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II – Distinga:
1 – Reconhecimento de Estados e reconhecimento de governos
Tratando-se o reconhecimento de um ato jurídico unilateral mediante o qual um sujeito de direito,
verificando a existência de determinada situação ou ato jurídico em cuja criação não interveio e
reputando-a(o) lícita(o) face ao ordenamento jurídico internacional, consente que tal lhe seja oponível,
poderá ter natureza jurídica diversa – e, assim, produzir diferentes efeitos jurídicos – a depender do
tipo de situação/ato a que se dirija. Por isso, apesar de serem ambos relevantes para e conexionados
com a consecução das relações internacionais, o reconhecimento de Estados e o reconhecimento de
governos possuem importantes distinções.
Desde logo porque o primeiro dirige-se a um sujeito de direito internacional, cuja própria constituição,
para os partidários do voluntarismo clássico, dependeria da aceitação exprimida através de atos de
reconhecimento dos Estados preexistentes. Reversamente, para os partidários de uma concepção
declarativa, a personalidade jurídica do Estado não dependeria do ato de reconhecimento,
constituindo-se com a “mera reunião, numa determinada entidade, dos três elementos (população,
território e governo)”, muito embora não se possa concluir que o reconhecimento de Estados “se
reconduz a um mero e inócuo formalismo”, porquanto, “no que respeita ao pleno exercício das
competências internacionais do novo Estado”, é tal ato imprescindível.
Quanto ao reconhecimento de governos – que é autónomo relativamente ao primeiro –, a aceitação dos
efeitos que daí decorre refere não à existência de/possibilidade de exercício de competências
internacionais por um sujeito (o Estado); antes, ao órgão estadual habilitado à sua representação e
concreto exercício de tais competências. Por conseguinte, o reconhecimento de governos é pertinente
para “saber em que medida uma autoridade política (…) ascendeu ao poder fora da regularidade ou ao
arrepio dos procedimentos constitucionais normais (v.g., por via revolucionária), e se arvora em
representante desse Estado no plano internacional, o é ou não validamente”. “São tradicionalmente
duas as posições doutrinárias acerca do reconhecimento de governos: a doutrina da legitimidade (…) a
qual sustenta só deverem ser reconhecidos os governos cujo poder seja sancionado, a posteriori, por
sufrágio popular (…); e a doutrina da efectividade, (…) cujos partidários, mais realisticamente
defendem o reconhecimento dos governos que exerçam autoridade sobre o território estadual e
demostrem condições de cumprir os compromissos internacionais”.