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PROJETO DE PESQUISA
I- Resumo
II- Introdução
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Sob a denominação genérica de evangélicos entendemos toda uma gama de fiéis filiados à igrejas
pentecostais e neopentecostais, mas também a algumas igrejas renovas que, não necessariamente se auto
identificam como pentecostais ou neopentecostais, mas que se aproximam do etos neopentecostal de
algumas igrejas como a Nova Vida ou Renascer em Cristo.
2
A pesquisa em questão, financiada pela Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro (FAPERJ), através do edital “Projetos Temáticos” 03/2013, é coordenada pela Professora
Cecília Mariz e Paulo Gracino Junior, conta ainda com uma equipe formada por Christina Vital da Cunha
(ISER-UFF); Flávio Sofiati (UFG);Emerson Sena (UFJF); Luciana Gonzales (UFRRJ); Marcelo Camurça
(UFJF); Rogério Ferreira de Souza (IUPERJ/UCAM) e Silvia Regina Alves Fernandes (UFRRJ). Tal
pesquisa teve como objetivo inventariar a opinião pública de jovens participantes de eventos ocorridos na
cidade do Rio de Janeiro nos anos de 2013/2014, a exemplo da Jornada Mundial da Juventude (católica),
Marcha Para Jesus (evangélica), ambas acontecendo em julho de 2013, e da Caminhada em Defesa da
Liberdade Religiosa, evento ecumênico que ocorre no mês de janeiro. A pesquisa está em fase de redação
dos resultados, sendo seus produtos (artigos) submetidos à revistas nacionais e internacionais, como a
Religião & Sociedade e Social Compass.
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Se olharmos a literatura especializada (Camargo, 1973, Martin, 1990; Mariz, 1994 e Lehmann, 2007,
entre outros), veremos que as pesquisas são unânimes em apontar que os grupos evangélicos pentecostais
fomentam um maior contraste entre seu ethos institucional e a cultura vernacular em que estão inseridas,
se comparados às demais instituições religiosos.
4
O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006 propõe a criminalização dos preconceitos motivados pela
orientação sexual e pela identidade de gênero, equiparando-os aos demais preconceitos que já são objetos
da Lei 7716/89.
5
como sua consolidação como uma força política dentro do Congresso nas eleições
posteriores não pode ser tomada como um refluxo no processo de laicização da esfera
pública brasileira, iniciado pelo processo de separação Estado/Igreja promovido pela
Constituição de 1891. A religião – institucional ou não – continuou ocupando lugar de
destaque tanto na cultura quanto na política brasileira, do Cardeal Leme à Teologia da
Libertação, do Cristo Redentor às festas religiosas que movimentam milhares de
pessoas pelo país.
No entanto, quando assistimos a embates entre movimentos organizados da
sociedade civil e líderes religiosos a respeito do lugar da religião na esfera pública,
pensamos que algo possa ter mudado desde que o catolicismo, em sua vertente
romanizada ou da libertação ocupava o centro dessas discussões. Mas o que teria
mudado com a entrada dos evangélicos e católicos carismáticos na cena pública, qual o
escopo dessa mudança? Alguns estudos já realizados nessa direção (entre outros, Mariz
et alii, 2005, Machado, 2006), tendem a sugerir quatro hipóteses a esse respeito:
1- A primeira é bastante clássica e já enunciada acima, ou seja, os grupos
pentecostais guardam um maior nível de ascese intramundana e
acreditam em uma conduta ativa na transformação do mundo. No
entanto, ao contrário do tipo ideal protestante weberiano, em nossa
hipótese, há uma tradução, nos termos que coloca Luhmann (2007), dos
processos sociais em discurso teológico. O discurso religioso é visto
como uma resposta normativa para um mundo que aparentemente está
caminhando para uma direção diferente e desastrosa (Bayer, 1990).
2- O processo descrito acima parece surgir em reação a uma
transformação/retração (?) do espaço público – tratada por autores como
Sennett (1988), Taylor (1994) e Bauman (2000) – na medida em que
ocorre o enfraquecimento do credo moderno, bem como das instituições
produtoras de sentido que sustentavam este “espaço público”. Nos dias
que correm, partidos, sindicatos e até mesmo Estados tem suas agendas
pautadas por interesses privados e de curto prazo, o que leva ao seu
enfraquecimento enquanto instituição normativa (no caso específico do
Estado) e fomentadora de debates públicos mais amplos. Tal processo
abriria espaço na arena pública para a atuação de novos atores que
pudessem, com maior eficácia, traduzir esses anseios individuais e de
6
políticos para manter os seus cidadãos do Estado engajados, e se esses discursos devem
(sic), na palavras de Habermas, ensejar valores universais e um bem comum, oque
aconteceria se os postulados de Sennett, em o Declínio do Homem público (1999) e
Taylor, em As Fontes do Self (1994) estiverem corretos? E se ao invés de um espaço
publico dialógico, como propõe Habermas, estivermos diante de uma arena pública
escassa, ou nas palavras de Sennett (1999: 28) um espaço público morto, em que a
exacerbação das relações impessoais de mercado levam a uma privatização da
sociedade e ao autocentramento na instrumentalização do mundo, de modo que o sujeito
não reconhece nenhuma demanda externa a seus self como legítima, como em Taylor
(Oliveira, 2005)?
No caso brasileiro, soma-se a esse quadro o embate político/midiático em curso
na última década, fruto de uma disputa pelo poder entre grupos políticos e
conglomerados empresariais ligados a mídia, que parece ter erodido ainda mais a
precária cultura política participativa da população brasileira. Neste bojo, bandeiras
como igualdade racial e de gênero, inclusão social, direitos humanos, passaram a ser
identificados como bandeiras estritamente ligadas ao campo da esquerda e logo
rechaçadas por diversos setores da sociedade. Paralelamente, e em consequência dessas
disputas políticas, líderes religiosos conservadores, portadores de uma moral draconiana
– no sentido que lhe dá Sennett (2006) – e pregadores de uma ética religiosa
individualista e bem afinada ao capitalismo flexível (Gracino Junior, 2008) no qual “só
os mais competentes se estabelecem”5, onde “Deus trabalha com a lei da recompensa”6,
foram empoderados e ganharam cada vez mais legitimidade pública, inclusive em meio
à população não evangélica.
Desta feita, acreditamos que o pentecostalismo/neopentecostalismo,
diferentemente do papel desempenhado pelo catolicismo e protestantismo na arena
pública brasileira – que fomentaram/fomentam discursos éticos que sustentam a adesão
dos cidadãos do Estado à comunidades universais 7 – ao fomentar uma salvação
5
Mensagem do Bispo Robson Rodovalho, Igreja Sara Nossa Terra.
(www.saranossaterra.com.br/categorias.asp?cat=7&nome=Mensagem%20do%20Bispo; site acessado em
14/12/2006).
6
Pregação do Pastor Silas Malafaia. Uma vida de prosperidade. Programa Vitória em Cristo,
(02/06/2012).( https://www.youtube.com/watch?v=kDFmctcG2GY. ; site acessado em 15/11/2016).
7
Aqui, remetemo-nos, principalmente, ao trabalho de Maria das Dores Machado, Religião e
homossexualidade (2010), em que a autora analisa as percepções de líderes religiosos quanto a
homossexualidade. Neste trabalho Machado mostra que os líderes católicos enfatizam o princípio da
misericórdia e a noção da compaixão, “trazendo para o campo da sexualidade orientações da CNBB para
o atendimento de segmentos marginalizados da sociedade capitalista brasileira” (Machado, 2010: 54), ao
passo que os advindos do protestantismo tradicional, concentraram-se no caráter privado da sexualidade,
enquanto que os líderes batistas e pentecostais, evocaram passagens do Antigo Testamento e uma leitura
8
III- Justificativa
Nas últimas décadas, contrariando uma boa cepa de teorias sociológicas, temos
assistido ao progressivo aumento da presença do religioso na arena pública. A religião,
marcada para morrer no final da narrativa moderna, reaparece bem viva e figura como
ator central em diversos campos da vida contemporânea, da cultura – talvez seu lugar
por excelência – à política, passando pelo debate ético-científico. Tal cenário tem
fomentado um intenso debate a respeito da permeabilidade entre as fronteiras do
religioso e da política (Oro 2001 e Oro e Ureta 2007; Machado, 2006 e 2008, Portier,
2011a), bem como suas consequências para a democracia (Portier, 2011b, Vianna,
2001), para a laicidade do Estado (Asad, 2003, Giumbelli, 2002, 2004), ou para a
própria teoria social, que tem entre seus pilares-mestre a teoria da secularização (Cf.
Montero 2003, entre outros)8.
Longe de se restringir às fronteiras dos países ao sul do Equador, a interseção
entre religião e política tem fomentado um intenso debate nos países europeus e nos
EUA, já há algum tempo. Naqueles países, o debate sobre o lugar da religião nas
sociedades modernas quase sempre girou em torno da disputa dos vários sentidos do
paradigma da secularização, sobre cuja trajetória cumpre fazer aqui uma breve
digressão.
A despeito de sua polissemia (Cf. Dobbelaere, 1981; Martin, 1978, Asad, 2003
entre outros), o conceito de secularização firmou-se como um eixo explicativo quase
incontornável nas pesquisas em sociologia da religião até os anos recentes. De Max
Weber – que, segundo alguns, preferiu o termo desencantamento ao tratar da evasão dos
motivos mágico-religiosos como enredo para as histórias humanas, enquanto reservava
o conceito de secularização para a perda da influência pública da religião (cf. Pierucci,
1998 e 2003) – a Peter Berger – que em seu Dossel Sagrado ([1966] 1985) acreditava na
perda de plausibilidade da religião em meio à replicação e concorrência das estruturas
que sustentavam essa plausibilidade –, a secularização se apresenta quase como um
destino manifesto dos tempos modernos. Os matizes dessa fórmula povoaram a maioria
das teses sobre a modernidade, sendo a secularização vista como condição sine qua non
tanto para consolidar a modernidade nas sociedades avançadas quanto para arrancar da
8
Em artigo publicado em 2009 Paula Montero oferece uma interessante interpretação habermasiana para a
interface entre religião e espaço público (Montero, 2009).
10
9
A respeito da teoria da secularização em Bryan Wilson ver um artigo bastante interessante de
KarelDobbelaere (2006).
10
Ahmed Salman Rushdie Tornou-se famoso após a publicação do livro Versos Satânicos, em 1989, que
causou controvérsia no mundo Islâmico, este livro foi considerado ofensivo ao profeta Maomé. Em de
fevereiro de 1989, o Aiatolá Khomeini ordenou a sua execução, por considerar o livro uma "blasfémia
contra o Islã". Khomeini condenou Rushdie, ainda, pelo crime de "apostasia" - fomentar o abandono da fé
11
que acorrem todos os anos a centros como Fátima, ou as grandes reuniões de jovens
católicos em torno do Papa a cada Jornada Mundial da Juventude, levaram a
comunidade científica a relativizar as teses sobre a secularização . 11
Para entendermos tal cenário, acreditamos ser necessária uma breve incursão ao que
autores como Luhmann e Giddens 13 entendem como confiança. Comecemos por lembrar que
para Luhmann (1996) a confiança é um tipo de redução da complexidade do sistema social, ou
13
Estamos cientes de todas as incongruências entre as obras desses autores, principalmente na concepção
que cada uma tem de ação, indivíduo e, é claro, sistema. No entanto, obliteramos conscientemente tais
diferenças em prol das proximidades dos modelos explicativos que ambos apresentam.
13
14
Segundo pesquisa do IBOPE, as instituições religiosas são as que mais inspiram confiança nos
brasileiros (76%), perdendo apenas para a família (90%) e os bombeiros (88%), noto que os partidos
políticos (31%), o Congresso Nacional (35%) e os sindicatos (46%) são os últimos da lista.
[http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?
temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=IBOPE+Intelig
%EAncia&docid=A518AE36007849548325767A004C951B]. Página acessada em 07 de dezembro de
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IV- Método
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