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Continuando nossas atividades sobre o foco narrativo, nessa quinzena será abordado os desdobramentos de
dois tipos de narradores, o personagem e o onisciente.
Tipos de narrador-personagem
Tipos de narrador-onisciente
“(...) Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar
comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a
bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava-as, para me
não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia
fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam
comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar,
para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando,
porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava
desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.
O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão
miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o
principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis. Antes de
descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se
fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam
às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós,
postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e
firme (...)”.
1-A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de
Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem
Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela se apresenta:
***
“O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano
de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (...) Bem,
mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e
imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma
ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente dos personagens principais, bem como da
comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.”
a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.
b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.
c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que
aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora.
d) Fala de maneira exemplar ao leitor porque considera sua visão a mais correta.
e) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.
(Eduardo e Mônica. RUSSO, Renato. In: Legião Urbana – Dois. EMI, 1986.)
3- Sobre o tipo de narrador presente na música Eduardo e Mônica, é correto afirmar que se trata
de um:
a) Narrador personagem, pois, além de narrar os fatos, verídicos ou não, faz parte da história
contada, sendo assim, personagem dela. Esse tipo de personagem apresenta uma visão limitada
dos fatos, já que a narrativa é conduzida sob seu ponto de vista.
b) Narrador testemunha, pois é uma das personagens que vivem a história contada, mas não é
uma personagem principal.
c) Narrador onisciente, pois sabe de tudo o que acontece na narrativa, seus aspectos e o
comportamento das personagens, podendo, inclusive, descrever situações simultâneas, embora
essas ocorram em lugares diferentes.
d) Narrador observador, pois presencia a história, mas diferentemente do que acontece com o
narrador onisciente, não tem controle e visão sobre todas as ações e personagens, confere os
fatos, mas apenas de um ângulo.
e) Narrador onisciente neutro, pois relata os fatos e descreve as personagens, no entanto, não
tenta influenciar o leitor com opiniões a respeito das personagens, falando apenas sobre os fatos
indispensáveis para a compreensão da leitura.
***
I. “Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já
estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter
sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada
gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a ideia dela ir ver uma fita no
cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava
sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai,
mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do
morto”. (Fragmento do conto O peru de natal, de Mário de Andrade).
II. “Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse
força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado
daquelas cinco léguas cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro era de pouco riso
mesmo, já endurecido pelos setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e
taciturno”. (Fragmento do conto O poço, de Mário de Andrade).
III. “Nesse momento, a viúva descruzava as mãos, e fazia gesto de ir embora. Primeiramente
espraiou os olhos, como a ver se estava só. Talvez quisesse beijar a sepultura, o próprio nome
do marido, mas havia gente perto, sem contar dois coveiros que levavam um regador e uma
enxada, e iam falando de um enterro daquela manhã. Falavam alto, e um escarnecia do outro,
em voz grossa: "Eras capaz de levar um daqueles ao morro? Só se fossem quatro como tu".
Tratavam de caixão pesado, naturalmente, mas eu voltei depressa a atenção para a viúva, que
se afastava e caminhava lentamente, sem mais olhar para trás. Encoberto por um mausoléu, não
a pude ver mais nem melhor que a princípio. Ela foi descendo até o portão, onde passava um
bonde em que entrou e partiu. Nós descemos depois e viemos no outro”. (Fragmento do livro
Memorial de Aires, de Machado de Assis).
IV. “Era sempre inútil ter sido feliz ou infeliz. E mesmo ter amado. Nenhuma felicidade ou
infelicidade tinha sido tão forte que tivesse transformado os elementos de sua matéria, dando-lhe
um caminho único, como deve ser o verdadeiro caminho. Continuo sempre me inaugurando,
abrindo e fechando círculos de vida, jogando-os de lado, murchos, cheios de passado. Por que
tão independentes, por que não se fundem num só bloco, servindo-me de lastro? É que são
demasiado integrais”. (Fragmento do livro Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector).
Dica para essa última questão: escreva abaixo de cada trecho (I, II, III e IV) o tipo de narrador
correspondente, para facilitar na hora de marcar a opção correta.
BONS ESTUDOS!!