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REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro – Possibilidade –
Precedente do Eg. Conselho Superior da Magistratura que se mostra em consonância com a recente
jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça e do Eg. Superior Tribunal de Justiça – Art. 60, §§ 2º e 3º, do
Decreto 167/67 que vedam o aval, e outras garantias pessoais e reais, prestadas por terceiros em nota
promissória rural e em duplicata rural, salvo nas hipóteses expressamente autorizadas no referido artigo –
Recurso provido para julgar a dúvida inversa improcedente, com determinação de registro do título.
íntegra
ACÓRDÃO
ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "Deram provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em consequência, permitir o
registro do título, v.u", de conformidade com o voto do Relator, que integra este Acórdão.
PINHEIRO FRANCO
CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA E RELATOR
Apelação nº 1008514-22.2016.8.26.0047
Apelante: Luiz Fernando Molina Max
Apelado: Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas da
Comarca de Assis
Voto nº 37.281
Trata-se de apelação interposta por Luiz Fernando Molina Max contra r. sentença que julgou procedente a
dúvida inversa e manteve a negativa do Sr. Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de
Pessoa Jurídica da Comarca de Assis em promover o registro da Cédula de Crédito Rural Pignoratícia nº
40/05724-0 por conter garantia prestada por pessoa diversa do emitente do título, consistente em aval.
O apelante alega, em suma, que a atual jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o art.
60 do Decreto-Lei nº 167/67, passou a admitir a validade do aval prestado em cédula de crédito rural
pignoratícia, interpretação que, segundo afirmou, deve nortear o julgamento da dúvida.
É o relatório.
A recusa do registro do título teve como fundamento o disposto no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67:
“Art. 60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, no que
forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensado porém o protesto
para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas.
§ 1º O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural não tem direito de
regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas.
§ 2º É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras pessoas jurídicas.
§ 3º Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas”.
Porém, em recente decisão este Col. Conselho Superior da Magistratura admitiu o registro de Cédula de
Crédito Rural Pignoratícia com aval, passando a entender que a nulidade prevista nos §§ 2º e 3º do art. 60 do
Decreto-Lei nº 167/67 somente alcança as garantias reais e pessoais prestadas por terceiros em Nota
Promissória Rural e em Duplicata Rural, exceto nas hipóteses autorizadas no referido artigo, como a seguir
se verifica:
posicionamento do E. STJ, que, todavia, reviu-o a partir de 2014, passando a decidir que o § 3º trata
de nulidades de garantias prestadas apenas nas hipóteses do § 2º (nota promissória rural e
duplicata rural).
É que a redação da norma em análise inicia com o advérbio “também” (“Também são nulas...”),
parecendo remeter às nulidades tratadas no § 2º" (CSM, Apel. Cível nº 1008819-06.2016.8.26.0047 da
Comarca de Assis, Relator o Exmo. Des. Pereira Calças).
Essa nova orientação tem amparo na jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça que, também
alterando seu antigo entendimento, passou a adotar interpretação restritiva para o § 3º do art. 60 do Decreto-
Lei nº 167/67 e a considerar que a nulidade nele prevista somente se aplica às garantias prestadas por
terceiros em Nota Promissória Rural e em Duplicata Rural, ressalvadas as hipótese em que essas garantias
são expressamente permitidas, previstas no mesmo artigo.
1. "Admite-se o aval nas cédulas de crédito rural, pois a vedação contida no § 3º do art. 60 do
Decreto-Lei 167/1967 não alcança o referido título, sendo aplicável apenas às notas e duplicatas
rurais. Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do Superior Tribunal de Justiça." (Cf. AgRg no
AREsp 741.088/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2015,
DJe 23/10/2015) 2. Agravo interno desprovido" (AgInt no REsp 1638996/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 26/10/2017).
1. Não viola o artigo 535 do Código de Processo Civil de 1973 nem importa negativa de prestação
jurisdicional o acórdão que adota, para a resolução da causa, fundamentação suficiente, porém
diversa da pretendida pelo recorrente, para decidir de modo integral a controvérsia posta.
4. Agravo interno não provido" (AgInt no AREsp 955.824/MS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 18/08/2017).
I. Recurso especial voltado contra acórdão que manteve a decisão de improcedência do pedido de
declaração de nulidade de aval prestado pelos autores em cédulas de crédito rural, sob o
entendimento de que a nulidade a que se refere o § 3º do art. 60 do Decreto-Lei n. 167/67 está
relacionada à previsão contida no § 2º do mesmo artigo, e não ao caput.
II. A nulidade do aval se dá apenas com relação às notas promissórias e às duplicatas rurais, não
se estendendo às cédulas de crédito rural.
IV. Recurso improvido" (AgInt no REsp 1365814/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 04/10/2016, DJe 20/10/2016).
O Col. Tribunal de Justiça de São Paulo, em igual sentido, decidiu pela inexistência de nulidade em aval
prestado por terceiro na cédula de crédito rural:
Ante o exposto, pelo meu voto dou provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em
consequência, permitir registro do título.
PINHEIRO FRANCO
Corregedor Geral da Justiça e Relator