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A RESPONSABILIDADE
DOS PRESBÍTEROS
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E X P E D I E N T E
EDITORES Adriano Gama
Elienai B. Batista
FALE contato@revistadiakonia.org
CONOSCO
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tem os juízos pessoais dos autores, não representando necessariamente a posição de seus editores. Os direitos de publi-
cação desta revista são do Instituto João Calvino. Permite-se reprodução desde que citada a fonte e o autor.
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S U M Á R I O
JIM EDITORIAL
WITTEVEEN
04
WILLIAM LIDERANÇA POSITIVA:
BOEKESTEIN LIDERANDO COMO JESUS (NÃO
COMO ROBOÃO)
06
A. N.
21
O PRESBÍTERO
HENDRIKS E A PREGAÇÃO
DR. CORNELIS
32
O PRESBÍTERO COMO
VAN DAM PRESERVADOR E NUTRIDOR
DA VIDA NO PACTO:
O QUE A BÍBLIA DIZ
DR. CLARENCE
47
UMA PIEDADE EXTERNA:
BOUWMAN O NOMINALISMO E
O TRABALHO DO
PRESBÍTERO
EDITORIAL
Jim Witteveen
Um novo ano chegou e damos graças a Deus pelo Ano do Senhor 2019 e por mais esta
publicação da Revista Diakonia – a oitava edição. Estamos muito gratos pelo fato de que neste
último ano tivemos um bom começo, publicando sete edições repletas de material que servirá
à Igreja por muitos anos, se Deus quiser. Esperamos que neste novo ano possamos continuar a
publicar regularmente material que seja útil e, de fato, vital para o povo de Deus, especialmen-
te para nossos líderes, os oficiais da Igreja.
A chegada de um novo ano nos leva a pensar em novos começos, novos planos. Em al-
gumas igrejas, novos oficiais foram ordenados. Agora eles estão entrando em uma nova fase
de sua vida ou assumindo essa importante tarefa novamente. Um novo ano começa, com novas
esperanças para os próximos doze meses, e talvez certas preocupações sobre o futuro.
“Cremos que o bom Deus, depois de haver criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao
destino ou acaso, mas segundo a Sua santa vontade Ele as rege e governa de tal modo que no mundo nada
acontece sem a Sua determinação... Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando nos ensina
que nada nos acontece por acaso, mas somente pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cui-
da de nós com zelo paternal, guardando as Suas criaturas de tal modo que debaixo do Seu poder que nem
mesmo um cabelo da nossa cabeça - pois estão todos contados - ou um pardal cai por terra sem o consen-
timento do nosso Pai (Mt. 10.29, 30). Nisso confiamos, pois sabemos que Ele reprime o maligno e todos os
nossos inimigos para que não possam nos ferir sem a Sua permissão ou vontade.”
No entanto, a providência de Deus não anula nossa responsabilidade. Sabemos que não
podemos simplesmente sentar e relaxar, não fazendo nada porque, afinal de contas, Ele cuida-
rá de tudo. A providência de Deus não significa que não tenhamos que trabalhar, mas significa
que podemos trabalhar com confiança, confiando que Ele abençoará os frutos do nosso traba-
lho. Mas essa confiança só pode ser real através do poder do Espírito Santo que habita em nós.
E assim, devemos orar.
E é aí que entra a Revista Diakonia. Nesta edição, apresentaremos quatro artigos que
preenchem mais de sessenta páginas – orientações sobre a liderança, a pregação do Evan-
gelho, a responsabilidade dos presbíteros como nutridores do pacto e aluta dos presbíteros
contra o nominalismo. Ler esses artigos, e lê-los proveitosamente, exigirá esforço, demandará
sua atenção e exigirá que você internalize as informações e os conceitos que encontrar nessas
páginas. Mas confiamos que Deus abençoará esse esforço ricamente, pois os artigos coletados
nestas páginas não são meras ideias humanas; eles são baseados na Palavra de Deus, a fonte da
sabedoria que precisamos para sermos líderes frutíferos e eficazes na Igreja de Deus.
Ore e labute com o Reino de Deus em mente. Deus nos capacita, mas temos que tra-
balhar. Que Ele use esses recursos para a edificação da Sua Igreja, para o benefício dos Seus
oficiais, e o mais importante, para a glória do Seu santo nome.
Pr. JIM WITTEVEEN é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada
em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil.
William Boekestein
O rei Roboão teve uma escolha. Como Liderança positiva é utilizar de forma
rei de Israel, ele poderia exercer uma liderança cativante os meios bíblicos para guiar as pes-
positiva ao aliviar o fardo que seu pai, Salomão, soas a um sucesso maior. É “a capacidade e a
havia acumulado sobre o povo. Ele poderia “ser vontade de reunir homens e mulheres a um pro-
servo do povo... e falar-lhe boas palavras...”. Se pósito comum, e o caráter que inspira confian-
assim fosse, seus súditos prometiam servi-lo ça”.3 Considere este contraste: Roboão e Jesus
alegremente. Ou, ele poderia liderar com uma foram ambos líderes. Os seguidores de Roboão
severidade similar à dos feitores do Egito. foram coagidos pelo medo. Os seguidores de
Jesus são constrangidos pelo amor. Todos os lí-
Quando ele escolheu a segunda op- deres motivam e movem pessoas. Mas líderes
ção, as pessoas perderam o entusiasmo de positivos motivam as pessoas de maneira afir-
segui-lo. Finalmente, Roboão perdeu metade mativa, construtiva e produtiva. Uma liderança
do reino e a nação começou a declinar rumo louvável promove uma aura palpável de deseja-
à dissipação. Alexander Maclaren refere-se a bilidade. O comentário de William Hendriksen
esta narrativa como uma “história miserável sobre Colossenses 3:21 se aplica a todos os lí-
de loucura e egoísmo” por parte do líder. “Se deres: “Os pais devem criar uma atmosfera que
Roboão tivesse desejado dividir o reino, não te- torne a obediência um assunto fácil e natural,
ria encontrado uma cunha tão boa quanto essa ou seja, uma atmosfera de amor e confiança…
ameaçadora promessa de tirania.”1 Roboão Embora a admoestação negativa não possa… ser
aprendeu da maneira mais difícil que a lide- evitada…, a ênfase deve estar no que é positivo.”4
rança negativa é uma receita para o fracasso Líderes negativos podem ensinar, decidir e pro-
(cf. 1 Rs 12.1-19). teger, mas não podem capturar nossas afeições
e lealdades da mesma forma que os líderes po-
Este ensaio irá propor um caminho sitivos. Líderes negativos podem alcançar obje-
melhor, o caminho da liderança positiva.2 tivos, mas somente líderes positivos podem di-
Oficiais de Deus São Instruídos a Liderar Ainda que nunca tenha se esquiva-
Positivamente do de batalhas necessárias, e tenha proferi-
do duras repreensões quando autorizado (cf.
Observe como as imagens de lideran- Mt 23; Mc 8.17-21; etc.), Jesus não era beli-
ça nas Escrituras são amplamente positivas. gerante. Ele exerceu humildade e gentileza.
Os professores educam (2 Tm 2.2), os agricul- Seu ministério terrestre foi caracterizado por
tores cultivam (2 Tm 2.6), os vigias advertem lágrimas (Hb 5.7), generosidade, empatia, co-
(Ez 3.21), os soldados protegem (2 Tm 6.3), os ragem e clareza. Em seu ministério, Jesus
gerentes administram (Tt 1.7). O retrato mais personificou a bondade, a compaixão, o sacri-
dominante da liderança bíblica, o de um pas- fício, a prudência e a oportunidade. Ao cho-
tor, é extremamente positivo (Sl 23.2). rar no túmulo de Lázaro, seus inimigos foram
atingidos por seu amor para com aqueles que
Da mesma forma, as qualificações de ele liderava (Jo 11.35-36). Mesmo aqueles que
um supervisor descrevem um líder positivo (1 discordavam de sua mensagem foram atraí-
Tm 3, Tt 1). Ele exerce e cultiva a integridade dos por seus métodos.
moral, a fidelidade relacional e a estabilidade
emocional. Ele não negocia conhecimento, Jesus é o líder positivo por excelência.
mas é capaz e está disposto a compartilhar Cristo não apenas governa. Ele lidera. Ele não
com os outros o que o Senhor lhe tem dado. apenas lidera. Ele lidera positivamente. Pode-
Ele não “domina sobre” os outros, mas os ser- mos dizer que a liderança positiva não é um
ve (Mt 20:25). Sua liderança positiva, impar- resumo básico do que torna Cristo tão adorá-
cial e não violenta frutifica no lar, na igreja e vel a nós? Nosso Bom Pastor nunca nos conde-
no mundo. Sua liderança positiva cultiva uma na (Rm 8.1), nunca nos abandona, nunca nos
reputação cativante tanto entre aqueles em menospreza. Em vez disso, Ele sacrifica Sua
seus círculos de relacionamentos internos glória, Seu sangue, Sua vida, para nos tornar
quanto externos. completos e nos levar ao céu. O rei dos reis
nos trata como irmãos e como amigos. Sua
Jesus Modelou a Liderança Positiva liderança se equipara à nossa salvação. Esse
único fato já torna a liderança positiva uma
D.A. Carson escreve que “a vida e a busca eminentemente digna.
morte de Jesus devem constituir a medida da
liderança cristã”.10 Jesus fundamentou sua li- De Onde Surge a Liderança Positiva?
derança em amor, não em medo. Ele advertiu
contra a liderança dominadora (Mt 20.25-28) Você sabe a diferença entre liderança
e nunca liderou por meio de bullying espiritu- positiva e negativa porque já experimentou
al. Os homens o seguem porque são atraídos, os dois tipos. Você conhece líderes aos quais
não empurrados (Jo 6.44). Sua mensagem teria seguido em desafios impossíveis porque
Por essa razão, o amor é o melhor mo- Líderes positivos sabem que o dever
tivador.24 Jesus afirma que as pessoas o se- nunca é mais forte que o amor. Mohler ecoa
guem porque o amam (Jo 14.15), não porque Agostinho insistindo que “o amor sustenta todo
8
Mohler, Conviction to Lead, 210.
1
Alexander Maclaren, Second Samuel and the Books of
Kings to Second Kings VII, Expositions of Holy Scripture 9
John MacArthur, “A Few Good Shepherds”, acessado em
(Cincinnati: Jennings and Graham, nd), 216, 220.
7 de julho de 2014 em http://www.gty.org/resources/arti-
cles/A104/a-few-good-shepherds.
2
Da pletora de livros de liderança disponíveis, os seguintes
estarão entre os mais úteis para os presbíteros e diáconos.
D.A. Carson, For the Love of God: A Daily Companion for
10
Os livros gerais de liderança cristã incluem: J. Oswald San-
Discovering the Riches of God’s Word (Wheaton: Crossway
ders, Spiritual Leadership: Principles of Excellence for Every
Books, 1998), entrada em 20 de janeiro.
Believer, 2nd revision (Chicago: Moody Press, 1994); John
Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership: Follow
Joel Beeke, notas não publicadas de aulas sobre “Lideran-
11
Them and People Will Follow You (Nashville: Thomas Nel-
ça e Administração”.
son, 1998); Albert Mohler, The Conviction to Lead: 25 Prin-
ciples for Leadership that Matters (Minneapolis: Bethany 12
Oswald Sanders, Spiritual Leadership, 48.
House Publishers, 2012); John Stott, Problems of Christian
Leadership (Downers Grove: IVP Books, 2014). Livros de 13
John Calvin, Commentaries on the Catholic Epistles,
liderança escritos mais especificamente para oficiais ecle- (Grand Rapids, Baker, 1989), 50. (on 1 Peter 1:18).
siásticos incluem: Jay Adams, Pastoral Leadership, vol. 3,
Shepherding God’s Flock (Grand Rapids: Baker Book Hou- 14
Sanders, Spiritual Leadership, 50.
se, 1976); Kent Hughes, Disciplines of a Godly Man (Whe-
aton: Crossway, 1991), 169-79; John Stott, Basic Christian 15
D.A. Carson, , For the Love of God (entrada em 20 de ja-
Leadership: Biblical Models of Church Gospel and Ministry neiro)
(Downers Grove: InterVarsity Press, 2002); Steve Miller,
C.H. Spurgeon on Spiritual Leadership (Chicago: Moody, 16
John MacArthur, “A Few Good Shepherds.”
2003); Timothy Whitmer, The Shepherd Leader: Achieving
Effective Shepherding in Your Church (Phillipsburg: P&R 17
Sanders, Spiritual Leadership, 49.
Publishing Co., 2010). Recursos voltados para a questão es-
pecífica da liderança positiva incluem: Alexander Strauch, 18
Cf. Stott, Problems of Christian Leadership, 37-39.
Leading with Love (Littleton, CO: Lewis and Roth Publishers,
2006); David Murray, Positive Leadership (http://www.ser- 19
Al Mohler, The Conviction to Lead, 63.
monaudio.com/sermoninfo.asp?SID=927141328448); e de
uma perspectiva não cristã: Kathryn D. Cramer, Lead Posi- 20
Jason Helopoulos, What Makes for a Good Elder? Aces-
tive: What Highly Effective Leaders See, Say, and Do (San sado em 26 de agosto de 2014 de http://thegospelcoalition.
Francisco: Jossey-Bass, 2014). org/blogs/kevindeyoung/2014/07/10/what-makes-for-a-goo-
d-elder/.
3
Citado em Oswald Sanders, Spiritual Leadership, 27
21
Timothy Keller, Center Church: Doing Balanced, Gospe-
4
William Hendriksen, Exposition of Colossians and Phile- l-Centered Ministry in Your City (Grand Rapids: Zonder-
mon, New Testament Commentary (Grand Rapids: Baker van, 2012), 13-26.
Book House, 1964), 172). (ênfase original).
22
From Carl Trueman’s “Leadership, Holy Men, and Les-
5
John Stott, Problems of Christian Leadership, 90. sons from Augustine”, acessado em 20 de agosto de 2014
em http://www.reformation21.org/counterpoints/carl-true-
6
John Stott, Problems of Christian Leadership, 14. manleadership-holy-men-and.php. Cf. Cf. Mida Zetlin’s
31
David Murray, Positive Leadership, Unpublished lecture
48
Kevin DeYoung, The Good News We Almost Forgot: Re-
notas da conferência “Semper Reformanda” de 2013 orga- discovering the Gospel in a 16th Century Catechism (Chi-
nizada por the Eastern Classis of the URCNA. cago: Moody Publishers, 2010), 59,60.
32
Cf. Kathryn D. Cramer, Lead Positive, 26.
49
John Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership, 133.
33
Al Mohler, The Conviction to Lead, 153.
50
Consider K.C. Murdarasi’s excellent book on Augustine,
The Truth Seeker (Ross-shire: Christian Focus Publica-
34
John Stott, Problems of Christian Leadership, 93. tions, 2014). Ainda que escrito para leitores em idade es-
colar, a maioria dos líderes da igreja o considerará estimu-
35
URCNA, Church Order, Art. 15. lante.
36
Dentro da política eclesiástica reformada antiga o “Con- 51
Cf. Rolf Dobelli, “Notícias são ruins para você - e deixar de
sistório” é o colégio de pastores de uma igreja local. Este lê-las te deixará mais feliz” acessado em 27 de outubro de
colégio é composto pelos ministros da Palavra e presbíteros 2014 em http://www.theguardian.com/media/2013/apr/12/
dessa igreja. No Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil news-is-bad -robo-dobelli.
o termo “conselho” é usado como sinônimo de “consistório”.
37
John Stott, Problems of Christian Leadership, 94.
WILLIAM BOEKESTEIN é casado, pai, pastor da Immanuel
38
Al Mohler, The Conviction to Lead, 18. Fellowship Church (Kalamazoo, MI), escritor. Esta igreja
faz parte da United Reformed Churches North America
39
Ibid., 21.
Tradução: Arielle de Eça.
40
John Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership, 24. Revisão: Thaís Vieira.
A. N. Hendriks
C. Trimp indicou que esta descrição é Mais de uma vez foi apontado que a
notável pelo seu “caráter modesto”. Ele escreve: significância dos Reformadores reside, pri-
mordialmente, na descoberta da função inata
Pois ‘administração’ é a modesta tarefa de servir da Palavra. Contra Roma, que promoveu os
a comida preparada já presente - a última parte
sacramentos como “canais” da graça, Lutero e
de um procedimento monumental, que foi reali-
zado por outras mãos que não as dos ministros. Calvino enfatizaram à congregação que Deus
A ‘Administração da Palavra’, por causa de seu nos entrega a salvação através da Sua Palavra.4
caráter, não pode ser um reavivamento da Pa-
lavra, uma libertação da Palavra do túmulo do A Palavra das Escrituras não apenas
passado ou dos grilhões da página escrita. Não tratam da salvação, reconciliação e vida eter-
é nem uma atualização da Palavra, nem uma re- na. Ela garante e trabalha tudo disso. C. Ve-
presentação, reformulação dos fatos da Palavra
enhof observa: A salvação completa em Cris-
para o presente dia ...
to - o fruto de sua concepção e nascimento, seu
A administração da Palavra não é nada mais nem trabalho e sofrimento, sua morte e ressurreição,
menos do que o servir e o distribuir da comida pre- ascensão e domínio do mundo, em resumo, a
parada entregue ao ministro. Não criatividade, salvação completa que se encontra em Cristo é
mas uma adesão cuidadosa e fiel à Palavra é exigi- ‘dentro’ dessa Palavra e é apresentada, dada e
da de um administrador (1 Co 4.2).2 compartilhada conosco, nela. Naquela Palavra
nós ‘temos’ e ‘possuímos’, somente nela. Porque
Se quisermos obter uma compreen- a Palavra das Escrituras é a Palavra da cruz (1
são correta da pregação, não devemos es- Co 1.18); a Palavra da reconciliação (2 Co 5.19);
quecer o que o Prof. Trimp disse. Na prega- a Palavra da salvação (At 13.26); a palavra da
ção, a Palavra de Deus não é descrita para a graça (At 14.13); a Palavra da vida (Fp 2.16).5
congregação. Trimp fala corretamente sobre
a distribuição de alimentos previamente pre- Com esse caráter da Palavra das Escri-
parados. A Palavra de Deus, como vem a nós turas em mente, podemos entender um pouco
nas Escrituras, é real, fala conosco, alcança do segredo da pregação. No sermão, a Palavra
nosso coração. não é descrita. Mas, na pregação, essa Palavra
viva é aberta e entregue à congregação.
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
penetrante do que espada alguma de dois gumes,
e penetra até à divisão da alma e do espírito, e Em 2 Coríntios 5, Paulo chama a pre-
das juntas e medulas, e é apta para discernir os gação de “ministério da reconciliação”. Quando
pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12) lemos esse importante capítulo, ficamos sur-
Na visitação da igreja39, costuma-se per- A crítica não deve ser expressa na sala consisto-
guntar qual é, na opinião do conselho, o esta- rial imediatamente após o sermão. Este definiti-
20
Holwerda, “De heilshistorie in de prediking,” in Begon-
35
O Catecismo de Heidelberg é dividido em 52 pequenas
nen hebbende van Mozes, (Terneuzen, 1953), p. 95. divisões (correspondente ao número de domingos de um
ano). Estas divisões recebem o nome de “Dia do Senhor”.
21
J. C. Sikkel, Dienst des Woords, (Haarlem, 1923), pp. 10, 36
Guillaume, “De Catechsimus in den dienst des Woords,”
11.
in Van den dienst des Woords, p. 171.
22
“Ordem da Igreja” é um dos nomes dados ao documento 37
A. Kuyper, De Heraut 18 March 1888..
que serve para regular a vida confederacional ou federa-
cional de determinadas igrejas. O documento que regula a 38
Citado por J. Hovius, Het toezicht op de Dienaren des
vida confederacional das Igrejas Reformadas do Brasil re- Woords door de kerkelijke vergaderingen, (Vlaardingen,
cebeu o nome de “Regimento”. As igrejas presbiterianas no 1963), pp. 16,17.
Brasil (IPB, IPI, IPC) escolheram o nome de Constituição
para o documento que define a convivência de suas igrejas 39
Essa visitação é conhecida como “Visitação Eclesiástica”
federadas (Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil, Artigo 37).
Anualmente, um concílio autoriza dois oficiais dos mais
23
Os primeiros Sínodos Holandeses constantemente se ob- experientes e capacitados, para fazerem visitações eclesi-
jetaram ao denominado “Dominicalia” ou “Sondaechsche ásticas em todas as congregações que constituem esse con-
Evangelien”, um sistema periscópico da Igreja Romana. cílio. Estes oficiais podem ser dois ministros da Palavra;
Eles, porém, recomendavam pregações em série: “Deve-se ou, um ministro e um presbítero. Os visitadores não têm
explicar um livro das Sagradas Escrituras sucessivamente autoridade sobre as igrejas a serem visitadas, mas, o obje-
em ordem” (Sínodo de Dort, 1574). tivo da visitação eclesiástica “é contribuir, com bons conse-
lhos, para a paz, a edificação e o bem-estar das igrejas de
24
W. Kremer, Geestelijke leiding in de prediking, (Alphen Cristo”. Para cumprir esse objetivo, os visitadores têm o
aan den Rijn). dever de “perguntarem se tudo está sendo feito conforme
a Palavra de Deus, se os oficiais, juntos e cada um individu-
25
A. Kooy, “Eigentijdse verkondiging,” in De Reformatie,- almente, cumprem fielmente os seus deveres, se mantêm
45th. ed., p. 162. o regimento das igrejas de maneira apropriada e se pro-
movem a edificação da congregação com seus conselhos e
atos, da melhor maneira possível. Os visitadores eclesiásti-
26
G. Wingren, Die Predigt, (Göttingen, 1955), S. 35.
cos também devem admoestar os oficiais que forem negli-
gentes em algum respeito. Um relatório por escrito de cada
27
Citado por C. Veenhof, Predik het Woord, (Goes), pp. 179, visitação será entregue ao próximo concílio”.
180.
40
Ph. J. Huijser, De ouderling en de prediking, (Kampen,
28
Ligar e desligar são termos rabínicos para permitido e 1959), p. 127.
proibido
41
Ph. J. Huijser, op. cit., pp. 127, 128.
29
W. H. van der Vegt, citado por J. Francke, “De preek en
het publieke leven,” in De Reformatie, 47th. ed., p. 94. 42
A Edição Nº 2 da Revista Diakonia sobre o tema “Visi-
tação Pastoral” está disponível em https://revistadiakonia.
30
Douma, Voorbeeld of gebod?, (Amsterdam, 1972), p. 46. org/edicoes-2018/
31
J. J. Buskes, “Verantwoord ministerschap,” in Actuele
prediking, (Nijkerk), p. 158-160, gives some examples. A. N. HENDRICKS é ministro da Palavra (emeritus) das
Igrejas Reformadas (Libertadas) na Holanda.
32
O. Jager, Eigentijdse verkondiging, (Kampen), p. 107-114.
33
As edições 4 e 5 da Revista Diakonia trazem os artigos Tradução: Letícia Cortês.
do Dr. Gootjes “A Prática da Pregação Catequética”. Nestes Revisão: Yuri Costa.
12
O Rev. G. Van Dooren tem enfatizado a importância do
treinamento para o ofício de presbítero (antes e depois de
Notas: sua ordenação) em seu ministério pastoral e em sua capa-
1
G.D. Henderson, The Scottish Ruling Elder (London: Ja- cidade de conferencista das disciplinas Diaconiológicas na
mes Clarke 1935), p. 11. Faculdade Teológica das Igrejas Reformadas Canadenses.
No entanto, pelo que sei, praticamente nada está sendo fei-
2
Em 1982 se iniciou a International Conference of Refor- to no sentido de um treinamento especial para preparar
med Churches (ICRC). Esta conferência reúne 31 confede- homens para o ofício de presbítero nessas igrejas.
rações de igrejas reformadas de diversos países. Para co-
nhecer mais a ICRC, acesse: https://www.icrconline.com/ 13
A igreja em Genebra nos dias de Calvino sofria muita
about-us ação das autoridades civis. As Ordenanças Eclesiásticas de
1541 foi a tentativa de Calvino para fazer a separação entre
3
Veja mais sobre os anciãos e julgamento, C. Van Dam, Igreja e Estado. O Conselho aqui mencionado se refere ao
“The Elder in the Gate,” Diakonia, l:4 (1988), pp. 11-16. Pequeno Conselho e não ao “conselho” de uma igreja local
como temos hoje. O Pequeno Conselho eram um dos con-
4
Em Atos 20:17,28 e Tito 1:5,7 “presbiteroi” e “episkopoi” selhos civis que compunham a estrutura administrativa
são usados indistintamente e os requisitos para o ofício de genebrina; e “órgão central da administração de Genebra”.
presbyteros e episkopos são muito semelhantes; cf. Tito Os nomes dados ao Pequeno Conselho era: Conselho Es-
1:5-9 e 1 Timóteo 3:1-7. trito (Conseil Estoicte), Conselho Ordinário (Conseil Ordi-
naire), o “Conselho” (Conseil), ou, “Conselho municipal de
5
A palavra “classis” (plural classes) vem do latim e indica Genebra”. Também recebia o título de “Senado” e coleti-
uma divisão ou classe de pessoas ou de outros objetos. No vamente, o título honorífico de “Seigneury” (senhoria). O
governo eclesiástico reformado continental essa palavra Pequeno Conselho era composto por 25 membros. Estes
foi escolhida para designar uma das assembléias maiores. membros eram responsáveis pela justiça criminal, tendo
O “classis” é a assembléia maior equivalente aos antigos nas mãos desde os assuntos corriqueiros da cidade, in-
concílios regionais das IRB ou aos concílios particulares de cluindo os eclesiásticos, chegando ao poder de vida e morte
igrejas reformadas na Holanda. Sem a natureza hierárquica (para maior conhecimento sobre a organização político-ad-
que caracteriza os concílios no presbiterianismo brasileiro, ministrativa de Genebra, vide: Silvestre, Armando Araújo.
é o equivalente ao presbitério das igrejas presbiterianas. Calvino e a resistência ao Estado. São Paulo: Editora Ma-
ckenzie, 2003. p. 28-35, 43-54; McGrath, Alister. A Vida de
6
Para o que se segue, ver Bouwman, Gereformeerd kerkre- João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 127-146).
cht, I (Kampen: Kok, 1928), 538-539. 14
O “burgh” era o conselho administrativo municipal no
Reino Unido e em outros países.
7
É comum na política eclesiástica presbiteriana os minis-
tros da Palavra serem denominados como presbíteros do- 15
Torrance, Scottish Journal of Theology, 37 (1984), 506.
centes. Os “presbíteros regentes” são os que não são minis-
tros da Palavra. 16
Henderson, The Scottish Ruling Elder, p. 204
Os presbíteros estão iniciando suas visi- ticipação do povo de Deus em seus cultos de
tas domiciliares anuais. O que eles estão procu- adoração pública em Jerusalém, só podiam
rando? Que mensagem é que têm para as famí- ficar satisfeitos com o que viram.
lias que eles visitam? Talvez seja benéfico nesse
tempo do ano que os presbíteros e os membros Aqueles holocaustos do Antigo Testa-
da congregação pensem sobre alguns dos desa- mento eram na verdade uma profissão de fé.
fios que os presbíteros que visitam enfrentam O holocausto simbolizava que o filho de Deus
- e, portanto, alguns dos desafios enfrentados se oferecia ao Senhor como sacrifício vivo.
pelas famílias que são visitadas. Estou conven- Ao mesmo tempo, o holocausto retratava o
cido que nosso entendimento de quem Deus evangelho de Jesus Cristo - pois o adorador
realmente é fica no centro da visita. punha a mão sobre a cabeça do bode, confes-
sava seus pecados, depois cortava a garganta
Tudo está bem do animal para que o animal morresse em vez
do pecador. Aqui estava o evangelho de Jesus
Os anciãos de Israel certamente não Cristo, substituto do pecador diante de Deus.
poderiam reclamar do entusiasmo de Israel Que o povo trouxe suas ofertas tão fielmen-
pelo serviço do Senhor. Conforme Isaías 1.11, te certamente falou bem de sua fé em Jesus
o povo trouxe a Deus uma multidão de sacrifí- Cristo! Os anciãos de Israel só poderiam estar
cios, tanto que o Senhor disse “estou farto dos satisfeitos com a fé do povo...
holocaustos de carneiros e da gordura de ani-
mais cevados.” As pessoas nunca faltaram os Nem tudo está bem
sábados e as convocações - elas sempre esti-
veram lá (1.13). Pronta e frequentemente elas No entanto, o Senhor Deus não estava
estenderam as mãos em oração (1.15). Os ofi- satisfeito com o seu povo. De fato, o Santo de
ciais, observando o comparecimento e a par- Israel expressou sua repulsa.