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Kollemata - Jurisprudência Registral e Notarial

Sérgio Jacomino, editor.

Cédula de crédito rural - aval prestado por terceiro. Duplicata rural. Nota promissória rural.
CSMSP - Apelação Cível: 1000686-28.2016.8.26.0288
Localidade: Ituverava Data de Julgamento: 31/08/2018 Data DJ: 18/03/2019
Relator: Geraldo Francisco Pinheiro Franco
Jurisprudência: Procedente
Especialidades: Registro de Imóveis

REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro – Possibilidade –
Precedente do Eg. Conselho Superior da Magistratura que se mostra em consonância com a atual
jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça e do Eg. Superior Tribunal de Justiça – Art. 60, §§ 2º e 3º, do
Decreto-Lei 167/67 que vedam o aval, e outras garantias pessoais e reais, prestadas por terceiros em nota
promissória rural e em duplicata rural, salvo nas hipóteses expressamente autorizadas no referido artigo –
Recurso provido para julgar a dúvida improcedente.

íntegra

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO CONSELHO SUPERIOR DA


MAGISTRATURA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do(a) Apelação nº 1000686-28.2016.8.26.0288, da Comarca de


Ituverava, em que é apelante BANCO DO BRASIL, é apelado OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS E
ANEXOS DA COMARCA DE ITUVERAVA.

ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "Deram provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em consequência, permitir o
registro do título, v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este Acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PEREIRA CALÇAS (PRESIDENTE


TRIBUNAL DE JUSTIÇA) (Presidente), ARTUR MARQUES (VICE PRESIDENTE), DAMIÃO COGAN
(DECANO), EVARISTO DOS SANTOS(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO), CAMPOS MELLO
(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO) E FERNANDO TORRES GARCIA(PRES. SEÇÃO DE DIREITO
CRIMINAL).

São Paulo, 31 de agosto de 2018.

PINHEIRO FRANCO
CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA E RELATOR

Apelação nº 1000686-28.2016.8.26.0288
Apelante: Banco do Brasil
Apelado: Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de Ituverava

Voto nº 37.549

REGISTRO DE IMÓVEIS – CÉDULA DE CRÉDITO RURAL – Garantia prestada por terceiro – Possibilidade –
Precedente do Eg. Conselho Superior da Magistratura que se mostra em consonância com a atual

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jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça e do Eg. Superior Tribunal de Justiça – Art. 60, §§ 2º e 3º, do
Decreto-Lei 167/67 que vedam o aval, e outras garantias pessoais e reais, prestadas por terceiros em nota
promissória rural e em duplicata rural, salvo nas hipóteses expressamente autorizadas no referido artigo –
Recurso provido para julgar a dúvida improcedente.

Trata-se de apelação interposta pelo Banco do Brasil S.A. contra r. sentença que julgou procedente a dúvida
e manteve a negativa do Sr. Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica
da Comarca de Ituverava em promover o registro da Cédula de Crédito Rural Pignoratícia nº 40/02708-2 por
conter garantia prestada por pessoa diversa do emitente do título, consistente em aval.

O apelante alega, em suma, que a cédula de crédito rural representa a vontade das partes do negócio jurídico
e que a atual jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o art. 60 do Decreto-Lei 167/67,
passou a admitir a validade do aval prestado em cédula de crédito rural pignoratícia, interpretação que,
segundo afirmou, deve nortear o julgamento da dúvida (fls. 77/86). A douta Procuradoria Geral de Justiça
opinou pelo provimento do recurso (fls. 122/125).

É o relatório.

A recusa do registro do título teve como fundamento o disposto no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67:

“Art. 60. Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural e à duplicata rural, no
que forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval, dispensado porém o
protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus avalistas.

§ 1º O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural não tem direito
de regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas.

§ 2º É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas
pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras pessoas jurídicas.

§ 3º Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas
pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou por outras pessoas
jurídicas”.

Discute-se o alcance da nulidade prevista no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67 que, segundo anterior
interpretação, diria respeito a todos os títulos de créditos referidos no caput do citado dispositivo.

Porém, este Col. Conselho Superior da Magistratura alterou sua antiga orientação para admitir o registro de
Cédula de Crédito Rural Pignoratícia com aval, passando a entender que a nulidade prevista nos §§ 2º e 3º do
art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 somente alcança as garantias reais e pessoais prestadas por terceiros em
Nota Promissória Rural e em Duplicata Rural, exceto nas hipóteses autorizadas no referido artigo, como a
seguir se verifica:

"REGISTRO DE IMÓVEIS - CÉDULA DE CRÉDITO RURAL - Garantia prestada por terceiro -


Possibilidade - Inteligência do art. 60, § 3º, do Decreto 167/67, que faz referência ao art. 60, §
2º, do mesmo Decreto - Harmonização do entendimento deste E. CSM com os entendimentos
do E. STJ e das Ínclitas Câmaras de Direito Privado desta Corte Dúvida inversa improcedente
Recurso provido" (CSM, Apel. Cível nº 1008819-06.2016.8.26.0047da Comarca de Assis,
Relator o Exmo. Des. Pereira Calças, j. 21/11/2017).

Assim porque, conforme a fundamentação do referido v. acórdão:

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"Como anotado em precedente de minha relatoria (Apelação n. 1000758-10.2016.8.26.0128),


prevalecia, no âmbito deste Egrégio Conselho Superior da Magistratura, o entendimento de que
a nulidade versada no § 3º seria alusiva às garantias prestadas em cédula de crédito rural, nota
promissória e duplicata rural, modalidades elencadas no caput. E era este, também, o
posicionamento do E. STJ, que, todavia, reviu-o a partir de 2014, passando a decidir que o § 3º
trata de nulidades de garantias prestadas apenas nas hipóteses do § 2º (nota promissória rural
e duplicata rural).

É que a redação da norma em análise inicia com o advérbio “também” (“Também são nulas...”), parecendo
remeter às nulidades tratadas no § 2º" (CSM, Apel. Cível nº 1008819-06.2016.8.26.0047 da Comarca de
Assis, Relator o Exmo. Des. Pereira Calças).

Essa nova orientação tem amparo na jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça que, também
alterando seu antigo entendimento, passou a adotar interpretação restritiva para o § 3º do art. 60 do Decreto-
Lei nº 167/1967 e a considerar que a nulidade nele prevista somente se aplica às garantias prestadas por
terceiros em Nota Promissória Rural e em Duplicata Rural, ressalvadas as hipótese em que essas garantias
são expressamente permitidas, previstas no mesmo artigo.

Colhe-se na jurisprudência do Eg. Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXONERAÇÃO


DE AVAL - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL A
FIM DE DECLARAR VÁLIDA A GARANTIA PRESTADA POR AVAL NA CÉDULA DE CRÉDITO
RURAL. IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR.

1. "Admite-se o aval nas cédulas de crédito rural, pois a vedação contida no § 3º do art. 60 do
Decreto-Lei 167/1967 não alcança o referido título, sendo aplicável apenas às notas e
duplicatas rurais. Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do Superior Tribunal de Justiça."
(Cf. AgRg no AREsp 741.088/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 20/10/2015, DJe 23/10/2015) 2. Agravo interno desprovido" (AgInt no REsp
1638996/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe
26/10/2017);

"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-


EXECUTIVIDADE. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO FIXO COM REPASSE DO
FINAME. NEGATIVA DE PRESTAÇÃOJURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. DECRETO-LEI Nº
167/1967. NÃO INCIDÊNCIA.

1. Não viola o artigo 535 do Código de Processo Civil de 1973 nem importa negativa de
prestação jurisdicional o acórdão que adota, para a resolução da causa, fundamentação
suficiente, porém diversa da pretendida pelo recorrente, para decidir de modo integral a
controvérsia posta.

2. Rever as conclusões do acórdão recorrido acerca da natureza do contrato demandaria o


reexame de cláusulas contratuais e de matéria fático-probatória, procedimentos inadmissíveis
em recurso especial, nos termos das Súmulas nºs 5 e 7/STJ, inclusive quanto ao alegado
dissídio interpretativo.

3. A jurisprudência desta Corte é consolidada no sentido de que a interpretação sistemática do


art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 permite inferir que a nulidade disposta no seu parágrafo 3º
refere-se diretamente ao parágrafo 2º, ou seja, não se dirige às cédulas de crédito rural, mas às

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notas e duplicatas rurais.

4. Agravo interno não provido" (AgInt no AREsp 955.824/MS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 18/08/2017);

"ADMINISTRATIVO. DIREITO CIVIL. TÍTULOS DE CRÉDITO. FAZENDA NACIONAL. CÉDULA


DE CRÉDITO RURAL. GARANTIA. AVAL. VALIDADE. PRECEDENTES. SÚMULA 568/STJ.
AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. I. Recurso especial voltado contra acórdão que manteve a
decisão de improcedência do pedido de declaração de nulidade de aval prestado pelos autores
em cédulas de crédito rural, sob o entendimento de que a nulidade a que se refere o § 3º do art.
60 do Decreto-Lei 167/67 está relacionada à previsão contida no § 2º do mesmo artigo, e não
ao caput.

II. A nulidade do aval se dá apenas com relação às notas promissórias e às duplicatas rurais,
não se estendendo às cédulas de crédito rural.

III. A moderna jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no entendimento de ser


"válido o aval prestado por pessoa física nas cédulas de crédito rural, pois a vedação contida no
§ 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/67 não alcança o referido título, sendo aplicável apenas às
notas promissórias e duplicatas rurais.

Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do Superior Tribunal de Justiça". (AgRg no REsp
1557317/PR, Rel. Ministro Moura Ribeiro, terceira turma, julgado em 17/11/2015, DJe
19/11/2015).

IV. Recurso improvido" (AgInt no REsp 1365814/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/10/2016, DJe 20/10/2016).

O Col. Tribunal de Justiça de São Paulo, em igual sentido, decidiu pela inexistência de nulidade em aval
prestado por terceiro na cédula de crédito rural:

"PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA - Alegação de nulidade da r. sentença por falta


de prova pericial - Matéria discutida que depende de interpretação contratual - Desnecessária a
produção de outras provas - Presença dos elementos necessários ao julgamento antecipado da
lide - Preliminar afastada. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL - ALEGAÇÃO DE NULIDADE DE
AVAL PRESTADO POR PESSOA FÍSICA ESTRANHA À PESSOA JURÍDICA - Não acolhimento
- Vedação não aplica à cédula de crédito rural pignoratícia, sendo, assim, válido o aval prestado
por pessoa física nas cédulas de crédito rural, uma vez que a vedação contida no § 3º do art.
60 do Decreto-Lei 167/67 não alcança o referido título de crédito, sendo aplicável apenas às
notas promissórias e duplicatas rurais - Precedentes do E. STJ.

CAPITALIZAÇÃO - Possibilidade - Súmula 93 do STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA -


Impossibilidade de cobrança - JUROS REMUNERATÓRIOS - Validade - Percentual avençado
que não ultrapassa a 12% ao ano - ENCADEAMENTO DE CONTRATOS - Ausência de
verossimilhança das alegações - Alegação deduzida de forma genérica -
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA - Não acolhimento - Encargos do período de normalidade
que não foram afastados - Precedente do E. STJ. Recurso parcialmente provido" (TJSP;
Apelação 1002345-08.2016.8.26.0083; Relator (a): Roberto Mac Cracken; Órgão Julgador: 22ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Aguaí - Vara Única; Data do Julgamento: 23/11/2017; Data
de Registro: 29/11/2017).

Ante o exposto, pelo meu voto dou provimento ao recurso para julgar a dúvida improcedente e, em

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consequência, permitir o registro do título.

PINHEIRO FRANCO
Corregedor Geral da Justiça e Relator

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