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MINISTÉRIO PÚBLICO

do Estado do Paraná

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA


DE SÃO MATEUS DO SUL/PR

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,


através de sua representante legal ao final assinada, vem a presença de Vossa
Excelência, com fulcro nos artigos 37, § 4º, e 129, inciso III, da Constituição Federal; na
Lei Federal n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); no artigo 25, inciso IV, b,
da Lei n.º 8.625/93; e na Lei Federal n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), e com
alicere do Inquérito Civil nº MPPR-0136.06.000001-7, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE REPARAÇÃO DE DANOS AO


ERÁRIO E DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em face de:

POLICLÍNICA DE SÃO MATEUS DO SUL, pessoa jurídica de


direito privado, portador do CNPJ nº 81.454.381/0001-80, representado pela pessoa
de Cláudia Costa Santos Schmit (sócia administradora), brasileira, casada, residente e
domiciliada à Rua Paulino Vaz da Silva, nº 460, nesta cidade e comarca de São Mateus
do Sul/PR.

1ª Promotoria de Justiça de São Mateus do Sul


Rua 21 de Setembro, 766 Centro – Fórum - CEP 83900-000 São Mateus do Sul – PR 1
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LUIZ ADYR GONÇALVES PEREIRA, brasileiro, casado, ex-


Prefeito Municipal, RG nº 999967, filho de Adyr Orlando Gonçalves Pereira e de Mirian
Wolff Pereira, nascido no dia 10.06.1954, natural de São Mateus do Sul/PR, residente e
domiciliado à Rua Barão de Rio Branco, n. 564, centro, nesta cidade e comarca de São
Mateus do Sul/PR,

FRANCISCO LUIZ ULBRICH, brasileiro, casado, filho de Arthur


Ulbrich e de Zila Posiwailo Ulbrich, natural de São Mateus do Sul/PR, portador do RG.
724.969-87 e CPF nº 028.268.799-87, nascido no dia 14.06.1947, residente e domiciliado
à rua Barão do Rio Branco, n. 444, endereço profissional na Prefeitura Municipal de São
Mateus do Sul, nesta cidade e comarca de São Mateus do Sul/PR;

HOSPITAL E MATERNIDADE DOUTOR PAULO FORTES,


pessoa Jurídica de Direito Privado, portador do CNPJ 81.356.321/0001-25, representado
por Ailson Pereira Tavares, com endereço à Rua Doutro Paulo Fortes, 22, Centro de São
Mateus do Sul/Pr.

1. DOS FATOS

Em razão de denúncias realizadas na 1ª Promotoria de


Justiça de São Mateus do Sul foi instaurado o inquérito civil nº 0136.06.000001-7 para
apurar a cobrança irregular de serviços do Sistema Único de Saúde nesta cidade e
comarca.

Do referido procedimento foram apuradas diversas


irregularidades. Com efeito, é possível aferir das diversas informações trazidas, que
desde o ano de 2005 (ou até mesmo antes) a prefeitura municipal de São Mateus do
Sul, inicialmente na figura de seu então Prefeito Municipal Francisco Luiz Ulbrich e,
posteriormente na figura de seu sucessor, Luiz Adyr Gonçalves Pereira, contratou a

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empresa Policlínica para prestação de serviços de raio X e fisioterapia, sem a realização


de qualquer formalidade e mais, sem qualquer controle dos serviços prestados.

Não apenas existiu o repasse direto de montante elevado


à policlínica, com também irregularmente por intermédio o Hospital e Maternidade
Doutor Paulo Fortes, o qual recebia e recebe subvenção municipal para o exercício de
suas atividades.

Inicialmente quanto aos anos de 2005 a 2008, sob o


conhecimento do então chefe do poder público, Francisco Luiz Ulbrich, foram
realizados os seguintes pagamentos à empresa Policlínica, seja por intermédio do
Fundo Municipal de Saúde, seja por intermédio do Hospital e Maternidade Dr. Paulo
Fortes:

NOTAS
DATA VALOR
FISCAIS
5250 01/03/2005 R$ 6.057,10
5282 14/03/2005 R$ 6.000,00
5283 14/03/2005 R$ 2.200,00
5389 01/04/2005 R$ 1.100,00
5395 01/04/2005 R$ 7.183,36
5396 01/04/2005 R$ 1.406,88
5397 01/04/2005 R$ 1.100,00
5408 06/04/2005 R$ 2.664,48
5409 06/04/2005 R$ 3.000,00
5528 28/04/2005 R$ 302,40
5529 28/04/2005 R$ 212,71
5532 02/05/2005 R$ 2.700,00
5533 02/05/2005 R$ 1.100,00
5534 02/05/2005 R$ 2.664,48
5535 02/05/2005 R$ 7.645,61

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5536 02/05/2005 R$ 1.564,12


5537 02/05/2005 R$ 3.150,00
5569 13/05/2005 R$ 4.800,00
5617 25/05/2005 R$ 19.271,46
5675 01/06/2005 R$ 6.896,92
5678 01/06/2005 R$ 1.911,10
5680 01/06/2005 R$ 4.840,00
5686 03/06/2005 R$ 2.664,48
5689 03/06/2005 R$ 1.100,00
5690 03/06/2005 R$ 19.271,46
5875 13/07/2005 R$ 19.271,46
5876 13/07/2005 R$ 1.100,00
6258 26/09/2005 R$ 1.100,00
6403 25/10/2005 R$ 1.100,00
6675 14/12/2005 R$ 1.100,00
6676 14/12/2005 R$ 1.753,31
6677 14/12/2005 R$ 1.433,01
6702 28/12/2005 R$ 14.562,19
6703 28/12/2005 R$ 10.711,86
6704 28/12/2005 R$ 9.494,24
6705 28/12/2005 R$ 7.197,41
6706 28/12/2005 R$ 8.405,63
6707 28/12/2005 R$ 11.340,27
6708 28/12/2005 R$ 3.387,38
6848 09/01/2006 R$ 2.248,73
6991 01/02/2006 R$ 6.037,18
7026 22/02/2006 R$ 1.084,09
7079 23/02/2006 R$ 1.860,00
7080 23/02/2006 R$ 1.155,13
7081 23/02/2006 R$ 1.450,00

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7082 23/02/2006 R$ 620,29


7103 24/02/2006 R$ 1.000,00
7188 09/03/2006 R$ 606,26
7297 28/03/2006 R$ 1.000,00
7529 11/05/2006 R$ 1.547,88
7572 23/05/2006 R$ 1.000,00
7710 09/06/2006 R$ 1.100,00
7780 22/06/2006 R$ 1.000,00
7875 12/07/2006 R$ 1.140,00
7930 19/07/2006 R$ 1.000,00
8050 09/08/2006 R$ 1.630,00
8229 13/09/2006 R$ 1.610,00
8286 25/09/2006 R$ 1.000,00
8391 10/10/2006 R$ 1.630,00
8557 17/11/2006 R$ 1.560,00
8620 21/11/2006 R$ 1.000,00
8876 10/01/2007 R$ 1.290,00
9055 09/02/2007 R$ 1.440,00
9202 07/03/2007 R$ 1.800,00
9367 03/04/2007 R$ 1.600,00
9565 08/05/2007 R$ 1.447,34
9750 05/06/2007 R$ 1.250,00
9928 10/07/2007 R$ 1.650,00
10129 10/08/2007 R$ 1.410,00
10283 28/08/2007 R$ 1.000,00
10319 11/09/2007 R$ 1.490,00
10486 03/10/2007 R$ 1.420,00
10623 23/10/2007 R$ 1.000,00
10683 06/11/2007 R$ 1.490,00
10770 22/11/2007 R$ 1.000,00

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10874 04/12/2007 R$ 1.430,00


11010 17/12/2007 R$ 1.000,00
11066 08/01/2008 R$ 1.270,00
11098 22/01/2008 R$ 1.000,00
11278 11/02/2008 R$ 1.350,00
13782 17/02/2008 R$ 1.000,00
11397 21/02/2008 R$ 1.000,00
11467 04/03/2008 R$ 1.560,00
11593 25/03/2008 R$ 1.000,00
11671 04/04/2008 R$ 1.350,00
11833 17/04/2008 R$ 1.000,00
11906 09/05/2008 R$ 1.240,00
12021 20/05/2008 R$ 1.000,00
12021 20/05/2008 R$ 1.000,00
12132 03/06/2008 R$ 1.480,00
12290 24/06/2008 R$ 1.000,00
12290 24/06/2008 R$ 1.000,00
12376 09/07/2008 R$ 1.700,00
12531 28/07/2008 R$ 1.000,00
12631 05/08/2008 R$ 1.790,00
12830 01/09/2008 R$ 1.690,00
13155 03/10/2008 R$ 1.630,00
13247 27/10/2008 R$ 1.000,00
13392 04/11/2008 R$ 1.690,00
13525 24/11/2008 R$ 1.000,00
13653 03/12/2008 R$ 1.570,00
13654 03/12/2008 R$ 550,00
13768 17/12/2008 R$ 330,00
13885 22/12/2008 R$ 1.240,00
Total R$ 289.200,22

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Verifica-se que, conforme o contrato firmado entre a


prefeitura municipal e o hospital Dr. Paulo Fortes (fls. 50 a 56 do anexo – cláusula
sétima), era de responsabilidade do hospital a prestação de serviço de raio X:

“Cláusula Sétima: Ficará por conta do repasse mensal


previsto na cláusula segunda, o pagamento das despesas
d3stinadas a propiciar o desenvolvimento da assistência à
saúde publica municipal que utilize todo o restante da
estrutura física do Hospital e Maternidade Dr. Paulo
Fortes, a qual compreende:

(...)

X – Sala de raios-X com vestuário e câmara escura.”

Pois bem, se já havia a previsão na subvenção de que os


serviços de raio-X seriam prestados pelo hospital e maternidade Dr. Paulo Fortes, não
haveria razão para ser repassado também à Policlínica valor para a prestação do
mesmo serviço, até mesmo porque, pelo contrato juntado às fls. 123/124 pode-se
constatar que quem prestava tal serviço para o hospital era a policlínica.

Apenas a título de exemplo dos valores astronômicos que


foram pagos à empresa Policlínica de São Mateus do Sul, verifica-se que no mês de
maio de 2005, para a consecução dos exames de raio-X foi despendido, pelas diversas
fontes pagadoras, R$ 42.895,21 (quarenta e dois mil oitocentos e noventa e cinco reais
e vinte e um centavos).

Muito embora no Portal do Controle Social do Tribunal de


Contas exista a informação de que entre 2005 e 2012 haveria um procedimento de
dispensa de licitação para a contratação da Policlínica, verifica-se pelas diversas
informações prestadas que o único procedimento de dispensa de licitação existente é

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do ano de 2008 (30/2008) sendo que o mesmo não obedece aos requisitos mínimos de
um procedimento de dispensa.

Ademais, a referida dispensa previa o valor de R$


1.790,00 a ser repassado pela prefeitura municipal à Policlínica de São Mateus do Sul,
sendo que, dos diversos recibos juntados constata-se que os valores estão muito além
disso, conforme a tabela seguinte:

NOTAS FISCAIS DATA VALOR


14693 27/03/2009 R$ 6.150,00
14717 07/04/2009 R$ 2.413,00
15004 08/05/2009 R$ 1.976,00
15158 26/05/2009 R$ 3.500,00
15297 03/06/2009 R$ 1.548,50
15537 25/06/2009 R$ 4.000,00
15578 01/07/2009 R$ 1.930,00
15825 23/07/2009 R$ 4.250,00
15855 30/07/2009 R$ 2.527,00
16112 28/08/2009 R$ 5.200,00
16132 10/09/2009 R$ 2.432,00
14839 22/09/2009 R$ 5.400,00
16224 24/09/2009 R$ 2.500,00
16389 14/10/2009 R$ 2.745,50
16646 11/11/2009 R$ 2.679,00
17074 09/12/2009 R$ 2.744,50
17254 13/01/2010 R$ 1.615,00
17758 22/02/2010 R$ 2.052,00
17891 10/03/2010 R$ 1.976,00
18157 13/04/2010 R$ 2.052,00
18426 14/05/2010 R$ 1.995,00

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18733 15/06/2010 R$ 2.698,00


19000 08/07/2010 R$ 2.356,00
19320 13/08/2010 R$ 2.204,00
19526 14/09/2010 R$ 2.204,00
20458 08/12/2010 R$ 1.900,00
20562 15/12/2010 R$ 912,00
20622 11/01/2011 R$ 1.292,00
20986 14/02/2011 R$ 1.938,00
21285 15/03/2011 R$ 1.919,00
21459 01/04/2011 R$ 2.128,00
22866 24/08/2011 R$ 4.200,00
23209 26/09/2011 R$ 4.200,00
23394 13/10/2011 R$ 2.175,50
23460 17/10/2011 R$ 4.500,00
23721 11/11/2011 R$ 2.565,00
23794 21/11/2011 R$ 4.800,00
24039 12/12/2011 R$ 2.270,50
24239 04/01/2012 R$ 2.945,00
24535 26/01/2012 R$ 3.630,00
24647 10/02/2012 R$ 2.793,00
24849 23/02/2012 R$ 3.960,00
24991 12/03/2012 R$ 2.565,00
25184 23/03/2012 R$ 3.960,00
25395 18/04/2012 R$ 3.306,00
25619 09/05/2012 R$ 3.287,00
25806 24/05/2012 R$ 4.950,00
25934 01/06/2012 R$ 3.277,50
26150 22/06/2012 R$ 4.950,00
26255 03/07/2012 R$ 3.163,50
26455 17/07/2012 R$ 5.600,00

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26614 02/08/2012 R$ 3.220,50


19786 11/10/2012 R$ 2.327,50
TOTAL R$ 159.882,50

Some-se a isto o fato de que, embora exista a citada


dispensa não há qualquer contrato firmado entre a administração e a empresa,
tornando todos os pagamentos completamente ilegais.

A partir do ano de 2011 passou a existir um Consórcio por


intermédio do Cisvali. Entretanto, apesar da existência do referido Consórcio os
pagamentos continuaram a serem feitos, de forma irregular, pelo fundo municipal de
saúde ou por intermédio do Hospital e Maternidade Doutro Paulo Fortes sendo que o
referido credenciamento não pode legitimar os repasses, uma vez que, ao Credenciar,
o pagamento deveria ser por intermédio do consórcio para ter validade.

Assim fica claro que a prefeitura municipal pagou à


Policlínica de São Mateus do Sul por serviços teoricamente prestados de forma
totalmente irregular, não sendo observada os princípios mínimos da Lei nº 8.666/93.

Tais pagamentos foram feitos inicialmente pelo então


prefeito municipal Francisco Luiz Ulbrich e posteriormente pelo prefeito Luiz Adyr
Gonçalves Pereira, em favor da policlínica São Mateus do Sul, conforme anteriormente
demonstrado.

Agindo desta forma, incidiram os requeridos Policlínica


de São Mateus do Sul, Francisco Luiz Ulbrich e Luiz Adyr Gonçalves Pereira em atos
de improbidade administrativa que causaram lesão ao erário, enriquecimento ilícito e
que atentaram contra princípios da Administração Pública.

Desse modo, é chegado o momento de ser restabelecida


a ordem constitucional violada, pondo um desfecho à repugnante improbidade

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apontada, razão pela qual se bate nas portas do Poder Judiciário, porto seguro dos
postulados de um Estado que se almeja Democrático, Constitucional, Social e de
Direito.

2. DO DIREITO APLICÁVEL

2.1. DA REALIZAÇÃO DE DESPESA SEM A PRÉVIA LICITAÇÃO E DA IRREGULAR


DISPENSA DE LICITAÇÃO

Verifica-se dos autos que o requerido Francisco Luiz


Ulbrich, entre os anos de 2005 e 2008 realizou uma série de pagamentos à requerida
Policlínica, sem jamais ter realizado qualquer procedimento licitatório ou mesmo um
singelo contrato. Posteriormente o requerido Luiz Adyr Gonçalves Pereira, entre os
anos de 2009 e 2012 também efetuou diversos pagamentos à referida empresa, de
forma irregular com base em dispensa de licitação que sequer gerou contrato.

Quanto aos valores repassados pelo hospital e


maternidade Dr. Paulo Fortes, constata-se que o mesmo apenas foi utilizado para
realizar os pagamentos para a policlínica, uma vez que se pode ver pelas declarações
prestadas por Ervino Marcscarowski e Zenilda de Paula Cavalheiro que os referidos
exames eram prestados na Policlínica, demonstrando assim que o hospital servia tão-
somente como intermediário para o repasse irregular de valores.

Considerando as dificuldades encontradas pelos entes na


prestação de serviços de saúde, o Constituinte Federal autorizou a participação privada
na, devendo ser sempre excepcional e apenas complementar, mediante convênio ou
contrato (artigo 199 da Constituição Federal).

A Portaria nº 1.034/2010 frisa a diferença entre os


instrumentos, reforçando o que está sedimentando na doutrina e jurisprudência:

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Art. 3º A participação complementar das instituições


privadas de assistência à saúde no SUS será formalizada
mediante contrato ou convênio, celebrado entre o ente
público e a instituição privada, observadas as normas de
direito público e o disposto nesta Portaria.

Parágrafo único. Para a complementaridade de serviços


de saúde com instituições privadas serão utilizados os
seguintes instrumentos:

I - convênio, firmado entre ente público e a instituição


privada sem fins lucrativos, quando houver interesse
comum em firmar parceria em prol da prestação de
serviços assistenciais à saúde;

II - contrato administrativo, firmado entre ente público e


instituições privadas com ou sem fins lucrativos, quando
o objeto do contrato for a compra de serviços de saúde; e

III - contrato de gestão, firmado entre ente público e


entidade privada qualificada como Organização Social,
com vistas à formação de parceria entre as partes para
fomento e execução de serviços assistenciais à saúde.
(grifamos)

Ou seja, o convênio deve sempre ser estabelecido apenas


com instituição privada sem fins lucrativos e destina-se à formação de uma cooperação
de pessoas jurídicas para um objetivo comum, enquanto o contrato administrativo
pode ser realizado com instituições privadas com fins lucrativos para a compra de um
serviço que falte no município, precedido de licitação.

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No caso dos autos, verifica-se que não foi realizada


qualquer forma de contratação, seja por convênio, seja por contrato. Por ser a
policlínica São Mateus empresa privada com fins lucrativos, a modalidade correta seria
o contrato com a prévia licitação.

A licitação tem por objetivo a igualdade entre os


concorrentes bem como a obtenção da proposta mais vantajosa para a administração
pública. Desta forma não é possível a realização de gastos sem que tenha havido o
procedimento prévio, como ocorreu no caso em mesa.

Apenas excepcionalmente é dispensada a licitação para a


contratação pelo poder público. Entretanto é necessário que a hipótese amolde-se ao
previsto nos artigos 24 e 25 da Lei de Licitações. No caso dos autos inexiste justificativa
para o gasto sem qualquer contrato ou procedimento concorrencial, o que acarreta
em evidente dano ao erário pela impossibilidade de obter-se a proposta mais
vantajosa.

Ainda que os requeridos Francisco Luiz Ulbrich e Luiz


Adyr Gonçalves Pereira entendessem ser a hipótese de dispensa ou inexigibilidade de
licitação para os referidos processos de pagamento, deixaram de formalizar
procedimento apropriado de justificação, efetuando, como se particulares fossem,
contratação direta junto à empresa ré, favorecendo.

E nem se diga que a dispensa de licitação juntada ao


procedimento possui qualquer validade, uma vez que não respeita os requisitos
mínimos. Primeiramente verifica-se que não há qualquer fundamentação na sua
abertura não indicando o administrador público em que inciso do artigo 24 da Lei
8666/90, até mesmo porque no caso em tela não se encontra caracterizada nenhuma
das hipóteses. O que se pode ver no procedimento juntado é apenas uma tentativa de
legitimação dos pagamentos efetuados.

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Não fosse apenas isso constata-se que ao final do


procedimento sequer ocorreu a assinatura de um contrato, o que é evidentemente
obrigatório.

Mesmo na dispensa de licitação está o Administrador


Público obrigado a realizar o procedimento administrativo com a justificação do ato,
cuja formalização está submetida ao art. 26 da citada Lei n 8.666/93, cujo teor é o
seguinte:

“Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2o e 4o do art. 17


e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de
inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente
justificadas, e o retardamento previsto no final do
parágrafo único do art. 8 desta Lei deverão ser
comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autoridade
superior, para ratificação e publicação na imprensa
oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a
eficácia dos atos. (Redação dada pela Lei nº 11.107, de
2005)

Parágrafo único. O processo de dispensa, de


inexigibilidade ou de retardamento, previsto neste artigo,
será instruído, no que couber, com os seguintes
elementos:

I- caracterização da situação emergencial ou calamitosa


que justifique a dispensa, quando for o caso;

II - razão da escolha do fornecedor ou executante;

III - justificativa do preço.

IV- documento de aprovação dos projetos de pesquisa

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aos quais os bens serão alocados. (Incluído pela Lei nº


9.648, de 1998)”

Dissertando acerca do tema, Marçal Justen Filho aduz:

“A contratação direta se submete a um procedimento


administrativo, como regra. Ou seja, ausência de licitação
não equivale a contratação informal, realizada com quem
a Administração bem entender, sem cautelas nem
documentação. Ao contrário, a contratação direta exige
um procedimento prévio, em que a observância de
etapas e formalidades é imprescindível” (Comentários à
Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 5ª edição.
Ed. Dialética: São Paulo, 1998).

Não há de se esquecer, ainda, que as ações e a execução


da prestação das ações do Estado no âmbito do SUS estão sujeitas, como serviços
públicos que são, às regras dos arts. 37 e 175 da Constituição Federal, no que se
referem à necessidade de prévia licitação e ao recrutamento de pessoal mediante
concurso público.

O Ministério Público, inclusive, tem a responsabilidade


de atuar sempre que o Poder Público fuja ao certame licitatório, em respeito aos
mencionados dispositivos constitucionais:

STF: LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM - Ministério


Público - Ação civil pública - Contratação de serviço
médico hospitalar privado sem licitação - Demanda

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proposta pelo Parquet com o objetivo de evitar


lesão ao patrimônio público - Admissibilidade.
Recurso extraordinário - Sistema Único de Saúde
(SUS) - Contratação direta de serviços hospitalares -
Inobservância da exigência de procedimento
licitatório - Lesão ao Patrimônio público - Ação civil
pública - Legitimidade ativa do Ministério Público
Federal - Recurso de agravo improvido. - O
Ministério Público dispõe de legitimidade ativa ad
causam para ajuizar ação civil pública, quando
promovida com o objetivo de impedir que se
consume lesão ao patrimônio público resultante de
contratação direta de serviço hospitalar privado,
celebrada sem a necessária observância de
procedimento licitatório, que traduz exigência de
caráter ético-jurídico destinada a conferir
efetividade, dentre outros, aos postulados
constitucionais da impessoalidade, da publicidade,
da moralidade administrativa e da igualdade entre
os licitantes, ressalvadas as hipóteses legais de
dispensa e/ou de inexigibilidade de licitação.
Precedentes. (STF - AgRg 262.134-0 - 2.ª Turma - j.
12/12/2006 - v.u. - rel. José Celso de Mello Filho -
DJU 2/2/2007) (grifamos)

STF: PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS. MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL. LEGITIMIDADE ATIVA.
CARACTERIZAÇÃO. O Ministério Público tem

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legitimidade ativa para propor ação civil pública


com o objetivo de evitar lesão ao patrimônio
público decorrente de contratação de serviço
hospitalar privado sem procedimento licitatório.
Agravo regimental desprovido. (RE 244217 AgR,
Relator(a): Min. EROS GRAU, Primeira Turma,
julgado em 25/10/2005, DJ 25-11-2005 PP-00009
EMENT VOL-02215-03 PP-00497 RNDJ v. 6, n. 75,
2006, p. 45-46) (grifamos)

Agindo assim, os requeridos Francisco Luiz Ulbrich e Luiz


Adyr Gonçalves Pereira infringiram a legislação e os princípios que regem a
Administração Pública, causando prejuízo ao erário e beneficiando, de forma irregular,
a Policlínica São Mateus do Sul.

O caput do art. 10 afirma que constitui ato de improbidade


administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa
que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades referidas no artigo inaugural da Lei n° 8.429/92.

Destarte, para que haja a subsunção na hipótese em tela,


a conduta do agente público, ainda que seja omissa, dolosa ou culposa, deverá
acarretar prejuízo para o erário, causando-lhe lesão.

Conduta dolosa ou culposa do agente, capaz de tipificar


ato de improbidade, narrado no art. 10, é aquela que não se contenta apenas com a
vontade livre e consciente em realizar quaisquer condutas descritas, responsabilizando-se,
também, aquele que viola a prudência, tornando-se imprudente e negligente com a
coisa pública, lesando, via de conseqüência, o erário público.

Na sempre pertinente lição de Wallace Paiva Martins Junior:

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“Para a lei, lesão ao erário é qualquer das condutas


explicitadas no art. 10, caput: perda, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação, por ação
ou omissão, dolosa ou culposa. A tônica central do art.
10 é fornecida pela compreensão da noção de perda
patrimonial, que é o efeito do ato comissivo ou omissivo
do agente, e expressa-se na redução ilícita de valores
patrimoniais. A ilicitude (aqui compreendida a
imoralidade) é traço essencial à lesividade. Esta é
corolário daquela por força de presunção legal absoluta,
que nada interfere na mensuração do dano. A análise da
lei mostra, sem sombra de dúvida, que o art. 10,
caput, conceitua o prejuízo patrimonial, enquanto
seus incisos indicam situações ilícitas em que a lesão é
elementar e decorrente indissociavelmente. Nesse
artigo cuida-se de hipóteses de atos lesivos ao
patrimônio público que, por obra do comportamento
doloso ou culposo do agente público, causaram bônus
indevido ao particular e impuseram ônus injusto ao
erário, independentemente de o agente público
obter vantagem indevida.” (Probidade Administrativa,
2ª ed., pág. 238)

Os requeridos, ao procederem na forma supra relatada,


incidiram além do caput, nas condutas descritas nos incisos VIII e XII do artigo 10 da Lei
de Improbidade:

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa


que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,

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dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,


apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres das entidades referidas no artigo 1º desta
Lei, e notadamente:

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou


dispensá-lo indevidamente; [...]

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das


normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a
sua aplicação irregular;

In casu, a lesão ao erário se evidencia com clareza posto


que os réus frustraram a licitude do processo licitatório e realizaram despesa pública
sem o necessário procedimento, ou seja, irregularmente, enriquecendo ilicitamente a
empresa já citada.

Os requeridos além de causar prejuízo ao erário, também


atentaram contra os princípios da administração pública, subsumindo-se às condutas
descritas no caput do art. 11º da Lei de Improbidade Administrativa, verbis:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa


que atenta contra os princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:”

Como visto, as condutas do requerido não observou os


deveres de legalidade, moralidade e honestidade.

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Com efeito, a legalidade, como princípio de


administração (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em toda
a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem
comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e
expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

Pelo princípio da legalidade, o ato de todo agente público


deve ser realizado nos termos e limites da lei, sendo vedada qualquer conduta que
contrarie as disposições legais ou, ainda, que procure praticar ato visando fim proibido
em lei.

Exige-se, ainda, que o agente público aja conforme o


princípio da moralidade administrativa.

Segundo Hely Lopes Meirelles o princípio da moralidade


administrativa tem o seguinte conteúdo, verbis:

“A moralidade administrativa constitui, hoje em dia,


pressuposto de validade de todo o ato da Administração
Pública (CF, art. 37, caput). Não se trata - diz Hauriou, o
sistematizador de tal conceito - da moral comum, mas
sim de uma moral jurídica, entendida como o ‘conjunto
de regras de conduta tiradas da disciplina interior da
Administração. Desenvolvendo sua doutrina, explica o
mesmo autor que o agente administrativo, como ser
humano dotado de capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do
desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o
elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que
decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o
injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o
inoportuno, mas também entre o honesto e o

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desonesto. Por considerações de Direito e de moral, o


ato administrativo não terá que obedecer somente à lei
jurídica, mas também à lei ética da própria instituição,
porque nem tudo que é legal é honesto, conforme já
proclamavam os romanos: ‘nom omne quod licet
honestum est’’. A moral comum, remata Hauriou, é
imposta ao homem para sua conduta externa, a moral
administrativa é imposta ao agente público para sua
conduta interna, segundo as exigências da instituição a
que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.

[...]

O inegável é que a moralidade administrativa integra o


Direito como elemento indissociável na sua aplicação e
na sua finalidade, erigindo-se em fator de legalidade.
Daí porque o TJSP decidiu, com inegável acerto, que ‘o
controle jurisdicional se restringe ao exame da
legalidade do ato administrativo; mas por legalidade ou
legitimidade se entende não só a conformação do ato
com a lei, como também com a moral administrativa e
com o interesse coletivo” grifou-se (Malheiros Editores,
1993, 19a. ed., págs. 83/83 e 85)

Sobre o princípio da moralidade, Maria Sylvia Zanella Di


Pietro ensina-nos:

“[...] sempre que em matéria administrativa se verificar


que o comportamento da Administração ou do
administrado que com ela se relaciona juridicamente,
embora em consonância com a lei, ofende a moral, os

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bons costumes, as regras de boa administração, os


princípios de justiça e de eqüidade, a idéia comum de
honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da
moralidade administrativa.”1

Pelas lições transcritas, nota-se que o princípio da


moralidade deve mesclar a moralidade jurídica, extraída do conjunto de regras internas
da Administração, com a moralidade comum. O princípio da moralidade determina à
Administração Pública o respeito aos padrões de ética e de honestidade, ditados tanto
pela moral jurídica, interna da própria Administração, como pelo senso de moralidade
pública comum, ou seja, os standards comportamentais que a sociedade deseja,
correspondentes ao anseio popular de ética na Administração para o atingimento do bem
comum.

Nessa quadra, verifica-se que as condutas ilícitas dos


requeridos, incontestavelmente, também configuram atos de improbidade
administrativa que atentam contra o princípio da moralidade administrativa (LIA, art.
11).

A Lei de Improbidade Administrativa prevê ainda


hipóteses de comportamentos, definindo-os como atos de improbidade
administrativa, cuja incidência determina sanções civis aos agentes públicos faltosos,
cumulativamente com sanções penais e administrativas.

Conforme a adequação legal, em síntese, os atos que


caracterizam improbidade administrativa, segundo os efeitos resultantes, podem ser
classificados em três categorias diversas: a) atos de improbidade administrativa que
importam enriquecimento ilícito (art. 9º); b) atos de improbidade administrativa que
causam prejuízo ao erário (art. 10º); e c) atos de improbidade administrativa que
atentam contra os princípios da administração pública (art. 11º).

1 in “Direito Administrativo”, Editora Atlas, 5ª edição, 1995, pág. 71;

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3. DOS PEDIDOS e REQUERIMENTOS

Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do


Estado do Paraná, requer:

a) A autuação da presente petição inicial e dos


documentos que a instruem (Inquérito Civil sob n. 0136.06.000001-7) bem como o seu
recebimento e processamento segundo o rito estabelecido na Lei n. 8.429/92.

b) Seja recebida a inicial, procedendo-se a citação dos


requeridos para compor o pólo passivo da relação jurídico-processual, dando-lhes
oportunidade para, se quiserem, apresentar resposta, no prazo legal, sob pena de
revelia, devendo constar do mandado a advertência do artigo 285, segunda parte, do
Código de Processo Civil.

c) Seja citado nos termos do artigo 17, §3º da Lei


8.429/92 o Município de São Mateus do Sul.

d) Seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública,


impondo-se aos requeridos as sanções previstas no art. 12, inciso I da Lei n. 8.429/92,
com o ressarcimento integral do dano bem como o pagamento de multa.

e) Sucessivamente, caso não seja acolhido o pedido


anterior requer-se a aplicação das sanções previstas no art. 12, inciso II, da Lei de
Improbidade Administrativa, cominada para os atos que causam prejuízo ao erário
(LIA, art. 10).

f) Sucessivamente, caso não seja acolhido nenhum dos


pedidos anteriores requer-se a aplicação das sanções previstas no art. 12, inciso III, da
Lei de Improbidade Administrativa, cominada para os atos que atentam contra os
princípios da administração pública (LIA, art. 11).

g) Sejam condenados os requeridos à reparação dos


danos causados ao erário no montante de R$ 449.082,72 (quatrocentos e quarenta e
nove mil, oitenta e dois reais e setenta e dois centavos), atualizados até a data do

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pagamento, restituindo ao Município de São Mateus do Sul o valor integral


ilicitamente acrescido ao patrimônio particular, na proporção dos benefícios auferidos.

h) A produção de todas as provas necessárias à


demonstração do alegado, dentre elas o depoimento pessoal dos requeridos, ouvida
de testemunhas, além de prova pericial e juntada de novos documentos que se
fizerem necessários.

j) A condenação dos réus às custas processuais e demais


verbas de sucumbência, a serem revertidos em favor do Fundo Especial do Ministério
Público (Lei Estadual n. 12.241/98);

k) Observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 27 do


Código de Processo Civil quanto aos atos processuais requeridos pelo Ministério
Público;

l) A intimação pessoal do Ministério Público para


acompanhar todos os atos que integram o processo ora instaurado;

Dá-se à causa o valor de R$ 449.082,72 (quatrocentos e


quarenta e nove mil, oitenta e dois reais e setenta e dois centavos).

São Mateus do Sul, 25 de julho de 2014.

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