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Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela
revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais).
Conselho editorial: Marco Trindade, Marcelo Bizar, Silvio Silva, Ana Cristina e
Leonardo Bruno
Contato: sarausuburbio@gmail.com
EDITORIAL
Tudo que nós sonhamos neste momento é com a volta das aglomerações.
Que saudade daquela gelada em nosso boteco preferido, quanto tempo sem
curtir aquela roda de Samba maneira, sem falar naquela praiazinha bacana, no
teatro, no cinema, no centro cultural, enfim, em todos aqueles espaços que
alimentam a nossa alma e nos dão força para seguirmos nosso caminho, irmanados
com os nossos afins.
Enquanto não chega o remédio, pra curar o nosso tédio, comemoramos nesta
edição o dia do feirante, 25 de agosto.
A feira é um espaço sagrado do subúrbio, amplamente cantado em verso e
prosa, lugar de troca de afeto, de gente trabalhadora, de riqueza cultural, quantos
sambistas foram também feirantes?! Um montão.
Parabéns a todas e todos que se dedicam a tão importante profissão, um
salve para os feirantes da nossa cidade!
Fiquem com o nosso cancioneiro popular, onde é possível sentir um
pouquinho o clima das feiras livres.
Boa leitura!
O P E DI DO Ah! Pois sim, vê se não esquece
(Elomar) D'inda nessa lua cheia
Nós vai brincar na quermesse
Já que tu vai lá pra feira Lá no riacho d'areia
Traga de lá para mim Na casa daquele homem,
Água da fulô que cheira, Feiticeiro curador
Um novelo e um carrim O dia inteiro é homem
Traz um pacote de miss Filho de Nosso Senhor
Meu amigo Ah! Se tu visse Mas dispois da meia noite
Aquele cego cantador É lobisomem comedor
Um dia ele me disse Dos pagão que as mãe esqueceu
Jogando um mote de amor Do Batismo salvador
Que eu havera de viver E tem mais dois garrafão
Por este mundo e morrer Com dois canguim responsador
Ainda em flor Ah! Pois sim vê se não esquece
Passa naquela barraca De trazê ruge e carmim
Daquela mulé resera Ah! Se o dinheiro desse
Onde almoçamo paca, Eu queria um trancelim
Panelada e frigideira E mais três metros de chita
Inté você disse uma loa Que é pra eu fazê um vestido
Gabando a bóia boa E ficar bem mais bonita
Das casas da cidade Que Madô de Juca Dido,
Aquela era a primeira Zefa de Nhô Joaquim
Traz pra mim umas brevidades Já que tu vai lá pra feira
Que eu quero matar a saudade Meu amigo, tras essas coisinhas
Faz tempo que eu fui na feira Para mim
Ai saudade...
SUMÁRIO
02 - EXPEDIENTE
03 - EDITORIAL
04 - SUMÁRIO
05 - ESCREVA CARTAS!
06 - O LOBISOMEM DO ANDARAÍ E O LOBISOMEM DE VILA ROSALI
09 - VASSOURINHA: A MAIS CURTA CARREIRA DE UM CANTOR
10 - À DEUSA DE NILÓPOLIS
11 - O RACISMO II
12 - PASSADO, PRAÇA E PAI
13 - ESSA MOÇA NÃO É BOBEIRA NÃO
14 - LEVA NA FÉ
16 - ROSANE
17 - O VOO
18 - POIS É, CANDEIA! SEU SAMBA: MEU PRAZER
21 - ESTANTE SUBURBANA
22 - VITROLINHA SUBURBANA
23 - UM LUGAR NO SUBÚRBIO
25 - LENTES SUBURBANAS
26 - TEXTO SEM TÍTULO
27 - ENCONTRO COM OS AMIGOS (ANTES DA PANDEMIA DE 2020)
29 - PARABÉNS AOS FEIRANTES PELO SEU DIA
31 - OS GIGANTES DO SUBÚRBIO
32 - CONFISSÕES PANDÊMICAS
34 - PLUMITIVOS, POETAS E PENSADORES DOS ARRABALDES - PERSONA 1:
GUIATADIM ABU FATE OMAR IBNE IBRAIM KHAYYAM DE NIXAPUR
37 - QUEREMOS OS NOSSOS CINEMAS DE VOLTA
39 - RICARDO DE ALBUQUERQUE BLUES
40 - DA SÉRIE: "JUSTIÇA É PARA TODOS"
41 - POUCAS VELAS PARA MUITOS DARIOS
43 - ARTISTA POR NATUREZA
44 - NA HORA DA XEPA
45 - BLOG DO TIZIU
ESCREVA CARTAS!
Escreva cartas!
Cartas de amor fraterno. Amor à vida. Amor a Deus.
Escreva cartas!
Cartas de incentivo ao projeto do outro.
Aos sonhos do outro.
Às escolhas e estilos do outro.
Escreva cartas!
Cartas que falem de compreensão e de perdão.
De experiências vividas e assistidas.
Escreva cartas!
Para que o outro não se sinta rejeitado, solitário, desprezado.
Escreva cartas!
Porque em algum lugar alguém a receberá e se identificará
e saberá que é importante,
porque é ser humano como você.
Com erros e acertos.
Escreva cartas!
E d n a C o i mb ra
LENDAS SUBURBANAS
Você que ainda compra o jornal na banca ou na padaria, como é o meu caso,
imagine abrir a edição de domingo e se deparar com a notícia de que um lobisomem
anda rondando sua vizinhança, atacando pessoas e animais domésticos e que os
seus vizinhos estão se organizando para caçar o bicho.
Parece coisa de filme de terror, mas é mais ou menos o que aconteceu lá
pelas décadas de 1950 e 1970. Durante a pesquisa para a coluna anterior, sobre os
fantasmas que habitam o Túnel Rebouças, encontrei essas pérolas do jornalismo
carioca e fluminense. Sem enrolar muito, vou contar para vocês o que andei lendo
em jornais publicados na época.
No dia 26 de março de 1957, uma terça-feira, o jornal Última Hora tinha em
sua página 6 a seguinte notícia: Monstro misterioso ataca no Andaraí. Segundo a
reportagem, o tal animal estranho teria matado vários porcos, patos, galinhas e
carneiros. O bicho, segundo uma testemunha, era grande, peludo e uivava. Além
disso, pegadas fundas, indicando um animal pesado, foram encontradas no local do
ataque. A testemunha, segundo a reportagem um “rapazola” residente no Andaraí,
teria escutado um barulho durante a madrugada no quintal do vizinho, na Rua
Leopoldo, e foi checar. Viu o bicho, voltou para a cama e ficou com a cabeça coberta
até o dia raiar. Levantou e foi contar aos vizinhos o que tinha visto de madrugada.
A reportagem também descreve os animais mortos, encontrados com marcas
de presas e sem sangue. Como a polícia não tinha tomado nenhuma providência, os
próprios moradores resolveram se organizar. Montaram uma “Polícia de Vigilância”,
o que significa que se armaram com paus, pedras, peixeiras e revólveres e
planejaram uma emboscada na madrugada seguinte. Um cabrito seria amarrado
em uma árvore como isca e, assim que o bicho atacasse, a “Polícia” entraria em
cena, para “deitar-lhe sova até matar”.
Vasculhei as edições posteriores, doido para saber o final dessa história, mas
não achei nada. Provavelmente os homens descobriram que o responsável pelos
ataques não era nenhum ser sobrenatural. A própria reportagem menciona que os
animais podiam ter sido atacados por uma onça.
Caso bem diferente aconteceu em São João de Meriti, mais especificamente
em Vila Rosali. O lobisomem noticiado virou figurinha fácil. A primeira menção foi
encontrada na edição de 30 de setembro de 1971 do jornal Luta Democrática, de
Tenório Cavalcante. Ao contrário do jornal anterior, essa estava em destaque na
primeira página com o título “Lobisomem ataca e mata”.
O animal, descrito como parecido com um cachorro e do tamanho de um
bezerro, estaria atacando animais de pequeno porte, como cachorros e cabritos,
encontrados sem sangue nas imediações do cemitério.
Outra diferença nesse caso é a quantidade de testemunhas. Uma dona de
casa disse ter visto o bicho na sua porta. Outras duas pessoas, um motorista e seu
irmão, contaram ter dado vários tiros no bicho, que correu para dentro do cemitério
e sumiu. De um jeito ou de outro, o final dessa reportagem é parecido com a
anterior: um grupo de moradores armados combinou uma ronda pelas madrugadas
de sexta-feira.
O lobisomem apareceria mais vezes nas páginas do jornal. E, quanto mais
aparecia, mais a história ia ficando interessante. Na edição de 1º de outubro de
1971, moradores do Bicão, área onde o bicho apareceu, disseram que o local
sempre foi assombrado. Contaram a história de um tropel misterioso de cavalos que
assustava os moradores sem que nenhum cavalo fosse visto. Segundo moradores
mais velhos, o lugar tinha sido uma fazenda onde um padre se enforcou no passado.
O lobisomem, para alguns, era o fantasma sem cabeça do falecido padre. Em dois
de outubro, a notícia era a de que um mudo tinha falado depois de ver o lobisomem.
A polícia já tinha destacado um grupo para acompanhar os ataques do lobisomem
A edição que cobria os dias 3 e 4 trazia na primeira página o que parecia ser o
clímax da história: “Lobisomem acuado no cemitério”. Mas era só pra fazer o povo
comprar o jornal. A reportagem fala pouco da ação do grupo que saiu para caçar o
lobisomem. Quase metade da reportagem foi usada para relembrar as notícias das
reportagens anteriores.
Em cinco de outubro, o jornal fala da primeira vítima. Um homem foi baleado
na “Toca do Lobisomem”. O baleado em questão, morador bem quisto pela
vizinhança, se aventurou pelo caminho próximo ao cemitério em plena madrugada e
levou um tiro.
Na edição dos dias 10/11 de outubro, uma nota mostrava bem o que é o
Brasil. A pedido de um vereador, a Câmara Municipal de Meriti designou uma
comissão para investigar o caso. Em 14 de outubro, um homem é apontado como O
Lobisomem de Vila Rosali. A foto do coitado, um ex-administrador de cemitério e
agora coveiro do campo santo, até foi publicada na primeira página do jornal. O
homem morava em uma casa nos fundos do cemitério e chegou a ser interrogado
pela tal comissão de inquérito criada pela prefeitura. No fim da reportagem ficamos
sabendo que, o local onde o acusado morava seria demolido pela Rede Ferroviária
Federal, pois em breve um ramal de trens elétricos passaria pelo local.
No dia seguinte, o coveiro comparece ao distrito, explicando que costumava
andar pelo cemitério de noite e de madrugada, mas que estava apenas cuidando do
lugar. Dois policiais, sendo um deles o próprio delegado, chegaram a fugir da
delegacia quando avisaram que o “Lobisomem” estava no local.
Em 16 de outubro o jornal publica uma entrevista com o coveiro que jura
inocência e se diz perseguido pelos políticos de São João de Meriti. A capa do jornal
mostra a foto do acusado de ser o lobisomem e, logo acima, a manchete “Monstro
Fugiu”. Segundo essa reportagem, o lobisomem teria sido visto em Itaguaí por
populares, inocentando o pobre coveiro.
Houve mais uma reportagem sobre o lobisomem de Itaguaí, basicamente
repetindo as informações da anterior. E em sete de fevereiro de 1975, uma
reportagem mencionava um lobisomem que estaria atacando animais de pequeno
porte no K-11, em Nova Iguaçu. Mas essa foi a última desse tipo. É possível que os
leitores tenham perdido o interesse no ser sobrenatural ou estivessem mais
preocupados com os bandidos de carne e osso, já que as manchetes e as notícias
começaram a falar mais e mais nos crimes violentos da época, relatados com
riqueza de detalhes nas páginas do jornal.
H ed j a n C. S
VASSOURINHA: A MAIS CURTA CARREIRA DE UM CANTOR
Orl a n d o Ol i v e i ra
À DEUSA DE NILÓPOLIS
Ar th u r G a b r i e l
O RACISMO II
O Racismo no Brasil saiu do armário. Ele sempre existi, mas de forma velada.
Lembro quando jovem na década de 1960, e procurava vaga de emprego nos
classificados dos jornais em determinados cargos além da experiência, pediam boa
aparência.
Raramente um homem ou uma mulher negra eram contratados, a vaga ficava
sempre com pessoas de cor branca ( boa aparência).
Proibir o negro de entrar ou freqüentar determinados locais era humilhante.
Conseguir estudar em uma Universidade nos anos de chumbo era raro.
Com a reforma da constituição em 1988 foi incluído o artigo V, Dos direitos e
garantias individuais que em seu item três assegura que ninguém será submetido a
tratamento degradante.
O artigo XLII que prevê o Racismo como crime.
Baseado neste artigo surgiu a LEI 7716/89 que pune o crime de racismo.
Com o governo atual totalmente conservador os racistas a todo o momento
praticam esta violência contra negros.
Vários artistas consagrados já sofreram preconceito racial através das redes
sociais, mas como eles tem mídia deram à resposta a altura, com muitos desses
agressores sendo identificados e processados de acordo com a lei.
Este mês de agosto de 2020, voltaram com toda força, apesar da Pandemia do
Coronavírus que não discrimina ninguém, sejam negros, brancos, pobres ou ricos,
eles continuam se achando melhores que os outros.
Um exemplo negativo, assim como tantos outros é o caso do rapaz que foi ao
Shopping Ilha Plaza na intenção de adquirir um relógio para dar de presente ao seu
pai pela data alusiva ao dia.
Dentro da loja onde comprou o relógio e com nota fiscal que comprovava a
compra, foi abordado pelos seguranças que o levaram para um local reservado do
shopping onde o agrediram e colocaram o revolver em sua cabeça, só sendo
dispensado porque viram a cena e começaram a se manifestar fazendo com que os
seguranças desistissem de continuar a tortura.
Os agressores responderão pelo crime de racismo e abuso de autoridade, pois
foram identificados como policiais militares em serviço extra..
Mas a pior ação foi de uma juíza que julgava uma quadrilha de malfeitores.
Na Sentença dos condenados, um réu primário, teve a sua pena majorada em
função da sua raça. É negro..
Ela também vai responder pelo crime de racismo, pode até não dar em nada,
mas sua história como juíza, fica marcada para sempre.
Onesio Meirelles
PASSADO, PRAÇA E PAI
A vida se leva na fé
No poder da oração
Na força que vem do Axé
No ritmo da boa canção
A vida se leva na fé
No poder da oração
Na força que vem do Axé
No ritmo da boa canção
A vida se leva na fé
No poder da oração
Na força que vem do Axé
No ritmo da boa canção
A vida se leva na fé
No poder da oração
Na força que vem do Axé
No ritmo da boa canção
A vida se leva na fé
No poder da oração
Na força que vem do Axé
No ritmo da boa canção
Douglas Adade
R O S A NE
Ba r ã o d a M a t a
O VOO
Márcia Lopes
ESTANTE SUBURBANA
Na Feirinha da Pavuna
(Jovelina Pérola Negra)
Na feirinha da Pavuna
Houve uma grande confusão
Na feirinha da Pavuna
Houve uma grande confusão
T í tu l o : M e u l u g a r
Lugar: Travessa Marta da Rocha, Abolição(Ao fundo o morro do Urubu)
2
eu fazia meus deveres de casa na rua
sentado no resto de árvore
meu objetivo era
cortar raízes.
J o n a ta n M a g e l l a
ENCONTRO COM OS AMIGOS (ANTES DA PANDEMIA DE 2020)
- Esse torresmo é de verdade, Jonas?
- De verdade? Sim, trouxe da feira!
- Daqui de Madureira?
- Não, lá da feira de Ricardo de Albuquerque.
- Ah, tá! A feira que conheço não vende torresmo!
- Luana, na feira de Ricardo vende e é frito na hora.
- Bom saber! Tenho que visitar essa feira.
- Mas, isso é torresmo ou pururuca?
- Bentinho, acho que tá mais pra torresmo à pururuca. Tem outro saco ali que tem a
pele com um pouco de gordura.
- Joninha, que feira boa! Tem os dois tipos do torresmo!
- E são fritos na hora, camarada!
- Acho que vou com a Luana, fazendo companhia!
- Hoje ainda consigo comprar?
- Não, Luana! A feira de Ricardo não passa das quatorze horas. Agora só no domingo
que vem!
- Me diz uma coisa, rapaz... o que vocês estava fazendo por aquelas bandas do
subúrbio? Tá morando ali perto agora!?
- Alcebíades, sempre atento! Não, amigo. Continuo morando no mesmo lugar de
sempre. Aliás, faz um bom tempo que você não vai lá em casa!
- Joninha, amigo velho. O tempo tá cada vez mais curto! Mas, assim que conseguir
uma folga, vamos fazer aquela moda de violão!
- Esse torresmo está formidável! Uma pena é que não tem aquela gelada pra
acompanhar!
- Danuza, minha filha, cerveja num curso aos domingos!?
- Qual o problema, Luana!? Me diz! Não vejo problema algum!
- Eu também não, mas... e o professor?
- O professor!? Tá brincando comigo!? Já ouvi dizer que os manuscritos deles
cheiram a cachaça!
- Diná, você continua com a língua afiada! Cuidado pra não morder achando que é
torresmo. Pode se envenenar!
- Eu, Luana! Eu sou língua afiada!? Sou não! É costume de jornalista... apuro tudo o
que me dizem por aí.
- E depois revela, né não!?
- Ah! Agora vocês me deixaram na vontade! Assim que acabar o segundo tempo do
curso vamos beber umas geladas perto da estação!
- Olha só! Deixamos o Alcebíades animadão! Mas... eu topo!
- Se a Luana topa, tô dentro também!
- Vou esquentar um lugarzinho lá nesse bar também, moçada!
- Não acredito! O Bentinho vai!? Não perco essa por nada!
- Fazer o quê? Estou nessa também!
- Olha só! Conseguimos reunir metade da turma do último ano do nosso curso de
Sociologia, Joninha! Tudo por causa dos seus torresmos!
- É verdade! Chamamos o professor? O que acham!?
- NÃO!
E, depois de todos os meus amigos serem unânimes na resposta, fomos para o
boteco do Seu Guto, ali em Madureira, perto da estação de trem. Onde tem um dos
melhores torresmos do subúrbio.
J o n a s H é b ri o
PARABÉNS AOS FEIRANTES PELO SEU DIA
Malkia Usiku
MICRO-CONTOS DO MACROCOSMOS
O S G I G A N T E S DO S U B Ú R B I O
Antero Catan
CONFISSÕES PANDÊMICAS
Rodolfo Caruso
Poeta todo dia
PLUMITIVOS, POETAS E PENSADORES DOS ARRABALDES -
Oma r K h a y y a m
Se a gente entrar na biblioteca do queridão Fernando Pessoa e procurar um
pouquinho vamos nos deparar com uma edição surrada, já bem envelhecida do livro
"Rubaiyat" do poeta persa/iraniano, poeta clássico, Omar Khayyam.
Tem gente bonita e esforçada que diz que o Pessoa foi fortemente influenciado
pelo poeta orienta. Dizem que o culpado foi o inglês Edward Fitzgerald, que fez uma
tradução para o inglês.
Se quiser conferir é só ir à Lisboa. O tal exemplar, que já tive nas mãos
empoeirando-me (valha-me o pensamento!), continua lá, quase intacto pelos
turistas, na biblioteca particular do nosso queridão Pessoa!
Só pra você, caro leitor, ter uma ideia: nosso Pessoa fez diversas anotações -
a lápis, como se deve... bem... melhor deixar isso pra lá! -, bem como sublinhados e
até tentativas de Khayyanizar-se! Isso mesmo, caro leitor... Pessoa brincou de ser
Omar algumas vezes.
Se você não acredita vá à Casa Fernando Pessoa: R. Coelho da Rocha 16,
1250-088 Lisboa, Portugal, e verás, o gajo, que eu não minto!
Pessoa gostou tanto do livro "Rubaiyat" de Omar Khayyam que fez o seu
próprio Rubaiyat. Bem, é o que dizem por aí.
As "Canções de Beber", de Fernando Pessoa foram inspiradas num poema
OmarKhayyamaniano, poema homônimo, ora vejam!
E como as línguas falam em Portugal! E falam muito! Há o seguinte dizer:
"Numa revista, dirigida por amigo de Fernando Pessoa, o José Pacheco, ele, o
Pessoa, ainda em vida, publicou apenas três "rubai" (nome singelo atribuído aos
poemas à la Omar Khayyam), com título: 'Rubaiyat'. Isso se deu no derradeiro
exemplar da tal revista Contemporane, pelos idos de Julho de 1926.", digo mais
nada!
Os cantares do Rubaiyat (ou Ruba'iyat), são universais: ora o amor, ora o
êxtase, ora a brevidade da vida, ora a existência humana
Os mais animadinhos dizem: "Beleza pura! O grande Omar Khayyam
desenvolveu sua poesia na concepção do homem transcedendo sua condição
através do êxtase do vinho!". Que maravilha! Isso me lembra a adolescência quando
lia muito o queridão Baudelaire!
No século XIX o queridão inglês Edward Fitzgerald foi responsável pela
divulgação do magnánimo "Rubaiyat", ao publicá-lo, traduzidamente para a língua
da banda The Beatles, no ano tão importante de 1859. Foi tão popular que tiveram
as reedições de 1868, 1872, 1879 e 1889...
Outras línguas disseram (na verdade quem disse foi J. Nicolas, no ano de
1867) que o poeta Omar Khayyam seria um poeta sufi.
Bem, poeticamente falando, isso não importaria tanto... mais ou menos!
Quem afirma isso diz que deveríamos interpretar a poesia (os "rubi") como
simbolismos: "Assim, na obra do poeta Omar Khayyam, deveríamos nos atentar que
a taberna seria o templo; a divindade seria o vinho; a copeira seria a religião; o
cálice, o universo; e a embriaguez o Êxtase Místico."
Vai saber!
O poeta nasceu na Pérsia, em 1048, tendo vivido até o ano de 1131.
Foi poeta, astrônomo e matemático. E um rebelde!
Seu modo de vida e sua concepção filosófica e artística era diferente dos
dogmas oficias islâmicos.
Ele concordava que Deus existia, mas divergia quanto à concepção de que
cada acontecimento e fenômeno particular era o resultado da vontade de Deus.
Concebia que leis naturais explicassem muitos fenômenos observados em vida.
Escreveu um tratado sobre Álgera onde explicava formas de resolução de
equações de segundo grau e de terceiro também.
Era humilde, aconselhou a quem se interessasse em ler seu tratado, que antes
deveriam ler o livro "Os Elementos", do matemático grego Euclides e também os
primeiros livros das "Cônicas de Apolônio", pois ele próprio, antes de escrever seu
tratado, precisou estudar tais obras.
Pra quem quiser ler um pouco da obra do poeta Omar Khayyam:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/rubayat.pdf
http://alfredo-braga.pro.br/poesia/rubaiyat.html
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/rubayat.pdf
Ah! Vamos citar um pouco do grande poeta Omar Khayyam, nossa primeira
persona da série "PLUMITIVOS, POETAS E PENSADORES DOS ARRABALDES"…
1
Nunca murmurei uma prece,
nem escondi os meus pecados.
Ignoro se existe uma Justiça, ou Misericórdia;
mas não desespero: sou um homem sincero.
2
O que vale mais? Meditar numa taverna,
ou prosternado na mesquita implorar o Céu?
Não sei se temos um Senhor,
nem que destino me reservou.
3
Olha com indulgência aqueles que se embriagam;
os teus defeitos não são menores.
Se queres paz e serenidade, lembra-te
da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.
4
Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.
Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.
5
Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.
Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.
6
Não procures muitos amigos, nem busques prolongar
a simpatia que alguém te inspirou;
antes de apertares a mão que te estendem,
considera se um dia ela não se erguerá contra ti. (....)
Pazuzu Silva
C I N E S U BÚ R BI O
QUEREMOS OS NOSSOS CINEMAS DE VOLTA!
Silvio Silva
RICARDO DE ALBUQUERQUE BLUES
O sol chega forte
Verão carioca
O churras no corte
O dia está cheio de luz
Nada mais importa
Ricardo de Albuquerque Blues
Gelada trincando
Os copos nevados
Mangueira no quintal molhando
O jeito suburbano seduz
Desce mais um copo
Ricardo de Albuquerque Blues
O trem tá chegando
Vem cheio de vida
Os trilhos cantando
Mas que melodia bonita
Me lembra uma guitarra Andaluz
Ricardo de Albuquerque Blues
Marcelo Bizar
DA SÉRIE: “JUSTIÇA É PARA TODOS”
Silvio Silva
POUCAS VELAS PARA MUITOS DARIOS
Há muito tempo que a literatura me explica a vida. Não é raro encontrar nela
reflexões e emoções que me ajudam a me compreender enquanto parte desse todo
que é a existência humana. Hoje, recorro às minhas leituras para digerir um episódio
que me impressionou demasiadamente. Era uma manchete de jornal que trazia uma
imagem: três barracas de praia da cor verde-bandeira, entrecruzadas, ocupando o
centro de uma demarcação feita por produtos de um mercado cujo nome, em sua
tradução, se refere à encruzilhada. E lá estava aquela encruzilhada construída com
bebidas e alimentos, garantindo a manutenção do tráfego de pessoas. Entre uma
pessoa com carrinhos lotados de carne e outra com dois pacotes de café jazia o
corpo de um trabalhador, partícipe da equipe de trabalho do Carrefour, que sofrera
mal súbito, ali morrera e ali estava, à espera de uma dignidade cuja chegada
teimava em atrasar. Um corpo de um homem que -felizmente- não atrapalhou o
comércio daquele dia. Muitos talvez nem notassem sua presença, outros,
prontamente trabalhavam esquecê-la, para facilitar aquela correria da vida. Afinal,
faltava molho de tomate para o macarrão de um cliente e isso era muito importante.
A literatura, minha amiga e companheira, rapidamente me fez reviver
algumas leituras. Uma vela para Dario, de Dalton Trevisan, é um texto do qual nunca
me esqueci. Pequeno em páginas e grande em expressão... Dario passara mal no
passeio público, ali caiu, ali ficou... Entre o ir e vir das pessoas e o abrir e fechar de
janelas curiosas, Dario fora socorrido por pessoas-de-bem as quais pensaram
alternativas de socorro, chamaram taxi, olharam documentos e perceberam que,
afinal, alguém arcaria com despesas, trabalhos e responsabilidades. In dúbia pro
reu. Eu diria que, na dúvida, deixe como está. E assim Dario perdeu a vida, a
casaca, a carteira, as abotoaduras e a aliança, até que um qualquer achou por bem
acender uma vela ao seu lado. Ali ficou, sem chama na vela. Dario foi o primeiro a
me ensinar que a morte pode ser um empecilho para as vidas que ficam. Afinal, não
havia local e hora mais apropriado para se morrer?
Ivan Ilitch chegou um pouco mais tarde. Quando comecei a ler os russos, um
professor nos indicou a leitura de Tolstoi. E então experimentei esse livro que tem
como temática principal a vida de um homem, doente, que estava prestes a morrer.
Não consigo me esquecer das imagens que guardei da minha imaginação quando li
que a sua família, feliz, antes de sair para festas, passava no quarto de Ivan, rosto
pesado, sentindo muito por aquelas dores, passando por uma espécie de protocolo
pré-diversão. Ivan me ensinou sobre a vida do doente que se torna empecilho para a
plena felicidade dos outros. Afinal, como demonstrar alegria desmedida com um
moribundo sob o mesmo teto?
Dessas memórias, a que me traduziu, cirurgicamente, as sensações e
indagações que por mim passaram quando me deparei com a notícia das barracas
de praia no Carrefour foi Chico Buarque, em sua obra Construção. Morreu na
contramão atrapalhando o tráfego. É isso. Há lugares nos quais não se deve morrer.
No mercado? Não, não é definitivamente apropriado. E pior, um mercado não pode,
por assim dizer, expor um corpo estendido no chão. E uniformizado! Não pega bem.
Afinal, como manter a tranquilidade dos funcionários e a paz de espírito dos seus
consumidores? Felizmente eles vendiam barracas de praia.
Dé b o r a d a C o s t a
ARTISTA POR NATUREZA
NA HORA DA XEPA
É a hora de vender
É a hora de comprar
Feira livre s/a
Delírio, febre, ventre em exposição
Ah,Brasil, tu já és um peixe
Apodrecido embrulhado
Num jornal de absurdos!
Marco Trindade
E OS PÁSSAROS...TAMBÉM QUEREM SABER: