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da-morte-de-jesus-cristo.html

A necessidade da morte de Jesus Cristo

Responda rápido: Por que Jesus Cristo necessitou morrer pela humanidade?
Jesus,estava na terra, sem morrer, já perdoava pecados. Logo não precisava morrer para perdoar
pecados. Em Mateus 9, 6 diz: - Mas para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra
autoridade para perdoar pecados" – E aí ?

À primeira vista, a pergunta é boba e a resposta é simples. Os evangelhos e mais


todo o Novo Testamento nos expõem a razão de maneira clara e repetidas vezes.
Em suma, todos nós somos pecadores. A consequência de ser pecador é a morte.
Portanto, para oferecer ao ser humano o perdão dos pecados e a salvação, Cristo
precisava se tornar humano como nós e assumir a consequência máxima dos
nossos pecados: a morte. Sua morte era o único jeito de nos livrar de nossa
condenação. 

A explicação acima é a resposta padrão e todo o cristão minimamente


comprometido com sua fé sabe expô-la mais ou menos nesses termos. No entanto
(e é aqui que a coisa começa a complicar), quando nos aprofundamos na
pergunta, esta resposta simples e rápida já não é suficiente para satisfazer a
questão. Dizemos que Jesus necessitou morrer pela humanidade para nos perdoar
e dar a vida eterna, certo? Mas por quê? Deus não poderia simplesmente oferecer
o seu perdão, sem qualquer sacrifício? Por que um justo precisava morrer para
que esse perdão fosse dado aos homens? Por que o simples ato de cada
indivíduo pedir perdão a Deus não seria suficiente para ser perdoado? Qual é a
necessidade da morte de Jesus nessa equação toda? 

Quando paramos para pensar nessas perguntas, o sacrifício de Jesus pode


parecer um tanto sem sentido. Não pedimos o sacrifício de alguém para perdoar
uma pessoa, não é verdade? Simplesmente perdoamos. E é o que a própria Bíblia
nos ensina. Então, por que seria necessário o sacrifício de Jesus? Por que Deus
apenas não nos perdoou e esqueceu tudo, sem problemas?

Tais perguntas não são apenas pertinentes, mas imprescindíveis. Apenas uma
resposta plausível a cada uma delas é capaz de dar sentido lógico ao cristianismo
e demonstrar que Jesus foi bem mais que um simples homem bom. A necessidade
da morte de Cristo, alegada pelos cristãos, é o âmago do Evangelho e de todas as
doutrinas cristãs. Destrua essa necessidade e todo o cristianismo ruirá. Mas
quantos cristãos estão preparados para dar essa resposta racional? Quantos
estão cumprindo a exortação do apóstolo Pedro em sua primeira epístola?
“Estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir a razão
da esperança que há em vós” (I Pedro 3:15). 

O objetivo desse texto, portanto, é oferecer esta resposta racional, demonstrando


ainda a importância da questão e como ela é a base para as doutrinas mais
importantes do cristianismo, como a divindade de Cristo e a triunidade de Deus.
Vamos começar.

O Dilema de Deus

Para entender a necessidade da morte de Cristo, precisamos ter em mente que


Deus apresenta duas funções em relação ao julgamento de nossos pecados: a de
Pai, no sentido de ser nosso Criador e Mantenedor, e a de Juiz do Universo, no
sentido de ter que zelar por um padrão de justiça imutável. Em suma, Deus é Pai,
mas também é Juiz. 

Nossos pecados, por sua vez, afetam as duas esferas: a esfera relacional (isto é,
nossa relação com o Pai) e a esfera jurídica (isto é, nossa relação com a justiça
moral). Isso é regra. Qualquer pecado que cometamos, sempre será um pecado
contra Deus e contra a Justiça moral. Assim, quando uma pessoa comete um
pecado ela precisa acertar contas com Deus e com a Justiça, os dois ofendidos. 

Ora, para Deus é fácil nos conceder perdão relacional. Este perdão não requer
qualquer pagamento ou punição pela ofensa. Requer apenas boa vontade do
ofendido em perdoar o ofensor. É um perdão que tem a ver simplesmente com o
restabelecimento de uma relação de amor entre ofensor e ofendido. Envolve a
postura do ofendido de “esquecer” o pecado do ofensor, de não mais acusá-lo pela
falta. Esse, portanto, é o perdão de Deus como Pai. É o perdão que restaura uma
relação quebrada. Mas, como eu disse, Deus não é só Pai. Ele também é Juiz. É
aqui que a coisa complica. 

Como Juiz, Deus não pode simplesmente absolver o homem de seu pecado sem
ressarcir a Justiça pela ofensa do pecador. Lembre-se: quando nós pecamos,
pecamos contra Deus e contra a Justiça. E a Justiça sempre requer o pagamento
pela ofensa cometida contra ela. E o Juiz do Universo precisa ser justo. Aqui
temos um aparente dilema: ou Deus age como Pai amoroso e Juiz injusto, ou
Deus age como Juiz justo e Pai cruel. E então? Amar o filho ou punir o criminoso?
O que Deus deveria fazer? Esse é o dilema de Deus causado pelo pecado do
homem.

A analogia do pai-delegado

Para entender melhor o dilema em que o pecado do ser humano colocou Deus,
vamos imaginar uma situação hipotética. Um delegado recebe em sua delegacia
seu próprio filho, que fora pego cometendo alguma infração civil. A infração é leve.
O filho pode ser liberto mediante o pagamento de uma fiança. Mas o filho é um
vagabundo e não possui meios para efetuar o pagamento. Ele assim é conduzido
para cela, enquanto o pai-delegado resolve o que vai fazer com o rapaz. 

Agora, reflita na situação do pai. Como pai, ele pode facilmente conceder o perdão
relacional ao filho, absolvendo-o pela ofensa pessoal. Já vimos que este perdão
não pede qualquer preço ou punição. Mas, como delegado, esse homem precisa
acertar as contas do jovem com a Justiça (neste caso, a Justiça Civil/Penal). O
delegado não pode simplesmente absolver seu filho, pois estaria sendo parcial e
injusto. A Justiça requer um pagamento pela infração do rapaz. E ele, como
delegado, não pode fugir a essa obrigação.

Como o pai-delegado pode livrar o filho da prisão, sem incorrer em injustiça? O


que ele faz nessa situação? Só há uma resposta que não incorre em injustiça ou
desamor: o pai paga a fiança do filho com seu próprio dinheiro, perdoando o rapaz
de modo relacional e jurídico. O pagamento da fiança feito pelo pai-delegado
absolve o filho-réu por completo, sem transgredir a Justiça.

O que Deus faz é exatamente a mesma coisa. Para agir corretamente como Pai e
como Juiz, Ele resolve efetuar o pagamento que a Justiça requer pelo pecado do
homem no lugar do próprio homem, a fim de que o mesmo tivesse a chance de ser
perdoado não apenas na esfera relacional, mas na esfera da justiça moral. 

Então, entendemos que para o homem acertar as contas com a Justiça, alguém
deveria pagar o preço da ofensa que fora cometida contra ela. Esse alguém só
poderia ser o próprio pecador ou o próprio ofendido – ou o homem, ou Deus. Uma
vez que o preço do pecado é a morte do pecador, então o preço a ser pago por
Deus em lugar do pecador só poderia ser a sua própria morte. 

A Justiça como atributo de Deus

A questão que talvez seja levantada aqui é: como podemos provar que a Justiça
aceita que outra pessoa morra em lugar do pecador? Não parece algo justo. Se eu
cometo um pecado, eu é que preciso pagar por ele e não alguém inocente, não é
mesmo? Como resolver este problema?

É aqui que devemos lembrar que a Justiça Moral da qual estamos falando não é
algo independente de Deus. A Justiça é um atributo do próprio Deus. É uma
característica intrínseca a Ele. A justiça faz parte da própria essência de Deus. 

Quando nós entendemos isso, conseguimos visualizar que Deus é o único ser
ofendido dessa história toda. Ele precisa agir em coerência com a Justiça não
porque ela seja outro ser distinto dele e a quem deve explicações, mas porque ela
é um atributo inerente a Ele. Deus não pode contradizer a sua própria essência.
Se a Justiça é parte de Deus, Deus não pode, nem tem como agir de modo injusto.
Sua posição de Justo Juiz é absolutamente imutável. A Justiça, de fato, é ofendida
quando pecamos (e deve ser ressarcida), mas ela é ofendida como atributo de
Deus e não como um ser distinto. Deus é o único ser ofendido aqui.

E daí? Aonde isso nos leva? Aqui faço uma citação de C. S. Lewis que irá nos
ajudar. O famoso escritor britânico afirma em sua obra “Cristianismo Puro e
Simples”, num dos seus trechos mais célebres, que apenas o ofendido pode
perdoar o ofensor. Diz o trecho: 

Compreendemos que um homem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo.


Você pisa no meu pé, ou rouba meu dinheiro, e eu o perdoo. O que diríamos, no
entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão
dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Presunção asinina é a
descrição mais gentil que podemos dar da sua conduta.        

Trazendo para o nosso caso, Deus, como sendo o Ser ofendido pelos pecados do
homem, é o único que pode dar a eles o perdão. E, se o perdão completo depende
do pagamento de um preço (a fim de que a Justiça seja ressarcida e Deus
permaneça sendo perfeito Juiz), então Ele é o único que pode pagar este preço.

Talvez o leitor ache estranha essa equação: o ofendido paga o preço pela ofensa
cometida contra si. Mas isso ocorre bastante entre humanos. Apresentei o
exemplo do pai-delegado que paga a fiança do filho-réu, um exemplo que talvez
não seja possível em nossa sociedade por uma questão de ética. Mas é bem
rotineiro que pais comuns paguem a fiança de seus filhos infratores para que eles
recebam liberdade. Também é comum que pais paguem um bom advogado para
que seus filhos sejam absolvidos em julgamentos. Nestes casos, os pais estão
pagando o preço por ofensas que foram cometidas contra eles mesmos. Quando
cometemos uma infração civil, ofendemos a nossos pais, que sempre nos
ensinaram a sermos justos. Os primeiros a serem atingidos por um crime são
sempre os pais do criminoso (quando são pais de caráter, é claro).

O conceito de punição moral

Alguém poderia objetar que mesmo Deus sendo o ser ofendido, isso não daria a
Ele o direito, dentro da justiça moral, de livrar o ser humano da
punição/consequência pelo pecado. Uma pessoa com quem já debati afirmou que
justiça se traduz em punição ao autor do ato criminoso. Desta forma, ninguém
poderia tomar o lugar do homem na morte. Mas esta objeção se baseia em
definições falsas de punição e justiça. Vamos entender melhor.

No nível moral, a punição não é um instrumento cujo objetivo é causar sofrimento,


dor, angústia, tristeza e privação a um criminoso, buscando uma intensa sensação
de prazer vingativo em ver o criminoso ser torturado. Não. A punição moral tem
dois outros objetivos bem mais nobres e úteis que este: valorar negativamente o
ato criminoso cometido (isto é, ressaltar que o ato cometido foi um erro) e gerar no
criminoso uma postura de arrependimento genuíno que implique na abstenção do
crime.

Em suma, para que a justiça seja feita no âmbito moral, a punição pelo ato precisa
ressaltar negativamente o pecado e gerar arrependimento no pecador. E o
sacrifício de Cristo se enquadra nisso? Perfeitamente. Quando Jesus assume a
punição em lugar do ser humano por causa do pecado, ele ressalta sobremaneira
a odiosidade do mesmo e o quanto ele precisa ser extirpado do ser humano; bem
como oferece ao homem o perdão se o mesmo reconhecer essa odiosidade,
arrepender-se e aceitar o seu sacrifício vicário como o único modo de ser salvo da
morte. 

Como o leitor pode perceber, aqueles que aceitam a Cristo, não podem ser
condenados enquanto estiverem em Cristo. O sacrifício vicário de Jesus em suas
vidas preenche os dois requisitos solicitados pela justiça, não restando nada que
se possa falar contra a salvação dos mesmos.

Resumo da Ópera

Portanto, o sacrifício de Cristo era necessário porque, embora Deus pudesse nos
perdoar facilmente como Pai, restabelecendo nosso relacionamento sem cobrar
qualquer punição por isso, Ele não poderia fazer o mesmo como Juiz. Como Juiz,
Deus precisava agir de acordo com o seu atributo intrínseco da Justiça. Ainda que
se cogite que Deus possa agir em desacordo com um atributo que lhe é intrínseco,
se Ele o fizesse seria acusado seriamente por Satanás como um Juiz parcial,
injusto, condescendente com o pecado, quebrador de regras. Deus se encontrava
na mesma situação de nosso pai-delegado, que não poderia simplesmente soltar o
filho, sem que a pena devida fosse cumprida. Assim, para manter-se Justo e, ao
mesmo tempo, Pai amoroso, Deus resolve assumir a punição em lugar dos
homens, ressaltando o caráter odioso do pecado e instigando o ser humano a se
arrepender. Um plano perfeito.

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