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Faculdade de Tecnologia de Ribeirão Preto


Graduação em: Gestão de Negócios – Turma º semestre – Data
Disciplina: Comunicação Empresarial - Profº

RESENHA CRÍTICA

WOOD JR, Thomaz. Nem tudo é verdade: a “flexibilidade moral” é um traço característico
dos executivos. Mais alta a posição na pirâmide, menor a utilidade de noções rígidas sobre o
que é certo ou errado, Carta Capital, 2007.

1 CREDENCIAIS DO AUTOR:

Thomaz Wood1 Jr. é professor da FGV-EAESP e sócio da Matrix/Consultoria e


Desenvolvimento Empresarial, atualmente trabalha como editor da RAE-Revista de
Administração de Empresas.
Atua em consultoria na coordenação de projetos de transformação organizacional e
estratégia empresarial. É autor de mais de 50 artigos acadêmicos e 10 livros na área de gestão,
incluindo “Executivos Neuróticos, Empresas Nervosas”, “Organizações Espetaculares”,
“Gurus, Curandeiros e Modismos Empresariais”, “Os 7 Pecados do Capital” e “Mudança
Organizacional”.
A área de pesquisa é viltada ao estudo da espetacularização da vida organizacional, a
indústria do management e a análise da adaptação de tecnologias gerenciais estrangeiras em
países em desenvolvimento.
Thomaz Wood Junior, hoje é colaborador da revista Carta Capital desde 1996 e
responsável pela coluna “Gestão”.

2 SÍNTESE DA OBRA

O autor tece uma crítica sobre o comportamento antiético e descreve algumas


práticas tidas por ele como desonestas e típicas de certos perfis profissionais, em especial, cita
os relacionados com atuação da medicina, advocacia, de políticos, empresários, de pessoal

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RAS: REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE SAÚDE. Vol. 4, Nº 15 – Abr-Jun, 2002. Disponível em:
<http://www.cqh.org.br/portal/pag/area.php?p_narea=102>. Acesso em: 05 mar. 2020.
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marketing, de engenharia, apontando quais seriam as manobras utilizadas por cada um deles
para alcançar ascensão profissional.

3 PRINCIPAIS TESES
a) A ética conveniente.
b) A fragilidade dos valores humanos em uma sociedade ainda sem identidade de
nação, portanto, sem objetivo para projeto de país.
c) Mediocridade e a ignorância como mecanismo de domesticação social.

4 REFLEXÕES CRÍTICAS
Em que pesem as razões do autor sobre a postura ética e a forma como certos
especialistas conduzem o trabalho, mas é equivocada atribuir toda a culpa pela falta de
honestidade e de maneira generalizada aos grupos profissionais ora mencionados em seu
texto.
Embora, o senso comum faça uma interpretação pejorativa do texto original atribuído
na obra, de O Princípe, de Nicolau Maquiável, “O fim justifica os meios” 2, no sentido de que
não importam os meios empregados para se alcançar o resultado com êxito, em verdade, o que
se afirmou é que o governante deve agir segundo a ética e dentro do conceito de razão do
Estado para se conquistar e se manter no poder.
Por conta dessa má interpretação, popularmente, credita-se a Maquiavel a
justificativa do emprego de ações desonestas ou violentas para obtenção de poder, emprego
ou outro objetivo diverso.
Assim, se concordarmos com essa tese errônea hodiernamente empregada, pode ser
que também possamos atribuir a certos grupos profissionais, a responsabilidade pela
degeneração da confiança entre as pessoas, porque na maior parte do tempo estamos ocupados
trabalhando para poder viver, por isso dá entender que tudo aflora do campo laboral.
Mas não é bem assim que ocorre. Pois bem, a opção de agir corretamente ou não é do
indivíduo em si, jamais pode ser inerente a um traço pertencente a uma profissão ou grupo de
profissões.
De fato, há profissionais no mercado, cuja conduta é marcada pela conveniência, que
longe dos olhos vigilantes e da lei cometem crimes e se escondem atrás da aparência e dos
artifícios de uma boa propaganda, mas, nem por isso, devemos pensar que toda a humanidade
está condenada ao inferno.

2
Niccolò de Bernardo Di Machiavelli, 1469-1527.
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E ainda, podemos considerar que o Brasil ainda está em formação de identidade


cultural e ainda não se vê como nação, por isso o desprestígio com relação aos valores
fraternais de união, de solidariedade entre brasileiros, compreendidos que todos e sem
exceção possam ter acesso aos mesmos recursos públicos, para poder se desenvolver de forma
menos desigual entre as regiões do país.
Um processo que não se findou, apesar dos mais de 500 anos de existência, mas
substancialmente relevante para entender o nosso atrasado progresso social e humano, ainda
pautado em formato de colônia, dependendo de decisões externas de outras países mais
desenvolvidos para definir suas próprias políticas públicas, se é que existem atualmente.
E mais, o ardil usado para enganar vem de longe data e não é, felizmente, uma
exclusividade da nossa, pátria amada, se bem que herdamos e somos influenciados até hoje
pelo jeito de ser dos romanos.
De todo modo, a prova de que depende de atributos pessoais ligados aos parâmetros
de valores internos acerca do que é lícito e honesto, pode ser bem ilustrada aqui com os
ensinamentos de CICERO, em 64 a. C., e que segundo “manual sobre eleições” poderia
auxiliar a TULLIUS, primo, a vencer a eleição na época ao posto de cônsul, em Roma.

Há três coisas que garantem votos numa eleição: favores, esperança, e ligação
pessoal. Você precisa se esforçar para dar esses incentivos às pessoas certas.
Você pode conquistar eleitores indecisos para a sua a causa fazendo-lhes favores,
ainda que pequenos. Isso vale ainda mais para todos aqueles que você já ajudou
muito. Você precisa fazê-los entender que, se eles não o apoiarem agora, perderão
toda credibilidade pública. Vá encontrá-los pessoalmente e faça-os saber que, se eles
o apoiarem nesta eleição, você lhes deverá um favor.3

E, prosseguindo nessa tese de que compete ao homem, enquanto indivíduo decidir


sobre as escolhas, e definir o que é certo ou errado, independentemente de posição social,
profissão, estado civil ou nacional, citamos um pequeno trecho da obra de Jose Ingenieros, de
1913, que demonstra exatamente a contaminação no espírito dos homens cansados da
corrupção.

A política se degrada, converte-se em profissão. Nos povos sem ideais, os espíritos


subalternos medram em torpes intrigas de antecâmara. Na maré baixa, aparece o
desprezível, e se engendram os traficantes. Toda excelência desaparece, eclipsada
pela domesticidade. Instaura-se uma moral hostil à firmeza e propícia à relaxação. O
governo passa às mãos de gentalha que abocanha o orçamento. Abaixam-se os
adarves, e se levantam os muladares. Os loureirais se secam, e os cardais se
multiplicam. Os palacianos se encontram com os malandrins. Os funâmbulos e os
3
CICERO, Quintus Tullius, Como ganhar uma eleição: tradução de José Ignácio Coelho Mendes Neto. São
Paulo: EDIPRO, 2013. P. 65-66.
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saltimbancos progridem. Onde todos lucram, ninguém pensa; ninguém sonha onde
todos tragam. O que antes era signo de infâmia ou cobardia, torna-se título de
astúcia; o que outrora matava, agora, vivifica, como se houvesse uma aclimação ao
ridículo; as sombras envilecidas se levantam, e parecem homens; a improbilidade se
pavoneia, e se ostenta, ao invés de ter vergonha e pudor. O que, nas pátrias, se
cobria de opróbrio, se cobre, nos países, de honrarias.
As jornadas eleitorais se convertem em grosseiras negociatas de mercenários, ou em
pugilatos de aventureiros. A sua justificação está a cargo de inocentes eleitores, que
vão à paróquia, como a uma festa.

Enfim, a falta de honestidade, transparência ou mesmo corrupção antecede há muito


ao próprio conceito de profissão, implica necessariamente a uma reprodução de maus
exemplos, talvez até em lideranças e a sua propagação pode ter relação com a ausência de
postura mais assertivas da nossa própria parte, que toleramos esses comportamentos nocivos
na sociedade.
Então, se não queremos mais comportamentos desleais, sejam eles reproduzidos no
campo profissional ou pessoal, somos nós que precisamos dar o primeiro passo, pois eles
existem e estão por aí aprontando, mas admiti-los impunemente é outra história.

BIBLIOGRAFIA

CICERO, Quintus Tullius, Como ganhar uma eleição: tradução de José Ignácio
Coelho Mendes Neto. São Paulo: EDIPRO, 2013. P. 65-66.

CORTELLA, Mario Sergio, Pensar bem nos faz bem!: 2. Família, carreira,
convivência e ética. 4. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

INGENIEROS, José. O Homem Medíocre, Nova edição autorizada. Rio de Janeiro:


Edições Spiker, 1953.

MAQUIAVEL, Nicolau, 1469-1527. O príncipe, São Paulo: Hunter Books, 2011.


RAS: REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE SAÚDE. Vol. 4, Nº 15 – Abr-Jun,
2002. Disponível em: <http://www.cqh.org.br/portal/pag/area.php?p_narea=102>. Acesso em:
05 mar. 2020.

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