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Certo clima de indignação, desconfiança e desesperança está pre-
sente na experiência pública de diversas sociedades ocidentais na atu-
alidade. A percepção de que decisões políticas, tomadas em esferas de
representação democrática não passam de acordos que obedecem à
interesses privados e elitistas, pauta muitas das demandas levadas às
ruas das cidades brasileiras nos últimos anos.
Na verdade, estamos falando de um clima alimentado, em certa
medida por alguns dos riscos ou inseguranças que surgem do fun-
cionamento dos sistemas de governo democráticos. Por exemplo,
imaginamos lideranças da elite econômica que, por acreditarem que
Sua resposta:
Que cidadania xará, o governo criou uma secretaria nacional dos
direitos humanos. Eu prefiro chamar secretaria nacional dos di-
reitos da vagabundagem! Botou lá José Gregori. Esse pessoal só vê
direitos de marginais e malandros. O Gregori, agora ele parou, que-
ria uma indenização aos familiares dos 111 mortos em Carandiru.
E as centenas ou milhares de viúvas e de órfãs que esses 111 fez ao
longo de sua vida de criminalidade, o que reservar pra eles? Nada!
Completamente distorcido, e em nome dos direitos humanos tem
uma coisa muito mais grave agora. Tony Blair acabou de dizer nas
barbas de FHC, ou melhor, na cara dele, que ele não tem barba,
que os direitos humanos são mais importantes do que a soberania
nacional pra justificar a invasão da Iugoslávia e no futuro pra justi-
ficar a independência das nações indígenas nesse país.
Começando com FHC, não deixar ele ir pra fora não! Matando!
Se vai morrer alguns inocentes tudo bem, em tudo quanto é guerra
morre inocente! [...] Faliu aqui no Brasil! Faliu! A democracia é
excelente, mas com democratas honestos!
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Gusmão: Notas sobre Ódio e Política
Considerações Finais
Escárnio, medo, esperança e abandono são alguns dos sentimen-
tos e reações alimentados pela conjuntura nacional nos últimos anos.
Das jornadas de junho até as eleições de 2018, amplas parcelas da
sociedade brasileira foram às ruas, contudo sem clareza e orientação
a respeito das pautas que pudessem realmente representar e trans-
formar o país. Como resultado, uma configuração política, não só
fragmentada ideologicamente, mas profundamente afetada, insolente
e rancorosa tornou-se a principal plataforma pública de comunicação
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Notas:
1
Com a colaboração de Josefa Maria Conceição Paulo Malaquias, bolsista PIBIC
no projeto ‘Os direitos humanos na retórica reacionária: um exame da performance
de Jair Messias Bolsonaro’ durante o período de 2018/2019, e Leonídia Aparecida
Pereira Silva, bolsista PIBIC no projeto ‘Carisma, política e moral: uma análise so-
bre a construção da imagem de líder do Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro’,
durante o período 2016-2017.
2
Cf. Discurso de ódio se propaga em meio a mudanças no país. A Folha de São
Paulo. Reportagem de 07/08/2015.
3
Cf. Pai mata filho por discordar de apoio do jovem a invasões escolares. O Esta-
do de São Paulo. Reportagem de 16/11/2016
4
Cf. Apoiadores de Bolsonaro invadem assembleia sindical de servidores federais
em Camboriú. Reportagem do Canal de Jornalismo NSC, de 25/10/2018.
5
Sentença que tem o dramaturgo romano Tito Mácio Plauto como autor, poste-
riormente popularizada em diversas áreas e traduzida como ‘o homem é o lobo do
homem’.
6
Disponível no site de compartilhamento de vídeos youtube.
7
Disponível no site de compartilhamento de vídeos youtube.
8
Cf. “Bolsonaro diz que não teme processos e faz nova ofensa: não merece ser
estuprada porque é muito feia.” Jornal Gazeta Gaúcha de 10/12/2014. Versão on
-line.
9
Disponível no site de compartilhamento de vídeos youtube.
Referências:
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Gusmão: Notas sobre Ódio e Política
Anexo 1:
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ANTHROPOLÓGICAS 30(2):290-315, 2019
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Gusmão: Notas sobre Ódio e Política
pro, quero relembrar o caso do teu cunhado! Em 2003! A sra. podia, a sra.
não é responsável por ele, nem pelo que seu irmão, sua irmã, seu pai, sua
mãe ou seu filho maior de idade faz, tudo é responsável, mas pra dar exem-
plo, a sra. programou um flagrante em Porto Alegre para combater a pedo-
filia porque na época Vossa Excelência era integrante da CPI da Pedofilia.
Ao se dar o flagrante, quem sai do carro? Um barbado e uma menina...
(interrupção do áudio) de 13 anos de idade. Isso é estupro de vulnerável.
Quem era o outro barbado, Deputada Maria do Rosário? O teu cunhado!
Então, vamos dar exemplo. Não vamos aqui apenas acusar aquele coronel
do Rio de Janeiro, que infelizmente não tem pena de morte no Brasil senão
eu puxava o cadafalso para ele ser enforcado. E fale o teu cunhado. Fale
dele. Comece a mostrar que a senhora realmente quer combater a violência
contra mulheres e quer combater a pedofilia mostrando o exemplo de casa
e não buscando aqui outros exemplos. Afinal de contas, não tem, como
disse aqui a Bia Kicis, a Carla Zambeli, não tem, no Brasil, a cultura do
estupro, tem, é a cultura da impunidade. E a senhora explique, por que
votou contra a PEC da redução da maioridade penal para menores que são
praticantes de estupro. A senhora defende o menor estuprador – essa é a
sua vida pregressa. E foi uma vergonha, exceto as três...” (interrupção do
áudio. Encerramento da fala.)
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