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PERCURSOS DO OLHAR:
COMUNICAÇÃO, NARRATIVA E MEMÓRIA
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Gisálio Cerqueira Filho
Hildete Pereira de Melo
João Luiz Vieira
José Walkimar de Mesquita Carneiro
Lívia Reis
Márcia Menendes Motta
Maria Laura Martins Costa
Mariângela Rios de Oliveira
Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Vânia Glória Silami Lopes
PREFÁCIO, 7
INTRODUÇÃO, 9
ARQUITETURA TEMPORAL, 63
REFERÊNCIAS, 165
Ainda que não tenha na sua obra uma reflexão que enfoque di-
retamente a questão da comunicação, Paul Ricoeur, ao desenvolver
um complexo aporte teórico em relação à questão da narrativa, ofere-
ce uma contribuição ímpar para se pensar a comunicação como pro-
cesso complexo.
Inscrita na teoria dos gêneros, a questão da narrativa, na obra
desse que foi um dos mais importantes filósofos do século XX e que é
chamado muitas vezes de “filósofo do sentido”, não se resume a uma
problemática lingüística. Para o pensador francês, narrar é uma for-
ma de estar no mundo e dessa forma entendê-lo. É por meio da narra-
tiva que se podem reunir e representar no discurso as diversas pers-
pectivas existentes sobre o tempo. Essa unificação se dá por uma
operação mimética.
Nos inúmeros trabalhos consagrados à função narrativa, mas
sobretudo em Tempo e narrativa, existem três preocupações essen-
ciais: “a de preservar a amplitude, a diversidade e a irredutibilidade
dos usos da linguagem”; a de associar as formas e as modalidades
que existem nos “jogos de narrar”; e, finalmente, a de “pôr à prova” a
capacidade de selecionar e de organizar a linguagem, quando esta se
estrutura em unidades textuais. Neste sentido, o texto se torna um
meio apropriado para fazer uma espécie de ponte entre o vivido e o
narrado (RICOEUR, 1987a).
A evidência de que a nossa cultura produz inúmeras definições
do ato de narrar, transformando-o em gêneros plurais, fez com que se
produzisse também uma dicotomia básica entre os textos: de um lado,
as narrativas com pretensão à verdade (o discurso da ciência e do
jornalismo, por exemplo) e, de outro, as narrativas ficcionais, sejam
as que utilizam a linguagem escrita (literatura), sejam as que utilizam
a imagem (filmes, fotografia, telenovelas etc.).
É contra esta “classificação sem fim” que Ricoeur constrói a
sua hipótese: a existência de uma unidade entre os múltiplos modos e
gêneros narrativos. Para isso parte do pressuposto de que o caráter
Notas
1
Cf., entre outros, JAUSS (1983) e ISER (1983).
Habitus e campo
Passado do presente
Gestos comemorativos
Notas
1
Originalmente este capítulo foi publicado com o título “Tempo e memória na cons-
trução dos 500 anos de Brasil”, na Revista Eco – Publicação da Pós-Graduação em
Comunicação e Cultura, UFRJ, v. 4, n. 2, p. 42-47, 1999.
2
Daniel Dayan (1996) define media events como acontecimentos excepcionais que
possuem força suficiente para interromper a seqüência habitual da programação
das televisões, fazendo apelo às emissões diretas.
2
Boletim de Divulgação da Rede Globo de Televisão. Abril, 1998.
4
Cf. DOSSE (1998) e HERTOG ; LENCLUD (1993, p. 18-38).
O sentido do tempo
aevum, o tempo dos anjos, uma forma de eternidade que, sem com-
partilhar a eternidade divina, introduzia no mundo dos homens uma
seqüência temporal não sujeita à destruição.
De um lado, o movimento de luta contra a Igreja e o Império
precisava de leis eternas. As constituições republicanas só seriam le-
gítimas se pudessem não ser finitas, sujeitas à mortalidade e à insta-
bilidade. De outro lado, não era possível preconizar um retorno às
fontes gregas e romanas e conservar a concepção cristã da história e
do tempo. Como Aristóteles não fornecia um modelo adequado, os
humanistas recorreram a Políbio. Mas isso não quer dizer que a Idade
Média tenha negado Aristóteles.
Para Políbio, todas as formas – monarquia, oligarquia, tirania,
aristocracia, democracia, anarquia – estavam destinadas ao término
em uma ordem conhecida a priori. O que condenava os regimes a gi-
rar eternamente no círculo da história eram as suas virtudes que não
resistiam aos vícios engendrados pelos homens que se acostumavam
a um certo tipo de comportamento. Eram as particularidades das for-
mas que as tornavam prisioneiras do tempo.
Tornava-se, pois, necessário dar um rosto à eterna instabilida-
de das coisas humanas. Escolheu-se o da deusa romana Fortuna, res-
ponsável pelo cumprimento do ciclo da história.
A história passava a girar em uma ordem preestabelecida, já
que a Fortuna poderia apenas fazer girar a roda que estava em seu
poder, mas não criar algo novo, uma vez que o mundo estaria conde-
nado à eterna repetição.
Com a revitalização dessa imagem, apagou-se a dicotomia en-
tre ação e contemplação, que caracterizava o pensamento medieval.
A vida não era mais o resultado de uma condenação advinda da falta
primitiva. O presente adquiriu nova significação em relação à Idade
Média: a cidade, longe de ser o lugar da condenação, passava a ser
vista como o espaço em que a natureza humana se desenvolvia e pro-
duzia os mais belos frutos (BIGNOTTO, 1994).
Esse homem, voltado para os valores da cidade e na busca do
reconhecimento de outros cidadãos, tinha consciência de que sua vida
estava submetida a um círculo inexorável, do qual não era possível
fugir. A Fortuna não era, como a Providência Divina, uma intervenção
direta de Deus nos negócios humanos. Seus atos refletiam a
Relativizando o conceito…
Notas
1
Ao produzir uma associação entre tempo e universo, Platão considerou o tempo
como produzido pelas revoluções da esfera celeste. Um legado permanente de sua
teoria do tempo, segundo Whitrow, é que este e o universo são inseparáveis. Ou seja,
para ele, o tempo não existe por direito próprio, sendo uma característica do univer-
so (WHITROW, 1993, p. 57).
Tempo e narrativa
Imagem real
Para isso é preciso inscrever sua própria atividade em uma outra lógi-
ca, na qual não há espaço disponível para o intervalo. É preciso trans-
formar – imediatamente – o evento em acontecimento, mostrando-o
no instante mesmo de sua produção. O jornalismo se transforma, as-
sim, em uma das profissões consagradoras do tempo-mundo e do
tecnocosmo, já que esta atividade se identifica, sobretudo, com a
desrealização.
Isso, entretanto, não se faz sem traumas, pois, em uma espécie
de dualidade, o meio natural continua a ter ingerência sobre a subje-
tividade do jornalista. Entre a temporalidade abstrata e universal e as
realidades locais – a alternância entre o dia e a noite, os horários da
vida familiar, o calendário, as atividades sociais –, a sua vida distribui-
se entre o tempo cotidiano e o tempo profissional. O primeiro, regula-
do por uma lógica particular, e o segundo, por um ritmo que não co-
nhece pausa e intervalo. O tempo passa a ser, mais do que banaliza-
do, desrealizado.
Tudo isso leva a uma espécie de estresse da temporalidade. O
tempo pessoal, projeção da vida cotidiana, é pressionado pelos impe-
rativos econômicos e pelas obrigações técnicas. Dois tipos de angústia
se conjugam: o medo diante do tempo livre e diante das incertezas do
futuro.
Em meio a tudo isso, cria-se uma nova categoria de exclusão: a
dos excluídos do tempo. Refugiando-se na não-duração, os drogados,
os portadores de doenças incuráveis, as galeras dos subúrbios, as
tribos urbanas, que se multiplicam, estão inscritas duplamente no grau
zero da cidadania e da temporalidade.
O modelo dominante de temporalidade, estruturado e
instrumentalizado, de maneira decisiva, pelos meios de comunicação,
projeta a subjetividade também através das chamadas idades da vida,
cada qual com suas características peculiares. Na emissão dos pro-
gramas e da publicidade vê-se o desfile de estereótipos da própria
existência. A vida é distribuída em modelos funcionalistas: juventu-
de, idade madura e velhice. Cada qual se sucede em uma ordem imu-
tável e organiza-se segundo modelos sociais dominantes, construídos
e referendados pela mídia, nos espaços sociais na qual está inserida e
dentro de lógicas culturais próprias.
Notas
1
A expressão é de H. Arendt, no prefácio da edição francesa de La crise de la culture.
Paris: Gallimard, 1974.
2
A expressão é de Attali (1982).
Revolução tecnológica?
E o futuro?
Notas
1
Este texto foi originalmente apresentado no VIII Simpósio de Pesquisa em Comunica-
ção da Região Sudeste, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitó-
ria-ES, em março de 2001.
2
Querendo romper com a idéia de pós-moderno, Anthony Giddens (1997) prefere
classificar a sociedade cuja principal característica é ter de fazer os elos sociais e
não mais herdá-los do passado, como pós-tradicional. Nessa sociedade, vive-se ou-
tra lógica, havendo a dissolução da tradição e também não há mais espaço para a
rotinização a não ser quando ligada a processos da reflexividade institucional. O que
é chamado por alguns como pós-moderno para o sociólogo é a radicalização da
modernidade, na qual ainda se encontram os princípios dinâmicos da modernidade:
expansão do capitalismo, efeitos transformadores da ciência e da tecnologia, expan-
são da democracia de massa. Para refletir sobre esse processo é fundamental, para
ele, falar em uma modernidade reflexiva. Só se pode refletir sobre a modernidade
por meio da reflexão sobre ela mesma.
3
Horizonte de expectativa e campo de experiência são dois conceitos formulados pelo
historiador alemão Reinhart Kosellek (1998). Resumidamente define-os como cate-
gorias históricas, imbricados em si mesmos, já que um não pode ser considerado
sem o outro: não existe expectativa, sem experiência e vice-versa. O par experiência-
expectativa indica fatos humanos, tendo a rigor um sentido antropológico
preexistente. A experiência é o passado atual, cujos acontecimentos integrados po-
dem agora ser rememorados. Nela se junta a elaboração racional, isto é, a própria
construção da história tornada oficial, bem como comportamentos inconscientes
que não estão obrigatoriamente presentes no saber. Cada experiência transmitida
pelas gerações ou instituições contém e guarda uma experiência que lhe é estranha.
Já o horizonte de expectativa contém o presente e o futuro atualizado, englobando
tudo aquilo que ainda não é do campo da experiência. A esperança, a crença, o dese-
jo e a vontade, mas também a análise racional ou a curiosidade, tudo isso entra na
sua composição e constitui a expectativa.
O “público fantasma”
30 anos de intervalo, entre 1845 a 1875, foi decisiva para que se pas-
sasse a considerar o potencial emancipador da comunicação. Antes
mesmo do aparecimento das “redes comunicacionais”, como enfatiza
A. Mattelart (1994, p. 101), a imagem de rede – introduzida com as
estradas de ferro e com a eletricidade – presidiu a primeira formula-
ção de uma ideologia redentora da comunicação. As redes de comuni-
cação passaram a ser visualizadas como criadoras de um novo laço
universal.
Jesus Martin-Barbero (1998) salienta que a idéia de uma socie-
dade de massas é bem mais velha do que costumam indicar os manu-
ais de comunicação. Se inicialmente esta concepção era marcada pela
idéia do medo das turbas ou das multidões, em função da visibilidade
que estas passaram a ter sob os efeitos da industrialização, houve
todo um movimento intelectual com o intuito de compreender o que
de fato se produzia no tecido social. A teoria sobre as novas relações
das massas com a sociedade, continua Barbero, “constituirá um dos
pivôs fundamentais da racionalização com que se recompõe a
hegemonia e se readequa o papel de uma burguesia que, de revolu-
cionária, passa nesse momento a controlar e a frear qualquer revolu-
ção” (BARBERO, 1998, p. 44).
É preciso considerar também que se vivia um período de cres-
cimento da alfabetização e da urbanização, o que possibilitava que
um maior número de pessoas pudesse ter acesso ao conjunto da pro-
dução impressa. A implantação do cinema, por outro lado, anunciava
a chegada de uma época nova para a diversão e o lazer e provocava
debates em torno dos usos sociais e culturais dessa nova tecnologia.
O medo das multidões revolucionárias, representadas pelos
movimentos populares dos quais a Comuna de Paris tornou-se sím-
bolo, fez com que eclodisse uma série de estudos, a partir do final do
século XIX e início do século XX, cujo sentido primeiro era a com-
preensão e, sobretudo, o controle das massas adjetivadas como irracio-
nais. Exemplo disso são os trabalhos de Gabriel Tarde, sobretudo,
L’opinion et la foule, publicado em 1901, e A psicologia da multidão (La
psycologie de la foule), de Gustave Le Bon. Para este último, a civiliza-
ção industrial não era possível sem a formação de multidões, e o modo
de sua existência era a turbulência, comportamento que aflorava, tor-
nando visível a “alma coletiva” da massa (BARBERO, 1998, p. 47).
E continua:
Notas
1
Este texto foi originalmente publicado na Revista Signo y Pensamiento, Bogotá,
v. 23, n. 45, p. 105-113, jul./ dic. 2004.
2
Sobre o tema, cf. sobretudo DARNTON (1987).
Quase, quase matei o canário. Seria um efeito magistral. Mas como matá-
lo, se a rua inteira iria vê-lo feliz, cantando como nunca? O bicho sobre-
viveu na vida real e na ficção jornalística. E foi um sucesso no dia se-
guinte (RODRIGUES, 1977).
que, tais como os leitores, estão em posição inferior. De tal forma que
se deixam vencer pela trama narrativa. Seu fim normalmente é trági-
co. A morte materializa sua inferioridade em poder e inteligência.
Essa rede de textos ganha, portanto, significações múltiplas que
dependem fundamentalmente da tessitura da intriga construída
(RICOEUR, 1994, 1995), do grau de proximidade que estabelece com o
leitor, da possibilidade de instaurar uma espécie de modelo de mun-
do a partir das descrições. Cada começo induz a um fim esperado ou
inesperado que reproduz, em certa forma, a intriga grandiosa do mun-
do. Essas notícias de sensação são uma espécie de narrativa imanente,
cujo começo já pressupõe um desfecho esperado. Fazem parte, por-
tanto, de um fluxo imemorial, que reaparece, das mais diversas for-
mas, todas as vezes que tais estratégias narrativas ligadas às sensa-
ções são acionadas.
Notas
1
Este texto (com algumas alterações) foi apresentado originalmente no VI Congresso
Internacional Lusocom 2006, em conjunto com a professora Ana Lucia Silva Enne,
em Santiago de Compostela, em abril de 2006.
2
Essas temáticas que estão no centro desses relatos do jornalismo popular repetem,
com as inflexões necessárias ao tempo de sua construção, os mitos, as figurações, as
representações de uma literatura popular existente na Europa Ocidental, desde o
século XVI. Essa literatura popular falava dos crimes violentos, das mortes suspei-
tas, dos enforcamentos, dos milagres, ou seja, de tudo o que fugia à ordem instauran-
do um modelo de anormalidade. Roger Chartier (1987, 1991, 1993), ao estudar este
tipo de publicação, sublinha as múltiplas reconfigurações narrativas que estes tex-
tos sofreram para se adaptar aos padrões e hábitos de leitura do público em larga
escala.
3
Entre essas publicações, podemos citar Manhã, fundada por Mário Rodrigues, no
Rio de Janeiro, em 1925, e Crítica, criada pelo mesmo jornalista três anos depois.
A narrativa televisual
Práticas culturais
E o popular?
Imagem e imaginário
Notas
1
Cultura no plural é o nome de um livro de Michel De Certeau que reúne artigos produ-
zidos entre 1968 e 1973, reunidos em um volume com este título, cuja primeira edi-
ção é de 1974. Em essência, como define Luce Giard no prefácio, o objetivo do autor
é enfocar a vida social e a inserção da cultura nessa vida (2001, p. 9).
2
Estamos nos referindo explicitamente à novela Alma gêmea (Rede Globo de Televi-
são, 2006, 18 horas) cujo enredo destaca a volta de um espírito no corpo de uma
nova mulher, para, dessa forma, reencontrar em outra vida a sua alma
gêmea, representada pelo grande amor de sua vida.
A interpretação
Notas
1
Originalmente apresentado no II Congresso Luso-Brasileiro de Estudos Jornalísticos
e IV Congresso Luso-Galego de Estudos Jornalísticos, no âmbito da Universidade
Fernando Pessoa, Porto, em Portugal, em março de 2005.
2
Como enfatiza Traquina (2001, p. 64-65), as propostas apresentadas por diversos
teóricos para compreender o jornalismo e responder à pergunta básica inicial – por
que as notícias são como são? – são mais complexas do que a explicação fornecida
no início dos anos 1950 pela teoria do gatekeeper. Assim, segundo o autor, depois de
muitos estudos realizados sobre o jornalismo, ao longo de várias décadas, é possível
“esboçar a existência de várias teorias, que tentam responder à pergunta por que as
notícias são como são, reconhecendo o fato de que a utilização do termo teoria é
discutível porque pode também significar aqui somente uma explicação interessan-
te e plausível e não um conjunto elaborado e interligado de princípios e proposi-
ções”.
3
Numa simplicidade estonteante, Heller explica: “Naquele tempo havia um homem; e
nós contamos sua história. Naquele tempo havia um rei que tinha três filhos; e narra-
mos suas histórias miraculosas. Naquele tempo havia um caçador que acertou a
caça, levou-a para casa, cozinhou e a comeu – e nós contamos suas histórias tri-
viais.” Mais adiante, mostra com uma clareza digna de nota, como o relato se cons-
trói como unidade organizada de informação, indicando ao homem que ele está no
mundo: “O caçador atirou na caça, assim ficamos sabendo sobre sua espingarda.
Cozinhou-a e nos informamos de que tinha como acender fogo. Os filhos do rei en-
contraram o lobo, o dragão, a fada, a princesa. No campo de concentração, nossos
pais encontraram outros prisioneiros de guerra, carcereiros e guardas (bons e maus);
tiveram de enfrentar punições, fome e um frio gélido [...] Uma história significa um
‘estar-no mundo’”. (HELLER, 1993, p. 71).
4
Segundo Harald Weinrich (1973), os tempos verbais distribuem-se de acordo com
três eixos de comunicação: a situação de locução, na qual existem dois mundos, o
mundo contado e o mundo comentado; a perspectiva da locução, produzindo uma
defasagem entre o tempo do que ocorreu (do ato) e o tempo do texto; a questão do
relevo dado ao texto, quando por intermédio da narrativa se destacam certos con-
tornos, rejeitando-se outros para pano de fundo.
5
Consideram-se documentos tudo o que está revestido de uma função de registro e
fixação do real presumido, tal como os testemunhos, os textos de todas as ordens,
os monumentos e também os vestígios inscritos em inúmeros objetos.
6
Sobre a historicidade da profissionalização da imprensa no início do século XX, ver
Barbosa (2000). E sobre a segunda fase, isto é, os anos 1950, ver Ribeiro (2000).
7
Schlesinger(1993, p. 189) enfatiza que os jornalistas têm uma relação fetichista com
o fator tempo, produto de uma cultura profissional própria.
BÓIA, Lucian. Pour une histoire de l’imaginaire. Paris: Les Belles Lettres,
1998.
LITS, Marc. Temps et médias: un vieux couple dans des habits neufs.
Recherches en communication, [S.l.], n. 3, 1995.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Prefeitura
da Cidade, 1987.
Cruéis paisagens
Ângela Maria Dias de Brito Gomes
Literalmente falando
Solange Coelho Vereza