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O fichamento refere-se ao primeiro capítulo denominado A identidade em questão, parte

da obra A identidade cultural na pós-modernidade, da autoria de Stuart Hall. Nela o


autor busca investigar as questões que envolvem o conceito de identidade cultural na
pós-modernidade, tendo como referência a afirmação de que as identidades modernas
estão deslocadas, ou ainda para usar os termos do autor, “descentradas”. Este
argumento afirma que, após o enfraquecimento das identidades tradicionais, no final do
século XX (que mantinham o mundo social estável), o sujeito antes unificado, torna-se
agora fragmentado. Essas transformações afetaram as referências que faziam com que
os indivíduos se localizassem no mundo social e, acometeram as identidades não só a
níveis sociais, como também afetaram a ideia que os sujeitos tinham de si como sujeitos
integrados. Esses deslocamentos constituem a crise de identidade. É a partir desse
argumento que o autor discute algumas questões sobre a identidade cultural e suas
principais consequências e começa por analisar as definições de identidade e suas
transformações na pós-modernidade.

A primeira definição exposta por Hall é a do sujeito do Iluminismo. Essa acepção


concebe o sujeito como sendo unificado, com uma identidade inata e permanente,
dotado de certa autonomia e um caráter individualista.

A segunda acepção de identidade sobre a qual o autor discorre se refere ao sujeito


sociológico. A formação da identidade, aqui chamada de núcleo do sujeito, se dá através
da interação do individuo com a sociedade, de modo que essa relação tenha influência
sobre os valores e os sentidos dos indivíduos. De acordo com esta concepção interativa
da identidade e do eu, o sujeito ainda teria um núcleo (identidade), que consistiria no
seu “eu real”, mas que se modificaria de acordo com o seu exterior.

Segundo Hall, a concepção sociológica aproxima o mundo público do mundo pessoal,


pois equipara as subjetividades do sujeito ao local ocupado por ele tanto no mundo
social, quanto no mundo cultural. Isto acontece porque, ao identificarem-se, os
indivíduos se “projetam” nessas identidades, incorporam os princípios e significados, de
maneira que esses valores tornam-se parte integrante deste individuo. Dessa forma, o
sujeito permanece unificado e estável. (uma identificação com o local, e os sentimentos
oriundos desse sentimento de pertencimento, formando uma unidade?)

Contudo, na pós-modernidade esta unificação e estabilidade dão lugar à fragmentação e


a variabilidade. Neste momento, o sujeito apropria-se de identidades distintas de acordo
com a situação ou ainda, diante de identidades contraditórias existentes dentro desse
sujeito, impelindo para direções distintas, têm como consequência deslocamentos. Não
há mais uma identidade fixa e permanente, mas uma infinidade de identidades com as
quais o sujeito possa se identificar, assumindo um caráter temporário e variável. Esta é a
definição de identidade da pós-modernidade.

Stuart Hall faz uma breve introdução da questão da identidade cultural relacionada com
a globalização e os efeitos desta sobre a primeira e para fazê-lo, usa as concepções de
três autores que diferem, mas que possuem também pontos em comum, como quando
afirmam um “deslocamento” na modernidade tardia. (melhorar)

Anthony Giddens afirma que, as sociedades tradicionais tinham uma forma específica
de lidar com o tempo e espaço, baseando-se na tradição. Dessa maneira, as experiências
carregavam em si uma ideia de continuidade. (melhorar)

Já as sociedades modernas são caracterizadas pela descontinuidade, além de lidarem


com rápidas mudanças e possuem um caráter reflexivo. O que o autor chama de “forma
reflexiva de vida” acontece, pois as praticas sociais são analisadas em meio ao fluxo de
informações. Esta conexão entre diferentes partes do mundo, através da globalização,
faz com que as práticas sociais transformem-se tanto de forma total, quanto parcial. Para
o autor, as transformações evidenciadas neste período nunca antes foram presenciadas e
a modernidade tardia fez com que qualquer resquício de ordem social tradicional
desaparecesse.

David Harvey também afirma que essas transformações romperam radicalmente com as
condições anteriores e ainda ressalta que, esse é um processo constante de ruptura e de
fragmentação.

Outro autor, chamando Ernest Laclau, afirma que existe um deslocamento que consiste
na substituição de um centro (aqui entendido com uma referência), por vários centros. A
modernidade, segundo Laclau, não possui um algo que a organiza, por isso não pode ser
caracterizada como um todo unificado, pois “está constantemente sendo ‘descentrada’
ou deslocada por forças fora de si mesma.”

Para Laclau, as sociedades modernas possuem grande diversidade e as diversas


identidades possíveis de se identificar são o produto dessa diversidade. Para o autor,
esse deslocamento tem características positivas, pois amplia o leque de identidades, bem
como produz novos sujeitos.

A pluralização das identidades podem ter consequências políticas, por exemplo, e é aí


que ocorre o que autor chama de ‘jogo de identidades’. Quando se tem diversas
identidades, elas podem ser contradizer e ao se misturarem, podem se deslocar
reciprocamente. Essas contradições têm efeitos tanto na sociedade quando no individuo.
Quando interesses estão em jogo, o aparato discursivo não pode conter apenas uma
identidade (“identidade mestra”, única), pois não é possível que diversos e distintos
interesses sejam representados em apenas uma referência de identificação. Na política
do mundo moderno, identidades contraditórias – uma identidade mestra, como é vista a
identidade de classe e as identidades emergentes decorrentes de movimentos sociais
como o feminismo e as lutas negras – se cruzam e se deslocam. O autor afirma que,
dessa maneira, a identidade tornou-se politizada e ainda ressalta que, “esse processo é,
às vezes, descrito como constituindo uma mudança de uma política de identidade (de
classe) para uma política de diferença.” Dessa forma, ao apoiarem ou não um candidato
político, por exemplo, a identificação entra em jogo.

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