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TESTE DE VAZÃO NA PRÁTICA

A melhor pratica para a execução de Teste de Bombeamento em Poços


Artesianos.

Por: Fernando Mancini de Oliveira

Inverno de 2017

Créditos

Copyright desta publicação: Fernando Mancini de Oliveira

Capa:

Editor: Fernando Mancini de Oliveira

Este livro foi concluído no inverno de 2017.

Nota

No inicio a interação entre o ser humano e a natureza era sinérgica. No momento


em que entendermos que esta relação deve se manter como era antes, maiores
serão nossas chances de prosperar como sociedade e como seres inteligentes.

Vamos aprender aqui a parte prática de como executar um teste de vazão em


poços artesianos rasos, médios e profundos, para legalização junto aos órgãos
ambientais competentes, com o propósito de se prestar um serviço utilizando-se
da melhor técnica, que nos dá elementos para trabalhar em favor da proteção de
nossos recursos naturais.
Agradecimentos

A Deus, aos pais, esposa, irmãs e amigos, que direta ou indiretamente me


apoiam, ajudam a vencer as barreiras e superar os obstáculos.

Informações Preliminares

Inicialmente abordaremos sobre as obras de poços artesianos e como elas tem


ocorrido aqui no Brasil. Quais estão sendo as consequências deste mercado e o
que fazer para torna-lo mais sustentável, para que nós e as futuras gerações
possamos ter proveito disso.

A demanda crescente por recursos naturais é um presente que vem junto com a
evolução da sociedade, para satisfazer a vontade e as necessidades básicas do ser
humano.

O Poço Artesiano é uma fonte de água que, na ampla maioria dos casos, atende
as expectativas do homem na sua incansável busca pelo bem estar e pelo prazer
de produzir.

“Água é vida”, e ter a posse deste bem em abundância é um ponto forte e


determinante para o sucesso de qualquer empreendimento.

Ocorre que, a construção indiscriminada e sem embasamento técnico deste tipo


de obra, geralmente gera mais problema que solução.

A exploração indiscriminada de aquíferos, sem base em um ensaio de


bombeamento bem realizado, causa danos ao meio ambiente subterrâneo.
Estragos que podem ser irreversíveis ou mesmo tornar o aquífero sem condições
de exploração por décadas.
Um teste de vazão bem executado, interpretado de forma correta e dentro das
técnicas, auxilia na determinação da vazão de exploração ideal e máxima do
aquífero, nos dando elementos para trabalharmos de forma a preservar suas
características originais.

Com o incremento da fiscalização e da educação ambiental, é notória e visível a


necessidade da realização deste procedimento de forma correta, com o claro
objetivo de preservação ambiental.

Já venho sendo consultado por empresas que desejam atuar na área de


regularização ambiental de obras de poços artesianos, que se veem na
necessidade de buscar informações sobre o tema e de como executar um teste de
vazão dentro das melhores práticas do mercado.

Vou então compartilhar com vocês o resultado das pesquisas que fiz sobre o
assunto, juntamente com dicas práticas e a experiência que obtive atuando neste
segmento.

Introdução

A sua preparação e planejamento para ida a campo, consiste da etapa mais


importante e determinante para a execução de uma excelente prestação de
serviço.

O conhecimento prévio das características construtivas do poço, como


profundidade, diâmetros do revestimento, posição dos filtros, local, região, tipo
de formação geológica, expectativa de vazão, posição do nível estático e
dinâmico, são informações cruciais para a determinação ou especificação do
conjunto motobomba ser utilizado no teste de bombeamento.
Os equipamentos que serão utilizados para aferição de nível e vazão, devem estar
em perfeitas condições de uso e devem satisfazer a necessidade do poço em
questão.

Hidrodinâmica Subterrânea

A exploração de poços artesianos sempre trará reações na dinâmica subterrânea.


Isto não é um problema e não se está degradando a natureza, se for realizado
dentro da técnica, de forma controlada e monitorada o ao longo do tempo.

Poço artesiano consiste de um meio de se disponibilizar a água para o Homem.

O teste de vazão é uma forma de se avaliar, ao longo do tempo, como está sendo
esta interação entre o Homem e o ambiente subterrâneo.

Como todo fluxo dentro de um meio poroso é marcado por velocidades


extremamente baixas, ou no máximo baixas, manter o histórico de
funcionamento deste tipo de obra é essencial, para se avaliar o comportamento
ao longo dos anos.

Uma realidade no segmento de águas subterrâneas é a de que “todo


bombeamento gera rebaixamento”.

Quando acionado um equipamento de bombeamento, este passa a extrair água


de dentro do poço para fora; impondo assim um rebaixamento do nível no
interior do poço e uma diferença de pressão. Como o nível dentro do poço fica
menor que a pressão do aquífero, a água passa a fluir no sentido do aquífero para
o interior do poço.
Foto: Cone de rebaixamento

O evento que ocorre juntamente com a descida do nível é a formação do cone de


rebaixamento. Ao saber da existência deste fenômeno, devemos prever o seu raio
de interferência, inclusive sua possível intromissão em outros poços artesianos.

O teste de vazão consiste de um estudo fundamental, para munir técnicos com o


mínimo de informações sobre a dinâmica do fluxo da água subterrânea, que é
característica daquele local, naquela formação, drenando água da posição dos
filtros que estão instalados no poço em estudo. Notem que é tudo muito
específico. Temos diversas variáveis para avaliar e considerar; por isso cada poço
contém uma histórica única e tecnicamente, diferente sempre.

Preparação para o Teste de Vazão

Antes de sair para campo, assegure-se de ter as seguintes informações:

a) Conhecimento das características construtivas do poço, de preferência o


perfil técnico ou relatório final construtivo (para verificar informações
como profundidade do poço, câmara de bombeamento, posição dos filtros,
tipo de formação geológica, expectativa de nível estático e dinâmico).
b) Conhecimento sobre o conjunto motobomba instalado no poço (para
ciência de valores como potência, capacidade de vazão máxima e mínima,
altura manométrica máxima e mínima, corrente e tensão do motor, valor
máximo possível do nível dinâmico).
c) Medidor de vazão apropriado. A recomendação é ter equipamentos que
afiram a vazão com precisão menor que 5% (a boa prática deve ser menor
que 3%)
d) Medidor de Nível de água apropriado. A recomendação é ter equipamentos
que proporcionem um erro menor que 2% (a boa prática deve ser menor
que 1%, no nível de centímetros).
e) Para a realização do teste escalonado, o cavalete do poço deve dispor de
registro gaveta, em condições de uso (para restringir a passagem da água).
Caso não tenha, será necessário providenciar a instalação.
f) Prancheta e Formulário de teste de Vazão padrão para seu preenchimento
em campo e anotações diversas (não esquecer a caneta...).
g) Relógio ou cronômetro para acompanhamento do tempo (se for usar
celular, coloque em “modo avião”, pois ele irá tocar nos momentos mais
críticos).
Ao verificar e conhecer os itens acima, você estará mais preparado para a maioria
das eventualidades.

Estrutura e Composição de um Teste de Vazão

Um teste de vazão tem como principal função, identificar três situações de


diferentes dinâmicas no poço, que são elas:

a) Vazão Máxima
b) Recuperação do Nível
c) Vazão Escalonada
a. Mínimo de três pontos

Criaremos estas situações hidrodinâmicas controladas, com o propósito de


verificar o comportamento do poço nestas condições, para posterior
interpretação dos dados, conclusão e definição das vazões ideais e máximas a
serem exploradas.

d) Interpretação dos dados

Um teste de vazão completo é composto então de, no mínimo, seis planilhas, que
são elas: Teste de vazão Máxima, Recuperação, três planilhas de teste
escalonado, e a planilha final conclusiva de interpretação dos dados.

Em função da vazão máxima obtida do poço, alguns órgãos ambientais exigem


somente os testes de (a) vazão máxima e (b) recuperação. Por exemplo, no
Estado de São Paulo, o DAEE não exige teste escalonado para poços com vazões
inferiores a 20 m3/h.
Deve-se verificar a legislação vigente da sua região para executar os testes
conforme as exigências locais. Procure informações nos Comitês de Bacias
Hidrográficas regionais, ou diretamente nos órgãos fiscalizadores pertinentes.

Preencha corretamente o cabeçalho das planilhas de teste, considerando que,


durante a operação temos muitas informações passando por nossa mente, e
perder informação não é uma opção aceitável.

Vazão Máxima

Trata-se de proporcionar uma condição em que seja possível explorar a maior


vazão possível do poço em avaliação. A partir do conhecimento da vazão máxima
do poço é que será possível identificar a vazão ideal ou sustentável de exploração.

Vejam que falo da vazão máxima do poço, e não da vazão máxima da bomba que
está instalada. Existe esta diferença de conceito no mercado, onde é apresentado
um teste de vazão máxima, sem ser a vazão máxima do poço, e sim a do conjunto
motobomba que se encontra instalado.

No entanto, como há situações em que não é possível determinar a vazão máxima


do poço (pois o poço pode produzir mais água do que uma bomba consegue
explorar), são aceitos sim testes de bombeamento com a vazão máxima do
conjunto motobomba.

Após a realização do teste de vazão máxima pelo período mínimo de 24 horas e


estabilização do nível dinâmico com a vazão máxima que o poço produz, é que
prosseguiremos para a Recuperação do nível do poço.
Recuperação

No instante em que se desligar o equipamento de bombeamento, devemos iniciar


o preenchimento da planilha de recuperação.

É por meio desta etapa que será possível o cálculo de transmissividade do


aquífero, e verificação da capacidade máxima de produção do poço avaliado.

Quando o nível do poço estiver recuperado e as leituras estabilizadas ao longo do


tempo (pelo menos três leituras iguais a cada trinta minutos), podemos dar por
concluído o teste de recuperação e poderemos avançar para o teste escalonado.

Teste de Vazão Escalonado

Por meio deste teste é que será possível obter os pontos de estabilização do nível
em função da vazão, para o calculo da equação do poço.

A matemática nos ensina que, para termos a média de qualquer situação,


deveremos ter, no mínimo, três informações diferentes. Por um ponto passam
infinitas retas, por dois pontos passam somente uma reta, por três ou mais
teremos uma reta média.

Sendo assim, para encontrarmos uma equação que represente a média do


rebaixamento do poço, deveremos executar em campo, no mínimo três testes
escalonados da vazão.

Quem define estes pontos é o técnico que está realizando ou acompanhando o


teste, pois pode haver limitações físicas do conjunto motobomba ou medidor de
vazão.
Para a vazão escalonada, se você decidir por três pontos, pode optar por utilizar o
valor de 30%, 50%, 70% da vazão máxima. Se optar por quatro pontos, pode ser
30%, 45%, 60%, 75% da máxima, procure manter de 10%, 15% ou 20% de
diferença entre um ponto e outro.

No caso do Estado de São Paulo, o DAEE sugere em sua Instrução Técnica DPO-
Nº10, de 30/05/2017, vazões progressivas de 20%, 60%, 80% e 100% da vazão
máxima.

Dicas

Ratifico aqui as três informações MAIS IMPORTANTES durante a realização de um


teste de vazão, que são: o TEMPO, o NÍVEL e a VAZÃO.

Sendo um pouco simplista, estas três informações é que darão elementos para
qualquer posterior análise técnica mais aprofundada, bem como é a partir delas,
que serão elaborados todos os cálculos de interpretação.

Quanto mais precisas estas informações, melhor será a qualidade do serviço


prestado.

TEMPO

Quando falamos de tempo, me refiro a frequência de medição dos dados. O teste


de vazão consiste de um estudo da dinâmica do nível e vazão do poço, ao longo
do tempo.

Preferencialmente o teste será executado nesta ordem: Vazão Máxima,


Recuperação, Escalonado 1, Escalonado 2, Escalonado 3, Escalonado n...
Vejamos, de acordo com a NBR 12.244/2006, qual é a frequência de captura de
informações para os testes do tipo Vazão Máxima, Escalonado e Recuperação:

Intervalo de Leitura
Período (minutos)
(minutos)
0 a 10 1
10 a 20 2
20 a 60 5
60 a 120 10
120 a 600 30
600 a 900 60
900 em diante 120
Tabela 1 – Frequência de Bombeamento (Vazão Máxima e Escalonado).

Período (minutos) Intervalo de Leitura


(minutos)
0 a 10 1
10 a 20 2
20 a 60 5
60 a 120 10
120 a 240 20
240 a 480 30
480 em diante 60
Tabela 2 – Frequência de Bombeamento (Recuperação).

Notem que em ambos os testes, a primeira hora possui uma frequência de


captura das informações muito alta. E a informação deve ser coletada
exatamente naquele instante!

Ao ligar a bomba e acionar o cronometro, no instante 60 segundos você já deve


estar pronto para fazer a leitura do nível e da vazão naquele instante, e no
instante 120 segundos outra leitura e no terceiro minuto, e assim por diante.

Se você estiver fazendo um teste utilizando um medidor de nível de fita (para


medir o nível) e um balde ou tambor com volume conhecido (para medir a vazão),
é praticamente impossível fazê-lo com duas pessoas apenas, e obter estas
informações exatamente naquele instante. (pois o intervalo de tempo é muito
curto, sendo de minuto em minuto).

Ou você dará a preferência para registrar o nível, ou optará em registrar a vazão


(minha sugestão é que dê a preferência para o nível, pois a vazão tende a
estabilizar muito rapidamente).

Ou então serão necessárias três ou até quatro pessoas para coletar estas
informações em campo, na primeira hora. O que dificilmente ocorre (geralmente
vão a campo duas pessoas somente).

Devemos estar preparados para coletar as informações exatamente no tempo


determinado. Caso não as consiga obter, melhor não inventar.

A partir da segunda hora de teste, as coisas começam a ficarem mais fáceis, pois o
intervalo de tempo de tomada de informações passa a ser a cada 10 minutos, e
daí pra frente mais fácil ainda.

Não seria um problema se os dados mais decisivos não fossem justamente os


coletados nas primeiras horas. E são os mais complicados de se coletar.

O interessante seria ter uma forma de medir a vazão e nível de maneira


instantânea e automática ao longo do tempo. Mais adiante vamos discorrer sobre
esse assunto com o uso da central Hidrohub.

VAZÃO

Vejamos agora as dificuldades e desafios para obter os valores de vazão em poços


artesianos.
Aqui no Brasil, em sua vasta maioria encontraremos poços com vazões da ordem
de 1 a 500 m3/h (metros cúbicos por hora).

Saber qual a forma de aferir a vazão, dentro de um erro aceitável (menor que 5%)
é que está o desafio.

Por definição, vazão é uma unidade de fluxo que, no nosso caso é a razão entre o
volume (que pode ser litros ou metros cúbicos) e o tempo (segundos ou horas). A
unidade mais comum é [m3/h] (metros cúbicos por hora), mas alguns órgãos
podem exigir em [l/s] (litros por segundo).

Há vários métodos para aferirmos a vazão de um poço, vamos discutir aqui alguns
deles: com uso de Balde, Bombona ou Tambor, com tubo de orifício calibrado,
com uso de hidrômetro convencional ou eletrônico e com medidor de vazão
eletrônico.

Balde, Bombona ou Tambor.

Em uma situação prática faremos o seguinte: iremos direcionar o jato de água


para dentro do balde, e neste mesmo instante acionar o cronômetro, e ao encher
o balde e a primeira “gota” transbordar, acionaremos novamente o cronometro.
Digamos que o tempo encontrado nesta operação para encher o balde foi de 12
segundos; Se buscarmos a correlação na tabela 3 (à frente), veremos que isto
corresponde a uma vazão de 6,00 m3/h.
Foto: Afeição da vazão com uso de tambor de 200 litros.

Vejamos a tabela que preparei para aferirmos a vazão, utilizando um recipiente


com volume conhecido.
Aferição da Vazão com Baldes, Bombonas ou tambores.

Balde de 20 Litros Bombona de 100 Litros Tambor de 200 Litros

Tempo Vazão Erro Tempo Vazão Erro Tempo Vazão Erro


Seg m3/h % Seg m3/h % Seg m3/h %
5 14,40 8% 5 72,00 8% 5 144,00 8%
6 12,00 7% 6 60,00 7% 6 120,00 7%
7 10,29 6% 7 51,43 6% 7 102,86 6%
8 9,00 5% 8 45,00 5% 8 90,00 5%
9 8,00 4% 9 40,00 4% 9 80,00 4%
10 7,20 4% 10 36,00 4% 10 72,00 4%
11 6,55 4% 11 32,73 4% 11 65,45 4%
12 6,00 3% 12 30,00 3% 12 60,00 3%
13 5,54 3% 13 27,69 3% 13 55,38 3%
14 5,14 3% 14 25,71 3% 14 51,43 3%
15 4,80 3% 15 24,00 3% 15 48,00 3%
16 4,50 3% 16 22,50 3% 16 45,00 3%
17 4,24 2% 17 21,18 2% 17 42,35 2%
18 4,00 2% 18 20,00 2% 18 40,00 2%
19 3,79 2% 19 18,95 2% 19 37,89 2%
20 3,60 2% 20 18,00 2% 20 36,00 2%
21 3,43 2% 21 17,14 2% 21 34,29 2%
22 3,27 2% 22 16,36 2% 22 32,73 2%
23 3,13 2% 23 15,65 2% 23 31,30 2%
24 3,00 2% 24 15,00 2% 24 30,00 2%
25 2,88 2% 25 14,40 2% 25 28,80 2%
26 2,77 2% 26 13,85 2% 26 27,69 2%
27 2,67 1% 27 13,33 1% 27 26,67 1%
28 2,57 1% 28 12,86 1% 28 25,71 1%
29 2,48 1% 29 12,41 1% 29 24,83 1%
30 2,40 1% 30 12,00 1% 30 24,00 1%

Tabela 03 – Aferição da Vazão em relação ao tempo.


Na coluna tempo (seg.), me refiro a quantos segundos são necessários para
encher o balde de 20 litros (ou analogamente para encher a bombona ou o
tambor de 200 litros).

A coluna Vazão corresponde ao cálculo da Vazão, já transformados em metros


cúbicos por hora.

Agora peço que olhem novamente a tabela, observando a coluna Erro (%).
Notaram que o erro aumenta nos momentos em que o tempo é menor?

Quanto menor o tempo em segundos, maior passa a ser o erro na leitura.

Isto ocorre, pois quem está fazendo a leitura é um ser humano, e todo ser
humano tem um ato que se chama reflexo. Vou considerar aqui que o reflexo
humano é a sua margem de erro.

Cada Ser vive um momento diferente na vida, e não podemos comparar o reflexo
de uma pessoa que está descansada e plenamente atenta, com o reflexo de uma
pessoa que está estressada. Para chegarmos a conclusões mais práticas, e com
uma margem de erro mais segura, considerei para estes cálculos que uma pessoa
comum tenha um reflexo de 0,40 segundos (ou 400 milissegundos).

Logo concluí que, se utilizarmos um balde de 20 litros, eu somente terei um erro


menor que 5%, se a vazão for menor que 9,0 m3/h ou o tempo maior que 8
segundos.

Fica aqui a dica então para a utilização deste método para aferição da vazão.

Não utilizar Balde de 20 litros para vazões maiores que 9 m3/h, bombona de 100
litros para vazões maiores que 45 m3/h, ou tambores de 200 l para vazões
maiores que 90 m3/h. Ou, como conceito principal, não utilizar recipientes que se
encham em um tempo menor que 12 segundos.

Portanto o uso de balde, bombona, tambor ou qualquer outro recipiente com


volume aferido para a medição da vazão, deve ser bem planejado para não
comprometer a precisão da informação.

Tubo de Orifício Calibrado.

Uma opção bastante utilizada por empresas perfuradoras de poços artesianos,


por ser um equipamento simples, sem partes mecânicas, e que proporciona uma
leitura direta e precisa da vazão.

Trata-se de um tubo onde uma extremidade é ligada após o registro gaveta e a


outra possui um orifício (de tamanho conhecido), que restringe a passagem da
água, e que gera uma pressão no interior do tubo. Uma vez que a pressão é linear
e em função da vazão, quanto maior a pressão, maior será a vazão.

A montagem e instalação em campo é pouco complexa, basicamente utilizando


alguns metros de mangueira cristal de 1/2pol, uma trena, e um apoio para
suportar o peso do tubo, bem como a mangueira e trena.

Por meio de tabelas relacionando o diâmetro da tubulação, do orifício e a pressão


que a água está exercendo sobre o tubo, é que se lê a medida da vazão
instantânea.

Por não possuir partes mecânicas, é uma boa opção para aferir a vazão mesmo se
a água estiver com presença de sólidos em suspensão (turva ou com partículas de
areia).
Foto: Tubo de Orifício Calibrado

Hidrômetro convencional.

Por ser uma exigência de licenciamento ambiental, normalmente no cavalete dos


poços, já haverá instalado um hidrômetro. Este equipamento possui uma
relojoaria que registra o volume de água que foi, ou está sendo, extraído do poço.

Esta relojoaria vem com marcações para identificarmos até a passagem de litros
em alguns casos.

Para medirmos a vazão do poço com o uso de um hidrômetro, utilizaremos a


mesma teoria do cálculo do tempo de um recipiente com volume conhecido. A
diferença é que não temos um recipiente, mas um indicador de litros.

Dependendo do tamanho do hidrômetro e da vazão esperada, é que faremos as


contas para se aferir o valor da vazão..
Foto: Relojoaria de Hidrômetro (Fonte: SAAE Itapetininga)

Cada volta completa em um marcador do hidrômetro corresponde a um volume


conhecido, que pode ser 1, 10, 100 ou 1000 litros.

Exemplo 1: se estiver com um hidrômetro de 1-1/2” (DN40) Vazão nominal de 10


m3/h, e estivermos observando as voltas do contador de 1 litro, marcaremos o
tempo que leva para o marcador completar duas voltas (que será 20 litros), e
verificar na tabela o valor correspondente a vazão. Se levou 12 segundos para
passar 20 l, a vazão é 6 m3/h.

Vazão1 = (20/12) * 3,6 = 6 m3/h

Exemplo 2: se estiver com um hidrômetro de 4” Vazão nominal de 90 m3/h, e


estivermos observando as voltas do contador de 10 litros, marcaremos o tempo
que leva para o marcador completar duas voltas (que será 200 litros), e verificar
na tabela o valor correspondente a vazão. Se levou 16 segundos para passar 200 l,
a vazão é 45 m3/h.
Vazão2 = (200/16) * 3,6 = 45 m3/h

Exemplo 3: se estiver com um hidrômetro de 6” Vazão nominal de 250 m3/h, e


estivermos observando as voltas do contador de 100 litros, marcaremos o tempo
que leva para o marcador completar uma volta (que será 1000 litros), e efetuar o
cálculo. Se levou 16 segundos para passar 1000 l, a vazão é 220 m3/h.

Vazão3 = (1000/16) * 3,6 = 225 m3/h

Mesmo usando um hidrômetro, é o ser humano que calcula o tempo, e, sendo


assim, as margens de erro permanecem as mesmas. Devemos evitar então
aferições que tenham um tempo menor que 12 segundos, pois assim o erro ficará
cada vez maior.

Foto: Exemplo de instalação de hidrômetro e cavalete de poço artesiano.

Hidrômetros de Sinal Pulsado.

Os hidrômetros com sinal pulsado são fornecidos com um display eletrônico que
te informará o volume da água que está passando e a vazão instantânea.
Para o calculo da vazão, partindo de um sensor de sinal pulsado (REED), a
eletrônica faz o mesmo cálculo que utilizamos nos exemplos anteriores. A maior
diferença é que qualquer equipamento eletrônico tem uma precisão de, no
mínimo, 100 milissegundos (ou 0,1 segundos), o que nesta situação já é 400%
mais preciso que o ser humano.

No entanto, deve ser consultado o fabricante quanto a faixa de vazão de trabalho


do medidor e a precisão do equipamento. Mas atualmente no mercado, não há
hidrômetros com erro maior que 2%; é comum no mercado erros máximos de
0,25% a 0,50%.

Para saber mais sobre a automatização das leituras com medidor de vazão,
solicite nosso tutorial “Hidrômetro com sinal Pulsado (REED)” em
http://www.ghidro.com.br.

Medidores de Vazão Eletrônicos de 4-20mA.

Temos no mercado atual, diversos equipamentos de diversos diâmetros, que nos


oferecem a medição da vazão. Cada equipamento trabalha dentro de um faixa de
vazão, onde o fabricante garante a precisão do medidor.

Exemplos de medidores de vazão são: Eletromagnéticos, Mássicos, Ultrassônicos,


entre outros.

Ao analisar cada um deles, descobrirão que sempre haverá vantagens e


desvantagens para cada aplicação, uns mais precisos em pequenas vazões, outros
em maiores, uns aceitam ar como volume, outros não. Enfim, todos irão te medir
a vazão e entregar esta aferição em um sinal de automação conhecido como 4 a
20 miliamperes (mA).
Foto: Medidor de Vazão Eletromagnético (Fonte: Ciasey)

Estes medidores de vazão geralmente possuem erro menor que 0,5%, e em


alguns casos chegam abaixo de 0,25%.

Foto: Medidor de vazão Sônico (Fonte: Ciasey)

A pessoa que está fazendo o teste, não entende de comunicação entre máquinas
(e nem é obrigado a entender disso), no entanto, para que esta informação seja
útil para quem está realizando o teste de vazão, será necessário então o uso de
uma central ou display, que interprete este sinal eletrônico, e informe qual a
vazão (em m3/h, ou l/s). Assim teremos de forma instantânea, a vazão sendo
informada no display do equipamento.
Foto: Exemplo de Instalação de Medidor de Vazão Eletromagnético.

NÍVEL

Quando falamos de fluxo de água em poços artesianos, sem sombra de duvidas, o


nível é a informação mais importante. Água não sobe rio! Lembra? Conhecer e
manter registro dos níveis estático e dinâmico do poço é de vital importância,
para qualquer estudo posterior sobre o caminhamento das águas subterrâneas.

A informação do nível nos indica para onde a água está fluindo. Em uma situação
de contaminação, ou mesmo para cálculos hidrodinâmicos, toda a movimentação
da água é definida pela diferença do nível.

Um bom medidor de nível passa a ser seu melhor amigo em um teste de vazão.

O nível de um poço artesiano pode sofrer variações ao longo do tempo, no


entanto, temos dois conceitos básicos para aferição do nível, que são Nível
Estático e Dinâmico.
O Nível Estático consiste da profundidade do nível de água de um poço em
repouso, medida em relação a superfície do terreno local (poço parado, sem
bombeamento, estável e sem oscilações).

O Nível Dinâmico consiste da profundidade do nível de água de um poço em


bombeamento, medida em relação a superfície do terreno local, quando houver
sua estabilização, em função de uma dada vazão extraída do poço.

Vemos que o nível dinâmico tem um conceito mais aprofundado, ele é em função
da vazão que está sendo extraída do poço, ou seja, para cada vazão teremos um
nível dinâmico diferente. E ainda mais, somente quando estiver estabilizado.

Por definição então, sempre que nos referirmos a um nível dinâmico, temos que
saber também a vazão. Exemplo: Nível dinâmico de 83,45m a 22 m3/h.

Para aferir o Nível Estático, antes de ligar o poço, fazer umas três leituras (em
intervalos de 5 minutos) para verificar que realmente não está havendo alteração
no nível e que o mesmo está estabilizado. Iniciar então o teste, acionando o
conjunto motobomba e efetuar as leituras de nível, acompanhando seu
rebaixamento.

Somente chamaremos de nível dinâmico, quando este estabilizar ao longo do


tempo, em uma dada vazão. Nesta situação, é que as perdas de carga do aquífero
e do poço estão estabilizadas, e o mesmo volume de água que entra no poço, sai
pelo bombeamento.

Vejamos agora os tipos de medidores de nível que estão disponíveis no mercado.


Medidor de Nível de Fita

É o equipamento mais comum, simples e amplamente utilizada no mercado para


a aferição de nível de poços artesianos.

Consiste de um carretel, onde se dispõe a fita graduada, geralmente de 0,5 em


0,5 metro ou a cada centímetro, ou até em milímetros. Possui um sensor na
ponta, que será inserido no tubo de nível do poço, o qual ao tocar a água aciona
um alarme sonoro, e em alguns casos um led (alarme visual).

Foto: Medidor de Nível de Fita

A pessoa que estiver operando com o medidor de nível de fita, deve estar
constantemente procurando o momento em que a fita toca na água, inserindo ou
recolhendo a fita dentro do poço, para identificar a posição do nível.

Trata-se de um equipamento que não permite automatização dos dados, e requer


a prática da pessoa que está tomando as informações.

Os dados aferidos são anotados em prancheta, de forma manual.


Medidor de Nível Hidrostático 4-20mA (Eletrônico)

Este tipo de sensor trabalha de forma diferente do medidor de fita.

Relembrando um pouco a definição de nível; a medida do nível é a diferença de


cotas entre o solo e o nível de água.

O medidor de nível hidrostático é um sensor de pressão, que afere a coluna de


água que está sobre ele. Vejamos a imagem:

Foto: Dinâmica do poço em bombeamento – Curva de Rebaixamento.

Pelas características operacionais deste tipo de sensor, será necessário o


conhecimento prévio do poço, para a especificação da célula de carga e a
profundidade de instalação do sensor.

Somente com informações prévias do poço, como a profundidade de instalação


do conjunto motobomba e Nível Estático é que teremos elementos para
especificar e instalar este tipo de medidor de nível.

No exemplo anterior vemos que o sensor está instalado a 100 metros de


profundidade. Como o sensor lê coluna de água sobre ele, quando o poço estiver
parado, o sensor irá informar o valor de 75 mca. No entanto a informação que
queremos é a diferença entre a profundidade de instalação e a coluna de água: o
valor do nível estático do poço é 25 metros.

Quando o poço estiver em operação, ocorre conforme ilustração acima, o sensor


irá informar o valor de 10 mca. Mas o que queremos é a diferença entre a
profundidade de instalação e a coluna de água: o valor do nível dinâmico do poço
é 90 metros.

Apesar deste sistema ser mais complexo que o medidor de nível de fita, tem a
vantagem de permitir a automação da coleta de dados e disponibilizar
instantaneamente a informação do nível.

Para saber mais sobre a automatização das leituras com medidor de nível
hidrostático, solicite nosso “Tutorial - Sensor de Nível Hidrostático” em
http://www.ghidro.com.br.
Foto: Exemplo de Instalação do sensor de nível hidrostático em poço

Foto: Sensor de Nível Hidrostático 4-20mA, 2 fios, com cabo.


Medidor de Nível Sônico

Este medidor utiliza os princípios da propagação e reflexo das ondas do som para
disponibilizar a informação do nível.

O equipamento é composto de um fone e um microfone, onde um emite a onda


de som, e o outro capta o eco refletido do som ao tocar o nível da água. E por
meio de processamento matemático, temos como resultado a leitura do nível.

Por ser um equipamento mais sensível, devem ser observadas algumas condições
como: a tubulação onde será instalado deve estar o mais hermeticamente
fechado possível; limpa (sem insetos ou sujidades); deve ser de PVC; evitar a
instalação próxima a outras fontes de som; deve estar abrigado de vento ou
chuva; para que a qualidade do sinal seja melhor possível.

Foto: Medidor de Nível Sônico.

Por outro lado, é um equipamento pequeno, leve (menos de 1 kg), com um range
de aplicação de 3 a 600 metros de profundidade, com datalogger e saídas para
qualquer tipo de automação (4-20mA, 0-5v, Modbus, RS-232 e RS-485).
Foto: Exemplo de instalação do sensor de nível sônico

Hidroview – Sistema de Gestão de Recursos Hídricos

A G HIDRO Engenharia e Inteligência Ambiental EIRELI ME, traduz-se em uma


empresa que disponibiliza solução tecnológica voltada para o monitoramento de
Recursos Hídricos, a qual envolve a integração de equipamentos (Hidrohub) com
serviços de tratamento de dados (Hidroview).

O sistema Hidroview foi desenvolvido para que você efetue a gestão de dados
técnicos de perfuração de poços, manutenções, teste de vazão, monitoramento,
entre outros.

Uma plataforma totalmente on-line, seguindo as tendências mundiais de


disponibilidade da informação.

Possui inteligência para a interpretação dos testes de vazão, onde já efetua os


cálculos de transmissividade e equação do poço, disponibilizando as informações
em relatórios e gráficos já padronizados.
É possível efetuar o monitoramento remoto de Poços Artesianos, obtendo
remotamente os dados de nível, vazão, pressão, temperatura, tensão, corrente,
consumo de energia e outros. Além da interpretação destas informações
entregando elementos para que você efetue a operação de poços artesianos com
foco em economia de energia.

Para saber mais sobre o monitoramento remoto de parâmetros, solicite nosso


“Tutorial de Instalação da Central Hidrohub” em http://www.ghidro.com.br.

Com o uso desta ferramenta, é possível a realização do teste de vazão a distância,


proporcionando a coleta de dados dentro dos padrões exigidos, agregando
economia, facilidade, segurança e precisão das informações.

Fale com a gente para saber como oferecer esta tecnologia para seus clientes e
participar efetivamente da transformação digital que está ocorrendo nesta nova
era.

Agora que já aprimorou seus conhecimentos, vamos a campo ganhar um pouco


de prática!

Juntamente com este e-book, apresento em anexo uma sugestão de planilhas


para realização do teste de bombeamento em campo.

Geralmente cada empresa prepara a sua planilha de acordo com seu marketing.
Sinta-se a vontade para alterar, e montar da forma que melhor lhe convier.

Espero ter contribuído um pouco para a melhoria de seus processos,

Desejo sucesso na sua jornada, e que você contribua para que tenhamos uma
sociedade mais justa e comprometida com os recursos naturais.
Autor

Fernando Mancini de Oliveira (LinkedIn) está Engenheiro Civil pela Universidade


Presbiteriana Mackenzie desde 2005 e atua no segmento de recursos hídricos. Em
campo, adquiriu experiência prática e teórica exercendo atividades
especificamente na área de perfuração e manutenção de poços artesianos.

Cursou Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especializou-se em


hidrogeologia como aluno especial pelo Instituto de Geociências da Universidade
de São Paulo (USP), e aprofundou seus conhecimentos no tema de contaminação
de solos, fluxo e preservação do meio ambiente subterrâneo.

Como proprietário da empresa G Hidro Engenharia e Inteligência Ambiental EIRELI


ME, junto com equipe de Consultores, Engenheiros de Hardware e Software,
desenvolveu solução tecnológica voltada para atuação no segmento de
monitoramento remoto de recursos hídricos.

Para contato, escreva para contato@ghidro.com.br


Mais Informações.

Com a intenção de multiplicar o conhecimento, procuro manter on-line o máximo


de informação possível para dirimir duvidas sobre especificação e
dimensionamento de sensores de nível, medidores de energia, hidrômetros, e
demais equipamentos ligados a prestação de serviços de monitoramento de
recursos hídricos.

Inscreva-se em nossos canais, como Youtube, LinkedIn, Facebook.

https://www.youtube.com/channel/UCj1BOaOQTuPMrTgPewSwgvw/featured

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Bibliografia
ABNT. (31 de 03 de 2006). 12.212 - Poço Tubular - Projeto de poço tubular para captação de águas
subterrâneas. São Paulo, SP.
ABNT. (31 de 02 de 2006). 12.244 - Poço tubular - Construção de poço tubular para captação de água
subterrânea. São Paulo, SP, BR.
Autores, V. (2006). Aguas subterrâneas e poços tubulares profundos. São Paulo: Signus Editora.
DAEE. (30 de 05 de 2017). Instrução Técnica DPO Nº 10. São Paulo, SP.
DAEE. (30 de 05 de 2017). Portaria DAEE nº 1.630. São Paulo, SP.
Rocha, G. A., & Jorba, A. F. (2007). Manual de Operação e manutenção de poços. São Paulo.

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