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INSTITUTO

EDIÇÃO Nº 08 | ANO 2 | JANEIRO DE 2019 | MMXIX


JOÃO CALVINO

A RESPONSABILIDADE
DOS PRESBÍTEROS
revistadiakonia.org
E X P E D I E N T E
EDITORES Adriano Gama
Elienai B. Batista

ASSISTENTE Déborah Diná Oliveira Silva


EDITORIAL

REVISÃO Esther dos Santos


Thaís Vieira, Yuri Costa.

TRADUÇÃO Arielle de Eça, Letícia Cortês, Jim


Witteveen

PROJETO Thiago de Azevedo Nunes


GRÁFICO

DIAGRAMAÇÃO Thiago de Azevedo Nunes

WEBSITE Israel F. B. Batista

FALE contato@revistadiakonia.org
CONOSCO

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S U M Á R I O
JIM EDITORIAL
WITTEVEEN
04
WILLIAM LIDERANÇA POSITIVA:
BOEKESTEIN LIDERANDO COMO JESUS (NÃO
COMO ROBOÃO)
06
A. N.

21
O PRESBÍTERO
HENDRIKS E A PREGAÇÃO

DR. CORNELIS

32
O PRESBÍTERO COMO
VAN DAM PRESERVADOR E NUTRIDOR
DA VIDA NO PACTO:
O QUE A BÍBLIA DIZ

DR. CLARENCE

47
UMA PIEDADE EXTERNA:
BOUWMAN O NOMINALISMO E
O TRABALHO DO
PRESBÍTERO
EDITORIAL
Jim Witteveen

Um novo ano chegou e damos graças a Deus pelo Ano do Senhor 2019 e por mais esta
publicação da Revista Diakonia – a oitava edição. Estamos muito gratos pelo fato de que neste
último ano tivemos um bom começo, publicando sete edições repletas de material que servirá
à Igreja por muitos anos, se Deus quiser. Esperamos que neste novo ano possamos continuar a
publicar regularmente material que seja útil e, de fato, vital para o povo de Deus, especialmen-
te para nossos líderes, os oficiais da Igreja.

A chegada de um novo ano nos leva a pensar em novos começos, novos planos. Em al-
gumas igrejas, novos oficiais foram ordenados. Agora eles estão entrando em uma nova fase
de sua vida ou assumindo essa importante tarefa novamente. Um novo ano começa, com novas
esperanças para os próximos doze meses, e talvez certas preocupações sobre o futuro.

Sem uma firme e inabalável confiança no Deus da providência, o futuro é incerto, e o


medo pode ser a única resposta verdadeiramente honesta quando se pensa no que está por vir.
Mas, de acordo com o artigo 13 da Confissão Belga, confessamos a realidade da providência de
Deus, que nos dá uma esperança verdadeira sobre o futuro:

“Cremos que o bom Deus, depois de haver criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao
destino ou acaso, mas segundo a Sua santa vontade Ele as rege e governa de tal modo que no mundo nada
acontece sem a Sua determinação... Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando nos ensina
que nada nos acontece por acaso, mas somente pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cui-
da de nós com zelo paternal, guardando as Suas criaturas de tal modo que debaixo do Seu poder que nem
mesmo um cabelo da nossa cabeça - pois estão todos contados - ou um pardal cai por terra sem o consen-
timento do nosso Pai (Mt. 10.29, 30). Nisso confiamos, pois sabemos que Ele reprime o maligno e todos os
nossos inimigos para que não possam nos ferir sem a Sua permissão ou vontade.”

No entanto, a providência de Deus não anula nossa responsabilidade. Sabemos que não
podemos simplesmente sentar e relaxar, não fazendo nada porque, afinal de contas, Ele cuida-
rá de tudo. A providência de Deus não significa que não tenhamos que trabalhar, mas significa
que podemos trabalhar com confiança, confiando que Ele abençoará os frutos do nosso traba-
lho. Mas essa confiança só pode ser real através do poder do Espírito Santo que habita em nós.
E assim, devemos orar.

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Há uma expressão latina: “Ora et Labora”, que significa, “Ore e trabalhe”. Nós, oficiais
da Igreja de Cristo e os cristãos em geral, confiamos que Deus abençoará nossos esforços.
Oramos por Sua orientação, por Sua capacitação e também trabalhamos. Porque precisamos
seguir o conselho que o apóstolo Paulo deu a Timóteo: “Por esta razão, pois, te admoesto que
reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1.6).

E é aí que entra a Revista Diakonia. Nesta edição, apresentaremos quatro artigos que
preenchem mais de sessenta páginas – orientações sobre a liderança, a pregação do Evan-
gelho, a responsabilidade dos presbíteros como nutridores do pacto e aluta dos presbíteros
contra o nominalismo. Ler esses artigos, e lê-los proveitosamente, exigirá esforço, demandará
sua atenção e exigirá que você internalize as informações e os conceitos que encontrar nessas
páginas. Mas confiamos que Deus abençoará esse esforço ricamente, pois os artigos coletados
nestas páginas não são meras ideias humanas; eles são baseados na Palavra de Deus, a fonte da
sabedoria que precisamos para sermos líderes frutíferos e eficazes na Igreja de Deus.

Ore e labute com o Reino de Deus em mente. Deus nos capacita, mas temos que tra-
balhar. Que Ele use esses recursos para a edificação da Sua Igreja, para o benefício dos Seus
oficiais, e o mais importante, para a glória do Seu santo nome.

Pr. JIM WITTEVEEN é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada
em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil.

Revisão: Ester Santos

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LIDERANÇA POSITIVA:
LIDERANDO
COMO JESUS
(NÃO COMO ROBOÃO)

William Boekestein

O rei Roboão teve uma escolha. Como Liderança positiva é utilizar de forma
rei de Israel, ele poderia exercer uma liderança cativante os meios bíblicos para guiar as pes-
positiva ao aliviar o fardo que seu pai, Salomão, soas a um sucesso maior. É “a capacidade e a
havia acumulado sobre o povo. Ele poderia “ser vontade de reunir homens e mulheres a um pro-
servo do povo... e falar-lhe boas palavras...”. Se pósito comum, e o caráter que inspira confian-
assim fosse, seus súditos prometiam servi-lo ça”.3 Considere este contraste: Roboão e Jesus
alegremente. Ou, ele poderia liderar com uma foram ambos líderes. Os seguidores de Roboão
severidade similar à dos feitores do Egito. foram coagidos pelo medo. Os seguidores de
Jesus são constrangidos pelo amor. Todos os lí-
Quando ele escolheu a segunda op- deres motivam e movem pessoas. Mas líderes
ção, as pessoas perderam o entusiasmo de positivos motivam as pessoas de maneira afir-
segui-lo. Finalmente, Roboão perdeu metade mativa, construtiva e produtiva. Uma liderança
do reino e a nação começou a declinar rumo louvável promove uma aura palpável de deseja-
à dissipação. Alexander Maclaren refere-se a bilidade. O comentário de William Hendriksen
esta narrativa como uma “história miserável sobre Colossenses 3:21 se aplica a todos os lí-
de loucura e egoísmo” por parte do líder. “Se deres: “Os pais devem criar uma atmosfera que
Roboão tivesse desejado dividir o reino, não te- torne a obediência um assunto fácil e natural,
ria encontrado uma cunha tão boa quanto essa ou seja, uma atmosfera de amor e confiança…
ameaçadora promessa de tirania.”1 Roboão Embora a admoestação negativa não possa… ser
aprendeu da maneira mais difícil que a lide- evitada…, a ênfase deve estar no que é positivo.”4
rança negativa é uma receita para o fracasso Líderes negativos podem ensinar, decidir e pro-
(cf. 1 Rs 12.1-19). teger, mas não podem capturar nossas afeições
e lealdades da mesma forma que os líderes po-
Este ensaio irá propor um caminho sitivos. Líderes negativos podem alcançar obje-
melhor, o caminho da liderança positiva.2 tivos, mas somente líderes positivos podem di-

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latar corações. Mesmo líderes negativos podem tais coisas, eles estão liderando, moldando,
tomar boas decisões, mas o líder positivo toma dirigindo. O presidente dos Estados Unidos
boas decisões apropriadamente. As pessoas de- está sempre liderando, seja pronunciando um
sejam seguir o líder positivo e são abençoadas discurso sobre um dos Estados da União ou ti-
por isso. “Liderança e senhorio são dois conceitos rando férias com sua família. Assim também,
bastante diferentes. O cristão lidera pelo exemplo, os oficiais da igreja estão sempre liderando.
não pela força, e deve ser um modelo que atrai um
seguidor, não um chefe que o obriga”.5 Os oficiais estabelecem o ritmo na vida
da igreja, para melhor ou para pior. Quando
Por Que a Liderança Positiva é Importante? os líderes falham consistentemente em envol-
ver os visitantes por meio da hospitalidade,
A liderança positiva deve ser uma meta eles subvertem poderosamente a opinião di-
não negociável para os atuais e os futuros vina de que a hospitalidade importa. Quando
pastores, presbíteros e diáconos. Ao mesmo os líderes reclamam persistentemente das de-
tempo, os princípios da liderança positiva são cisões da igreja, eles minam o princípio bíbli-
aplicáveis a todos os líderes. E quase todos nós co de tomada de decisão corporativa. Quando
somos líderes. Se você é um marido, está aju- os líderes falam asperamente na igreja ou em
dando a traçar o curso do seu casamento. Se casa, eles despedaçam a visão divina de uma
você é um amigo, tem o potencial de causar um comunidade cristã segura e amorosa.
impacto edificante naqueles que o acolhem em
seu círculo de influência. Se você é pai ou mãe, Da mesma forma, os oficiais da igre-
seus filhos estão aprendendo a compreender ja podem liderar positivamente. Líderes que
o mundo por meio de sua liderança. Se você é voluntariamente se engajam na limpeza da
um funcionário, suas ações afetam as pessoas igreja após um evento dão um exemplo enco-
ao seu redor, para melhor ou para pior. rajador. Líderes que cantam de todo o cora-
ção e assumem um papel ativo nas reuniões
Líderes Estão Sempre Influenciando de oração modelam para a congregação um
padrão bíblico de adoração. Líderes que elo-
Como você não pode “desligar” a lide- giam os outros por seu serviço ou paciência
rança, a forma como você lidera é sempre im- no sofrimento guiam a congregação no uso de
portante. Formal e informalmente, os oficiais “palavras sãs” (1 Tm 6.3). Você está sempre li-
dão o tom para a igreja. Formalmente, os ofi- derando. Mas, dependendo dos seus métodos
ciais lideram tomando decisões. Eles apóiam e formas de liderança, você pode estar fazen-
ou combatem propostas para introduzir mu- do mais mal do que bem.
danças na vida da congregação. Eles decidem
quais currículos de educação serão usados. A Liderança Negativa Pode Incapacitar uma
Eles realizam visitas oficiais às famílias. In- Igreja
formalmente, os presbíteros e diáconos inte-
ragem com a congregação durante refeições e Nas igrejas, ou em qualquer outra or-
em outros ambientes sociais. Enquanto fazem ganização onde os líderes são pessimistas, te-

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merosos, duros, sem princípios, indecisos ou por uma igreja fiel, com ou sem líderes pon-
negativos, uma cultura doentia quase sempre derados. Hoje, mais pessoas parecem estar
se desenvolve. Com tudo o que está errado procurando por igrejas que tenham um senso
com o mundo, onde os líderes da igreja não li- claro de sua missão - e com razão! Tais igrejas
deram com esperança bíblica, uma cultura de dificilmente podem existir sem líderes positi-
negatividade e pessimismo é iminente. John vos que desenvolvam e alimentem uma visão
Stott sugere que “o desânimo é o maior peri- positiva. Deixe o exemplo de Roboão incutir
go ocupacional de um crente, pois pode levar em você a tragédia da liderança fracassada.
à perda de visão e entusiasmo”.6 Onde falta li-
derança positiva, o espírito de negatividade é A Liderança Positiva é Transformacional
frequentemente palpável; às vezes, opressivo.
A negatividade é contagiosa, assim como um Os líderes certos podem levar uma or-
espírito crítico, temeroso e apático. Essas ca- ganização a se tornar muito maior que a soma
racterísticas são especialmente contagiosas de suas partes. Um líder positivo não simples-
nos líderes. mente toma decisões. Ele inspira os outros. O
velho ditado afirma: “algumas coisas são mais
Além disso, sem uma liderança posi- rapidamente captadas do que ensinadas”. Isso
tiva, uma igreja pode perder o interesse em é certamente verdade quanto ao otimismo e
sua missão e declinar para uma existência entusiasmo na igreja. Uma congregação pre-
que visa apenas “manter a fortaleza”. Poucas cisa ver a que se assemelha a confiança piedo-
organizações terão sucesso se seus líderes sa. A maioria das organizações obtêm sucesso
não conseguirem fornecer estímulo. Por trás quando liderada por indivíduos que afirmam,
de muitos grupos desestimulados estão líde- incentivam e geram esperança e confiança.
res desestimulados, há milhares de exemplos Winston Churchill reanimou uma Grã-Breta-
contemporâneos disso.7 Pela própria defini- nha desesperada a se levantar e se defender
ção, a liderança desestimulada não é uma li- contra os nazistas. A cada noite de sexta-feira
derança positiva. Se os líderes não liderarem de outono, algum time de futebol de segun-
positivamente “sua falta de entusiasmo, se não da divisão vence porque seu capitão energiza
o seu antagonismo aberto, enfraquecerá o tra- seus companheiros de equipe.
balho e ameaçará a missão”.8
Espero demonstrar que Jesus e os dis-
As diferenças entre as igrejas com líde- cípulos foram líderes positivos. Fortalecidos
res positivos e as outras só se tornarão mais pelo Espírito Santo, a organização que eles li-
evidentes no futuro. Em eras anteriores, onde deraram virou o mundo de cabeça para baixo
a influência do cristianismo era mais difundi- como nenhuma outra jamais fez. Este ainda é
da, e o impacto da cultura pop era mais fra- o caso hoje. Quando perguntado sobre a vita-
co, a liderança dinâmica e positiva na igreja lidade e o sucesso de sua congregação, John
poderia ter parecido menos importante. Para MacArthur aponta para a liderança positiva
ser franco, nas gerações anteriores, muitas dos anciãos da igreja. “Ao confirmar e imitar
pessoas estavam simplesmente procurando o exemplo piedoso de nossos anciãos, a igreja

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abriu a porta para bênçãos extraordinárias das e maneiras pulsam com benevolência. “É o
mãos de Deus.”9 amor dele, não a sua ira que nos constrange.”11

Oficiais de Deus São Instruídos a Liderar Ainda que nunca tenha se esquiva-
Positivamente do de batalhas necessárias, e tenha proferi-
do duras repreensões quando autorizado (cf.
Observe como as imagens de lideran- Mt 23; Mc 8.17-21; etc.), Jesus não era beli-
ça nas Escrituras são amplamente positivas. gerante. Ele exerceu humildade e gentileza.
Os professores educam (2 Tm 2.2), os agricul- Seu ministério terrestre foi caracterizado por
tores cultivam (2 Tm 2.6), os vigias advertem lágrimas (Hb 5.7), generosidade, empatia, co-
(Ez 3.21), os soldados protegem (2 Tm 6.3), os ragem e clareza. Em seu ministério, Jesus
gerentes administram (Tt 1.7). O retrato mais personificou a bondade, a compaixão, o sacri-
dominante da liderança bíblica, o de um pas- fício, a prudência e a oportunidade. Ao cho-
tor, é extremamente positivo (Sl 23.2). rar no túmulo de Lázaro, seus inimigos foram
atingidos por seu amor para com aqueles que
Da mesma forma, as qualificações de ele liderava (Jo 11.35-36). Mesmo aqueles que
um supervisor descrevem um líder positivo (1 discordavam de sua mensagem foram atraí-
Tm 3, Tt 1). Ele exerce e cultiva a integridade dos por seus métodos.
moral, a fidelidade relacional e a estabilidade
emocional. Ele não negocia conhecimento, Jesus é o líder positivo por excelência.
mas é capaz e está disposto a compartilhar Cristo não apenas governa. Ele lidera. Ele não
com os outros o que o Senhor lhe tem dado. apenas lidera. Ele lidera positivamente. Pode-
Ele não “domina sobre” os outros, mas os ser- mos dizer que a liderança positiva não é um
ve (Mt 20:25). Sua liderança positiva, impar- resumo básico do que torna Cristo tão adorá-
cial e não violenta frutifica no lar, na igreja e vel a nós? Nosso Bom Pastor nunca nos conde-
no mundo. Sua liderança positiva cultiva uma na (Rm 8.1), nunca nos abandona, nunca nos
reputação cativante tanto entre aqueles em menospreza. Em vez disso, Ele sacrifica Sua
seus círculos de relacionamentos internos glória, Seu sangue, Sua vida, para nos tornar
quanto externos. completos e nos levar ao céu. O rei dos reis
nos trata como irmãos e como amigos. Sua
Jesus Modelou a Liderança Positiva liderança se equipara à nossa salvação. Esse
único fato já torna a liderança positiva uma
D.A. Carson escreve que “a vida e a busca eminentemente digna.
morte de Jesus devem constituir a medida da
liderança cristã”.10 Jesus fundamentou sua li- De Onde Surge a Liderança Positiva?
derança em amor, não em medo. Ele advertiu
contra a liderança dominadora (Mt 20.25-28) Você sabe a diferença entre liderança
e nunca liderou por meio de bullying espiritu- positiva e negativa porque já experimentou
al. Os homens o seguem porque são atraídos, os dois tipos. Você conhece líderes aos quais
não empurrados (Jo 6.44). Sua mensagem teria seguido em desafios impossíveis porque

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inspiravam sua confiança em um bem maior. que o céu está diante deles, o diabo está abai-
Você também já seguiu líderes simplesmente xo deles e Deus está por trás deles. A vitória é
porque era a coisa certa (ou única) a ser feita. certa! Para os líderes positivos, a definição da
Seguir líderes negativos pode ser uma tarefa verdadeira fé do Catecismo de Heidelberg é
difícil. Seguir líderes positivos pode ser um de- uma realidade modeladora: “A verdadeira fé é
leite. Então, o que distingue líderes positivos a convicção com que aceito como verdade tudo
de líderes negativos? Ou, ainda mais importan- aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. É
te, o que é preciso para ser um líder positivo? também a firme certeza de que Deus garantiu -
não só aos outros, mas também a mim - perdão
Ser um líder positivo não tem a ver de pecados, justiça eterna, e salvação por pura
com aprender algumas técnicas para ajudar a graça e somente pelos méritos de Cristo. O Es-
gerenciar as pessoas com mais eficiência. Em pírito Santo opera essa fé em meu coração por
vez disso, líderes positivos possuem certas ca- meio do evangelho” (P&R. 21).
racterísticas indispensáveis que os qualificam
para a liderança e lhes permitem tomar boas O coração do líder positivo “foi humi-
decisões, e fazê-lo consistentemente. Em Mc lhado pelo fracasso, quebrado e conquistado
10.35-45, Jesus pinta um retrato da liderança pelo amor do Calvário”.12 Em Marcos 10, Jesus
positiva em contraste com a liderança nega- fundamenta a liderança dos discípulos em sua
tiva. Segundo Jesus, os líderes positivos são unidade com Ele e Seu sofrimento. Portan-
movidos pela fé, pela humildade e pela pru- to, somente aqueles que foram convertidos a
dência. O oposto do líder positivo é o governa- Cristo podem guiar os outros de uma maneira
dor dos gentios, que lidera cheio de autocon- semelhante à de Cristo. Calvino diz sem ro-
fiança com o propósito de ganho egoísta. deios: “…toda a vida do homem, até que ele seja
convertido a Cristo, é um ruinoso labirinto de
Líderes Positivos Possuem Confiança no desvios. (…) O sangue de Cristo não é apenas o
Evangelho penhor de nossa salvação, mas também a causa
de nosso chamado, até mesmo nosso chamado
Todos os líderes eficazes exalam con- à liderança.”13
fiança em algo. Os líderes cristãos positivos
não são confiantes porque acreditam em si Armados com a confiança do evange-
mesmos ou no poder do pensamento positi- lho, líderes positivos enfrentam desafios com
vo. Líderes positivos são confiantes em Deus. coragem. Ou seja, a teologia deles se traduz
Eles compartilham a perspectiva do salmista: em ação! Toda liderança moral reflete as con-
Só Deus “é a minha rocha, e a minha salvação, vicções teológicas dos tomadores de decisão.
e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado. Somente aqueles fortalecidos pela teologia do
De Deus dependem a minha salvação e a minha evangelho podem conduzir a igreja com uma
glória...” (Sl 62.6-7). Os líderes cristãos positi- indomitabilidade semelhante à de Cristo. Vis-
vos sabem que em Cristo, o Pai os sustenta, o to que os líderes positivos lançaram todas as
Espírito os habita e o sangue e a intercessão suas preocupações em Deus, eles não desmo-
de Jesus os cobrem. Eles estão convencidos de ronam ao primeiro sinal de conflito (1 Pe 5.7).

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Eles aprenderam a “transferir o peso dos en- damente comprometido com a abnegação éti-
cargos espirituais para os ombros maiores, mais ca por causa dos irmãos e irmãs em Cristo, ou
fortes, mais amplos e mais duráveis”.14 você é desqualificado.”15 Da mesma forma, diz
John MacArthur. “Liderança na igreja… não
A confiança no Evangelho capacita os é um manto de status a ser conferido à aristo-
líderes positivos a tomarem decisões difíceis cracia da igreja. Não é ganho por senioridade,
por si mesmos e pelos outros, mesmo em face comprado com dinheiro ou herdado por meio
de forte oposição. Esses líderes se importam de laços familiares. Não cabe necessariamente
com as opiniões dos outros, mas não são ater- àqueles que são bem-sucedidos nos negócios ou
rorizados por elas. Paulo tomou a difícil de- finanças. Não é distribuído com base em inte-
cisão de “resistir a Pedro face a face, porque ligência ou talento. Suas exigências são cará-
se tornara repreensível” (Gl 2.11,14). Paulo se ter inocente, maturidade espiritual e, acima de
importava mais com a honra do evangelho do tudo, disposição para servir com humildade”.16
que com seu relacionamento com este pilar
da igreja. O jovem Davi nunca teria concorda- Comentando sobre 1 Pe 5.3 (quando
do com o desafio de Golias, a menos que ele Pedro insiste que um líder cristão não intimi-
acreditasse firmemente que “a batalha é do dará os que estão sob o seu comando), Oswald
Senhor” (1 Sm 17.47). Sanders acrescenta: “Um comportamento do-
minador, uma ambição desenfreada, um ataque
A confiança no evangelho também en- ofensivo, um discurso tirânico - nenhuma atitu-
coraja os líderes positivos a aceitarem a cul- de poderia ser menos apropriada para alguém
pa pelos erros. Eles concordam com o dito do que afirma ser um servo do Filho de Deus.”17 Em
Presidente Truman: “O orgulho acaba aqui!” vez disso, líderes positivos estão convencidos
de que seu chamado é digno de seu próprio
Líderes Positivos se Superam no Auto-Es- sacrifício, bem como dos sacrifícios de outros.
quecimento
Por causa de sua humildade, líderes
Um ministro refletiu sobre dois tipos positivos podem ser jogadores de equipe, pois
de líderes eclesiásticos desta maneira: “Al- priorizam o bem-estar da igreja e a glória de
guns lideram, outros apenas ditam as normas”. Deus sobre suas próprias iniciativas. Uma
O interesse do líder positivo não é ditar as re- marca dos líderes positivos é sua determina-
gras, ou exercer sua autoridade sobre outros, ção em celebrar decisões que diferem de seus
mas servir (Mc 10.42). desejos. Isso se aplica a como os presbíteros
e diáconos respondem às decisões tomadas
Isso significa que líderes positivos são pelo Consistório ou Conselho. Eles reconhe-
servos. O líder com a mente de Cristo coloca cem que uma decisão foi tomada por um corpo
os interesses dos outros acima dos seus pró- devidamente autorizado. Se eles acham que a
prios (Fp 2). D.A. Carson está certo: “Para lide- decisão viola o regimento da igreja, podem re-
rar... você deve ter o dom da liderança...” (Rm correr dessa decisão. Se não, aceitarão a deci-
12.6-8). Mas você também deve estar profun- são com satisfação. Um oficial da igreja lidera

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bem quando escolhe falar positivamente com nos ajudarão a formular uma “visão teológi-
um membro da congregação sobre uma deci- ca” abrangente.21 Líderes positivos prestam
são do conselho a que ele se opôs. consideração séria e regular às perguntas:
“Por que existimos como igreja? Qual é a nos-
Líderes Positivos Demonstram Considera- sa missão? Como podemos melhor cumprir
ção Futura nossa missão? Que mudanças devemos fazer
para sermos mais fiéis?” Líderes positivos
Há uma diferença entre uma pessoa identificam metas e desenvolvem um plano
positiva e um líder positivo. Pessoas positivas, para alcançar esses objetivos, confiando em
o que todo cristão deveria ser, fornecem enco- Deus para estabelecer o trabalho de suas
rajamento presente. Mas elas não necessaria- mãos (Sl 90.17).
mente ajudam a traçar um rumo para o futuro.
Consideração futura requer proativida-
Lucas usa uma frase em At 19.21 para de. Líderes positivos se recusam a responder
descrever um exemplo da liderança visionária apenas quando as circunstâncias são impos-
de Paulo. Ele “resolveu no seu espírito”. Paulo tas a eles. Isso não significa que eles adotam
elaborou estratégias. Uma fase do trabalho de a mudança por causa da mudança. Mas estão
Paulo havia sido concluída em Éfeso. Ele agora persuadidos de que a mudança é muitas vezes
planejava - em termos concretos - edificar so- uma parte boa e necessária da vida. Líderes
bre as realizações anteriores. Paulo não disse positivos não são conservadores nesse sen-
apenas: “Eu gostaria de ver o ministério crescer. tido: eles não estão dispostos a preservar as
Eu gostaria de ver a igreja se expandir”. Ele ex- condições existentes a todo custo. Mudança
pôs um plano. Ele planejava ministrar na Ma- é inevitável. A questão não é: “Essa igreja mu-
cedônia e na Acaia no caminho à Jerusalém, e dará?”, mas “Essa igreja mudará para melhor
depois passar a Roma. Um propósito espiritu- ou para pior? E ela terá líderes que a ajudem a
al também requer ação. “Então ele enviou para navegar pelas novas águas?”.
a Macedônia dois dos que o serviam” (At 19.22).
Se a liderança positiva fosse simples-
Para um grupo ter sucesso, alguém mente aprender algumas técnicas, o mundo
tem que dedicar tempo pensando.18 “Os lí- estaria cheio de líderes assim. O fato é que a
deres devem saber como a organização deve liderança positiva tem a ver com transferir a
ser direcionada e o caminho que deve ser se- confiança em si mesmo para a confiança em
guido, mas também precisam da habilidade Cristo e se apoiar no futuro positivo que o
para motivar os outros a seguirem essa lide- evangelho garante aos filhos de Deus.
rança.”19 Líderes positivos, de boa vontade,
“pesam as grandes decisões e pensam sobre Como Líderes Positivos Lideram?
questões metodológicas e práticas na igreja”20
Timothy Keller sugeriu que precisamos A diferença entre o modo como líderes
usar nossa doutrina para responder à per- positivos e negativos lideram pode ser resu-
guntas específicas sobre nossa missão que mida em uma única palavra: Amor.

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O líder negativo lidera a partir do amor pró- são forçadas a isso. Paulo explica sua moti-
prio. Carl Trueman explica: vação para seguir a Cristo mesmo além das
aparentes amarras da sanidade: “O amor de
Observa-se com frequência quantos narcisistas Cristo nos constrange...” (2 Co 5.14). William
chegam ao topo em seus respectivos campos. … Hendriksen resume uma teoria bíblica da mo-
Impulsionados pela necessidade de alimentar
tivação em três palavras: “O amor precede a
sua própria autoimagem, saciar… os insaciáveis:
eles amam a si mesmos, e esse amor, porque não obediência”.25 Você nunca levará ninguém a
encontra seu limite no Deus infinito, nunca pode uma obediência real, que honre a Deus, du-
satisfazer; e, portanto, serve apenas para levá- radoura, construtiva e autorrealizável, a me-
-los a níveis mais elevados de amor-próprio, evi- nos que ele seja animado pelo amor a Deus
denciados na vida cotidiana pela conquista ex- e por sua glória.26 “O verdadeiro crescimento
cessiva. Portanto, eles tendem a subir ao topo… na graça é sempre o resultado de uma compul-
quebrando rotineiramente as regras enquanto
são interna trabalhada no coração pelo Espírito
impõem essas regras com uma eficiência impla-
cável sobre seus inferiores.22
de Deus. No entanto, por meio de palavras de
sabedoria e bondade, tais desejos espirituais...
Em contraste marcante, a liderança podem ser inflamados...”27
positiva irradia e expressa um coração que
ama a Deus e aos outros. O maior líder da Nós não podemos liderar verdadeira-
igreja (depois de Cristo) liderou em amor. “… mente até que cativemos corações. Neste pon-
qual ama que acaricia os próprios filhos”, Pau- to, Al Mohler cita um estudo crítico sobre li-
lo também “queria muito” aqueles a quem ele derança. “A liderança... pode ter sido, em certa
liderava (1 Ts 2.7-8). Até liderarmos amorosa- época, caracterizada por um estilo de comando
mente, estaremos liderando negativamente. e controle, de cima para baixo, do tipo faça-eu-
-digo. Mas não mais. Tais dias já se passaram
Líderes Positivos Compreendem o Poder do há muito. Hoje em dia, a liderança é uma as-
Amor piração. É algo que você tem que ganhar todos
os dias, porque, em uma base diária, as pessoas
As pessoas operam no nível do amor escolhem se vão ou não te seguir.”28 E elas esco-
ou do desejo. Como James Smith (tomando lhem com base no fato de você estimular seus
emprestado de Agostinho) articulou, “o centro desejos, esteja certo ou errado. Você pode co-
de gravidade da identidade humana” está em mandar seguidores pela força. Mas você só
“nossa kardia - nossas entranhas ou coração”.23 pode atrair seguidores pelo amor. Quando
Percebemos nosso caminho em torno da vida você tem controle, você pode fazer as pesso-
por meio de nossos desejos. Quando as pes- as fazerem o que você quer, mas quando não
soas têm uma escolha, elas tendem a fazer o estiverem mais sob o seu polegar, elas farão o
que amam. que amam.

Por essa razão, o amor é o melhor mo- Líderes positivos sabem que o dever
tivador.24 Jesus afirma que as pessoas o se- nunca é mais forte que o amor. Mohler ecoa
guem porque o amam (Jo 14.15), não porque Agostinho insistindo que “o amor sustenta todo

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o processo de aprendizagem”, o que é parte im- pelo fruto do Espírito. Líderes cristãos po-
portante da liderança. E o primeiro passo para sitivos sorriem porque experimentaram o
o professor amoroso é amar aqueles a quem ele sorriso de Deus. As palavras “sorriso” e seu
ensinará e ajudá-los a amar o que estão apren- oposto “carranca” não são encontradas na
dendo.29 “O grande objetivo da liderança é levar maioria das Bíblias inglesas. Mas os concei-
os seguidores continuamente a um amor mais tos são. Deus transmite seu descontentamen-
profundo e abrangente pelo que é mais real, mais to para com seus inimigos franzindo a testa.
verdadeiro, mais certo e mais importante.”30 Deus ameaça seus inimigos, dizendo: “Volta-
rei o rosto contra tal homem...” (Ez 14.7-8). Em
Líderes Positivos Projetam Amor contraste, Davi se alegra no “fulgor do rosto
de Deus” (Sl 44.3). Ele pede a Deus para “fazer
Tanto a liderança positiva quanto a ne- resplandecer o Teu rosto sobre o teu servo...” (Sl
gativa podem ser sentidas antes que o líder 31.16). Líderes positivos sorriem porque Deus
diga qualquer palavra. sorri para eles.

Líderes positivos projetam um espírito De fato, para os cristãos reformados, o


geral de entusiasmo. Considere uma analogia serviço contente é uma questão confessional!
com as Escrituras. A Palavra de Deus lida com Todo membro da igreja tem o dever de “usar
franqueza e firmeza com o pecado. No entan- os seus dons com disposição e alegria para o be-
to, a melodia mais forte da música das Escri- nefício e o bem-estar dos outros membros” (Ca-
turas é a da redenção e salvação. A história da tecismo de Heidelberg, Resposta 55). Quanto
redenção é mais um sorriso do que uma car- mais isso deve ser verdade para os líderes?
ranca! Da mesma forma, líderes cristãos po-
sitivos enfrentam as dificuldades da vida com Líderes Positivos Falam em Amor
um otimismo tangível que você esperaria de
alguém que se tornou amigo de Deus. Isso significa, em primeiro lugar, que
eles entendem o poder das palavras. Eles re-
Isso significa que líderes positivos são conhecem que as palavras podem matar e
contentes. “Um caráter radiante e palavras podem trazer vida (Pv 18.21). Tais líderes es-
cheias de alegria atraem as pessoas e as capaci- colhem cuidadosamente suas palavras e se
tam. É muito mais fácil seguir tal pessoa do que retratam quando necessário.
alguém que parece um tornado e que fala como
um agente funerário.”31 E isso é importante Em segundo lugar, líderes positivos li-
porque, gostemos ou não, as pessoas tendem a dam com questões negativas com cuidado.
seguir aqueles de quem elas gostam. Não nos Eles não insistem no negativo, mas falam cin-
sentimos também enriquecidos por pessoas co afirmações positivas para cada negativa.32
positivas e drenados por pessoas negativas? Líderes articulam preocupações de forma van-
tajosa. Embora haja um lugar na liderança
Líderes positivos projetam simpatia cristã para a repreensão amorosa (2 Tm 4.2;
porque suas personalidades são temperadas Tt 1.9, etc.), os líderes positivos nunca levan-

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tam problemas sem refletir sobre possíveis Cristo. Eles projetam o sucesso na dependên-
soluções (cf. 1 Co 10.13). Eles são cuidadosos cia das promessas e do caráter de Deus. Eles
ao compartilhar cargas pessoais. Líderes po- falam a língua de Josué e Calebe, que disse-
sitivos não amplificam seus sacrifícios. Eles ram sobre a terra de Canaã: “Eia! Subamos e
acreditam e falam sobre o privilégio de liderar. possuamos a terra, porque, certamente, preva-
leceremos contra ela.” (Nm 13.30).
Em terceiro lugar, líderes positivos fa-
zem os outros se sentirem valorizados. “A le- Líderes Positivos Praticam Amor
aldade cresce onde é cultivada e admirada. Você
valoriza serviço e compromisso duradouros? Se Os líderes positivos amam por meio
sim, admire-o abertamente e expresse gratidão. de concessões, da construção de consensos
Alguns membros da equipe demonstraram uma e da promoção da cooperação. Os líderes pie-
tenacidade específica e se sacrificaram pela dosos sabem a diferença entre preferência e
causa? Louve-os.”33 Refira-se às pessoas pelo convicção; eles fazem concessões a um, mas
nome, parabenize-as, afirme-as. não a outro. A disposição de fazer concessões
em relação às preferências permite que o lí-
Em quarto lugar, líderes positivos fa- der positivo seja um unificador que enfatiza
lam esperançosamente sobre o futuro. Paulo, um terreno comum sempre que possível. Não
falando em um contexto de oposição e difi- obstante as diferenças permanentes (1 Co 12),
culdade, escreveu: “Porque estou certo de que o líder positivo “ajuda e encoraja todo o povo
isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão de Deus a descobrir, desenvolver e exercitar seus
do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em dons” e trabalhar em conjunto.34
libertação” (Fp 1.19). A dureza de Paulo com
os gálatas se destaca por ser demasiadamente Líderes positivos amam ao se relacio-
incomum! Seu modus operandi era encorajar. nar bem com pessoas difíceis. Eles amam as
Líderes positivos lembram outros crentes de pessoas difíceis em seu círculo o suficiente
que “quanto ao futuro, confiar firmemente em para tratá-las com bondade e dignidade. Líde-
nosso Deus e Pai fiel, porque criatura alguma res positivos reconhecem que pessoas difíceis
poderá nos separar do Seu amor” (Catecismo (como nós) são pessoas com feridas e avarias,
de Heidelberg, Resposta 28.) que precisam da graça mais do que ninguém.
Líderes positivos lidam graciosamente com a
Em quinto lugar, líderes positivos fa- oposição dos pessimistas. Muitas vezes isso
lam com entusiasmo sobre seus projetos. Lí- significa escutar e levar o assunto a Deus pe-
deres positivos perseguem uma visão piedosa dindo ajuda.
com energia. Eles atendem ao imperativo de
Paulo: “O que preside deve fazê-lo com diligên- Líderes positivos amam pelo exem-
cia” (Rm 12.8), e eles comunicam sua diligên- plo ativo. Os prognosticadores teológicos não
cia verbalmente. Líderes positivos têm paixão são líderes positivos. Se o líder é visto como
por Deus, pelo evangelho, pela igreja, etc. Eles um gerente de poltrona, ele nunca irá liderar
veem o pecado como não correspondendo a bem. Caso em questão, os diáconos devem

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“[supervisionar] as obras de misericórdia cristã Felizmente, a liderança positiva é uma
existente na congregação”. Isso significa que graça a ser cultivada. Embora quase minando
eles devem “[se familiarizar] com as necessi- a necessidade da ajuda de Deus no desenvolvi-
dades da congregação; [exortar] os membros mento da liderança, John Maxwell articula o
da congregação a mostrar misericórdia.”35 Os que quase todos reconhecem: “Conquanto seja
diáconos são administradores da misericór- verdade que algumas pessoas nascem com maio-
dia. Mas como líderes, eles devem ser minis- res dons naturais do que outras, a capacidade
tros da misericórdia dentro da congregação. de liderar é realmente uma coleção de habilida-
Quando os congregados são convidados a no- des, quase todas as quais podem ser aprendidas
mear um membro misericordioso da igreja, e aperfeiçoadas.” Maxwell acrescenta: “É a ca-
os nomes dos diáconos atuais devem apare- pacidade de desenvolver e melhorar suas habili-
cer em suas mentes rapidamente. Se o Con- dades que distingue os líderes de seus seguidores.
sistório36 aprovar um novo programa evange- Os líderes de sucesso são aprendizes”.40
lístico, os presbíteros devem ser os primeiros
a se engajar. Lidando Com as Fraquezas da Liderança

Os líderes positivos amam ao empre- Os futuros líderes positivos recebem


ender difíceis tarefas e tomar difíceis de- Lamentações 3:40. “Esquadrinhemos os nos-
cisões. Os verdadeiros líderes demonstram sos caminhos, provemo-los e voltemos para o
amor fazendo o que é melhor, não o que SENHOR.” (Lm 3.40). Pesquisar e examinar
é popular ou fácil. John Stott nos lembra nossas deficiências de liderança significa vá-
que “ser responsável perante [Deus] é ser li- rias coisas.
bertado da tirania do criticismo humano”.37
“Congregações… precisam de líderes eficazes Primeiro, líderes positivos avaliam sua
que sejam autenticamente cristãos - cuja li- liderança. Para esse fim, os líderes aprendem a
derança flua de seu compromisso cristão”38 ouvir os outros. Para avaliar corretamente sua
Este compromisso é mais forte que o medo liderança, você precisará da ajuda de um ami-
que faz os outros vacilarem. “A liderança go espiritual confiável. O rei Davi estava vendo
que mais importa é aquela pautada em con- sua liderança através de um óculos cor-de-rosa
vicção - profunda convicção”.39 E a convic- até que Natã quebrou sua falsa confiança (2 Sm
ção necessária para fazer escolhas difíceis 12.7). Você precisa de um Natã! Os verdadeiros
está enraizada em um amor a Deus e à Sua líderes solicitam esse tipo de avaliação.
glória, que é alimentado pelo amor de Deus
para com seus filhos. Naturalmente, o problema em solici-
tar a avaliação de nossa liderança é que pode-
Como Desenvolvemos Liderança Positiva? mos receber críticas. Líderes em crescimento
respondem positivamente às críticas. “Quan-
Mais claramente, o que podemos fazer do nossa autoridade é questionada, ameaçada
na medida em que o Espírito graciosamente ou resistida, a grande tentação é insistir mais
revela nossas deficiências de liderança? fortemente, mas temos que resistir a essa ten-

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tação.”41 Em vez disso, devemos usar tais oca- meio de uma liderança negativa, o terreno
siões para avaliar nossa liderança. Essas pre- ideal para a rebelião?46 Refletir sobre nossas
ocupações são legítimas? “Líderes que temem fraquezas é o primeiro passo para desenvol-
reconhecer alternativas à decisão minam sua ver um plano de recuperação.
própria credibilidade.”42
Em terceiro lugar, líderes positivos em
Alguns anos atrás, os membros do crescimento se arrependem da negatividade.
nosso conselho da igreja “exortaram uns aos Há boas razões para que “não haja muitos mes-
outros de maneira edificante a respeito do cum- tres” como diz Tiago (3.1). A liderança fraca é
primento de seus ofícios”.44 Durante nossa um pecado que corrompe os outros e incita o
“censura mútua”43, alguém apontou uma falha julgamento divino. A jornada da liderança ne-
que havia observado em meu pastorado. Meu gativa para a positiva sempre passa pelo por-
primeiro impulso foi de me defender, mas fiz tão do arrependimento. Em arrependimento,
o meu melhor para resistir a esse desejo. Uma “um pecador, tendo um verdadeiro sentimento
semana depois, outra pessoa gentilmente me do seu pecado e percepção da misericórdia de
confrontou com a mesma exortação. Eu ain- Deus em Cristo, se enche de tristeza e de horror
da sentia vontade de desviar das críticas, mas pelos seus pecados, abandona-os e volta para
comecei a perceber uma tendência. Naquele Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe nova
mesmo dia, perguntei à minha família: “Isso obediência” (Breve Catecismo de Westmins-
é verdade sobre mim?” Eles respeitosamente ter, Resposta 87). Nós nos arrependemos da
concordaram que era. Esses eventos foram liderança negativa expressando uma mente
um grande presente de Deus para me ajudar mudada que anseia por uma vida transforma-
a me tornar um líder melhor. da. Nós reconhecemos nosso pecado e o dano
que produziu. Procuramos o perdão de Deus
Em segundo lugar, os líderes positivos - e o perdão dos outros quando necessário - e
em crescimento refletem sobre suas fraque- começamos a fazer mudanças que nos leva-
zas. Um homem sábio, quando encontra fra- rão do fracasso à fidelidade.
casso, reflete sobre isto para receber instru-
ção (Pv 24.32). Você tem a reputação de ser Desenvolva Seu Quociente de Liderança
excessivamente agressivo ou altamente críti- Positiva
co? Como o seu espírito pode estar afetando
os outros e bloqueando a abertura e a criativi- Charles Spurgeon observa que a tris-
dade? Você não tem acessibilidade e, impen- teza pelos fracassos em relação à liderança
sadamente, mantém as pessoas à distância? precisa ser seguida por mudanças positivas.
Como essa fraqueza pode impedi-lo de ajudar Qual é o uso do arrependimento, a menos que
as pessoas ao seu redor? Você é desnecessa- possamos, por meio dele, ascender a um futuro
riamente tímido? Podem seus seguidores des- melhor? Suspiros, que não nos elevam, são um
confiar de sua coragem para liderar? Você está mal uso da respiração vital. Corrija-se, mas não
disperso, fazendo “um milímetro de progresso desanime. Reúna as flechas que antes ficaram
em um milhão de direções”?45 Você criou, por distantes do alvo ... para atirá-las ao alvo com

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pontaria exata e uma força mais concentrada. 40.10-11; Ez 34.11-16; Mt 11.29-30; 12.15-21; Jo
Teça vitórias a partir de suas derrotas. Apren- 10.7-16, etc.). Leia biografias de líderes cris-
da o sucesso a partir do fracasso, a sabedoria a tãos positivos. Aprender, por exemplo, como
partir do erro.47 Santo Agostinho venceu seu narcisismo e
sua ambição profundos para sacrificar toda a
Nós “tecemos vitórias a partir de nossas sua vida convertida pelo bem da igreja, pode
derrotas” primeiramente ao nos concentrar- deixar uma marca indelével nos líderes con-
mos no futuro positivo do crente. Uma maior temporâneos.50 Leia livros cuidadosamente
compreensão das relações providenciais de selecionados sobre liderança. Se preciso for,
Deus conosco pode mudar toda a nossa abor- passe menos tempo ouvindo notícias!51
dagem à liderança. Kevin DeYoung aponta:
“Para muitos cristãos, enfrentar a providência Em terceiro lugar, como em qualquer
abrangente de Deus requer uma mudança maci- tarefa, os líderes positivos precisam começar.
ça na forma como olham para o mundo”, para Começa-se a correr uma maratona dando um
vê-lo como um lugar “onde Deus cria e perma- passo. Isso é verdade até para aqueles que não
nentemente controla tudo com amor soberano e estão atualmente em posição de liderança.
poder providencial”. Líderes positivos têm uma Antes que a liderança seja uma posição, ela
convicção sincera em “Deus Pai todo-poderoso, é um padrão de vida. Desenvolva característi-
criador do céu e da terra, [a qual] é levada a acei- cas positivas de liderança para que você esteja
tar nossas bênçãos e problemas presentes e [que preparado para liderar quando chegar a hora.
mantém] nossa esperança no futuro.”48 Na me- Qual é o primeiro lugar em que você precisa
dida em que depositamos maior confiança na mostrar uma liderança positiva? Identifique
providência do Pai, no sacrifício e intercessão seus seguidores mais próximos e faça com
do Filho e no conforto do Espírito, podemos que eles comecem a ver uma liderança positi-
liderar com uma positividade cada vez maior. va. Na medida em que você começa a cultivar
uma comunidade de otimismo, essa comuni-
Em segundo lugar, líderes positivos dade, por sua vez, ajudará sua liderança.
em crescimento aprendem com outros líde-
res positivos. Um guru de liderança sugere Finalmente, os melhores líderes es-
que oitenta e cinco por cento dos líderes de- tabelecidos por Deus crescem na graça (2 Pe
vem seu sucesso à influência de outro líder.47 3.18). Tornar-se um líder mais positivo é um
Quando você reflete sobre o líder positivo, objetivo perene que somente Deus pode tor-
retratos pessoais surgem em sua mente. Pro- nar real. Ainda assim, “Deus só concederá a
cure essas pessoas e regularmente sente-se a Sua graça e o Espírito Santo àqueles que, cons-
seus pés. tante e sinceramente, Lhe pedem esses dons e O
agradecem por eles” (Catecismo de Heidelberg,
Além disso, os líderes podem ser Resposta 116). Se você é um líder (e quem não
orientados pela leitura de literatura revigo- é?), ore por maior humildade, melhor capaci-
rante. Comece a notar como as Escrituras o dade de ouvir, mais sofrimento, ternura mais
chamam para uma liderança positiva (Cf. Is profunda, criatividade mais ousada, alegria

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mais contagiante, comunicação semelhante à 7
Uma pesquisa realizada pelo Harvard Kennedy School Cen-
ter for Public Leadership concluiu que 69% dos americanos
de Cristo e coragem consistente. E não se sur- estão convencidos de que estão sendo afetados negativa-
preenda quando Deus começar a agir! mente pela liderança. Acesso em 7 de julho de 2014, http://
www.centerforpublicleadership.org/index.php?option=-
com_k2&view=item&id=886%3Aamericans%E2%80%-
Notas: 99-confidence-in-leaders-rises-remains-low&Itemid= 53

8
Mohler, Conviction to Lead, 210.
1
Alexander Maclaren, Second Samuel and the Books of
Kings to Second Kings VII, Expositions of Holy Scripture 9
John MacArthur, “A Few Good Shepherds”, acessado em
(Cincinnati: Jennings and Graham, nd), 216, 220.
7 de julho de 2014 em http://www.gty.org/resources/arti-
cles/A104/a-few-good-shepherds.
2
Da pletora de livros de liderança disponíveis, os seguintes
estarão entre os mais úteis para os presbíteros e diáconos.
D.A. Carson, For the Love of God: A Daily Companion for
10
Os livros gerais de liderança cristã incluem: J. Oswald San-
Discovering the Riches of God’s Word (Wheaton: Crossway
ders, Spiritual Leadership: Principles of Excellence for Every
Books, 1998), entrada em 20 de janeiro.
Believer, 2nd revision (Chicago: Moody Press, 1994); John
Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership: Follow
Joel Beeke, notas não publicadas de aulas sobre “Lideran-
11
Them and People Will Follow You (Nashville: Thomas Nel-
ça e Administração”.
son, 1998); Albert Mohler, The Conviction to Lead: 25 Prin-
ciples for Leadership that Matters (Minneapolis: Bethany 12
Oswald Sanders, Spiritual Leadership, 48.
House Publishers, 2012); John Stott, Problems of Christian
Leadership (Downers Grove: IVP Books, 2014). Livros de 13
John Calvin, Commentaries on the Catholic Epistles,
liderança escritos mais especificamente para oficiais ecle- (Grand Rapids, Baker, 1989), 50. (on 1 Peter 1:18).
siásticos incluem: Jay Adams, Pastoral Leadership, vol. 3,
Shepherding God’s Flock (Grand Rapids: Baker Book Hou- 14
Sanders, Spiritual Leadership, 50.
se, 1976); Kent Hughes, Disciplines of a Godly Man (Whe-
aton: Crossway, 1991), 169-79; John Stott, Basic Christian 15
D.A. Carson, , For the Love of God (entrada em 20 de ja-
Leadership: Biblical Models of Church Gospel and Ministry neiro)
(Downers Grove: InterVarsity Press, 2002); Steve Miller,
C.H. Spurgeon on Spiritual Leadership (Chicago: Moody, 16
John MacArthur, “A Few Good Shepherds.”
2003); Timothy Whitmer, The Shepherd Leader: Achieving
Effective Shepherding in Your Church (Phillipsburg: P&R 17
Sanders, Spiritual Leadership, 49.
Publishing Co., 2010). Recursos voltados para a questão es-
pecífica da liderança positiva incluem: Alexander Strauch, 18
Cf. Stott, Problems of Christian Leadership, 37-39.
Leading with Love (Littleton, CO: Lewis and Roth Publishers,
2006); David Murray, Positive Leadership (http://www.ser- 19
Al Mohler, The Conviction to Lead, 63.
monaudio.com/sermoninfo.asp?SID=927141328448); e de
uma perspectiva não cristã: Kathryn D. Cramer, Lead Posi- 20
Jason Helopoulos, What Makes for a Good Elder? Aces-
tive: What Highly Effective Leaders See, Say, and Do (San sado em 26 de agosto de 2014 de http://thegospelcoalition.
Francisco: Jossey-Bass, 2014). org/blogs/kevindeyoung/2014/07/10/what-makes-for-a-goo-
d-elder/.
3
Citado em Oswald Sanders, Spiritual Leadership, 27
21
Timothy Keller, Center Church: Doing Balanced, Gospe-
4
William Hendriksen, Exposition of Colossians and Phile- l-Centered Ministry in Your City (Grand Rapids: Zonder-
mon, New Testament Commentary (Grand Rapids: Baker van, 2012), 13-26.
Book House, 1964), 172). (ênfase original).
22
From Carl Trueman’s “Leadership, Holy Men, and Les-
5
John Stott, Problems of Christian Leadership, 90. sons from Augustine”, acessado em 20 de agosto de 2014
em http://www.reformation21.org/counterpoints/carl-true-
6
John Stott, Problems of Christian Leadership, 14. manleadership-holy-men-and.php. Cf. Cf. Mida Zetlin’s

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“What Leaders Can Learn from Narcissists, Manipulators, 41
John Stott, Problems of Christian Leadership, 66.
and Psychopaths”, acessado em 26 de agosto de 2014 em
http://www.inc.com/minda-zetlin/what-leaders-can-learn- 42
Al Mohler, The Conviction to Lead, 64.
-from-narcissists-manipulators -e-psychopaths.html.
43
A prática de exortação mútua é um exercício fraternal
23
James K.A. Smith, Desiring the Kingdom: Worship, previsto na política eclesiástica reformada. Sugerimos a
Worldview, and Cultural Formation (Grand Rapids: Baker leitura do artigo do site Diakonia: “Os Oficiais e a Censura
Academic, 2009), 47. Fraternal” que se encontra no link: “https://revistadiako-
nia.org/os-oficiais-e-censura-fraternal/”
24
Veja “The Motivating Power of Love” in Alexander Strau-
ch, Leading with Love, 27-35. 44
URCNA Church Order Art. 63.
25
William Hendriksen, New Testment Commentary: Ex- 45
Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of
position of the Gospel According to John (Grand Rapids: Less (New York: Crown Business, 2014), 7.
Baker Book House, 1953), João 14:15.
46
Veja “Can We Reverse the Stanford Prison Experiment”, de
26
Cf. Catecismo de Heidelberg Resposta 91). Greg McKeown, em que ele descreve como aqueles tratados
como prisioneiros podem rapidamente passar a se compor-
27
Peter Y. De Jong, Taking Heed to the Flock: A Study of the tar. Apenas alguns dias após o experimento, os “prisioneiros”
Principles and Practice of Family Visitation (Grand Rapids:
de Stanford “demonstraram sintomas de depressão e estres-
Baker Book House, 1965), 66-67.
se extremo”. Acessado em 27 de agosto de 2014 em http://
blogs.hbr.org/2012/06/can-we-reverse-the-stanford -pr /.
28
Al Mohler, The Conviction to Lead, 84.
47
C.H. Spurgeon, An All Round Ministry: Address to Mi-
29
Ibid., 71.
nisters and Students (Carlisle, PA.: The Banner of Truth
30
Ibid., 48. Trust, 1978), 228-229.

31
David Murray, Positive Leadership, Unpublished lecture
48
Kevin DeYoung, The Good News We Almost Forgot: Re-
notas da conferência “Semper Reformanda” de 2013 orga- discovering the Gospel in a 16th Century Catechism (Chi-
nizada por the Eastern Classis of the URCNA. cago: Moody Publishers, 2010), 59,60.

32
Cf. Kathryn D. Cramer, Lead Positive, 26.
49
John Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership, 133.

33
Al Mohler, The Conviction to Lead, 153.
50
Consider K.C. Murdarasi’s excellent book on Augustine,
The Truth Seeker (Ross-shire: Christian Focus Publica-
34
John Stott, Problems of Christian Leadership, 93. tions, 2014). Ainda que escrito para leitores em idade es-
colar, a maioria dos líderes da igreja o considerará estimu-
35
URCNA, Church Order, Art. 15. lante.

36
Dentro da política eclesiástica reformada antiga o “Con- 51
Cf. Rolf Dobelli, “Notícias são ruins para você - e deixar de
sistório” é o colégio de pastores de uma igreja local. Este lê-las te deixará mais feliz” acessado em 27 de outubro de
colégio é composto pelos ministros da Palavra e presbíteros 2014 em http://www.theguardian.com/media/2013/apr/12/
dessa igreja. No Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil news-is-bad -robo-dobelli.
o termo “conselho” é usado como sinônimo de “consistório”.

37
John Stott, Problems of Christian Leadership, 94.
WILLIAM BOEKESTEIN é casado, pai, pastor da Immanuel
38
Al Mohler, The Conviction to Lead, 18. Fellowship Church (Kalamazoo, MI), escritor. Esta igreja
faz parte da United Reformed Churches North America
39
Ibid., 21.
Tradução: Arielle de Eça.
40
John Maxwell, The 21 Irrefutable Laws of Leadership, 24. Revisão: Thaís Vieira.

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O
PRESBÍTERO
EA
PREGAÇÃO

A. N. Hendriks

Vamos, agora, prestar atenção ao que O pregador do Evangelho, de acordo


foi chamado de “terceiro ofício” do presbíte- com os ensinamentos de Paulo, deve “arar
ro. Na “Forma para a Ordenação dos Presbí- sulcos retos”, quando ele trouxer “a palavra da
teros”, lemos: verdade” (2 Tm 2.15); ele deve concordar “com
as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e
Terceiro, é seu dever ajudar os ministros da Pa- com a doutrina que é segundo a piedade,..” (1
lavra com bons conselhos e orientações. Eles Tm 6.3); deve dar um exemplo e mostrar pu-
também são encarregados de supervisionar a reza de doutrina, integridade, pregação sadia
doutrina e a conduta desses companheiros de
serviço. Eles não deverão permitir nenhum en-
“que não pode ser condenada” (Tt 2.7-8).
sino estranho, de modo que em todos os aspectos
a congregação seja edificada pela pura doutrina O caráter da pregação
do evangelho.
Antes de elaborarmos mais sobre essa
É, portanto, também a tarefa do pres- supervisão que o presbítero deve exercer, fa-
bítero supervisionar a pregação. remos algumas observações sobre a pregação.
Porquanto o presbítero só pode exercer o seu
A Forma aponta para Atos 20.29- “terceiro ofício”, quando ele entende claramen-
31, onde Paulo adverte os presbíteros te o que é a pregação e por quais normas ele
de Éfeso a “vigiarem ... todo o rebanho”, deve julgar o sermão. Ainda há muito mal-en-
para que “nenhum lobo selvagem” entre tendido, quando se trata do caráter do sermão.
no aprisco de Cristo. Paulo lembra a Tito
que ele deve silenciar “faladores e engana- A pregação como sendo a administra-
dores”, porque “transtornam casas intei- ção da Palavra de Deus à congregação de Cris-
ras ensinando o que não convém, por torpe to é uma descrição bem conhecida do sermão.1
ganância.” (Tt 1.10-11). No entanto, a resposta à pergunta: “O que essa

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descrição realmente diz?” não é sempre óbvia. As Escrituras não nos dão todo tipo de
Portanto, não é redundante falar um pouco informação sobre a criação, queda e salvação;
mais sobre isso. sobre o Senhor e Sua obra. Não, a Palavra de
Deus é viva e poderosa, nos dá renascimento
A pregação é a administração da Palavra de e renovação (Tg 1.18; 1 Pe 1.23); “é o poder de
Deus Deus para a salvação” (Rm 1.16).3

C. Trimp indicou que esta descrição é Mais de uma vez foi apontado que a
notável pelo seu “caráter modesto”. Ele escreve: significância dos Reformadores reside, pri-
mordialmente, na descoberta da função inata
Pois ‘administração’ é a modesta tarefa de servir da Palavra. Contra Roma, que promoveu os
a comida preparada já presente - a última parte
sacramentos como “canais” da graça, Lutero e
de um procedimento monumental, que foi reali-
zado por outras mãos que não as dos ministros. Calvino enfatizaram à congregação que Deus
A ‘Administração da Palavra’, por causa de seu nos entrega a salvação através da Sua Palavra.4
caráter, não pode ser um reavivamento da Pa-
lavra, uma libertação da Palavra do túmulo do A Palavra das Escrituras não apenas
passado ou dos grilhões da página escrita. Não tratam da salvação, reconciliação e vida eter-
é nem uma atualização da Palavra, nem uma re- na. Ela garante e trabalha tudo disso. C. Ve-
presentação, reformulação dos fatos da Palavra
enhof observa: A salvação completa em Cris-
para o presente dia ...
to - o fruto de sua concepção e nascimento, seu
A administração da Palavra não é nada mais nem trabalho e sofrimento, sua morte e ressurreição,
menos do que o servir e o distribuir da comida pre- ascensão e domínio do mundo, em resumo, a
parada entregue ao ministro. Não criatividade, salvação completa que se encontra em Cristo é
mas uma adesão cuidadosa e fiel à Palavra é exigi- ‘dentro’ dessa Palavra e é apresentada, dada e
da de um administrador (1 Co 4.2).2 compartilhada conosco, nela. Naquela Palavra
nós ‘temos’ e ‘possuímos’, somente nela. Porque
Se quisermos obter uma compreen- a Palavra das Escrituras é a Palavra da cruz (1
são correta da pregação, não devemos es- Co 1.18); a Palavra da reconciliação (2 Co 5.19);
quecer o que o Prof. Trimp disse. Na prega- a Palavra da salvação (At 13.26); a palavra da
ção, a Palavra de Deus não é descrita para a graça (At 14.13); a Palavra da vida (Fp 2.16).5
congregação. Trimp fala corretamente sobre
a distribuição de alimentos previamente pre- Com esse caráter da Palavra das Escri-
parados. A Palavra de Deus, como vem a nós turas em mente, podemos entender um pouco
nas Escrituras, é real, fala conosco, alcança do segredo da pregação. No sermão, a Palavra
nosso coração. não é descrita. Mas, na pregação, essa Palavra
viva é aberta e entregue à congregação.
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
penetrante do que espada alguma de dois gumes,
e penetra até à divisão da alma e do espírito, e Em 2 Coríntios 5, Paulo chama a pre-
das juntas e medulas, e é apta para discernir os gação de “ministério da reconciliação”. Quando
pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12) lemos esse importante capítulo, ficamos sur-

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presos com o fato de que Paulo alterna a recon- mensagem de que o juiz ordenou sua liberta-
ciliação com a administração da reconciliação. ção imediata, ele está livre naquele momento;
Para Paulo, os dois estão indissoluvelmente li- toda a sua vida mudou. Naquele momento, as
gados: a reconciliação como a grande obra de palavras libertadoras do juiz entram em sua
Deus em Cristo e a proclamação desta reconci- existência.
liação na pregação. Através da pregação, Deus
declara Sua grande obra de salvação.6 Assim também, a pregação não é um
tratado sobre a nossa absolvição em Cristo,
Por essa razão, aqueles que oficialmen- mas uma proclamação dessa absolvição. Na
te administram a Palavra são também servos pregação, essa absolvição chega a nós e Cris-
de Deus. O assunto da pregação é o Deus e Pai to abre o Reino para nós e nos garante a paz
de nosso Senhor Jesus Cristo. Na pregação, o com Deus.
próprio Deus age e administra a reconciliação
com o seu povo. Paulo escreve: “De sorte que Gostaria de destacar um notável pro-
somos embaixadores em nome de Cristo, como nunciamento do Sínodo Nacional de Middel-
se Deus exortasse por nosso intermédio. Em burg, 1581:
nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconci-
lieis com Deus.” (2 Co 5.20). Pela boca de seus Sobre a pergunta se não seria bom proclamar o
embaixadores, o próprio Deus fala! perdão aos penitentes e a atadura dos pecados ao
impenitente de maneira pública e generalizada
após o sermão no domingo? É respondido que,
Calvino, portanto, constantemente en- porque a prisão e a libertação dos pecados acon-
fatiza que na pregação estamos lidando com o teceram suficientemente na proclamação da Pa-
Deus vivo. Ele escreve: “Aqueles que proclamam lavra, não é necessário introduzir uma forma es-
fielmente a Palavra de Deus devem ser ouvidos pecial para isso.10
como se o próprio Deus tivesse descido do céu
para os ouvintes”.7 Sim, na pregação devemos O Catecismo de Heidelberg tipifica a
ouvir “as próprias palavras de Deus, proclama- pregação no Dia do Senhor 31 como a admi-
do no mais alto tribunal, escrito no livro da vida, nistração das chaves do reino. Quando o pre-
firmemente estabelecido no céu.”8 Paulo diz aos gador administra fielmente a Palavra, o Reino
tessalonicenses: Por isso também damos, sem é aberto aos crentes e fechado aos incrédulos
cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de “enquanto não se arrependerem”.
nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes,
não como palavra de homens, mas (segundo é, Aqueles que administram oficialmente
na verdade), como palavra de Deus, a qual tam- a Palavra na congregação do Senhor são cha-
bém opera em vós, os que crestes. (1 Ts 2.13) mados para grandes coisas. Ele mesmo per-
manece “um pequeno homem erguido do pó”
Na pregação, não estamos lidando com (Calvino), sua autoridade repousa no prazer
um ensaio, uma explicação, uma interessan- de Deus que nos deu a administração da re-
te exegese. Ela tem o caráter de uma men- conciliação e que confiou a Palavra de recon-
sagem.9 Quando alguém na prisão recebe a ciliação a Seus servos.11

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O conteúdo da pregação “Desde então começou Jesus a pregar, e a di-
zer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino
O que especialmente deve o pregador dos céus.”. O chamado ao arrependimento
ordenar à congregação? Na Forma para a Or- ressoou na pregação de Jesus, mas esse cha-
denação de Ministros da Palavra, lemos que mado surgiu do Evangelho: “o reino dos céus
o ofício do ministro da Palavra é que ele deve está próximo”.
proclamar todo o conselho de Deus à Sua con-
gregação. “Ele deve expor todos os erros e here- Em toda a Bíblia, descobrimos que o
sias como obras infrutíferas das trevas, e exor- chamado de Deus ao Seu povo para uma nova
tar os membros a andar como filhos da luz.” obediência é fundamentado e motivado pelo
A forma destaca a proclamação do retorno a que Ele fez por Seu povo no caminho da sal-
Deus e a reconciliação com Ele. vação. Os Dez Mandamentos começam com
o Evangelho: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que
Em conexão com o conteúdo do ser- te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”.
mão, Convenção de Wezel decretou o seguinte: O Sermão do Monte, com seus amplos precei-
tos, começa com as bem-aventuranças.13
Mas ele, isto é, o pregador, deve reduzir tudo a es-
tas duas partes importantes do Evangelho, a sa- Na carta aos Romanos, Paulo primeiro
ber, fé e arrependimento; no primeiro, seu único
faz uma ampla proclamação da obra de Deus
objetivo é o conhecimento de Cristo, no segundo,
a verdadeira morte para o pecado e o verdadei- em Cristo. Só depois disso ele vem com ad-
ro renascimento. E ele deve, tanto quanto puder moestações. Ele os apresenta da seguinte for-
expor todos os esconderijos e lugares ocultos do ma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão
coração humano e exortar todas as opiniões er- de Deus, que apresenteis os vossos corpos em
radas e heresias, bem como maus costumes sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é
o vosso culto racional.” (Rm 12.1). Tudo isso é
Ele também não deve apenas perseguir a desones- normativo para a pregação.
tidade e atos vergonhosos públicos, mas também
deve tentar despir a hipocrisia oculta das almas
e trazer à luz as camas quentes da impiedade que Se o sermão realmente deseja alcançar
até mesmo se escondem no melhor de nós e erra- e apelar, então as misericórdias de Deus em
dicá-los com meios mais adequados.12 Cristo devem se colocadas para brilhar. So-
mente da salvação que se encontra em Cris-
O coração da pregação, segundo We- to, pode a congregação ser admoestada a se
zel, é a fé (o conhecimento de Cristo) e o arre- arrepender diariamente.14 B. Holwerda coloca
pendimento. isso corretamente: Pregar o arrependimento
sempre pressupõe as riquezas do Evangelho; e o
De fato, as riquezas da salvação em Evangelho nunca pode ser separado de sua se-
Cristo devem ser proclamadas à congrega- riedade de tirar o fôlego. O chamado pela hu-
ção na pregação e o chamado para viver con- milhação sempre tem um pano de fundo evan-
cretamente dessas riquezas não pode ser gélico; e o consolo com o Evangelho é ao mesmo
deixado de lado. Nós lemos em Mateus 4.17: tempo a proclamação do temor do Senhor.15

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Por essa razão, foi dito que o sermão da única história da salvação que nos mostra
deve ser cristocêntrico.16 A obra de Deus em Cristo vindo a este mundo.
Cristo deve ser seu centro. Toda a Escritura
se preocupa com “as misericórdias de Deus”. Contra esta pregação “heilhistorische”
Calvino gostava de tipificar as Escrituras (do holandês, história da salvação), está a assim
como a vestimenta em que Cristo vem a nós. chamada pregação “exemplarische” (do holan-
Ou: as Escrituras são o espelho em que Cristo dês, exemplarista). O pregador dissolve a história
se mostra a nós.17 Em João 5, lemos como o da Bíblia em uma série de histórias independen-
Salvador chama a atenção para o fato de que tes, que servem como exemplos para nós. Certa
passagem da Escritura é tomada por si só e é con-
as Escrituras testificam a respeito d’Ele e que
siderada como uma foto da vida de Abraão, Davi
Moisés escreveu sobre ele. Cristo é também o
ou Ezequias.19 Tenta-se chegar a uma “aplicação”
conteúdo da revelação do Antigo Testamento. construindo um paralelo entre aquele momento
e uma situação dessas em nossas vidas.
Não podemos esquecer que a historio-
grafia das Escrituras tem seu próprio caráter e É clara a forma como isso se relaciona com a
tendência. As próprias Escrituras nos informam área da história da salvação: a pessoa se afasta
sobre essa tendência em Gênesis 3.15, que indi- da oportunidade de pregar sobre esses assuntos.
ca o tema da escrita da história. Diz respeito à Não é que não queira pregar sobre isso, mas por-
luta entre a semente da mulher e a semente da que corta o laço histórico entre Davi, Abraão e
serpente; o caminho que o Senhor tomou para nós (o laço de estar envolvido com a única e cres-
cumprir Sua promessa. As figuras nas Escritu- cente obra da salvação de Deus em Cristo), outro
ras são parte integrante desta história. laço deve ser feito para chegar a uma aplicação.
Isso é feito principalmente pela busca da unida-
Apenas na medida em que eles têm um de de uma semelhança psicológica, em vez de re-
lugar e uma tarefa nessa luta, eles aparecem conhecer a conexão histórica.20
na historiografia das Escrituras. Os fatos são
escritos sob este ponto de vista. M. B. van’t Na pregação, de acordo com as Escri-
Veer comenta: A questão principal (a primei- turas, o elemento de alerta pode nunca estar
faltando. Na Sua Palavra, o Senhor fala sem-
ra e decisiva questão) para cada segmento his-
pre ao Seu povo sobre a Sua terrível ira pactu-
tórico deve sempre ser o que o Senhor nos diz
al (Dt 28; Os 13).
aqui sobre Sua revelação em Cristo. E onde esta
revelação no Antigo Testamento nos mostra a O autor da carta aos Hebreus nos pro-
vinda de Cristo a este mundo, devemos sempre clama: “Por isso, tendo recebido um reino
perguntar como isso é revelado em uma deter- que não pode ser abalado, retenhamos a gra-
minada passagem.18 ça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmen-
te, com reverência e piedade; Porque o nosso
Nos anos 30, especialmente K. Schil- Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12.28, 29)
der pediu por uma pregação “heilhistoris-
che”. O pregador não pode encobrir o fato de Na pregação, o “agora quanto mais se-
que, por exemplo, a história de Abraão é parte veramente” (Hb 10.29) e o “quanto menos” (Hb

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12.25), deve ressaltar a alta responsabilida- Se a pregação é ou não, de fato, a admi-
de da congregação do Novo Testamento. Os nistração plena da Palavra, depende em gran-
Cânones de Dort afirmam que, por meio das de parte da escolha do texto. Nesta escolha o
admoestações, a misericórdia é comunicada. ministro da Palavra é livre e responsável.
Essas admoestações dos evangelhos não po-
dem, portanto, estar faltando no sermão. A Ordem da Igreja22 nunca prescreveu
os textos sobre os quais ele deve pregar.23 Pre-
O propósito da pregação cisamente na escolha de seu texto, o pregador
precisa da orientação do Espírito Santo. Pois a
Quando falamos sobre visitas domicilia- edificação da congregação deve determiná-lo.
res, salientamos que o propósito e a norma de O pregador deve constantemente se pergun-
todo o nosso trabalho na e para a congregação tar: o que a congregação precisa especialmen-
deve ser “edificação”. Paulo assegura aos corín- te neste momento?
tios: “Falamos em Cristo perante Deus, e tudo isto,
ó amados, para vossa edificação.” (2 Co 12.19). Só então ele pode ser um verdadeiro
pastor no púlpito e levar o rebanho ao pasto
da Palavra! Um pregador que não conhece
Nós já descobrimos, então, que essa
suas ovelhas acaba deixando a desejar na ad-
edificação diz respeito ao fato de que ela per-
ministração da Palavra. A pregação deve dar
manece em Cristo e vive dele. Bem, agora,
orientação espiritual.24 Ela não pode passar
o propósito da pregação é essa edificação da
pelos pecados e necessidades concretas da
congregação, também. O pregador, como diz
congregação. Um bom sermão é sempre um
Wezel (1568), tem que proclamar “a fé” e “o ar-
sermão real. A. Kooy comenta: “Deus ouve seu
rependimento”, para que a congregação ama- povo. Ele ouve seus provérbios e instrui Ezequiel
dureça e se aproxime “de toda a medida da ple- a dizer algo sobre isso. O Senhor conhece Sua
nitude de Cristo” (Ef 4.13). Se a pregação é para congregação em Sardes e Laodicéia. Ele conhe-
alcançar esse objetivo, então deve ser a admi- ce seus feitos e sabe onde eles moram. E este úl-
nistração da Palavra completa. Um pregador timo é mais do que indicação geográfica. Atra-
que se restringe a alguns temas queridos e vés da proclamação, instrução e admoestação,
apenas segue suas próprias preferências, pou- o sermão deve entrar no pensamento, nas emo-
co muda a congregação. J.C. Sikkel escreve: ções e nas experiências do homem moderno.
“Se pudermos comparar a Palavra de Deus a um Exatamente dessa maneira, o sermão se torna
belo edifício, então o pregador, como servo do Se- um sermão: apelando, agitando e reformando.
nhor, não deve apenas guiar a congregação até Pode-se interpretar como pregação “dentro do
aquele edifício, mas para dentro daquele edifí- contexto”. Isso pode até definir se um sermão é
cio e mostrá-la ao redor e familiarizá-la e fazê-la verdadeiro ou uma falsa profecia”.25
entender as partes e o todo; guiá-la para vários
lugares, que em toda a sua proporção estão pre- Nós já vimos que a Palavra não tem que
sentes naquele edifício para sua vida; guiá-la de “ser aplicada” em um sermão. O pregador não
tal maneira que ela, em cada lugar, esteja ciente tem nada mais a fazer do que passar adiante,
de todo o edifício da Palavra de Deus”.21 para soar essa Palavra aplicada de Deus. A con-

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gregação “já está no texto”.26 O Espírito Santo mos nós que ligamos ou desligamos; os apóstolos
conhece a congregação de todas as eras e suas o fazem para a vida pública dessa época. 29
várias necessidades. Ele deu a Escritura de tal
maneira que contém as necessidades de to- O pregador pode não deve estar satis-
das as épocas. O ministro da Palavra tem uma feito com uma diretriz geral; ele deve fazer a
grande responsabilidade precisamente na es- luz da palavra brilhar sobre as questões, as
colha do texto. A. Kuyper coloca assim: “Você necessidades e os pecados do povo de Deus.
(isto é, o pregador) está convencido de que tudo
o que a Igreja a quem você está servindo precisa Isso exige muito estudo do pregador.
para sua edificação em determinada época e em A Palavra de Deus não fornece respostas
determinada circunstância, já está incluído nas prontas. Deve ser estudada e considerada.
Sagradas Escrituras. E a arte que você precisa As observações de J. Douma, embora feitas
usar é a de buscar de novo e de novo a palavra em um contexto diferente, ainda se encai-
das Escrituras que se aplicam neste momento xam aqui: “Muito nos foi mostrado claramen-
à congregação e o que repousa oculto para sua te. Isso, no entanto, não significa que, para
congregação nesse momento em particular.”27 muitas questões que exigem estudo, tenhamos
respostas prontas. Cada época tem seus pró-
Não é preciso argumentar que a pre- prios problemas que exigem um estudo renova-
gação só pode edificar a congregação quando do da Palavra de Deus. As coordenadas foram
permite que a Palavra ilumine todos os as- dadas e, por meio delas, os detalhes podem ser
pectos da vida. Os apóstolos, em suas prega- resolvidos. A Palavra de Deus requer a leitura
ções, não se calaram sobre todos os tipos de e o processamento da leitura em situações que
assuntos concretos. Paulo em suas cartas lida mudam constantemente. A oração pelo aper-
com casamento, carne sacrificial, o compor- feiçoamento da sua sensibilidade não pode ser
tamento dos escravos e o litígio dos crentes. perdida. Nós não possuímos uma ética pronta
De acordo com as palavras de Cristo, em Ma- que conte para todos os tempos. O que possu-
teus 16.19, os apóstolos “ligam” e “desligam” ímos é a promessa de que o Espírito nos con-
em suas pregações. Eles fizeram pronuncia- duzirá na verdade das Escrituras, para que
mentos claros sobre o que é permitido e o que com boa coragem possamos tentar continuar
é proibido.28 encontrando respostas a perguntas que outros
ou nós mesmos nos perguntamos sobre o que
E o trabalho apostólico continua na pregação é certo, sobre as constantes que nos são dadas
da Palavra. Não que nós “imitemos os Apósto- nas Escrituras.”30
los”, como ministros da Palavra, como Calvino
observou uma vez, mas que através da pregação Neste contexto, um comentário sobre
da Palavra (ou seja, a exegese e a aplicação do
a linguagem que o ministro deve falar está em
testemunho apostólico), as coisas na terra ainda
estão sendo permitidas e proibidas. A pregação questão. O ministro deve lembrar a si mesmo
derivada do testemunho dos apóstolos automa- que deve levar o Evangelho ao povo do seu
ticamente leva a pronunciamentos sobre temas tempo. Uma linguagem de púlpito sagrado ou
que são ou não são permitidos na terra. Não so- “a língua de Canaã” deve ser preservada.

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O medo de “não alcançar” não deve re- assim que as Escrituras pensam sobre isso! mas
sultar em uma popularidade forçada. Alguns desta e daquela mina de ouro das Escrituras
pregadores fazem uso de jargões que não são este ouro foi desenterrado”.37
compatíveis com a santidade da mensagem
que trazem.31 No sermão do Catecismo, então, as
Escrituras devem falar. O pregador deve mos-
Eu sou da opinião de que o português trar como a confissão da Igreja repousa nas
moderno deve ser falado no púlpito. Às vezes, Escrituras. Das Escrituras, a congregação
as pessoas são ofendidas pelo sermão, mas deve compreender cada vez mais as riquezas
isso não é uma ofensa dada pelo Evangelho, de nosso único conforto na vida e na morte.
mas pela maneira antiquada e clichê em que o
pregador traz o Evangelho! Reverência, clare- O ministro da Palavra, por essa razão,
za e sucessão devem caracterizar o sermão.32 não deve introduzir seu sermão com a frase:
“Hoje, nós estamos lidando com o Dia do Se-
A pregação do catecismo nhor”, mas com: “eu ministro a você a Palavra
de Deus como é resumida na confissão do Dia
A história da pregação do Catecismo33 do Senhor... do Catecismo”.
mostra claramente que nossos pais ​​viram
essa pregação completamente como admi- A supervisão da pregação
nistração da Palavra de Deus. Antigamente,
era necessário ler primeiro um ou mais tex- Dito isto, podemos fazer algumas no-
tos.34 Só depois de estes terem sido mais ou tas sobre a supervisão da pregação que é co-
menos explicados, o pregador lidaria com o brada dos presbíteros. Em primeiro lugar, a
Dia do Senhor35 do Catecismo que foi funda- supervisão, claro, diz respeito à pureza da
mentado nesses textos. Este método surgiu doutrina. O presbítero é chamado a prevenir
logo após o Sínodo de Dort prescrever que a que os lobos entrem no rebanho. Ele deve fa-
explicação do Catecismo deveria ocorrer em zer com que o ministro da Palavra “não tenha
um culto de adoração.36 do que se envergonhar quando maneja bem
a Palavra da Verdade” (2 Tm 2.15). A Forma
É de grande importância notar que para a Ordenação de Presbíteros indica que os
cada resposta do Catecismo é acompanhada presbíteros devem ficar de olho para que a
por vários textos bíblicos. Isso deixa claro que pregação edifique a congregação. A pregação
nossos pais ​​viam os Dias do Senhor do Cate- não deve apenas ser sã, deve também edifi-
cismo como resumos da Palavra do Senhor. A. car a congregação.
Kuyper salienta que a pregação do Catecismo
para os nossos pais ​​“não era - pregando das Es- Para que isso aconteça, deve ser uma
crituras, mas um sermão sobre todos os textos, verdadeira exposição das Escrituras. O pres-
que foram expressamente mencionados abaixo bítero deve atentar que o ministro da Palavra
de cada pergunta. Estes textos não são de im- abra os tesouros da Palavra através de um es-
portância secundária, mas primária. Não é: é tudo intenso da Bíblia.

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O presbítero deve ter uma ideia clara do do ministério da Palavra. Eu acho que essa
de que a pregação, de fato, é uma proclamação questão é completamente justificada. O serviço
da plena Palavra de Deus. O ministério não da Palavra é chamado pelo consistório. O con-
pode se restringir a alguns temas favoritos do sistório é responsável pela pregação. De acor-
ministro, mas deve mostrar à congregação to- do com sua capacidade, os presbíteros devem
dos os tesouros da Palavra. Essa Palavra deve tomar cuidado para que a pregação realmente
lançar sua luz reveladora e consoladora sobre edifique a congregação. Por essa razão, a pre-
toda a vida dos filhos de Deus. gação deve ser colocada na agenda do conselho
de tempos em tempos. Os presbíteros devem
Cada congregação tem suas próprias ne- fazer um julgamento. E eles devem ajudar o
cessidades espirituais. O presbítero deve atentar ministro da Palavra determinando quais são as
para que a pregação realmente atenda a essas necessidades espirituais da congregação.40
necessidades, castigue o pecado, exponha a in-
diferença e chame a uma nova vida de gratidão. Pode acontecer que um presbítero faça
objeção a certa expressão no sermão. Ele pode
Willem Teelinck exortou os presbíte- até pensar que o ministro frequentemente
ros a fazerem com que “o material do sermão erra o alvo. O que tal presbítero deve fazer?
seja ao mesmo tempo sadio e adaptado às cir- Tornar isso imediatamente uma questão para
cunstâncias de nossa era e época atuais, de tal o consistório? Eu concordo com o conselho
maneira que não provoque algum colega, nem dado pelo Ph. J. Huijser:
amordace alguém; mas somente edifique a to-
Quando o presbítero tem boas razões para crí-
dos. Deve ser compreensível para os simples,
ticas, ele não deve apregoá-las na congregação,
que podem pelo menos se servir dela, e dar a nem envolver imediatamente o conselho. É mui-
essas pessoas uma ajuda no caminho da vida”.38 to melhor expressar sua objeção ao ministro em
particular. Ele não precisa se deixar ser ludi-
Também é importante que o presbíte- briado nem tem que insistir teimosamente que
ro anote da maneira que o ministro da Palavra está certo.
convida ao arrependimento, quando surge a
Deve ficar claro que uma discussão do sermão,
necessidade de admoestação. O pregador pro-
em particular ou nas reuniões do conselho, requer
cede das misericórdias de Deus? Ele mostra muita sabedoria. Aqueles que se comportam de
a obra da graça de Deus em Jesus Cristo em maneira grosseira ou vaidosa, facilmente fazem
toda a sua beleza e, partindo disso, pede ar- mal. Se o sermão foi feito corretamente, o minis-
rependimento? Também pertence ao dever tro colocou seu coração no sermão. É necessário
do presbítero prestar atenção ao modo como humildade para ensinar um companheiro oficial
o pregador apresenta seu sermão. É reveren- sobre as suas deficiências nas Escrituras. O pres-
bítero não deve esquecer que o preparo e entrega
te, querido e direto ao ponto? O ministro fala
de um sermão é uma tarefa extremamente difícil
uma língua que a congregação entende? para a maioria dos ministros.

Na visitação da igreja39, costuma-se per- A crítica não deve ser expressa na sala consisto-
guntar qual é, na opinião do conselho, o esta- rial imediatamente após o sermão. Este definiti-

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vamente não é o momento! A maioria dos minis- “Para fazer o seu trabalho... os supervisores de-
tros sente-se aliviada, quando conclui sua tarefa, vem diligentemente examinar as Escrituras, que
mas, ao mesmo tempo, certo cansaço se instala, são proveitosas em todos os aspectos.”
o que facilmente leva à irritabilidade, quando
confrontado com críticas sobre seu sermão.41
Notas:
Um presbítero sábio considera cal- 1
K. Dijk, De dienst der prediking, (Kampen, 1955), p. 79.
mamente suas objeções e, quando necessá-
rio, faz uma visita ao ministro para discutir 2
C. Trimp, De actualiteit der prediking, (Groningen, 1971),
o assunto. A melhor maneira de descobrir pp. 23, 24.
se a pregação está ou não edificando a con- 3
C. Veenhof, Het Woord Gods in denbrief aan de Hebreen,
gregação é em visitas domiciliares. No en- (Temeuzen, 1946), p. 43.
tanto, o presbítero deve estar em guarda!
Visitas domiciliares42 não são oportunida- 4
J. T. Bakker, Kerugma en Prediking, (Kampen, 1957),
des para os membros da congregação desa- pp. 7, & 9.
bafarem com todo tipo de críticas sobre a 5
C. Veenhof, Prediking en uitverkiezing, (Kampen, 1959),
pregação do ministro. Essa crítica pode ser p. 221.
facilmente desencadeada com a pergunta
clichê: “Ainda é uma alegria ir à igreja?” O
6
C. Trimp, De volmacht tot bediening der verzoening, (Gro-
ningen, 1970), p. 8.
presbítero não deve ter parte em uma dis-
cussão tão crítica. O fruto da pregação cer- 7
C. Veenhof, “Calvijn en de prediking,” in Zicht op Calvijn,
tamente não é promovido dessa maneira. (Amsterdam, 1965), p. 93.
Quando o presbítero tem críticas, ele deve 8
Idem. p. 93.
deixar que seja conhecido pelo próprio mi-
nistro, não em uma família que ele está vi- 9
Holwerda, “Evenwichtconstructies met betrekking tot de
sitando como pastor. prediking” in Populair-wetenschappelijke bijdragen, (Goes,
1962), p. 24.

Quando o assunto da pregação surge 10


P. Biesterveld en H. H. Kuyper, KerkelijkHandboekje,
durante uma visita domiciliar, o presbítero (Kampen, 1905), p. 173.
tem a oportunidade de sublinhar o significado
11
C Trimp, De volmacht enz., p. 39.
da pregação (como descrito acima) e exortar
o que Tiago diz: “recebei com mansidão a pa- 12
P. Biesterveld en H. H. Kuyper, op. cit., p. 12.
lavra em vós enxertada, a qual pode salvar as
vossas almas.” (Tg 1:21). 13
See Ph. J. Huyser, De paraenese in de prediking, (Fra-
neker, 1941), Chapter I.

O “terceiro ofício” do presbítero é uma 14


W. Kremer, Prediking en Ethiek, zj., pp. 11,12.
grande responsabilidade. Para que o presbíte-
ro exerça a verdadeira supervisão sobre a pre- 15
B. Holwerda, op. cit., p. 32.
gação, ele deve conhecer a Palavra de Deus. 16
It is also referred to as Christological. (M. B. Van’t Veer).
Não é à toa que a Forma observa em conexão
com o “terceiro ofício”: 17
Zicht of Calvijn, p.78.

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18
M. B. van’t Veer, “Christologische prediking over de his- artigos o Dr. Gootjes apresenta as bases bíblicas, confes-
torische stof van het Oude Testament,” in Van den dienst sionais e históricas da pregação catequética (link: https://
des Woords, (Goes, 1944), p. 151. revistadiakonia.org/edicoes-2018/)

1C. van der Waal, Rondom de prediking, Almanak Fides


19 34
See, De dingen die ons van God geschonken zijn and Een
Quadrat Intellect 1968-1969, (Kampen), p. 94 levende hoop.

20
Holwerda, “De heilshistorie in de prediking,” in Begon-
35
O Catecismo de Heidelberg é dividido em 52 pequenas
nen hebbende van Mozes, (Terneuzen, 1953), p. 95. divisões (correspondente ao número de domingos de um
ano). Estas divisões recebem o nome de “Dia do Senhor”.
21
J. C. Sikkel, Dienst des Woords, (Haarlem, 1923), pp. 10, 36
Guillaume, “De Catechsimus in den dienst des Woords,”
11.
in Van den dienst des Woords, p. 171.
22
“Ordem da Igreja” é um dos nomes dados ao documento 37
A. Kuyper, De Heraut 18 March 1888..
que serve para regular a vida confederacional ou federa-
cional de determinadas igrejas. O documento que regula a 38
Citado por J. Hovius, Het toezicht op de Dienaren des
vida confederacional das Igrejas Reformadas do Brasil re- Woords door de kerkelijke vergaderingen, (Vlaardingen,
cebeu o nome de “Regimento”. As igrejas presbiterianas no 1963), pp. 16,17.
Brasil (IPB, IPI, IPC) escolheram o nome de Constituição
para o documento que define a convivência de suas igrejas 39
Essa visitação é conhecida como “Visitação Eclesiástica”
federadas (Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil, Artigo 37).
Anualmente, um concílio autoriza dois oficiais dos mais
23
Os primeiros Sínodos Holandeses constantemente se ob- experientes e capacitados, para fazerem visitações eclesi-
jetaram ao denominado “Dominicalia” ou “Sondaechsche ásticas em todas as congregações que constituem esse con-
Evangelien”, um sistema periscópico da Igreja Romana. cílio. Estes oficiais podem ser dois ministros da Palavra;
Eles, porém, recomendavam pregações em série: “Deve-se ou, um ministro e um presbítero. Os visitadores não têm
explicar um livro das Sagradas Escrituras sucessivamente autoridade sobre as igrejas a serem visitadas, mas, o obje-
em ordem” (Sínodo de Dort, 1574). tivo da visitação eclesiástica “é contribuir, com bons conse-
lhos, para a paz, a edificação e o bem-estar das igrejas de
24
W. Kremer, Geestelijke leiding in de prediking, (Alphen Cristo”. Para cumprir esse objetivo, os visitadores têm o
aan den Rijn). dever de “perguntarem se tudo está sendo feito conforme
a Palavra de Deus, se os oficiais, juntos e cada um individu-
25
A. Kooy, “Eigentijdse verkondiging,” in De Reformatie,- almente, cumprem fielmente os seus deveres, se mantêm
45th. ed., p. 162. o regimento das igrejas de maneira apropriada e se pro-
movem a edificação da congregação com seus conselhos e
atos, da melhor maneira possível. Os visitadores eclesiásti-
26
G. Wingren, Die Predigt, (Göttingen, 1955), S. 35.
cos também devem admoestar os oficiais que forem negli-
gentes em algum respeito. Um relatório por escrito de cada
27
Citado por C. Veenhof, Predik het Woord, (Goes), pp. 179, visitação será entregue ao próximo concílio”.
180.
40
Ph. J. Huijser, De ouderling en de prediking, (Kampen,
28
Ligar e desligar são termos rabínicos para permitido e 1959), p. 127.
proibido
41
Ph. J. Huijser, op. cit., pp. 127, 128.
29
W. H. van der Vegt, citado por J. Francke, “De preek en
het publieke leven,” in De Reformatie, 47th. ed., p. 94. 42
A Edição Nº 2 da Revista Diakonia sobre o tema “Visi-
tação Pastoral” está disponível em https://revistadiakonia.
30
Douma, Voorbeeld of gebod?, (Amsterdam, 1972), p. 46. org/edicoes-2018/
31
J. J. Buskes, “Verantwoord ministerschap,” in Actuele
prediking, (Nijkerk), p. 158-160, gives some examples. A. N. HENDRICKS é ministro da Palavra (emeritus) das
Igrejas Reformadas (Libertadas) na Holanda.
32
O. Jager, Eigentijdse verkondiging, (Kampen), p. 107-114.
33
As edições 4 e 5 da Revista Diakonia trazem os artigos Tradução: Letícia Cortês.
do Dr. Gootjes “A Prática da Pregação Catequética”. Nestes Revisão: Yuri Costa.

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O PRESBÍTERO COMO
PRESERVADOR E NUTRUDOR
DA VIDA NO PACTO
O QUE A BÍBLIA DIZ

Dr. Cornelis van Dam

Introdução este ofício com a esperança de que o resultado


não seja apenas a renovação da apreciação e
Uma característica das igrejas na tra- do amor por ele, mas também uma visão mais
dição reformada e presbiteriana é certamente profunda de como consideramos o presbitera-
que o ofício de presbítero é estimado por am- to, para que o funcionamento deste ofício pos-
bas. De fato, há boas razões para declarações sa ser tão frutífero quanto possível nas igrejas.
como a de G. D. Henderson: “O presbitério é tal-
vez a característica mais distintiva daquelas Igre- Para este fim, vamos primeiro exa-
jas da Reforma que honram a tradição calvinis- minar os dados bíblicos e ver a tarefa básica
ta”.1 Creio que se nossas reuniões como igrejas deste ofício, a saber, ser servos e instrumen-
no ICRC2 tivessem que ser tão benéficas quanto tos de Deus para estimular e preservar a vida
possível, questões básicas tais como o ofício de com Deus na comunidade da aliança e, assim,
presbítero deveriam ser discutidas para nossa trabalhar pelo governo de Cristo e Sua Pala-
mútua edificação. A igreja não pode realmente vra na igreja. Em seguida, vamos examinar
funcionar e florescer sem um exercício vibrante brevemente o desenvolvimento deste ofício
deste ofício. A combinação de nossas diferentes na história subsequente da igreja e, finalmen-
heranças e nosso propósito comum sugere que te, trazer o assunto para um enfoque prático,
seria proveitoso começar a considerar este ofí- apresentando duas questões para uma análi-
cio no contexto ecumênico desta conferência, a se mais aprofundada.
fim de que pudéssemos nos beneficiar das per-
cepções uns dos outros conforme a influência O Pano de Fundo do Antigo Testamento
de nossas diferentes histórias.
O ofício de presbítero no Novo Testa-
O propósito deste artigo introdutório mento não pode ser entendido sem primeiro
é, portanto, estimular mais discussões sobre considerarmos o pano de fundo deste ofício

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nos tempos do Antigo Testamento e intertes- tanto, para os nossos propósitos, este ponto
tamentários. O Antigo Testamento em espe- pode ser ignorado em sua maior parte. Bas-
cial deve ser, no entanto, cuidadosamente tará, por hora, observarmos que os anciãos
considerado. O fato de que esse pano de fun- atuavam em nível nacional como anciãos do
do é, às vezes, totalmente ignorado pode levar povo (por exemplo, Ex 3.16), em nível tribal
à uma apreciação insuficiente do que este ofí- como anciãos de uma determinada tribo (por
cio implica. exemplo, Jz 11.5) e localmente como anciãos
de uma cidade (por exemplo, Jz 8.14). O que
O termo hebraico para “presbítero” de- nos preocupa especialmente agora são os
riva de um substantivo que significa barba. principais deveres que os anciãos possuíam
Etimologicamente, refere-se basicamente a em Israel. Podemos resumi-los desta forma:
um homem com barba. O termo praticamen- em primeiro lugar, eles tinham a tarefa de jul-
te sempre se refere a homens idosos ou aos gar e disciplinar de forma generalizada, e em
anciãos como oficiais. Estamos interessados segundo lugar, a tarefa de governar e orien-
no segundo uso. Não lemos em nenhum lugar tar o povo e os assuntos da nação de manei-
sobre a origem deste ofício (que, como tal, era ra ordenada. É especialmente através dessas
bem conhecido fora de Israel, por exemplo, responsabilidades que os anciãos foram fun-
Gn 5.7) e pode-se supor que se desenvolveu a damentais para preservar a vida com Deus na
partir da estrutura tribal de Israel. Um ancião comunidade da aliança. Não é por acaso que
era provavelmente um chefe de família ou tri- esses mesmos dois elementos principais tam-
bo. Presumivelmente após sua morte, seu fi- bém constituem essencialmente a tarefa dos
lho mais velho tomaria seu lugar. No entanto, presbíteros em nossas congregações hoje.
se ele fosse incompetente, o lugar poderia ser
ocupado por um filho mais novo. O ponto é É notável que, no início da história de
que ser um ancião envolvia o reconhecimen- Israel como nação, lemos três vezes a desig-
to dos outros, não apenas por causa da idade nação especial de anciãos; duas vezes especi-
e da posição legal, mas também em vista dos ficamente para julgar e uma vez para gover-
dons, da autoridade e capacidade de liderar e, nar. Em Êxodo 18.24-26 lemos que Moisés
se necessário, representar os interesses e de- nomeou o que aparentemente eram anciãos
sejos do povo. O critério básico da idade, ine- (cabeças das tribos, cf. Dt 1.15) para agir como
rente ao termo para ancião, era importante juízes nas questões relativamente simples de
porque carregava conotações de sabedoria e justiça, para que ele pudesse se concentrar
experiência associadas à idade avançada (Dt nas mais difíceis. Foi sugerido (por W.H. Gis-
32.7; cf. Sl 37.25; 1 Rs 12.6-8, 13) . Os anciãos, pen) que com isto Moisés teria, talvez, restau-
portanto, ordenavam respeito e esperava-se rado estes homens como anciãos em seu an-
que conhecessem a história do povo de Deus tigo ofício. Esta ação foi tão importante que
(Dt 32.7; Lm 4.16; 5.12). recebe um lugar proeminente no começo de
Deuteronômio, onde nos é dito (Dt 1.13) que
A forma exata como os anciãos eram Moisés disse ao povo: “Tomai-vos homens sá-
organizados é uma questão intrigante. No en- bios, inteligentes e experimentados, segundo as

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vossas tribos, para que os ponha por vossos ca- 19.17). Isso nos lembra da posição de Moisés
beças” (estes são os juízes do v. 16) e o povo (em Êxodo 18), que lidava com os casos difí-
concordou (v. 14). Observe como a congrega- ceis. Com o surgimento do ofício de rei em
ção de Israel estava envolvida. Com a nomea- Israel, a função de juiz supremo recaiu sobre
ção dos juízes para ajudá-lo, o funcionamento ele (cf. 1 Sm 8.5,20, onde Israel pede a um rei
normal da justiça tornou-se uma meta alcan- para julgá-los [“governar”, RA], 2 Sm 15.2-4; Sl
çável enquanto Israel vivia no deserto. Ao 72). Visto que se poderia esperar que um rei
mesmo tempo, preparou o povo de Deus para piedoso tivesse um grande interesse na ma-
um claro reconhecimento da importância de nutenção da justiça na terra (2 Cr 19.8-11).3
se manter a retidão e a justiça também mais
tarde, em Canaã. Também lemos que anciãos foram de-
signados por Moisés sob a ordem do SENHOR
A ordem de nomear juízes em Canaã, para que Moisés pudesse ter ajuda para go-
conforme registrada em Deuteronômio 16, é vernar o povo. Nós lemos em Números 11:
um desenvolvimento posterior. “Juízes e ofi-
ciais constituirás em todas as tuas cidades (lite- “Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta ho-
ralmente “portões”) que o SENHOR, teu Deus, mens dos anciãos de Israel, que sabes serem anci-
ãos e superintendentes do povo; e os trarás perante
te der entre as tuas tribos, para que julguem
a tenda da congregação, para que assistam ali con-
o povo com reto juízo” (Dt 16.18). Esta ordem tigo. Então, descerei e ali falarei contigo; tirarei do
é endereçada ao povo; então, mais uma vez, Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e con-
eles estão envolvidos na nomeação de juízes, tigo levarão a carga do povo, para que não a leves
embora não somos informados da maneira tu somente.” (vs. 16-17)
como isso ocorre. Ao passo que durante as pe-
regrinações no deserto todo o povo vivia em Esses homens são claramente diferen-
torno do tabernáculo, em Canaã eles se espa- tes daqueles designados por Moisés em Êxo-
lham nas diferentes cidades e vilarejos, e a ci- do 18 para ajudar na execução da justiça.
dade local ou portão da cidade se torna o lugar
onde a lei de Deus é mantida (pelos anciãos da Os anciãos continuaram envolvidos
cidade). Com efeito, há uma certa descentra- com o governo do povo de Deus depois da
lização aqui (um princípio muito prezado por época de Moisés, quer o governo fosse des-
nós na constituição da igreja reformada). Se, centralizado como no período dos juízes ou
no entanto, um caso fosse muito difícil, então mais centralizado, à medida que Israel se mo-
(de acordo com Dt 17) “te levantarás e subirás via em direção a uma monarquia teocrática.
ao lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher. De acordo com seu ofício, eles exerceram o
Virás aos levitas sacerdotes e ao juiz que hou- governo de Deus sobre o povo em nome do
ver naqueles dias; inquirirás, e te anunciarão próprio Deus. O SENHOR tornou essa regra
a sentença do juízo” (Dt 17.8b,9). Havia, por- possível ao confiar a eles, juntamente com os
tanto, um tribunal superior, que, no entanto, levitas, o cuidado de Sua lei e vontade, bem
não funcionava como tribunal de apelação. como o dever de imprimir esta lei nos cora-
Ele servia para os casos muito difíceis (cf. Dt ções e mentes de Seu povo. Lemos em Deute-

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ronômio 31 que Moisés, depois de escrever a havia enviado a eles porque Deus iria livrá-los
lei, “a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que le- (Ex 3.13-18). Se os anciãos reconhecessem sua
vavam a arca da Aliança do SENHOR, e a todos liderança, o mesmo aconteceria com o povo.
os anciãos de Israel”. Segue-se então a ordem Este aspecto da tarefa dominante do ancião
para que esta lei seja lida ao povo no fim de continuou após o tempo de Moisés. Durante o
cada sete anos, na Festa dos Tabernáculos (Dt período dos juízes, os anciãos de Gileade viram
31.9-13). Os anciãos tinham uma responsabili- que Jefté se tornara seu líder para enfrentar a
dade especial de fazer com que Israel conhe- ameaça dos amonitas (Jz 11.4-11). Foram tam-
cesse a lei e vivesse por ela. Juntamente com bém os anciãos que pediram a Samuel um rei
Moisés eles ordenaram ao povo que guardas- (1 Sm 8.4-5). O importante lugar dos anciãos
se a lei em Deuteronômio 27.1 e antes que é destacado, mais tarde, nas palavras de Saul,
Moisés entregasse sua canção final (Dt 31.28), depois que Samuel lhe disse que Deus havia
eles foram primeiramente intimados, pois ti- tirado o reino dele. Então Saul reconheceu seu
nham a obrigação específica de assegurar que pecado e disse: “honra-me, porém, agora, dian-
Israel conhecesse seu conteúdo. Na verdade, te dos anciãos do meu povo” (1 Sm 15.30). Com
Moisés disse em sua última canção que Israel respeito ao reinado de Davi, os anciãos de Isra-
deveria perguntar a seus pais e anciãos para el o ungiram rei sobre todo o Israel (2 Sm 5.3; 1
obterem instrução sobre a história do trato de Cr 11.3; cf. 2 Sm 3.17-18; cf. também a presen-
Deus com Seu povo (Dt 32.7). O peso do ofício ça dos anciãos em 2 Sm 17.1-4).
também é visto em Josué 24:31, onde lemos:
“Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias Com esse tipo de envolvimento em
de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda liderar e governar a nação, é de se esperar
sobreviveram por muito tempo depois de Josué que os anciãos também servissem com seus
e que sabiam todas as obras feitas pelo SENHOR conselhos e orientações. Às vezes o conselho
a Israel” (similarmente, Jz 2.7). A implicação deles era ruim, como nos dias de Eli, quando
é que os anciãos lideraram Israel nos cami- decidiram enviar a arca para a batalha (1 Sm
nhos do Senhor. Assim, o governo dos anci- 4.3). Geralmente, porém, era de se esperar
ãos de Israel incluía essa obrigação crucial de que eles dessem bons conselhos, e conselhos
colocar as exigências do grande rei de Israel, sábios passaram a ser associados ao ancião
o SENHOR Deus, diante do povo. Isso possibi- (cf. Ez 7.26 e Jr 18.18).
litou que eles guiassem Israel nos caminhos
da aliança. Em resumo, os anciãos eram homens
capazes que temiam a Deus e eram confiáveis
Entretanto, a tarefa de governar per- (Ex 18.21, 25), sábios, compreensivos, expe-
tencia aos anciãos desde os tempos iniciais. rientes (Dt 1.13) e capacitados por Deus com
Assim, a fim de que a liderança de Moisés so- Seu Espírito (Nm 11.16,17) para realizar suas
bre Israel pudesse ser reconhecida, o Senhor tarefas vitais de julgar e governar. O povo
instruiu Moisés a reunir os anciãos de Israel estava envolvido no estabelecimento dos an-
e apresentar a eles suas credenciais, por as- ciãos em seu ofício, e a autoridade deles era
sim dizer; isto é, que o Deus de seus pais o reconhecida. Sua principal responsabilidade,

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no entanto, era em relação a Deus, pois sua ticas essenciais do ofício de ancião do Antigo
tarefa de julgar e governar deveria estar de Testamento e estava por trás do ofício de pres-
acordo com a lei de Deus. De fato, a última ta- bítero da igreja cristã. Isso nos leva ao ancião
refa incluía até mesmo a responsabilidade de (ou presbítero) do Novo Testamento.
imprimir a lei de Deus nos corações e mentes
do povo (Dt 31.9-13). Desta forma, eles deve- O Presbítero do Novo Testamento
riam servir a Deus e ao povo e trabalhar pela
preservação e desenvolvimento da vida com o Para nossos propósitos, a primeira coi-
SENHOR na comunidade da aliança. sa digna de nota é que os primeiros cristãos
eram judeus e que o ofício de ancião era bem
Transição conhecido para eles por causa da sinagoga.
Por essa razão, Lucas pode mencionar pres-
Embora o período após o exílio até os bíteros cristãos pela primeira vez em Atos
tempos do Novo Testamento tenha sido de 11:30 (em relação a Jerusalém), sem qualquer
profunda mudança, o ofício de ancião perma- necessidade de explicação. O ofício era fami-
neceu basicamente intacto. Em escala nacio- liar, conhecido também a partir do que Lucas
nal, com a efetiva dissolução das unidades havia escrito anteriormente. Em sua primeira
tribais, as famílias individuais cresceram em viagem missionária, Paulo e Barnabé elege-
importância e os anciãos oriundos da nobreza ram presbíteros em todas as igrejas (At 14.23).
assumiram a liderança. No início do segundo O verbo usado para “eleger” deixa em aberto
século antes de Cristo, há evidências da exis- a possibilidade de a congregação ter partici-
tência de “um conselho de anciãos”, composto pado do processo. Paulo também encarregou
por 70 (71) membros, o Sinédrio. Inicialmen- Tito de fazer o mesmo em Creta (Tt 1.5). Esse
te, os membros eram geralmente chamados ofício pertencia à congregação local (cf. tam-
de presbyteroi, “anciãos”. No entanto, o ter- bém Atos 20.17; Tg 5.14; 1 Pe 5.1).
mo foi usado mais e mais para distinguir os
membros “leigos”, que provavelmente vinham Em segundo lugar, no Novo Testamen-
de famílias patrícias de Jerusalém, daqueles to, os anciãos (presbiteroi) também são cha-
com uma linhagem sacerdotal, bem como mados bispos (episkopoi, por exemplo, em At
(depois de 70 a.C.) aqueles tirados das fileiras 20.28) e, por implicação, “pastores”, sem im-
dos escribas. Essa situação está refletida no plicar qualquer diferença essencial no ofício
Novo Testamento. O sistema de anciãos locais referido.4 Para ser preciso, o apóstolo Paulo
se manteve (Ed 10.7-17), e cada comunidade faz distinção entre os anciãos que presidem
judaica possuía seu conselho de anciãos asso- bem, com especialidade os que se afadigam na
ciados à sinagoga (cf. Lc 7.3), uma instituição palavra e no ensino (1 Tm 5.17), a quem geral-
geralmente datada de Esdras ou do exílio. Es- mente chamamos de ministros da Palavra, e
ses anciãos eram responsáveis pela
​​ disciplina os demais. No entanto, comum a todos os an-
na congregação (cf. Mt 10.17; Jo 9.22). Este ciãos é a tarefa de supervisão e disciplina da
presbitério local é de particular importância congregação, bem como a responsabilidade de
para o nosso tópico, pois reteve as caracterís- governar e guiar o povo de Deus com a Palavra

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de forma que agrade a Deus. Em outras pala- fica claro no Novo Testamento que eles foram,
vras, a tarefa dos anciãos (não incluindo todas no Senhor, colocados sobre a congregação (1 Ts
as implicações do mandato específico dos mi- 5.17). Eles governam (1 Tm 5.17). O presbítero
nistros da Palavra) é basicamente a mesma que também é chamado de despenseiro de Deus
a de seus predecessores do Antigo Testamen- (Tt 1.7). O termo “despenseiro” literalmente in-
to; ou seja, os anciãos ou presbíteros da nova dica que o presbítero é um administrador da
dispensação devem preservar e nutrir a vida casa de Deus. No entanto, o significado figu-
com Deus na comunidade da aliança. Podem rado provavelmente é mais importante aqui,
fazê-lo a serviço do Senhor ressuscitado e são implicando que o presbítero é um adminis-
capacitados pela habitação do Espírito Santo. trador de tesouros espirituais (cf. 1 Co 4.1; Mt
13.11,52). Isso diz algo sobre a natureza da
Chegando aos detalhes, notamos que a posição de autoridade do presbítero. A fun-
tarefa de supervisão e disciplina dos presbíte-
ção mais elevada no governo da congregação
ros é descrita de várias maneiras no Novo Tes-
consiste na administração das boas novas.
tamento. Alguns exemplos: ao se despedir dos
Portanto, a falsa doutrina deve ser combati-
presbíteros de Éfeso, o apóstolo Paulo disse:
da e a verdade salvaguardada (At 20.28, 31; Tt
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o
1.9-11). Por essa razão, assim como seus equi-
qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para valentes do Antigo Testamento, os presbíte-
pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou ros têm a responsabilidade de fazer com que
com o seu próprio sangue” (At 20.28). o evangelho e as exigências do Senhor sejam
impressos nos corações e nas vidas do povo
Pedro escreveu: “Rogo, pois, aos pres- de Deus (1 Ts 2.11,12; 2 Tm 2.24-26).
bíteros que há entre vós, eu, presbítero como
eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, Com tais responsabilidades, não é sur-
e ainda co-participante da glória que há de ser presa que os pré-requisitos para o ofício se-
revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há jam altos. Para nossos propósitos, gostaria de
entre vós, não por constrangimento, mas es- enfatizar agora que, assim como seus prede-
pontaneamente, como Deus quer; nem por sór- cessores do Antigo Testamento, o presbítero
dida ganância, mas de boa vontade” (1 Pe 5.1-2). na última era tem que ordenar o respeito dos
outros sendo ele mesmo irrepreensível e te-
A natureza pastoral e ministradora de mente a Deus e mostrando, em sua caminha-
sua supervisão e disciplina é óbvia. Eles têm da de vida, os frutos do Espírito (1 Tm 3.2-4,7;
que vigiar as almas (Hb 13.17) e proteger e nu- Tt 1.6-9; cf. Gl 5.22-23). Ele também tem que
trir a vida com Deus na comunidade da alian- ser capaz de ensinar aos outros o caminho do
ça. Isso pode significar correção e admoesta- Senhor (1 Tm 3.2; cf. 5.17). Como Paulo escre-
ção (1 Ts 5.12; cf. At 20.31) e, se não houver veu a Tito:
arrependimento, pode finalmente levar à ex-
comunhão (Mt 18.17; 1 Co 5.13; Tt 3.10). “Apegado à palavra fiel, que é segundo a doutri-
na, de modo que tenha poder tanto para exortar
No que diz respeito à tarefa dos pres- pelo reto ensino como para convencer os que o
bíteros de governar e orientar a congregação, contradizem.”

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Embora o ofício de presbítero não fos- católica romana. Somente na época da Refor-
se em primeiro lugar um ofício de ensino, ma é que este ofício retornou ao seu lugar.
mas de governo, ainda assim, um bom co-
nhecimento da Palavra de Deus era essencial. A história de como o ofício de presbíte-
Eles precisavam saber disso! Pense no papel ro foi redescoberta é intrigante, mas está fora
crucial dos anciãos em Atos 15:1-6, que, com do escopo desta apresentação. É suficiente
os apóstolos, tinham que tomar decisões de dizer que foi especialmente sob Calvino (que
longo alcance. Esse conhecimento da Palavra pode ter se baseado no trabalho de Oecolam-
e a capacidade de ensinar os outros também padius e Martin Bucer) que se pôde obter uma
tinham de ser acompanhados por uma sen- verdadeira visão bíblica do ofício. No entan-
sibilidade madura, de modo que o presbítero to, também devemos mencionar que o pró-
não fosse belicoso (1 Tm 3.3) ou entrasse em prio Calvino aparentemente nunca chegou a
controvérsias sem sentido (1 Tm 1.3; 6.4-5). uma exposição bíblica totalmente consistente
e claramente focada do ofício de presbítero.
Todos esses requisitos sugerem que os Isso teve consequências para as igrejas da Re-
presbíteros deveriam ser escolhidos com mui- forma.
to cuidado depois de terem sido claramente
O que deve tomar nossa atenção agora
experimentados e se mostrarem dotados dos
é como podemos aprender uns com os outros
dons necessários. Se a tradição judaica e os
com vistas a esse ofício, tendo em mente o
dados bíblicos indiretos forem considerados,
breve resumo dos dados bíblicos previamen-
então um candidato ao presbitério deve ter
te observados. Há muita coisa para pensar
pelo menos 30 anos de idade. Não há dados
nas discussões sobre o presbiterato de acordo
bíblicos diretos nos informando por quanto
com reformados e presbiterianos. No entan-
tempo um presbítero deve servir. O pano de to, uma vez que este é apenas um artigo intro-
fundo do ofício do Antigo Testamento, no en- dutório, temos que começar modestamente e
tanto, sugere fortemente que o presbiterato é considerar duas questões muito básicas, pro-
um ofício vitalício. Também não há nada no vavelmente relacionadas, isto é: a preparação
Novo Testamento que sugira o contrário. De para o ofício e o tempo de serviço.
fato, pode-se argumentar que as altas exigên-
cias do cargo parecem indicar que pode não Treinamento especial para o ofício?
ser fácil encontrar candidatos adequados para
o ofício e que, portanto, a igreja não deixará Tendo em vista as altas demandas do
de lado os bons oficiais tão prontamente. ofício, os presbíteros devem receber algum
tipo de treinamento especial como prepara-
O declínio e recuperação do presbiterato ção para o ofício? Este assunto não é novo na
história das igrejas reformadas. Já no século
Apesar da longa e ilustre história do ofí- XVII, Jakobus Koeleman defendeu tal treina-
cio de presbítero, este acabou sendo assimilado mento com base em 1 Tm 3:10, de modo que
pelo sacerdócio naquilo que se tornou a igreja as igrejas pudessem receber presbíteros com-

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petentes e instruídos. O Rev. Dr. A.C. van Ra- tados refere-se, em primeiro lugar, à ex-
alte, em 1839, deu aulas aos presbíteros e diá- periência de vida prática, não a um exame
conos. Além disso, no Classis5 Apeldoorn, foi acadêmico.
costume, durante muito tempo, fazer ques-
tionamentos sobre o conhecimento bíblico de A experiência tem ensinado a muitos pasto-
presbíteros e diáconos. Em 1913, o Prof. L. Lin- res que esses contra-argumentos do Dr. Bouwman
deboom defendeu a necessidade de um trei- não são totalmente precisos. São os próprios pres-
namento específico para os presbíteros. Sua bíteros que costumam perguntar por que não há
razão era basicamente que os muitos deveres algum tipo de treinamento (e treinamento dentro
exigidos dos presbíteros requeriam isso. Dr. de um instituto geralmente não é previsto). Tais
H. Bouwman, no entanto, se opôs a ele.6 Ele questões são levantadas na consciência do fardo
apresentou as seguintes razões: e importância do ofício de presbítero. Não devem
ser feitos todos os esforços para que os presbíteros
• Primeiro, o caráter reformado do ofício estivessem tão bem preparados quanto possível?
seria ameaçado, isso poderia resultar final- Tem sido sugerido que, embora não exista uma de-
mente no surgimento de um novo tipo de manda bíblica explícita por qualquer treinamento
clero. especial para o presbítero, ainda assim, o fato de
“presbíteros docentes7” (ministros) receberem um
• Segundo, se os presbíteros forem esco-
treinamento extensivo e detalhado sugere que
lhidos apenas dentre as pessoas especial-
algo está errado quando os “presbíteros regentes”
mente educadas para o ofício, então mui-
não recebem nada. Suas tarefas, embora diferen-
tos serão ignorados.
ciadas, têm muito em comum. Ambos são cha-
mados presbíteros nas Escrituras (cf. 1 Tm 5.17) e
• Terceiro, o importante não é instrução
científica, mas treinamento prático, rece- ambos se afadigam com a Palavra. Será que esse
bido nas aulas de catecismo, nas socieda- treinamento poderia ser implementado levando-
des de estudo bíblico e em sua própria in- -se, ao mesmo tempo, em consideração algumas
vestigação das Escrituras. das preocupações do Dr. Bouwman?

• Quarto, os mais modestos e melhor qua- Deixe-me transmitir as sugestões de


lificados não participariam. Lawrence R. Eyres que, como ministro pres-
biteriano ortodoxo, lutou com essa questão.
• Quinto, nem todos apoiariam tal insti-
tuição de treinamento, que estaria, portan- • Primeiro, deveria haver um retorno à
to, condenada ao fracasso. prática de encorajar e preparar os jovens
para uma possível liderança. É importante
• Sexto, isto promoveria um presbiterato que as igrejas reconheçam os homens que
vitalício. possuem dons.

• Sétimo, a admoestação de Paulo em 1 Ti- • Segundo, esses homens precisam de al-


móteo 3:10 de que os diáconos sejam tes- gum tipo de treinamento. Uma boa com-

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preensão da doutrina e de como ela parte Sessão10 para determinar seu interesse e dese-
da Escritura é de grande importância. O jo em ser ordenado como presbítero regente (1
conhecimento do governo da igreja tam- Tm 3:1; 5:22). Somente quando os presbíteros
bém é importante. estavam satisfeitos e ele havia compreendido
as responsabilidades do presbiterato e possuía
• Terceiro, deve haver treinamento em mi- as qualificações necessárias para o ofício, é que
nistrar a Palavra. Afinal, um presbítero é ele foi orientado a se preparar para um exame
um co-pastor com o pastor. Um bom manu- pré-ordenatório (Tt 1:5-9; 1 Tm 3:2-7). Tal pre-
al percorreria um longo caminho até aqui. paração poderia envolver ser treinado formal-
mente pelo ministro. Era aberto uma avaliação
• Quarto, presbíteros eleitos deveriam ser de três horas que abrangia o conhecimento bí-
testados nas áreas mencionadas acima an- blico, a exegese do Antigo e do Novo Testamen-
tes de serem ordenados.8 to, a doutrina reformada, a História da Igreja
e o Cuidado Pastoral. A única diferença para o
A lista de sugestões acima não é um exame de um ministro (“presbítero docente”)
fenômeno isolado no mundo presbiteriano e era que as línguas originais eram dispensadas
tem vários elementos atraentes. e não havia proposta de sermão. Além disso, os
membros da congregação estavam autorizados
Certamente, nem todos os presbite- a fazer perguntas se assim o desejassem. Após
rianos têm alguma forma de treinamento. A um exame bem sucedido, a congregação o ele-
Igreja Livre da Escócia, por exemplo, não pa- gia presbítero.11
rece ter nada em vista. Por outro lado, a Igreja
Presbiteriana Ortodoxa especifica na edição Tais procedimentos ou similares me pa-
de 1980 da sua Forma de Governo que normal- recem fazer jus à grande importância do ofício
mente alguém só se torna elegível para eleição de presbítero e poderiam ir de encontro a algu-
ao ofício após ter recebido treinamento apro- mas das preocupações que muitos novos pres-
priado sob a direção ou com a aprovação da bíteros expressam atualmente. Além disso,
sessão, e deve ter servido a igreja em funções evitaria algumas das preocupações que Bou-
que exigem liderança responsável. Homens wman levantou contra uma forma de treina-
de capacidade e piedade na congregação serão mento mais institucionalizada. Será que aque-
encorajados pela sessão a se prepararem para les que em geral têm dado pouca atenção ao
os ofícios de presbíteros ou diáconos para que treinamento dos presbíteros antes de sua elei-
se possam oferecer estudo e oportunidades de ção e ordenação (como as Igrejas Reformadas
serviço de maneira sistemática e ordenada.9 Canadenses12) não deveriam começar a pensar
em como poderíamos ajudar a equipar homens
Um exemplo específico pode ilustrar para este ofício tão importante, mas exigente,
como tal preparação tem sido fornecida. Um que Cristo tem dado à Sua igreja? Afinal de con-
presbítero ordenado em uma igreja presbiteria- tas, o mais importante é que a vida com Deus
na canadense relatou a mim como foi entrevis- seja nutrida tão bem quanto possível pelo mi-
tado (de fato, examinado) inicialmente por sua nistério efetivo de toda a Palavra da aliança.

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Tempo de serviço escolhidos a partir dos conselhos civis, na Es-
cócia os presbíteros eram inicialmente oriun-
Um segundo ponto é o tempo de servi- dos dos Senhores da Congregação e dos Con-
ço. Entre aqueles com panos de fundo tanto selheiros de Burgh14.
Presbiteriano quanto Reformado, essa questão
pode ser discutida na percepção de que nossas Quando o Segundo Livro de Disciplina
histórias específicas exibem ambas as possibi- foi adotado em 1578, o ofício de presbítero foi
lidades, a saber, serviço vitalício ou presbitera- reconhecido como permanente (embora nem
to por mandato. Calvino, aparentemente, era a todos precisassem servir simultaneamente
favor do presbiterato por mandato (de um ano), ou continuamente) e, assim, em vez de serem
mas não excluiu a possibilidade de um perío- eleitos anualmente, eles agora assumiam o
do de tempo mais longo. Em suas Ordenações ofício de forma vitalícia. Isto foi reafirmado
Eclesiásticas de 1541, Calvino escreveu: pelo Ato da Assembleia Geral de 1582. No en-
tanto, “levou algum tempo para que o impacto
E no final do ano após a sua eleição pelo Conse- desses atos da Assembleia entrassem em vigor,
lho13, eles (isto é, os presbíteros) se apresentarão
já que há evidências de que eleições anuais de
ao Seigneury para que seja decidido se devem ser
mantidos ou substituídos, no entanto, desde que presbíteros continuam ocorrendo, enquanto em
estejam cumprindo suas obrigações fielmente, 1656 ainda acreditava-se que ‘a ordem e a prá-
será inadequado substituí-los com frequência tica’ da Igreja eram eleições regulares”.15 Ainda
sem uma boa causa. em 1705 foi apresentada uma proposta à As-
sembleia Geral, solicitando que as novas elei-
Na Escócia, O Primeiro Livro da Disci- ções para os anciãos fossem para um manda-
plina (1560) reflete a visão de Calvino. No Oi- to de quatro anos. Outras evidências sugerem
tavo Capítulo (No Tocante à Eleição de Presbí- que “o presbiterato era considerado um ofício
teros e Diáconos) lemos: anual até o começo do século dezoito.” 16 Está
claro, no entanto, que o presbiterato vitalício
A eleição de presbíteros e diáconos deve ocorrer era a norma oficial e, até onde eu sei, ainda é o
uma vez por ano... para que a manutenção de
caso nas igrejas presbiterianas associadas ao
tais oficiais não presuma da liberdade da igreja.
Não é prejudicial que alguém que seja recebido
ICRC.
no ofício por mais de um ano, desde que seja es-
colhido anualmente por eleições comuns e livres. Nas Igrejas Reformadas, o presbite-
rato vitalício era conhecido; mas, em algum
Aqui vemos um dos principais moti- momento, todos os presbíteros passaram a
vos para uma eleição anual; a saber, o medo ter mandatos de ofício limitados. Durante o
de que alguns em virtude de seu ofício pos- século XVI, em Londres e na Colônia, os pres-
sam “presumir da (ou seja, usurpar a) liberda- bíteros eram eleitos de forma vitalícia. Levan-
de da igreja”. taram-se perguntas sobre a prática entre as
congregações holandesas de refugiados na In-
Esta não era uma ameaça vã, pois, as- glaterra. Uma conferência realizada em 1560
sim como em Genebra os presbíteros eram também tratou (entre outros itens) sobre este

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ponto. Decidiu-se manter o presbiterato vita- Também na Holanda, a prática do
lício pelas seguintes razões, dadas aqui de for- presbiterato vitalício não era desconhecida.
ma resumida. Na Holanda do Norte, ela era conhecida até
1587 (possivelmente devido à falta de candi-
• Primeiro, há uma unidade essencial do datos). Além disso, é interessante notar que
ofício de ministro da Palavra e do presbíte- o “provinciale synode”18 de Utrecht declarou
ro. Os ministros são chamados de presbí- em 1612 que era desejável que os presbíteros
teros e os presbíteros são chamados bispos fossem escolhidos de forma vitalícia embora
ou pastores (1 Pe 5.1; Atos 20:28). reconhecesse que isso não era mais possível
e, portanto, aceitasse a prática estabelecida
• Segundo, aqueles que serviram fielmen- de presbiterato por mandato. No entanto, na
te como presbíteros ou diáconos não foram província de Groningen, os presbíteros conti-
removidos de seus cargos, mas foram colo- nuaram sendo eleitos de forma vitalícia até o
cados no ministério da Palavra, como Este- final do século XVIII.
vão e Filipe (cf. Atos 6:8-14; 21:8). Somente
Nicolau foi removido de seu ofício, mas de- Contudo, já muito cedo na história das
vido à infidelidade (Apocalipse 2:15). igrejas reformadas na Holanda, ou seja, na reu-
nião de Wezel em 1568 e três anos depois em
• Terceiro, o ofício não é temporário, pois um sínodo em Emden, a ideia de presbiterato
Paulo exorta os presbíteros de Éfeso a aten- por mandato foi fortemente apoiada por razões
tarem para si mesmos e para o rebanho, práticas e tornou-se a norma aceita dentro das
sem indicar por quanto tempo deveriam igrejas. Assim, a razão para um período restrito
servir. Eles são orientados a perseverar. de serviço para os presbíteros, como explicita-
da no dito de Wezel, é que este é um fardo pesa-
• Quarto, em um nível mais prático, a do demais e, portanto, impacta negativamente
partir do fato de que alguns presbíteros em seu emprego ou negócio normal. Essa razão
tiveram que deixar o ofício para poder deve ser vista no contexto da perseguição da-
sustentar suas famílias, não se segue que queles dias. O Sínodo de Dordrecht 1578 tam-
seja vantajoso ter presbiterato por man- bém apontou esta como a principal razão (e per-
dato. Como os aprendizes na vida normal mitiu exceções). No entanto, essa consideração
são treinados para um longo período de prática não foi a única razão. Em conselho soli-
trabalho no qual a experiência se torna citado para o Sínodo de Middelburg 1581, o Pro-
um importante recurso, assim também a fessor L. Danaeus de Leiden deu as seguintes
congregação não é servida por ter cons- razões para presbiterato por mandato:
tantemente novos oficiais. Em um nível
mais prático, a influência das tendências • Primeiro, a Escritura não exige presbite-
hierárquicas na Igreja da Inglaterra tem rato vitalício;
sido vistas como fatores importantes na
manutenção do presbiterato vitalício nas • Segundo, o presbiterato vitalício pode le-
igrejas holandesas lá.17 var à tirania eclesiástica;

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• Terceiro, com o presbiterato por manda- dade” (p. 354). Se não há um ofício por manda-
to, mais pessoas podem ter a oportunidade to para um, por que deveria haver para o ou-
de se envolver no governo da igreja; e, tro? Murray até mesmo continua dizendo que
“não podemos deixar de sentir que a prática do
• Quarto, o presbiterato por mandato já é presbiterato por mandato para os presbíteros
uma prática geral, embora, caso se deseje, regentes é apenas uma ressaca de um clerica-
pode-se desviar dela. lismo insalubre que não conseguiu reconhecer
a unidade básica do ofício de presbítero e, par-
Discussões recentes sobre o tempo de serviço ticularmente, a paridade completa de todos os
presbíteros em matéria de governo” (p. 355).
A questão de saber se a duração do
mandato deve ser vitalícia ou não foi discuti- Em contraposição ao argumento de
da nas últimas décadas nos círculos Presbi- que o ministro da Palavra faz desta eleição seu
teriano e Reformado. Em 1955, John Murray trabalho vitalício, enquanto o presbítero re-
achou necessário publicar um sólido artigo gente não o faz, Murray responde, primeiro,
em favor do presbiterato vitalício quando a que isso não invalida a permanência do eleito
Forma de Governo na Igreja Presbiteriana Or- no ofício de presbítero; segundo, com relação
todoxa estava sendo revista e havia sido feito a 1 Timóteo 5.17-18, que o presbítero regente
um pedido em favor do presbiterato por man- pode ser remunerado em tempo parcial bem
dato.19 Depois de deixar claro que um presbí- como em tempo integral e, em terceiro lugar,
tero ainda poderia ser removido ou aliviado que o presbítero regente é igualmente digno
do ofício por várias razões, Murray apresenta de seu salário.
os seguintes argumentos bíblicos:
Chegando agora a uma discussão tra-
Primeiro, “não há autorização explícita vada em círculos reformados canadenses em
do Novo Testamento para o que chamamos de 1974, notamos que o Rev. W. Huizinga foi so-
‘presbiterato por mandato” (p. 352). Murray licitado (presumivelmente em uma conferên-
prossegue argumentando que as inferências cia para oficiais) “a avaliar dados bíblicos refe-
tiradas do Novo Testamento militam contra a rentes ao afastamento periódico de presbíteros
prática. “A permanência dos dons que qualifi- e diáconos (ad art. 27, C.O.), tendo em mente
cam para o ofício e os julgamentos da igreja de os desenvolvimentos históricos nas igrejas re-
que Cristo está chamando este homem para o formadas nesta matéria.” Ele concluiu, com
exercício do ofício” (p. 354) são inconsistentes base nas evidências do Antigo Testamento,
com um mandato limitado, ainda mais quan- que “sempre que o Senhor designou ou mandou
do se considera que o os dons crescem em sua designar alguém para um ofício, o oficial geral-
fecundidade e eficácia na medida em que são mente serviu de forma vitalícia, a menos que o
utilizados ao longo do tempo. Finalmente, há caráter do ofício exigisse apenas um cargo de
“a unidade do ofício de governar. Em relação ao curto prazo. Somente a infidelidade é identifica-
governo na igreja de Deus, o presbítero regente da como motivo para demissão do ofício como,
e o presbítero docente estão em completa pari- por exemplo, no caso de Saul.”20 No que diz

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respeito à evidência do Novo Testamento, ele O conhecido H. Bouwman, em seu tra-
concluiu que “a evidência do Novo Testamento balho Gereformeerd kerkrecht, vol. 1 (págs. 607-
nos dá a IMPRESSÃO de que os presbíteros e os 608), declarou sumariamente que, embora o
diáconos foram instalados de forma vitalícia” Novo Testamento dê a impressão de ofício vi-
(p. 5). As provas apresentadas tratavam: talício, ainda assim as igrejas reformadas que
foram influenciadas por Calvino optaram pelo
• Primeiro, com a continuidade dos oficiais presbiterato por mandato a fim de evitar a hie-
do Antigo e do Novo Testamento; rarquia e aumentar a influência da congrega-
ção no governo da igreja. Além disso, não se
• Segundo, com a seriedade do ofício (Atos deve esquecer que a distinção entre o presbíte-
14:23; 1 Timóteo 5:22). Uma vez no ofício, o ro docente e regente estava apenas começan-
presbítero deve permanecer presbítero. do a tomar forma no primeiro século.

• Terceiro, algumas passagens dão clara- Parece-me que os argumentos da Es-


mente a impressão de um chamado vitalício. critura para o presbiterato vitalício superam
de maneira significativa os argumentos do
Por exemplo, aspirar ao ofício (cf. 1 presbiterato por mandato. Obviamente, não
Tm 3.1) implica serviço vitalício ou de apenas tem havido unanimidade sobre este assunto
alguns anos? Atos 20:28 indica que o Espírito na história da igreja e, portanto, parece im-
Santo tornou os presbíteros supervisores do provável que aconteça agora. Outro fator im-
rebanho. “O Espírito Santo diria, por exemplo, portante dentro do contexto desta introdução
depois de três anos, agora você não é mais ne- é o que melhor serviria à congregação. Seria
cessário? Você pode ir e te chamarei novamen- bom se nossos irmãos presbiterianos pudes-
te caso eu precise? Isso não seria como um co- sem abordar esse assunto a partir de sua pró-
merciante licenciado dizendo ao seu aprendiz, pria experiência para nossa edificação mútua
a quem ele tem treinado com grandes custos futuramente.
para si mesmo: muito bem, você já pode voltar
para casa e executar seu antigo trabalho re- Conclusão
gular em tempo integral novamente? Esta de-
signação pelo Espírito Santo não é mais fácil O presbiterato, é claro, inclui muitas
de explicar se pressupusermos um presbite- outras questões além das que foram levanta-
rato vitalício ao invés de um presbiterato por das aqui. No entanto, com relação ao que foi
mandato?” (p. 4) O reverendo Huizinga então abordado nesta introdução, percebe-se que o
reiterou os argumentos da congregação de ofício de presbítero merece contínuo estudo
Londres na conferência de 1560. Sua conclu- e estímulo na igreja. É difícil superestimar-
são final é, no entanto, que ainda é questio- mos a importância deste ofício. Durante toda
nável e discutível se devemos ser forçados a a história do povo de Deus, os anciãos foram
abandonar o costume reformado de afastar usados pelo Senhor como Seus instrumentos
e substituir periodicamente os presbíteros e para estimular e trabalhar pela preservação
diáconos (p. 5). da vida com Deus na santidade e fidelidade da

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aliança. As reuniões da Conferência Interna- 8
LE. Eyres, The Elders of the Church (Philipsburg, N.J.:
Presbyterian and Reformed 1979), pp. 55-57
cional das Igrejas Reformadas (ICRC) nunca
devem se esquecer deste dom de nosso Se- 9
The Standards of Government, Discipline and Worship of
nhor Jesus Cristo para a Sua igreja e, assim, the Orthodox Presbyterian Church, 80.
perder o contato com as preocupações diá- 10
Na política eclesiástica presbiteriana a “sessão” é o termo
rias da congregação local. As diferenças que que denomina o “conselho” de uma igreja local. A “sessão”
existem entre nós precisamente sobre a for- consiste em seus ministros e presbíteros de uma congrega-
ma como este ofício funciona na igreja podem ção individual.
servir como um estímulo positivo para que 11
Correspondência pessoal do presbítero Henry Moes, da-
novamente consideremos este ofício para o tada de 8 de março de 1989, e usada aqui com sua permis-
benefício mútuo de ambos. são. As referências bíblicas são dele.

12
O Rev. G. Van Dooren tem enfatizado a importância do
treinamento para o ofício de presbítero (antes e depois de
Notas: sua ordenação) em seu ministério pastoral e em sua capa-
1
G.D. Henderson, The Scottish Ruling Elder (London: Ja- cidade de conferencista das disciplinas Diaconiológicas na
mes Clarke 1935), p. 11. Faculdade Teológica das Igrejas Reformadas Canadenses.
No entanto, pelo que sei, praticamente nada está sendo fei-
2
Em 1982 se iniciou a International Conference of Refor- to no sentido de um treinamento especial para preparar
med Churches (ICRC). Esta conferência reúne 31 confede- homens para o ofício de presbítero nessas igrejas.
rações de igrejas reformadas de diversos países. Para co-
nhecer mais a ICRC, acesse: https://www.icrconline.com/ 13
A igreja em Genebra nos dias de Calvino sofria muita
about-us ação das autoridades civis. As Ordenanças Eclesiásticas de
1541 foi a tentativa de Calvino para fazer a separação entre
3
Veja mais sobre os anciãos e julgamento, C. Van Dam, Igreja e Estado. O Conselho aqui mencionado se refere ao
“The Elder in the Gate,” Diakonia, l:4 (1988), pp. 11-16. Pequeno Conselho e não ao “conselho” de uma igreja local
como temos hoje. O Pequeno Conselho eram um dos con-
4
Em Atos 20:17,28 e Tito 1:5,7 “presbiteroi” e “episkopoi” selhos civis que compunham a estrutura administrativa
são usados ​​indistintamente e os requisitos para o ofício de genebrina; e “órgão central da administração de Genebra”.
presbyteros e episkopos são muito semelhantes; cf. Tito Os nomes dados ao Pequeno Conselho era: Conselho Es-
1:5-9 e 1 Timóteo 3:1-7. trito (Conseil Estoicte), Conselho Ordinário (Conseil Ordi-
naire), o “Conselho” (Conseil), ou, “Conselho municipal de
5
A palavra “classis” (plural classes) vem do latim e indica Genebra”. Também recebia o título de “Senado” e coleti-
uma divisão ou classe de pessoas ou de outros objetos. No vamente, o título honorífico de “Seigneury” (senhoria). O
governo eclesiástico reformado continental essa palavra Pequeno Conselho era composto por 25 membros. Estes
foi escolhida para designar uma das assembléias maiores. membros eram responsáveis pela justiça criminal, tendo
O “classis” é a assembléia maior equivalente aos antigos nas mãos desde os assuntos corriqueiros da cidade, in-
concílios regionais das IRB ou aos concílios particulares de cluindo os eclesiásticos, chegando ao poder de vida e morte
igrejas reformadas na Holanda. Sem a natureza hierárquica (para maior conhecimento sobre a organização político-ad-
que caracteriza os concílios no presbiterianismo brasileiro, ministrativa de Genebra, vide: Silvestre, Armando Araújo.
é o equivalente ao presbitério das igrejas presbiterianas. Calvino e a resistência ao Estado. São Paulo: Editora Ma-
ckenzie, 2003. p. 28-35, 43-54; McGrath, Alister. A Vida de
6
Para o que se segue, ver Bouwman, Gereformeerd kerkre- João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 127-146).
cht, I (Kampen: Kok, 1928), 538-539. 14
O “burgh” era o conselho administrativo municipal no
Reino Unido e em outros países.
7
É comum na política eclesiástica presbiteriana os minis-
tros da Palavra serem denominados como presbíteros do- 15
Torrance, Scottish Journal of Theology, 37 (1984), 506.
centes. Os “presbíteros regentes” são os que não são minis-
tros da Palavra. 16
Henderson, The Scottish Ruling Elder, p. 204

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17
Ver em citação anterior, Bouwman, Gereformeerd ke- 19
John Murray, “Arguments Against Term Eldership,”
rkrecht, I, 603-605. Presbyterian Guardian, February 15, 1955, e reimpresso
em Collected Writings of John Murray, Vol. 2 (Edinburgh:
18
Sínodo Particular ou Provincial. O antigo Livro de Or- Banner of Truth 1977) 351-356- especially 354.
dem de Dort estabelece 4 tipos de assembleias maiores: O
consistório, o classis, o sínodo particular, e o sínodo geral 20
W. Huizinga, “Periodic Retirement of Elders and Dea-
ou sínodo nacional. A palavra “sínodo” vem do Grego “su- cons?” Clarion 23: 6 (1974), 3. As ênfases nesta e em uma
nodos” que indica “encontro”, “assembleia”, “reunião”. O citação posterior são dele.
termo “sínodo particular” indica uma assembleia maior
formada por um certo número “classes” (o plural de clas-
sis). O termo “Sínodo Provincial” (provinciale synoden) é
DR. CORNELIS VAN DAM é professor do Antigo Testamen-
usado quando a assembleia maior é composta pelos classes
to no Canadian Reformed Theological Seminary.
de uma determinada região ou província. Neste caso não é
o número de classes que define a formação do sínodo, mas,
os limites territoriais de certa região ou província. Pode-
mos dizer que um sínodo provincial não deixa de ser um Tradução: Arielle de Eça.
sínodo particular. Ele é um sínodo particular formado por Revisão: Thaís Vieira.
classes existentes dentro dos limites de uma região ou pro-
víncia de certo país.

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UMA PIEDADE EXTERNA:
O NOMINALISMO
E O TRABALHO
DO PRESBÍTERO

Rev. Clarence Bouwman

Os presbíteros estão iniciando suas visi- ticipação do povo de Deus em seus cultos de
tas domiciliares anuais. O que eles estão procu- adoração pública em Jerusalém, só podiam
rando? Que mensagem é que têm para as famí- ficar satisfeitos com o que viram.
lias que eles visitam? Talvez seja benéfico nesse
tempo do ano que os presbíteros e os membros Aqueles holocaustos do Antigo Testa-
da congregação pensem sobre alguns dos desa- mento eram na verdade uma profissão de fé.
fios que os presbíteros que visitam enfrentam O holocausto simbolizava que o filho de Deus
- e, portanto, alguns dos desafios enfrentados se oferecia ao Senhor como sacrifício vivo.
pelas famílias que são visitadas. Estou conven- Ao mesmo tempo, o holocausto retratava o
cido que nosso entendimento de quem Deus evangelho de Jesus Cristo - pois o adorador
realmente é fica no centro da visita. punha a mão sobre a cabeça do bode, confes-
sava seus pecados, depois cortava a garganta
Tudo está bem do animal para que o animal morresse em vez
do pecador. Aqui estava o evangelho de Jesus
Os anciãos de Israel certamente não Cristo, substituto do pecador diante de Deus.
poderiam reclamar do entusiasmo de Israel Que o povo trouxe suas ofertas tão fielmen-
pelo serviço do Senhor. Conforme Isaías 1.11, te certamente falou bem de sua fé em Jesus
o povo trouxe a Deus uma multidão de sacrifí- Cristo! Os anciãos de Israel só poderiam estar
cios, tanto que o Senhor disse “estou farto dos satisfeitos com a fé do povo...
holocaustos de carneiros e da gordura de ani-
mais cevados.” As pessoas nunca faltaram os Nem tudo está bem
sábados e as convocações - elas sempre esti-
veram lá (1.13). Pronta e frequentemente elas No entanto, o Senhor Deus não estava
estenderam as mãos em oração (1.15). Os ofi- satisfeito com o seu povo. De fato, o Santo de
ciais, observando o comparecimento e a par- Israel expressou sua repulsa.

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Isaías 1.11-15: “De que me serve a mim dentes, e os braceletes, e os véus esvoaçan-
a multidão de vossos sacrifícios?... Não me tes; os turbantes, as correntinhas para os
agrado do sangue de novilhos, nem de cordei- tornozelos, as cintas, as caixinhas de per-
ros, nem de bodes... Não posso suportar ini- fumes e os amuletos; os sinetes e as jóias
quidade associada ao ajuntamento solene... pendentes do nariz; os vestidos de festa, os
Escondo de vós os olhos; sim, quando multi- mantos, os xales e as bolsas; os espelhos, as
plicais as vossas orações, não as ouço...”. camisas finíssimas, os atavios de cabeça e
os véus grandes.”
Ai! Por que o Senhor estava tão comple-
tamente descontente? Tente destilar a causa das Encontramos aqui uma ênfase no
palavras que o Espírito Santo fez Isaías falar: “adorno exterior” (1 Pedro 3.4), no estilo e na
moda. Observe como a lista é completa. Você
Isaías falar: (Is 2.6-8): “Pois, tu, SE- gostaria de saber se o povo de Jerusalém co-
NHOR, desamparaste o teu povo, a casa de nhecia suas Bíblias tão bem quanto eles sa-
Jacó, porque os seus se encheram da cor- biam o que era bacana? Mais, eles nutriam
rupção do Oriente e são agoureiros como os seu “eu interior” tanto quanto eles se diver-
filisteus e se associam com os filhos dos es- tiam em seus “eus exteriores”?
tranhos. A sua terra está cheia de prata e de
ouro, e não têm conta os seus tesouros; tam- Isaías 5.8-25: O Espírito Santo critica
bém está cheia de cavalos, e os seus carros o povo por acrescentar casa a casa e campo a
não têm fim. Também está cheia a sua terra campo (v.8); que “se levantam pela manhã e
de ídolos; adoram a obra das suas mãos, aqui- seguem a bebedice e continuam até alta noite,
lo que os seus próprios dedos fizeram.” até que o vinho os esquenta” (v.11); que têm
“liras e harpas, tamboris e flautas e vinho nos
Religião oriental, bruxaria, idolatria, seus banquetes” (v.12); que “ao mal chamam
consumismo manifestado em cavalos, carros, bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade
barcos - estava tudo lá entre as mesmas pes- luz e da luz, escuridade; põem o amargo por
soas que eram tão fiéis em sua frequência ao doce e o doce por amargo” (v.20), tolerando e
templo e proclamação do evangelho (is 3.16): aprovando a corrupção; que “são heróis para
beber vinho e valentes para misturar bebida
“São altivas as filhas de Sião e andam de pesco-
ço emproado, de olhares impudentes, andam a forte” (v.22).
passos curtos, fazendo tinir os ornamentos de
seus pés.” Aqui está o consumismo no seu pior,
a busca da vida de luxo, com o melhor das ca-
Incrível: as mesmas mulheres que fre- sas e o mais recente em estéreo e discos, e o
quentavam o templo deliberadamente se com- melhor da adega também. É uma imagem de
portavam para chamar atenção aos seus cor- viver frívolo, com ênfase muito no “aqui e ago-
pos. (Is 3.18-24): Isaías fala sobre “o enfeite ra” e no zumbido que esta vida pode oferecer.
dos anéis dos tornozelos, e as toucas, e os Isso explica por que o Senhor estava tão pro-
ornamentos em forma de meia-lua; os pen- fundamente descontente.

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Nominalismo De onde?

A descrição do Espírito de Israel é in- Onde, alguém se pergunta, o nomina-


trigante. Este é o povo da aliança de Deus, lismo de Israel veio? Dada a participação fiel
e as pessoas sabem disso. De maneira mui- das pessoas nos cultos de adoração como po-
to fiel, eles reúnem-se todos os sábados, e, deriam unir sua frequência à igreja com ati-
externamente, fazem todas as coisas cer- tudes e condutas tão mundanas como con-
tas no templo - até excedendo as exigências sumismo, ênfase no corpo, festas e afins? O
da lei. Mas, ao mesmo tempo, sua conduta Senhor responde à pergunta para nós.
é tão mundana, tão focada nos prazeres de
hoje - o corpo, as casas, os cavalos e os car- O Senhor responde: Criei filhos e os engrande-
ros (talvez diríamos hoje “os carros e os bar- ci, mas eles estão revoltados contra mim. O boi
cos”), roupas e moda e bebidas e festas. Isso conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da
sua manjedoura; mas Israel não tem conheci-
é nominalismo - onde alguém se considera
mento, o meu povo não entende. Ai desta nação
um filho de Deus, um israelita, um cristão pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça
faz as coisas que um filho de Deus deve fa- de malignos, filhos corruptores; abandonaram o
zer (especialmente em relação ao domingo), SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, vol-
e até mesmo professa a fé. Mas na vida co- taram para trás.”(Is 1.2b-4)
tidiana ele segue a conduta do mundo; além
de seu comportamento em relação à casa de Este povo, diz o Senhor, não conhece o
Deus, ninguém o escolheria como cristão. Senhor. A identidade do Senhor como “o Santo
Ele é “cristão” apenas no nome; embora ele de Israel” não vive nos seus corações, e é por
se mostre cristão, e também fiel, na reali- isso que eles o desprezaram. (Is 3.8b): “A sua
dade ele abraçou a conduta e as atitudes e a língua e as suas obras são contra o SENHOR,
mentalidade do mundo que desconsidera o para desafiarem a sua gloriosa presença.”
Senhor Deus. Em resumo, ele tem um pé na A conduta do povo não leva em conta quem
igreja e o outro no mundo. Isso é nominalis- Deus é na verdade.” Ainda diz o profeta Isaías
mo; o Espírito Santo quer que nós hoje sai- (Is 5.13,24): “O meu povo será levado cativo,
bamos que o povo de Deus nos dias de Isaías por falta de entendimento... rejeitaram a lei
estava envolvido com esse vício. do SENHOR dos Exércitos e desprezaram a
palavra do Santo de Israel.”
E é um vício. É por isso que o Senhor
diz, “Estou farto dos holocaustos de carneiros e Em suma, o povo de Israel, apesar de
da gordura de animais cevados e não me agrado sua participação nas convocações nos sába-
do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de dos, não conhece o seu Deus e, portanto, não
bodes” (Is 1.11). Na verdade, é por isso que a alma O leva a sério em seu cotidiano. É essa falta
de Deus odeia as festas e Deus se recusa a ouvir de consciência da identidade de Deus que per-
suas muitas orações (Is 1.14). Repetidamente o mite que eles venham ao templo com inúme-
Senhor pronunciou seu “ai” sobre as pessoas ras orações e, ao mesmo tempo, não tenham
piedosas que eram tão mundanas (Is 5). nenhuma consciência culpada sobre sua con-

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duta mundana. Seus pensamentos não estão e oferecer incenso, embora bem sabia que essa
cheios de quem Deus é e, assim, enchem seus era uma tarefa reservada aos sacerdotes? Aqui,
pensamentos com festas e se tornam campe- no final das contas, é autodeterminado adoração
ões da bebida e acumulam riqueza e conforto. ao Senhor Deus. Uzias não era pagão, foi dedica-
do ao serviço do Senhor. Mas seus pensamentos
Então, quando lhes é dito que o Senhor sobre Deus estavam tão enrugados que ele con-
certamente virá com seu julgamento, eles não siderou seu próprio entendimento do que cons-
vêem necessidade de levar a sério o aviso de tituía bom serviço a Deus para ser aceitável a
Isaías. “Apresse-se Deus,” insultam, “leva a cabo Deus. É a mesma percepção de Deus que existia
a sua obra, para que a vejamos; aproxime-se, no povo: Deus não cuida muito sobre como Ele
manifeste-se o conselho do Santo de Israel, para é servido. Por isso, não há problema em servir
que o conheçamos” (Is 5.19). Eles têm certeza: ao Senhor nas coisas externas da religiosidade e
o Deus deles está bastante contente com eles. abraçar os padrões do mundo ao mesmo tempo.

Ilustração Alguém se pergunta: o que o próprio


Senhor Deus poderia pensar sobre tudo isso?
O rei Uzias pode funcionar como ilustra- Ele estava satisfeito com a piedade exterior?
ção do que Israel realmente pensou sobre o Se-
A resposta de Deus é a visão de Isaías 6. R.C.
nhor Deus. Como rei, Uzias foi eminentemente
Sproul escreveu um comentário meditativo
bem-sucedido, a ponto de acumular um enorme
muito útil sobre este capítulo em seu livro, A
exército. Sua fama se espalhou por toda parte
Santidade de Deus1. Encorajaria o leitor a ob-
(2 Cr 26.15). Sem muita imaginação, podemos
ter uma cópia e a ler cuidadosamente.
imaginar as senhoras de quem Isaías fala no ca-
pítulo 3, como tropeçando no pátio de Uzias.
Os oficiais de Israel encontravam den-
Chegou o dia em que Uzias se reuniu tro do seu povo uma piedade externa, um ser-
com os sacerdotes do templo. Ele tomou so- viço a Deus que não levava a sério a identida-
bre si mesmo - embora ele não fosse nem sa- de de Deus.
cerdote nem levita - para entrar no templo
do Senhor para queimar incenso no altar do Alguém se pergunta como os oficiais
incenso (2 Cr 26.16). A lei de Deus sobre o da época responderam. Certamente eles po-
assunto era clara e os sacerdotes não hesita- deriam dizer ao povo que o nominalismo não
ram em lhe dizer isso: “Não é certo que você, estava agradando ao Senhor, e vamos supor
Uzias, queime incenso ao Senhor. Isso é para que eles fizeram isso. Mas a própria nature-
os sacerdotes.” Raiva explodiu no rei com esta za do nominalismo é que ninguém está ze-
admoestação - e imediatamente lepra estou- loso pelo serviço do Senhor; o nominalismo
rou em sua testa (2 Cr 26.20). Deus não deve- prospera com a noção de que Deus não é tão
ria ser ridicularizado. particular sobre como alguém o serve. As-
sim, admoestações de profetas e sacerdotes
Isso levanta a questão: por que esse rei e anciãos podem ser reconhecidas - e segura-
achou que poderia entrar no templo do Senhor mente ignoradas.

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A resposta de Deus serafins voou para mim, trazendo na mão uma
brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz;
É por isso que a resposta de Deus é com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que
ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tira-
tão intrigante - e instrutiva. Pois no meio
da, e perdoado, o teu pecado. Depois disto, ouvi
desse nominalismo o Senhor Deus enviou o
a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e
profeta Isaías (entre outros) com o mandato quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, en-
de mostrar a Israel uma figura de quem era via-me a mim.
o Senhor Deus. No decorrer do Antigo Tes- Isaías 6.1-8
tamento, a frase “o Santo de Israel” ocorre
um total de trinta e duas vezes - vinte e seis O rei que ilustrou o nominalismo de
delas estão nas profecias de Isaías. É como Israel só havia sido enterrado recentemente
Isaías começa sua profecia: “Ai desta nação quando Isaías viu o Senhor. O Senhor: o so-
pecaminosa, povo carregado de iniquidade, berano, o mestre do mundo inteiro - Rei dos
raça de malignos, filhos corruptores; aban- reis, Senhor dos senhores! Ênfase é colocada
donaram o SENHOR, blasfemaram do Santo em sua majestade e realeza, porque o Deus
de Israel, voltaram para trás” (Is 1.4). A iden- que Isaías viu estava “assentado sobre um alto
tidade de Deus como Deus aparece repeti- e sublime trono.” Este Senhor não está lutando
damente quando o profeta lista os pecados para estabelecer ou exercer ou defender seu
de Israel (1.24s; ver também 2.11,17,19, 21; senhorio; Ele está assentado sobre um trono
3.13s; 5.16). De fato, este tema da identida- e, portanto, apresentado como Rei dos reis,
de de Deus como o Santo de Israel se torna governante soberano de todo o mundo, incon-
poderoso em sua própria apresentação es- testado e triunfante.
magadora da majestade de Deus no capítulo
6. Neste capítulo nós vemos o antídoto do O soberano que ele viu no trono, diz
Senhor ao nominalismo de Israel. Isaías, era alto e exaltado (ver Ez 1.26). Isaí-
as não está olhando para este trono ao nível
O Senhor dos olhos, mas o vê bem acima dele. E quan-
to mais você olha para cima, é claro, quanto
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor as-
menor você se sente, e mais vacilante você se
sentado sobre um alto e sublime trono, e as abas
de suas vestes enchiam o templo. Serafins esta- torna em suas pernas. Tal trono é esmagador,
vam por cima dele; cada um tinha seis asas: com porque o Deus naquele trono é tão exaltado.
duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés Como Calvino disse: Isaías viu “a inconcebível
e com duas voava. E clamavam uns para os ou- majestade de Deus.”
tros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua gló- Gostaríamos que o profeta nos contas-
ria. As bases do limiar se moveram à voz do que
se mais detalhes sobre como esse Deus glorio-
clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então,
disse eu: ai de mim! Estou perdido! porque sou so se parecia. Mas Isaías não nos dá mais de-
homem de lábios impuros, habito no meio de um talhes sobre o próprio Deus. Por que não? Por
povo de impuros lábios, e os meus olhos viram que não lemos nenhuma descrição da aparên-
o Rei, o SENHOR dos Exércitos! Então, um dos cia do Senhor no trono? É como Deus disse

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a Moisés: Ninguém pode me ver e viver (Êx como criaturas, não podem olhar para Deus
33.20). Porque Deus é simplesmente maravi- e sobreviver. Se esse é realmente o caso, eles
lhoso demais para os olhos humanos contem- apontam para essa ação quão gloriosamen-
plarem e sobreviverem! Isaías não pode focar te maravilhoso é o Senhor Deus! Com outras
seus olhos em Deus e captar seus detalhes, duas asas, eles cobrem os pés, uma ação (su-
não mais do que podemos focar nosso olho nu gerem os comentaristas) que dá expressão à
no sol para discernir seus pontos de fogo. Esse sua consciência de que eles são apenas criatu-
Deus é tão glorioso que Isaías deve desviar os ras e, portanto, indignos de estar na presença
olhos dEle e se contentar em se concentrar de tal Deus. Para sobreviver em sua presença,
nos arredores de Deus. eles precisam esconder algo da sua natureza
criadora, para que não pereçam. Com o ter-
No entanto, esse ambiente é tão reve- ceiro conjunto de asas eles voam e isso é dizer
lador. O ambiente que você escolhe, a compa- que eles dão obediência instantânea para rea-
nhia que você mantém, revela algo sobre você lizar qualquer comando como Deus pode dar.
e indica quem você realmente é.
Enquanto esses anjos de fogo cobrem
O ambiente seus rostos e seus pés e enquanto voam para
obedecer, eles ao mesmo tempo continuam
O que Isaías vê primeiro é as abas de chamando uns aos outros sobre o Deus em
suas vestes, que enchiam o templo, estendi- cuja presença eles vivem. “Santo, santo, san-
das a todos os cantos. Tão exaltado é este Deus to,” dizem eles sem parar. O termo “santo”
que até suas roupas causam uma impressão aparece três vezes, o modo hebreu de expres-
esmagadora - para não falar de sua pessoa! sar o superlativo, o mais sagrado. Há algo so-
bre o Deus em cuja presença esses anjos de
Acima deste Deus exaltado havia se- fogo estão que os subjugaram, que exigiu toda
rafins. Esses seres angélicos não são mencio- a atenção deles, de modo que uma coisa só es-
nados em outras partes das Escrituras, mas o tava em suas mentes: que Deus é este! Então
próprio termo significa “ardentes” (ver Ez 1.13). eles continuaram chamando um ao outro so-
O fogo é mencionado repetidamente nas Escri- bre a majestade e a grandeza deste Deus - e
turas para indicar a presença de Deus (ver Gn todo o tempo mantiveram seus rostos e seus
15.1 7; Êx 3.2; 14.24; 19.18). Aqueles que estão pés cobertos.
na presença de tal Deus não podem deixar de
refletir como Ele é; Ele é um fogo consumidor. Por que eles continuam dizendo que
Deus é santo? Por que eles não lembram um ao
Ao mesmo tempo, a identidade desses outro que Ele é poderoso, ou sábio, ou bom ou
serafins é clara; eles são anjos, seres que Deus justo? O termo “santo” capta a noção de que ele
criou no princípio para habitar o céu com Ele. é diferente, totalmente diferente e único. Não há
Esses anjos em particular têm seis asas. Com ninguém como Ele em toda a criação. “A quem,
duas eles cobrem seus rostos, e isso é para pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? -
dizer (sugerem os comentaristas) que eles, diz o Santo,” em Isaías 40.25 (ver Os 11.9).

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Isso é um eco do cântico de Moisés gloriosa dos sacrifícios que queimavam inces-
que os israelitas cantaram após a libertação santemente no templo!
do Egito: “Ó SENHOR, quem é como tu entre
os deuses? Quem é como tu, glorificado em san- Enquanto eles cantavam as obreiras
tidade, terrível em feitos gloriosos, que operas das portas e as ombreiras do templo tremiam.
maravilhas?” (Êx 15.11). Novamente, a música Onde os pecadores entraram na presença de
deles reflete a ordem que Deus deu a Israel no Deus para ouvir sobre sua grandeza, onde as
Monte Sinai para consagrar-se, porque o pró- criaturas passaram a ver o evangelho da re-
prio Deus viria a eles na montanha (Êx 19.10) conciliação com esse Deus representado nos
- e a palavra “consagrar” traduz o mesmo ver- sacrifícios - ali os pontos de entrada tremiam.
bo hebraico: ser santo. Que os anjos, então,
repetidamente usam a palavra “santo” serve E para que ninguém ainda perca a in-
para apontar a divindade daquele que está as- crível identidade do habitante deste templo, a
sentado no trono. Em sua divindade Ele é tão fumaça que enche o templo deve ressaltar a
avassalador, tão incomparável, tão inspirador mensagem - pois fumaça fala de fogo, aquele
que você não pode deixar de ser impressiona- símbolo recorrente da presença de Deus como
do por essa divindade. para a sarça ardente e no Monte Sinai.

No entanto, ao mesmo tempo, a can- Ai


ção contínua dos anjos traz um evangelho tão
glorioso para Isaías. Pois o coro angélico do A reação de Isaías foi instantânea. Des-
céu não canta simplesmente a única divinda- de os dias de sua juventude, Isaías tinha se
de do Senhor no trono; aquele coro canta a re- aliado a israelitas - pessoas da aliança - que
lação que este Deus de glória estabeleceu com faziam as coisas certas no exterior (especial-
as pessoas na terra. Observe que os anjos se mente no sábado), mas não tinham tempo,
referem a este Deus santo três vezes com o paixão e visão para ter seus pensamentos e
nome da aliança, o SENHOR imprimiu em le- suas palavras e sua conduta conduzida pela
tras maiúsculas. Este é o Todo-Poderoso que grandeza do Deus que os adotou para Si mes-
de seu trono no alto impôs um laço de amor mo.
sobre criaturas indignas, prometido ser seu
Deus, seu Pai em Jesus Cristo. Este Deus não Não sabemos se Isaías teve um período
é muito elevado e exaltado para se preocupar em sua vida em que esse mesmo entusiasmo
com as pessoas (muito menos as pessoas pe- sobre o serviço do Senhor caracterizou sua
cadoras!), mas o seu próprio nome fala do seu abordagem da vida. Mas quando esse pecador
vínculo com este povo. Não é de admirar que de Israel viu e ouviu a realidade sobre Deus -
toda a terra esteja cheia da sua glória! Quem incontáveis anjos tão dominados pela identi-
já ouviu falar de um ser tão exaltado reunindo dade de Deus que cada pensamento e toda pa-
criaturas indignas sob suas asas para protegê- lavra e toda ação foram determinados por sua
-las e alimentá-las, esvaziar-se para salvá-las? convicção de que o Deus em cuja presença eles
No entanto, esse evangelho era a mensagem viviam era infinitamente Deus; portões e om-

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breiras de madeira e pedra tão impressiona- “Vai, entra nas rochas e esconde-te no pó, ante o
das pela individual entidade de seu habitante terror do SENHOR e a glória da sua majestade.
Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a
que eles sacudiram e tremeram - quando Isaí-
sua altivez será humilhada; só o SENHOR será
as viu e ouviu isso, ficou impressionado com a exaltado naquele dia.”
magnificência deste Deus. Esse Deus que era
tão imponente em sua presença, tão esmaga- Isaías deveria agora perecer, ser esma-
doramente ali! “Ai de mim!” - esse pecador in- gado sob o peso da infinita majestade de Deus.
feliz chorou. “Estou perdido!” - Este é o fim -
por quê? “Porque sou homem de lábios impuros, Quão deliciosos, então, as palavras de
habito no meio de um povo de impuros lábios, e versículo 6! Um desses serafins que canta-
os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exér- ram infinitamente ao redor do trono de Deus -
citos!” Sproul explicou bem: “Pela primeira vez “Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso”
em sua vida, Isaías realmente entendeu quem - que durante todo o tempo cobriu o rosto e
era Deus. No mesmo instante, pela primeira vez, os pés e instantaneamente obedeceu todo co-
Isaías realmente entendeu quem era Isaías.” mando de Deus, voou a Isaías com uma brasa
viva em sua mão. Ele recuperou a brasa incan-
Ter lábios sujos é realmente um pro- descente do altar do templo, o altar sobre o
blema? Vivendo entre um povo de lábios impu- qual sacrifícios pelo pecado foram queimados,
ros é um problema? Os pecadores não sentem e o evangelho da redenção através do sangue
isso como um problema. Cantar a canção do de um outro foi proclamado.
Senhor um dia e a canção de Baal outra, ler a
Sob o comando de seu Deus, o anjo
Escritura de manhã e com os mesmos lábios
tocou a boca suja de Isaías com aquele bra-
falar mal sobre o próximo à tarde era compor-
sa ardente. Os lábios são tão sensíveis, têm
tamento aceitável para o israelita dos dias de
tantas terminações nervosas; ninguém pode
Isaías e ninguém caía morto por deixar louvor
imaginar a dor que empurrou o rosto de Isa-
e maldição fluir da mesma boca (Tg 3.9s). Mas ías para longe da brasa quente na mão do
quando Isaías viu quem era Deus, quando a anjo. Enquanto a dor ardente exigia seu foco
inexprimível grandeza do Deus de Israel o to- e o cheiro acre de carne queimada chegava ao
cou profundamente, de repente ele percebeu nariz, Isaías ouviu uma palavra do anjo que
a impossibilidade de lábios impuros. Ele sabia: chamou sua atenção: “A tua iniquidade foi ti-
a identidade gloriosa de Deus exigia a morte rada, e perdoado, o teu pecado.” Expiação pelo
eterna de todo pecador em toda a criação. pecado contra tal Deus nunca pode ser bara-
to, como a queimação nos lábios deixou claro.
“Ai de mim!” Mas o servo deste Deus da glória não deixou
O evangelho margem para dúvidas: seus pecados, Isaías,
realmente se foram!
Isso, precisamos saber, deveria ser o
fim da visão. Agora deve ser cumprida a pro- Que testemunho delicioso sobre a gran-
fecia de 2.10-11: deza, a singularidade, a santidade deste Deus!

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Aqui está o perdão sem custo para o pecador! frontar-se com a identidade do Deus de toda a
Um representante de um povo ferido por um Terra voltou-se para o seu zelo por Deus a tal
serviço superficial de um Deus de imensa gló- ponto que coisas como pagamento e mandato
ria recebe gratuitamente o perdão dos peca- e benefícios e sacrifícios desapareceram total-
dos, pela graça, através de uma declaração do mente de sua perspectiva. Anjos continuamen-
Deus santo: esse é o evangelho em todo o seu te clamam a alteridade de Deus, a santidade de
esplendor! E esse evangelho, ainda mais do Deus, eles imediatamente obedecem a qualquer
que a exaltada elevação do trono e a contínua ordem que Deus dá (e durante todo o tempo
canção dos anjos e o barulho contínuo dos mantêm seus rostos cobertos perante este Deus
batentes das portas, mostra quão diferente, em humilde reconhecimento que eram apenas
quão único, quão sagrado, quão maravilhoso criaturas). Será que a criatura Isaías, o pecador
é esse Deus! Maravilhoso é o nome dEle! Isaías, fará menos? Deveria o homem de lábios
impuros ser voluntário de maneira indiferente,
Um oficial disposto com suas próprias exigências e expectativas?
Será que uma criatura tão impertinente não
É claro que Isaías não é o único que seria instantaneamente destruída pela esmaga-
precisa da graça de Deus. A canção dos anjos dora santidade deste Deus exaltado no trono?
é interposta pela voz do Senhor no trono: “A
quem enviarei, e quem há de ir por nós?” A res- Qualquer pessoa encantada pela iden-
posta de Isaías é imediata. Para cima vai a mão tidade do Deus santo não pode deixar de estar
dele. “Eis-me aqui,” ele diz, “Envia-me a mim!” ansiosa para servir; “Senhor, eis-me aqui, o que
posso fazer?”
Intrigante. Por que Isaías não faz algu-
mas perguntas primeiro? A pergunta óbvia é: Tarefa
Senhor, para onde? Outra é: Senhor, para fa-
zer o que? Mas Isaías não pergunta. Ele não Este Deus de grande santidade fez sua
considera se tem os dons necessários para a morada na terra no templo de Jerusalém. Ele
tarefa, não pergunta o que acontecerá com habitou em meio a um povo de lábios impuros
sua família ou com seu trabalho diário, não - aquelas pessoas da aliança que invocavam
pergunta se a tarefa será demorada ou difícil, o nome do Senhor, mas não com o coração.
ele não negocia o pagamento ou os feriados. Dada a identidade de Deus, esse povo deve co-
nhecer bem esse Deus que habita entre eles!
Ele está simplesmente ansioso para
servir. Por quê? Preciso dar tempo ao leitor “Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi
para refletir sobre qual seria a resposta. e não entendais; vede, vede, mas não percebais.
Torna insensível o coração deste povo, endurece-
Ânsia
-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não
venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ou-
Caro leitor, Isaías viu a Deus! Embora vidos e a entender com o coração, e se converta,
acostumado a uma cultura do nominalismo, a e seja salvo. Então, disse eu: até quando, Senhor?
este pecador foi mostrado quem é Deus; e con- Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cida-

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des e fiquem sem habitantes, as casas fiquem trabalhos do profeta, eles não se humilhariam
sem moradores, e a terra seja de todo assolada, por causa de seus pecados, continuariam ser-
e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio vindo a Deus de uma maneira agradável a si
da terra seja grande o desamparo. Mas, se ainda
mesmos - e nunca se uniriam aos anjos em
ficar a décima parte dela, tornará a ser destruí-
da. Como terebinto e como carvalho, dos quais,
sua incessante canção de admiração.
depois de derrubados, ainda fica o toco, assim a
santa semente é o seu toco.” Francamente, acharíamos tal tarefa
Isaías 6.9-13 muito difícil, frustrante e uma perda de tempo
e energia. Ficaríamos muito tentados a pedir
Isso se torna a tarefa de Isaías. O “Santo a libertação de tal comissão. Mas Isaías não
de Israel” instrui Isaías, “Vai e dize a este povo: pronuncia nenhuma queixa, não busca liber-
Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não tação. Ele viu a majestade de Deus, ele enten-
percebais” (v.9). O profeta deve relatar as can- deu um pouco sobre a divindade de Deus. Isaí-
ções intermináveis que ouviu os serafins can- as entende que não há lugar para se afastar do
tarem na presença do Deus Altíssimo, como serviço dEle. Sua única pergunta é esta: “Até
“santo, santo, santo” é esse Deus majestoso. quando, Senhor?”.
Ele também deve pintar para o povo uma ima-
gem da grandeza de Deus, deve fazê-los ver o E não, isso não é uma referência a
que ele viu - o Senhor, tão elevado e exaltado quanto tempo sua tarefa deve durar (como se
em seu trono, e a evidência da majestade que ele estivesse procurando por uma saída). Sua
o envolve. O mandato é claro: Isaías no pas- pergunta é uma referência a quanto tempo a
sado já havia lembrado a esse povo, culpado insensibilidade de Israel durará. A resposta
de nominalismo, que seu Deus era o Santo de de Deus é esta: “Até que sejam desoladas as ci-
Israel (2.11,17,19,21), mas uma vez que eles dades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem
rejeitaram sua instrução no passado ele deve sem moradores, e a terra seja de todo assolada,
sublinhar agora com mais detalhes, em mais e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio
cor, com mais profundidade, quem é o Deus da terra seja grande o desamparo.”
de Israel. Mas a tarefa seria frustrante. Como
o povo da aliança de Deus tinha rejeitado no A dureza de coracao de Israel durará
passado as advertências dos profetas (5.19), até que tragam sobre si a maldição que Deus
eles continuariam rejeitando a identidade de prometera em seu pacto com Israel - exílio
Deus. Eles ouviriam as palavras de Isaías so- (ver Lv 26; Dt 28). Mesmo assim, Deus preser-
bre as canções dos anjos, mas nunca entende- varia um remanescente, uma semente - e essa
riam. Eles veriam a imagem que Isaías retra- semente ficaria impressionada com a santida-
taria, mas nunca perceberiam o impacto dela, de de Deus; esta semente seria santa.
pois seus corações foram duros e se torna-
riam ainda mais calejados. Eles continuariam Reação
trazendo sacrifícios ao templo (1.11s), mas
nunca seriam impressionados pela santidade Em resposta à comissão recebida por
do Deus a quem eles sacrificam. Apesar dos Isaías, ele fez questão de transmitir sua visão

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ao povo. Sob a orientação do Espírito Santo, permissível que Isaías insistisse menos na
ele também escreveu em sua profecias para identidade de Deus, e simplesmente se sa-
o benefício do povo de Israel. Essas observa- tisfizesse com o serviço medíocre do povo
ções geram uma série de questões, em grande a esse Deus?
parte retóricas.
Não pararei para responder a essas per-
1. De volta aos livros de Moisés, o Senhor guntas. Todo leitor que adquiriu algum senso
havia especificado quem deveria funcionar da divindade do Senhor conhece as respostas.
como líderes em Israel. Havia sacerdotes e
levitas que deviam ensinar o povo a lei e, ao A semente sagrada
fazê-lo, proclamar o evangelho (Lv 10.10s;
Dt 30.10). Havia anciãos que deveriam as- Sete séculos depois que Isaías viu a vi-
segurar que o povo vivesse de acordo com são de Deus como registrado no capítulo seis,
sua identidade como filhos de Deus (Ex uma semente surgiu em Israel que foi devi-
18.21ss; Dt 21.2s; 18ss; 22.13ss; 25.7ss). O damente encantada pela santidade de Deus.
Senhor até deu espaço para um rei entre O contexto do trabalho de Jesus foi novamen-
o seu povo (Dt 17.18ss). Nos dias de Isaías, te de nominalismo, com muita demonstração
havia homens em Israel comissionados externa de religiosidade, mas com pouco po-
pelo Senhor Deus para esses ofícios espe- der e impulso no serviço do Senhor.
cíficos. Em sua cultura do nominalismo,
como devem responder à visão de Isaías? Nosso Senhor Jesus Cristo poderia ter
Dado o que eles aprenderam de Isaías so- ficado contente com o status quo, ou talvez
bre a divindade do Senhor Deus, como de- pudesse ter estimulado as pessoas a melho-
vem cumprir concretamente seu mandato rar o moral um pouco. Certamente teria sido
como oficiais em Israel? o caminho mais fácil para Ele e, inquestiona-
2. O povo de Israel ouviu a pregacão do velmente, o mais “politicamente correto.”
profeta Isaías sobre a identidade de Deus
e sua crítica implícita ao seu estilo de vida. Assim, este oficial não permitiu que
Como, concretamente, suas vidas deve- o desleixo do povo o desviasse do serviço de
riam ter mudado como resultado de ter a Deus. Dia após dia, Ele obedeceu aos coman-
grandeza de Deus impressa neles? dos de seu santo remetente, falou as palavras
3. Isaías trabalhou em Israel por muitos que Deus lhe deu para falar, realizou os sinais
anos. Como Deus predisse na visão que que Deus lhe deu para realizar. Ele conhecia
Isaías viu, o profeta testemunhou muita seu Deus, conhecia-o perfeitamente em toda
dureza de coração entre o povo (6.9s). Isaí- a sua santidade, sabia - porque Ele habitava
as poderia ficar desanimado com a superfi- em glória com o Pai desde toda a eternidade -
cialidade do serviço do povo de Deus? A re- que os anjos cantavam incessantemente o seu
ação do povo a longo prazo foi um incentivo “Santo, santo e santo” na presença deste Deus
justificável para que Isaías perdesse seu - e por isso, na terra, o Filho de Deus levou a
ímpeto no serviço do Senhor? Aliás, seria santidade de Deus a sério também. Não havia

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desleixo no serviço do Senhor, nada de medio- Lutero disse uma vez a Erasmo: “Seus pensa-
cridade, nenhuma flexibilização das exigên- mentos sobre Deus são muito pequenos.” Jacó
cias de Deus sobre o povo, nenhum esvazia- Armínius, fiel discípulo de Erasmo como ele
mento das promessas de Deus para torná-las era, igualmente tinha pensamentos de Deus
mais apetecíveis para os pecadores. Mesmo que eram pequenos demais - e o Senhor Deus
quando o povo rejeitou sua mensagem, Ele em sua providência concedeu às igrejas uma
não se virou para a direita ou para a esquerda confissão que corrigiu a compreensão diminu-
e também não desanimou; Ele prosseguiu, re- ta de Armínio sobre Deus. O evangelicalismo
solutamente, para cumprir o mandato que Ele norte-americano de hoje abrange amplamente
recebeu daquele Deus de infinita majestade - a mesma percepção de Deus que Arminius re-
aquele Deus no céu que se ligou aos pecado- tratou; Deus é o cavalheiro perfeito que nunca
res na terra. Cristo Jesus entregou a sua vida se imporia a você. Ele é seu amigo, é um avô no
pelas ovelhas confiadas aos seus cuidados, foi céu que lhe deseja bem, mas permite que você
à cruz para resgatar os pecadores. encontre seu próprio caminho. Não é de se ad-
mirar que o cristianismo norte-americano seja
Como resultado, este Deus de infinita impotente para atingir o resto do mundo.
santidade, em cuja presença os anjos escon-
dem seus rostos, levou Jesus desta terra para Nesta cultura, o santo Deus do céu cha-
sua gloriosa presença! Este mesmo Jesus ago- ma homens particulares para serem oficiais
ra entronizado no céu ao lado do Deus de Isaí- sobre o povo de Deus. Nós, pessoas modernas,
as 6 uma vez orou: “Pai, a minha vontade é que podemos ouvir as instruções de Isaías para o
onde eu estou, estejam também comigo os que povo de Israel. Mais, podemos ver com João o
me deste, para que vejam a minha glória que me que ele viu 800 anos depois da visão de Isaías,
conferiste, porque me amaste antes da fundação como a mesma canção que Isaías ouviu conti-
do mundo” (Jo 17.24). Na certeza de que o Deus nua a ressoar na presença do Deus santo. João
da glória ouviria a petição de Jesus, o apóstolo viu seres viventes no céu, cada um com seis
Pedro encoraja os presbíteros a permanecerem asas, e dia e noite eles nunca param de dizer:
na tarefa de pastorear o rebanho de Deus: “Ora, Santo, santo, santo é o Senhor Deus Todo-Po-
logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebe- deroso (Ap 4.8s) - a mesma canção ainda ressoa
reis a imarcescível coroa da glória” (1 Pe 5.4). no céu depois do triunfo de Jesus Cristo!

O oficial hoje Há essa diferença: João vê que “quando


esses seres viventes derem glória, honra e ações
Nossa cultura hoje tem pensamen- de graças ao que se encontra sentado no trono,
tos muito pequenos sobre Deus, ao ponto de ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte
muitos canadenses afirmarem que Deus sim- e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele
plesmente não existe. Para ser mais especí- que se encontra sentado no trono, adorarão o
fico: há muitos cristãos em nosso continente que vive pelos séculos dos séculos e depositarão
cujos pensamentos de Deus são muito, mui- as suas coroas diante do trono, proclamando:
to menores do que os retratados em Isaías 6. Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a

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glória, a honra e o poder, porque todas as coisas • Por que homens como Agostinho e Cal-
tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram vino falaram em termos tão reverentes de
a existir e foram criadas” (Ap 4.9-11). Deus?
• Por que não há nada em seus escritos de
Diga o que se quer sobre a identidade Deus sendo seu “amiguinho”? Por que eles
dos vinte e quatro anciãos, é claro que eles
desistiram do conforto e da reputação a
são oficiais! Eles estão tão impressionados
serviço desse Deus?
pela grandeza de Deus que eles respondem
em adoração ávida. Irmãos, se os oficiais do • Por que Lutero ficou tão empolgado com
céu respondem dessa maneira, como devem a doutrina da justificação e disposto a mor-
os oficiais na terra responder? rer por ela - e Guido de Brès também?
• Por que os pais escreveram orações como
O ponto é este: não iremos vencer o no- fizeram [orações incluídas no Saltério das
minalismo nas igrejas de hoje, a menos que as Igrejas Reformadas Canadenses]? Por que
congregações vejam seus oficiais possuídos pela não há nada nessas oracoes que soe como,
gloriosa identidade de seu Deus. Se eles nos vêem “Nós apenas queremos te agradecer, Se-
satisfeitos em cumprir nosso ofício com satisfa-
nhor...” [uma frase típica na oração evangé-
ção externa, eles não vão perceber de nós quem
lica em Inglês], mas sim um sentimento de
Deus realmente é - não importa como descreva-
mos Deus - e eles não aprenderão de nós para se- miséria pessoal e total devoção ao Senhor:
rem voluntários para um serviço ávido ao Senhor. “Ó Deus e Pai misericordioso, nós nos humi-
Se eles nos vêem contentes (como os anciãos de lhamos diante da tua grande majestade.”
Israel eram) com obediência externa a Deus, mas
pouca paixão por seu serviço, se eles nos vêem Eu afirmo que cada um desses irmãos
satisfeitos que a congregação vem à igreja, fre- provou algo da santidade de Deus, sua divin-
quenta o estudo Bíblico e cumpre o orçamento dade, sua incomparável alteridade. Esse é o
da igreja, mas não está ardendo pelo Senhor, não tesouro da igreja.
podemos esperar crescimento espiritual nas igre-
jas. O Espírito Santo colocou Isaías 1-6 em nossas
Bíblias para entendermos a resposta de Deus ao
Nota:
nominalismo da época de Isaías: pregar a identi- 1
A Editora Cultura Cristã traduziu está obra para o Por-
dade gloriosa do Deus Santíssimo! A fala e o com-
tuguês com o título “A Santidade de Deus: a grandeza, a
portamento, diariamente, nas visitas domicilia- majestade e a glória de Deus.
res e na pregacão devem ser uma demonstração
viva para a congregação do que impulsiona os an-
O pastor Clarance Bouwman é ministro da Palavra das
jos ao redor do trono de Deus no céu.
Igrejas Reformadas Canadenses.
Em conclusão

Eu gostaria de deixar algumas pergun-


tas para você pensar. Considere o seguinte: Tradução: Jim Witteveen.
Revisão: Thaís Vieira.

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