Você está na página 1de 7

CAPÍTULO SEIS: A ÉPOCA DO FUNCIONALISMO

A SITUAÇÃO ITALIANA

- o manifesto da arquitetura futurista não teve adesão: na Itália se ignorava muitas das
coisas propostas pelo manifesto, como a indústria, problemas das habitações dos
operários, etc.
- a história da arquitetura moderna italiana é a história de suas difíceis relações com o
regime fascista: a iniciativa da construção civil estava, em grande parte, nas mãos dos
poderes públicos.
- ao mesmo tempo em que não renega a tendência moderna, na essência porém apoia o
tradicionalismo dos praticantes ínspidos e oportunistas: isso cria um modernismo que
não está isento de soluções modernas de certo interesse formal, mas totalmente alheias
ao espírito e aos problemas da arquitetura moderna europeia.
- esse movimento moderno sofre uma tendência a desagregar o movimento moderno e a
reduzir o problema a uma questão de escolhas formais (arcos e colunas, ou concreto
armado)
- para os arquitetos “oficiais”, a intervenção moderna sobre a cidade antiga geralmente
consiste na “demolição” e no chamado saneamento dos centros históricos, no
afastamento das classes pobres do centro das cidades, para relegá-las à desolação dos
bairros populares e as choupanas infectadas da periferia.
- o “vulto monumental” ou “imperial” era pouco mais do que um pretexto: desalojar os
pobres dos centros urbano significava, na verdade, colocar mais terrenos nobres à
disposição dos especuladores.
- desenvolver um urbanismo moderno significava sacrificar a exploração especuladora
dos particulares à função pública urbana, reformar a estrutura classista da comunidade,
isto é, enfrentar todos esses problemas sociais que o regime, guardião dos interesses da
burguesia conservadora, considerava perigosos para a ordem do Estado.
- o problema italiano não era de adequação, mas de amadurecimento.
- no final da guerra, o futurismo estava em crise, entretanto seu ciclo não havia se
encerrado
- o sucesso do construtivismo russo mantem acessas as esperanças saudosistas da
vanguarda
- os neofuturistas foram os únicos a compreender que o desenvolvimento de uma arte
moderna italiana deveria partir necessariamente do Futurismo e sua crise. Apontando
suas causas na ênfase neo-romântica e no historicismo.
- era preciso não tentar relançar o futurismo “heroico”, e sim radicalizá-lo, extinguir
seus furores polêmicos e românticos, a pretensão de ser a “via italiana” da arte moderna
- há um pressentimento da crise iminente do objeto artístico tradicional, o quadro
- o movimento não contava com um programa definido, em vez de se operem
polemicamente ao italianismo genérico da corrente dominante, o Novecento, afastam-se
dele e o ignoram.
- sentem que existe um problema italiano, o qual não consiste, porém, na renovação das
“antigas tradições” nem na importação clandestina de uma cultura europeia para a Itália,
e sim na solução de contradições internas que isolam a cultura artística italiana da
cultura artística europeia
- intentam em reabsorver o Futurismo e a Metafísica de maneira crítica e não eclética,
alçando uma funcionalidade poética, uma comunicação lírica de conceitos espaciais

PINTURA E ESCULTURA
- a função de uma máquina é o trabalho que ela produz, o funcionamento é movimento
coodernado de seus mecanismos.
- a arte deixa de ser uma representação do mundo, e se torna uma ação que se realiza
- a exigência de desenvolver a funcionalidade da arte se inclui na tendência geral da
sociedade, já totalmente envolvida no ciclo econômico de produção e consumo, em
realizar máxima funcionalidade
- os artistas querem participar da demolição das velhas hierarquias estáticas de classes e
no advento de uma sociedade funcional sem classes: caminham para uma ordem
democrática da sociedade, na história da luta das forças progressistas contra as forças
conservadoras.
- a arte moderna americana se baseia nos conceitos de Wright:
1) a concepção do espaço como criação humana, dimensão da existência, que a própria
existência determina a sua atuação
2) a concepção da arte como gesto, com a qual se afirma simultaneamente a existência
indissociável do sujeito com a realidade
3) a adoção na imagem artística de materiais ou elementos extraídos diretamente da
realidade
4) a tensão entre operação artística e operação tecnológica
5) o poder, que o artista atribui, de impor às coisas um significado diferente daquele que
lhe é habitualmente conferido e de transformar a obra de arte num ato que intensifica e
aumenta o valor da existência
- o trabalhador perdeu qualquer autonomia de iniciativa e decisão com o advento da
indústria e a crise do artesanato, assim, o trabalho livre na indústria não é livre, portanto
não é criativo, não dependendo de uma experiência da realidade e não a renova.
- o artista é o centro da própria problemática do mundo moderno, onde tende, como o
último herdeiro do espírito criativo do trabalho artesanal, a demonstrar qual pode ser, na
unidade funcional do corpo social, o valor do indivíduo e da sua atividade.
- a arte como opositora do trabalho alienante das fábricas
- transformação do sistema ou estrutura da arte, passando de representativa a funcional:
não mais reconhece um valor em si na obra de arte, mas apenas um valor de
demonstração de um procedimento operativo exemplar, ou, mais precisamente, de um
tipo de procedimento que implica e renova a experiência da realidade
1) a arte, como modelo de operação criativa, contribui para modificar as condições
objetivas pelas quais a operação industrial é alienante
2) a arte compensa a alienação favorecendo uma recuperação de energias criativas fora
da função industrial

- o futurismo italiano é o primeiro movimento que pode se chamar de vanguarda, pois é


um movimento que investe um interesse ideológico na arte, preparando e anunciando
deliberadamente uma subversão radical da cultura e até dos costumes sociais, negando
em bloco todo o passado e substituindo a pesquisa metódica por uma ousada
experimentação na ordem estilística e técnica
- as vanguardas são um fenômeno típico de países culturalmente menos desenvolvidos e
apresentam-se como rebelião contra a cultura oficial geralmente moderada,
aproximando-se dos movimentos políticos progressistas
- nos manifestos futuristas pede-se a destruição das cidades históricas, como Veneza, e
dos museus, exalta-se a cidade nova, concebida como uma imensa máquina em
movimento
- a revolução que se deseja é, na verdade, a revolução industrial ou tecnológica, sendo
ainda uma revolução burguesa
- na nova civilização das máquinas, os intelectuais-artistas deverão representar o
impulso espiritual do “gênio”
- os futuristas se dizem antirromânticos e pregam uma arte que expresse “estados de
alma”, fortemente emotiva
- exaltam a ciência e a técnica, mas querem-nas intimamente poéticas e líricas
- proclamam-se socialistas, mas não se interessam pelas lutas operárias, pelo contrário,
veem nos intelectuais de vanguarda a aristocracia do futuro
- são internacionalistas, mas anunciam que o “gênio italiano” salvará a cultura mundial
- para sair do seu provincianismo tradicional, a cultura italiana deve se alinhar com a
europeia, ou seja, deve incorporar a experiência do Romantismo, do Impressionismo, do
Cubismo e, ao mesmo tempo, superá-la criticamente.
- o extremismo futurista se dissolvia em um limite: na medida em que a Itália se engajou
politicamente numa guerra europeia, ela precisa encontrar seu lugar numa história
europeia, situar-se com clareza em relação aos grandes movimentos, criar para si uma
arte moderna a partir dos museus
- Boccioni se preocupava-se em determinar a posição do dinamismo plástico e sintético
do futurismo como uma renovação da linguagem formal, que transforma tudo no
interior do “sistema das artes”, mas não destrói suas premissas.

O TEMPO EM FORMAS ÚNICAS DE CONTINUIDADE NO ESPAÇO


- é considerado pelo autor como seu trabalho mais livre e é também, na perspectiva do
artista aquele que representaria todas as características necessárias a uma escultura
verdadeiramente moderna
- é um figura humana que parece caminhar
- a escolha do gesso pelo autor é dada pela busca do fim da tradição e do uso de
materiais clássicos ainda mais enfaticamente no caso da escultura do que da pintura
- a escolha do material parece também falar a respeito de uma carcterística desse mundo
que tem o processo industrial: a finalidade que as coisas tem, a escultura não é feita para
durar, não é feita para ser eterna, mas é feita para o momento em que foi composta.
- Einstein mostra que a representação newtoniana de um tempo único e uniforme
através de toda a extensão do unvierso físico não era sustentável, assim como o
entendimento dessas duas condições como conceitos independentes e distintos era
inaplicável, pois as relações posicionais em si são totalmente inseparáveis umas das
outras
- tempo e espaço passaram a serem entendidos a partir de então como fisicamente
interdependentes.
- o tempo seria concebido como uma sucessão de acontecimentos, com o presente, o
passado e o futuro não mais pensados como lineares, mas como períodos
interpenetráveis para Bergson, que afirma que “não há dúvida de que o tempo, para nós,
confunde-se inicialmente com a continuidade de nossa vida interior”
- segundo Octavio Paz, em Los Hijos del Limo, o tempoe, todo seu leque de concepções,
pode ser definido em “tentativas de anular mudanças” em benefício de um “tempo sem
tempo”
- a modernidade seria a primeira vez que a sociedade produziria uma concepção
temporal que exaltara a mudança, valorizando a diferença, a novidade, a eolução, ou
seja, o futuro.
- o tempo finito e irreversível seria fruto dessa sociedade, sustentadora de mudanças
teóricas e capaz de criar uma arte fundamentada no rompimento da tradição, ou ainda,
em sua completa negação.
- essa crítica à tradição, importante tanto à teoria quanto à estética dos movimentos de
vanguarda, se iniciaria, para Paz, com a tomada de consciência da pertença à uma
tradição, podendo a partir de então rompê-la e escolher para si próprio uma tradição que
se julgasse condizente, é essa paixão crítica que seria para o autor a própria consciência
histórica: “tradição do rompimento”, presente no Manifesto Técnico da Escultura
Futurista publicado por Boccioni
- o futurista estabelece para sua produção escultórica uma tradição, mas ao mesmo
tempo em que a qualifica a desconstrói
- para ele, a arte que o recede não representaria seu próprio tempo.
- todas as mudanças de aspecto fundamental na arte da virada do século espelhavam de
certo modo as inovações tecnológicas, filosóficas e científicas dessa sociedade.
- além disso, o uso de termos como espaço-tempo, quarta dimensão, continuidade e
simultaneidade teria levado a uma especulação sobre a relação entre a produção
futurista e essas mudanças no entendimento de tempo tanto na física quanto na filosofia.
- a racionalidade calculista seria a unidade dos diferentes aspectos da sociedade
renascentista italiana não há concepção de tempo que não seja o reflexo do
entendimento de mundo de sua sociedade, assim como não há produção artística que
não perpasse os anseios e as necessidades da sociedade na qual foi produzida
- a relação conflitiva que os futuristas apresentam com o passado tem origem em um
sonho de modernidade, onde o novo, a novidade, a mudança seriam a utopia, alimento
do espírito moderno, de um mundo sem passado.
- a principal crítica de Boccioni ao cubismo é que estes eeram incapazes de
representarem uma evolução contínua dos movimentos, sendo que o resultado atingido
seria uma representação estática de diferentes momentos, ou o mesmo instante em
diferentes pontos de vista, não representando assim o tempo.
- a arte futurista seria mais evoluída para eles por conseguir registrar os diferentes
momentos mantendo uma continuidade.
- era então determinar relações posicionais entre eventos que se produzem numa série
evolutiva contínua, sem no entanto reduzi-las conceitualmente entre posições estáticas
representando uma tarefa muito mais difícil.
- é essa evolução contínua, expressa no título da obra de Boccioni que se configura
como algo fundamental em sua produção escultural, significativa e expressiva de seu
próprio tempo
- a negação do passado e a valorização do novo, a defesa de uma estética própria da
modernidade que rompesse com o academicismo está no cerne do movimento futurista
- o objetivo primordial de Boccioni era transmitir a ideia de movimento.
- os futuristas perceberam no movimento dinâmico o principio chave da modernidade e
se esforçaram para expressar em sua spinturas e esculturas sua percepção dos objetos
em movimento, para Schapiro.
- essa escultura seria a expressão do dinamismo plástico, que uniria o infinito plástico
aparente e o infinito plástico interior, cirando assim uma escultura ambiental, sendo a
solução escultórica ideal para as necessidades estéticas futuristas.
- para criação de uma escultura inovadora, Boccioni, seria necessário “modelar a
atmosfera que circunda as coisas”, de modo que todos os elementos da escultura
pudessem forma-la “uma pura construção de elementos plásticos completamente
renovado”
- a cor era algo fundamental para Boccioni, porque poderia “aumentar a força emotiva
dos planos, enquanto a nota de um plano colorido acentuara com violência o significado
abstrato do fato plástico”
- a leveza da obra se dá em parte pelo branco original do gesso, que é deixado
propositalmente, pois o artista chegou a pintar outras de suas esculturas em gesso.
- a cor faz parte das três características fundamentais para a contrução de uma figura no
entendimento de Boccioni: cor, linha e forma. Sendo que isso se perde em suas
traduções em bronze.
- a leveza também é reforçada pelo material escolhido.
- o gesso é uma material fundamental da obra, pois trazia uma série de atributos, sendo
uma material utilizado apenas para os projetos esculturais, que posteriormente teriam
peças acabadas em mármore ou bronze, assim, Boccioni rompe como tradicional
academicismo desprezado pelos futuristas, rompe com as referencia de produções
passadas, enfatizando o verdadeiramente moderna na concepção do artista.
- o gesso é um mateiral muito mais delicado e de difícil conservação quando comparado
com amtriais mais tradicionais, ou até mesmo a madeira, o que destacaria a efemeridade
da obra de arte, adequada a aquele período e sem pretensões de ultrapassar o tempo,
como se a ideia do artista não fosse instalar algo duradouro, e sim criar algo capaz de
inflingir uma sucessão de outras rupturas, para dar lugar a criações futuras. É sacrificar
o presente, e com ele sua obra, em função do futuro, não atingido por ele, mas por
outras gerações.
- a ideia de movimento transmitida pela matéria e pela cor é ainda mais ressaltada pela
ausência de braços, que parece enfatizar a fluidez e a continuidade desse movimento por
não estabelecer um bloqueio visual entre a obra e o observador.
- a percepção do tempo é tributária dessa percepção do movimento, insinuado por tantos
elementos na obra, e ao tornar possível a observação do movimento Boccioni rompe
com a escultura estática, inserindo nela outra dimensão.
- o tempo aparece como a quarta dimensão da escultura, revelando “reações posicionais
no interior de um continuum evolutivo”, diferindo em mais um aspecto das obras
acadêmicas, as quais ao retratarem o movimento, escolhia-se um instante fecundo, que
mesmo quando insinuavam um antes e um depois, estes deveriam ser imaginados pelo
observador, não sendo de fato construídos pelo artista, o que se representava então era
apenas uma pose, um momento estático rico, mas não de fato o tempo, pois o tempo real
não tem instantes.
- o instante seria fruto do espaço, nessa lógica esse momento fecundo estaria ainda mais
longe de uma representação bem sucedida do tempo.
- assim, essa escultura no diferencial fundamental: possuir uma memória, de inserir
efetivamente uma nova dimensão, a d tempo, na escultura, está diretamente ligada à sua
habilidade de representar o contínuo que tanto enfatiza em sua teoria atribuído pela
memória que a escultura carrega dentro de sua própria forma.

Você também pode gostar