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"José carpinteiro": breve meditação sobre um quadro

barroco

Prezados amigos, salve Maria!


Escolhi, há alguns anos, a pintura acima como a imagem em que devo me inspirar para meus
trabalhos e cumprimento dos meus deveres de estado. Não deixo nunca de me comover, cada vez que
paro para contempla-la e meditar um pouco no que ela significa.
Trata-se de “José o carpinteiro”, um quadro barroco de Georges de la Tour, de 1642. O estilo barroco
nele é inconfundível. Uma cena muito simbólica, muito escura, com um foco de luz central (não um centro
geométrico, mas de importância) e um forte contraste entre claro e escuro. Também as cores são escuras,
porém tão vivas como o fogo.
Os ingênuos – e muitos assim se perceberão – pensam que o foco principal de luz é a vela. Enganam-
se. É o rosto do menino. Obviamente, a vela é apenas a fonte de luz natural, com todos os símbolos que a
vela porta e que já conhecemos. Não é à toa que a vela tem certo destaque na cena. Mas o menino a
esconde com a mão, numa indicação de mistério. É verdade que poderíamos pensar que a mão do menino
sobre a vela representa a encarnação do Verbo, quando o corpo de cristo esconde a luz da natureza
divina. Creio que isto também esteja muito bem simbolizado aí. Mas, o centro de importância do quadro é
a luz que emana da face do menino.
A vela é a razão humana, que ilumina parte dos corpos, que é o que enxergamos com os olhos da
carne. A luz verdadeira emana do Ser de Deus, que é o rosto do menino, pois é pelo rosto que se conhece
a identidade e a verdade do que somos.
A figura à esquerda é São José, que representa em seu rosto o resumo da sabedoria e da justiça
humanas. Quem o olha atentamente, vê a serenidade de um santo que parece não precisar mais de
perfeição. É o judeu que tem a lei, os profetas e o Messias. Ele ocupa suas mãos com a ferramenta, que é a
aplicação dos conhecimentos humanos, que é nada perto do ser de Deus. Por isto, lhe calca sob os pés e
é a atividade mais baixa da cena. São José dobra seu corpo sobre ela, inclinando-se às necessidades
humanas.
No entanto, inclinando-se aos deveres de estado, inclina-se, contemporaneamente, ao menino e
expõe totalmente a sua parte superior, a cabeça, ao que o menino o ensina. Reparem em sua testa
iluminada. A calvície é a nudez dos pensamentos mundanos, a inocência que permite aos puros verem a
Deus. Os olhos de São José não estão no trabalho humano, mas atentos ao que lhe ensina o menino. São
José, perfeito, ouve como uma criança atenta ao que ensina seu filho, que é A criança, a fonte de luz, com
a atenção de quem ouve o que há de mais elevado e parece deleitar-se enormemente, interiormente, com o
que ouve. Parece até que o menino lhe explica a mais velada das profecias. Vendo a mão que oculta a vela,
suponho que o menino lhe explica alguma profecia sobre a encarnação do Verbo.
O menino também trabalha. Segura a luz para que São José veja bem, com prudência, o que faz. O
menino ajuda o velho pai, que já tem as vistas cansadas, com algo que parece tolo, como que pondo um
véu sobre o tema do quadro, que é a sabedoria do menino sendo transmitida ao velho pai, enquanto o
velho pai ocupa-se de sustentar humanamente o menino com os trabalhos necessários do mundo. Como
se o menino não pudesse prover milagrosamente aquele mínimo, mas Nosso Senhor nos permite o suor
nos menores afazeres e nos garante o sublime de sua companhia, nos acompanhando em nossas
misérias, com uma velinha humanamente insignificante. Enquanto sua face brilha de tanta verdade,
desejando ardentemente nos contar a beleza de seu Ser desde toda a eternidade.
Fabio Vanini
19/3/2020, Festa de São José

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