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Kollemata - Jurisprudência Registral e Notarial

Sérgio Jacomino, editor.

Cédula de crédito rural. Aval prestado por terceiro.


CSMSP - Apelação Cível: 1008514-22.2016.8.26.0047
Localidade: Assis Data de Julgamento: 16/03/2018 Data DJ: 07/05/2018
Relator: Geraldo Francisco Pinheiro Franco
Especialidades: Registro de Imóveis

REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro – Possibilidade –
Precedente do Eg. Conselho Superior da Magistratura que se mostra em consonância com a recente
jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça e do Eg. Superior Tribunal de Justiça – Art. 60, §§ 2º e 3º, do
Decreto 167/67 que vedam o aval, e outras garantias pessoais e reais, prestadas por terceiros em nota
promissória rural e em duplicata rural, salvo nas hipóteses expressamente autorizadas no referido artigo –
Recurso provido para julgar a dúvida inversa improcedente, com determinação de registro do título.

íntegra

PODER JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO – CONSELHO SUPERIOR


DA MAGISTRATURA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação nº 1008514-22.2016.8.26.0047, da Comarca de


Assis, em que é apelante LUIZ FERNANDO MOLINA MAX, é apelado OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS,
TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS DA COMARCA DE ASSIS.

ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "Deram provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em consequência, permitir o
registro do título, v.u", de conformidade com o voto do Relator, que integra este Acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PEREIRA CALÇAS (PRESIDENTE


TRIBUNAL DE JUSTIÇA) (Presidente), ARTUR MARQUES (VICE PRESIDENTE), XAVIER DE AQUINO
(DECANO), EVARISTO DOS SANTOS(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO), CAMPOS MELLO
(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO) E FERNANDO TORRES GARCIA(PRES. SEÇÃO DE DIREITO
CRIMINAL).

São Paulo, 16 de março de 2018.

PINHEIRO FRANCO
CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA E RELATOR

Apelação nº 1008514-22.2016.8.26.0047
Apelante: Luiz Fernando Molina Max
Apelado: Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas da
Comarca de Assis

Voto nº 37.281

REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro –


Possibilidade – Precedente do Eg. Conselho Superior da Magistratura que se mostra em
consonância com a recente jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça e do Eg. Superior Tribunal
de Justiça – Art. 60, §§ 2º e 3º, do Decreto 167/67 que vedam o aval, e outras garantias pessoais e
reais, prestadas por terceiros em nota promissória rural e em duplicata rural, salvo nas hipóteses
expressamente autorizadas no referido artigo – Recurso provido para julgar a dúvida inversa

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improcedente, com determinação de registro do título.

Trata-se de apelação interposta por Luiz Fernando Molina Max contra r. sentença que julgou procedente a
dúvida inversa e manteve a negativa do Sr. Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de
Pessoa Jurídica da Comarca de Assis em promover o registro da Cédula de Crédito Rural Pignoratícia nº
40/05724-0 por conter garantia prestada por pessoa diversa do emitente do título, consistente em aval.

O apelante alega, em suma, que a atual jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o art.
60 do Decreto-Lei nº 167/67, passou a admitir a validade do aval prestado em cédula de crédito rural
pignoratícia, interpretação que, segundo afirmou, deve nortear o julgamento da dúvida.

A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

A recusa do registro do título teve como fundamento o disposto no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67:

“Art. 60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, no que
forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensado porém o protesto
para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas.

§ 1º O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural não tem direito de
regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas.

§ 2º É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras pessoas jurídicas.

§ 3º Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas”.

Considerava-se, quando da suscitação da dúvida, que a nulidade prevista no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei nº


167/67 dizia respeito a todos os títulos de créditos referidos no caput do citado dispositivo.

Porém, em recente decisão este Col. Conselho Superior da Magistratura admitiu o registro de Cédula de
Crédito Rural Pignoratícia com aval, passando a entender que a nulidade prevista nos §§ 2º e 3º do art. 60 do
Decreto-Lei nº 167/67 somente alcança as garantias reais e pessoais prestadas por terceiros em Nota
Promissória Rural e em Duplicata Rural, exceto nas hipóteses autorizadas no referido artigo, como a seguir
se verifica:

"REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro –


Possibilidade – Inteligência do art. 60, § 3º, do Decreto 167/67, que faz referência ao art. 60, § 2º, do
mesmo Decreto – Harmonização do entendimento deste E. CSM com os entendimentos do E. STJ e
das Ínclitas Câmaras de Direito Privado desta Corte – Dúvida inversa improcedente – Recurso provido"
(CSM, Apel. Cível nº 1008819-06.2016.8.26.0047 da Comarca de Assis, Relator o Exmo. Des. Pereira
Calças, j. 21.11.2017).

Assim porque, conforme a fundamentação do referido v. acórdão:

"Como anotado em precedente de minha relatoria (Apelação n. 1000758-10.2016.8.26.0128),


prevalecia, no âmbito deste Egrégio Conselho Superior da Magistratura, o entendimento de que a
nulidade versada no § 3º seria alusiva às garantias prestadas em cédula de crédito rural, nota
promissória e duplicata rural, modalidades elencadas no caput. E era este, também, o

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posicionamento do E. STJ, que, todavia, reviu-o a partir de 2014, passando a decidir que o § 3º trata
de nulidades de garantias prestadas apenas nas hipóteses do § 2º (nota promissória rural e
duplicata rural).

É que a redação da norma em análise inicia com o advérbio “também” (“Também são nulas...”),
parecendo remeter às nulidades tratadas no § 2º" (CSM, Apel. Cível nº 1008819-06.2016.8.26.0047 da
Comarca de Assis, Relator o Exmo. Des. Pereira Calças).

Essa nova orientação tem amparo na jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça que, também
alterando seu antigo entendimento, passou a adotar interpretação restritiva para o § 3º do art. 60 do Decreto-
Lei nº 167/67 e a considerar que a nulidade nele prevista somente se aplica às garantias prestadas por
terceiros em Nota Promissória Rural e em Duplicata Rural, ressalvadas as hipótese em que essas garantias
são expressamente permitidas, previstas no mesmo artigo.

Colhe-se na jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXONERAÇÃO DE AVAL -


DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL A FIM DE DECLARAR
VÁLIDA A GARANTIA PRESTADA POR AVAL NA CÉDULA DE CRÉDITO RURAL.IRRESIGNAÇÃO DO
AUTOR.

1. "Admite-se o aval nas cédulas de crédito rural, pois a vedação contida no § 3º do art. 60 do
Decreto-Lei 167/1967 não alcança o referido título, sendo aplicável apenas às notas e duplicatas
rurais. Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do Superior Tribunal de Justiça." (Cf. AgRg no
AREsp 741.088/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2015,
DJe 23/10/2015) 2. Agravo interno desprovido" (AgInt no REsp 1638996/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 26/10/2017).

"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.


CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO FIXO COM REPASSE DO FINAME. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. DECRETO-LEI Nº 167/1967. NÃO INCIDÊNCIA.

1. Não viola o artigo 535 do Código de Processo Civil de 1973 nem importa negativa de prestação
jurisdicional o acórdão que adota, para a resolução da causa, fundamentação suficiente, porém
diversa da pretendida pelo recorrente, para decidir de modo integral a controvérsia posta.

2. Rever as conclusões do acórdão recorrido acerca da natureza do contrato demandaria o


reexame de cláusulas contratuais e de matéria fático-probatória, procedimentos inadmissíveis em
recurso especial, nos termos das Súmulas nºs 5 e 7/STJ, inclusive quanto ao alegado dissídio
interpretativo.

3. A jurisprudência desta Corte é consolidada no sentido de que a interpretação sistemática do art.


60 do Decreto-Lei nº 167/1967 permite inferir que a nulidade disposta no seu parágrafo 3º refere-se
diretamente ao parágrafo 2º, ou seja, não se dirige às cédulas de crédito rural, mas às notas e
duplicatas rurais.

4. Agravo interno não provido" (AgInt no AREsp 955.824/MS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 18/08/2017).

"ADMINISTRATIVO. DIREITO CIVIL. TÍTULOS DE CRÉDITO. FAZENDA NACIONAL.CÉDULA DE CRÉDITO


RURAL. GARANTIA. AVAL. VALIDADE. PRECEDENTES. SÚMULA 568/STJ. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.

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I. Recurso especial voltado contra acórdão que manteve a decisão de improcedência do pedido de
declaração de nulidade de aval prestado pelos autores em cédulas de crédito rural, sob o
entendimento de que a nulidade a que se refere o § 3º do art. 60 do Decreto-Lei n. 167/67 está
relacionada à previsão contida no § 2º do mesmo artigo, e não ao caput.

II. A nulidade do aval se dá apenas com relação às notas promissórias e às duplicatas rurais, não
se estendendo às cédulas de crédito rural.

III. A moderna jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no entendimento de ser


"válido o aval prestado por pessoa física nas cédulas de crédito rural, pois a vedação contida no §
3º do art. 60 do Decreto-Lei n. 167/67 não alcança o referido título, sendo aplicável apenas às notas
promissórias e duplicatas rurais. Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do Superior Tribunal de
Justiça". (AgRg no REsp 1557317/PR, Rel. Ministro Moura Ribeiro, terceira turma, julgado em
17/11/2015, DJe 19/11/2015).

IV. Recurso improvido" (AgInt no REsp 1365814/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 04/10/2016, DJe 20/10/2016).

O Col. Tribunal de Justiça de São Paulo, em igual sentido, decidiu pela inexistência de nulidade em aval
prestado por terceiro na cédula de crédito rural:

"PRELIMINAR – CERCEAMENTO DE DEFESA – Alegação de nulidade da r. sentença por falta de


prova pericial – Matéria discutida que depende de interpretação contratual - Desnecessária a
produção de outras provas – Presença dos elementos necessários ao julgamento antecipado da
lide – Preliminar afastada. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE AVAL
PRESTADO POR PESSOA FÍSICA ESTRANHA À PESSOA JURÍDICA – Não acolhimento – Vedação não
aplica à cédula de crédito rural pignoratícia, sendo, assim, válido o aval prestado por pessoa física
nas cédulas de crédito rural, uma vez que a vedação contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei nº
167/67 não alcança o referido título de crédito, sendo aplicável apenas às notas promissórias e
duplicatas rurais – Precedentes do E. STJ. CAPITALIZAÇÃO – Possibilidade – Súmula 93 do STJ.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – Impossibilidade de cobrança – JUROS REMUNERATÓRIOS –
Validade – Percentual avençado que não ultrapassa a 12% ao ano – ENCADEAMENTO DE
CONTRATOS – Ausência de verossimilhança das alegações – Alegação deduzida de forma genérica
– DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA – Não acolhimento – Encargos do período de normalidade que
não foram afastados – Precedente do E. STJ. Recurso parcialmente provido" (TJSP; Apelação
1002345-08.2016.8.26.0083; Relator (a): Roberto Mac Cracken; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Aguaí - Vara Única; Data do Julgamento: 23/11/2017; Data de Registro: 29/11/2017).

Ante o exposto, pelo meu voto dou provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em
consequência, permitir registro do título.

PINHEIRO FRANCO
Corregedor Geral da Justiça e Relator

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