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PRODUCCHO, DEFESA E CONSUMO DO CAFE Prof, JEAN MICHEL Da Escola Agricola “Luiz de Queiroz” Em geral o problema da defesa do café encara 36 0 ledo productor, com o escopo de lhe garantir um preco remunerador, pondo-o a coberto das alternativas da producegio © das especu- lagdes do mercado, Dos consumidores pouco se occupa tal detesa tentando ape- nas, pelo reclamo, de augmentar o seu numero em vez de pro- curar meios acertados de satisfazer uns e outros, condigéo fun- damental de successo e durabilidade da operacio. Acaso ofim do productor was é satisfazer o consumidor pela qualidade e prego do producto que lhe fernece? No tocante ao prego, no seu livro incomparavel “Hoje e Amanha”, H. Ford diz: «A senda unica, gue conduz & reduccao do prego do custo, é pagar altos precos por alto grau de trabalho applicado, em in- dustria que preste servigo social.» Existiré porventura industria socialmente mais util do que a Agricultura? Haveré outra na qual mais se justifique a sig- nificagéo da produgdo, para Jograr 0 burateamonto do producto? E poder-se 4 deixar por muito tempo ainda de augmentaros sa- larios e o bem estar dos trabalhadores ruraes, para conserval-os no campo, e evitar a sua retirada para as cidades tentadoras? N’outro trecho, o mesmo autor escreve: «Comprando pelo custo — por nds determinado — e nao aos precos do mercado, e temos a certeza de prestar um servigo ao publico procedendo assim, obrigando os nossos fornecedores a adoptarem methodos adequados a ial producgdo, e invariavelmen- te elles prosperam> Vejamos pais se tues conceitos do maior genio industrial dos nossos tempos podem ter alguma applicagio na cultura ca- feeira induetrializada, com as variantes inherentes 43 cousas do campo, por intervir n’ellas alguns factores independentes da ac- g@o productora. REVISTA DE AGRICULTURA SS SaaS 9 As safras cafeeiras estfio em franco declinio, particularmen- te nos municipios mais antigos, formando excepgio apenas as zonas novas, onde as medias se mantem regulares. Deveria isso acontecer ? Um ou dois seculos bastario aqui para esgotar a faculda- de productora de terras fundas, e que tem dado optimas provas de fertilidade, quando no velho znundo existem solos explorados ha milhares de annos, © que produzem hoje mais do que nunca ? Culpa-se a idade das plantacdes, pela deficiencia das safras, Porem o methodo adoptado de substituir progressivamente, ‘e a medida da sua decrepitude ou morte, os pés que vaio desappa- recendo, deveria manter em constante produccéo qualquer cafe- zal assim reconstituido, se o trato complementar acompanhasse tal pratica. Outros invocam que o clima tem mudado muito, que as chuvas vio esonsseando, que as precipitagdes véem em mangas ou trombas; que temperaturas elevadas queimam as plantas, em- quanto outras frias as gelam, circunstancias estas consideradas, 4s vezes, como favoraveis, porque provocam a alta dos pregos, e levam a fortuna 4s zonas poupadas pelos flagellos | E’ commodo culpar o clima e responsabilizal-o pelas defi- ciencias culturaes, sabendo-se que somos nos os verdadeiros res- ponsaveis, porque é hoje relativamente facil ao homem, com o auxilio dos conhecimentos technicos modernos, assenhorar-se da produegéio para Ihe garantir, a prego remunerador, a regularida- de que exige um mercado normal, Se assim n&o se dé, é imprescindivel mudar o rumo, Na agricultura, mais do que em qualquer outro ramo da actividade humana, a rotina e a inercia dominam os trabalhos. Pois as praticas campestres tém uma fixidez, uma estabili- dade que os poetas cantam, que exploram os politicos — natu- ralmente conservadores — @ que louyam todos aquelles que d’el- las tiram proveito. Mas chega a hora fatal das competencias e da lucta das concorrencias, Ent&éo, ou se mudam os methodos, ou desappare- cem aquelles que no querem acompanhar a marcha para diante. O CONSUMO DO CAFE FE’ a lei do progresso, da qual ninguem se pode afastar por muito tempo, sem se ver bruscamente poste 4 margem. O agricultor, lidando com bens immoveis, tem natural pro- pensio om considerar como estayeis e perennes as condigdes do seu meio, sobrepassando involuntariamente os ensinamentos dos economistas e agronomos, que recommendam a maxima cau- tela na acceitagio de processus novos, ou de simples modifica- Gdes nos seus methodos de exploragéo que, ao dizer daquelles, tém a sanc&o de longa pratica. Entretanto a nossa lavoura cafeeira parece ter chegado as- sim a um periodo de crise aguda que, tanto da parte dos pode- res publicos como dos lavradores, reclama a maxima attengao, e a adopgaio das medidaa que tal crise estd pedindo. No tocante 4 lavoura yejamos se nas culuras actuaes, ain- da prosperas, se naquellas cuja produccfio é decrescente ou de- ficente e tambem se nas novas, que se vao formando, devemos adoptar o regimen antigo de agriculturar, ou se mudaremos de systema para corresponder melhor és cireunstancias economicas de hoje e de amanhi, EF bem certo que as formas usadas, e os methodos de ex- ploragio ainda em voga, derivam das condigées de terras vir- gens e ricas, ou da mao q’obra abundante e barata. Mas isto faz parte do passado, como tambem poderd passar 0 «monopo- lio» da producgmio que fez o Brasil senhor dos imercados cafe- eiros, pois ja vemos apparecerem concorrentes que nos vaio obrigar & lucta, na concorrencia mereantil nfo hasta, para vencer, regu- lar a exportacio com o escopo de assegurar ao productor um prego remunerador. Tal operachio que, 4 primeira vista, aparece como logica, vae de encontro ao interesse do consumidor e mesmo do pro- ductor. Para o primeiro, o artigo encarece até que venba a con- correncia compensadora, e para o outro, tendo garantido o lu- ero nada faz para o progresso e aperfeicoamento da producgao que precisamente na agricultura, resultam de circumstancias criti- cas na sua economia, Situagdes identicas aquella do café tem-se apresentado com o

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