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Sociologia da burocracia traram na análise de burocracta co- burocracia sua part1cülaridade .

A
mo forma · de poder,' convem sa- burocracia rac1onal · moderna,
Org., introd. e trad. Edmun- lientarmos que a leitura do livro é porém, tem como ancestral a bu-
do Campos. 4~ ed., Rio de recomendável pelo que ele~diz, isto rocracia patrimonial, surgida nas
é, pelas origens da teoria das formações asiáticas. A burocracia
Janeiro, Zahar. 153 p.
organizações, tal como foi de- nunca se desenvolve sem uma ba-
senvolvida pela literatura tun- se material adequada. A excelente
cionalista-sistêmica, que escla- anál1se de Maurício Tragtenberg
rece. É recomendável também pe- deixa este aspecto bem claro . Na
lo que não diz, isto é, pela suges- burocrac1a patnmon1al a submis-
tão de que há outras formas de são é, no entanto, de ordem pes-
analisar e perceber o fenômeno soal. A submissão, na burocracia
burocrático, que parece. estar mul- racional moderna, baseia -se no
to longe de um fenômeno obsole- ideal da impessoalidade tão ne-
to. Isso posto, caminhemos na cessária ao cálculo e à previsibili-
elucidação de algumas linhas dade inerentes ao sistema capita-
básicas daquela outra postura lista. ·
teórica . Esclarecemos, porém, que
., não se trata de algo semelhante a Todos aql!.eles que de uma for~
uma " escola", que não se trata de ma ou de outra estudam a burocra-
um pensamento monolítico . A cia têm que passar por Weber .
postura é em princípio a mesma, Aprecte-se ou não seu pensamen-
isto é, uma postura de crític a à bu- to, ele é o principal teórico do fe-
rocracia enquanto poder . A partir nômeno em questão . Há, contu-
daí existem pontos de convergên- do, outras formulações clássicas
Surge em nova edição um texto cia e pontos de polêmica. do fenômeno burocrático, que es-
clássico de teoria das organiza- tão princ1palmente no JOvem Marx,
ções. O livro é bastante conhecido Max Weber elabora suà análi se bem como na obra adulta de Marx
pelos especialistas na área, pois da burocracia a partir da domina- e Engels. Mais uma vez seria difícil ·~
apresenta toda a tradição de ção como aspecto fundamental da não considerar tais formulações
análise funcional1sta do fenômeno ação comunitária. Essa dominação que em alguns ::;entidos têm pon-
burocrático. Não é por acaso que manifesta-se ora em fun ção do po- tos em comum com Weber. Des-
alguns textos fundamentais, como der de mando e subordinação, ora tes, o principal é a consideração da
os de Gouldner, Se!znick, Hall e burocracia como estamen to. Essas
mediante uma constelação de inte-
Merton, se seguem à apresentação resses . Essas manifestações com idéias foram muito desenvolvidas;
de um estrato de Max Weber . freqüência se confundem, uma _e estão presentes, por exemplo, no
. Há certa confusão nessa linha transformando-se facilmente na trabalho de René Loureau. Há toda
de análise da obra de Weber. Con- outra . Entende-se a dominação as- uma literatura que privilegta a
fusão claramente manifesta no fa- sim referida como um estado de análise da burocracia enquanto
to de que o "t1po ideal" não parece coisas no qual as ações dos domi- classe.
perfeitamente entendido. Ora se nados aparecem como se estes
procura estudar as ''conseqüên- houvessem adotado como seu o Claude Lefort dá uma contribui-
cias imprevistas" do modelo bu- conteúdo da vontade manifesta do ção particularmente interessante a
rocráttco, ora se estuda empírica- dominante. Assim compreendida, propósito da burocracia, partindo
mente a organização burocrática a dominação é uma forma de po- das diversas perspectivas em que o
em busca de uma coincidência ou der se este pode ser defmido como fenômeno tem sido estudado . Para
divergência com o " tipo ideal". possibilidade que alguém ou algum ele, a burocracia pode ser VIsta co-
Ocorre que o "t1po ideal'' não é grupo tem de realizar sua vontade, mo um grupo que tende a fazer
testável empiricamente, ocorre inclusive quando esta vai contra a prevalecer um certo modo de
que não caminhamos necessaria- dos demais agentes da ação comu - organização, desenvolvendo-se
mente para uma organização pós - nitária. Toda dominacão implica em determinadas condições, e que
burocrática, só porque o "t1po uma estrutura, ou seja, um chefe, se estende em virtude de um certo
ideal" apresenta claras diferenças seu aparato administrativo e os do- estado em que se encontra a eco-
com relação às organizações con- minados. Isto quer dizer que estes nomia e a técnica, mas que só é o
cretas. Partir das diferenças estru- elementos inter-relacionados com- que é em virtude de uma atividade
turais entre o modelo não parece põem a estrutura de uma forma pe social que implica um tipo de con-
ser um bom caminho. Melhor seria dominação. Na medida em que to- duta específico. Muito bem, este
partir de onde Weber partiu, isto é: da forma de dominação está fun- tipo de conduta específico, que
antes mesmo de ser organização, damentada em um conjunto de poderia ser cogitado em termos
burocracia é forma de poder . princípios no qual se baseia a exi- das virtydes menores do protes-
gência de obediência, podemos fa- tantismo ascético, traduz-se para a
Antes, portanto , de lembrarmos lar em legitimidade . A legitimidade empresa capitalista, e para o Esta-
algumas anál1ses - a partir do da dominação burocrática está·· no do, fundamentalmente em vigilân-
próprio Max Weber - que se cen- direito racional , o que confere à cia e disciplina~ Ginntis e Marglin

Rev. Adm. Ernp., Rio de Jane iro, J 9(2) 130-136, abr./jan . 1979
são dois economistas norte- ser bem mais controvertido, por- · Estudos do futuro: introdu-
·americanos contempo râneos que que expressa uma tendência da ção à antecipação tec-
percebem muito bem o papel da teoria das organizações de legiti-
nológica e social.
organização burocrát1ca a nível da mar a burocracia enquanto forma
empresa e da economia em seu de poder e enquanto grupo social,
bem como de legitimar a dorr111 ;a-
Por Henrique Rattner.
conjunto.
ção da classe burguesa que a buro - Fundação Getulio Vargas.
Finalmente, rião se poderia dei- cracia, salvo exceções históricas,
xar de mencionar o papel que tive - tende a servir. Esta legitimação
ram os soviéticos no desenvolvi- não é feita pela defesa da burocra-
mento da crítica da burocracia . cia, mas por uma crít ica que ignora
Tais contribuições estão na origem seus aspectos centrais e pela ilu -
de muitas formulações modernas. são de que as organizações de hoje
Todavia, se o peso da crít1ca fun - não podem mais ser consideradas
damentada em Lenin ne e T rotski é burocráticas. O fato de elas não se
muito grande, também não é pe - apresentarem de acordo com o "ti -
queno o peso da crítica que se po ideal" não vem a favor dessa
constrói a partir do socialismo li- forma de análise . As organizações
bertáno, ou anárquico. Um dos al i- nunca espelharam o "tipo ideal'· .
cerces suplementares da crítica à Resta saber quais as d1mensões
burocracia encontra-se ainda na reais do aparato burocrático na so-
discutida análise que Bruno Rizzi ciedade moderna. Se a burocracia
fez, em 1939, da burocracia so- tem um caráter orgânico na socie-
·viética . Talvez, porém, o grupo dade moderna, e ela certamente o
mais importante da literatura càn - tem, não parece adequado
temporânea seja o representado subestimá -la, salvo se o fazemos
numa crítica burocrática da buro - Da multitude de facetas do proble-
por Cornelius Castoriadis, Claude
cracia . ma da tecnologia, o texto
Lefort e Paul Carden entre outros,
1em geral identificado com a concentra-se na apresentação .....
Assim, com a ressalva de que o crítica de diversas técnicas de ·
publicação Socialisme ou barbarie. livro é ma1s importante nos dias antecipação. De fato, ante o leitor"
O primeiro tem um livro magnífico que correm pelo que não diz do desfilam desde s1mples ' 'extrapola-
ções de tendências". passando 131
intitulado A sociedade burocrática . que pelo que diz, consideramo-lo
A advertência fundamental do au- absolutamente indispensável para por técnicas Delphos, até os "mo-
tor parece ser a de que o socialis - quem quer compreender a moder- delos globais" tão difundidos pelo
mo não pode ser confundido com na teoria das organizações. Que o Clube de Roma . Os tópicos são
estatização quando o controle es- leitor se prepare para muitas fun- apresentados de maneira clara e,
capa aos trabalhadores. Luiz Car- ções e disfunções, funções laten- no fim de cada capítulo, diversos
los Bresser Pere ira tenta progredir tes e manifestas, dimensões e pro - exercícios são propostos . O texto é
nessa linha, numa tese bastante postas de estudos empíricos. É fluente e de leitura mu1to
polêmica. Paul Cardan entende a bastante oportuno, porém, cha - agradável. A apresentação dos
burocracia basicamente como uma mar a atenção para um artigo tópicos, assim como as análises
estrutura social na qual a direção clássico contido na coletânea. críticas, fica no plano das idéias
dàs atividades coletivas fica a car - Trata-se do trabalho de Robert Ml- gerais. Não creio ter sido Intenção
go de um aparelho impessoal orga- chels sobre os partidos políticos . do autor entrar nos detalhes de ca -
nizado de modo hierárquico, de Ressalte-se, ainda, a be la introdu- da técn1ca.
acordo com cntérios e métodos ra- ção de Edmundo Campos, que le-
cíonais, privilegiado economica - vanta alguns dos problemas funda - Quanto às extrapolações, o au-
mente e recrutado segundo regras mentais que nos levam ao estudo tor poderia ter explorado mais as
que ele próprio adota e aplica. A da burocracia. Tais problemas são arbitrariedades, tanto na escolha
esta forma de administração de tantos e tão complexos que confe- das formas fun ciona1s, como na
pessoas e coisas chama burocra- rem a sua análise uma relevância das variáveis independentes, como
tismo . Tal burocratismo nasce na muito especial. O os critérios de ajuste pelos pontos
produção, no Estado, nas do passado e as hipóteses restriti-
org·anizações políticas e sindicais. Fernando Cláudio Prestes Motta vas para a aplicação das técnicas
Dessas fontes espalha-se para to- conhecidas em estatística. Na
das as esferas da vida social, com - técnica Delphos, os problemas dos
pondo a sociedade burocrática . vieses nas estimativas dos exper-
tos, a dificuldade em estimar even-
Estes são apenas alguns traços tos raros, assim como outros pro-
daquilo que o livro resenhado não blemas psicológ icos que podem in -
diz. Que ninguém os procure nele . val idar estudos de antecipação não
O que vai encontrar não é menos foram apresentados. Também não
interessante, nem é menos contro- são discut idos detalhes do Dyna-
vertido . Eu diria que deve mesmo rno de J. Forrester, utilizado nos

Resenha bibliográfica

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