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III SEMINÁRIO SOBRE GESTÃO ORGANIZACIONAL DO TERCEIRO SETOR


Desenvolvimento Econômico e Social

FICHA DE SUBMISSÃO DE TRABALHO

TÍTULO DO TRABALHO: RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS


CONTEXTO HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO

Para cada autor preencher os dados a seguir:

Nome completo: Mariesa Toldo


Endereço: Rua Piauí, 6
Bairro: Próspera
Cidade: Criciúma
Estado: Santa Catarina CEP: 88813-070
Identidade: 3.519.483 CIC: 021005779-30
Data de nascimento: 30/12/76 E-mail: mariesatoldo@hotmail.com

Nome completo: Maurício Custódio Serafim

Endereço: Rua Pará, 73


Bairro: Próspera
Cidade: Criciúma
Estado: Santa Catarina CEP: 88811-750
Identidade: 3171935-0 CIC: 912202119/15
Data de nascimento: 18/02/1975 E-mail: ratio@terra.com.br
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RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS


CONTEXTO HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO

Mariesa Toldo
Bacharela em Administração pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC
Mestranda em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Maurício Custódio Serafim


Mestre em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Docente do Curso de Economia na Universidade do Extremos Sul Catarinense - UNESC
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RESUMO
Este trabalho apresenta a responsabilidade social como atuação efetiva das empresas no
tocante ao desenvolvimento dos públicos em que está envolvida, com práticas que respeitem
as pessoas, a comunidade e o meio ambiente. Define conceitos para responsabilidade social e
filantropia, ambas praticadas pelas empresas. Apresenta, ainda, a evolução e a importância
das práticas sociais. O estudo de caso em uma empresa criciumense de produtos químicos
teve por objetivo investigar como e porque são implementadas ações de responsabilidade
social com seus públicos. A pesquisa de abordagem qualitativa/humanista foi realizada com
os profissionais da empresa e a utilização de um questionário para direcionar e delimitar o
assunto. Este descreveu, diagnosticou e identificou as ações sociais empreendidas pela
empresa, conclui um quadro de distinção das ações de responsabilidade social e de filantropia
realizadas e sugeriu para empresa a apresentação dessas ações.
Palavras Chave: responsabilidade social, filantropia, gestão empresarial.

SUMMARY
This work introduces the social responsability as effective acting of companies referring
to development of the public which it’s envolved, with practices that respect the people, the
community and the enviroment. It defines concepts to social responsability and philanthropy,
both excercised by the companies. Also presents the evolution and significance of social
practices. The analyse made on the company crisciumense, aimed to investigate how and why
are implated actions of social responsability with it’s public. The research with
qualitative/humanist approach was realized with the company’s professionals and the using of
a questionnaire to emphasize and to delimit the subject. This work has described, diagnosed
and identified the social actions undertaken by the company presenting distinction on the
social responsabilities actions and philanthropy realized and suggested to the company to
introduce these actions.
Key Words: responsability social, filantropy, enterprise management.

Introdução
Atualmente medir o desempenho de uma empresa vai além de produtos de qualidade e
processos de produção eficazes. Abrange o relacionamento da empresa com os demais
públicos envolvidos como os acionistas, funcionários, fornecedores, meio-ambiente, governo
e a comunidade. A empresa assume a sua parte no processo de desenvolvimento da sociedade.
Assim, a responsabilidade social torna-se um assunto fortemente relevante no mundo
empresarial. Um fato interessante são os dados do Fórum de Investimentos Sociais, uma
organização não-governamental norte-americana que apresentou o ano de 1999 com US$
2,18 trilhões de recursos no mundo administrados por fundos especializados em ações de
empresas socialmente responsáveis, sendo um considerável avanço em relação aos outros
anos. Isto aconteceu devido aos investidores analisarem que as empresas responsáveis
socialmente correm menos riscos legais e menor probabilidade de terem sua imagem
prejudicada ao longo do tempo (SAFATLE, 2000).
O estudo realizado mostra a evolução do conceito e o entendimento da responsabilidade
social nas empresas. A escolha da empresa se justifica pela sua preocupação e ações positivas
com seus públicos. Tem-se o objetivo de investigar como e por que são implementadas ações
responsáveis com seus públicos.
Para compreensão do estudo os fatores investigados durante a pesquisa são:
identificação de fatores motivadores do investimento em atividade de cunho social; análise e
diferenciação das ações filantrópicas e de responsabilidade social; como estas atividades
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proporcionam uma melhoria na qualidade de vida dos funcionários e da comunidade e


finaliza com a apresentação dos resultados à empresa para um auto-diagnóstico futuro de suas
estratégias referentes à responsabilidade social.

Abordagem histórica da responsabilidade social


A questão da responsabilidade social se tornou evidente em 1919, pelo julgamento na
justiça americana do caso de Henry Ford, presidente e acionista majoritário, e seu grupo de
acionistas liderado por John e Horace Dodge que contrariavam a idéia de Ford. Este, em
1916, argumenta que a empresa deve se prestar à realização de objetivos sociais e decide não
distribuir parte dos dividendos esperados aos acionistas para investir na capacidade de
produção, aumento de salários e como fundo de reserva para a prevista redução de receitas
devido à diminuição nos preços dos carros. Mas a suprema corte de Michigan deu a causa a
favor dos Dodges, entendendo que as corporações existem para o benefício de seus acionistas
e que os diretores precisam garantir o lucro e não podem usá-lo para outros fins. Assim,
entendeu-se que responsabilidade corporativa e investimento na imagem da empresa para
atrair consumidores, só poderiam ser realizados na medida que favorecessem os lucros dos
acionistas (ASHLEY, 2000).
No período da Segunda Guerra Mundial, a idéia de que a empresa deveria apenas
responder aos seus acionistas começou a receber críticas. Devido os acionistas serem passivos
proprietários que abdicavam o controle aos diretores, esses sim, poderiam assumir
responsabilidades com os seus públicos. Sendo que os Estados Unidos viviam um período de
crescimento econômico, expansão de corporações e surgia seu poder sobre a sociedade,
diversas decisões nas cortes americanas foram favoráveis às ações filantrópicas (ASHLEY,
2000).
Outro fato que trouxe a público a discussão sobre a inserção da empresa na sociedade e
suas responsabilidades foi, em 1953, o caso A.P. Smith Manufacturing Company versus seus
acionistas, que contrariavam a doação de recursos financeiros à Universidade de Princeton.
Neste período, a justiça estabelece a lei da filantropia corporativa onde determina que uma
corporação pode promover o desenvolvimento social (ASHLEY, 2000).
Apresenta, cronologicamente Pagliano et al (1999) a seguinte evolução em torno do
entendimento de responsabilidade social corporativa. Na década de 1950, nos Estados
Unidos, e ao final da década de 1960, na Europa, o meio empresarial e acadêmico discute a
importância da responsabilidade social das empresas pelas ações de seus dirigentes. Mas
nessa evolução se viveu o momento onde estudiosos acreditavam que cabia ao governo,
igrejas, sindicatos e organizações não-governamentais o suprimento das necessidade
comunitárias por meio de ações sociais organizadas e não às corporações, que na verdade
precisavam satisfazer seus acionistas.
Nos anos de 1960, são os autores europeus que se destacam e apresentam as possíveis
soluções para os problemas sociais. E nos Estados Unidos as empresas se preocupam com a
questão ambiental e a divulgação de suas atividades no campo social.
A década de 1970 chega com a preocupação de como e quando a empresa deve ir além
de suas obrigações sociais e vivenciar suas responsabilidades na gestão empresarial. A
demonstração na sociedade das ações sociais da empresa se torna extremamente importante.
Com uma maior participação de autores e críticos na questão da responsabilidade social,
a década de 1990 apresenta a discussão sobre as questões éticas e morais nas empresas que
contribui de modo significativo para a definição do papel das organizações e o entendimento
do que vem a ser responsabilidade social.

A responsabilidade social no Brasil


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Pode-se considerar o início da responsabilidade social no Brasil a criação, em 1960, da


Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), que reconhecia a empresa como
possuidora de uma função social implícita. Em 1982, a Câmara Americana do Comércio de
São Paulo lança e promove até hoje, o prêmio ECO de cidadania empresarial. Em 1984, a
Nitrofértil é a primeira empresa brasileira a publicar seu balanço social1.
Em 1993, o lançamento da Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a
Miséria e pela Vida pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e com o apoio do
Pensamento Nacional das Bases Empresarias – PNBE, marca a aproximação dos empresários
com as ações sociais. Em 1997, Betinho lança um modelo de balanço social e em parceria
com o jornal Gazeta Mercantil cria o selo do Balanço Social para estimular as empresas
brasileiras a divulgarem seus resultados na participação social.
Em 1998 é criado o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social por Oded
Grajew, empresário da Grow brinquedos. O Instituto serve como ponte entre os empresários e
as causas sociais. Seu objetivo é disseminar a prática social por meio de publicações,
experiências vivenciadas, programas e eventos para os interessados.
Em 1999, a adesão ao movimento social ganha força: 68 empresas publicam seu
balanço social no Brasil. A câmara municipal de São Paulo premia com o selo de empresa
cidadã as empresas que praticam a responsabilidade social e divulgam o balanço social. E a
Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) inclui em sua premiação
o prêmio Top Social. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança se destaca na campanha
pela erradicação do trabalho infantil, a empresa que combate o abuso às crianças ganha o selo
Empresa Amiga da Criança.
Enfim, a preocupação empresarial por ações sociais e ambientais se torna um aspecto
bastante expressivo e mostra o empenho das empresas em contribuir para uma sociedade
melhor com qualidade de vida para todos.

Entendendo a responsabilidade social


Para melhor entender o que é responsabilidade social apresenta-se as definições
encontradas em Abbagnano (1998) de “responsabilidade” e de “social”.
Responsabilidade é a possibilidade de prever os efeitos do próprio comportamento e de
corrigi-lo com base em tal previsão. Diferentemente de imputabilidade, que é atribuir uma
ação a um agente e este ser o causador da ação. Assim, responsabilidade vai além de alguém
ser o causador, o agente de determinada ação. Responsabilidade está relacionada com as
ações conscientes e suas conseqüências previsíveis.
Em relação ao social tem-se a definição de sociedade. Esse a define como campo de
relações intersubjetivas, ou seja, das relações humanas de comunicação que engloba a
totalidade dos indivíduos entre os quais ocorrem essas relações. Grupo de indivíduos entre os
quais essas relações ocorrem em alguma forma condicionada ou determinada. Sociedade é
onde estamos inseridos, agindo e participando das práticas comuns que buscam o atendimento
a todos. Cria-se a dependência de uns com outros para a decisão do conjunto, mas o interesse
comum prevalece e o objetivo é o bem-estar de todos.
Dessa forma, social é entendida em contraposição ao interesse individual. A sociedade
não é um indivíduo ou a soma de vários indivíduos. É a composição de um grupo, da
organização de suas características comuns que se manifestam por meio de suas crenças,
valores, tradições, experiências que juntas definem a sociedade.
É proposto no contexto empresarial que ser socialmente responsável é a atitude da
empresa que prevê suas próprias ações e as realiza da melhor forma possível, que antecipa as
conseqüências e o alcance de tais ações, para o benefício da sociedade onde está inserida.
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Demonstrativo divulgado pelas empresas para a sociedade ter conhecimento de quanto e como a empresa está investindo
na área social.
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A responsabilidade social como resgate da função social da empresa


A questão social versus questão econômica é debatida segundo alguns fatores: o
mercado não cumpriu a promessa de ser a solução para os problemas sociais. Ao contrário,
vemos o crescimento cada vez maior na desigualdade da distribuição da renda, o alto número
de desempregados e o trabalho informal em ascensão. E também problemas ecológicos pela
exploração desenfreada dos recursos naturais na busca de maximizar o lucro.
Mas nem sempre foi assim. Lux (1993) apresenta a mudança que sofreu o papel da
empresa no decorrer da história. No século XIII, o filósofo e teólogo Tomás de Aquino
acreditava que a relação entre trabalhar e ganhar dinheiro era somente para atender as
necessidades de vivência do indivíduo. Fora isso, seria para ajudar no crescimento da
comunidade. Em uma frase, a atividade empresarial tinha como finalidade a função social.
Já na economia moderna, desde Adam Smith, a atividade empresarial é entendida como
o refúgio do interesse próprio, sendo apenas necessário que cada indivíduo aja egoisticamente
para que o bem-estar coletivo seja atingido. O objetivo é a acumulação de riquezas para seus
acionistas e investidores. Mas se sabe que na economia capitalista, a acumulação de riquezas
se restringe a um número reduzido de pessoas e gera graves problemas de distribuição de
renda, tendo a pobreza e os problemas sociais como conseqüência.
Lisboa (2000) apresenta a responsabilidade social como o “reencontro do capital com
sua alma perdida”, alma esta que são as atividades sociais, deixadas de lado quando o lucro
passou a ser o objetivo final de qualquer atividade empresarial. É importante ver que o lucro é
o meio da caminhada, sendo o fim a atuação e a vivência social.
Assim, as ações de socialmente responsáveis das organizações vêm tentar superar a
distância entre o social e o econômico, com a proposta de resgatar a função social das
empresas.

Quando surge a necessidade de ser socialmente responsável


O estudo em torno da responsabilidade social surge quando a empresa percebe que
lucrar às custas da saúde dos funcionários, da degradação do meio ambiente e
desconsiderando a existência da sociedade gera prejuízo incalculável (TORRES, 1999). Mas,
por quê?
Quando as organizações não se comprometem com seus funcionários, na busca de
resolver os problemas internos e externos, mantém-se uma distância, onde cada um faz sua
parte que não interage entre si e não agrega valor para ninguém. Não se preocupa com a
família do funcionário, com sua alimentação, com os baixos salários pagos e as longas
jornadas de trabalho, acontece o contrário do esperado: baixa produtividade e dedicação e alta
rotatividade. Compromete-se a qualidade dos produtos e serviços, além do desperdício de
matérias-primas e horas de treinamento.
O meio ambiente, esquecido ou negligenciado, é outro fator que reflete na baixa
qualidade de vida das pessoas. Gera um ônus com a sociedade, não só com gastos em multas
e fiscalização (o que em curto prazo é bastante considerável), mas também com o consumo.
Uma sociedade cada vez mais exigente boicota produtos e serviços que prejudicam e
destroem o meio-ambiente.
E quando a sociedade é desconsiderada, ou parte dela, como os portadores de
necessidades especiais, negros, velhos, mulheres, a questão se complica mais e dificilmente se
aceita tais atitudes. O mundo globalizado não consegue mais ocultar tais situações. A
transparência de ações com e pela comunidade são exigidas a cada dia.
O empresário Grajew afirma que responsabilidade social é basicamente “pensar nas
pessoas e no meio ambiente antes de agir – ou agir sempre considerando se aquilo que se
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pretende fazer vai ou não impactar as pessoas e o meio ambiente de maneira construtiva”
(BERNARDI, 1999).
A nova concepção é de que a empresa tem responsabilidades que vão além da geração
de riquezas para seus acionistas, investidores e dirigentes. Sua contribuição ao bem público
não é apenas gerar empregos e pagar impostos. Ela precisa se comprometer com a sociedade,
com ações duradouras que levem em conta o ser humano, a sociedade e o meio ambiente
onde está inserida.
A base do conceito de responsabilidade social corporativa (RSC) foi lançado em 1998,
na Holanda pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
(WBCSD), formado por 120 grandes companhias que juntas somam U$S 3 trilhões de
faturamento que afirma ser “o comprometimento permanente dos empresários de adotar um
comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando
simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade
local e da sociedade como um todo” (ALMEIDA, 1999).
Assim, a responsabilidade social é o tripé do desenvolvimento sustentável que engloba
as dimensões econômica, ambiental e social, assumindo uma lógica que leva em conta o
entrelaçamento relacional de todos os envolvidos e/ou afetados pelas ações empresariais.

Diferença entre a responsabilidade social e a filantropia


O papel da empresa transcende a filantropia, mas devido à confusão que gera essas duas
categorias, se pretende distinguir filantropia e responsabilidade social. De acordo com
Abbagnano (1998), filantropia significa amizade do homem para com outro homem. Platão
teria dividido em três aspectos: saudação, ajuda e hospitalidade. Na linguagem moderna,
filantropia se restringe à segunda definição: ajuda.
Dito isso, na esfera empresarial se possui o seguinte entendimento: filantropia é quando
a empresa distribui uma parte de seu lucro excedente a ocasionais pedintes. Acontece de
maneira eventual. É uma ajuda.
Já a responsabilidade social define estratégias para orientar as ações das empresas em
consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta além do lucro e a
satisfação de seus clientes, o bem-estar da sociedade. A empresa está nela inserida, e seus
negócios dependerão de seu desenvolvimento e, portanto, esse envolvimento deverá ser
duradouro. É um comprometimento.
A boa intenção que a empresa tem em ajudar não condiz com sua real finalidade, as
empresas existem e se mantêm devido aos relacionamentos com seus públicos e assim gera
responsabilidades. A filantropia está associada à caridade eventual já a responsabilidade
social aos objetivos permanentes e às decisões cotidianas de uma organização em sua
estratégia de cumprir seu verdadeiro papel social.

O Estudo de Caso
Metodologia do Estudo
A presente pesquisa teve por pressupostos a abordagem humanista/qualitativa. A
abordagem humanista tem sido uma importante corrente nas ciências sociais e faz um
contraponto à corrente positivista, ao rejeitar a noção de que o método científico adotado nas
ciências naturais possa ser aplicado ao estudo da vida social humana. Hughes (1983) enfatiza
ainda que a vida humana é, em sua essência, diferente, o que requer uma metodologia diversa
daquela proposta pela concepção positivista. Taylor e Bogdan (1984) mencionam que tentar
reduzir as palavras e atos das pessoas a equações estatísticas implica em abdicar do lado
humano da vida social.
Godoy (1995a) menciona que na pesquisa qualitativa o pesquisador parte de focos de
interesse amplos, que vão sendo definidos à medida que o estudo avança. "Envolve a
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obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato
direto do pesquisador com a situação estudada, procurando entender o fenômeno segundo a
perspectiva dos sujeitos [...]."
Como estratégia de pesquisa, o estudo de caso foi a opção. O estudo de caso se
concentra num fenômeno singular ou entidade e então o pesquisador busca descobrir a
interação de fatores significativos característicos do fenômeno. O estudo de caso focaliza uma
descrição e explicação holística e aprofundada. Como Yin (1984) observa, o estudo de caso é
uma forma particularmente apropriada para situações nas quais é impossível separar as
variáveis do fenômeno do seu contexto. Em outras palavras, se usou o método de estudo de
caso porque se quis deliberadamente cobrir condições contextuais – pois se acredita que elas
podem ser altamente pertinentes para o fenômeno de estudo. Para este mesmo autor, o estudo
de caso é a estratégia preferida quando questões tipo como e por que são colocadas, tendo o
pesquisador pouco controle sobre os eventos.
Em relação à coleta dos dados, segundo Merriam (1998), na pesquisa qualitativa se
adota, principalmente, as técnicas de entrevista e observação. O questionário é frio e
impessoal, pois o pesquisado o responde fora da situação estudada, bem como não permite
extrair a dinâmica do fenômeno estudado. Contudo, não se descarta tal possibilidade, quando
se requer um primeiro levantamento sobre o tema abordado.
No presente estudo, se adotou como principal técnica de coleta de dados primários a
entrevista semi-estruturada que, analisando na forma de um continuum é eqüidistante entre as
formas altamente estruturada e não estruturada. As perguntas são mais flexíveis, ou a
entrevista mistura perguntas mais e menos estruturadas. Mas na maior parte, a entrevista é
guiada por uma lista de perguntas ou assuntos a serem explorados.
Assim, a entrevista semi-estruturada teve como auxílio o questionário realizado pelo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, lançada a sua primeira versão em
junho de 2000. O questionário teve por objetivo organizar os dados acerca da
responsabilidade social. Com este formato, o investigador pôde atuar de modo que deixou
emergir a visão de mundo do entrevistado.
As entrevistas foram gravadas para assegurar que tudo o que foi dito fosse preservado
para análise. Outra técnica considerada foi a observação, adotada durante as visitas à
organização, principalmente durante as entrevistas, para registrar emoções, expressões faciais
e corporais que complementem os dados gravados. Também foi utilizada a análise
documental para a coleta de dados secundários. Para o presente estudo, se procurou obter
documentos, tais como artigos de jornais, memorandos, fotos, folders e relatórios.
Em relação à análise dos dados obtidos nas entrevistas, na observação e nos documentos
escritos, essa foi derivada dos processos de análise de dados qualitativos (STRAUSS,
CORBIN, 1990). A ênfase no processo de análise se faz com base no que os entrevistados
disseram que aconteceu e nas questões enfrentadas por eles e pela organização. A análise de
dados neste trabalho considera a simultaneidade da análise e da coleta dos dados, o que
demonstra o caráter flexível do método qualitativo.
Com respeito à delimitação do estudo, Merriam (1998) enfatiza que na pesquisa
qualitativa é indicado o uso de amostra não probabilística, da qual se destaca a amostra
intencional, que consiste em identificar e selecionar uma amostra onde seja possível obter as
informações necessárias para o estudo. A lógica e o poder da amostra intencional reside na
seleção da informação rica de casos para o estudo em profundidade.
A intermediação entre o pesquisador e a empresa pesquisada foi realizada pela
funcionária responsável pela orientação de profissionais. Os participantes da pesquisa foram
selecionados em função dos conhecimentos e das informações de que disponham em torno do
tema proposto. A identidade dos entrevistados foi protegida, não sendo registrada no relatório
da presente pesquisa. Tal medida é uma prática amplamente adotada em estudos qualitativos.
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Análise e Interpretação dos dados


Este tópico tem por finalidade realizar, de modo sintético, a análise e a interpretação
dos dados coletados em campo. Em primeiro momento, um panorama que abrange de modo
geral a empresa será o escopo. Em seguida se realiza o estudo com a coordenadora de
profissionais para o conhecimento da empresa e sua gestão acerca de ações que envolvam a
filantropia e a responsabilidade social. A seguir se mostra os itens observados que foram
categorizados de acordo com a proposta do questionário do Instituto Ethos, seguindo os temas
abordados pelo questionário, dando às perguntas sugeridas um caráter de auxiliadoras às
entrevistas realizadas, sendo essas entrevistas caracterizadas como semi-estruturadas. É mister
salientar que além desses métodos, a observação participante propiciada na empresa teve um
papel crucial para que a análise e a interpretação dos dados ganhassem veracidade e evitar
conclusões não condizentes com a realidade.
Por fim, tendo a parte teórica como balizadora, é feita a interpretação dos dados que
resulta em um quadro distintivo entre as ações empresariais que correspondam à filantropia e
as ações correspondentes à responsabilidade social.

Contextualizando a empresa pesquisada


A empresa pesquisada iniciou suas atividades em abril de 1986, em um pequeno galpão
alugado com uma produção de 1.680kg de massa plástica por mês. No ano seguinte, a
empresa atinge a produção de 1.200 caixas de massa plástica por mês, passando a funcionar
em uma área construída de 144 m².
Em 1993, a empresa se torna líder no mercado brasileiro e sul-americano na produção
de massa plástica2, com 250 toneladas/mês. A partir daí, a empresa aumenta sua linha
automotiva, lança a massa anti-ruído e de emborrachamento, posteriormente incrementa sua
carteira de produtos com thinners e solventes.
Com o aumento da demanda e o gradativo aumento da linha de produtos e da produção,
a empresa amplia suas instalações, investe em modernos equipamentos e aposta em uma
administração de parceria com clientes, fornecedores e seus profissionais. Atualmente, a
empresa é uma das maiores empresas do setor de solventes e revestimentos químicos do país.
O parque fabril da empresa está localizado no distrito de Rio Maina, no município de
Criciúma, Santa Catarina. Possui quatro filiais no Brasil e a estrutura de distribuição se
completa com vários depósitos estrategicamente localizados e com uma equipe de mais de 60
empresas representantes, estende sua rede comercial em todo país.

A gestão da empresa pesquisada


O diretor-presidente da empresa estudou teologia voltada para leigos, tendo por
referência em suas tomadas de decisão os princípios cristãos. Por acreditar que ninguém
cresce sozinho, procura uma equipe competente para administração de cada setor da empresa.
Esta equipe se divide nas seguintes áreas: administrativa, logística, comercial, finanças,
industrial e marketing. Caracterizada como uma gestão participativa, todos os coordenadores
participam das tomadas de decisões, essas informações repassadas aos demais funcionários
propiciam uma maior sincronização dos objetivos da empresa.
A empresa possui atualmente 130 profissionais na sede. Sua filosofia alinhada à missão
indica que há uma certa preocupação, por parte da organização, com o crescimento mútuo, o
bem-estar coletivo e futuro. O que talvez diferencie a administração da empresa é o acreditar,
por parte do diretor-presidente, na gestão de pessoas. Como exemplo tem- se que ao contratar
um profissional, contrata-se também sua família, com essa preocupação e atenção, é criado

2
De acordo com dados internos da empresa.
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um relacionamento empresa-funcionário, que tem por conseqüência um aumento da


percepção, de acordo com alguns funcionários, de sua valorização e segurança, e trabalha,
dessa forma, com um grau de motivação bastante considerável.
Para garantir esse ambiente de reciprocidade, foi criado há três anos pelo diretor-
presidente o cargo de coordenadora de profissionais, que tem por responsabilidade ser o elo
entre família e empresa, tendo por objetivo orientar o ser humano como um todo. Pois, no
entender da empresa, além de profissional, o homem é um ser social que possui sentimentos e
expectativas acerca da vida. A intenção não é ser paternalista, mas sim fazer com que a
empresa mostre e propicie caminhos para que seus funcionários resolvam seus próprios
problemas.

Categorias pesquisadas3
A seguir serão trabalhadas sete categorias que terão por finalidade proporcionar uma
estrutura analítica para que possamos identificar, com clareza, as ações filantrópicas das ações
denominadas de responsabilidade social.

Valores e transparência
Os princípios da empresa são organizados e divulgados em todos os níveis da empresa.
Em pauta tem se a preocupação com o ser humano, o ambiente e a satisfação dos clientes. A
política de contratação em relação aos novos empregados engloba sua família. A contratação
para cargos operacionais tem por preferência pessoas da comunidade do Rio Maina, que
sejam desempregados e/ou pais de família.
De acordo com os entrevistados, há uma procura constante em se orientar pela filosofia
da empresa, tanto nas situações diárias quanto com seus públicos internos e externos.
Acrescentaram que boa parte dos funcionários conhece a empresa como um todo e o que por
ela está sendo realizado.
O ambiente de religiosidade é também percebido, sendo os princípios cristãos
materializados, por exemplo, nas preces em grupo realizadas quando há enfermos entre os
funcionários ou entre seus parentes.
Os canais de comunicação são eficientes e acessíveis à discussão, pois os funcionários
são envolvidos a participarem com os negócios da empresa, sejam com os clientes finais,
intermediários ou representantes.
A empresa paga os impostos em dia, cumprindo seu papel com o Estado e com a
comunidade. Nessa atitude está a convicção de que tais benefícios retornarão para a
comunidade. Em relação aos seus funcionários, todos são contratados com carteira assinada
(CTPS).
De acordo com a avaliação dos entrevistados – existem concorrentes que utilizam
métodos ilícitos para obterem vantagens competitivas, como a sonegação de impostos e
contratações irregulares de funcionários.
A empresa recebe centenas de cartas semanalmente com os mais variados pedidos de
auxílio, muitos são ajudados após a verificação da real situação e necessidade. Não existe
uma cota para estas doações, os pedidos são analisados e doados o que há de menor saída, no
caso das tintas. As doações aparecem como despesa no demonstrativo de resultado do
exercício.

Público interno
A empresa mantém uma boa relação com o sindicato devido aos seguintes elementos: a
direção permite a atuação do sindicato no local de trabalho; fornecem informações sobre as

3
Pesquisa realizada no período de agosto a novembro de 2000.
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atividades trabalhistas e quando necessário, se reúnem com seus dirigentes para discussões e
negociações.
A gestão da empresa é totalmente participativa, existindo o GMP – Grupo de Melhoria
de Processos, onde os funcionários se reúnem em grupo, formado por todos os níveis da
empresa, que mensalmente se encontram para propor, planejar e apresentar projetos ao
dirigente e encontra, dessa forma, soluções para diversos procedimentos da empresa. O
melhor trabalho apresentado é implantado. Ao final do ano, os funcionários recebem prêmios
consideráveis e o reconhecimento público pela empresa das propostas implantadas por esses
grupos.
De acordo com a pesquisa realizada pela empresa, foi constatado que os salários dos
funcionários da fábrica são o melhor da região, relacionado à área de indústrias químicas.
Além disso, recebem participação nos resultados, estando este valor vinculado a obtenção dos
objetivos propostos.
Em sua política de contratação, a empresa jamais empregou trabalho infantil e
desconhecem qualquer fornecedor que empregue mão-de-obra infantil, mas tem claro que se
tiverem conhecimento desse tipo de exploração imediatamente cancelarão o fornecimento.
Em relação a diversidade cultural e política, a empresa valoriza a todos, sem qualquer
discriminação. Por exemplo, as filiais da empresa no país são administradas por mulheres,
devido ao fato do presidente acreditar que elas são mais responsáveis.
Existe um funcionário que a empresa paga seu tratamento psiquiátrico há dois anos e
recebe seu salário integral. A empresa continua o tratamento mesmo sabendo que o
funcionário não retornará ao trabalho. Outro funcionário tem epilepsia e se ausenta
freqüentemente do trabalho, mas é incentivado ao trabalho e bem cuidado por todos.
Seu dirigente vê o trabalho na empresa e o apoio da coordenadora de profissionais
como um caminho de recuperação de viciados em drogas ilícitas e álcool. Assim, encontram-
se profissionais em recuperação em seu quadro de funcionários.
Quanto às demissões, a empresa nunca as realizou. Os que saíram, e são poucos, foi por
motivos particulares. Quando o funcionário não se adapta a função é remanejado para o setor
mais condizente com suas características pessoais. Tal procedimento envolve a coordenadora
de profissionais, recursos humanos e coordenadores.
O desenvolvimento de recursos humanos realiza o treinamento interno, tendo cada
funcionário no mínimo 24 horas/treinamento por ano. Os funcionários recebem bolsa de
estudos para o ensino superior e cursos de aperfeiçoamento e especialização. Dos 130
funcionários, 17 voltaram a estudar para concluir o ensino médio e cumprir a meta da
empresa, que estipulou o ano de 2002 para que todos os funcionários tenham o ensino médio.
Quando abre vagas em determinados setores, acontece um concurso interno, e somente
quando tais vagas não são preenchidas, abre-se para o público externo.
A coordenadora de profissionais desenvolve um trabalho de ligação e apoio entre o
funcionário, família e empresa. Sua função tem como objetivo manter o funcionário tranqüilo
para a realização de seu trabalho e engloba atividades que visam ajudar os familiares das mais
diversas formas. As atividades desempenhadas pela coordenadora são várias: auxílio do
orçamento familiar através de uma planilha entregue junto ao contra cheque dos funcionários,
que consta os ganhos e os gastos para serem preenchidos e analisados com a família; orações
aos funcionários que pedem quando estão passando por alguma dificuldade; orientação para
participação da família nas reuniões da Pastoral da Saúde; recebe sugestões para melhoria do
ambiente de trabalho, que depois de analisadas são encaminhadas aos setores competentes,
entre outros.
No período da pesquisa aconteceu o segundo encontro das mães, esposas e filhos dos
funcionários na empresa. Este encontro anual, organizado pela coordenadora de profissionais,
tem por objetivo que as mulheres conheçam e acompanhem por um dia o trabalho de seus
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filhos e esposos. Iniciada com uma conversa com o diretor-presidente que apresentou as
metas da empresa é também solicitado o apoio das mães, esposas e filhos para que os
funcionários possam acompanhar e crescer junto com a empresa. Após esse evento, e com
total segurança, visitaram a fábrica e o escritório. É considerado como um dia importante,
faltando apenas àquelas que também trabalham fora de casa. Para finalizar o encontro
aconteceu um café colonial e distribuição de prêmios.
Outra ação surgida como conseqüência da coordenadoria de profissionais. Um fundo de
reserva, onde todo mês é depositada uma taxa por todos os funcionários que poderão usar
desse dinheiro. Funciona como uma espécie de banco, com juros mais baixos, sendo usado
principalmente para emergências de saúde ou outras ajudas eventuais, como arrumar o carro e
terminar a construção da casa.
O fundo é sugestão dos próprios funcionários, possui um estatuto próprio e prazo de
carência para utilizá-lo. É um orgulho, satisfação e garantia para todos que participam.
Apesar de não poder ser incluído como uma ação de responsabilidade social promovida pela
empresa, é interessante notar que a boa qualidade do ambiente de trabalho proporciona tal
ação.
Existe também um projeto para construção de uma cooperativa habitacional para que
todos os funcionários tenham sua casa própria. Hoje, a empresa ajuda no financiamento da
casa própria, mas de maneira indireta e eventual e a intenção é regularizar para todos. A
empresa também começa a estudar um programa de complementação previdenciária.
Para garantir a segurança dos profissionais são disponibilizadas para o pessoal interno e
externo orientações de uso e armazenamento dos produtos por serem tóxicos e inflamáveis.
Possuem treinamento para qualquer tipo de eventuais acidentes de trabalho.

Meio ambiente
Apesar de trabalhar com produtos químicos, a empresa não polui, ou melhor, polui o
permitido em lei, o que não causa danos ao meio ambiente. É certificada pela ISO 9002 e
trabalha para normatização da ISO 14000 (meio-ambiente).
Nas normas de segurança e saúde, a água utilizada na limpeza de tanques é reutilizada
para a produção. Localizada em ambiente rural, a empresa cumpre todos os requisitos
exigidos pelo uso de recursos e impactos sobre o meio ambiente.
No escritório, fazem a separação dos materiais para reciclagem. Na fábrica as sacas, que
possuem as latas vazias, são abertas com cuidado para serem devolvidas à empresa para
reutilizarem-nas, sugestão de um funcionário que foi imediatamente colocada em prática.

Fornecedores
Em sua maioria, os fornecedores da empresa são empresas do governo federal. As
matérias-primas são os gases inflamáveis que distribuídos em tanques são posteriormente
misturados para a produção das tintas, solventes e thinners.
Já as embalagens (latas) são oriundas de uma empresa de Curitiba. A qualidade da
convivência entre todos os fornecedores é muito boa, sendo constatado várias vezes que os
motoristas e carregadores da empresa fornecedora se sentem mais funcionários dessa empresa
do que de sua própria organização.
Serviços terceirizados são contratos nas eventuais construções. Possuem dois
funcionários terceirizados que realizam a carga e descarga dos caminhões da empresa. Existe
um bom relacionamento entre eles e só não é maior por prudência à legislação trabalhista.
Tentou-se estabelecer treinamento com o pessoal terceirizado, mas os mesmos poderiam
exigir maiores direitos, considerando-se funcionários efetivos da empresa e neste ponto, a
legislação os favorece.
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Consumidores
A empresa possui uma política formal de comunicação alinhada aos seus valores e
analisa previamente se suas campanhas publicitárias atendem a legislação de defesa do
consumidor.
O Serviço de Atendimento ao Consumidor – SAC é bastante atuante. Possuem
autonomia para resolver quaisquer dúvidas e/ou problemas com seus consumidores e
representantes. Registram ocorrências, orientam, resolvem individualmente cada caso e
esclarecem o problema tanto externo como internamente. Isto com o objetivo de garantir a
melhoria de seus produtos e serviços.
Os representantes realizam encontros regionais semestrais para estudos de alternativas e
estratégias de satisfação dos clientes e eficiência no atendimento.

Comunidade
Existe uma relação de especial atenção para com a comunidade. Localizada fora dos
grandes centros industriais da cidade de Criciúma, o distrito do Rio Maina é considerado pelo
diretor-presidente um bairro dormitório. Desde a fundação da empresa, seu diretor tem a
intenção de reverter essa realidade e fazer a comunidade local crescer. A grande maioria dos
funcionários é da comunidade local.
A empresa não atua em ações sociais próprias, mas recebe todos os dias solicitações de
doações de tintas, remédios e dinheiro. Patrocinam o esporte na região como o futebol de
salão profissional e o futebol suíço e suíço de praia amador. Visando o esporte, como
aproximação com a comunidade, estão também com um projeto em elaboração de esporte nas
escolas.
As verbas para atividades filantrópicas são definidas de maneira eventual. Não existe
uma cota definida e nem critérios, mas procura-se ajudar a todos. As decisões do
investimento sociais dependem do valor ou material solicitado e a credibilidade do solicitante.
O dirigente tem conhecimento, e apoia, que seus funcionários sejam em suas
localidades líderes comunitários e que realizam mobilizações em torno do beneficio da
comunidade. Os funcionários participam de trabalhos voluntários e organizam campanhas de
arrecadação de alimentos, roupas e demais atividades sociais.

Governo e sociedade
A empresa demonstra sua transparência com o pagamento de taxas e impostos em dia e
combate qualquer tipo de corrupção ou “jeitinhos” com instituições públicas ou privadas.
Exclusivamente para seus funcionários, vende produtos a preço de custo. Existe uma
norma interna que veta a revenda de produtos para terceiros.

Considerações acerca de ações filantrópicas e de responsabilidade social


praticadas pela empresa pesquisada
De acordo com o que foi discutido até este momento, a empresa não possui estratégias
formais concebidas como de responsabilidade social. O que realizam são ações informais
percebidas como necessárias por seu dirigente, sem ter claro a distinção entre filantropia e
responsabilidade social. A seguir se fará um detalhamento das ações com os públicos que
compreendem as duas categorias supracitadas, para que possamos, com base na teoria
construída, distinguir tais ações entre filantropia e responsabilidade social.
Para os funcionários, considerados atores fundamentais da empresa, é proporcionado
um ambiente de trabalho saudável e propício para sua realização profissional. Assim, tornam-
se assíduos, sendo mantida a demissão em nível zero e com baixa rotatividade. A existência
de uma profissional preparada para conhecer o funcionário tanto externo como internamente à
empresa e disponível para auxiliá-los garante segurança e satisfação dos mesmos. E com
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relação às suas famílias, estas são consideradas partes integrantes da empresa, concretizadas
em ações como o encontro anual que reúne as esposas, mães e filhos dos funcionários.
As relações com os fornecedores, com o meio-ambiente e com o governo são
igualmente respeitadas e proporcionam ganhos mútuos. Os consumidores também entram na
agenda das preocupações da empresa. Quando adquirem um produto o consumidor agrega
uma prestação de serviço, um acompanhamento técnico para uso e aplicabilidade dos
produtos para sua satisfação. Tanto os funcionários na empresa como os representantes estão
preparados para atender o cliente.
Quanto à comunidade, pode-se perceber dois benefícios. O primeiro está no fato dos
funcionários serem moradores do bairro; outro ponto é o investimento no esporte,
concretamente no patrocínio do time de futebol de salão. Ademais, suas ações são apenas de
cunho filantrópico, sendo que definem sem nenhum critério os valores monetários ou
materiais a serem doados às pessoas e às escolas que solicitam ajudam. São ações ocasionais,
sem controle e definições de planos que possam ter um maior comprometimento junto à
comunidade.
Enfim, em relação à questão da responsabilidade social, a empresa não atua de forma
estruturada. Seu dirigente realiza tais atitudes acreditando estar vivendo seus princípios
cristãos de respeito e valorização do ser humano. Dessa forma, na perspectiva do dirigente,
também há uma melhora dos resultados financeiros. A crescente atenção voltada para os
funcionários, fornecedores e consumidores propiciam o retorno para a empresa e afirma que
“ser honesto é um bom negócio, pois dá lucro”.
De modo a tornar claro as discriminações entre filantropia e responsabilidade social
realizadas informalmente pela empresa, ou seja, ao realizar tais ações não tinha em mente que
são denominadas de responsabilidade social ou filantropia, foi construído uma tabela a seguir
que proporcionará tais distinções.

Distinção de ações filantrópicas e de responsabilidade social praticadas pela


empresa
AÇÕES
PÚBLICOS FILANTROPIA RESPONSABILIDADE SOCIAL
Funcionários - Venda de produtos da - Segurança do emprego (demissão zero);
empresa a preço de custo; - Apoio a tratamentos de doenças
relativamente graves que vão além do plano
- Auxílio na construção de de saúde;
casas próprias. - Não emprega trabalho infantil;
- A política de contratação leva em conta
sua família;
- Apoio à recuperação de viciados em
drogas ilícitas e álcool;
- Bolsas de estudo para o ensino médio,
superior, cursos de aperfeiçoamento e
especialização;
- Criação de uma função responsável pelo
bem-estar físico, emocional e espiritual do
funcionário e sua família;
- Projeto para a construção de casas
próprias.
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Meio-ambiente - Grau de poluição mínimo;


- Programa de reciclagem;
- Programa de reutilização de certos
materiais.
Fornecedores
Consumidores - Solução efetiva de quaisquer problemas
relacionados aos produtos e serviços.
Comunidade - Doações esporádicas de - Contratações preferencialmente de
tintas, remédios e dinheiro; moradores do distrito;
- Participação em campanhas - Patrocínio de time de futebol.
de arrecadação de roupas e
mantimentos.
Governo e sociedade - Não utilização de métodos escusos para
obtenção de vantagens competitivas;
- Convicção de que o imposto é um retorno
dado pela empresa à sociedade.
Elaborada pelos autores a partir da análise e interpretação dos dados da pesquisa.

Considerações Finais
Na prática da gestão empresarial viveu-se várias tendências na busca da administração
eficiente. Teve-se a empresa orientada para o produto, para o mercado e para o cliente e agora
a orientada para o social. Ter ações responsáveis com seus públicos proporciona a empresa
maior competitividade, imagem pública melhorada, mídia espontânea, aumento da
lucratividade e fundamentalmente sua contribuição para a comunidade e sociedade no
cumprimento de sua função social.
Se antigamente a empresa era alienada de seu ambiente, hoje deverá atuar na
comunidade para que possa garantir sua sobrevivência. As práticas assistencialistas deram
lugar ao investimento social sério com preocupações que vão além do ser "bonzinho".
Metodologia, estudos e o acompanhamento fazem as práticas empresarias serem aplicadas nos
projetos sociais.
Claro que há um longo caminho a trilhar. Muitas empresas desconhecem suas
responsabilidades ou se beneficiam de maneira ilícita das práticas sociais, como possuir
fundações de fachadas para obter a isenção fiscal e abatimentos dos impostos. Mas tais
práticas devem diminuir na medida em que aumentar o grau de esclarecimento dos
consumidores quanto à prática empresarial e seu papel na sociedade.
O estudo mostrou que a empresa investigada, apesar de sua atuação social de modo
constante, não possui políticas internas formais dirigidas às ações de responsabilidade social.
Para seus membros, não há uma distinção clara entre o que é agir filantropicamente e agir
socialmente responsável. O intuito desse trabalho foi justamente descrever, diagnosticar e
identificar as ações sociais empreendidas pela empresa para que tal distinção se tornasse
perceptível sendo sugerido que a empresa começasse a pensar suas ações sociais em termos
estratégicos formalizados.
A responsabilidade social resgata a função social da empresa, tendo por objetivo maior
a promoção da qualidade nas relações dos públicos da empresa com práticas que respeitem as
pessoas, a comunidade e o meio ambiente, para a construção de uma sociedade mais justa e
qualitativamente melhor para o viver humano.


Na análise dos dados não foram categorizadas como ações de responsabilidade social nem de filantropia.
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