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RAMOS, Guiomar. Um cinema antropofágico? (1970-1974). São Paulo: Annablume, 2008.

Fichamento

“Essa temática, ora chamada de antropofágia, ora de canibalismo, estava no ar quando


Oswald de Andrade, depois de ter participado do Movimento Modernista de 1922, viaja
novamente para Paris ao encontro de Tarsila, momento que Benedito Nunes analisa em seu
conhecido ensaio ‘Oswald Canibal’ (Nunes, 1979).” (RAMOS, 2008, p. 18)

“[...] a metáfora da devoração para os dadaístas não estava ligada à ideia de uma absorção
enriquecedora como para os nossos antropófagos; ‘devorar e digerir não tem o sentido de
assimilar o outro, mas, de eliminá-lo, daí a necessidade de se praticar a carnificina, exercício
tão anunciado por Tzara em seu Manifest Dada’ (Netto, 2004:29).” (RAMOS, 2008, p. 18)

“E se Oswald vai optar pelo termo ‘antropofagia’ em vez de ‘canibalismo’ dos dadaístas, ele
se diferencia não só pela escolha da palavra antropofagia, que realmente reforça o lado mais
científico e rigoroso desta terminologia, mas pela maneira pela qual vai afirmar sua relação
com o primitivo. Para os movimentos de vanguarda francesa da década de 1920 – surrealistas,
cubistas, futuristas e dadaístas – o retorno ao primitivo representava a busca do outro, do
estranho, do exótico, das raças indígenas e africanas, para Oswald e Mário de Andrade esse
primitivo estava relacionado a nossa própria origem (nunes, 1979:10-11).” (RAMOS, 2008, p.
18)

“A metáfora da devoração-apropriação proposta por Oswald no Manifesto Antropófago de


1928 tem então como perspectiva a busca por uma nova identidade cultural para o país e
como alvo específico o confronto entre o colonizador (cultura europeia) e o colonizado
(Brasil). Usando livremente o que vem de fora – parodiando e não imitando – retira o que o
estrangeiro tem de mais forte, misturando com elementos nacionais desprezados pela cultura
dominante, como o samba, o carnaval popular, o negro, o índio.” (RAMOS, 2008, p. 19)

“A grande diferença: o conceito de antropofagia de uma e de outra época tem uma perspectiva
de cultura nacional bastante específica de cada momento. O resgate da antropofagia em final
dos anos 1960 encontra a frustração advinda do golpe de 1964, o quadro de uma arte
desgastada em sua relação com a cultura popular.” (RAMOS, 2008, p. 19)
“Celso Favaretto também destaca a diferenciação entre a antropofagia dos anos 1920 e a dos
anos 1960, quando há uma mudança das ‘discussões sobre a originalidade da cultura
brasileira’ para o ‘debate sobre a indústria cultural, transferindo-se o enfoque dos aspectos
étnicos para os políticos econômicos’ (Favaretto, 1995:53).” (RAMOS, 2008, p. 19)

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