração pública federal, do setor privado e do setor civil começou em 2017 com o intuito
de ampliar a oferta de capital para os negócios de impacto, através da um ambiente mais
favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto no Brasil, contava até o

33
momento da 2ª edição do mapeamento da PIPE.SOCIAL com 16 órgãos governamentais e 41
organizações da sociedade civil. A articulação resultou em importantes resultados para o setor,
mas destaca-se o trabalho conjunto entre BNDES, Caixa Econômica Federal, Fundação Banco
do Brasil, e Sebrae para constituir um fundo para investir em negócios de impacto, além de
contribuírem para o avanço do projeto de lei PLS No338/2018 que regulamenta contratos de
impacto social, uma modalidade nova de contratação de negócios de impacto a partir do
cumprimento de metas de interesse social (PIPE.SOCIAL,2019).
A Enimpacto, em seu relatório anual de atividades do Comitê de Investimentos e
Negócios de Impacto de 2019, enviado ao Ministro da Economia, demonstrou todos seus
resultados e concluiu que mesmo com muito pouco tempo de existência e funcionamento, a
articulação tem fomentado o segmento de inovação econômica, que gera emprego, arrecadação
fiscal, pesquisa e novas tecnologias em inúmeras frentes. E que estes resultados apontam que
as conquistas da articulação possuem o potencial de projetar o Brasil em uma posição de
referência na promoção dos investimentos e negócios de impacto (ENIMPACTO, 2019).
Ainda sobre integração do setor público ao ecossistema de impacto e o ambiente
regulatório do setor, em 2019 foi sancionada a Lei Nº 13.880 que regulamenta a criação de
fundos patrimoniais, para arrecadar e gerir doações de pessoas físicas e jurídicas para programas
e projetos em áreas de interesse público, buscando perpetuidade das doações realizadas para a
constituição de seu patrimônio, e sendo mais um mecanismo para fortalecer o setor
(PIPE.SOCIAL, 2019).
Fundações e institutos compõem uma parcela importante de novos atores no ecossistema
de impacto, e como exemplo de maior engajamento destes atores no setor, formaram o grupo
Fundações e Institutos de Impacto (FIIMP), grupo formado por 22 fundações e institutos com
intuito de conhecer, experimentar e investir em negócios de impacto socioambiental. Até o
momento da 2ª edição do mapeamento da PIPE.SOCIAL, cada organização do grupo já havia
investido em um fundo US$ 10 mil, totalizando US$ 220 mil destinados para serem investidos
através de mecanismos como dívida conversível e empréstimo, para negócios de impacto
socioambiental selecionados via intermediários. Todo processo pretende ser documentado em
um guia a ser publicado para incentivar outras fundações e institutos a fazerem o mesmo
(PIPE.SOCIAL, 2019).
Family offices também são novos atores no ecossistema de impacto brasileiro, o
FORImpact por exemplo, uma iniciativa desenvolvida pelas organizações ICE e IMPACTIX,
é uma iniciativa com objetivo de atrair investimento de famílias de alta renda para negócios de

34
impacto social em estágio inicial da jornada empreendedora. Ao todo 12 famílias e seus
respectivos family offices investiram em 6 negócios de impacto social na primeira edição da
iniciativa e com a experiência bem-sucedida há tendência de novas edições (PIPE.SOCIAL,
2019).
Um resultado desse contexto, do setor cada vez mais integrado entre um ambiente bem
fomentado e regulado pelo setor público, com fundações, instituições e family offices, é o
surgimento do conceito de Venture Philanthropy, uma evolução da filantropia tradicional, que
passa a ser centrada em três práticas principais: financiamento customizado para negócios de
impacto social, suporte técnico e gestão, e por fim, mensuração de impacto do investimento.
No Brasil, este conceito vem sendo amplamente divulgado no Brasil pelo Laboratório de
Inovação Financeira, iniciativa entre a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), iniciativa que tem o propósito de alavancar recursos públicos e privados para que
negócios de impacto possam contribuir no cumprimento das metas brasileiras dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (PIPE.SOCIAL, 2019).

Há recursos disponíveis para fases iniciais do negócio de impacto, sobretudo


decorrentes de doações de programas específicos e de FFFs. No entanto, tais recursos
costumam representar volumes pequenos e, normalmente, não são suficientes para
que a empresa consolide o seu modelo de negócios. Hoje, os empreendedores de
impacto encontram diversas dificuldades para acessar recursos entre R$ 100 mil e 1
milhão. Por sua vez, há recursos disponíveis para negócios mais estruturados e que
precisam atingir escala, sobretudo decorrentes de fundos de investimento de venture
capital, que em geral investem tickets acima de R$ 1 milhão. Identificamos que
alternativas de crédito e modalidades híbridas entre dívida e equity ainda são pouco
exploradas, apesar de apresentarem uma boa alternativa para empreendedores que não
querem diluir sua participação na empresa e para investidores mais avessos a risco.
Nessa conjuntura, acreditamos ser fundamental trazer o conceito de Venture
Philanthropy, que é a combinação da alma da filantropia com o espírito do
investimento, para o setor de impacto socioambiental no Brasil, de modo a explorar
uma abordagem de longo prazo, finanças customizadas e capacitação para geração de
impacto socioambiental positivo por negócios de impacto. (PIPE.SOCIAL, 2019, p.
98)

Segundo mapeamento da PIPE.SOCIAL (2019), conclui-se que a tendência sobre o


setor financeiro no conceito de investimento de impacto, é de uma maior mobilização entre
atores para aumentar o fluxo de recursos financeiros, além de empreendedores demandando
recursos, na expectativa de mais opções de ofertas de recursos acessíveis. Ofertas que já
começam a surgir através de novas fontes e instrumentos como: microcrédito, equity
crowdfunding e venture philanthropy.

35
Essas tendências também ficam evidenciadas no próximo capítulo deste trabalho. Ao
analisar o relatório de Produtos Financeiros de Impacto Social - Oportunidades para
investidores (ALIANÇA, 2019), verifica-se que a organização SITAWI se destaca no setor de
investimento de impacto no Brasil, com pioneirismo e referência em alguns instrumentos e
produtos financeiros. Por isso, foi escolhida essa organização para verificar as hipóteses
levantadas neste trabalho de pesquisa, que busca responder alguns desafios que o campo de
investimento de impacto enfrenta levantados ainda no mesmo relatório (ALIANÇA, 2019).
Neste trabalho escolheu-se trabalhar nos relatórios da SITAWI (2017; 2018; 2019) dois desses
desafios: a ampliação dos recursos ofertados para negócios de impacto socioambiental e a
diversificação de produtos e instrumentos financeiros de impacto.

36
CAPÍTULO III – ESTUDO DO CASO SITAWI

Após pesquisa bibliográfica sobre empreendedorismo, empreendedorismo social e


investimento de impacto utilizando-se de artigos científicos, livros e relatórios de organizações
especialistas no tema, buscou-se compreender o fenômeno como um todo e, a partir das
análises, foi possível identificar alguns desafios que o campo de investimento de impacto
enfrenta no Brasil. Assim, formulou-se a seguinte pergunta de pesquisa: de que forma os
desafios de aumento da oferta de capital e diversificação dos produtos financeiros estão sendo
endereçados por uma organização brasileira de investimento de impacto?
Escolheu-se, para tanto, utilizar como metodologia a pesquisa documental (GIL, 2002;
FONSECA, 2002) de natureza qualitativa aplicada a um caso: a SITAWI. Trata-se de uma
organização do setor de finanças de origem brasileira com atuação há mais de 10 anos e que
possui uma diversidade de programas e fundos operantes no setor de investimento de impacto.
A organização atua com dois CNPJ, um com fins lucrativos e outro sem fins lucrativos.
Os programas e atuações são diferentes, mas buscam manter os mesmos princípios. Enquanto
o CNPJ sem fins lucrativos da SITAWI atua em atividades como os fundos filantrópicos, fundos
socioambientais rotativos e Contratos de Impacto Social (CIS), o CNPJ com fins lucrativos atua
em consultorias ASG e integração de temáticas socioambientais em grandes empresas, bancos
comerciais, fundos de pensão, entre outros (SITAWI, 2021).
Sendo assim, realizou-se uma busca no site da organização para encontrar de que forma
reporta suas informações. Foram encontrados relatórios de impacto cuja versão mais recente
até a data da pesquisa era a de 2019.
Escolheu-se analisar sua atuação através dos relatórios anuais de 2017, 2018 e 2019.
Todos foram produzidos de acordo com os padrões da Global Reporting Initiative (GRI), que
busca padronizar a forma de relatar as atividades e impactos das organizações
internacionalmente.
O relatório de 2017 foi uma edição comemorativa de 10 anos da organização, e por isso,
conta com uma descrição histórica da evolução da organização, sua governança, informações
sobre seus diversos programas e produtos, bem como sua performance financeira. Os relatórios
de 2018 e 2019 são mais breves, contendo apenas as informações de performance da
organização.
Esses relatórios, por se tratarem de documentos cujos dados são fruto de escolha e
análise de dados primários feita pela própria SITAWI, se enquadra como documentos “de

37
segunda mão” conforme Gil (2002), mas que ainda podem ser analisados de outras formas,
conforme o objetivo desse trabalho.
Dessa forma, a análise dos conteúdos foi feita de duas formas:

a) Relatório de 2017: Utilizou-se o método de codificação (SALDAÑA, 2009) para


realizar a análise dos dados qualitativos. A codificação é uma metodologia que
auxilia o pesquisador a sumarizar o conteúdo analisado e encontrar padrões que se
relacionem com sua pergunta de pesquisa. Na codificação, a partir dos desafios
definidos pela Aliança, e aqui analisados, formularam-se os seguintes códigos:

[AMP] – AMPLIAÇÃO DA OFERTA DE CAPITAL


[DIV] – DIVERSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Realizou-se uma leitura sistemática do relatório de 2017 buscando identificar os trechos


onde a organização menciona informações relacionadas a esses dois tópicos. Esses trechos
foram selecionados e transcritos em dois quadros (Quadro 2; Quadro 3), para serem analisados.
A análise de seu conteúdo, comparações entre os trechos e link com os desafios pré-
estabelecidos foi conduzida pelo método de Miles e Huberman (1994).

b) Relatórios de 2017, 2018 e 2019: analisaram-se e compararam-se as informações de


performance da organização como o montante de recursos alocado em investimento,
sua arrecadação, suas despesas com operação, etc.

A partir dessas informações, é possível compreender se a organização, em sua edição


comemorativa, se compromete a contribuir parcialmente com os desafios do campo de
investimento de impacto descritos pela Aliança (2019) e se esse compromisso se reflete em
suas iniciativas e em seus números.

38
3.1 Análise da ampliação da oferta de capital

Quadro 2: Análise da ampliação da oferta de capital

[AMPLIAÇÃO DA OFERTA DE CAPITAL] Análise

Mobilizamos mais de R$14 milhões com um alto SITAWI está multiplicando o investimento que faz
fator de multiplicação – cada R$1 consumido em suas operações arrecadando recursos com
internamente em nossas operações permitiu alocar parceiros.
R$5,30 em impacto – através do apoio de mais de
100 pessoas físicas e empresas, a maioria conosco há
vários anos. (SITAWI, 2017, p. 8)

Essa diversificação de soluções tem um único Compromisso com ampliação do capital para o setor
propósito: mobilizar ainda mais capital para impacto
socioambiental positivo, nossa missão. (SITAWI,
2017, p. 8)

De uma proposta pioneira com um produto inicial SITAWI ampliando os recursos para o setor incluindo
ancorado em capital filantrópico, a SITAWI aconselhamento ASG
diversificou sua atuação, mobilizando tanto capital
filantrópico e concessionário, como aconselhando
capital financeiro para impacto socioambiental
positivo. (SITAWI, 2017, p. 9)

Em ambos os programas, a SITAWI faz parte de SITAWI participando e liderando iniciativas de


redes que buscam avançar políticas públicas para o integração do setor público ao setor de investimento
desenvolvimento de um macro-ambiente favorável às de impacto
Finanças do Bem. Podemos destacar nosso
envolvimento na Força Tarefa de Finanças Sociais –
que apoiou a publicação do decreto presidencial nº
9.244/17 que cria a Estratégia Nacional de
Investimentos e Negócios de Impacto – e no
Laboratório de Inovação Financeira, liderado por
BID, CVM e ABDE, com grupos de trabalho em
Títulos Verdes (coordenado pela SITAWI), Finanças
Verdes, e Investimentos de Impacto. É importante
salientar que não somos uma organização de
lobbying. (SITAWI, 2017, p. 12)

Desde 2008, a SITAWI se propõe a fomentar a SITAWI inova no modelo de negócios com dois
transformação dos valores expressados na CNPJ para maximizar seu impacto e atingir sua
mobilização de capital. Isso é o que chamamos de missão
Finanças do Bem, e toca tanto os indivíduos, como
seus agentes – bancos, seguradoras, gestores de
ativos, institutos e fundações. A fim de atingir nossa
missão, atuamos nos dois extremos do capital –
filantrópico e financeiro – e nos organizamos com
dois CNPJs, cada qual com seu foco. (SITAWI, 2017,
p. 14)

Em 2017, foi instituída a área de Coordenação de Novo produto para atender projetos de objetivo
Programas Territoriais que, além da gestão financeira socioambiental específicos
de grandes projetos, possibilita a coordenação de
diversos parceiros, financiadores e organizações
implementadoras para um objetivo socioambiental
específico. (SITAWI, 2017, p. 16)

39
Até dezembro de 2017, a SITAWI mobilizou R$14,3 Crescimento acelerado da SITAWI em sua missão de
milhões para impacto socioambiental positivo, sendo mobilizar capital para impacto
que, destes, R$5 milhões foram no ano de 2017,
refletindo um crescimento acelerado do capital
mobilizado. (SITAWI, 2017, p. 16)

Desde a criação do primeiro Fundo Filantrópico, em Ampliação de capital mobilizado e união de esforços
2012, a SITAWI já fez a gestão de mais de 20 fundos, através de fundos filantrópicos geridos pela SITAWI
possibilitando que diversas organizações unissem
esforços no co-financiamento de uma estratégia
comum. Em 2017, R$2,8 milhões foram
desembolsados através de 12 Fundos Filantrópicos.
(SITAWI, 2017: 17)

Assim como os Fundos Filantrópicos, os Fundos Ampliação de capital mobilizado e multiplicação do


Socioambientais Rotativos também viabilizam a impacto do capital investido através de Fundos
articulação entre diferentes financiadores, sejam eles socioambientais Rotativos
pessoas físicas ou jurídicas. Além disso, essa
estrutura permite um desembolso e recuperação dos
recursos de maneira rápida e eficiente, possibilitando
que, a cada repagamento, seja realizado um novo
investimento e isso se repita em vários ciclos,
multiplicando o impacto do capital investido.
(SITAWI, 2017, p. 25)

Nos próximos dez anos, esperamos nos tornar SITAWI fomentando setor, se tornando referência
referência nacional em todas as etapas de nacional no instrumento de Contrato de Impacto
estruturação, mobilização de capital e Social.
acompanhamento da operação dos Contratos de
Impacto Social, ampliando nossa atuação a todos os
modelos de contrato de impacto existentes, e
continuar fomentando o mercado e disseminando
informações sobre CIS no Brasil. (SITAWI, 2017, p.
43)

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS. Com o intuito de Programa de finanças sustentáveis, diversificação de


reforçar o conceito de Finanças do portfólio, incorporar questões ASG para mudar o
Bem e ampliar o compromisso com a mobilização de custo de capital e agregar ao compromisso com a
capital para impacto socioambiental positivo, a mobilização de capital para impacto socioambiental
SITAWI iniciou, em 2013, o Programa de Finanças positivo da SITAWI.
Sustentáveis, a partir da associação com os projetos e
consultores liderados por Gustavo Pimentel. Desde
então, o programa vem diversificando seu portfólio e
se consolidando como a maior prática de Finanças
Sustentáveis no Brasil e na América Latina. Ao
incorporar questões ambientais, sociais e de
governança (ASG) ao processo decisório de
investidores, setor financeiro e grandes empresas,
acreditamos ser possível mudar o custo de capital do
setor produtivo: o dinheiro fica mais barato,
abundante e paciente para aqueles com impacto
positivo; e mais caro, escasso e impaciente para
aqueles com impacto negativo (SITAWI, 2017, p. 44)

Evolução do Programa Finanças Sustentáveis. Em Crescimento acelerado do programa Finanças


2017, o programa realizou um total de 37 projetos, sustentáveis com diversos tipos de organizações
crescimento de 147% com relação a 2013, seu sendo atendidas pela SITAWI
primeiro ano. Considerando receita líquida, o
crescimento foi ainda mais expressivo, de 222%. A

40
equipe triplicou, encerrando 2017 com 14
profissionais, a maior do Brasil e da América Latina
dedicada ao tema. (SITAWI, 2017, p. 45)
● Bancos comerciais
● Bancos de desenvolvimento
● Assets managers e seguradoras
● Empresas não financeiras
● ONGs e Associações
● Instituições Governamentais

INTELIGÊNCIA E ARTICULAÇÃO Diversificação de produtos, projetos customizados,


INSTITUCIONAL. A SITAWI realiza projetos SITAWI a frente de iniciativas relevantes Brasil e
customizados em temas de interface entre finanças e LaTam.
sustentabilidade, incluindo projetos de inteligência,
desenvolvimento de produtos, elaboração de políticas
públicas, curadoria de eventos e articulação
institucional. O network e especialização temática
permitem que a SITAWI esteja a frente de iniciativas
relevantes no Brasil e na América Latina. (SITAWI,
2017, p. 53)
● FAO – Finanças Rurais
● WWF – Fluxos financeiros do
desmatamento na Amazônia e no Cerrado
● TNC – Pará 2030
● União Europeia UE-Brasil Fórum de
Negócios Verdes
● Laboratório de Inovação Financeira (Lab)
● Banco do Brasil Eficiência Hídrica
Fonte: Elaboração própria/SITAWI (2017)

De acordo com os trechos ressaltados sobre ampliação da oferta de capital, verifica-se


que a SITAWI se compromete a mobilizar capital de impacto socioambiental positivo. Esse
compromisso é visto no crescimento acelerado da oferta de capital pela organização ao longo
dos 10 anos de suas operações. A organização veio inovando em seu modelo de negócios
pensado para maximizar seu impacto e cumprir sua missão. A união de esforços através de co-
investimentos nos fundos filantrópicos geridos pela SITAWI, e a multiplicação do impacto do
capital investido através de fundos socioambientais rotativos são os pilares centrais desse
modelo de negócios.
Existe dentro desse inovador modelo de negócios, uma significativa diversificação de
instrumentos no portfólio de produtos e serviços para atender demandas de diversos tipos de
investidores, incluindo serviços customizados para atender projetos específicos com objetivos
socioambientais, e pioneirismo em novos instrumentos como o Contrato de Impacto Social que
estão tornando a SITAWI referência para fomentar esse instrumento.
Além disso, incorporar na diversificação de produtos e serviços questões ASG amplia
mais ainda a mobilização de capital e muda o custo de capital para o setor. O Programa de

41
finanças sustentáveis apresentou um crescimento exponencial com diversos tipos de
organizações sendo atendidas pela SITAWI.
Por fim, a estratégia da SITAWI de participar e liderar iniciativas de integração do setor
público com o setor de investimento de impacto contribui não só para o crescimento do setor
no Brasil como no atingimento de sua missão de mobilizar capital, que tornam a SITAWI uma
referência à frente de iniciativas relevantes no Brasil e na América Latina.

3.2 Análise da diversificação dos instrumentos

Quadro 3: Análise da diversificação dos instrumentos

[DIVERSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS] Análise

Nossos fundos socioambientais filantrópicos e Possui fundos socioambientais filantrópicos e


rotativos apoiaram mais de 50 organizações, rotativos que contam com diferentes instrumentos de
alcançando mais de 250.000 pessoas em todas as investimento, atingem todas as regiões do Brasil
regiões do país. (SITAWI, 2017, p. 8)

Além dos empréstimos, nossa atuação passou a Aumentou a quantidade de formas de investimento
incorporar investimentos, garantias, crowdlending, em instrumentos como garantias, crowdlending, CIS,
gestão de fundos socioambientais filantrópicos e e crescendo...
rotativos, contratos de impacto social, análise ASG de
empresas e ativos, consultoria em risco
socioambiental, avaliação de títulos verdes... e a lista
deve continuar crescendo. (SITAWI, 2017, p. 8)

A vedete do momento, sem dúvida, são os Títulos Destaque para o instrumento de Títulos Verdes,
Verdes (ou sociais, ou sustentáveis). A SITAWI SITAWI é referência nesse instrumento. 100% das
organizou o primeiro evento sobre o tema no Brasil emissões domésticas.
em 2014 e, atualmente, somos a maior referência em
títulos verdes no país, tendo atuado em 100% das
emissões domésticas (8) e liderando ou participando
de todas as iniciativas ou grupos de trabalho no tema.
(SITAWI, 2017, p. 10)

A atuação da SITAWI é desenvolvida a partir de dois Inovação e diversificação dos instrumentos através de
programas: Finanças Sociais e Finanças Sustentáveis. dois programas: Finanças Sociais e Finanças
(...) O programa Finanças Sociais é responsável pelo Sustentáveis. Finanças sociais historicamente só com
desenvolvimento dos Contratos de Impacto Social capital da SITAWI, agora com capital coletivo
(CIS, do inglês Social Impact Bonds) no Brasil e pela através de crowdlending e crowdequity.
gestão de Fundos Filantrópicos (FF) e Fundos
Socioambientais Rotativos (FSR), a partir dos quais
são realizadas Doações, Empréstimos, Garantias ou
Investimentos Socioambientais para organizações e
negócios de impacto com ou sem fins lucrativos.
Historicamente, estas operações eram feitas
exclusivamente com capital da SITAWI e,
recentemente, adicionamos o formato coletivo,
ancorado pela SITAWI (crowdlending, crowdequity).
Este programa está 100% hospedado no CNPJ sem
fins lucrativos da SITAWI. (SITAWI, 2017, p. 12)

Já o programa Finanças Sustentáveis é responsável Maior mobilização de capital para impacto

42
por avançar a integração de temas socioambientais socioambiental positivo através de serviços de
nas decisões de investimento de bancos de consultoria e pesquisa no programa de Finanças
desenvolvimento, bancos comerciais, fundos de Sociais, para vários tipos de organizações se
pensão, de private equity, asset managers, integrando ao setor com estes serviços da SITAWI.
seguradoras, fundações filantrópicas, ONGs,
associações, think-tanks e grandes em presas. O
modelo de negócios é prioritariamente comercial,
com pagamentos diretos pelos clientes por serviços
de consultoria e pesquisa. (SITAWI, 2017, p. 12)

Há 10 anos, a SITAWI constituiu o primeiro Fundo SITAWI pioneira em Fundo Socioambiental Rotativo
Socioambiental Rotativo do Brasil, apoiando no Brasil. Contribuindo com inovação e
organizações sociais e empreendedores de impacto diversificação de instrumentos no setor.
por meio de Empréstimos Socioambientais.
(SITAWI, 2017, p. 15)

Em 2012, foi criado o primeiro Fundo Filantrópico, SITAWI aumentou seu número de um para 20 em
um modelo que possibilitou o co-investimento de Fundos Filantrópicos de 2012 á 2017. Mobilizando
capital filantrópico de múltiplos atores em estratégias mais capital em co-investimentos em estratégias
comuns e a incubação e apoio a iniciativas sociais comuns, diversos parceiros e causas apoiadas.
pioneiras no Brasil. Desde então, já criamos mais de
20 Fundos Filantrópicos, com diversos parceiros e
causas apoiadas. (SITAWI, 2017, p. 15)

Fomos pioneiros no desenvolvimento e na SITAWI pioneira no instrumento CIS no Brasil e se


estruturação dos Contratos de Impacto Social (CIS) compromisso para ser referência nesse instrumento.
no Brasil. Em 2015, através de uma consultoria para
o Banco Interamericano de Desenvolvimento,
estudamos a viabilidade técnica desse mecanismo em
duas áreas temáticas e, desde então, atuamos na
pesquisa e desenvolvimento de novas oportunidades
de contratos e na estruturação do primeiro CIS na
área de saúde do Brasil. (SITAWI, 2017, p. 15)

Também nesse percurso, os Fundos Socioambientais Aumento de instrumentos nos Fundos


Rotativos foram reestruturados, passando a oferecer, Socioambientais Rotativos, aumento de financiadores
além dos Empréstimos Socioambientais, e consequentemente mobilização de capital.
Investimentos Socioambientais (com dívida
conversível em participação acionária) que se
utilizam de sofisticadas estruturas para atender às
necessidades dos negócios de impacto. Em 2017
foram desenvolvidas mais duas inovações que
possibilitaram: (1) o primeiro crowdlending para
negócios de impacto no Brasil, democratizando o
investimento de impacto e possibilitando a pessoas
físicas e jurídicas a co-investirem com a SITAWI, e
(2) garantias para Empréstimos Socioambientais,
permitindo a entrada de instituições financeiras
tradicionais no apoio a esses empreendimentos.
(SITAWI, 2017, p. 16)

O Fundo Filantrópico facilita a articulação dos Fundo Filantrópico facilita articulação de co-
recursos de múltiplos doadores e os desembolsa de investimento. Gestão da SITAWI aumenta eficiência
maneira rápida e eficiente, permitindo que o dos recursos.
instituidor e seus parceiros foquem seus esforços e
tempo nas atividades de gestão programática do
fundo, enquanto a SITAWI fica a cargo da gestão
financeira do mesmo, tornando mais eficiente a
alocação de recursos humanos e econômicos.

43
(SITAWI, 2017, p.17)
● GRUPO +UNIDOS
● FUNDAÇÃO BMW
● FORD FOUNDATION – FÓRUM
JUSTIÇA
● RIO+B
● INSTITUTO MAHLE
● DÁ PÉ
● NOVA DEMOCRACIA
● FORD FOUNDATION – NUVEM
● AGORA!
● INSTITUTO INTERCEMENT
● ELLEN MACARTHUR FOUNDATION
● FUNDAÇÕES E INSTITUTOS DE
IMPACTO – FIIMP

FUNDOS SOCIOAMBIENTAIS ROTATIVOS. Ao Em 10 anos a SITAWI beneficiou 27 organizações


longo de 10 anos, a SITAWI já realizou 31 através de Fundos Socioambientais Rotativos. Co-
Empréstimos Socioambientais e 2 Investimentos investimento e programas customizados para atender
Socioambientais (em forma de dívida conversível), necessidades com flexibilidade e transparência.
beneficiando 27 organizações. Em 2017, foram Destaque para inovação do instrumento
realizados 3 Empréstimos Socioambientais, incluindo crowdlending, pioneirismo para um negócio de
a iniciativa pioneira de crowdlending para um impacto no Brasil.
negócio de impacto no Brasil.
A SITAWI opera os Fundos Socioambientais
Rotativos em parceria com fundações, institutos,
empresas e filantropos, proporcionando uma
experiência de coinvestimento de impacto. Ao início
de cada fundo, é feita uma construção conjunta das
teses de impacto e investimento, e dessa forma, é
possível criar programas customizados para atender
de forma única as necessidades de cada instituidor,
com flexibilidade e transparência na aplicação dos
recursos em negócios de impacto (sejam eles com ou
sem fins lucrativos) no Brasil. (SITAWI, 2017, p. 25)

Os recursos recebidos ficam em uma conta segregada Inovação para demandas específicas e customizadas.
e podem ser desembolsados para apoiar os negócios Possibilidade de aplicar recursos captados em
de impacto através de diferentes instrumentos de instrumentos inovadores para catalisar co-
investimento, que vão desde empréstimos a compra investimentos de impacto em campanhas de
de participação acionária (equity). Os recursos ainda crowdlending como investidor líder, por exemplo.
podem ser utilizados em instrumentos inovadores
para alavancar mais capital para os negócios de
impacto selecionados, tais como a garantia de
empréstimos socioambientais ou com o fundo
assumindo um papel catalisador de co-investimentos
(seja com outras empresas, institutos e fundações ou
com pessoas físicas) através de parcerias ou como
investidor líder em campanhas de crowdlending.
(SITAWI, 2017, p. 26)

Família C é um fundo de gestão compartilhada, Inovação em fundo de gestão compartilhada


construído a partir da doação de um family office, (FUNDO C) e exemplo de integração de family
que tem como objetivo ofertar capital para o offices com interesse de crescimento do setor.
crescimento de organizações sociais e negócios de Operação de crowdlending em 2017 através do fundo.
impacto. Por meio deste fundo, em 2017 foi
estruturada pela primeira vez no país uma operação
de crowdlending para um negócio de impacto.
Entenda como funcionou a iniciativa e conheça a

44
organização beneficiada pelo instrumento. (SITAWI,
2017, p. 30)

Crowdlending: Democratização do investimento de Crowdlending = Democratização do investimento de


impacto. “A ideia de um mecanismo que integre impacto, atraindo investidores de ticket “baixo”.
negócios de impacto a potenciais investidores, de
forma rápida e descomplicada, com uma análise de
crédito prévia e seleção dos negócios realizados pela
SITAWI, é muito boa”. Essa iniciativa tem enorme
potencial de atrair pessoas que desejam aplicar um
capital relativamente pouco vultoso, mas precioso
para o desenvolvimento de novas empresas. Outra
vantagem desse mecanismo é, à semelhança de
plataformas de crowdfunding para projetos, permitir
que o potencial investidor possa conhecer e comparar
empresas diversas, estimulando o aprimoramento das
informações prestadas como forma de se diferenciar.”
(SITAWI, 2017, p. 30)
● INTECELERI

FUNDO DE EMPRÉSTIMOS Primeiro fundo criado pela SITAWI, FES, desde


SOCIOAMBIENTAIS – FES. Primeiro fundo criado 2008. Investimento de impacto “tradicional”
pela SITAWI, em 2008, apoiando negócios de impacto.
o FES recebe recursos doados por diferentes atores
como institutos, fundações e pessoas físicas. O
objetivo é apoiar negócios de impacto, sejam eles
com ou sem fins lucrativos, através de diferentes
mecanismos de impacto como os Empréstimos
Socioambientais, a Garantia e o Crowdlending.
Conheça a seguir as duas organizações apoiadas por
esse fundo em 2017. (SITAWI, 2017, p. 31)
● REDE ASTA
● 4YOU2

Estruturação da Garantia de Empréstimo SITAWI, Pioneirismo em Garantia de Empréstimo


Socioambiental. A SITAWI é a organização Socioambiental no Brasil através de recursos doados
responsável por desenvolver e estruturar a primeira pelo FIIMP. Mecanismo inovador.
Garantia de Empréstimo Socioambiental para um
negócio de impacto do Brasil, com recursos doados
pelo FIIMP. A operação envolve tanto uma parceria
com uma instituição financeira tradicional, quanto a
seleção de um negócio de impacto que atenda aos
critérios da mesma. Por ser um mecanismo inovador,
em 2017 foi realizado o trabalho de aproximação com
as instituições financiadoras e o estabelecimento de
importantes parcerias.
Em paralelo, foi feito o processo de análise e seleção
de negócios de impacto que tinham perfil e interesse
em receber o financiamento. (SITAWI, 2017, p. 33)
INVESTIMENTOS ATIVOS EM 2017:
● CIES
● EGALITÊ
● INTECELERI
● 4YOU2
● COPERJUNHO
● ECOSERVICE
● FEIRA PRETA
INVESTIMENTOS ENCERRADOS EM 2017:
● OLIST

45
● INSTITUTO ALPHA LUMEN
● REDE ASTA
● INOCAS

COORDENAÇÃO DE PROGRAMAS Coordenação de programas territoriais = produto


TERRITORIAIS. Programas Territoriais são customizado para atender demandas complexas e com
iniciativas que incluem uma ampla variedade de parceiros variados em torno de um objetivo
parceiros e organizações que atuam de forma socioambiental especifico. Metodologia da Teoria da
coordenada para um objetivo socioambiental Mudança em foco.
específico. Com o intuito de coordenar demandas
complexas e diferentes agendas, a SITAWI oferece
neutralidade e expertise em gestão, possibilitando um
olhar estratégico no desenvolvimento do projeto. Esta
abordagem considera os aspectos essenciais da Teoria
de Mudança, onde os resultados esperados de curto e
de médio prazo e os impactos de longo prazo
constituem o grande legado do programa para a área
de influência ou território, visando deixar as bases
mais fortalecidas e mais autônomas. (SITAWI, 2017,
p. 34)
● PROGRAMA TERRITÓRIO MÉDIO
JURUÁ

CONTRATOS DE IMPACTO SOCIAL (CIS). O SITAWI está desde 2015 desenvolvendo CIS e se
Contrato de Impacto Social (CIS, do inglês Social tornando referência no Brasil. Atuando, desenhando
Impact Bonds), é um mecanismo inovador de ou implementando junto a diversos tipos de
contratação pública de soluções sociais com organizações e governos.
financiamento privado. Focado no resultado, o CIS
contrata programas baseados em evidência de
impacto social, atrelando o pagamento à medição de
indicadores de resultado:
o estado se compromete a pagar os investidores, com
uma taxa de retorno, somente se as metas
estabelecidas para uma população definida sejam
atingidas. Dessa forma, o risco financeiro de
insucesso do programa é assumido pelo investidor,
retirando do setor público o ônus por soluções
ineficazes e não onerando as organizações
operadoras. Desde 2015, a SITAWI atua no
desenvolvimento do ecossistema de CIS no Brasil,
atuando nas fases de desenho, financiamento e
implementação do CIS, assessorando governos,
investidores e/ ou operadores interessados. (SITAWI,
2017, p. 38)

Em 2017, concentramos nossos esforços em duas Exemplo de CIS com governo do Ceará, o primeiro
frentes principais: pesquisa e desenvolvimento de na área de saúde, em 2017.
novas oportunidades de contratos e solidificação da
nossa atuação, junto ao Governo do Estado do Ceará,
na estruturação do primeiro CIS na área de saúde do
Brasil. (SITAWI, 2017, p. 38)

A SITAWI é especialista no desenvolvimento e na Em 2015, SITAWI se tornou pioneira ao fazer análise


estruturação de Contratos de Impacto Social no de viabilidade técnica em consultoria de CIS em 2
Brasil. Nos tornamos a organização pioneira no tema áreas temáticas de educação e segurança no Brasil.
com a execução de uma consultoria para o Banco
Interamericano de Desenvolvimento, em 2015, na
qual realizamos a primeira análise de viabilidade
técnica dos Contratos de Impacto Social no Brasil em

46
duas áreas temáticas: educação e segurança.
(SITAWI, 2017, p. 41)

CONSULTORIA. A SITAWI se tornou a maior SITAWI se tornou a maior prática de consultoria em


prática de consultoria em Finanças Sustentáveis da finanças sustentáveis da América Latina.
América Latina. O Sistema de Administração de
Riscos Ambientais e Sociais (SARAS) é um conjunto
de políticas, processos, rotinas e ferramentas que as
instituições financeiras utilizam para identificar,
avaliar, mitigar e monitorar os riscos socioambientais
em sua carteira de crédito, investimentos e seguros. A
SITAWI possui metodologia própria para a avaliação,
desenvolvimento e implementação desses sistemas
sob medida para bancos, fundos de private equity e
debt, gestores de recursos e fundos de pensão.
(SITAWI, 2017, p. 47)

TÍTULOS VERDES. Os Títulos Verdes (green Inovação e destaque: Títulos Verdes, instrumentos de
bonds) são instrumentos de dívida como debêntures, dívida que financiam ativos verdes para mitigar
Letras Financeiras, CRA, LCA, FIDC etc. Que se efeitos das mudanças climáticas. SITAWI única
comprometem a financiar ativos verdes ou que visem organização brasileira com experiência para elaborar
a mitigação das mudanças climáticas. Os parecer de segunda opinião de títulos verdes. Desde
participantes do mercado de títulos verdes incluem, 2016, assessorou a emissão de sete títulos verdes no
além dos participantes usuais do mercado de títulos Brasil que levantaram R$ 1.6 bilhões para projetos de
de dívida, agentes de avaliação externa, que atestam, energia renovável alternativa e manejo florestal
por meio de um parecer independente, os atributos sustentável.
ambientais positivos dos projetos para os quais os
recursos captados serão destinados.
A SITAWI é a única organização brasileira com
experiência na elaboração de parecer de segunda
opinião de títulos verdes. Em 2017, a SITAWI
elaborou cinco pareceres favoráveis para emissão de
títulos verdes, totalizando R$ 444 milhões em
emissões. No total, desde 2016, assessorou a emissão
de sete títulos verdes no Brasil que levantaram R$ 1.6
bilhões para projetos de energia renovável alternativa
e manejo florestal sustentável. (SITAWI, 2017, p. 58)
Fonte: Elaboração própria/SITAWI (2017)

De acordo com os trechos ressaltados, a SITAWI diversificou seus instrumentos


significativamente ao longo dos 10 anos de atuação, aumentando a quantidade de formas de
investimento em instrumentos como garantias, crowdlending, crowdequity e sendo pioneira em
instrumentos como a elaboração de contrato de impacto social (CIS), ou a assessoria de emissão
de Títulos Verdes. Este último, tendo a SITAWI, participação em 100% das emissões nacionais,
abrindo caminho para a organização assumir o compromisso de se tornar referência neste
instrumento no Brasil nos próximos anos.
A diversificação de instrumentos, foi um dos fatores que permitiu que a SITAWI
aumentasse a quantidade de 1 para 20 em Fundos Filantrópicos de 2012 a 2017 sob sua gestão.
Além disso, passou a ser pioneira em outros tipos de fundos, como no Fundo Socioambiental

47
Rotativo no Brasil, o qual com a diversificação de instrumentos atraiu mais financiadores para
este tipo de fundo e beneficiou 27 organizações ao longo de 10 anos.
A inovação em mecanismos se tornou uma marca da SITAWI, que foi pioneira em uma
operação de Garantia de Empréstimo Socioambiental no Brasil através de recursos doados pelo
FIIMP (Fundações e Institutos de Impacto), ou com as opções de investimento via
crowdlending e crowdequity, ferramentas que permitem que pessoas físicas possam emprestar
dinheiro ou comprar participação em negócios de impacto com quantidades baixas de capital.
As iniciativas são um importante avanço para o setor e para a SITAWI, pois historicamente,
dentro do programa de finanças sociais, os investimentos de impacto só eram praticados com
capital da própria SITAWI, agora, com esses instrumentos é permitido investimento com capital
coletivo, democratizando o acesso de novos investidores com tickets menores (até R$ 10 mil),
ou de organizações com tickets variados como family offices com interesse de ingresso no setor,
por exemplo. Além disso, uma operação de crowdlending, inova na possibilidade de aplicar
recursos captados, em outros instrumentos inovadores, catalisando co-investimentos de impacto
através de um investidor líder. Em 2017, a SITAWI foi pioneira em uma operação de
crowdlending para um negócio de impacto no Brasil.
A coordenação de programas territoriais, serviços de consultoria e de pesquisa no
programa de Finanças Sociais completam a diversificação apresentada pela SITAWI, marcando
um avanço para atender demandas complexas, de organizações variadas em objetivos
socioambientais específicos. Mas, essas iniciativas permitem o acesso de vários tipos de
organizações que passam a integrar o setor a partir destes serviços, resolvendo problemas que
não conseguiam ser resolvidos por instrumentos mais simples de investimento.
A SITAWI não apenas inovou e diversificou significativamente seu portfólio para
atender as mais variadas demandas e ofertas de seus parceiros, como contribuiu com inovação
e diversificação de instrumentos para todo setor no Brasil e América Latina, se consolidando
como referência e pioneirismo em alguns casos.

3.3 Análise de resultado entre 2017 a 2019

Como é possível verificar nos gráficos abaixo, a SITAWI conta com recursos de
diferentes fontes para suas operações: empresas, pessoas físicas, fundações e agências de
desenvolvimento. Essas informações endossam a diversificação e ampliação de capital
apontada pela SITAWI nos trechos de seu relatório.

48
Figura 8: Recursos para operações e para impacto SITAWI 2017

Fonte: SITAWI (2017)

Figura 9: Recursos para operações e para impacto SITAWI 2018

Fonte: SITAWI (2018)

Além disso, a receita líquida da organização aumentou de 2015 a 2019 tanto em seu
CNPJ com fins lucrativos quanto seu CNPJ sem fins lucrativos. Isso demonstra mais uma vez
a atuação da organização em ampliar o montante de capital disponível para o setor que também
foi possível pela diversificação de seus instrumentos, permitindo que recursos chegassem de
novas fontes.

49
Figura 10: Receita líquida SITAWI 2017

Fonte: SITAWI (2017)

Figura 11: Receita líquida SITAWI 2018

Fonte: SITAWI (2018)

50
Figura 12: Receita líquida SITAWI 2019

Fonte: SITAWI (2019)

Por fim, é possível verificar o crescimento da atuação da organização no crescimento


do capital que desembolsou apenas para impacto social, ou seja, em seus investimentos,
empréstimos e aplicações, chegando a mais que o dobro de 2017 para 2018 e quase 4 vezes de
2017 a 2019.

Figura 13: Desembolso SITAWI para impacto social de 2010-2019

Fonte: SITAWI (2019)

Os trechos do relatório juntamente com a análise de seu desempenho financeiro nos


auxiliam a responder se, e de que forma a SITAWI está contribuindo para enfrentar o desafio
de ampliação de capital e diversificação de produtos financeiros apontado pela Aliança (2019).
A conclusão que se chega, é de que sim, a organização está contribuindo para o aumento do
capital no setor, conforme se compromete em seu relatório de 2017 e está também contribuindo
para a diversificação dos instrumentos do setor, incluindo além de seus tradicionais fundos
rotativos, inovações como o do Contrato de Impacto Social e o crowdlending de impacto.

51
CONCLUSÃO

O fomento do campo do empreendedorismo na economia como um todo, o crescimento


de demanda por soluções inovadoras para resolver problemas socioambientais junto à
disseminação do conceito de empreendedorismo social e de negócios de impacto social em
particular, trouxeram consigo a demanda por um novo tipo de investimento, um pouco diferente
dos que tradicionalmente se operavam no setor financeiro. É assim que surge o investimento de
impacto. No Brasil, o setor de investimento de impacto vem crescendo e contando com alguns
aliados que catalisam esse crescimento, como a Aliança para os Negócios e Investimento de
Impacto e a ENIMPACTO (Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto), que
unem diversas organizações públicas, privadas e da sociedade civil para fomentar o ecossistema
de impacto no Brasil.
Apesar do crescimento, o setor enfrenta alguns desafios, conforme apresenta a Aliança
em seu relatório de 2019, sendo os principais o aumento da oferta de capital para o setor, e a
diversificação de instrumentos e produtos financeiros para financiar os empreendedores em
diversas fases da jornada empreendedora de seus negócios.
O objetivo dessa pesquisa foi, então, contextualizar desde o papel do empreendedor
como agente econômico de transformação até o que são investimentos de impacto, verificando
como uma organização de investimento de impacto brasileira está contribuindo para o
ecossistema empreendedor com foco na agenda de crescimento do campo de negócios de
impacto. Para isso, foi utilizada uma pesquisa documental dos relatórios de impacto da
organização SITAWI dos anos de 2017, 2018 e 2019, analisou-se seu conteúdo através do
método de codificação (SALDAÑA, 2009), para identificar trechos que mencionassem o
envolvimento da organização com ampliação da oferta de capital e diversificação de
instrumentos para investimento de impacto, por fim ainda analisou-se o desempenho financeiro
da organização para fundamentar essas informações.
Os resultados apresentados neste trabalho deixam claro que, apesar do setor ser recém-
criado, o mesmo está em acelerado crescimento, gerando retorno financeiro e impacto
socioambiental positivo para as organizações que investem em impacto socioambiental, como
a SITAWI. Apesar da crise econômica que vivemos nos últimos anos no Brasil, o setor
apresenta ao Brasil, otimismo e uma opção à crise, pois está se expandindo e comprovando que
é possível resolver problemas socioambientais ao mesmo tempo em que se gera retorno
financeiro.

52
Além da crise econômica, o mundo enfrenta uma crise sanitária e ambiental exposta
pela pandemia do coronavírus COVID-19, que de uma maneira geral agrava ainda mais os
grandes problemas sociais e ambientais que criamos como sociedade ao longo de décadas de
um capitalismo sem propósito socioambiental, apenas em busca de lucro. Neste momento
oportuno, temos através da experiência e resultados do ecossistema de negócios de impacto, e
do setor de investimento de impacto, a possibilidade de construir um capitalismo mais
consciente, que ao invés de causar muitos desses problemas sociais ou ambientais agravados na
pandemia, podem amenizar ou ainda resolver muitos destes problemas.
Há indícios, como os revelados através deste trabalho em torno da SITAWI, que atores
importantes do setor financeiro não só no Brasil, mas em um contexto global, entenderam que
o momento é oportuno, e demonstram maior preocupação através de um boom de lançamento
de produtos financeiros com a sigla ESG (em português ASG), que apesar de diferente do
conceito de investimento de impacto, mostram uma crescente preocupação com os impactos
sociais e ambientais da atuação empresarial. É possível que, como consequência, a oferta de
capital disponível para investimento de impacto também se expanda e passe a ter um custo
menor nesse contexto. Grandes referências, analisam essa tendência:

Sir Ronald Cohen, referência internacional para os investimentos de impacto,


dissemina essa máxima: no século XIX o capital era direcionado para as
oportunidades que ofereciam maior retorno financeiro; no século seguinte adicionou-
se a avaliação de risco; e no século XXI, além de considerar risco e retorno, a
aplicação do capital buscará incluir análise do impacto positivo. É difícil discordar
dessa afirmação, mas o desafio é identificar produtos financeiros e opções de
investimento bem avaliados em risco, retorno e impacto. (BARKI; COMINI;
TORRES, 2019, p. 42)

Por fim, como afirma Sir Ronald Cohen, apesar de uma tendência otimista para o setor
de investimento de impacto, os desafios para o setor persistem. Mas como visto neste trabalho,
há organizações como a SITAWI no Brasil, que estão trabalhando com fiel compromisso para
que esses desafios sejam superados com produtos financeiros e instrumentos inovadores.
Organizações que estão avançando sobre os desafios que aparecem, mobilizando cada vez mais
recursos para o ecossistema de impacto socioambiental e protagonizando uma necessária
transformação não apenas no setor financeiro e importantes economias como o Brasil, mas
protagonizando uma revolução de impacto socioambiental positivo pelo mundo.

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