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Maçonaria e Cabalá: um vínculo mal examinado

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Rui Samarcos Lora


University of Coimbra
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Maçonaria e Cabalá: um vínculo mal examinado1.
Rui Samarcos Lora2

A relação entre a cabalá e a maçonaria tem sido amplamente discutida por diversos autores
maçônicos ao longo das últimas décadas. Ademais, o tema tem ganhado atenção principalmente
por conta da projeção e interesse que a cabalá tem despertado nos últimos anos (Garb 2010),
especialmente pelas iniciativas de entidades como o Kabbalah Center3 e o Bnei Baruch4 em todo o
mundo (Huss 2007).
Apesar do interesse e da discussão a respeito da interdisciplinaridade entre cabalá e
maçonaria, ainda há uma lacuna bibliografia em português e de maneira acadêmica no que diz
respeito ao possível vínculo entre cabalá e maçonaria. Por essa razão, se faz necessário realizar uma
revisão de literatura a respeito do tema, levando em consideração o contexto histórico maçônico,
assim como o perfil biográfico de algumas personalidades maçônicas que marcaram a formação
de ritos e graus ao longo da história da maçonaria.
A ausência de elementos que justifiquem o lastro acaba por contribuir para que impressões
equivocadas a respeito da cabalá ganhe espaço em um contexto maçônico de maneira deturpada e
muitas vezes contraditórias. Portanto, fundamental que se analise, em primeiro lugar, de onde vem
a vinculação entre os temas, para, em momento oportuno, examinar os conceitos e significados
possíveis. Ademais, cabe destacar que o próprio conceito de cabalá ainda é muito distorcido e
difuso no contexto maçônico5.
O artigo em apreço não procurará examinar o que é a cabalá6, mas, sim, apresentar os
elementos que possibilitam o vínculo com a maçonaria, levando em consideração fatos históricos
e personagens responsáveis pela relação existente. Ademais, tal contribuição pretende
proporcionar um caminho bibliográfico seguro para futuros estudos a esse respeito, assim como
possibilitar aos interessados pelo tema examinar os rituais maçônicos de maneira detalhada e com
uma perspectiva cabalística, conforme o próprio Moral and Dogma (Pike 1871) direciona. Por fim,
caberá argumentar ser inegável a relação entre cabalá e a maçonaria.

1 Artigo publicado na “Revista de Maçonaria” de Portugal nº5, em novembro de 2022.


2 Membro da Loja Holy Land nº50, Grande Loja de Israel. Cavaleiro Kadosh, 30º. Maestria em Cabalá na Escola de
Meir Saban. Doutorando em Ciências Políticas pela Universidade de Coimbra. E-mail: roiy.luria@gmail.com.
3 O Kabbalah Center é uma Escola de Cabalá que oferece cursos sobre o Zohar e ensinamentos cabalísticos. A

apresentação da Cabala do Kabbalah Centre foi desenvolvida por seu diretor, Philip Berg, junto com sua esposa, Karen
Berg. A Escola segue a tradição cabalística iniciada por Baal HaSulam.
4 Também conhecido como Kabbalah Laam é uma associação universalista de cabalá fundada por Michael Laitman no

início da década de 1990. A Escola segue a tradição cabalística iniciada por Baal HaSulam.
5 O autor se refere à disciplina e escola de pensamento no misticismo judaico, não cabendo aqui qualquer relação com

derivações posteriores intituladas como cabalá hermética, cabalá cristã, dentre outras adjetivações do termo.
6 A esse respeito o autor sugere a leitura de artigos específicos sobre o assunto que podem ser encontrados em:

https://roi-luria.webnode.pt/

1
1- A cabalá nas Old Charges, em William Schaw e em Elias Ashmole

Longamente discutida e apresentada em textos, artigos, livros e conferências, a


documentação que permeia o arcabouço histórico, primitivo, da maçonaria sempre estará
relacionada às Old Charges, as chamadas “Antigas Obrigações”. Elas registram o início do que seria
a maçonaria operativa. Os primeiros registros de organizações que descreviam os deveres dos
maçons, os encargos que todo maçom tinha que jurar na admissão. Destes documentos, o
considerado mais antigo é a Carta de Bolonha de 1248 (Lugli 2010) e o Poema Regius, datado de
1390 (Prescott 2015). De um modo geral, estes documentos têm uma construção de três partes.
Começam com uma oração, invocação de D’us, ou uma declaração geral, seguida de uma descrição
das Sete Artes Liberais, exaltando a Geometria acima das outras. Segue-se uma história do ofício
e como ele surgiu, geralmente culminando em uma reunião de pedreiros durante o reinado do rei
Athelstan. A última parte consiste nos encargos ou regulamentos da loja e do ofício de maçonaria
em geral, que os membros são obrigados a manter (Woodford 1872).
Outros documentos de estrutura semelhante podem ser citados como os registros
primários da Maçonaria: o Estatuto de Ratisboa de 1459, o Manuscrito Dowland de 1550, o
Manuscrito de William Schaw de 1598, os Estatutos de Sinclair de 1660, o Registro Social da
Grande Loja nº1 de 1632, o Ritual de Edimburgo de 2696 ou o Manuscrito de Graham de 1725.
Essa é uma lista não exaustiva de documentos que, em muitas das vezes, acabam por marcar o
período de transição da maçonaria operativa para a maçonaria especulativa7 (Silva 1975).
Do ponto de vista da relação entre maçonaria e cabalá, a análise desses documentos é
relevante em razão de alguns autores dos textos, registros, atas e estatutos, serem figuras
influenciadas pelo estudo cabalístico à época. Tal fato é conhecido em razão de suas biografias ou
mesmo pelo relacionamento que mantinham com estudiosos do tema. Dessa forma, a influência
nos textos e em todo o desenrolar de muitos dos ritos maçônicos pode ser assim percebida no que
ainda era o embrião da ordem maçônica. Há que se lembrar que cabalá surge na Europa a partir
do século XII e XIII, principalmente na França e se espalhando para os demais países com o passar
dos anos (Ginzberg e Kohler 1906).
William Schaw, por exemplo, autor de um dos muitos estatutos maçônicos, o Manuscrito
Schaw, foi Mestre de Obras de Jaime VI da Escócia e figura importante no desenvolvimento da
Maçonaria na Escócia (Prescott 2004). Em 1599, assinou, em Holyroodhouse, catorze estatutos

7Entende-se maçonaria operativa aquela em que os membros eram pedreiros construtores de catedrais e edifícios da
época medieval, período gótico da arquitetura na Europa. Já a maçonaria especulativa se refere à organização social
cujos membros são considerados maçons, presentes em diversos países do mundo.

2
separados onde alguns eram dirigidos especificamente à Loja Mãe Kilwinning e outros às outras
Lojas da Escócia. Do ponto de vista desta pesquisa, é relevante notar que a Loja Kilwinning
recebeu, além de sua autoridade regional para o oeste da Escócia - por meio deste documento de
Schaw – uma série de diretrizes, dentre elas, a especificação de procedimentos da Ordem como a
determinação de que os funcionários da Loja assegurassem que os candidatos e aprendizes de
ofício experimentassem toda a “arte da memória" (Ash-Irissari 41:2017).
Conhecida em latim por ars memoriae, é um dos vários princípios mnemônicos e técnicas
utilizadas para organizar as impressões da memória, melhorar a recordação e auxiliar na
combinação e invenção de ideias. A referência à arte da memória pode ser tomada como uma
referência direta ao esoterismo renascentista (Grané 2021). Tal influência chega a Schaw por meio
do colega William Fowler8, assim como do filósofo italiano Giordano Bruno9, onde há ao menos
um registro de encontro dos dois na casa de Michel de Castelnau10, em Londres, na década de 1580
(Petrina 2021). A respeito da ars memoriae , importante mencionar que constituiu um elemento
fundamental do sistema ocultista de Bruno que, por sua vez, foi profundamente influenciado pela
cabalá (De Leon-Jones 1997).
É neste ambiente, influenciado pelo esoterismo renascentista, repleto de influência
cabalista, que Schaw escreve os mencionados estatutos. Impossível afirmar que ele se baseou na
cabalá para escrever, mas é historicamente perceptível que a cabalá já fazia parte do interesse dos
membros da ainda maçonaria operativa. Afinal, neste mesmo período, Marsilio Ficino, Pico della
Mirandola, Johan Reuchlin, já desenvolviam estudos sobre a cabalá dentro dos seminários cristãos
e a partir desses estudos a cabalá ganharia outras nomenclaturas na Europa nos anos subsequentes
(Bartolucci 2014). Portanto, a cabalá permeava, além dos escritos, os estudos e pensamentos de
muitos dos membros do que ainda era uma Ordem operativa, principalmente quando se analisa o
período dos estatutos de Schaw com a expansão dos ensinamentos de cabalá naquela época (Leslie

8 William Fowler (c. 1560 – 1612) foi um poeta, escritor, cortesão e tradutor escocês. Visitava frequentemente a casa
de Michel de Castelnau, Sieur de Mauvissiere, onde conheceu Giordano Bruno. Ele logo foi recrutado por Francis
Walsingham para atuar como espião até 1583, quando sentiu que sua relação com os católicos franceses estava
comprometendo sua integridade religiosa. Em 1589, ele foi acompanhado por William Schaw na missão diplomática
à Dinamarca para organizar o casamento de Jaime VI com Ana da Dinamarca. Ele era um negociador pago para a
cidade de Edimburgo, encarregado de elevar o perfil do burgo. Posteriormente, ele foi nomeado secretário particular
e Mestre de Pedidos de Ana da Dinamarca, quando ela se tornou a rainha de Jaime VI. Ensinou à rainha a arte da
memória, assunto sobre o qual também escreveu um tratado. Ele fazia parte de um círculo literário conhecido como
"Castalian Band", que incluía Alexander Montgomerie, John Stewart de Baldynneis, Alexander Hume, Thomas e
Robert Hudson, e o próprio James VI.
9 Giordano Bruno (1548 - 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor, matemático, poeta, teórico de cosmologia, ocultista

hermético e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana. Conhecido por suas
teorias cosmológicas, que conceitualmente estenderam o então novo modelo copernicano. Ele também insistiu que o
universo é infinito e não poderia ter "centro".
10 Michel de Castelnau, Sieur de la Mauvissière (c. 1520–1592), soldado e diplomata francês, embaixador junto à rainha

Elizabeth. Suas memórias, cobrindo o período entre 1559 e 1570, são consideradas uma fonte mais confiável para o
período do que muitas outras.

3
1999). Tal relação pode ser mais bem examinada ao analisar detalhadamente as biografias dos
autores dos manuscritos por meio da vasta bibliografia acadêmica existente.
Anos mais tarde, outro protagonista e pioneiro do que viria ser a maçonaria especulativa,
Elias Ashmole11, já dedicava muita energia a respeito do assunto. Ashmole era estudioso em temas
relacionados a cabalá, além de ser um zeloso rosa-cruz (MacNulty 1998), dedicou muita energia ao
estudo da alquimia, publicou a obra Fasciculus Chemicus, uma tradução inglesa de duas obras
alquímicas latinas, sendo uma de Arthur Dee, filho de John Dee12, grande estudioso cabalista da
época (De Leon-Jones 2006). Da mesma forma, necessário destacar que Ashmole se referia a si
mesmo como filho de William Backhouse, que o adotou em 1651 como seu filho espiritual - pela
conexão que ele deu a ele com a longa cadeia espiritual de sabedoria hermética da qual Backhouse
fazia parte (Josten 1949). Backhouse também era um estudioso da cabalá e era notoriamente
conhecido por isso (Kilcher 2009).
De acordo com Ragon13 e Yates (299:1972), Ashmole foi o maior influenciador da
maçonaria em sua forma atual. Sendo assim, para além da proximidade com Dee, assim como com
Backhouse, impossível não imaginar como os interesses e estudos cabalísticos de Ashmole não
foram internalizados no desenvolvimento e contexto maçônico. Seria possível destacar outras
muitas relações entre a cabalá e a maçonaria neste período embrionário da Ordem, especialmente
após a fundação da Royal Society14 poucos anos depois da iniciação de Ashmole na maçonaria no
dia 16 de outubro de 164615 e cuja maior parte de seus membros fundadores além de serem maçons
eram versados no estudo da cabalá. No entanto, vejamos como essa relação pode ser ainda mais
notada com a unificação da Grande Loja da Inglaterra, assim como na constituição dos diversos
graus dos ritos que surgem a partir de 1700.

11 Elias Ashmole (1617 - 1692) foi um antiquário, político, oficial de armas, e estudante de astrologia e alquimia
britânico. Ao longo de sua vida, tornou-se um ávido colecionador de curiosidades e artefatos. Muitos foram adquiridos
através do viajante, botânico e colecionador John Tradescant, e a maioria foi doada para a Universidade de Oxford
onde criou o Ashmolean Museum. Ele também doou a sua biblioteca e a sua inestimável coleção de manuscritos para
Oxford. Estudioso dos temas de cabalá, alquimia, sendo consultado em perguntas astrológicas por Charles II e sua
corte. Membro fundador da Royal Society
12 John Dee (1527 - 1608 ou 1609) foi um matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo e conselheiro particular da

rainha Elizabeth I. Devotou também grande parte de sua vida à alquimia, adivinhação e à filosofia hermética. Dee
perscrutou os mundos da ciência e da magia. Era profundamente imerso na filosofia hermética e na chamada magia
angélica e devotou a última terça parte de sua vida quase que exclusivamente a este tipo de estudo. Para Dee e para
muitos de seus contemporâneos, estas atividades não eram contraditórias, mas aspectos de uma visão consistente do
mundo.
13 Jean Marie Ragon foi iniciado na loja Les amis du Nord em Bruges, que na época era administrada como um

departamento da França. Ele também pertencia à loja Le Phœnix do Grande Oriente de França e ao Rito de Memphis-
Misraim, bem como à Ordem do Templo de Bernard-Raymond Fabré-Palaprat. De acordo com Kenneth RH
Mackenzie, o editor da The Royal Masonic Cyclopaedia, Ragon "trabalhou duro para distinguir entre a história real de
várias sociedades maçônicas e aquela vaga história tradicional que, em grande medida, refuta a si mesma."
14 A Royal Society é uma instituição destinada à promoção do conhecimento científico fundada em 28 de novembro

de 1660 em Londres. Boa parte de seus membros fundadores eran maçons e ela é fundadada em um período onde a
maçonaria especulativa ganhava força.
15 De acordó com o Diário de Elias AShmole. Disponível em: https://ashmole.com/elias-ashmole-history/.

4
2 – A cabalá nas obras de Desaguilers, em Ramsay e na fundação dos graus
complementares do REAA.

Dentro da concepção atual da Ordem, fundamental destacar o papel de Jean Theophile


Desaguilers, uma vez que muito contribuiu para a estruturação e posterior desenvolvimento da
maçonaria. Nascido na França, mas desde criança na Inglaterra, recebeu, em 1714, a mais alta
honraria da Royal Society, a Medalha Copley (Dowson 1978). Membro da Loja de Edimburgo, foi
o responsável por fundamentar os três graus do simbolismo, principalmente o Terceiro Grau
(Carpenter 2011). Interessante notar, ademais, que Desaguilers foi assistente de Isaac Newton16,
além de ter sido o terceiro Grão-Mestre da Inglaterra e, também, ter contribuído para redigir, com
James Anderson17, a Constituição dos Maçons Livres. A esse respeito, cabe mencionar que no
opúsculo da edição de 1738 da Constituição de Anderson inclui, no entanto, a cabalá como uma
das fontes da filosofia maçônica (Peñaloza 2014).
Desaguilers, como assistente de pesquisa de Newton durante vinte anos, é influenciado
por Newton em suas pesquisas e até mesmo em sua rotina. Como é amplamente conhecido,
Newton era um alquimista praticante, obcecado pelo Templo do Rei Salomão, e escondia suas
visões religiosas heréticas em escritos cifrados, que deveriam ser queimados em sua morte, mas
foram retidos e traduzidos no século XX (Goldish 1994). Uma discussão recente, embora
inesperada, sobre a influência das ideias judaicas sobre Newton, gira em torno de sua relação com
a cabalá. A consciência de Newton da cabalá foi apontada por Frank Manuel em 1974 e, mais
recentemente, por Brian Copenhaver e George Zollschaft. Portanto, fato presente nos estudos e
escritos de Isaac Newton.
Assim, há de se pensar a respeito dos mais de vinte anos de relação entre Newton e
Desaguilers, assim como sua atuação na Royal Society, e como essas relações e o ambiente
acadêmico possam ter influenciado Desaguilers na concepção de muito dos temas anos mais tarde
desenvolvidos por ele na maçonaria, uma vez que a cabalá era tema intrínseco nas pesquisas e no
interesse acadêmico e pessoal de Newton.

16 Isaac Newton (1642 - 1727) foi um matemático, físico, astrônomo, teólogo e autor inglês que é amplamente
reconhecido como um dos cientistas mais influentes de todos os tempos e como uma figura-chave na Revolução
Científica.
17 James Anderson (1679 - 1739) foi ordenado ministro da Igreja da Escócia em 1707, deslocou-se para Londres, onde

ministrou na congregação da Glass House Street até 1710, na Igreja Presbiteriana na Swallow Street até 1734, e na
Lisle Street Chapel até a data da sua morte. James Anderson é sobretudo conhecido pela sua associação com a
Maçonaria.

5
Assim, é curioso notar, ainda, que este período - fim do século XVII e início do século
XVIII - marca, de fato, a consolidação de uma maçonaria especulativa. Muito dos documentos,
ritos, rituais e do arcabouço que começa a compor o desenrolar especulativo da maçonaria estão
repletos de símbolos e até mesmo palavras que fazem parte de alegorias tradicionais da cabalá.
França e Inglaterra despontavam no estabelecimento de suas lojas e potências. Enquanto a
primeira Loja na França foi fundada em 168818, na Inglaterra, em 1717, quatro lojas de Londres se
reuniam na Goose and Gridiron Ale House para já estabelecer a Grande Loja da Inglaterra19.
Essa relação entre Inglaterra e França no que diz respeito à maçonaria neste período é
muito interessante em razão da história dos dois países – aqui omitida -, pois há um constante
intercâmbio de Lojas, principalmente da Inglaterra para França, assim como de influência, no
sentido de abertura de Lojas e reconhecimentos20. É neste cenário que outro personagem
maçônico tem importância para a pesquisa: Cavaleiro Ramsay. Em dezembro de 1736, Andrew
Michael Ramsay21 fez um discurso desenvolvendo a ideia de uma origem cavalheiresca da
Maçonaria. Esta ideia teria posteriormente uma certa influência no aparecimento, no período 1740-
1770, de muitos graus maçônicos elevados que mais tarde seriam agrupados dentro dos vários ritos
maçônicos. Todavia, ainda há controvérsia quanto ao teor do discurso (Kahler 1993). Apesar da
polêmica, o que interessa para esta pesquisa é que, a partir desse período é que se dá uma grande
proliferação de graus, ritos, rituais, o que demonstra ser um período criativo da maçonaria do
ponto de vista alegórico para a composição dos elementos simbólicos que podem ser hoje
vislumbrados nos diversos ritos e graus existentes.
A respeito de Ramsay, sendo um personagem marcante para a história da maçonaria,
interessa do ponto de vista cabalístico examinar sua biografia. Ramsay, quando jovem, foi atraído
pelo misticismo de Antoinette Bourignon em uma comunidade do discípulo dela, Pierre Poiret
(Chevallier 1994). Tanto Bourignon quanto Poiret eram conhecidos ocultistas da época que
possuíam um amplo conhecimento a respeito da cabalá (Chandler 2016).

18
Dentro do regimento "Royal Irish" que chegou à França após o exílio de Jacques Stuart, sob o nome de "La Perfect
Equality" de Saint-Germain-en-Laye.
19 O registro original, se houver, não pode ser encontrado, mas foi reconstruído e publicado pelo Rev. James Anderson

em seu Novo Livro de Constituições (1738)


20 Em 1728, os maçons franceses decidiram reconhecer como "Grão-Mestre dos maçons na França", Philippe, duque

de Wharton (1698-1731), que ficou em Paris e Lyon de 1728 a 1729, e que já havia sido, em 1723, Grão-Mestre da
Grande Loja de Londres. Ao longo dos anos, a influência da maçonaria inglesa acabou por instalar novas lojas e a se
estabelecer na França.
21 Ramsay nasceu em 1686, na Escócia. Foi associado à Maçonaria desde sua introdução na França (1725-1726). Em

1737, Ramsay escreveu seu Discurso no qual ele ligava a Maçonaria aos cavaleiros cruzados. Ramsay achou seu
discurso digno de nota pela autoridade religiosa predominante e enviou o texto ao Cardeal Fleury, pedindo a bênção
da Igreja dos princípios da Maçonaria como ele os havia declarado. Para uma Igreja já em dificuldade sobre os
princípios desviantes da Companhia de Jesus, a resposta do Cardeal Fleury no final de março interditando todas as
reuniões maçônicas. É freqüentemente repetido erroneamente que Ramsay mencionou os Cavaleiros Templários em
seu Discurso, quando na verdade ele não mencionou a Ordem - ele mencionou os Cavaleiros Hospitalários.

6
É sabido que, em 1710, Ramsay viajou para Rijnsburg para conhecer Poiret e depois
Madame Guyon. De lá ele passou a ficar com Fénelon em Cambrai. Assim permaneceu em sua
casa por vários anos e tornou-se amigo constante do Marquês de Fénelon. A associação com
Fénelon, que, como preceptor dos netos de Luís XIV, manteve grande influência na corte e fez
com que Ramsay fosse, em 1723, nomeado cavaleiro da Ordem de São Lázaro de Jerusalém
(Mansfield 2014). Mais do que isso, de 1725 a 1728, Ramsay também foi membro da Royal Society
e do Club de l'Entresol, juntamente com Rene-Louis Argenson, Lord Bolingbroke e Montesquieu.
Em 1730, tornou-se membro da Spalding Gentlemen's Society em Lincolnshire, onde Isaac
Newton, John Gay e Alexander Pope também eram membros.
Independente de o discurso de Ramsay de 1736, o contato e influência que ele pode ter
recebido do seu ciclo de amizades e dos locais em que estava associado no que diz respeito ao
tema da cabalá é notável, assim como de muitos outros maçons que influenciaram o pensamento
de toda uma época e uma Ordem como a maçonaria, especialmente na França que passava por
uma multiplicidade de lojas e criação de corpos, graus e ritos.
O período coincide com a eleição do Conde de Clermont a Grão-Mestre da Grande Loja
Inglesa da França, Luís de Bourbon, em 1743 (Waite 2006). Alguns anos mais tarde ele se declarou
independente da Inglaterra e retirou o nome “inglês” da Grande Loja. Com a desordem maçônica
que atingia seu ponto máximo, em Lyon, se criou o Grau de Cavaleiro Kadosh e depois o intitularam
de Petit Elu, de onde muitos outros graus foram desenvolvidos: Elu dos Nove, Perignan, Elu dos
Quinze, Ilustres Elu, Cavaleiros da Aurora, Grande Elu, dentre outros (Bogdan 2006 e 2014). Com
o florescimento de Altos Graus na França, a Loja Parfaite Harmonie é fundada, tendo o judeu
Étienne (Stephen) Morin como um de seus fundadores (Ragon 1843). Em 1744, o livro Le Parfait
Maçon, é publicado e tem particular relevância para o desenvolvimento dos Altos Graus (Coutura
2014).
De acordo com Albert Pike, uma pessoa particular ou um grupo de pessoas reagruparam
um número de graus do jeito que acharam melhor, geralmente começando com os graus
simbólicos e assumindo o poder de administração e controle sobre eles. Os graus assim foram
agrupados e não sistematizados, foram apenas agregados. Não havia coesão e consistência entre
eles. Inclusive nos ritos, eles não seguiam uns aos outros, eram simplesmente conglomerados (Pike
1871).
Anos mais tarde, em 1747, Charles Edward Stuart22, 1747 estabelece um Capítulo Rosa
Cruz em Arras, França, e seus seguidores dão cartas a diferentes corpos sempre que forem pedidos.

22
Carlos Eduardo Stuart (1720 –1788) era filho de Jaime Francisco Eduardo Stuart e de Maria Clementina Sobieska,
foi um pretendente ao trono da Inglaterra e Escócia (unidos desde 1707) e Irlanda. Viveu no exílio até aos 24 anos de

7
Mestres foram designados ad vitam e, também, outorgaram cartas constitutivas (Snoek 2012).
Muitos ritos foram se formando: em 1748 o Rite de la Vieille-Bru/Ecossais Fidèles, estabelecido
em Toulouse, com nove graus, os três simbólicos, Mestre Secreto, quatro graus Elu, e nove da
Maçonaria filosófica; em 1750 a Loja St. Jean d’Ecosse foi estabelecida em Marseilles, assumindo
o título de Loja Escocesa Mãe na França. Tinha 18 graus de onde a Scottish Mother-Lodge de Paris
pegou emprestado; em 1752 um poder foi estabelecido em Paris, sobre o pomposo título Conselho
Soberano, Sublime Loja Mae Escocesa do Grande Globo Frances. Depois passou a ser chamada
de Soberano Conselho, Sublime Loja Mae de Excelentes do Grande Globo Frances, dentre muitos
outros (Bogdan 2006).
Como pode ser percebido, o embrião dos altos graus, corpos e ritos se dá em um momento
de efervescência tanto na França quanto na Inglaterra, assim como no que diz respeito aos estudos
relacionados à cabalá. Neste período a cabalá já havia sido espalhada pela Europa e estava a ser
estudada por grandes ocultistas e filósofos da época, tais como: Emanuel Swedenborg, Jean
Battiste de Willermoz, Louis Claude de Saint Martin, Martinez de Pasqually, Cagliostro, dentre
outros, onde sua principal disseminação havia começado muitos anos antes com Pico della
Mirandola por volta de 1480.
Assim, a contribuição de Desaguilers como de Ramsay para o período, além de todo o
cabedal de simbolismo, vão se cristalizando nos ritos e ordenamentos da ordem maçônica que
parece aos poucos querer transparecer. A presença da cabalá pode ser percebida de diversas
formas, especialmente pelo emprego de expressões e símbolos cabalistas, assim como o uso de
palavras hebraicas com forte contexto cabalístico em símbolos, estandartes, documentos, selos etc.
A esse respeito, necessário destacar ser o hebraico instrumento fundamental para a compreensão
profunda da cabalá e possuir intima relação com o tema. Afinal, sem o entendimento do idioma,
dificilmente se percebe as sutilezas e essência da filosofia cabalista. Há que se lembrar que Newton
estudou hebraico para poder compreender a cabalá. Não só porque cada letra é um número, por
intermédio da guemátria23, mas pelo simbolismo incutido nas letras, palavras, permutações24 e níveis
de interpretação que as expressões em hebraico podem ter em um contexto cabalístico, o chamado
pardes25.

idade, altura em que tentou iniciar uma rebelião com o objetivo de restaurar a Casa de Stuart ao trono, em favor de
seu pai, a qual seria derrotada.
23 Gematria é o método hermenêutico de análise das palavras bíblicas somente em hebraico, atribuindo um valor

numérico definido a cada letra. É conhecido como "numerologia judaica" e existe na Torá (Pentateuco)
24 O tseruf (combinação em hebraico) é um dos três métodos de interpretação da Cabalá desenvolvidos por Abraham

Abulafia. Consiste em associar ou permutar letras hebraicas para revelar outros significados ocultos de uma palavra
ou frase.
25 Pardes é um acróstico que descreve quatro diferentes abordagens da exegese bíblica do Judaísmo rabínico, que

ganhou reconhecimento no comentário do Pentateuco de Bahya ben Asher de Zaragoza (1291). São níveis de
interpretação utilizado pela cabalá para leitura de determinado texto.

8
3- O hebraico na maçonaria: Ahiman Rezon, o rito de Heredom e a Cabalá.

O hebraico permeia alguns ritos em todos os seus graus, especialmente nas palavras de
passe e palavras sagradas, na simbologia dos painéis e em diversas instruções (Lora 2014) e
(Castellani 1993). Por sua vez, o hebraico é ferramenta essencial para o entendimento da cabalá,
assim como a cabalá depende do hebraico para se expressar e até mesmo compreendida.
Essencialmente é uma linguagem simbólica e talvez por essa razão seja curioso notar massivo
emprego do hebraico na maçonaria, ainda que pouco examinado ou discutido nos templos e
estudos maçônicos, mas, inevitavelmente, corrobora, igualmente, com esse vínculo entre cabalá e
maçonaria.
A esse respeito, neste período da história maçônica de efervescência de discussão e
surgimento de ritos e rituais maçônicos, no ano 1751, Laurence Dermott, secretário da Antiga
Grande Loja da Inglaterra, publica uma constituição intitulada Ahiman Rezon (‫( )אֲחִ ימָ ן ְרזֹון‬Appleby
1986). De um modo geral, a constituição de Dermott é um documento que procura contrapor à
Constituição de Anderson. Laurence Dermott, assim como muitos irlandeses da época, se mudou
para Londres em 1748 para expandir os negócios da família. Passou a frequentar uma loja maçônica
jurisdicionada pela Grande Loja Unida da Inglaterra por pouco tempo até se filiar a uma loja
dissidente, de origem irlandesa, não filiada à GLUI, que, assim como outras, apresentava algumas
divergências e descontentamento em torno de questões religiosas e práticas maçônicas. Com a
fundação da GLUI uma série de práticas acabaram por deixar outras lojas descontentes,
especialmente as lojas de origem irlandesas. Por sua vez, os maçons insatisfeitos com as novas
diretrizes da GLUI resolvem formar uma nova potência maçônica, a chamada Antient Grand Lodge
of England, o que gerou uma divisão entre o que passou a ser chamado de maçons “antigos” e
maçons “modernos” (Wolf 1894).
Esse processo de formação de uma potência dissidente, pode ser bem observado como
um esforço de Dermott e sua constituição Ahiman Rezon. É interessante notar, ainda, que, após a
morte de Dermott, as duas Grandes Lojas, Antiga e Moderna, se moveram lentamente em direção
à união. No entanto, o processo real de unificação não começou antes de 1811, quando os
Modernos iniciaram o processo administrativo de devolver seu ritual a uma forma aceitável para
as outras Grandes Lojas britânicas. Por fim, a nova Grande Loja Unida da Inglaterra manteve a
infraestrutura dos Modernos e o ritual dos Antigos (Gould 1879).

9
Do ponto de vista do vínculo entre maçonaria e cabalá, o nome utilizado por Dermott para
sua constituição per se já chama atenção. Ainda que desconhecido o sentido que Dermott tenha
quisto dar para o título, muito se especula sobre o significado. A maioria dos artigos e referências
a esse respeito traduzem Ahiman Rezon como "ajudar um irmão" (Sickels 1887), (Cole 1817) e
(Guthrie 1970). Porém, como toda base e influência do hebraico na maçonaria, de alguma forma,
está contida no contexto bíblico, impossível não notar que Ahiman e Rezon são duas figuras bíblicas.
Ahiman como sendo um dos quatro porteiros levitas nomeados pelo rei Davi que
guardavam o Santo dos Santos26 e Rezon um príncipe caído constantemente envolvido em rixas
contra o Rei Salomão27. Dermott pode ter escolhido esses nomes como alusão bíblica para mostrar
exatamente como os maçons antigos se sentiam em relação aos maçons modernos. Os antigos
procuravam manter uma forma purista de maçonaria, que eles consideravam sagrada. Os
modernistas procuraram mudar a maçonaria e estavam no processo removendo completamente
os velhos costumes. Assim, os Antigos semelhantes a Ahiman, guardando o Santo dos Santos, ou
seja, a verdade Maçonaria, e Rezon rival do Rei Salomão, eram os modernos, impuros aos olhos do
Senhor28.
Além do emprego do hebraico, uma outra curiosidade trazida por Dermott que pode ser
relacionada com a cabalá, e aqui com o judaísmo, é o termo empregado para se referir aos maçons
como “filhos de Noé”, isto é, Bnei Noach29. Termo muito conhecido e usado no judaísmo para se
referir aos não judeus que seguem as leis e princípios considerados pelos judeus como
fundamentais. Por fim, cabe ressaltar que Dermott em seus escritos de 1764 chamou o Rabino
Jacob Judah Leon30 (Leon Templo) de “grande hebraísta, arquiteto e irmão” (Ruderman 1999:27).
A influência do judaísmo em Dermott é inegável e foi consolidada não só no livro Ahiman Rezon,
como no próprio brasão da Antiga Grande Loja da Inglaterra, com dizeres em hebraico, inspirada
pelo Rabino Leon Templo (Offenberg 95-115:1988).
Neste contexto multifacetado de ritos e rituais que surgem no século XVIII, ainda com
relação ao emprego do hebraico no simbolismo maçônico, interessante notar a presença da
chamada Ordem de Heredom mencionada em documentos antigos:

26 1 Crônicas 9:17
27 1 Reis 11
28 Segundo Schaw Eyer da Academia Maçônica da Pensilvania.
29 Noaicos ou Noachid é um termo utilizado no judaísmo para designar não-judeus de crença monoteísta que tenham

aderido aos princípios estabelecidos nas Sete Leis de Noé. Tecnicamente o termo Bnei Noach designa toda a
humanidade (os descendentes de Noé), mas no contexto judaico o termo se refere a indivíduos não-judeus e/ou
civilizações que sigam os princípios legais específicos estabelecidos pelos sábios do Talmud.
30
Jacob Judah Leon Templo (1603 – depois de 1675) foi um estudioso judeu holandês, tradutor dos Salmos e
especialista em heráldica, de ascendência sefardita. Ele era um desenhista habilidoso. O brasão de armas da Antiga
Grande Loja da Inglaterra com o lema, "Santidade ao Senhor", é obra de Judah Leon. O mesmo lema pode ser
encontrado no painel maçônico do grau de Mestre maçom em hebraico.

10
[...] there are two different orders of masonry which subsist in Scotland. The one
called “The Holy Lodge of St. John” [...] The other is called the Royal Order of
the H.R.D.M. of Kilwinning or the Royal Order of Scotch Masonry, into which
none but Master masons of the order of St. John can be admitted. This order
con(tains) 4 other degrees of masonry, & was instituted for many great &
valuable purposes [...]31.

Apesar da citada Ordem não ter criado um único órgão na Escócia desde 1753, ela se
disseminou no exterior. Há registros que documentam, em 6 de setembro de 1785, que Jean
Matheus32 solicitou patente para erigir o Capítulo Rosa Cruz em sua Loja em Rouen em um
Capítulo da H.R.D.M. De igual forma, Conselho realizado em Edimburgo, em 1º de maio de 1786,
atendeu o pedido e aprovou uma carta permitindo a Matheus “atuar como Grão-Mestre Provincial
da Ordem na França”. Várias cópias manuscritas da tradução de Matheus existem nas bibliotecas
francesas e nos arquivos de Edimburgo. Até 1811, vinte e sete Capítulos da Ordem foram
fundados por Matheus em Paris, em Savoy (Chambéry), no território do Império francês (Tournai,
Courtrai, Livorno) e nas colônias francesas (La Martinica e São Domingo). O Capítulo mais antigo
da Ordem em Paris foi estabelecido em 4 de outubro de 1786. Claude-Antoine Thory era seu
Thirsata33 desde 6 de novembro de 1807 (De Hoyos 2014).
Independente da história e da difusão da Ordem, o que é relevante para a proposta deste
artigo é exatamente o nome da Ordem: Heredom. Trata-se de mais um nome hebraico que muito
pouco estudado acaba por permitir uma série de ideias difusas e confusas que alimentam lendas e
distorcem o real significado da palavra, até mesmo afastando de sua origem etimológica hebraica.
Portanto, fundamental esclarecer que, como no hebraico as vogais não são empregadas (Lora
2014), a palavra Heredom passa a ser transliterada do hebraico para o alfabeto latino como HRDM,
conforme Gibb escreve em sua carta de 1782 ou ainda com a cifra maçónica, H.R.D.M. Acontece
que a palavra em hebraico utilizada no contexto bíblico para se referir aos “oficiais supervisores

31 Trecho de carta do Grande Secretário William Gibb de 21 de outubro de 1782. Bernheim, A. (2001) e (Peter, R.
(2016).
32 Jean Mathéus foi um comerciante de telas que chegou a Rouen em 1785, nascido em 1754 na Suíça germanófona.

Ele abalou o Grande Oriente da França, que procurou "destruir" sua loja, pois ele havia transmitido de Rouen um rito
original, chamado Hérodom de Kilwinning. Armado com uma patente emitida em Edimburgo pela Ordem Real da
Escócia, uma das mais antigas organizações da Maçonaria, o ambicioso viajante declarou-se autorizado a fundar lojas
na França. Contando com uma rede de correspondentes provinciais, o líder do novo rito conseguiu impor seu
"sistema" e suas fileiras, no norte e leste da França (Douai, Lille, Estrasburgo, Chambéry, etc.). Um sucesso que fez
inveja entre os nobres de Rouen, estupefatos com a retumbante chegada desse estrangeiro de fé protestante. Com seu
companheiro Clavel, primeiro supervisor da Loja da Amizade Ardente, onde se pratica o rito de Herodom (“as regras”
em hebraico).
33 Título persa para se referir a Governador. Mencionado no Grau 15 do REAA. Nas cinco vezes em que é empregado,

acha-se precedido do artigo definido hebraico ha, (HaTirsata) tornando-se em português “o Tirsata”, deturpado para
Artesata. As autoridades mencionadas na Bíblia com o título de “Tirsata” governavam sobre Judá, uma das províncias
persas. Zorobabel, evidentemente, era o Tirsata mencionado em Esdras 2:63 e Neemias 7:65, 70. Mais tarde, quando
Neemias se tornou governador, ele era o Tirsata, e é mencionado como tal em Neemias 8:9 e 10:1.

11
de construção” do Templo de Salomão em hebraico é Harodim (‫)הָרֹ ִ ִ֣דים‬34, transliterada temos,
HRDM. O mesmo pode ser percebido nas muitas outras palavras empregadas em todos os graus
do REAA e pela maçonaria, distorcidas ao longo dos anos. A raiz permanece, pois as consoantes,
na maior parte das vezes são as mesmas, ainda que o som possa mudar, como é o caso do
tetragrama, YHVH, Boaz, Yud, Moabon, dentre outras dezenas de palavras.

‫ֲׁשר עַל־הַ ְמלָאכָהְׁ לִ ׁשְְֹׁל ָֹ֔מה ח ֲִמ ִ ִׂ֖שים ַוח ֵ ֲִ֣מׁש מֵ ֑אֹות הָ ר ִ ִֹ֣דים בָ ָָ֔עם הָ ע ִ ִֹׂ֖שים‬
ֶׁ֤ ‫ֵ ִ֣אלה ׀ שָ ֵ ִ֣רי הַ נִצָ ִִ֗בים א‬
ְׁ‫ָאכה׃‬
ָֽ ָ ‫בַ ְמל‬
Estes eram os oficiais supervisores que estavam encarregados das obras de
Salomão e eram capatazes sobre as pessoas envolvidas na obra, que eram 55035.

A história da Ordem se confunde com a profusão e a multiplicidade de graus, ordens e


sistemas maçónicos estabelecidos já no século XVIII. De acordo com Bernheim (2001), a Ordem
tem registros na Inglaterra até 1753, na Escócia de 1753 até 1839, e na França de 1786 até 1811.
Ainda que de maneira discreta pelo nome em hebraico, as influências do idioma e da cabalá
atravessam as ordens e cada vez mais se tornam evidentes, especialmente pelos membros, seus
interesses e estudos. Neste contexto, o Rito da Estrita Observância merece uma atenção especial,
assim como o Rito Escocês Retificado (RER).

4- Rito da Estrita Observância e o Rito Escocês Retificado: a cabalá no centro da


discussão.

A multiplicidade de ritos, ordens, graus que surgiam, teve como uma das consequências
um infeliz mal-estar na maçonaria francesa, principalmente por admitir nos diferentes graus uma
multidão de indivíduos sem mérito. Foi na tentativa de organizar o caos que, em 1764, o Cavaleiro
Bonneville, auxiliado por maçons experimentados, fundou, em nome do Grão-Mestre da época e
sob seus auspícios, um Capítulo de Altos Graus denominado Capítulo de Clermont, na Nouvelle-
França36, região lindeira a Paris (Ragon 1843). O nome escolhido foi em homenagem ao Príncipe

34 A palavra Herodim pode ser encontrada nos seguintes trechos bíblicos: 2 Crónicas 2:18; 2 Crónicas 8:10; 1 Reis
5:30.
35 1 Reis 9:23.
36 La Nouvelle France é um antigo distrito de Paris que estava localizado em torno da atual Praça Montholon entre o

antigo bairro de Porcherons a oeste, o Faubourg Poissonnière ao sul e o Faubourg Saint-Laurent a leste.

12
Louis Bourbon37, Grão-Mestre da França. O capítulo era organizado em 25 graus que passou a ser
chamado de Rito de Perfeição ou Rito de Heredom38 (Mackey 344:1859).
De acordo com Ragon (1843), neste Capítulo foi iniciado o Barão Von Hund39 recebeu ali
os altos graus, e com isso, tempos depois, na Alemanha, estabeleceu os princípios do que chamou
a “A Estrita Observância” ou "Maçonaria Retificada", referindo-se ao sistema inglês da maçonaria
como a “Observância Tardia”.
Com o tempo, percebeu-se que vínculo maçônico com os Templários não passava de uma
invenção que atendia interesses diversos. A notícia logo se espalhou e uma Convenção foi
instalada. Em 1778, em Lyon, sob a Presidência de Jean Baptiste Willermoz, no Convento de
Gaules, pela primeira vez foi abjurado o sistema templário. Anos mais tarde, em 1782, em
Wilhemsbad, outra Convenção é realizada sob o pretexto de uma reforma geral na Ordem
Maçônica cujo objetivo era remover da Maçonaria o sistema Templário e colocar o Duque
Ferdinand de Brunswick á frente das lojas reformadas (Ragon 164:1853).
Do ponto de vista do vínculo entre cabalá e maçonaria, o que é relevante neste momento
é que o Rito da Estrita Observância de Von Hund surge com interesse de eliminar aspetos
relacionados à cabalá, hermetismo, ocultismo, amplamente praticados em muitas lojas, buscando
uma homogeneidade na Maçonaria através da aplicação de disciplina estrita, a regulação de funções
etc. (Gould 1879). Esse aspecto reforça a ideia de vinculação existente já na fundação dos ritos.
Assim, é inevitável reconhecer que nesta época a maçonaria em seus mais diversos ritos e graus
estava embebida não só com o tema da cabalá, possivelmente diluído no que muitos chamam de
ciências ocultas ou até mesmo hermetismo.
Da mesma forma, a partir das Convenções acima mencionadas, assim como da “Estrita
Observância”, surge outro rito de fundamental importância para observar o vínculo entre a cabalá
e a maçonaria, que é o Rito Escocês Retificado (RER). A esse respeito, a figura de Jean Baptiste
Willermoz merece atenção. Willermoz, aproximadamente no ano de 1753, fundou sua própria Loja
maçônica em Lyon, “Perfeita Amizade”. Lá, desenvolvia muitos estudos relacionados à cabalá,
ocultismos e alquimia. Mantinha contato com grandes estudiosos no tema, tais como Martinez de

37 Luís de Bourbon (1709 – 1771) foi um príncipe francês e conde de Clermont. Era filho do príncipe Luís III de
Bourbon-Condé e de Luísa Francisca de Bourbon, filha legitimada do rei Luís XIV de França. Luís foi Cavaleiro da
Ordem do Espírito Santo, e, membro da Academia Francesa, ademais foi também Grão-Mestre da Grande Oriente
de França.
38 Importante distinguir a Ordem de Heredom do Rito de Heredom.
39 Barão Von Hund, senhor de Altengrotkau e Lipsius, foi recebido como neófito em Frankfurt, em 1742, e iniciado

em Paris, em 1754, nas altas patentes do Capítulo de Clermont. Movido pelo pensamento de Ramsay, que todo
verdadeiro maçom é um cavaleiro templário, dividiu sua nova Maçonaria em diferentes graus, e baseou sua ordem,
como a do Templo, em um vasto território, dividido em nove províncias.

13
Pasqually40, Joseph de Maistre41 e Savalette de Lange42. Anos mais tarde foi iniciado na Ordem dos
Elus Cohens43 por meio de Pasqually (Bogdan 2016). Inspirado por Martinez de Pasqually,
Willermoz parte para a criação de um Rito com tendências cabalistas e que muito influenciou a
fundamentação e formação de ritos, estudos e trabalhos maçônicos calcados em conhecimentos
cabalísticos. Assim, Willermoz introduziu na Maçonaria a adaptação dos ensinamentos secretos
recebidos de Pasqually e o aperfeiçoamento do sistema maçônico, com base na doutrina e no
sistema oriundo da Ordem dos Ellus Cohen, ordem essa puramente baseada em princípios
cabalísticos (French 2019).
Apesar da tentativa de organização da estrutura e administração maçônica por meio dos
muitos conventos realizados na época, a divergência, cisão, formação de lojas, graus e ordens
parece ter dominado o século XVIII. Com essa pluralidade de lojas e ritos na Europa, a base para
a organização e formação do Rito Escocês Antigo e Aceito como hoje é conhecido estava formada.
Por sua vez, os elementos e simbolismos inerentes à cabalá estavam presentes nos estudos e rituais
que agora passariam a ser notados e reconhecidos pelos consolidadores americanos do rito.

5- A indiscutível relação da Cabalá com a Maçonaria: a contribuição de Albert Pike e


Albert Mackey.

Neste cenário caótico de ritos em que se encontrava a maçonaria na Europa no fim do


século XVIII, em 27 de agosto de 1764, o Conselho de Imperadores emite uma carta patente do
Grão-Inspetor, adjunto, ao judeu Etienne Stephen Morin, que partia para São Domingos a
negócios (Ragon 131:1853). O objetivo da carta era divulgar além-mar o Rito de Heredom e

40 Martinez de Pasqually (1727 -1779) foi um maçom francês. Autor do livro: Tratado da Reintegração dos Seres, onde
comenta o Pentateuco. Foi fundador de uma ordem não maçônica, mas composta exclusivamente por maçons, a
"Ordem dos Cavaleiros Elus Cohen do Universo - Ordem dos Cavaleiros Maçons, Sacerdotes Eleitos do Universo".
Esta Ordem complementava os tradicionais três graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre), com sistema de
Altos Graus. De todas as ordens maçônicas iluministas que afloraram em França, durante o século XVIII, nenhum
tem influência comparável com o nome de Martinismo.
41 Conde Joseph-Marie de Maistre (1753 – 1821) foi um escritor, filósofo, diplomata e magistrado.Foi um dos

proponentes mais influentes do pensamento contrarrevolucionário ultramontanista no período imediatamente


seguinte à Revolução Francesa de 1789. Ele é um dos pais da filosofia contra-revolucionária e um dos mais importantes
críticos das ideias iluministas. Ele considerava que a Revolução Francesa representou um crime contra a ordem natural,
e defendia o retorno a uma monarquia absoluta.
42 Charles-Pierre-Paul, marquês de Savalette de Langes (1745 – 1797), é uma personalidade da Maçonaria Francesa.

Filho mais velho de Charles-Pierre Savalette de Magnanville (1713-1790), recebeu em 1756 o cargo hereditário de
guardião do Tesouro Real, que ocupou durante os reinados de Luís XV e Luís XVI.
43 A Ordem dos Elus Cohens, cujo nome completo é Ordem dos Cavaleiros Elus Cohen do Universo/Ordem dos

Cavaleiros Maçons, Sacerdotes Eleitos do Universo foi criada entre 1754 -1758 por Joachim Martínez de Pasqually
como rito complementar à Maçonaria tradicional. Cohen em hebraico significa sacerdote. Desta Ordem Tradicional
derivaria a Ordem Martinista. Somente aqueles maçons de grau "Elús" foram admitidos no "Elús Cohen". Jean
Baptiste Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin pertenciam a esta Ordem dos Eleitos Cohen.

14
promover “em todas as partes do mundo” a Maçonaria Perfeita e Sublime, criando Lojas de São
João, bem como, a de admitir e elevar Irmãos aos sublimes graus (Ragon 1853).
Por volta de 1763, Morin introduziu a Ordem do Segredo Real em Kingston, Jamaica, e
em 1764, os altos graus foram levados para o solo norte-americano, quando foram estabelecidos
em Nova Orleans, Louisiana (De Hoyos 2014). Nessa época, Morin deu poder a um entusiasta
maçom holandês, Henry Andrew Francken44, para estabelecer Corpos Maçônicos em todo o Novo
Mundo, incluindo os Estados Unidos. Francken foi para Nova York e, em 1767, começou a
conferir os altos graus em Albany. Em 6 de dezembro de 1768, Francken nomeou Moses Michael
Hays45 Vice-Inspetor-Geral do Rito para as Índias Ocidentais e América do Norte. Por sua vez, a
patente de Hays concedeu autoridade para conferir todos os Graus da Ordem do Segredo Real de
Morin.
No ano seguinte, Francken retornou à Jamaica e, em 1780, Hays imigrou para Newport,
Rhode Island. Em 1781, Hays viajou para a Filadélfia, onde se encontrou com oito Irmãos, a quem
nomeou Inspetores-Gerais, adjuntos, em determinados Estados americanos, com exceção de
Samuel Myers, que presidiu as Ilhas Leeward nas Índias Ocidentais no Caribe. Barend Moses
Spitzer46, um dos Vice-Inspetores-Gerais viveu em Charleston, SC, de 1770 a 1781 e mudou-se
para a Filadélfia. Spitzer nomeou o irlandês John Mitchell47, então morando em Charleston, um
Vice-Inspetor-Geral da Ordem do Real Segredo.

44 Francken chegou à Jamaica em fevereiro de 1757, onde se naturalizou cidadão britânico em 2 de março de 1758.
Foi empregado durante vários anos como perito, Polícia Oficial e Sargento do Tribunal do Vice-Almirantado. É
provavelmente nessa época que conheceu Etienne Morin enquanto passava pela Jamaica antes de chegar a Saint-Marc
(Saint-Domingue). O único homem que foi mais importante em ajudar Morin na divulgação dos altos graus da
Maçonaria no Novo Mundo foi um súdito francês naturalizado de origem holandesa chamado Henry Andrew
Francken. Estienne Morin o nomeou Vice-Grande Inspetor Geral como um de seus primeiros atos depois de retornar
às Índias Ocidentais. Francken trabalhou em estreita colaboração com Morin e, em 1771, produziu um livro
manuscrito dando os rituais do 15º ao 25º graus. Francken produziu pelo menos mais dois manuscritos semelhantes,
um em 1783 e outro por volta de 1786. O segundo e o terceiro desses manuscritos incluíam todos os graus do 4º ao
25º. Enquanto estava em Nova York, Francken também comunicou os diplomas a Moses Michael Hays, um
empresário judeu, e o nomeou vice-inspetor-geral. Em 1781.
45 Moses Michael Hays (1739 - 1805) foi um banqueiro, comerciante e filantropo americano. Como o cidadão judeu

mais proeminente do século 18 de Boston, Moses Michael Hays estabeleceu um alto padrão de liderança cívica e
caridade. Ele ajudou a estabelecer o movimento maçônico da Nova Inglaterra e em 1792 foi eleito Grão-Mestre, com
Paul Revere como seu vice. Hays nasceu em Nova York em 1739, filho de imigrantes judeus holandeses Judah Hays
e Rebecca Michaels. Eram sefarditas. Judah Hays levou seu filho para seu negócio de transporte e varejo e, após sua
morte em 1764, deixou-lhe o negócio e a maior parte de seus ativos. Moses continuou o compromisso de seu pai com
a Congregação Shearith Israel, servindo como segundo parnas (vice-presidente) em 1766 e parnas em 1767.
46 Barend Moses Spitzer viveu em Charleston, SC, de 1770-1781 e partiu com outros judeus quando os britânicos

tomaram a cidade. Ele foi para a Filadélfia em 1781, onde foi nomeado vice-inspetor-geral da Geórgia. Enquanto na
Filadélfia, ele era um membro da Congregação Mickve Israel de 1781-82. Ele retornou a Charleston em 1782, depois
deixou Charleston em 1784 para as Índias Ocidentais e retornou a Charleston em 1788. Ele morreu em Charleston
em 1796.
47 John H. Mitchell será sempre lembrado como aquele que conseguiu iniciar o Conselho Supremo para o 33° nos

Estados Unidos da América onde outros se cansaram em diferentes cidades e não conseguiram.

15
Em 24 de maio de 1801, John Mitchell fez do reverendo Frederick Dalcho48 Vice-Inspetor-
Geral da Ordem do Segredo Real e, uma semana depois, em 31 de maio, “o Supremo Conselho
do 33º Grau para os Estados Unidos da América foi aberto de acordo com as “Grandes
Constituições” em Charleston, Carolina do Sul, com o Cel. Mitchell e o Rev. Dalcho o presidindo.
Em 1804, Alexandre-Auguste de Grasse-Tilly49, membro do Supremo Conselho de
Charleston, organizou um Supremo Conselho para a França. Em um acordo feito naquele ano
entre este Supremo Conselho recém-criado e o Grande Oriente da França (que funcionava como
uma Grande Loja), o título “Rito Escocês Antigo e Aceito” (Rite Écossais Ancien et Accepté) foi
assim usado pela primeira vez (De Hoyos 2014).
Embora, como vimos, os trinta e três Graus já estivessem criados, o R.E.A.A. só foi
constituído com a fundação do primeiro Supremo Conselho no mundo, em 31 de maio de 1801,
por John Mitchell, do conde Alexandre de Grasse-Tilly, de Jean-Baptiste Delahogue e de Fréderic
Dalcho. Em 4 de Dezembro de 1802, sob a autoridade do Supremo Conselho dos Estados Unidos
é publicada uma circular aos dois hemisférios, a qual segundo certos historiadores maçónicos,
constitui um verdadeiro ato de nascimento do R.E.A.A., originado pelo alargamento e
transformação do Rito de Perfeição. O objetivo dessa circular foi o de explicar a origem e a
natureza dos Graus Sublimes da Maçonaria e da sua instituição na Carolina do Sul (De Hoyos
2014).
Neste ponto, os graus estavam em uma forma rudimentar, e muitas vezes incluíam apenas
uma breve história e lenda de cada grau, bem como outros breves detalhes que geralmente careciam
de um ritual viável para sua atribuição. Em 1855, o Supremo Conselho nomeou um comitê para

48 Frederick Dalcho (1770-1836) foi um maçom britânico-americano. Depois de se formar em medicina, Dalcho
ingressou no Exército como cirurgião. Ele serviu por vários anos e acabou renunciando em 1796 para embarcar em
um navio particular no qual fez várias viagens à África. Dalcho teve um grande efeito na Maçonaria na Carolina do
Sul. Em 1801 ele se tornou um maçom do 33° Rito Escocês Antigo Aceito enquanto ajudava a formar o Supremo
Conselho, Jurisdição do Sul em Charleston. Ele serviu como o primeiro Lt. Grande Comandante da organização. Era
amplamente considerado um excelente orador e frequentemente fazia discursos sobre a fraternidade e a história da
organização. Enfatizou que os ideais da Maçonaria eram importantes não apenas dentro da fraternidade. Aplicavam-
se ao cotidiano.
49 Alexandre François Auguste, Conde de Grasse e Marquês de Tilly (1765-1845), oficial francês, chega em 1789 a

Cap-Français (Ilha de São-Domingos) para tomar posse da herança do pai, o Almirante de Grasse. Durante a sua
estadia, ele vai participar e integrar-se na Loja de Perfeição de São João de Jerusalém. Essa Loja agrega os Conselhos
dos Cavaleiros do Oriente, dos Príncipes de Jerusalém e possivelmente dos Príncipes do Real Segredo. Em São
Domingos a situação social torna-se instável, provavelmente em consequência da Revolução Francesa. Depois da
revolta dos escravos, em agosto de 1791, os tumultos sucedem-se e Grasse-Tilly decide deixar a ilha. Embarca para
Charleston, Carolina do Sul, a 8 de julho de 1793. Em Charleston, ele vai de bastante tempo e esforço à Maçonaria,
sendo um dos fundadores da Loja “de la Candeur” e Venerável dessa Loja em 1798. Vai conhecer entre outros, os
Irmãos John Mitchell, Frederick Dalcho, Isaac Auld, Barend Spitzer, todos praticando o Rito de Perfeição. Em janeiro
de 1795, decidem constituir um Consistório dos Príncipes do Segredo Real, acima do Grande Conselho dos Príncipes
de Jerusalém existente desde 20 de fevereiro de 1788. Deixou sua carreira de médico e se dedicou ao estudo e escrita
de temas relacionados à maçonaria. Aprendeu grego, latim, hebraico sem ajuda, e lecionou frequentemente sobre o
desenvolvimento intelectual e moral da Idade Média. Posteriormente, ele voltou sua atenção exclusivamente para a
investigação do simbolismo abstruso e para pesquisas cabalísticas e talmúdicas.

16
preparar e compilar rituais para o 4º ao 32º Graus. Esse comitê era composto por Albert G.
Mackey, John H. Honor, William S. Rockwell, Claude P. Samory e Albert Pike. Desses cinco
membros do comitê, Pike fez todo o trabalho do comitê.
Em 1857, Pike completou sua primeira revisão do ritual 4°-32° e imprimiu 100 cópias. Esta
revisão, que Mackey apelidou de "Magnum Opus", nunca foi adotada pelo Supremo Conselho. De
acordo com Arturo de Hoyos, 33°, o Grande Historiador do Rito Escocês, a Magnum Opus
tornou-se a base para futuras revisões rituais. Em março de 1858, Pike foi eleito membro do
Supremo Conselho para a Jurisdição Sul dos Estados Unidos e, em janeiro de 1859, tornou-se seu
Grande Comandante.
O conhecido contexto histórico do REAA – uma espécie de genealogia de fundações e
iniciações - é relevante principalmente pelas pessoas envolvidas na consolidação do rito nos EUA.
Ainda que pese o fato de muitos dos fundadores do rito serem de origem judaica (Oppenheim
1998), é por meio de Pike que a cabalá passa a ter um peso ainda maior no REAA. Após a Guerra
Civil americana, Pike mergulhou no estudo da cabalá dentre outros temas esotéricos (Carnes 1989:
137). Pike entendia a maçonaria como uma continuação das escolas de tradições esotéricas antigas.
Importante lembrar que ele é considerado como um dos personagens mais importantes na história
da maçonaria americana (Urban 2001).
Pike então passou a expor os mais altos mistérios da tradição, à medida que eram
incorporados nas iniciações elaboradas pelo “Rito Escocês”. De certa forma, Albert Pike
popularizou as ideias de Eliphas Lévi50 para um público de língua inglesa. A esse respeito, é
importante mencionar que Eliphas Levi foi iniciado e era um conhecido ocultista, até hoje
reconhecido como um dos principais no mundo, além de estudioso de cabalá (Levi 2000). Todavia,
fica evidente que as influências e referências se cruzam, o que acaba por refletir nas instruções e
simbolismo.
O trabalho de Pike, Morals and Dogmas, parece uma interpretação dos símbolos e práticas
do REAA. O livro contém numerosas referências à “luz”, em hebraico, Ohr, assim como ao
“infinito”, Ein Sof, as dez sefirot, e um equilíbrio entre ativo e passivo, positivo e negativo, dentre
outros termos amplamente usados pela cabalá em seus livros basilares, tais como o Zohar e o Sefer
Yetsirá, também encontrados nas obras de Eliphas Levi.
Esses elementos foram apresentados no contexto de um universalismo no qual a cabalá
estava associada à filosofia oriental. Pike enfatizou o Evangelho de João ao lado do Zohar e do Sefer

50 Eliphas Levi foi um dos maiores místicos do século XIX, Eliphas Levi (1810-1875), ocultista francês e grande
conhecedor da Cabala, que tinha um tremendo impacto sobre Albert Pike. Alguns capítulos da Moral de Pike e Dogma
eram basicamente citações diretas do trabalho de Levi. Em 1855, Levi escreveu um livro Dogma and Ritual of High
Magic, que, assim como seus outros livros, inspiraria os ocultistas como S. L. MacGregor Mathers e Aleister Crowley,
e contribuir para a revitalização da magia e ocultismo na segunda metade do século XIX.

17
Yetzirá como fontes para a cabalá e o ocultismo. Citando os ensinamentos cabalistas escreveu que
“tudo o que existe emana de uma fonte de luz infinita”, um fundamental primordial para o
entendimento da cabalá e bem abordado nos diversos textos cabalísticos (Chajes 17:2018).
De acordo com Peters (2016), Pike fez uso da guemátria em muitas das suas análises das
palavras de passe e palavras sagradas dos graus do REAA. Em Moral e Dogma, Pike se refere à
cabalá como “a chave das ciências ocultas” (Peters 2012). A presença da cabalá na maçonaria não
só fica evidente com a consolidação do REAA, como passa a ser a chave para interpretação do
simbolismo e do enredo que se descortina em cada grau. Portanto, necessário o exame minucioso
do vínculo, assim como do estudo com vistas a compreender o sentido de toda a carga alegórica
que reveste os ritos.
O verbete “cabalá” aparece por mais de cem em Moral and Dogma e está nos rituais em
muitas das instruções dos graus simbólicos, assim como dos graus complementares. Albert
Mackey51 em sua enciclopédia maçônica descreve a cabalá como:

intimately connected with the symbolic science of Freemasonry, the Kabbala may be defined to
be a system of philosophy which embraces certain mystical interpretations of Scripture, and
metaphysical speculations concerning the Deity, man, and spiritual beings. (389:1913)

De modo a complementar esse entendimento deixar claro o vínculo da maçonaria com a


cabalá, principalmente nos graus complementares, Mackey afirma ainda:

Much use is made of it in the high degrees, and entire Bites have been constructed on its
principles. Hence it demands a place in any general work on Masonry. (391:1913)

No que diz respeito aos reflexos e ecos que a cabalá ainda causa na maçonaria e, de um
modo específico no REAA, fica evidente a necessidade de mais respostas às perguntas que ecoam
nos templos maçônicos pelo mundo: por que o hebraico está na maçonaria? Qual a real tradução
das palavras de passe e sagrada empregadas em cada grau? Qual significado desses caracteres
desenhados no ritual, no avental e até em artigos da Loja? De onde vem todo esse conteúdo
simbólico e bem orquestrado que abunda na maçonaria? Por que se utiliza tantos toques, sinais e
palavras? Ashmole, Willermoz, Levi, Mackey, Pike, dentre outros têm examinado o assunto e
apresentado suas conclusões.

51Albert Gallatin Mackey (12 de Março de 1807 – 20 de Junho de 1881), foi um médico estadunidense, e é mais
conhecido por ter sido autor de vários livros e artigos sobre a Maçonaria, sobretudo, nos Landmarks da Maçonaria.
Ele serviu como Grande Professor e Grande Secretário da Grande Loja de Carolina do Sul; e Secretário-geral do
Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito da Jurisdição Sul dos Estados Unidos.

18
4- Conclusão

A cabalá tem sido um tema de grande obsessão por parte dos pensadores e cientistas
cristãos ao longo dos séculos. O crédito para apresentá-la ao mundo cristão pertence ao florentino
Conde, Giovanni Pico della Mirandola no século XV, que foi considerado como tendo incluído a
Cabalá no próprio núcleo do pensamento renascentista. No período que se seguiu, a lista de
estudiosos a analisar o assunto é enorme. Isaac Newton aprendeu a língua hebraica para que
pudesse estudar cabalá. Paracelso afirmou que seu trabalho foi baseado na cabalá. Colombo
estudou Zohar, assim como John Dee e o filósofo Gottfried Leibniz. Carl Jung ficou impressionado
com a cabalá e muito de seu ensinamento foi baseado sob sua influência. Na maçonaria, o mais
famoso dos maçons americanos, Albert Pike, deixa isso bem claro em sua obra (Nicolic 44:1994)
O caminho histórico traçado por essa pesquisa procura visitar alguns aspectos e
personalidades maçônicas desde sua remota origem, ainda como maçonaria especulativa até o
surgimento do Rito Escocês Antigo e Aceito nos EUA. Com a análise biográfica, assim como com
as fontes ora mencionadas, fica claro que a cabalá possui um vínculo com a maçonaria,
principalmente por meio do simbolismo. Ademais dos autores, as personalidades que deram
origem aos graus, ritos, rituais, enfim, à história da maçonaria, em sua maior parte estudaram e, de
alguma forma, tiveram próximo contato com a cabalá, fato presente não só pelo aspecto bíblico
dos rituais, mas pelo emprego massivo de palavras hebraicas e significado simbólico das alegorias
de uma loja e dos rituais da Ordem.
Pela profundidade da cabalá, assim como seu estudo, muito em razão do idioma hebraico,
da guemátria, dentre outros elementos, alguns estudiosos da maçonaria tem receio e até certa
aversão em reconhecer o vínculo existente. Por outro lado, muitos do que procuram estabelecer o
elo entre ambos os assuntos, por não dominar minimamente o conteúdo, acabam por deturpar a
relação, até mesmo por buscar, em fontes secundárias já distorcidas uma explicação concisa de um
tema estudado há muitos anos pelas Yeshivot52 e Escolas de Cabalá. Portanto, é fundamental que o
estudo, pesquisa e exame do tema esteja calcado não são em fontes acadêmicas, como também na
tradição contida nos estudos e comentários das principais obras cabalísticas.
A relação entre ambos os assuntos pôde ser assim examinada desde a influência da cabalá
nos primeiros textos maçônicos – pilares da maçonaria operativa –, passando pela análise
biográfica de muitos personagens maçons que contribuíram e desenvolveram ritos, graus e
estrutura da maçonaria especulativa anos depois, culminando com a constatação já por parte dos

52são as instituições judaicas que incidem sobre o estudo de textos religiosos tradicionais, principalmente o Talmud e
a Torá. O estudo geralmente é feito através de palestras ou aulas e em pares de estudo chamados chavrutas. O estilo de
aprendizagem chavruta é uma das características únicas da yeshiva.

19
elaboradores do REAA a respeito da indelével presença da cabalá no simbolismo e em todo
trabalho maçônico, especialmente presente na obra Moral e Dogma de Albert Pike.
Reconhecer e aprofundar o estudo maçônico galgado com os aspectos cabalístico não só
abrilhanta a compreensão dos graus do REAA, mas possibilita empiricamente que as discussões e
reflexões proporcionadas nos templos, manuais e rituais maçônicos possam ganhar a proporção
desejada por parte de seus elaboradores, extrapolando o estudo, o entendimento ritualístico,
culminando com a extensão prática na experiência cotidiana do maçom e até mesmo da
comunidade. Ainda que se considere discreta na atualidade, a maçonaria parece continuar velada
até mesmo a seus iniciados até que eles mesmos possam desvendar o significado dos diversos
simbolismos e alegorias à luz da cabalá e de outras filosofias presentes.

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