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A

LITERACIA
EM
SAÚDE E OS

JOVENS

Coordenação
Cristina Vaz de Almeida
Presidente da SPLS
Índice
Prefácio........................................................................................................................ 3
A juventude e os adolescentes?................................................................................. 5
Porquê a literacia em saúde?..................................................................................... 6
A literacia em saúde digital........................................................................................ 8
Highlights sobre a participação dos jovens na saúde............................................ 13
Os NEET (Neither in Employment Nor in Education or Training)........................... 15
Que preocupações e desafios têm os jovens?......................................................... 17
Quais os caminhos para os jovens aumentarem a sua literacia em saúde?......... 20
A transição da universidade para o mundo do trabalho........................................ 22
A sustentável leveza do digital................................................................................. 23
O papel do profissional de saúde na promoção da literacia em Saúde
juntos dos jovens...................................................................................................... 24
Uma boa comunicação é a chave mágica............................................................... 25
Contributos de participantes no seminário online................................................. 26
Referências bibliográficas........................................................................................ 37

“A Literacia em Saúde
e os Jovens”
Coordenação
Cristina Vaz de Almeida
Presidente da SPLS
Ponte Editora, Lda
Startup Madeira – Sala 3
Campus da Penteada • 9020-105 Funchal – Madeira
ISBN 978-989-99820-8-6
2022. Uma reflexão da
Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde
2 Parceria e Design de: Miligrama – Comunicação em Saúde
Prefácio
Decorreu a 16 de maio de 2022 o seminário digital subordinado
ao tema “Literacia em saúde e os Jovens”, numa parceria
entre a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde e a
Miligrama - Comunicação em Saúde no âmbito da Semana
Europeia de Saúde Pública.
Este dia coincidiu com o Dia Nacional do Cientista em Portu-
gal, o que permitiu uma reflexão e focalização importante na
literacia em saúde e na importância do investimento no domí-
nio científico para que os investimentos nesta área possam ser
mais frutuosos.
Fruto deste debate dinâmico e com a participação do público
que envolveu a Enfermeira Patrícia Martins, Vice-Presidente da
Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) e o médi-
co de Medicina Geral e Familiar, Diogo Franco Santos, também
membro efetivo da SPLS, com a moderação assegurada pela
Miligrama – Comunicação em Saúde, por Irina Fernandes, foi
possível construir este e-book agora corporizado e lançado,
com muita matéria para reflexão dos intervenientes na gestão
estratégica da saúde para os jovens.
Os oradores debateram o tema de forma dinâmica, construti-
va, procurando apresentar as necessidades dos jovens e a im-
portância de lhes ser dada mais “voz”.
Sabemos que avaliar os jovens significa também avaliar o seu
contexto e os determinantes sociais que os levam a prosseguir
determinados caminhos. Significa também olhar para as com-

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petências parentais, as influências dos pais, os contextos so-
cioeconómicos, a comunidade e o próprio país onde crescem
e se desenvolvem.
Por outro lado, as comunidades mais bem preparadas para
acolher os jovens, que conseguem promover estilos de vida
mais saudáveis em combinação com as organizações de saúde
e outras, têm resultados mais favoráveis.
Ganham as comunidades, ganham as pessoas.
O desafio do digital é permanente, entre o equilíbrio de servir
as necessidades dos mais jovens e os perigos do alheamento
e da interiorização que pode provocar num jovem virado para
dentro do mundo, nem sempre real, do seu telemóvel.
Resta-me agradecer a todos que participaram neste e-book de
forma direta ou indireta, em particular aos oradores do semi-
nário, a Enf.ª Patrícia Martins, o Dr.º Diogo Franco Santos, a Dr.ª
Irina Fernandes da Miligrama, que moderou e a todos os parti-
cipantes que também aqui deixaram a sua voz.
Esta é a missão da Sociedade Portuguesa de Literacia em
Saúde. Dar voz, partilhar, ouvir atentamente, esclarecer,
tornar a informação em saúde mais assertiva, mais clara e
positiva para uma melhor ação que resulte em decisões mais
responsáveis em saúde.

Muito obrigada pelo interesse na leitura deste e-book.

Cristina Vaz de Almeida


Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde

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A juventude e
os adolescentes?
“Muitas vezes o preconceito faz com que sejamos
vistos como um grupo problemático de pessoas
o que, cria barreiras para o desenvolvimento
pleno do nosso potencial. É preciso entender o
nosso universo”. (Em Nome Próprio, 2017, p. 7).

A definição de “juventude” é assumida pela A OMS (2020) define adolescentes como as


UNESCO (2022) como as pessoas com idade pessoas com idades entre 10 e 19 anos de
entre 15 e 24 anos. idade. 

No entanto, esta definição é flexível. De acordo A grande maioria dos adolescentes está, por-
com o World Youth Report (2018), existem 1,2 tanto, incluída na definição baseada na idade
mil milhões de jovens de 15 a 24 anos, que re- de “criança”, adotada pela Convenção sobre
presentam 16% da população global.  os Direitos da Criança, como a pessoa que é
menor de 18 anos. 
A experiência de ser jovem pode variar subs-
tancialmente em todo o mundo, entre países Há assim outros termos sobrepostos que são
e regiões, e juventude/jovens é, portanto, a juventude/jovens (definido pelas Nações
muitas vezes uma categoria fluida e mutá- Unidas como as pessoas dos 15 e os 24 anos)
vel. Como tal, o contexto é sempre um guia e as pessoas jovens (10–24 anos), um termo
importante na definição de juventude da usado pela OMS e outros para combinar ado-
UNESCO. lescentes e jovens.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 5


Porquê a
Não se atinge com a mesma informação e da
mesma forma a um jovem em 2022 comparati-

literacia
vamente com o que se fazia com um jovem nos
anos 90. Os contextos mudaram, o mundo tor-

em saúde?
nou-se mais globalizado, mais digital.
A investigadora Ana Pires, participante ati-
va no seminário “Os jovens e a literacia em
saúde” reconhece que “grande parte dos con-
A literacia em saúde é geralmente definida teúdos disponibilizados para os jovens estão
como “o grau em que os indivíduos têm capa- associados a publicidade, o que, muitas vezes,
cidade para obter, processar e compreender descredibiliza essa informação”.
as informações e serviços básicos de saúde
As investigadoras Ana Pires e Ana Coelho, da
necessários para tomar decisões de saúde
Universidade Atlântica, sugerem que para me-
adequadas”. (WHO, 1998).
lhorar o acesso dos jovens à saúde, “as campa-
Não existem ainda muitos estudos sobre a li- nhas que se criarem devem ter uma linguagem
teracia em saúde dos adolescentes em geral, e simples e clara, sem, no entanto, descuidar o
ainda menos no ambiente escolar em particu- rigor científico”.
lar.
Deve investir-se na imagem, não só para tor-
Apostar na promoção da literacia em saúde nar as campanhas mais apelativas, mas tam-
nas camadas mais jovens é apostar na melho- bém para ajudar na clarificação de alguns
ria da saúde e bem-estar das futuras gerações. conceitos (esquemas, imagens…). Estas cam-
Para além da gestão diária da sua própria saú- panhas devem ser divulgadas através dos
de, os jovens serão também os cuidadores do canais mais utilizados pelos jovens (redes
futuro, tanto por via descendente (filhos) como sociais), sem que, no entanto, se perca a for-
ascendente (pais ou outros familiares). ma mais tradicional de fazer chegar informa-

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ção, ou seja, estas campanhas devem também
chegar às escolas e serem apresentadas, por
exemplo, em contexto das aulas de cidadania,
onde podem também ser apresentadas atra-
vés de jogos (gamificação) e/ou outras formas
de educação não-formal, que são sempre mais
apelativas para os jovens.
A realização de debates, também poderá fa-
cilitar a criação de ambientes mais descontraí-
dos que permitam aos jovens colocar ques-
tões/dúvidas/preocupações de forma mais
descontraída.
A utilização  de plataformas como a que a
Sociedade Portuguesa de Literacia em Saú-
de está a criar para reunir comentários e su-
gestões, poderá também servir para chegar
de forma fácil e assertiva a mais jovens. 
Para a enfermeira Tânia Morgado, do Serviço
de Pedopsiquiatria do Hospital Pediátrico de
Coimbra, “é crucial incluir os adolescentes e
jovens na identificação das estratégias promo-
toras de literacia em saúde. Só numa relação
de proximidade e sensível às suas necessida-
des podemos implementar intervenções efi-
cazes”.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 7


Paralelamente, o crescente risco da desinfor-
mação e das fake news tem vindo a aumentar,
pela ausência frequente de “filtros” no que diz
respeito à idoneidade e relevância da informa-
ção disponível online.
A Dr.ª Cecília Nunes, gestora de ensaios
clínicos, Presidente da Comissão de ética da
SPLS e participante ativa no debate, sublinha:
“Todos sabemos que há muita (muita mesmo)
informação a circular por múltiplas fontes.
É por isso necessário saber fazer a diferença
para conseguir levar um jovem a procurar
informação nos sítios e canais que sejam fiáveis
e distinguir essa informação das fake news”.

A literacia em Stellefson et al. (2011) sublinham também que,


embora a atual geração de jovens tenha aces-

saúde digital so a uma multiplicidade de informações sobre


saúde na Internet, o acesso por si só não garan-
te que sejam especializados nas pesquisas na
Internet sobre informações de saúde.
A literacia em saúde digital refere-se à capaci- Assim, o risco de baixa literacia em saúde,
dade de os indivíduos procurarem, encontra- acresce também a baixa literacia em saúde
rem, compreenderem e avaliarem a informa- digital, face ao risco elevado de não conseguirem
ção de saúde a partir de recursos eletrónicos compreender e avaliar a informação de saúde a
e aplicarem esses conhecimentos para resolver partir de recursos eletrónicos e aplicarem esses
ou resolver um problema de saúde (Norman & conhecimentos para resolver um problema de
Skinner, 2006). saúde.
Os jovens da atualidade nasceram e cresceram Ghaddar et al. (2012) fizeram uma pesquisa
num mundo dominado pelo digital, navegan- on-line com uma amostra aleatória transver-
do pela internet e suas plataformas de consu- sal de estudantes do liceu no Sul do Texas com
mo partilhado de uma forma muito intuitiva, avaliação da literacia em saúde pelo eHEALS
rápida e lógica. A quantidade de informação a e pelo New Vital Sign (NVS) e dos 261 alunos
que têm acesso no seu dia a dia nunca foi tão que completaram o inquérito, verificaram que
grande. literacia em saúde foi positivamente associada

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à autoeficácia e à procura de informação de (4) Os poucos estudos que investigam a litera-
saúde online. Os autores (Ghaddar, et al., 2012) cia dos adolescentes e a literacia em saúde
concluíram que uma exposição a uma fonte mostraram que a baixa literacia e a baixa
credível de informação em saúde online está literacia em saúde está associada a com-
associada a níveis mais elevados de literacia portamentos de risco, incluindo o uso de
em saúde. tabaco, comportamentos problemáticos,
Os autores recomendaram que seria impor- obesidade, e níveis mais baixos de com-
tante incorporar no currículo educação para a portamentos promotores da saúde;
saúde escolar dos estudantes informação de (5) A maior literacia em saúde e a maior lite-
saúde online credível para promover a literacia racia em saúde digital capacitam os jovens
em saúde. para decisões mais conscientes e respon-
Segundo Ghaddar et al. (2012), e acrescen- sáveis sobre a sua saúde e a dos seus pa-
tando a nossa visão sobre o tema, o acesso, res com quem se identificam (para além da
a compreensão, o uso da informação e dos família).
recursos em saúde, assim como a promoção Num estudo recente de Dadaczynski, Okan,
da literacia em saúde entre os adolescentes Messer et al. (2021), os motores de busca, por-
são essenciais pelas seguintes razões: tais de notícias e sites de órgãos públicos
(1) Os adolescentes estão a desenvolver com- foram os mais utilizados pelos estudantes
portamentos e hábitos de saúde ao longo como fontes para procurar informações so-
da vida, e as competências que tiverem em bre a COVID-19 e assuntos relacionados. Es-
literacia em saúde podem apoiar estilos de tudantes do género feminino usaram as redes
vida informados mais na procura de saúde; sociais e portais de saúde com mais frequên-
cia, enquanto os estudantes do género mascu-
(2) Os adolescentes são futuros utilizadores lino usaram a Wikipédia e outras enciclopédias
independentes do sistema de saúde, e os baseadas na web e o YouTube com mais fre-
jovens adultos que têm mais literacia em quência.  O uso de redes sociais foi associado a
saúde podem contribuir para uma redução uma baixa capacidade de avaliar criticamente
de maus resultados de saúde; as informações, enquanto o contrário foi ob-
(3) Os adolescentes estão a usufruir e a aceder servado para o uso de sites públicos. Entre as
cada vez mais a serviços de saúde online, conclusões da investigação de Dadaczynski et
uma vez que também os sistemas de saú- al. (2021), embora a literacia digital em saúde
de têm evoluído para serviços baseados na esteja bem desenvolvida em estudantes uni-
Internet, e acrescentamos, como foi o caso versitários, há ainda muitos estudantes com
desta pandemia, COVID-19; dificuldades em avaliar informações.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 9


Enfermeira Patrícia Martins
Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de
Literacia em Saúde (SPLS)
Enfermeira Especialista em Enfermagem
Comunitária na ARSLVT

De acordo com estudos realizados em Portu- colar, estabelecido através da Lei nº 60/2009,
gal, há uma necessidade premente de desen- de 6 de agosto. No entanto, atentos os resul-
volver ecossistemas promotores de saúde e tados dos últimos estudos, importa refletir na
bem-estar, através da implementação de pro- avaliação da execução dos programas de edu-
gramas de literacia em saúde para crianças cação para a saúde implementados nas esco-
e jovens, de forma a capacitá-los na tomada las e nos baixos níveis de literacia em saúde dos
diária de decisões informadas e esclarecidas. jovens, sendo que o currículo formal sobredi-
A título de exemplo, o estudo realizado duran- mensionado, com mais tempo afeto à educa-
te a pandemia, em Portugal, sobre a literacia ção para a saúde e a capacitação e formação
em saúde nos estudantes do ensino superior,
dos profissionais na promoção da educação
permitiu concluir que 44% dos jovens têm um
para a saúde em ambiente escolar, apresen-
nível de literacia baixo ou problemático. Os es-
tam-se como duas melhorias necessárias.
tabelecimentos de educação e ensino são, por
excelência, um ambiente privilegiado para a A constituição de equipas técnico científicas
promoção e educação para a saúde, tendo já multidisciplinares e intersectoriais promoto-
Portugal bastantes projetos e programas im- ras dos programas de literacia em saúde, com
plementados nas escolas como é o caso do formação específica em modelos, estratégias e
Programa Nacional de Saúde Escolar, a Rede técnicas de literacia em saúde e comunicação,
de Escolas Promotoras de Saúde e o regime que promovam formação contínua interpares,
de aplicação da educação sexual em meio es- acompanhem e apoiem os profissionais no

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planeamento, nas intervenções, na monitori- aprendizagem e experimentação do mundo,
zação e na avaliação destes programas, apre- por vezes sem a necessária separação entre o
senta-se como uma iniciativa necessária. “mundo real” e o digital, é importante adotar
A literacia em saúde deve ser integrada nos estratégias de comunicação com as quais estes
currículos ao longo do percurso académico das se identifiquem dentro das redes sociais e de
crianças e jovens, nos diferentes níveis de en- outros canais de comunicação por eles utiliza-
sino e nas diferentes áreas científicas, não ape- dos, permitindo melhorar o acesso à informa-
nas nos cursos da área da saúde, sendo que ção, em saúde, disponível e objeto de partilha.
estes programas devem privilegiar a participa- O incremento das competências digitais das
ção ativa das crianças e jovens, desde a fase do crianças e dos jovens reclama o desenvolvi-
planeamento à avaliação da execução dos pro- mento das competências digitais parentais,
jetos/programas, auscultando as suas neces- designadamente na utilização de ferramentas
sidades, motivações e crenças, integrando as digitais que permitam a vigilância e supervi-
suas estratégias e a educação por pares, o que são dos conteúdos, os quais, em algumas cir-
valorizará sempre a sua participação, o desen- cunstâncias, colocam a saúde e vida em peri-
volvimento de competências sócio emocionais go, como se verificou com o “Desafio da Baleia
e o envolvimento de toda a comunidade esco- Azul”, o “Momo”, o “Homem Pateta”, o “Mel
lar e a sociedade, o que se revela determinante Congelado”, o “Íman”, e mais recentemente o
no sucesso dos projetos. A intervenção junto “Blackout Challenge”, desafio lançado na apli-
dos jovens NEET (Not in Employment Educa- cação TIK TOK, com bastante impacto por ter
tion or Training) deve ser integrada em pro- levado o jovem Archie Battersbee, de 12 anos,
gramas de intervenção comunitários, sendo à morte. Estes exemplos de desafios online
que no âmbito dos programas e das dinâmicas que acarretam sequelas físicas e psicológicas
da comunidade, os profissionais de saúde de- e o aumento de casos de suicídio nos adoles-
vem promover as competências de literacia em centes obrigam a repensar a atuação e atenção
saúde também dos stakeholders locais. redobrada que se requer, cada vez mais, aos
Sendo a Geração Z e a Geração Alpha nativos encarregados de educação, sem descurar a in-
digitais com novas formas de relacionamento, tervenção juntos das crianças e jovens.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 11


Diogo Franco Santos
Jovem médico de Medicina Geral e Familiar

“No contexto específico da Medicina Geral contacto interpessoal em pleno século XXI.
e Familiar, e enquanto médico de família, Estes viram a sua popularidade aumentada
penso que o papel destes profissionais de após a instalação da pandemia de COVID-19,
saúde passa sobretudo por assegurar, a par e definitivamente “chegaram para ficar”, pelo
de uma comunicação eficaz na consulta (com que importa incentivar ao investimento, a
linguagem adequada e perguntas abertas), nível superior, nestas redes de contacto, com
canais de comunicação alternativos e com- melhoria dos circuitos eletrónicos e também
plementares do espaço físico da consulta, e através da formação dos profissionais que
com os quais os jovens se identificam, sendo deles fazem uso no dia a dia, e que tantas
de destacar a teleconsulta e o email, pela maior vezes se deparam com constrangimentos
familiaridade e conforto que proporcionam no neste contexto.

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Highlights sobre a
participação
dos jovens
na saúde

• Necessária participação ativa nos programas • Criar uma disciplina “Saúde”, “Literacia em
de promoção da literacia em saúde; Saúde” desde o 1.º ciclo do ensino básico
em que possam ser envolvidos ativamente;
• Auscultação dos interesses e motivações
dos jovens sobre a sua saúde e caminhos a • Mais e melhor investimento nas Escolas sau-
seguir; dáveis com participação dos jovens nas es-
tratégias e políticas que conduzam a estilos
• Compreender o conteúdo das redes sociais e
de vida mais saudáveis, a maior compreen-
plataformas de consumo partilhado;
são de fatores de risco e a decisões que se
• Fazer uso do que estes jovens consomem: querem mais acertadas.
material audiovisual de curta duração -
pequenos vídeos;
Esta é uma tarefa a ser planeada, implementa-
• As particularidades geracionais dos jovens da e monitorizada não só pelos profissionais
adultos (sobretudo Geração Z), questões de saúde, mas também com envolvimento dos
ambientais, relacionadas com a sustentabi- profissionais do setor social, pais e encarrega-
lidade, proteção do ambiente e da natureza, dos de educação, professores, e restante rede
os direitos LGBTIQ; comunitária na qual os jovens estão inseridos.

• Considerar a importância da teleconsulta e o Os jovens devem estar envolvidos no processo


uso do telemóvel para envio de mensagens de criação de programas de literacia em saúde
sms podem ser meios auxiliares de comuni- desde o início da sua conceção, tendo em linha
cação e disseminação de informação; de conta as suas ideias e necessidades, com

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 13


vista à construção de informação que respon- Entre os projetos desenvolvidos por duas in-
de, de forma eficaz e pelos meios mais adequa- vestigadoras inclui-se o projeto PEN (Period
dos, às suas dúvidas e preocupações. Empowerment Network) para desmistificar a
Estes viram a sua popularidade aumentada menstruação, o projeto Erasmus + (YHL – Youth
após a instalação da pandemia de COVID-19, Health Literacy) que pretende contribuir para
e definitivamente “chegaram para ficar”, pelo melhorar a literacia em saúde dos jovens, no-
que importa incentivar ao investimento, a nível meadamente através da produção de manuais,
superior, nestas redes de contacto, com melho- para trabalhadores e organizações juvenis. 
ria dos circuitos eletrónicos e também através Dadaczynski et al., (2021), referem ainda que
da formação dos profissionais que deles fazem é necessário fortalecer as capacidades de lite-
uso no dia a dia, e que tantas vezes se deparam racia digital em saúde dos estudantes univer-
com constrangimentos neste contexto. sitários usando intervenções personalizadas,
Torna-se, portanto, pertinente, fazer chegar assim como melhorar a qualidade das infor-
aos jovens informação em saúde através dos mações relacionadas com a saúde na internet.
meios digitais, nomeadamente com conteúdo Segundo a UNESCO (2022), os jovens são in-
interativo e apelativo, enquanto se divulgam centivados à ação, desde a conceção até a im-
os locais com informação fidedigna. plementação e acompanhamento, nas suas
Para as investigadoras Ana Pires e Ana Coe- comunidades por meio da ampliação de inicia-
lho, “qualquer iniciativa necessita sempre de tivas lideradas por jovens e na agenda política,
agentes dinamizadores, que as promovam e através da integração das suas preocupações
esclareçam junto dos jovens habituados a ace- e problemas. Para isso, a UNESCO também in-
der quase espontaneamente a informação di- centiva os Espaços da Juventude, que visam
gital, mas que na realidade, não lhes dedicam capacitar os jovens, fomentar e apoiar sua
o tempo necessário para construírem um co- ação, promover parcerias e garantir seu re-
nhecimento mais crítico sobre o assunto. conhecimento e visibilidade.

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Os NEET
(Neither in Employment Nor
in Education
or Training)
O que são
os NEET?
Segundo a definição
da OCDE (2022, a
definição de jovem sem
emprego, educação ou
formação (NEET)

Os jovens em educação incluem os que fre- estão empregadas, não estão na educação for-
quentam o ensino a tempo parcial ou a tem- mal nem em formação.
po inteiro, mas excluem os que frequentam o Os NEET resultam muitas vezes de uma ramifi-
ensino não formal e as atividades educativas cação anónima e polarizada de pessoas em co-
de muito curta duração.  O emprego é defini- munidades sem grandes redes de suporte, da
do de acordo com as Diretrizes da OCDE/OIT falta de políticas específicas para integrar de
e abrange todos aqueles que exerceram tra- forma preventiva em processos ocupacionais,
balho remunerado por pelo menos uma hora estes jovens que acabam, por várias razões por
na semana de referência da pesquisa ou esti- abandonar todo o sistema educacional ou de
veram temporariamente ausentes desse tra- aprendizagem.
balho. Portanto, os jovens NEET podem estar
Depois de uma série de falhas escolares, de en-
desempregados ou inativos e não envolvidos
tradas e saídas de empregos precários, estes
na educação ou formação.
jovens ficam como que “pendurados” num sis-
Isto significa que são pessoas jovens, que não tema que diz que são Neither In Employment

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Nor In Education Or Training, e este próprio A nível escolar, a criação de um ambiente de
termo assim definido, acaba por ser estig- segurança e bem-estar, por parte de toda a
matizante pela própria definição. E as pala- comunidade escolar e dos grupos de perten-
vras têm poder. ça dos jovens é um fator promotor da literacia
Com uma forte componente de responsabi- em saúde.
lidade social, o projeto que culminou no livro Outro dos passos para se evitarem situações de
feito a várias mãos “Em Nome Próprio” deu NEET parece ser o desenvolvimento de compe-
voz a experiências reais e contadas em nome tências parentais.
próprio, de um grupo de jovens de uma escola
em Lisboa. Foi também um livro que permitiu Foi dito pelos intervenientes que marcou o de-
a participação comunitária. bate sobre os jovens e a literacia em saúde que
é importante “trabalhar a parte do ambiente e
“Em Nome Próprio” permitiu e deu liberdade
a segurança a nível escolar. É importante criar
a expressões e comentários livres por parte de
um conjunto de estratégias que envolvem os
um grupo de cerca de 50 jovens, reveladores do
pais, encarregados de educação, diretores de
sentimento de cada um. Estas manifestações
turma, entre outros, para este fim”.
de vontades, de crenças e avaliação das barrei-
ras que estão por detrás destes NEET “ajudam Este desenvolvimento de competências paren-
a perceber que eles são fruto também de um tais e outras também deve ser construído com
determinado contexto, que corre a par da difi- base num criando um meio positivo, para que
culdade socioeconómica, contextos habitacio- as as mensagens de saúde sejam rececionadas
nais, oportunidades de melhoria, ausência de de forma mais produtiva.
competências parentais, sendo também uma
Para além destas competências que permitem
oportunidade para fazerem melhores políticas
um desenvolvimento relacional, comunicacio-
públicas, com estratégias inovadoras, capazes
nal entre pais, jovens e escola, os profissionais
de ver os adolescentes como atores da sua pró-
pria história (2017, p. 7). de saúde devem também estar preparados
para compreender este enquadramento espe-
No âmbito do seminário sobre “Os Jovens e a
cífico, munindo-se de ferramentas de literacia
Literacia em saúde” foram destacados pelos
em saúde que os apoiam na promoção de uma
oradores, o médico Diogo Franco Santos e a
melhor literacia em saúde destas populações.
Enfermeira Patrícia Martins a “necessidade da
existência de programas escolares, em par- A procura de informação online sobre saúde é
ceria com instituições de saúde, que visem a uma ferramenta incontornável quando se fala
promoção de competências de literacia em de jovens.
saúde”.

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Que preocupações e
desafios têm os jovens?

A razão por que os adolescentes não navegam neidade e relevância da informação disponível
no sistema de saúde tão extensivamente como online.
adultos é porque são geralmente saudáveis Cristina Ribeiro, Enfermeira na USP do ACeS
(Ghaddar, Valerio, Garcia & Hansen, 2012). Maia Valongo - ARS Norte, destaca que face aos
Identificar os principais desafios no sentido de recursos o processo tem de ser iniciado por um
cativar os jovens para os tornar cidadãos infor- bom diagnóstico de saúde das “nossas popula-
mados passa por uma reflexão crítica e partici- ções” e depois partir para a elaboração de pro-
pativa. É importante ter em conta os perfis de jetos envolvendo os jovens em ambientes que
ação, opções de vida, tendências, preocupa- não são só os dos estabelecimentos escolares.
ções comuns à maioria destes jovens. A enfermeira Paula Taborda reforça esta ideia,
A quantidade de informação a que têm acesso em que é necessário existir um diagnóstico
no seu dia a dia nunca foi tão grande, no en- prévio, e nesta linha de pensamento, afirma
tanto também o risco da desinformação e das que deve ser feito o levantamento das necessi-
fake news tem vindo a aumentar, pela ausência dades de formação em cada região, concelho,
frequente de “filtros” no que diz respeito à ido- cidade, para depois se poderem fazer planos

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 17


mais concretos, adaptados e exequíveis, que inquietos originários de potenciais ameaças
conduzam a resultados positivos. à sua segurança e privacidade dos dados.
O desafio é conseguir primeiro uma boa estra- Parece-nos lúcido querer primeiro saber qual o
tégia, com objetivos bem definidos, e só depois terreno, qual o perfil, quais os problemas exis-
avançar para ações concretas. tentes, que perceções têm os jovens dos vários
Por exemplo, no estudo de Stellefson et al. temas relacionados com a sua saúde, que re-
(2011), os estudantes relataram relutância cursos existem, e só depois avançar concreta-
em usar aplicativos interativos de Internet mente e intervir de forma muito personalizada
para fins de comunicação em saúde ele- e adaptada para este tipo de público jovem.
trónica com os profissionais de cuidados de
E isto é literacia em saúde, que envolve comu-
saúde e segundo estes autores este achado
nicação em saúde, gestão de recursos, métri-
revelou-se nos Estados Unidos e também num
cas, medidas para avaliar, um olhar sobre o
estudo finlandês.
contexto, a avaliação de fatores de motivação e
Nesta investigação (Stellefson et al., 2011), os
as competências necessárias, e aí, sim, depois
estudantes não se importaram de usar a inter-
agir de forma muito mais fortalecida.
net para procurar informações de saúde pes-
soal, mas tiveram resistência em receber fee- É necessário pois compreender que há muitos
dback individualizado sobre preocupações ou fatores de gratificação imediata (likes, stories,
problemas de saúde pessoal por meio da inte- vídeos) e que estes fatores são organizados
ração com um profissional médico qualificado. geralmente por estratégias de marketing ou
Esta questão poderá estar ligada a problemas de influência que os faz decidir com o sistema
contextuais de segurança da Web que afetam a 1, como Kahneman (2012) referia aos atos por
confidencialidade. impulso, os correspondentes ao cérebro rep-
A questão da confiança ao usar a Internet tiliano, em vez de ser com o sistema 2, mais
para procurar e partilhar informações mé- ponderado e reflexivo. E isto acontece não
dicas é importante, assim como saber quais apenas com os jovens. O ser humano está sem-
fontes de informações de saúde baseadas pre pronto para fazer atalhos, e por isso mes-
na Web que os estudantes universitários mo, com risco de enviesamentos (Kahneman,
consultam e que lhes causam sentimentos 2012).

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Assim, no desenvolvimento das suas melhores vieses que levam a decisões de maior risco
competências – conhecimento; capacidades; (fumar, beber, alimentação, droga, e outras
atitudes e atributos pessoais – estes temas adições) e com piores resultados. Para a saúde
relacionados com as gratificações imediatas desta geração. (Quadro 1).
devem ser debatidos para esclarecimento dos

Quadro 1. Desafios a considerar para uma maior literacia em saúde dos


jovens

1. Permitir que o jovem esgote a sua agenda 6. Perceber as crenças, motivações intrín-
na consulta, e por isso, escutá-lo com “es- secas/extrínsecas e preocupações dos jo-
cuta ativa; vens, tendo em conta o contexto social e
2. Não interromper ao fim de 30 segundos. geográfico;
Deixá-lo falar pelo menos 1 minuto (estu- 7. Replicar as boas práticas de Literacia de
do que refere que o profissional de saúde Saúde, perceber o que funcionou e o que
interrompe o utente, em média, cerca de pode ser melhorado, e sobretudo, usar as
23 segundos após ele ter começado a fa- técnicas da literacia em saúde;
lar); 8. Utilizar a teleconsulta como aproximação
3. Utilizar perguntas abertas, por exemplo: aos meios digitais, pois é mais apetecível
“O que é que eu posso fazer por si?”; ou desejável para os jovens;
4. Disponibilizar contacto por email ou por 9. Considerar que os jovens que nasceram já
móvel (contato via sms) ao jovem como em ambiente digital têm posturas diferen-
via de esclarecimento de dúvidas fora do tes em relação ao mundo. É preciso com-
espaço físico da consulta; preender as diferenças dos Millenials e da
5. Incutir a noção da prevenção da doença Geração Z e Alpha.
(evitar a doença) e da promoção da saúde
(ter um estilo de vida saudável);

Fonte: Elaboração própria, baseado na recolha de dados do seminário sobre Literacia em Saúde e os Jovens
(16 maio 2022).

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 19


Quais os caminhos para os
jovens aumentarem a sua
literacia em
saúde?
Os jovens da atualidade nasceram e cres- percorrer prendem-se com soluções ou cami-
ceram num mundo dominado pelo digital, nhos construtivos que se baseiam na maior
navegando pela internet e suas plataformas literacia em saúde dos jovens:
de consumo partilhado de uma forma muito Apostar na promoção da literacia em saúde
intuitiva, rápida e lógica. nas camadas mais jovens é apostar na melho-
Entre as várias soluções apresentadas, e a con- ria da saúde e bem-estar das futuras gerações,
sideração da facilidade e rapidez de acesso a e avaliar e implementar as seguintes dimen-
que os jovens estão habituados no acesso à sões (Quadro 2).
informação pelo meio digital, os caminhos a

Quadro 2. Acesso, Compreensão e uso


ACESSO
Um Acesso à saúde através do meio digital credível.
Neste sentido, é importante fazer chegar aos jovens informação em saúde através dos meios digitais,
nomeadamente com conteúdo interativo e apelativo (ex: pequenos vídeos).
COMPREENSÃO
Uma aposta em meios que permitam uma maior compreensão destes públicos jovens.
É importante, por isso, divulgar os locais com informação fidedigna, com envolvimento dos trabalhado-
res do setor social, pais/encarregados de educação, professores, e restante rede comunitária na qual os
jovens estão inseridos.
USO
Neste sentido, é essencial que os jovens estejam envolvidos no processo de criação de programas de li-
teracia em saúde desde o início da sua conceção, tendo em linha de conta as suas ideias e necessidades.

Fonte: elaboração própria.

20
Para a Enfermeira Paula Taborda, a participa- Por isso, mostrar o caminho com emoção e
ção é muito importante, e tem de haver um pensamento racional para a decisão mais certa
ponto de viragem na forma como se faz a abor- parece ser a forma de levar a um pensamento
dagem aos vários temas, fazendo com que se- mais crítico destes jovens em constante evolu-
jam os jovens a criar os materiais e a refletirem ção. (Quadro 3).
nas questões, embora com a orientação do
profissional de saúde.

Quadro 3. Como cativar os jovens a interessarem-se por literacia em


saúde?

• Saber ouvir as suas necessidades, preocu- te esta retroalimentação e discutir ideias,


pações e crenças; “passar-lhes o microfone” e comentar as
• Ajudar a gerir as suas emoções que vão evo- ideias, orientando com sugestões adequa-
luindo entre os 12 anos e a idade adulta; das;

• Compreender que o mundo digital é user- • Ter em conta as tendências destes grupos
-friendly para eles acederem à informação; – Millenial, Geração Z e Alpha que estão
associados a uma maior consciencialização
• Dar visibilidade ao que fazem. O elogio da
ambiental, aos direitos LGBTQI, à eco-
construção positiva de caracter, a positivi-
-ansiedade, e ao crescimento natural no
dade da ação responsável;
meio digital.
• Dar feedback ou usar de forma constan-

Fonte: Elaboração própria, baseado no Webinar “Os jovens e a Literacia em saúde”, 16 maio 2022.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 21


A transição da
universidade
para o mundo
do trabalho
• Tem de haver um ponto de viragem na abor-
dagem aos vários temas, fazendo com que
A inclusão de programas de literacia em saú- sejam eles (os jovens) a criar os materiais e
de na formação pré e pós-graduada das várias refletirem nas questões, claro com orienta-
áreas de saber poderá ajudar a colmatar as ção do profissional de saúde.
barreiras relativas ao acesso, compreensão e Embora a informação em saúde estar disponí-
utilização da informação em saúde. vel através de várias plataformas na internet,
A Enfermeira Paula Taborda relata que é preci- como o caso do Portal da Saúde ou da Direção-
so fazer alguns investimentos, nomeadamen- -Geral da Saúde (DGS, 2019) e haver formas de a
te: obter por outras vias também credíveis (livros,
televisão, revistas, jornais), torna-se imperati-
• Começar nas escolas, envolvendo os jovens
vo estimular, dar conhecimento e aconselhar
nos projetos que forem criados;
sobre a informação mais correta e adequada.
• Criar núcleos em que eles sejam os princi-
Muitas vezes é uma questão de o jovem “não
pais atores, em que os profissionais de saú-
saber onde procurar informação” (Nunes &
de serão como uma “bengala”;
Vaz de Almeida, 2020; Nunes, Almeida & Belim,
• Fazer levantamento das necessidades de 2020).
formação em cada região, concelho, cidade;

22
A sustentável leveza
do digital
Para haver uma ação mais exequível junto des- desenvolvido no âmbito da Pós-Graduação
ta população-alvo, que são os jovens, é preciso “Literacia em Saúde na Prática” (ISPA, 2021)
compreender que existe uma sustentável le- na análise de um grupo de jovens de Portugal
veza do digital. Inevitável e que está para ficar e do Brasil para obtenção de informação
para sempre. sobre hipertensão arterial, o que “espelha as
Assim, é preciso transformar as ameaças em semelhanças geracionais desta população e
oportunidades e as fraquezas em forças. que ultrapassam a barreira geográfica”.

O médico Diogo Franco Santos sublinha: “tudo Como existem redes muito direcionadas para
o que implicar mais do que um clique já é uma os mais jovens, como o TikTok e Instagram,
barreira, e por isso precisamos lembrar quem torna-se necessário uma auditoria constante a
faz as estratégias de comunicação em saúde estes conteúdos por parte das organizações de
que os formatos físicos estão em desuso”. saúde, que devem em permanência fazer esta
O médico dá como exemplo que mesmo os ma- triagem e denunciar o que pode por em risco
nuais escolares serão provavelmente digitais a saúde dos jovens, como sejam os apelos ao
dentro de poucos anos, além de que poderão suicídio e a adulteração das histórias para se
estar associados a um custo (ex: requisição de obterem muitas vezes resultados de aumento
um livro numa biblioteca). de seguidores.

Uma boa solução de contato, refere Diogo A necessidade de haver maior garantia e, por
Franco Santos, “pode passar pela criação de isso, mais supervisão foi alvo da reflexão no se-
vídeos muito curtos, de 1 minuto, que são o minário sobre os Jovens e a literacia em saúde.
formato preferido pelos jovens Millennials”. A palavra de ordem foi a credibilidade e a ido-
Esta afirmação baseia-se nos resultados obti- neidade das fontes relacionadas com a saúde,
dos através de um trabalho de investigação e não só.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 23


O papel do profissional de
saúde na promoção
da literacia em
saúde juntos
dos jovens

Todos os profissionais das áreas da saúde são Este acompanhamento ao longo da sua vida
importantes para o contributo de uma maior permite uma melhor atuação, conhecimento
literacia em saúde dos jovens. da família e dos recursos da comunidade.
Segundo o médico Diogo Franco Santos há O especialista em Medicina Geral e familiar
uma importância evidente do médico de fa- refere que o perfil do médico de família tem
mília e das suas competências, que implicam uma “posição privilegiada junto do utente
uma maior proximidade e uma abordagem ao para a promoção da literacia em saúde,
longo do ciclo de vida. funcionando como gatekeeper do utente no
Serviço Nacional de Saúde”.

24
Uma boa comunicação
é a chave mágica
No processo de acompanhamento dos jovens, de integração das soluções de cuidados e de
a comunicação é a chave, quase mágica que ligação com a comunidade, pelo que será im-
separa a compreensão da incompreensão, a portante perceber e fortalecer a ideia que a li-
razão da incerteza. teracia em saúde pode ser construída e traba-
lhada em qualquer local e não só nos centros
Em saúde a comunicação é uma chave potente
de saúde ou hospitais.
que abre as portas do entendimento.
A presença e a representatividade dos profis-
Conforme também Watzlawick et al. (1967)
sionais de saúde nos vários meios de comu-
sublinhavam, “tudo é comunicação”, e tudo o
nicação que são usados pelos jovens como,
que nós fazemos é comunicar, seja por meios
por exemplo, os filmes das plataformas de
físicos, digitais, por forma verbal e não verbal.
vídeos como a Netflix permitem a passagem
Para além dos profissionais de saúde encon- de mensagens corretas e verdadeiras sobre
tram-se as organizações, de saúde e outras, e saúde, auxiliando o papel de outras interven-
uma das conclusões do seminário sobre os jo- ções, que devem ser feitas de forma integrada,
vens e a literacia em saúde fortaleceu a ideia agregada e não de forma isolada.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 25


Contributos de
participantes no
seminário online

26
Ana Pires & Ana Coelho
Professoras no Ensino Superior

“Na nossa opinião, para melhorar o acesso dos A realização de debates, também poderá facili-
jovens à Saúde, as campanhas que se criarem tar a criação de ambientes mais descontraídos
devem ter uma linguagem simples e clara, sem, que permitam aos jovens colocar questões/dú-
no entanto, descuidar o rigor científico. Deve vidas/preocupações de forma mais descontraí-
investir-se na imagem, não só para tornar as da. Naturalmente, esta opção pode carecer de
campanhas mais apelativas, mas também para formação adicional aos docentes envolvidos. 
ajudar na clarificação de alguns conceitos (es- A utilização de plataformas como a que a So-
quemas, imagens…). Estas campanhas devem ciedade Portuguesa de Literacia em Saúde está
ser divulgadas através dos canais mais utiliza- a criar para reunir comentários e sugestões po-
dos pelos jovens (redes sociais), sem que, no derá também servir para chegar de forma fácil
entanto, se perca a forma mais tradicional de e assertiva a mais jovens. No entanto, reforça-
fazer chegar informação, ou seja, estas campa- mos que qualquer iniciativa necessita sempre
nhas devem também chegar às escolas e serem de agentes dinamizadores, que as promovam
apresentadas, por exemplo, em contexto das e esclareçam junto dos jovens habituados a
aulas de cidadania, onde podem também ser aceder quase espontaneamente a informação
apresentadas através de jogos (gamificação) e/ digital, mas sem lhes dedicarem o tempo ne-
ou outras formas de educação não-formal, que cessário para construírem um conhecimento
são sempre mais apelativas para os jovens. crítico sobre o assunto.”

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 27


Filipa Serra
Higienista Oral, Mestranda em Higiene Oral

“O Programa Nacional de Promoção da Saúde oral, e outros que surgem quase automatica-
Oral (PNPSO), desenvolvido pela DGS, prevê o mente conforme a situação em causa. É disso
acompanhamento de crianças e jovens desde exemplo o tema saúde mental e ansiedade, o
o momento em que as suas mães se encontram qual surge quando as crianças se apresentam
grávidas até à idade dos 18 anos. com medo na consulta ou em crianças que têm
Nos centros de saúde onde existe um(a) higie- bruxismo; o tema controlar a diabetes surge
nista oral (HO), as crianças, preferencialmente, quando um jovem se apresenta diabético e
começam a ser observadas nos seus estabele- com uma má higiene oral; o tema tabaco e os
cimentos de ensino pré-escolar e são interven- seus malefícios surge quando o jovem se apre-
cionadas individualmente em consulta com senta com manchas castanhas, tártaro ou com
o mesmo profissional aos 4 anos, se livre de hálito característico, entre muitos outros.
cáries em dentes decíduos, e aos 7, 10 e 13 Muitas vezes, quando a criança e jovem são
anos, se livre de cáries em dentes definitivos. acompanhados pelos pais, também estes se
Numa consulta com um HO, apesar desta ter sentem seguros e acabam também a pedir
um propósito específico, definido pelo PNPSO, conselhos para si mesmos.
a criança ou jovem é visto como um todo e sen- Assim, a consulta de referenciação com um
do o higienista oral um profissional que na sua higienista oral, que acompanha a criança em
essência fornece educação e cuidados, conse- vários ciclos da sua vida e que, ao longo do
gue criar um ambiente empático, quase confi- tempo, constrói uma relação de grande proxi-
dente e de grande proximidade onde de tudo midade e empatia, poderá ser uma das formas
um pouco é falado. de capacitação dos jovens com mais e melhor
Existem os temas obrigatórios tais como ali- informação em saúde.”
mentação saudável e bons hábitos de higiene

28
Liliana Bilou
Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária,
Mestre em Enfermagem Comunitária e de Saúde
Pública.

“Sou enfermeira nos cuidados de saúde primá- De forma a promover a literacia em saúde, na
rios, a exercer atividade numa unidade de saú- minha opinião, e falando do tipo de cuidados
de familiar, pelo que o atendimento que faço que desempenho, seria urgente, alterar o que
a jovens, é maioritariamente, de forma indivi- referi anteriormente, provendo a referida re-
dual em consulta de vigilância. lação e posteriormente, colocar a tecnologia
Os indicadores pelos quais a nossa atividade ao serviço da promoção da literacia em saúde.
é avaliada, contemplam cuidados mínimos, Criar grupos de jovens nas redes sociais, de for-
como avaliação de dados antropométricos e de ma controlada, em que se coloquem os jovens
consumos de álcool e tabaco. Sendo estes obri- a conversar, mas existindo um profissional,
gatórios, o que nos deixa pouco tempo e dis- que, por ter criado este elo de confiança, pos-
ponibilidade para abordar as questões cruciais sa participar; identificando desta forma pro-
sobre e para o desenvolvimento saudável dos blemas, corrigindo ideias erradas, desfazendo
jovens. É uma situação que nos causa descon- mitos, apoiando e mostrando a sua disponibi-
forto, pois não corresponde às necessidades. lidade. Fazendo tudo isto de forma imparcial,
onde não existe lugar para julgamentos que
O atendimento individual dos jovens é impor-
constituam barreiras.
tante, no entanto é necessário criar uma rela-
ção de confiança profissional=jovem. Como enfermeira de família, sei que é possí-

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 29


vel desenvolver projetos desta natureza, com Nota curricular:
grupos de outras faixas etárias e com patologia
Enfermeira Especialista em Enfermagem
crónica, pela proximidade com estes utentes.
Comunitária, Mestre em Enfermagem Co-
No entanto, considero não ser possível, se se
munitária e de Saúde Pública.
mantiverem as mesmas condições, desenvol-
ver o mesmo projeto junto do meu grupo de Exerço funções nos Cuidados de Saúde Pri-
utentes jovens, pois o contacto com eles é es- mários desde 1994, tendo acompanhado a
porádico, não existindo a proximidade neces- sua reorganização; exercendo funções em
sária para criar relações. diferentes Unidades de Cuidados como
Unidade de Cuidados na Comunidade, Uni-
Muito importante é que o profissional adquira
dade de Cuidados de Saúde Personalizados
ferramentas ao nível da comunicação assertiva
e Unidade de Saúde Familiar. Na primeira,
e das tecnologias de informação.”
a intervenção com jovens aconteceu ao ní-
vel da saúde escolar, em grupo; nas outras
duas, a intervenção com jovens decorre de
forma individual, em consulta e dentro da
unidade de saúde.

Márcio de Andrade
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária
e de Saúde Pública e Presidente da Delegação
Regional do SNE - Açores

“O jovem de hoje será o adulto e o idoso de permitam a construção de estilos de vida sau-
amanhã. Torna-se fundamental atuar com um dáveis de uma forma sustentada e responsável. 
foco estratégico de modo a alicerçar, nos de Considero que o Enfermeiro que atua na comu-
menor idade, conceitos e competências que nidade tem aqui uma responsabilidade maior

30
no que toca a este processo de capacitação e focados nos seus interesses e anseios. Plata-
empoderamento dos jovens nos dias que cor- formas estas, que garantam a flexibilidade e
rem. A especificidade da formação de um En- a confidencialidade, de modo a  sedimentar a
fermeiro Especialista em Saúde Comunitária maior confiança dos jovens, no sistema de saú-
permite o conhecimento dos indicadores de de e nos seus profissionais.
Saúde da Comunidade onde o jovem se insere, Outra das estratégias poderá passar por desen-
permitindo também atuar a nível do seu con- volver e incrementar atividades de promoção
texto familiar e social. da saúde entre as escolas, a família, os muni-
Imperiosa é esta missiva de viabilizar, de uma cípios e projetos extraescolares, (grupos de
forma universal, a adolescentes e jovens o jovens, de teatro, escuteiros, etc.) de modo a
acesso à saúde nos seguintes níveis de inter- envolver os adolescentes e jovens nos projetos
venção: acompanhamento de seu crescimento das unidades de saúde.
e desenvolvimento; orientação e aconselha- Cada minuto dedicado à capacitação de
mento nutricional; imunizações; identificação jovens, constitui um investimento no futuro da
de fatores de risco familiar; promoção da saú- sociedade.”
de sexual e reprodutiva; prevenção de compor-
tamentos aditivos e promoção da saúde men-
tal dos Homens de amanhã. Nota curricular:
A meu ver, uma das formas, talvez a mais efi- Exerceu grande parte da sua atividade
caz, na aproximação dos serviços de saúde aos em Cuidados Intensivos de Cardiologia
jovens de hoje será recorrendo à digitalização e Internamento (CHULC). Autor e
da oferta de cuidados de saúde, sabendo que gestor da Plataforma de promoção  do
esta faixa etária é profunda e intrinsecamente Envelhecimento Ativo e Saudável: “Cuidar
tecnológica no seu dia a dia. Então, devem-se 65 +”. Autor e apresentador da Rubrica
incrementar plataformas e ferramentas digi- semanal dedicada à literacia em Saúde:
tais de divulgação de serviços e iniciativas em “Vamos falar de Saúde”, na  Rádio Azores
saúde; de marcação de consultas, rasteiros e High.
exames e de promoção da saúde, com temas

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 31


Margarida Canas
Farmacêutica Comunitária 

“Hoje em dia sem dúvida que as redes sociais e A criação de perfis no Instagram e até mesmo
a internet são muito utilizadas para a pesquisa TikTok seriam formas de aproximação aos
sobre informação em Saúde por parte dos jo- jovens. Também seria interessante envolver
vens. No então, como foi referido, nem sempre os jovens na criação de conteúdo para
a informação disponível será a mais credível, essas plataformas, por exemplo, no fim dos
pelo que é importante mostrar aos jovens quais workshops convidar os participantes a criarem
as fontes seguras a que podem recorrer. Nesse vídeos ou até mesmo pequenos textos, com o
sentido seria interessante realizar workshops acompanhamento de profissionais de saúde.
em escolas e associações para jovens, em que Outra forma de chegar aos jovens hoje em dia,
se abordaria esse assunto entre outros. Em são sem dúvida, os influencer. Julgo que con-
Cascais, por exemplo, existe o Espaço S , onde vidar personalidades, por exemplo, da área do
é feito o acompanhamento de Jovens entre os entretenimento ou desporto, e que tenham s
10 e 30 anos nas áreas de medicina, nutrição, eguidores jovens é outra forma de dar conhe-
planeamento familiar e psicologia. Pelo que é cer as várias ações realizadas no âmbito da
um exemplo de um local no qual poderiam ser literacia em saúde.” 
desenvolvidos estes workshops.

32
Maria Manuela Serrano
Assistente social

”Julgo por conveniente aumentar a literacia especializados, nomeadamente Terapeutas da


em saúde, sobretudo, dos jovens para que Fala e Terapeutas Ocupacionais e, Assistentes
sejam capazes de procurarem e promoverem Sociais, facilitando a identificação de neces-
a adoção de comportamentos de saúde, quer sidades/expetativas dos jovens e as respostas
em contexto escolar, nas famílias e na comu- adequadas, melhorando o acesso e a equidade
nidade. a cuidados de saúde,  bem como a articulação
Assim, os agrupamentos escolares devem do- com os diferentes níveis de prestação, cui-
tar-se de Gabinetes de Saúde mais ativos, com dados primários/cuidados de proximidade e
profissionais de enfermagem dos Centros de intervenções integradas, multidisciplinares e
Saúde, alocados a tempo inteiro para desen- intersectoriais.”
volverem devidamente os programas de Saú-  
de Escolar capacitando para que as atividades
de educação para a saúde sejam essenciais na Nota curricular:
formação e realização dos jovens, e que, estes,
Técnica Superior de Serviço Social na
possam ser agentes ativos de promoção da sua
Unidade Local de Saúde do Nordeste-
própria saúde, entre os seus pares, na família e
-Centro de Saúde de Bragança (Unidade
localmente na comunidade.
de Santa Maria). Docente especialmente
Por outro lado, na vertente preventiva (ras- contratada pelo IPB; com grau de es-
treios/ed.para a saúde), de acompanhamento
pecialista em Gerontologia pelo IPB; Pós
e tratamento, os agrupamentos escolares de-
graduada em Gerontologia social pelo ISSS
vem ter nos seus quadros técnicos superiores
Porto; Mestre em Gerontologia e Geriatria
pela Universidade de Aveiro.

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 33


Susana Alexandra Coelho
Dias e Sousa Araújo
ARSNorte, ACES Alto Ave, Unidade de Saúde Pública
Enfermeira especialista de Saúde Comunitária e de
Saúde Pública

“Excelentes partilhas. Os dados do estudo Eu-


ropeu são reveladores do muito que há a per-
correr. Os jovens são o nosso futuro e como tal
é com eles que devemos realizar o percurso,
e não por eles. Jovens envolvidos são jovens
participativos, são adultos mais interventivos.
Penso que a saúde deveria apostar mais nas
parcerias com a educação - Escolas Básicas,
Escolas Profissionais e Universidades, num
trabalho de proximidade com os jovens. A saú-
de beneficia de recursos que são escassos, a
educação beneficia de terrenos riquíssimos de
aprendizagem.”

34
Susana Pedras
Psicóloga investigadora 

“Penso que dentro da população “jovens”, os saúde, garantir a confidencialidade dos dados
adolescentes são os que estão em maior risco e da informação partilhada, e criar uma relação
de não ter acesso ou não procurar os cuidados terapêutica com o jovem.”
de saúde. Neste sentido, penso que a criação  
de uma Consulta para Adolescentes nos cui-
Nota curricular:
dados de saúde primários seria útil para rece-
ber os adolescentes empaticamente, de forma Psicóloga Clínica e da Saúde, doutorada em
confidencial, e sem julgamentos. Para isso Psicologia Aplicada. No âmbito da investi-
seria necessário capacitar os profissionais de gação tem desenvolvido trabalhos na área
saúde nas particularidades desta fase do ciclo da adaptação à doença crónica, adesão
de vida e contactar os adolescentes através das terapêutica e mudança comportamental.
redes sociais e utilizando novas tecnologias Na área clínica tem implementado progra-
(ferramentas de m-health). mas de promoção da saúde para crianças
e adolescentes, grupos de promoção de
Os adolescentes precisam de aceder facilmente
competências para pais e programas psi-
a um profissional de saúde que os possa ajudar
co-educativos para cuidadores informais.
de forma quase que imediata (quando sentiram
Encontra-se atualmente a desenvolver uma
o “impulso” e a necessidade de pedir ajuda).
Campanha de Educação em Saúde para au-
Este apoio pode ser disponibilizado através
mentar a literacia sobre a Doença Arterial
da marcação de uma consulta presencial, ou
Periférica, no Centro Hospitalar Universi-
on-line, através de um chat de conversação
tário do Porto, intitulada “O seu futuro é
anónimo, WhatsApp, ou através da participação
o que caminha hoje!”, juntamente com a
em grupos de discussão realizados com os
Professora Ivone Silva, médica de cirurgia
pares. O essencial na minha opinião será
vascular.
facilitar o acesso rápido a um profissional de

A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 35


Teresa Maria Fernandes Batista
Técnica Superior no Gabinete de Comunicação e
Imagem da Unidade Local de Saúde do Nordeste 

“Aproximar os jovens da Saúde através das carada, numa análise ponderada, como um de-
plataformas digitais. safio de comunicação em saúde com as faixas
A imagem e as palavras são ferramentas cru- etárias jovens, capacitando-os para assumirem
ciais na comunicação com os jovens de temá- a gestão da sua saúde como um bem-estar físi-
ticas de Saúde. A crescente utilização de pla- co, mental e social que é fundamental para que
taformas digitais por parte das faixas etárias possam viver mais anos e com mais qualidade.
jovens deve ser encarada como uma oportu- O desafio ao nível da comunicação de temáti-
nidade para comunicar mais e melhor Saúde, cas de Saúde para os jovens passará assim pela
utilizando os recursos digitais como meios de utilização das plataformas digitais, transfor-
comunicação privilegiados com a juventude, mando a sua “hiperutilização” por estas faixas
através da associação de imagens e de pala- etárias num fator positivo enquanto meio pri-
vras com as quais se identificam e que facil- vilegiado de disseminação de informação so-
mente incorporam no seu estilo de vida. bre temáticas relevantes na área da Saúde de
A originalidade combinada com alguma irreve- forma clara, simples, apelativa e credível, que
rência na transmissão de mensagens de pro- contribuirá certamente para que os jovens se
moção da saúde e de estilos de vida saudáveis tornem adultos mais saudáveis e promotores
junto dos jovens poderá ser, à primeira vista, de hábitos saudáveis no seio familiar.”
uma combinação arriscada, mas deverá ser en-

36
Referências
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A LITERACIA EM SAÚDE E OS JOVENS - 39

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