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“Analyser” (Jean Molino, “Analyse Musicale” no 16.

Revista da Sociedade

Francesa de Análise Musical, junho/1989)

. Tomamos consciência da continuidade e da ruptura que existem entre a

música e a análise: há uma experiência irredutível da música, mas esta

experiência é carregada de simbólico, o que assegura a passagem natural da

experiência ao discurso; a análise rompe com a experiência mas ao mesmo

tempo ela a prolonga, a análise é a música continuada através de outros

meios.

. Até uma época recente, as análises eram guiadas por uma finalidade externa:

para ensinar a melhor escutar, a melhor tocar, e sobretudo a melhor compor.

. Atualmente: análise como domínio autônomo, que não substitui os antigos

estilos de análise; apenas desloca tais estilos.

. “Todo método de análise consiste na ordenação e disposição dos objetos

sobre os quais é preciso voltar o olhar do espírito, para descobrir alguma

verdade. E nós observamos fielmente se reduzimos por etapas as proposições

complexas e obscuras a proposições mais simples, e em seguida, partindo da

intuição das coisas mais simples, nós tentamos nos elevar, pelas mesmas

etapas, ao conhecimento de todas as outras”. (Descartes)

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Esse método pode ser resumido em três princípios: divisão, simplificação e

enumeração. O analista isola arbitrariamente um objeto do contexto infinito no

qual ele se insere; procura as unidades, das quais faz um inventário; tenta

construir um modelo de objeto graças a essas unidades e suas regras de

combinação.

. Um objeto musical, como todo objeto simbólico, tem uma tríplice dimensão

de existência: ele existe como resultado de uma estratégia de produção; como

objeto presente no mundo, independente de suas origens ou de suas funções;

ele existe enfim com fonte de uma estratégia de recepção.

. As análises musicais são diversas segundo sua finalidade, seu objeto e seu

método. No entanto as análises buscam uma síntese última, que atinge a

modelização do objeto na sua totalidade.

Finalidade: Como isso é feito? Como o produtor do objeto o fabricou? Como

o receptor faz para ouvir uma obra interpretada?

Objeto: fragmento de obra, obra isolada, conjunto de obras; ou ainda

diferentes parâmetros de sua organização (melodia, harmonia, ritmo, etc.).

Método: análise schenkeriana, teoria de conjuntos, etc..

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. As análises que diferem segundo sua finalidade e seu objeto são

compatíveis?

Obs.: Articular os resultados, respeitando a diversidade, e ater-se às transições

que fazem passar de uma finalidade a outra, de um objeto ou parâmetro a

outro.

. As análises que têm a mesma finalidade e o mesmo objeto mas que, a partir

de métodos diferentes, conduzem a resultados incompatíveis, são todas

verdadeiras ou é possível privilegiar uma delas porque é a única verdadeira?

Obs.: O sentido depende do contexto, e este é indefinidamente extensível.

Quando dois analistas estudam com a mesma finalidade, o mesmo objeto, mas

empregando métodos distintos, eles não estudam exatamente o mesmo objeto.

Eles recortam o objeto de formas diferentes e lançam mão de aspectos

parcialmente distintos do contexto num sentido amplo. Além disso um objeto

pode ser ambíguo, como pode ocorrer a obras produzidas em momentos de

transição entre dois sistemas musicais.

. Uma nova via se abre – a da comparação entre as análises. A diversidade das

análises é o ponto de partida de um novo trabalho, de uma nova e apaixonante

construção simbólica.

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