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SÃO PAULO
2021
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
SÃO PAULO
2021
i
TOWNSEND DOS ANJOS LOPES, Luan
Investimento de impacto no Brasil: A contribuição da SITAWI para resolver desafios do setor.
– São Paulo, 2021.
ii
Esta monografia foi examinada pelos professores abaixo relacionados e aprovada com nota
final de _________ (__________________________________________)
iii
DEDICATÓRIA
Ao meu sócio Augusto Dantas, não seria possível chegar até aqui sem sua imensurável
ajuda e apoio incondicional sempre que preciso.
v
“PRATICAMENTE TODOS OS PROBLEMAS SOCIAIS E ECONÔMICOS DO MUNDO
PODEM SER ABORDADOS POR NEGÓCIOS SOCIAIS. O DESAFIO ESTÁ EM INOVAR OS
SER HUMANO. PODE MUDAR A VIDA DOS 60% DA POPULAÇÃO MUNDIAL MENOS
MUHAMMAD YUNUS,
EM SEU DISCURSO AO RECEBER O PRÊMIO NOBEL DA PAZ EM 2006
vi
LISTA DE FIGURAS
vii
LISTA DE TABELAS
viii
LISTA DE QUADROS
ix
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 52
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 54
x
RESUMO
RESUMEN
A pesar de ser un movimiento creciente en Brasil, la inversión de impacto, una modalidad de
inversión que busca rendimientos financieros positivos e impactos sociales y/o ambientales
positivos, enfrenta algunos desafíos. Este trabajo tiene como objetivo comprender cómo se
abordan dos de estos desafíos, la ampliación de la oferta de capital para empresas con impacto
social y ambiental y la diversificación de productos e instrumentos financieros. Se trata de una
investigación cualitativa de análisis documental que analiza SITAWI - inversionista de impacto
- a través de sus informes anuales de impacto de 2017 a 2019. La investigación señala que, a
pesar de la crisis económica que vive el país, la organización ha movilizado más capital al sector
en ese período, y fue pionera en instrumentos de inversión innovadores como el crowdlending.
ABSTRACT
Despite being a growing movement in Brazil, impact investment, an investment modality that
seeks positive financial returns and positive social and/or environmental impacts, faces some
challenges. This work aims to understand how two of these challenges - the expansion of the
capital offer for businesses with a social and environmental impact and the diversification of
financial products and instruments - are being addressed. This is a qualitative research of
documentary analysis that analyzes SITAWI - impact investor - through its annual impact
reports from 2017 to 2019. The research points out that, despite the economic crisis in which
the country lives, the organization has mobilized more capital to the sector in that period, and
was a pioneer in innovative investment instruments such as crowdlending.
xi
INTRODUÇÃO
1
- Ampliar investimentos que diversifiquem horizontes de investimento (prazo para
resgate);
- Ampliar investimentos que diversifiquem valores mínimos de aplicação,
possibilitando aporte de tickets baixos (até R$ 10 mil);
- Adequar os produtos financeiros de impacto para atender demandas dos
empreendedores para fases diferentes da jornada empreendedor;
- Agregar apoios adicionais, como gestão, contatos e mentoria (smartmoney) aos
produtos financeiros.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo analisar de que forma, e se, organizações
que ofertam ou intermediam investimento de impacto no Brasil, estão endereçando alguns
desses desafios, em especial a ampliação da oferta de capital para o setor, e a diversificação de
instrumentos ou produtos financeiros para o setor. Para isso, realizou-se uma pesquisa
qualitativa de análise documental aplicada a um caso (GIL, 2002) com a SITAWI, organização
brasileira que realiza investimento de impacto há mais de 10 anos. Analisaram-se três de seus
relatórios de impacto. O conteúdo do relatório de 2017, o maior e com informações mais
completas da atuação da organização, por seu aniversário de 10 anos de operações, foi analisado
através de codificação (SALDAÑA, 2009), buscando identificar trechos que mencionassem a
ampliação da oferta de capital e a diversificação de instrumentos no setor de investimento de
impacto. Ademais, analisou-se os resultados financeiros e de investimento reportados pela
SITAWI em 2017, 2018 e 2019 a fim de verificar seu desempenho ao longo desse período e
verificar se a organização contribuiu para o avanço da agenda de investimento de impacto no
Brasil, conforme sugerido pela Aliança (2019).
O presente trabalho está assim organizado: primeiramente um estudo sobre a
importância do empreendedor para o desenvolvimento econômico, em seguida a tendência e o
fomento do empreendedorismo social no Brasil nos últimos anos, e com isso o surgimento do
ecossistema de negócios de impacto social no país. Logo, é apontada a necessidade global do
amadurecimento de um setor que financie esses tipos de organização, através do investimento
de impacto. É trazido então o conceito deste tipo de investimento, seu crescimento, os tipos de
instrumentos e os resultados do setor no Brasil. Por fim, é apresentado o resultado da pesquisa
deste trabalho, com a coleta de dados e análise das operações nos relatórios de impacto da
SITAWI, que demonstram como a organização mobilizou mais capital para o setor nesse
período, e foi pioneira em instrumentos inovadores de investimento como crowdlending.
2
CAPÍTULO I – O EMPREENDEDOR E OS NEGÓCIOS DE IMPACTO
SOCIAL
“em·pre·en·der
1. Resolver-se a praticar (algo laborioso e difícil); tentar: Resolveram empreender
aquela escalada perigosíssima.
2. Pôr em execução; fazer, realizar: Conseguiu finalmente empreender uma pesquisa
acadêmica. Empreender uma viagem.” (MELHORAMENTOS, 2021)
3
Essa visão em relação ao empreendedor ser movido apenas por lucros pode ser explicada
pela teoria econômica clássica, a qual através de autores como Adam Smith (1983) resume que
para empreender se deve obter o máximo dos recursos existentes fazendo melhor o que já está
sendo feito, alcançando-se assim o equilíbrio através da otimização. Com isso, a economia se
move pelo interesse privado dos indivíduos:
Porém, essa visão se transformou. Para além de melhorar o que já está sendo feito,
através da otimização, o empreendedorismo contemporâneo propõe que se questionem ideias
já conhecidas e se repensem soluções do zero, enfatizando a inovação (THIEL; MASTERS,
2014). Essa transformação pode ser observada a partir da revolução industrial e com suas
invenções decorrentes, onde o empreendedor ficou relacionado a aquele que converte o
conhecimento em um produto comercializável.
Jean Baptiste Say (1983) foi um dos primeiros a argumentar que a teoria econômica
deve ver a mudança como normal e saudável, e criou o termo entrepreneur para denominar
alguém que perturba e desorganiza. Considerava que o empreendedor era o principal
responsável pelo desenvolvimento e crescimento econômico. Separou o conceito de
empreendedor do conceito de provedor de capital, descrevendo o empreendedor como uma
pessoa que inova, que cria, que é um agente de mudanças, e que vai além da imaginação,
desenvolvendo e realizando seus próprios desejos. Thomas Edison, por exemplo, foi um
renomado cientista estadunidense financiado por capitalistas, que além de ser também
considerado um empreendedor por suas invenções, foi um dos que rompeu paradigmas que
revolucionaram a economia global. Exemplos como o dele estimularam esta separação
conceitual previamente argumentada por Say:
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segredo disso, consegue, durante muitos anos, talvez durante toda a sua vida e até
legando o processo a seus filhos, obter benefícios que ultrapassam a taxa comum dos
lucros de sua arte. Esse manufator executa, nesse caso particular, dois tipos de
operação industrial: a do cientista, cujas vantagens guarda só para si, e a do
empresário. Existem poucas artes, contudo, em que tais processos podem permanecer
secretos por muito tempo. De resto, isso é uma felicidade para o público, pois, quando
a concorrência dos produtores faz baixar o preço de um produto, a renda dos que o
consomem aumentou, tendo em vista o quanto pagam a menos para obtê-lo. Aplicam
esse excedente em novos consumos; a demanda dos produtos em geral torna-se maior
e a situação dos produtores melhora. Convém observar que só pretendi tratar aqui das
rendas que alguém tem como cientista. Nada impede que um cientista seja ao mesmo
tempo proprietário de um bem de raiz, capitalista ou dirigente de indústria, recebendo
outras rendas a esses títulos diversos. (SAY, 1983, p. 311)
Jean-Baptiste Say (1983), além de ser um renomado autor, foi também ele próprio um
empreendedor. Say foi citado em uma matéria da revista francesa Challenges, explicando as
contribuições dos economistas clássicos para a economia contemporânea, e escrita por Ivan
Best (2007), em seu artigo “O empreendedor no centro”. No artigo, Best argumenta:
Jean-Baptiste Say costuma ser descrito como um seguidor das ideias de Adam Smith,
mas na verdade ele vai muito além. “É o primeiro economista da oferta”, afirma Jean-
Pierre Potier, que dirigiu a coletânea universitária Jean-Baptiste Say, nouveaux
regards sur son oeuvre (Éditions Economica). Ele insiste nas condições da produção,
valorizando o papel do empreendedor. Para os clássicos do século XVIII, a sociedade
se dividia em trabalhadores, rentistas e capitalistas. Jean-Baptiste Say recusou essa
visão. A seus olhos, cada um pode desempenhar uma dessas funções num momento
ou outro. Esse enfoque será retomado posteriormente pela escola neoclássica. (BEST,
2007, p. 47)
5
desenvolvimento, Schumpeter difere o “capitalista” do entrepreneur (traduzido como
empresário):
Mas, qualquer que seja o tipo, alguém só é um empresário quando efetivamente “levar
a cabo novas combinações”, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu
negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios.
Essa é a regra, certamente, e assim é tão raro alguém permanecer sempre como
empresário através das décadas de sua vida ativa quanto é raro um homem de negócios
nunca passar por um momento em que seja empresário, mesmo que seja em menor
grau. (SCHUMPETER, 1997, p. 86)
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Novas combinações significam a superação de combinações anteriores, novas empresas
podem implicar, então, no fechamento de empresas. No entanto, nem sempre esse processo
acarreta em falências, já que novas combinações nem sempre usam fatores completamente
ociosos. Com isso, a sobrevivência de empresas depende da identificação de fatores ociosos,
menos produtivos, substituindo-os ou fazendo novas combinações dos recursos disponíveis e
se desenvolvendo, seja com um novo produto, um novo método de produção, um novo mercado
de trabalho, no país ou no exterior, na descoberta de uma nova fonte de oferta de matéria-prima
ou em uma nova forma de modelo organizacional, em todos os casos dando margem ao
surgimento de novas fontes de lucro. Ou seja, o desenvolvimento de uma economia,
independentemente de seu ritmo de crescimento, consiste no emprego diferente dos recursos
disponíveis. À medida que novas combinações surgem, há desenvolvimento (SCHUMPETER,
1997).
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O empreendedorismo é componente vital para a economia, pois para Schumpeter
(1997), é através dos empreendedores que a economia se desenvolve, gera renda que circula na
economia de forma direta ou indireta, e gera empregos, tudo através da “destruição criativa”,
citada anteriormente. Sobre a geração de novos empregos, essa é uma questão diretamente
relacionada à capacidade do país em gerar ciclos de desenvolvimento econômico. Os ciclos têm
como característica principal o incremento na produção e distribuição de bens e serviços no
país, e por consequência o aumento na oferta de trabalho. Com isso, o empreendedorismo tem
sua importância na economia, dentre outros motivos, pelo fato de que os empreendedores têm
a capacidade de gerar ciclos de desenvolvimento, como foi introduzido por Schumpeter (1997)
e, consequentemente, a gerar postos de trabalho:
No boom os salários devem subir. Porque a nova demanda, primeiro a dos empresários
e depois a de todos os que aumentam as operações com a alta da onda secundária, é,
direta ou indiretamente, de modo especial, uma demanda de trabalho. Portanto,
primeiro o emprego deve crescer e com ele a soma total dos salários do trabalho,
depois a taxa do pagamento de salários e com ela a renda do trabalhador individual.
(SCHUMPETER, 1997, p. 230)
8
Tabela 1: Média anual da taxa de desemprego x Abertura de novas empresas Brasil
Este movimento pode ser um reflexo em parte da crise econômica desencadeada pela
recessão brasileira entre 2014 e 2016 que elevou a escassez de postos de trabalho no país, outra
parte por causa do aumento da informalidade do trabalhador brasileiro, já que o IBGE considera
como uma das categorias de trabalhadores informais os empregados do setor privado sem
carteira assinada. Estes últimos citados, são em grande parte representados pela abertura de
Microempreendedores individuais (MEI’s), já que segundo o Ministério da Economia 79,3%
das empresas abertas só em 2020 foram MEI’s.
Feita essa observação, é importante também analisar que outra parcela de causa desse
movimento de aumento de desemprego e de novos empreendedores, se explica, através da
pesquisa GEM Empreendedorismo no Brasil (2019). Na pesquisa é possível identificar um
aumento de novos empreendedores brasileiros motivados pela escassez de postos de trabalho:
Os resultados do Brasil a partir dessa abordagem mostraram que em 2019, 70,8% dos
empreendedores iniciais indicaram mais do que uma motivação para a abertura do
negócio. Entre os nascentes foram cerca de 80%, 14 pontos percentuais a mais do que
entre os novos com 66%. Isso reforça o argumento que fundamenta a nova
modelagem, de que a decisão para empreender é uma resposta a múltiplos fatores aos
quais os indivíduos são expostos. Ao verificar especificamente cada uma das
motivações, observou-se que um quarto dos empreendedores iniciais estavam
envolvidos em novos negócios para dar continuidade a uma tradição familiar. A
9
ambição de construir uma grande riqueza ou obter uma renda muito alta estava
presente no espectro das motivações de cerca de 37% deles. Destacou-se o fato de que
metade desses empreendedores iniciais também apontaram que fazer diferença no
mundo, ou seja, contribuir para um mundo melhor, foi um dos motivos que os levaram
a empreender. E, por fim, 88,4% dos empreendedores iniciais afirmaram que a
escassez de emprego constituiu uma das razões para desenvolver a iniciativa
empreendedora com a qual estavam envolvidos. (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP
MONITOR, 2019, p. 56)
Tipos de motivação - - -
O empreendedorismo, por estes motivos citados acima pela pesquisa GEM (2019) e por
autores como Schumpeter (1997), Dolabela (1999) e Dornelas (2014), vem sendo fortemente
fomentado por algumas iniciativas governamentais que vêm incentivando o empreendedorismo
através de cursos, editais, coworkings, incubadoras universitárias, entre outras iniciativas, para
estimular a criação de novas soluções para o mercado e todas suas importantes consequências
positivas para a economia.
11
Vale destacar também que metade dos empreendedores iniciais apontaram querer “fazer
diferença no Mundo” (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2019), e isso é uma
tendência na criação de soluções empreendedoras, a qual está relacionada com a Agenda de
Desenvolvimento Sustentável 2030. Esse conceito, que vem evoluindo junto com a agenda de
atuação social e responsável das empresas, visa garantir que as necessidades do dia de hoje
sejam atendidas ao mesmo tempo em que se garantam recursos suficientes para as gerações
futuras. Essa agenda foi concretizada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que
reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se desdobram em diversas
metas para serem alcançadas coletivamente até 2030:
Esses objetivos estão sendo buscados por governos, grandes empresas, mas também e
principalmente por empreendedores (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2019),
buscando soluções para resolver problemas sociais através de seus empreendimentos. Esse
fenômeno é conhecido também como Empreendedorismo Social.
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O conceito de empreendedorismo já é amplamente conhecido, difundido e divulgado
globalmente, diferente do complemento nominal “social”, apesar de empreendedorismo social
já ser um conceito conhecido desde a década de 1980, quando um novo paradigma de
intervenção social surgiu através de Bill Drayton e a fundação da ASHOKA, com o propósito
de financiar inovadores sociais ao redor do mundo. Outro exemplo é a criação por Edwad Skloot
de uma consultoria com o propósito de ajudar organizações sem fins lucrativos a desenvolver
novas fontes de renda (WOLK, 2007; DEES, 2001).
O empreendedorismo social tem como princípio que o negócio vá além dos objetivos
tradicionais do empreendedorismo como inovar, criar novos hábitos de consumo e de ter lucro
através de seus negócios. O empreendedor social necessita de uma forma diferente de pensar
que tem como objetivo resolver problemas sociais, causar algum impacto social (DEES, 2001).
Ou ainda, conforme definição da Ashoka (2001), empreendedor social é “alguém que tem ideias
novas, pensa e age criativamente, tem personalidade empreendedora e coloca em tudo que
pensa e faz o ideal de produzir impacto social benéfico” (ASHOKA, 2001, p. 35).
Além disso, o empreendedorismo social é uma atividade inovadora, com um objetivo
social diversificado entre setores que vão além do setor privado, como o terceiro setor ou em
organizações híbridas (AUSTIN, STEVENSON & WEI-SKILLERN, 2006).
Essa diversificação do empreendedorismo social entre setores inclusive ajuda a explicar
o nascimento de “Negócios Sociais”. No final do século XX, com o crescimento exponencial
da globalização, houve, por consequência, o aumento de problemas públicos, sociais e
ambientais que levaram a um aumento significativo de organizações do terceiro setor,
acompanhando a demanda por resolver estes problemas globais ou locais. Segundo Salamon
(1998), este aumento de organizações do terceiro setor se deve a pressão da sociedade, das
instituições e de alguns governos que acreditavam que os gastos sociais do Estado estavam
acima do teto que deveriam estar e, assim, organizações privadas também deveriam resolver os
problemas sociais, materializando assim essa pressão, no aumento de ONG’S e cooperativas:
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Muhammad Yunus é a principal referência em termos de Negócios Sociais para essa
abordagem. Prêmio Nobel da Paz em 2006, ele foi um dos precursores na criação do termo
Negócios Sociais quando fundou em 1974 o Grameen Bank “banco da vila” em Bangladesh
(YUNUS, 2010). Yunus identificou, em um vilarejo perto da universidade em que lecionava, a
dificuldade de muitas pessoas em obter dinheiro em forma de crédito para financiar formas de
trabalho para sobreviver e ter uma condição melhor de vida. Essas pessoas normalmente
dependiam de agiotas que cobravam juros abusivos, ou tinham solicitações de crédito recusadas
pelos bancos tradicionais, que enxergavam um alto risco na atividade de emprestar dinheiro
para pessoas pobres. Yunus decidiu, então, ele mesmo ser o fiador, e começou emprestando 27
dólares a 42 dessas pessoas, principalmente mulheres, estabelecendo pagamentos semanais e
posteriormente ampliando as operações, levando agentes de crédito acessível para dentro do
vilarejo para acompanhar estes empréstimos. O resultado foi extremamente satisfatório. Um
sistema em que a taxa de inadimplência era próxima de zero, com a abordagem de empréstimos
coletivos lastreados nas relações comunitárias, juntamente com a oportunidade de geração de
renda. Consequentemente, os pagamentos eram honrados, e havia ali uma potencialização do
combate à pobreza, pois emprestar dinheiro à mulheres beneficiava diretamente as crianças da
família, sua educação, e respectivamente toda comunidade:
Quando os homens obtém dinheiro, eles tendem a gastar consigo mesmos, mas as
mulheres trazem benefícios à família inteira, particularmente às crianças. Assim, o
empréstimo feito a elas cria um efeito cascata, que acarreta benefícios sociais e
econômicos para toda a família e, no final das contas, para a comunidade inteira.
(YUNUS, 2008, p. 69)
O Grameen Bank cresceu pelos vilarejos de Bangladesh e existe até hoje, emprestando
dinheiro para população de baixa renda, para que essas pessoas se tornem empreendedoras e
para que crianças tenham um melhor acesso a educação, acelerando o desenvolvimento
econômico e social do país. É um banco financeiramente auto sustentável e até 2010
apresentava um balanço de poupança coletiva de mais de meio bilhão de dólares, servindo de
exemplo para a disseminação do conceito de Negócios Sociais ao redor do Mundo (YUNUS,
2010).
Yunus (2010) parte do princípio de que os Negócios Sociais aumentam o acesso da
população de baixa renda a mercados, gera empregos, melhora a oferta de produtos e serviços,
fomenta o empreendedorismo, e muitas vezes contribui para o maior acesso à tecnologia,
15
infraestrutura e sustentabilidade por quem antes não tinha esse acesso, e, por isso, Negócios
Sociais são negócios inclusivos.
Para Comini, Barki e Aguiar (2013), independente da abordagem do conceito, o negócio
social tem de alguma forma um impacto social na sociedade:
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Ainda Barki, Rodrigues e Comini (2020), ressaltam o crescimento desses negócios
intermediários no Brasil ao longo da década de 2000 e início da década de 2010, para explicar
também a importância de diferenciar Negócios de Impacto de Negócios de Impacto Social, já
que muitos Negócios de Impacto são intermediários em diferentes formatos, de fomento e
investimento, para Negócios de Impacto Social, que vão explicar o crescimento exponencial do
ecossistema de impacto mais a frente.
A Pipe.Social, é uma organização que se intitula uma plataforma-vitrine de negócios de
impacto social e ambiental, para conectar empreendedores com negócios de impacto que
investem e fomentam o ecossistema de impacto socioambiental no Brasil. Em 2019, a
organização elaborou o 2º mapa de negócios de impacto social e ambiental no Brasil, um
mapeamento com uma amostra quantitativa de 1.002 negócios alinhados aos 17 objetivos de
desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (ODS), o mapa tem uma medição a cada dois
anos de dados qualitativos através de entrevistas com os empreendedores mapeados, trazendo
em números atualizados, histórico, atuação, características, desafios e pedidos de ajuda, sobre
os negócios. Também são levantados dados secundários sobre o setor de impacto no Brasil,
agenda, esforços dos diferentes atores e comparação com outros países, para então o
mapeamento analisar o crescimento do setor no país (PIPE.SOCIAL, 2019).
Apesar da conjuntura econômica do Brasil, o pipeline de negócios registrados entre o 1ª
e o 2ª mapeamento da Pipe.Social, aumentou 73%, um crescimento significativo do setor,
quando comparado a outros setores econômicos. Sendo que quatro em cada 10 negócios
mapeados neste intervalo de edições têm menos de dois anos de operação, o que evidencia o
aquecimento do setor. E como público-alvo, 8% dos negócios se dedicam apenas à base da
pirâmide social, 82% além de outros públicos, também se dedicam à base da pirâmide social,
enquanto apenas 8% dos negócios não se dedicam à base da pirâmide social, evidenciando a
predominância de negócios sociais como conceito de negócios inclusivos no Brasil
(PIPE.SOCIAL, 2019; YUNUS, 2010).
Para medir o nível de maturação de um negócio, o mapeamento divide e classifica os
negócios entre fases de uma escala denominada “jornada empreendedora”, considerando a fase
de ideia do negócio como início da jornada empreendedora, e a fase de escala do negócio como
o final da jornada empreendedora (PIPE.SOCIAL, 2019).
17
Fonte: PIPE.SOCIAL 2019
Dentre inúmeros dados relevantes, o mapeamento destacou que 30% dos negócios da 1ª
edição do mapa atualizaram seus dados na 2ª edição, apontando uma percepção positiva da taxa
de sobrevivência na jornada empreendedora dos negócios. Comparando o cadastro destes
negócios entre a 1ª e a 2ª edição, 33% dos negócios avançaram de fase na jornada
empreendedora, 31% aumentaram faturamento, 26% contrataram mais profissionais
aumentando o tamanho da equipe, e 23% aumentaram o nível de medição de impacto social.
Outros 60% dos negócios mantiveram o cenário e apenas 10% dos negócios apresentaram um
contexto inferior na jornada empreendedora (PIPE.SOCIAL, 2019).
A integração com o setor público foi essencial para esse crescimento. Experiências
internacionais priorizam o governo com três papéis: O de regulador de mecanismos financeiros
de impacto, o de fomentador de temas, modelos e organizações indutoras, e o de comprador de
produtos e serviços originários de negócios de impacto. No intervalo a 1ª e a 2ª edição do
mapeamento, destacou-se a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto, uma
articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da
sociedade civil com intuito de apoiar e fomentar o setor de impacto, facilitando compras
governamentais, apoiando a regulamentação de instrumentos de investimento e apoiando
estratégias regionais de fomento ao setor (PIPE.SOCIAL, 2019).
Foram três recursos disponíveis e essenciais para o crescimento do setor: Dinheiro,
tecnologia e formação técnica (PIPE.SOCIAL, 2019). Sobre dinheiro, iremos aprofundar este
tema no próximo capítulo, pois é o principal recurso de fomento para o crescimento do
18
ecossistema. Sobre tecnologia, o uso de tecnologia nos modelos de negócios aumentam as
chances de investimento, pois indicam maior inovação e probabilidade de escalabilidade do
negócio. As tecnologias que se destacam no mapeamento são big data (27% dos negócios
mapeados), inteligência artificial (26% dos negócios mapeados), internet of things – IOT (22%
dos negócios mapeados), e energias renováveis (20% dos negócios mapeados), dentre outras
tecnologias em menor porcentagem, sendo que 25% dos negócios mapeados não utilizam
tecnologias em seu modelo de negócio. O mapeamento apontou que consequentemente
negócios com alguma tecnologia emergente na sua solução tem maior probabilidade de receber
investimento e mais formação técnica. Além disso, o desenvolvimento de inovação tecnológica,
como citado anteriormente por Schumpeter (1997), impacta profundamente no
desenvolvimento econômico do país. O uso de tecnologia também influencia na jornada
empreendedora, podendo acelerar etapas de crescimento do negócio, levando empreendedores
que não usam tecnologia a rever produtos e modelos de negócio no futuro (PIPE.SOCIAL,
2019).
19
concentrada na região sudeste do país, o mapeamento identificou que essa oferta expandiu-se
para outras regiões do país, o que aponta uma tendência de crescimento do setor para outras
regiões. Dentre algumas destas iniciativas, observa-se o empreendedorismo de impacto entre
universitários fomentando a base dessa expansão, com programas como, a iniciativa do
Movimento Choice que tem por objetivo disseminar o conceito de negócios de impacto social
nas universidades brasileiras, e a organização internacional Enactus que é dedicada em inspirar
alunos a melhorar o mundo através da ação empreendedora. Além de programas de incubação
e aceleração de impacto como o desenvolvido pela ICE, Anprotec e Sebrae que até o momento
de mapeamento já haviam levado formação sobre o tema para 56 incubadoras e aceleradoras
do Brasil todo (PIPE.SOCIAL, 2019).
O setor também vem sendo pautado na mídia tradicional, e com o crescimento do setor,
cresce também a criação de canais e conteúdos especializados sobre empreendedorismo social,
que ajudam a disseminar o conceito de Negócios de Impacto Social pelo Brasil. Esse
crescimento de exposição de conceito, exemplos de negócios e importância do setor na mídia
consequentemente aumenta o fomento de novos empreendedores para fazer o ecossistema
crescer ainda mais (PIPE.SOCIAL, 2019).
Consequência de maior exposição do setor de impacto é também a maior aproximação
de grandes empresas ao setor, o que, segundo o mapeamento, é uma tendência de crescimento
para os próximos anos junto com a verticalização do ecossistema para gerar impacto nas suas
cadeias de suprimento (PIPE.SOCIAL, 2019). Isso significa para grandes empresas uma
oportunidade de investimento em diferentes mercados que visam resultados financeiros e ao
mesmo tempo contribuição social:
21
CAPÍTULO II – O INVESTIMENTO DE IMPACTO
22
fiduciário com seus clientes, cujo dinheiro administram. Esses investidores têm que priorizar a
busca por retorno financeiro competitivo. Investimentos de impacto podem atingir objetivos
sociais e obter retornos ajustados ao risco competitivos com investimentos tradicionais (J.P.
MORGAN, 2010).
Felizmente, ao longo dos últimos anos, a definição de investimento de impacto se
consolidou no setor financeiro, como mostra a Aliança pelos investimentos e negócios de
impacto (2019):
24
Desde as primeiras reuniões da Fundação Rockefeller sobre o tema em 2007 e 2008,
quando o termo investimento de impacto ainda estava em construção, teve início uma cadeia
de significativos eventos nos anos seguintes pelo setor financeiro global, e mais importante,
houve progresso na construção do campo de investimento de impacto em vários países. Muitos
ganhos tangíveis foram alcançados, mas ainda há muito a ser feito. É importante que os atores
que lideram a construção do campo de investimento de impacto expandam suas parcerias com
outros novos atores para criarem novos produtos financeiros cada vez mais atraentes e que
atendam as mais variadas demandas de investidores e credores, para assim fortalecer a
facilidade de acesso ao investimento de impacto por negócios de impacto, e para facilitar o
impacto social onde mais importa: indivíduos, famílias e comunidades (ROCKEFELLER,
2012).
Por fim, é importante desmistificar uma comum confusão sobre investimentos de
impacto, pois muitos têm confundido o conceito de Investimento de Impacto com Investimento
ESG, mas são conceitos diferentes. O conceito de investimentos ESG (em português a sigla
ASG – ambiental, social e governança, tripé da sustentabilidade), que também são conhecidos
como investimentos socialmente responsáveis, é um conceito que tem o propósito de obter lucro
em torno do tripé da sustentabilidade, e não partem do princípio de gerar impacto positivo para
um problema social ou ambiental, apenas são investimentos que minimizam riscos e aproveitam
oportunidades. Diferente dos investimentos de impacto, que desde o princípio tem a intenção
de resolver um problema socioambiental, normalmente atrelando o investimento à medição do
impacto gerado, ao mesmo tempo em que se tem a intenção de obter retorno financeiro com o
investimento (SETTER, 2021).
25
Para a construção e a expansão de um negócio, seja ele inclusivo, social ou tradicional,
é necessário capital. Na maior parte das vezes, e principalmente quando se considera
negócios com alto potencial de crescimento, o empreendedor ou o time que lidera o
empreendimento não possui o capital suficiente para financiar a sua empresa até que
ela alcance o ponto de equilíbrio e passe a ser lucrativa, financiando sua própria
operação e expansão. Mesmo empresas relativamente mais estruturadas e que já
atingiram há muito tempo o ponto de equilíbrio, precisam de capital para financiar a
sua expansão. Torna-se necessário, portanto, considerar fontes alternativas de
financiamento para o desenvolvimento do negócio. (IZZO, 2011, p. 150)
São empréstimos que podem ser perdoados em parte ou como um todo caso o
CONDITIONAL LOAN tomador não tenha sucesso em atingir certos patamares. O perdão da dívida a
transforma, efetivamente, em doação.
CONTRATO DE
São contratos de parceria entre o Estado e a iniciativa privada para a execução de
IMPACTO SOCIAL (CIS)
determinadas tarefas que gerem impactos sociais mensuráveis. Tem como centro
/
o pagamento por resultado, ou seja, o negócio social só recebe caso tenha sucesso
SOCIAL IMPACT BOND
na geração de impacto acordada.
(SIB)
Modalidade híbrida que permite que o investidor tenha a opção de, ao invés de
receber somente o pagamento da dívida acrescida de juros, passar a deter uma
DÍVIDA CONVERSÍVEL participação no capital social da empresa, em seus resultados ou mesmo royalties.
Em geral, tal dívida assume o formato de uma nota conversível em quotas ou de
uma debênture conversível em ações. É similar ao Venture Debt, com a diferença
27
estando no perfil das empresas investidas; no Venture Debt, usualmente o
investimento é feito em startups que se encontram em rodadas intermediárias de
desenvolvimento e, neste caso, o é em empresas de porte maior, tomando recursos
em instituições financeiras ou emitindo títulos diretamente ao mercado.
Modalidade onde que uma pessoa empresta dinheiro diretamente para outra
pessoa ou empresa por meio de serviços online. Baseia-se em um modelo
PEER TO PEER coletivo, de modo que várias pessoas podem oferecer quantias que, juntas,
LENDING formam o valor do empréstimo solicitado pelo tomador. A modalidade é muito
comum entre empreendedores, já que minimiza dificuldades de acesso a crédito,
é rápido e possibilita empréstimos a juros mais baixos.
Para negócios um pouco mais maduros, já prontos a receber uma quantia maior
de recursos, existe o Seed Money. Ele costuma ser considerado o primeiro
SEED MONEY
investimento relevante na empresa, variando entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões no
Brasil.
Modalidade de crédito oferecido para empresas que não possuem ativos ou fluxo
de caixa suficientes para acessar o mercado de crédito tradicional, ou que
requerem maior flexibilidade. Nesse modelo, o investidor utiliza um instrumento
VENTURE DEBT de crédito para financiar a empresa, mas assume um risco maior (abrindo mão de
garantias, por exemplo) que é mitigado pela possibilidade de algum tipo de
participação, seja nas receitas, lucros ou equity, para capturar eventual upside do
negócio.
Fonte: Laboratório de Inovação Financeira / PIPE.SOCIAL (2019)
Para Jackson (2013), o setor de investimento de impacto criou redes, padrões e métricas
e, o mais importante, conseguiu disponibilizar um substancial volume de capital privado e
público para fins sociais e ambientais em todo o mundo. Este estágio inicial de desenvolvimento
do setor foi impulsionado por um grupo de atores que inclui fundações, indivíduos de alto
patrimônio líquido, family offices, bancos de investimento, instituições financeiras de
desenvolvimento e fundos de investimento de impacto.
Conforme o desenvolvimento do setor evoluiu nos últimos anos, novos atores passaram
a compor o mesmo. Para entender melhor o papel destes atores, a Força Tarefa de Finanças
Sociais através de uma carta de princípios para Negócios de Impacto no Brasil (2015) elaborou
uma composição básica do ecossistema de impacto, estruturando os atores entre, atores da
oferta de capital, atores da demanda de capital, e organizações intermediárias. Essas últimas
organizações são atores responsáveis por conectar capital para investimento de impacto entre
os diferentes atores do ecossistema (FTFS, 2015).
30
Figura 6: Composição básica do ecossistema de Finanças Sociais
Os atores intermediários são atores chave para a mudança do modelo mental como os
investidores e empreendedores tem gerenciado recursos. Eles podem ser divididos em quatro
subgrupos: I-) Organizações de monitoramento, avaliação e certificação; II-) Organizações de
recursos e serviços financeiros; III-) Organizações de conhecimento e informações; e IV-)
Organizações de gestão e acesso a investidores. Sendo que uma organização intermediária pode
exercer atividades relativas a mais de um grupo, como por exemplo uma aceleradora, que além
de capacitar empreendedores também facilita o acesso a investidores. Como o ecossistema de
impacto implica na transação de recursos entre atores da oferta e da demanda de capital, tendo
os intermediários com papel chave, é importante o aumento do engajamento com investimento
de impacto ou a quantidade de novos atores intermediários, para o ecossistema de impacto
crescer. O desafio é que tanto atores da oferta quanto atores da demanda de capital, ainda não
conhecem adequadamente as atividades ou não direcionam recursos aos intermediários. É
necessária a valorização dos produtos e serviços oferecidos pelos atores intermediários (FTFS,
2015).
A organização Quintessa, com apoio do Instituto em Cidadania Empresarial (ICE) e do
Instituto Sabin, elabora a cada dois anos, o GUIA 2.5 - mapeamento de iniciativas que
desenvolvem e investem em negócios de impacto no Brasil, atores de oferta de capital e atores
31
intermediários no ecossistema de impacto brasileiro, onde na terceira e mais recente edição
publicada em 2020, foram mapeadas 54 iniciativas de todas regiões do Brasil representando 43
organizações, um aumento significativo em relação as 11 iniciativas mapeadas na primeira
edição em 2015 (QUINTESSA, 2020).
Das 54 iniciativas, 65% das iniciativas estão focadas no desenvolvimento dos negócios
de impacto, enquanto 35% estão focadas em apoiar via aporte financeiro. As iniciativas do
ecossistema foram criadas entre 1997 e 2019. Porém, percebe-se que nos últimos anos os
empreendedores de negócios de impacto tiveram um expressivo aumento na oferta de soluções
focadas no seu apoio. Mais de 74% das iniciativas oferecem os apoios de: Capacitação e
Treinamento, Conexão com potenciais clientes e parceiros, Conexão com potenciais
investidores, Rede de Mentores, Rede entre Empreendedores(as) e Desenvolvimento da gestão
do negócio. Percebe-se também que, o sudeste do Brasil é a região que possui mais sedes de
organizações do ecossistema, com 30 delas. Mas houve da segunda edição do mapeamento para
a terceira e mais recente, uma diversidade geográfica na sede das organizações, com ampliação
para fora do eixo Sudeste, crescendo a quantidade de atores chave do ecossistema de impacto
para mais regiões, criando diversidade geográfica no Brasil. Os resultados são bons e geram
otimismo, com mais iniciativas apoiando negócios de impacto há cada vez mais informação e
amadurecimento do ecossistema de impacto no Brasil (QUINTESSA, 2020).
32
Assim como temos oferta de investimento de impacto com atores de oferta e através de
atores intermediários, temos também demanda por investimento de impacto, e muita demanda,
8 em cada 10 negócios estão captando investimento. Sendo que a maioria proporcionalmente
está captando tickets menores: 32% dos negócios estão captando até R$ 100 mil, outros 32%
estão captando entre R$ 101 mil e R$ 500 mil, 17% estão captando entre R$ 501 mil e R$ 1
milhão, e por fim, 19% estão captando acima de R$ 1 milhão (PIPE.SOCIAL, 2019).
Para atender essa demanda, especificamente no Brasil, segundo ANDE e LAVCA,
(2018), dos 33 investidores que já alocaram recursos para o Brasil, 29 estão ativos no país,
sendo destes 12 sediados no Brasil e 17 internacionais. Somente 10 dos investidores locais
declararam o valor em ativos sob gestão, e somam-se U$343 milhões em ativos sob gestão
alocados para investimento de impacto no Brasil. A maior parte desses recursos está alocada
via participação acionária, e os setores com maior número de operações são tecnologia da
informação/comunicação, saúde, educação, e conservação da biodiversidade. As estimativas
agregadas de captação, de apenas 8 investidores que declararam expectativa de captação,
somavam-se para 2018 e 2019 em mais U$190 milhões.
Os investidores declararam 8 saídas de investimentos entre 2016 e 2017, totalizando
U$0,6 milhões entre operações de pagamento de dívida ou venda estratégica da participação
acionária. Fato importante considerando que, não foram reportadas saídas no setor de
investimento de impacto no Brasil antes desse período (ANDE; LAVCA, 2018).
Um marco importante para o setor no Brasil foi em 2017, quando a VOX Investimentos
teve seu primeiro caso de exit de investimento com a empresa TEM, um negócio de impacto
social no setor de saúde. A VOX Investimentos vendeu sua participação de 30% na TEM para
uma seguradora internacional, e com isso obteve um retorno financeiro de 26% a.a. sobre o
capital investido no valor R$ 3 milhões de reais, além de um retorno de impacto, mensurado na
quantidade de 100.000 usuários da empresa TEM que em 2017 economizaram em média R$
406,00 em serviços de saúde (PIPE.SOCIAL, 2019).
Como citado anteriormente, o setor público teve um papel essencial no crescimento do
ecossistema de impacto. Além do mecanismo de compras governamentais, vale ressaltar o papel
como potencializador do crescimento do setor no Brasil, da Estratégia Nacional de
Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO). A articulação de órgãos e entidades da
administração pública federal, do setor privado e do setor civil começou em 2017 com o intuito
de ampliar a oferta de capital para os negócios de impacto, através da um ambiente mais
favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto no Brasil, contava até o
33
momento da 2ª edição do mapeamento da PIPE.SOCIAL com 16 órgãos governamentais e 41
organizações da sociedade civil. A articulação resultou em importantes resultados para o setor,
mas destaca-se o trabalho conjunto entre BNDES, Caixa Econômica Federal, Fundação Banco
do Brasil, e Sebrae para constituir um fundo para investir em negócios de impacto, além de
contribuírem para o avanço do projeto de lei PLS No338/2018 que regulamenta contratos de
impacto social, uma modalidade nova de contratação de negócios de impacto a partir do
cumprimento de metas de interesse social (PIPE.SOCIAL,2019).
A Enimpacto, em seu relatório anual de atividades do Comitê de Investimentos e
Negócios de Impacto de 2019, enviado ao Ministro da Economia, demonstrou todos seus
resultados e concluiu que mesmo com muito pouco tempo de existência e funcionamento, a
articulação tem fomentado o segmento de inovação econômica, que gera emprego, arrecadação
fiscal, pesquisa e novas tecnologias em inúmeras frentes. E que estes resultados apontam que
as conquistas da articulação possuem o potencial de projetar o Brasil em uma posição de
referência na promoção dos investimentos e negócios de impacto (ENIMPACTO, 2019).
Ainda sobre integração do setor público ao ecossistema de impacto e o ambiente
regulatório do setor, em 2019 foi sancionada a Lei Nº 13.880 que regulamenta a criação de
fundos patrimoniais, para arrecadar e gerir doações de pessoas físicas e jurídicas para programas
e projetos em áreas de interesse público, buscando perpetuidade das doações realizadas para a
constituição de seu patrimônio, e sendo mais um mecanismo para fortalecer o setor
(PIPE.SOCIAL, 2019).
Fundações e institutos compõem uma parcela importante de novos atores no ecossistema
de impacto, e como exemplo de maior engajamento destes atores no setor, formaram o grupo
Fundações e Institutos de Impacto (FIIMP), grupo formado por 22 fundações e institutos com
intuito de conhecer, experimentar e investir em negócios de impacto socioambiental. Até o
momento da 2ª edição do mapeamento da PIPE.SOCIAL, cada organização do grupo já havia
investido em um fundo US$ 10 mil, totalizando US$ 220 mil destinados para serem investidos
através de mecanismos como dívida conversível e empréstimo, para negócios de impacto
socioambiental selecionados via intermediários. Todo processo pretende ser documentado em
um guia a ser publicado para incentivar outras fundações e institutos a fazerem o mesmo
(PIPE.SOCIAL, 2019).
Family offices também são novos atores no ecossistema de impacto brasileiro, o
FORImpact por exemplo, uma iniciativa desenvolvida pelas organizações ICE e IMPACTIX,
é uma iniciativa com objetivo de atrair investimento de famílias de alta renda para negócios de
34
impacto social em estágio inicial da jornada empreendedora. Ao todo 12 famílias e seus
respectivos family offices investiram em 6 negócios de impacto social na primeira edição da
iniciativa e com a experiência bem-sucedida há tendência de novas edições (PIPE.SOCIAL,
2019).
Um resultado desse contexto, do setor cada vez mais integrado entre um ambiente bem
fomentado e regulado pelo setor público, com fundações, instituições e family offices, é o
surgimento do conceito de Venture Philanthropy, uma evolução da filantropia tradicional, que
passa a ser centrada em três práticas principais: financiamento customizado para negócios de
impacto social, suporte técnico e gestão, e por fim, mensuração de impacto do investimento.
No Brasil, este conceito vem sendo amplamente divulgado no Brasil pelo Laboratório de
Inovação Financeira, iniciativa entre a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), iniciativa que tem o propósito de alavancar recursos públicos e privados para que
negócios de impacto possam contribuir no cumprimento das metas brasileiras dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (PIPE.SOCIAL, 2019).
35
Essas tendências também ficam evidenciadas no próximo capítulo deste trabalho. Ao
analisar o relatório de Produtos Financeiros de Impacto Social - Oportunidades para
investidores (ALIANÇA, 2019), verifica-se que a organização SITAWI se destaca no setor de
investimento de impacto no Brasil, com pioneirismo e referência em alguns instrumentos e
produtos financeiros. Por isso, foi escolhida essa organização para verificar as hipóteses
levantadas neste trabalho de pesquisa, que busca responder alguns desafios que o campo de
investimento de impacto enfrenta levantados ainda no mesmo relatório (ALIANÇA, 2019).
Neste trabalho escolheu-se trabalhar nos relatórios da SITAWI (2017; 2018; 2019) dois desses
desafios: a ampliação dos recursos ofertados para negócios de impacto socioambiental e a
diversificação de produtos e instrumentos financeiros de impacto.
36
CAPÍTULO III – ESTUDO DO CASO SITAWI
37
segunda mão” conforme Gil (2002), mas que ainda podem ser analisados de outras formas,
conforme o objetivo desse trabalho.
Dessa forma, a análise dos conteúdos foi feita de duas formas:
38
3.1 Análise da ampliação da oferta de capital
Mobilizamos mais de R$14 milhões com um alto SITAWI está multiplicando o investimento que faz
fator de multiplicação – cada R$1 consumido em suas operações arrecadando recursos com
internamente em nossas operações permitiu alocar parceiros.
R$5,30 em impacto – através do apoio de mais de
100 pessoas físicas e empresas, a maioria conosco há
vários anos. (SITAWI, 2017, p. 8)
Essa diversificação de soluções tem um único Compromisso com ampliação do capital para o setor
propósito: mobilizar ainda mais capital para impacto
socioambiental positivo, nossa missão. (SITAWI,
2017, p. 8)
De uma proposta pioneira com um produto inicial SITAWI ampliando os recursos para o setor incluindo
ancorado em capital filantrópico, a SITAWI aconselhamento ASG
diversificou sua atuação, mobilizando tanto capital
filantrópico e concessionário, como aconselhando
capital financeiro para impacto socioambiental
positivo. (SITAWI, 2017, p. 9)
Desde 2008, a SITAWI se propõe a fomentar a SITAWI inova no modelo de negócios com dois
transformação dos valores expressados na CNPJ para maximizar seu impacto e atingir sua
mobilização de capital. Isso é o que chamamos de missão
Finanças do Bem, e toca tanto os indivíduos, como
seus agentes – bancos, seguradoras, gestores de
ativos, institutos e fundações. A fim de atingir nossa
missão, atuamos nos dois extremos do capital –
filantrópico e financeiro – e nos organizamos com
dois CNPJs, cada qual com seu foco. (SITAWI, 2017,
p. 14)
Em 2017, foi instituída a área de Coordenação de Novo produto para atender projetos de objetivo
Programas Territoriais que, além da gestão financeira socioambiental específicos
de grandes projetos, possibilita a coordenação de
diversos parceiros, financiadores e organizações
implementadoras para um objetivo socioambiental
específico. (SITAWI, 2017, p. 16)
39
Até dezembro de 2017, a SITAWI mobilizou R$14,3 Crescimento acelerado da SITAWI em sua missão de
milhões para impacto socioambiental positivo, sendo mobilizar capital para impacto
que, destes, R$5 milhões foram no ano de 2017,
refletindo um crescimento acelerado do capital
mobilizado. (SITAWI, 2017, p. 16)
Desde a criação do primeiro Fundo Filantrópico, em Ampliação de capital mobilizado e união de esforços
2012, a SITAWI já fez a gestão de mais de 20 fundos, através de fundos filantrópicos geridos pela SITAWI
possibilitando que diversas organizações unissem
esforços no co-financiamento de uma estratégia
comum. Em 2017, R$2,8 milhões foram
desembolsados através de 12 Fundos Filantrópicos.
(SITAWI, 2017: 17)
Nos próximos dez anos, esperamos nos tornar SITAWI fomentando setor, se tornando referência
referência nacional em todas as etapas de nacional no instrumento de Contrato de Impacto
estruturação, mobilização de capital e Social.
acompanhamento da operação dos Contratos de
Impacto Social, ampliando nossa atuação a todos os
modelos de contrato de impacto existentes, e
continuar fomentando o mercado e disseminando
informações sobre CIS no Brasil. (SITAWI, 2017, p.
43)
40
equipe triplicou, encerrando 2017 com 14
profissionais, a maior do Brasil e da América Latina
dedicada ao tema. (SITAWI, 2017, p. 45)
● Bancos comerciais
● Bancos de desenvolvimento
● Assets managers e seguradoras
● Empresas não financeiras
● ONGs e Associações
● Instituições Governamentais
41
finanças sustentáveis apresentou um crescimento exponencial com diversos tipos de
organizações sendo atendidas pela SITAWI.
Por fim, a estratégia da SITAWI de participar e liderar iniciativas de integração do setor
público com o setor de investimento de impacto contribui não só para o crescimento do setor
no Brasil como no atingimento de sua missão de mobilizar capital, que tornam a SITAWI uma
referência à frente de iniciativas relevantes no Brasil e na América Latina.
Além dos empréstimos, nossa atuação passou a Aumentou a quantidade de formas de investimento
incorporar investimentos, garantias, crowdlending, em instrumentos como garantias, crowdlending, CIS,
gestão de fundos socioambientais filantrópicos e e crescendo...
rotativos, contratos de impacto social, análise ASG de
empresas e ativos, consultoria em risco
socioambiental, avaliação de títulos verdes... e a lista
deve continuar crescendo. (SITAWI, 2017, p. 8)
A vedete do momento, sem dúvida, são os Títulos Destaque para o instrumento de Títulos Verdes,
Verdes (ou sociais, ou sustentáveis). A SITAWI SITAWI é referência nesse instrumento. 100% das
organizou o primeiro evento sobre o tema no Brasil emissões domésticas.
em 2014 e, atualmente, somos a maior referência em
títulos verdes no país, tendo atuado em 100% das
emissões domésticas (8) e liderando ou participando
de todas as iniciativas ou grupos de trabalho no tema.
(SITAWI, 2017, p. 10)
A atuação da SITAWI é desenvolvida a partir de dois Inovação e diversificação dos instrumentos através de
programas: Finanças Sociais e Finanças Sustentáveis. dois programas: Finanças Sociais e Finanças
(...) O programa Finanças Sociais é responsável pelo Sustentáveis. Finanças sociais historicamente só com
desenvolvimento dos Contratos de Impacto Social capital da SITAWI, agora com capital coletivo
(CIS, do inglês Social Impact Bonds) no Brasil e pela através de crowdlending e crowdequity.
gestão de Fundos Filantrópicos (FF) e Fundos
Socioambientais Rotativos (FSR), a partir dos quais
são realizadas Doações, Empréstimos, Garantias ou
Investimentos Socioambientais para organizações e
negócios de impacto com ou sem fins lucrativos.
Historicamente, estas operações eram feitas
exclusivamente com capital da SITAWI e,
recentemente, adicionamos o formato coletivo,
ancorado pela SITAWI (crowdlending, crowdequity).
Este programa está 100% hospedado no CNPJ sem
fins lucrativos da SITAWI. (SITAWI, 2017, p. 12)
42
por avançar a integração de temas socioambientais socioambiental positivo através de serviços de
nas decisões de investimento de bancos de consultoria e pesquisa no programa de Finanças
desenvolvimento, bancos comerciais, fundos de Sociais, para vários tipos de organizações se
pensão, de private equity, asset managers, integrando ao setor com estes serviços da SITAWI.
seguradoras, fundações filantrópicas, ONGs,
associações, think-tanks e grandes em presas. O
modelo de negócios é prioritariamente comercial,
com pagamentos diretos pelos clientes por serviços
de consultoria e pesquisa. (SITAWI, 2017, p. 12)
Há 10 anos, a SITAWI constituiu o primeiro Fundo SITAWI pioneira em Fundo Socioambiental Rotativo
Socioambiental Rotativo do Brasil, apoiando no Brasil. Contribuindo com inovação e
organizações sociais e empreendedores de impacto diversificação de instrumentos no setor.
por meio de Empréstimos Socioambientais.
(SITAWI, 2017, p. 15)
Em 2012, foi criado o primeiro Fundo Filantrópico, SITAWI aumentou seu número de um para 20 em
um modelo que possibilitou o co-investimento de Fundos Filantrópicos de 2012 á 2017. Mobilizando
capital filantrópico de múltiplos atores em estratégias mais capital em co-investimentos em estratégias
comuns e a incubação e apoio a iniciativas sociais comuns, diversos parceiros e causas apoiadas.
pioneiras no Brasil. Desde então, já criamos mais de
20 Fundos Filantrópicos, com diversos parceiros e
causas apoiadas. (SITAWI, 2017, p. 15)
O Fundo Filantrópico facilita a articulação dos Fundo Filantrópico facilita articulação de co-
recursos de múltiplos doadores e os desembolsa de investimento. Gestão da SITAWI aumenta eficiência
maneira rápida e eficiente, permitindo que o dos recursos.
instituidor e seus parceiros foquem seus esforços e
tempo nas atividades de gestão programática do
fundo, enquanto a SITAWI fica a cargo da gestão
financeira do mesmo, tornando mais eficiente a
alocação de recursos humanos e econômicos.
43
(SITAWI, 2017, p.17)
● GRUPO +UNIDOS
● FUNDAÇÃO BMW
● FORD FOUNDATION – FÓRUM
JUSTIÇA
● RIO+B
● INSTITUTO MAHLE
● DÁ PÉ
● NOVA DEMOCRACIA
● FORD FOUNDATION – NUVEM
● AGORA!
● INSTITUTO INTERCEMENT
● ELLEN MACARTHUR FOUNDATION
● FUNDAÇÕES E INSTITUTOS DE
IMPACTO – FIIMP
Os recursos recebidos ficam em uma conta segregada Inovação para demandas específicas e customizadas.
e podem ser desembolsados para apoiar os negócios Possibilidade de aplicar recursos captados em
de impacto através de diferentes instrumentos de instrumentos inovadores para catalisar co-
investimento, que vão desde empréstimos a compra investimentos de impacto em campanhas de
de participação acionária (equity). Os recursos ainda crowdlending como investidor líder, por exemplo.
podem ser utilizados em instrumentos inovadores
para alavancar mais capital para os negócios de
impacto selecionados, tais como a garantia de
empréstimos socioambientais ou com o fundo
assumindo um papel catalisador de co-investimentos
(seja com outras empresas, institutos e fundações ou
com pessoas físicas) através de parcerias ou como
investidor líder em campanhas de crowdlending.
(SITAWI, 2017, p. 26)
44
organização beneficiada pelo instrumento. (SITAWI,
2017, p. 30)
45
● INSTITUTO ALPHA LUMEN
● REDE ASTA
● INOCAS
CONTRATOS DE IMPACTO SOCIAL (CIS). O SITAWI está desde 2015 desenvolvendo CIS e se
Contrato de Impacto Social (CIS, do inglês Social tornando referência no Brasil. Atuando, desenhando
Impact Bonds), é um mecanismo inovador de ou implementando junto a diversos tipos de
contratação pública de soluções sociais com organizações e governos.
financiamento privado. Focado no resultado, o CIS
contrata programas baseados em evidência de
impacto social, atrelando o pagamento à medição de
indicadores de resultado:
o estado se compromete a pagar os investidores, com
uma taxa de retorno, somente se as metas
estabelecidas para uma população definida sejam
atingidas. Dessa forma, o risco financeiro de
insucesso do programa é assumido pelo investidor,
retirando do setor público o ônus por soluções
ineficazes e não onerando as organizações
operadoras. Desde 2015, a SITAWI atua no
desenvolvimento do ecossistema de CIS no Brasil,
atuando nas fases de desenho, financiamento e
implementação do CIS, assessorando governos,
investidores e/ ou operadores interessados. (SITAWI,
2017, p. 38)
Em 2017, concentramos nossos esforços em duas Exemplo de CIS com governo do Ceará, o primeiro
frentes principais: pesquisa e desenvolvimento de na área de saúde, em 2017.
novas oportunidades de contratos e solidificação da
nossa atuação, junto ao Governo do Estado do Ceará,
na estruturação do primeiro CIS na área de saúde do
Brasil. (SITAWI, 2017, p. 38)
46
duas áreas temáticas: educação e segurança.
(SITAWI, 2017, p. 41)
TÍTULOS VERDES. Os Títulos Verdes (green Inovação e destaque: Títulos Verdes, instrumentos de
bonds) são instrumentos de dívida como debêntures, dívida que financiam ativos verdes para mitigar
Letras Financeiras, CRA, LCA, FIDC etc. Que se efeitos das mudanças climáticas. SITAWI única
comprometem a financiar ativos verdes ou que visem organização brasileira com experiência para elaborar
a mitigação das mudanças climáticas. Os parecer de segunda opinião de títulos verdes. Desde
participantes do mercado de títulos verdes incluem, 2016, assessorou a emissão de sete títulos verdes no
além dos participantes usuais do mercado de títulos Brasil que levantaram R$ 1.6 bilhões para projetos de
de dívida, agentes de avaliação externa, que atestam, energia renovável alternativa e manejo florestal
por meio de um parecer independente, os atributos sustentável.
ambientais positivos dos projetos para os quais os
recursos captados serão destinados.
A SITAWI é a única organização brasileira com
experiência na elaboração de parecer de segunda
opinião de títulos verdes. Em 2017, a SITAWI
elaborou cinco pareceres favoráveis para emissão de
títulos verdes, totalizando R$ 444 milhões em
emissões. No total, desde 2016, assessorou a emissão
de sete títulos verdes no Brasil que levantaram R$ 1.6
bilhões para projetos de energia renovável alternativa
e manejo florestal sustentável. (SITAWI, 2017, p. 58)
Fonte: Elaboração própria/SITAWI (2017)
47
Rotativo no Brasil, o qual com a diversificação de instrumentos atraiu mais financiadores para
este tipo de fundo e beneficiou 27 organizações ao longo de 10 anos.
A inovação em mecanismos se tornou uma marca da SITAWI, que foi pioneira em uma
operação de Garantia de Empréstimo Socioambiental no Brasil através de recursos doados pelo
FIIMP (Fundações e Institutos de Impacto), ou com as opções de investimento via
crowdlending e crowdequity, ferramentas que permitem que pessoas físicas possam emprestar
dinheiro ou comprar participação em negócios de impacto com quantidades baixas de capital.
As iniciativas são um importante avanço para o setor e para a SITAWI, pois historicamente,
dentro do programa de finanças sociais, os investimentos de impacto só eram praticados com
capital da própria SITAWI, agora, com esses instrumentos é permitido investimento com capital
coletivo, democratizando o acesso de novos investidores com tickets menores (até R$ 10 mil),
ou de organizações com tickets variados como family offices com interesse de ingresso no setor,
por exemplo. Além disso, uma operação de crowdlending, inova na possibilidade de aplicar
recursos captados, em outros instrumentos inovadores, catalisando co-investimentos de impacto
através de um investidor líder. Em 2017, a SITAWI foi pioneira em uma operação de
crowdlending para um negócio de impacto no Brasil.
A coordenação de programas territoriais, serviços de consultoria e de pesquisa no
programa de Finanças Sociais completam a diversificação apresentada pela SITAWI, marcando
um avanço para atender demandas complexas, de organizações variadas em objetivos
socioambientais específicos. Mas, essas iniciativas permitem o acesso de vários tipos de
organizações que passam a integrar o setor a partir destes serviços, resolvendo problemas que
não conseguiam ser resolvidos por instrumentos mais simples de investimento.
A SITAWI não apenas inovou e diversificou significativamente seu portfólio para
atender as mais variadas demandas e ofertas de seus parceiros, como contribuiu com inovação
e diversificação de instrumentos para todo setor no Brasil e América Latina, se consolidando
como referência e pioneirismo em alguns casos.
Como é possível verificar nos gráficos abaixo, a SITAWI conta com recursos de
diferentes fontes para suas operações: empresas, pessoas físicas, fundações e agências de
desenvolvimento. Essas informações endossam a diversificação e ampliação de capital
apontada pela SITAWI nos trechos de seu relatório.
48
Figura 8: Recursos para operações e para impacto SITAWI 2017
Além disso, a receita líquida da organização aumentou de 2015 a 2019 tanto em seu
CNPJ com fins lucrativos quanto seu CNPJ sem fins lucrativos. Isso demonstra mais uma vez
a atuação da organização em ampliar o montante de capital disponível para o setor que também
foi possível pela diversificação de seus instrumentos, permitindo que recursos chegassem de
novas fontes.
49
Figura 10: Receita líquida SITAWI 2017
50
Figura 12: Receita líquida SITAWI 2019
51
CONCLUSÃO
52
Além da crise econômica, o mundo enfrenta uma crise sanitária e ambiental exposta
pela pandemia do coronavírus COVID-19, que de uma maneira geral agrava ainda mais os
grandes problemas sociais e ambientais que criamos como sociedade ao longo de décadas de
um capitalismo sem propósito socioambiental, apenas em busca de lucro. Neste momento
oportuno, temos através da experiência e resultados do ecossistema de negócios de impacto, e
do setor de investimento de impacto, a possibilidade de construir um capitalismo mais
consciente, que ao invés de causar muitos desses problemas sociais ou ambientais agravados na
pandemia, podem amenizar ou ainda resolver muitos destes problemas.
Há indícios, como os revelados através deste trabalho em torno da SITAWI, que atores
importantes do setor financeiro não só no Brasil, mas em um contexto global, entenderam que
o momento é oportuno, e demonstram maior preocupação através de um boom de lançamento
de produtos financeiros com a sigla ESG (em português ASG), que apesar de diferente do
conceito de investimento de impacto, mostram uma crescente preocupação com os impactos
sociais e ambientais da atuação empresarial. É possível que, como consequência, a oferta de
capital disponível para investimento de impacto também se expanda e passe a ter um custo
menor nesse contexto. Grandes referências, analisam essa tendência:
Por fim, como afirma Sir Ronald Cohen, apesar de uma tendência otimista para o setor
de investimento de impacto, os desafios para o setor persistem. Mas como visto neste trabalho,
há organizações como a SITAWI no Brasil, que estão trabalhando com fiel compromisso para
que esses desafios sejam superados com produtos financeiros e instrumentos inovadores.
Organizações que estão avançando sobre os desafios que aparecem, mobilizando cada vez mais
recursos para o ecossistema de impacto socioambiental e protagonizando uma necessária
transformação não apenas no setor financeiro e importantes economias como o Brasil, mas
protagonizando uma revolução de impacto socioambiental positivo pelo mundo.
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BIBLIOGRAFIA
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