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Doi: 10.5212/Uniletras.v.39i2.

0007

Cuba: (im)possibilidades cuír1 na era da


tolerância

Cuba: queer (im)possibilities in the age of


tolerance2
Lourdes Martínez-Echazábal*

Resumo: Este trabalho aborda o ostracismo e o ativismo LGBT em Cuba após a Revolução
de 1959; especialmente, o impacto social, econômico e cultural dos desenvolvimentos
trazidos pela dissolução da USSR sobre a população LGBT cubana. À medida que
Cuba começa sua virada Neoliberal, abraçando a economia de mercado misto em
meados de 1990, testemunhamos uma mudança significativa no enquadramento
dos direitos LGBT na ilha. O que causou essa mudança discursiva e institucional dos
direitos LGBT nas últimas duas décadas? Como a circulação transnacional de ideias
sobre gênero e sexualidade influenciaram o ativismo e os estudos LGBT em Cuba,
que esteve relativamente isolada dos movimentos e da produção acadêmica globais
até recentemente? É possível imaginar a cuiridade como algo além do modelo de
governança binário heteronormativo que, desde os princípios da Revolução, marcou
o modelo estatal? Como artistas responderam a essas mudanças? Essas são algumas
das questões exploradas neste ensaio.
Palavras-chave: cuíridade, Estado Socialista Cubano, Direitos LGBTQI

Abstract: This essay approaches the ostracism and the LGBT activism in Cuba after
the Revolution of 1959; particularly the social, economic, and cultural impact of the
developments brought by the dissolution of the USSR on Cuba’s LGBT population. As
Cuba begins its Neoliberal turn, embracing a mixed-market economy in the mid-1990s,
we witness a significant change in the political framing of LGBT rights in the island.
What triggered this institutional and discursive change of LGBT rights in the last

1
Nota da tradutora: os termos queer e queerness são de difícil tradução, pois não há correspondente direto na língua por-
tuguesa. Nem poderia haver, por se tratar de uma expressão carregada de significados múltiplos e (geo)politicamente
localizados. Nesta tradução, optei pela americalatinização “cuír”/”cuiridade”, que mantém a sonoridade do original em
inglês e é marcada por uma grafia consoante com as línguas latinas.
2
Traduzido por Claudia Mayer, Doutora em Estudos Literários e Culturais pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Tradução autorizada pela autora.
*
Professora de Estudos latino-americanos e latinos na University of Califórnia, Santa Cruz. Sua pesquisa centra-se prin-
cipalmente em questões de raça, gênero e sexualidade na literatura, cinema e cultura da América Latina. Ela é autora do
estudo pioneiro Para una semiótica de la mulatez, 1990, editora de Homenaje a Manuel Granados (2005) e co-editora de Gene-
alogies of Displacement. Between Migration and Exile (2005), e de vários artigos e capítulos de livro. Atualmente dedica-se a
preparar a publicação do livro Readings on Cuban Racial Politics, Sexuality and Affect. Email: lourdes@ucsc.br

Uniletras, Ponta Grossa, v. 39, n. 2, p. 243-255, jul/dez. 2017


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Lourdes Martinez-Echazábal

two decades? How the transnational circulation of ideas about gender and sexuality
influenced the activism and LGBT studies in Cuba, which has been relatively isolated
from the movements and academic production until recently? Is it possible to imagine
queerness as something beyond the binary heteronormative model of governance that,
from the beginnings of the Revolution, marked the State’s model? How did artists
respond to those changes? These are some of the issues explored in this essay.
Keywords: queerness, Cuban Socialist State, LGBTQI Rights

De maneira geral, este ensaio é mo- de reabilitação (conhecidas como Unidades


vido pelo meu próprio desejo de encontrar Militares de Ajuda à Produção, ou UMAP),
uma resposta - ou respostas - à abrangen- foram-lhe negados direitos de cidadania, e /
te questão: a cuiridade é possível em Cuba ou transformadas em “forasteiras” dentro de
hoje? Por “cuiridade” me refiro a uma pos- seu próprio país. Nessas unidades de reabili-
tura anti-normativa em relação às normas tação ou fazendas, muitas dessas pessoas fo-
sexuais e de gênero, e, mais amplamente, ram submetidas a métodos cruéis de tortura
contra as concepções binárias e coloniais de e tratamento psicológico, bem como abuso fí-
identidade. Nas páginas seguintes, abordo a sico, além de um sistema intenso de mão-de-
questão reunindo duas paixões distintas: 1) a -obra agrícola.3 Como consequência, algumas
montagem de uma narrativa histórica enga- se esconderam ainda mais fundo no armário
jada (neste caso, como forma de reunir meus para evitar o ostracismo social e profissional;
compromissos pessoais e acadêmicos com outras tornaram-se informantes do governo
Cuba, o lugar onde eu nasci, cresci e abracei e muitas deixaram o país ou foram forçadas
pela primeira vez a minha própria cuiridade ao exílio, como, por exemplo, durante o in-
num momento exasperado da história LGBT fame Êxodo de Mariel, em 1980, o primeiro
pós-1959 na ilha) e 2) o exercício da investi- êxodo cubano diretamente ligado a pessoas
gação crítica, como forma de interrogar e LGBT, que se tornou manchete internacional.
discutir os discursos oficiais e acadêmicos e Quase três décadas depois, porém, o Estado
de compreender as recentes narrativas ati- cubano, por meio do Ministério da Saúde
vistas LGBT. e de sua agência auxiliar, o Centro Nacional
Apesar do silenciamento administrado de Educação Sexual (CENESEX), tornou-se o
de maneira eficaz pelo governo cubano há principal interlocutor da população cada vez
décadas, é de conhecimento público que, du- mais visível de lésbicas, gays e transexuais de
rante as duas primeiras décadas da Revolução
(as décadas de 1960 e 1970), homossexuais e
pessoas de gênero variante foram ativamen- 3
A quem tiver interesse sobre a história da UMAP e sobre
as fazendas de trabalho forçado e reabilitação, ecomendo
te perseguidas e frequentemente processa- a leitura de uma obra excepcional de Reinaldo Arenas, El
das pelo governo. Algumas pessoas foram central, escrita em 1970 e publicada em 1990, assim como
o artigo recente de Abel Sierra Maderos (2016), e outros
enviadas a fazendas de trabalho forçado ou escritos testimoniais citados ao final deste trabalho.

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Cuba, situando-se, institucionalmente, como ponto as pessoas LGBT têm realmente acesso
promotora e guardiã dos direitos LGBT.  à justiça, ao projeto redistributivo em vigor
O CENESEX, dirigido por Mariela desde meados dos anos 90 e, por extensão, a
Castro, filha do presidente Raúl Castro e da uma melhor qualidade de vida? Por que ago-
falecida Vilma Espín, sobrinha do falecido ra, especialmente desde meados da década de
Castro, é a principal agência estatal voltada 2000, vemos uma mudança significativa no
para os direitos LGBT, e praticamente todos enquadramento político dos direitos LGBT
os grupos LGBT do país têm algum tipo de na ilha? Como a circulação transnacional de
relacionamento institucional e / ou político idéias sobre gênero e sexualidade influenciou
com o CENESEX. Sua missão, como afir- o ativismo cubano, que de certa forma tem es-
ma em seu site oficial, é contribuir para “o tado relativamente isolado dos movimentos
desenvolvimento de uma cultura de sexua- globais de direitos LGBT até recentemente?
lidade plena, prazerosa e responsável, bem É possível, em última instância, imaginar a
como promover o pleno exercício dos direi- cuiridade como algo além do modelo binário
tos sexuais.”4 Entre outras ações, o CENESEX heteronormativo de governança que marcou
tem sido fundamental na obtenção de cirur- tanto o quadro estatal histórico em que a famí-
gias gratuitas de redesignação sexual para lia revolucionária heterossexual tradicional,
transexuais, no lançamento de campanhas na juntamente com as/os “Novas/os Mulheres/
mídia para aumentar a conscientização sobre Homens Socialistas”, foi considerada a base
questões LGBT e na promoção da tolerância, do progresso revolucionário nacional/socia-
condenando a homofobia e a transfobia. O lista? É possível existir, criar e participar ple-
centro também supervisiona vários tipos de namente na sociedade cubana abraçando a
organização LGBT, incluindo grupos de lés- cuiridade e / ou alguma versão de identidade
bicas negras, pessoas trans, homens gays e trans*5 que, de certa forma, situaria os indi-
grupos mistos de vários tipos. Em quase seis víduos no reino da indeterminação e da não-
décadas, o Estado revolucionário, que antes -normatividade (política e outras)? Colocando
via as pessoas homossexuais como “pequena em palavras outras palavras, é essa aparente
burguesia”, “produtos do excesso e decadên- mudança nas políticas e práticas oficiais em
cia capitalista”, “contrarrevolucionários”, e/ relação às pessoas LGBT uma forma de repa-
ou “escória”, passou a abraçá-las, até um cer- ração ou uma estratégia de pinkwashing?
to ponto, como camaradas na revolução.
Não obstante as mudanças significati-
vas mencionadas acima, uma miríade de per-
5
O autora deste artigo deve ter usado o termoTrans*
(com asterisco) por considerar que esse é um termo
guntas permanece (se bem que nem todas as abrangente que pode se referir a uma variedade de iden-
questões aqui colocadas podem ser respon- tidades dentro do espectro da identidade de gênero.
Dessa forma, evidencia-se um esforço em incluir, sem
didas neste trabalho). Por exemplo, até que limitar-se, transexuais, travestis, genderqueer, gêneros
fluidos, não-binarismo de gênero, genderless, agen-
der, não-gênero, terceiro gênero, two-spirit, bigender,
4
Consulte https://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_Natio- transhomens, transmulhres, entre outros/as. (Nota do
nal_Center_for_Sex_Education editor do dossiê)

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Da exclusão à inclusão e celebração os transexuais, bem como as questões rela-


cionadas a esses grupos deveriam ser abor-
Se a Cuba dos anos 60, 70 e, de certa
dadas e percebidas pelo Estado e pelo povo
forma, da primeira metade dos anos 80,
cubano nos anos seguintes. A década de 90
testemunhou o ostracismo oficial e a exclu-
tornou-se a década da reconciliação e o iní-
são de homossexuais cujo comportamento
cio da tolerância patrocinada pelo Estado,
e estilo de vida não se conformavam à éti-
e representa uma virada na retórica oficial
ca revolucionária e à moralidade socialis-
em relação à homossexualidade e à trans-
ta atribuída à/ao nova/o Mulher/Homem,
generidade na ilha.  A década de 1990 teste-
após a queda do muro de Berlim em 1989 e
munhou o lançamento do filme aclamado
a dissolução final da URSS em 1991, o Estado
internacionalmente Fresa y Chocolate, 1993,
cubano necessariamente teve que mudar
uma alegoria nacional sobre a necessidade
seu tom triunfalista e dançar ao som de
de reconciliação, como observou Enrico
um ritmo diferente, se quisesse sobreviver
Mario Sant´I. Simultaneamente, os litera-
como um Estado socialista tardio em uma
tos, músicos e artistas, em geral, começaram
ordem global pós-Socialista (e Neoliberal).
a lidar com a homossexualidade, a travesti-
Os anos 90 cubanos são sinônimo dos anos
lidade e a transexualidade de forma mais
difíceis do Período Especial em Tempos de
ampla em suas obras. Além das expressões
Paz, mas, inversamente, também represen-
artísticas, e sob a benção do CENESEX, uma
tam uma pausa após décadas de repressão
bandeira de arco íris de 10 metros levada
e isolamento; de fato, durante os primeiros
por ativistas LGBT dos EUA e por mulheres
anos do Período Especial, a infraestrutura
trans cubanas abriu o desfile anual de maio
cubana ficou praticamente parada, mas
em 1995. Dado que o CENESEX é uma orga-
tudo sobre ela estava queimando e mudan-
nização governamental oficialmente ligada
do rapidamente. O advento do turismo, os
ao Ministério da Saúde Pública (MINSAP),
investimentos estrangeiros, o empreende-
estas e outras iniciativas patrocinadas pelo
dorismo doméstico e a dolarização da eco-
CENESEX sinalizaram uma mudança nas
nomia, entre outras mudanças econômicas
atitudes do governo em relação à homos-
e políticas significativas ocorridas na déca-
sexualidade. Igualmente importante, a dé-
da de 90, emparelhadas com a extrema es-
cada também testemunha o surgimento de
cassez de alimentos, doenças relacionadas
espaços de sociabilidade LGBT, incluindo
à deficiência de vitaminas, falta de água e
bares e festas privadas (as famosas festas de
petróleo, apagões, aumento da corrupção
10 pesos)6 que atendem a população LGBT.
governamental e o retorno do crime e da
Nos últimos anos, os estudiosos que
prostituição, trouxeram mudanças irrever-
escreveram sobre gênero e sexualidade em
síveis em todos os domínios da vida cubana.
Cuba (Negrón-Muntaner 2008, Hamilton
A década de 1990 também sinalizou o alvo-
2012, Sierra Madero 2014, Stout 2014, entre
recer de mudanças significativas no que se
refere às formas como os homossexuais e 6
Ver Morad, 2014.

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outros) lidaram com algumas dessas mudan- encarregados de dar uma nova face ao
ças. Negrón-Muntaner (2008), por exemplo, corpo político nacional e sobreviver à
considera este “um ambicioso processo de atual crise de legitimidade. (NEGRÓN-
transformismo” (p. 164), de “mariconería de MUNTANER, 2008, p.164)
Estado” (p. 164). Sierra Madero (2014) o rotula Da mesma forma, para Sierra-Madero
de “travestismo de Estado” (p. 1), enquanto (2014), travestismo de Estado consiste em
Hamilton (2012) questiona se estas trans- uma série de políticas e discursos destinados
formações devem ser interpretadas “como a limitar o surgimento de um verdadeiro mo-
um sinal de ‘progresso’ e retificação de erros vimento de direitos ao promover mecanis-
passados ou como uma estratégia deliberada mos de assimilação e normativização (p. 2).
para limpar a imagem de Cuba — ou ambos” De acordo com sua interpretação, o objetivo
(p. 175).  Seja qual for o caso, o que é inegá- do CENESEX, e do Estado cubano em geral,
vel é que a crescente visibilidade pública e o seria produzir “diversidade controlada” (p. 2)
reconhecimento oficial das questões LGBT e um espetáculo de “multiculturalismo lúdi-
em Cuba desde meados da década de 1990 e co” segundo o qual, de acordo com sua lógica,
para o novo milênio marcam uma mudança a inclusão da alteridade tem um propósito
significativa da representação e das políticas instrumental e utilitário e visa principalmen-
oficiais repressivas dos anos 60, 70 e início te um público estrangeiro (p. 4).
dos anos 80. Assim, gostaria de voltar à per- Mais recentemente, ao estudar o co-
gunta feita no começo deste ensaio; ou seja, mércio de sexo gay na Cuba pós-soviética,
como explicar que um Estado abertamente Noelle M. Stout (2014) também ressalta “as
heteronormativo e homofóbico como Cuba, campanhas oficiais de tolerância gay que
que por mais de duas décadas tentou aberta- surgiram após meio século de políticas ho-
mente erradicar a dissidência sexual, surge mofóbicas” (p. 29).  Mas, ao contrário de
na década de 2000 como promotor e guar- Negrón-Muntaner e Sierra Madero, Stout
dião dos direitos LGBT? liga o aumento da tolerância gay aos esfor-
Ecoando a noção de “simulação” de ços governamentais mais abrangentes (e, em
Sarduy, de hacer como si, que caracterizou a sua opinião, sinceros) de preservar o “frágil
travesti (diferente da transexual), Negrón- sucesso revolucionário durante a transição
Muntaner considera que, para o socialismo de mercado misto” (p. 29),
A transição da homofobia para a homo- enquanto reconhecendo simultaneamente
filia ou da crise de Mariel para o sorriso “os tons normativos da representação queer”
de Mariela pode ser melhor entendida (p. 34).
como uma forma de “transformismo” Incorporando minhas próprias re-
político. Nesse processo, o Estado flexões sobre a mudança nas atitudes do
cubano está disposto a conceder di- Estado em relação aos problemas e direitos
reitos e reconhecimento a grupos que
LGBT em Cuba em um contexto mais global,
no passado foram perseguidos e, por-
eu acho algumas das críticas implantadas
tanto, permanecem simbolicamente

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pelos acadêmicos baseados nos EUA quanto do Estado cubano mas também, e igualmen-
ao uso de campanhas de relações públicas te importante, uma consequência direta
pelo Estado de Israel em relação aos di- da virada neoliberal desigual de Cuba em
reitos LGBT+ muito perspicazes.7 Embora resposta ao imperativo econômico causa-
uma comparação política entre os Estados do pela perda de apoio econômico do Bloco
de Cuba e Israel possa parecer absurda para Soviético no início do Período Especial e,
a maioria, algumas das críticas às políticas mais recentemente, do decrescente apoio da
e práticas LGBT de Israel parecem provoca- Venezuela pós-Chavez, tomada pela crise.8 
tivas o suficiente para que lhes prestemos Por mais de duas décadas, Cuba foi
alguma atenção e / ou as utilizemos como compelida a lentamente acomodar reformas
base de comparação ao especularmos sobre econômicas neoliberais e a promover refor-
as atuais políticas e práticas LGBT de Cuba. mulações neoliberais de espaços políticos e
Assim, a questão proposta anteriormente meios sociais que levaram a uma re-enge-
neste ensaio, implora: é a mudança para nharia do velho modo socialista de gover-
uma atitude favorável a pessoas, questões, nança. Evidentemente, essas reformas estão
práticas e direitos LGBT uma forma de re- produzindo uma sociedade que complica as
parar o pinkwashing, isto é, uma maneira reivindicações fundamentais (e utópicas) da
de apresentar o Estado como amigável aos Revolução não só em termos de classe e raça,
LGBT para expurgar alguns dos erros an- como outros já discutiram (DE LA FUENTE;
teriores, ou, como Hamilton (2012) coloca- SAWYER, 2006, PERRY, 2015), mas também
ria, “erros passados” (p. 175) cometidos pela de gênero e sexualidade.
Revolução em nome da moral conservadora Ao visitar Havana em dezembro pas-
socialista, como a perseguição, a acusação, sado (2015), tive a oportunidade de assistir
o ostracismo e a tortura (moral e outras) ao discurso televisado de Raúl Castro ao
de pessoas LGBT durante os vinte e cinco Parlamento cubano, na véspera do 57º ani-
primeiros anos da Revolução, entre muitos versário do triunfo da Revolução em 1º de
outros? Certamente, observando a história janeiro de 1959. Fiquei particularmente im-
estratificada daquelas primeiras décadas, pressionada com a frase de encerramento na
é tentador interpretar a aparente homo e qual ele afirma “nossos esforços para cons-
transfilia do CENESEX como uma forma de truir um socialismo próspero e sustentável”
pinkwashing para reparar não as vidas das (29 de dezembro de 2015).9 Enquanto pensa-
pessoas LGBT em Cuba, mas sim a imagem
pública do Estado.  Eu, no entanto, ousaria 8
Em 2016, a economia cubana encolheu pela primeira
dizer que a posição atual do Estado não é vez em vinte e três anos, apesar do aumento no turis-
apenas uma forma de pinkwashing e um es- mo. Ver, http://www.foxnews.com/world/2016/12/28/la-
cking-venezuelas-aid-cuban-economy-shrinks-for-first-
forço por uma mudança de imagem da parte -time-in-23-years.html Consulte também, https://www.
usnews.com/news/world/articles/2015-12-29/raul-cas-
tro-prepares-cuba-for-tough-year-despite-us-opening
7
Ver, por exemplo, o trabalho de J. Puar and S. Shulman, 9
Para uma cópia do discurso acima mencionado con-
citados no final deste ensaio. sulte: http://www.minrex.gob.cu/en/closure-national-

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va na caracterização que Raúl fazia do tipo de alguns dos membros mais vulneráveis d ​​ e um
Socialismo que Cuba está produzindo, o con- grupo ou classe, aqueles a quem Negrón-
ceito de Aihwa Ong de “neoliberalismo como Muntaner se refere como “politicamente
exceção” (2006) me veio à mente como uma maltratados, mas simbolicamente carrega-
lente útil para observar “a interação entre as dos” (neste caso, as locas, travestis, lésbicas e
tecnologias de governar e de disciplinar, de gays da classe trabalhadora, e profissionais
inclusão e exclusão, de dar valor ou negar do sexo) de modo a dar-lhes algum senso de
valor à conduta humana” (p. 5) em jogo na auto-estima e direito, e, no processo, assegu-
construção de tal tipo de socialismo na Cuba rar sua lealdade - “¡Gracias, Fidel!” foi a fra-
socialista tardia. se que simbolizou o sentimento de gratidão
É bem possível que o Estado cubano que emergiu das massas na década de 1960;
tenha abraçado "exceções" econômicas e so- agora, suponho, seria “¡Gracias, Mariela!” E,
ciais para, como Stout colocaria, preservar assim como no passado, o Estado hoje abor-
"os frágeis sucessos revolucionários obtidos da esse resgate com “todas as armadilhas da
durante a transição para o socialismo de visualidade”. (Quiroga, correspondência pes-
mercado misto" (p. 29), ao reformular um soal, 5 de janeiro de 2016).
sistema datado e transformá-lo em um mais Mas, por que desconfiar tanto do
"próspero e sustentável"10. Não obstante, tam- Estado? O Estado, de fato, sempre se envol-
bém gostaria de propor que vejamos essas veu em processos de reforma e moderniza-
desconcertantes mudanças societárias que ção da economia e outras áreas de interação
ocorrem hoje em Cuba, incluindo a defesa social. Em princípio, o Estado cubano pode-
dos direitos LGBT pelo Estado e o discurso ria simplesmente estar implantando suas
a favor da tolerância sexual e contra a homo tecnologias usuais de governo e governança
e transfobia, como exemplos da adoção, da para se situar, neste caso, como líder global
parte do Estado, de exceções neoliberais e da no avanço dos direitos dos homossexuais,
reformulação do social como um mecanismo como já era em relação à alfabetização, cui-
para garantir a sustentabilidade e a prospe- dados de saúde ou igualdade racial e social.
ridade da elite tecno-corporativa-militar do No entanto, o que é bastante irônico é que,
regime e seu direito de governar. ao se situar na vanguarda dos direitos ho-
Em termos de suas reformulações so- mossexuais, o Estado, ao adotar a exceção
ciais e, especificamente, em relação às pes- neoliberal, está simultaneamente criando a
soas e questões LGBT, parece que o Estado condição de possibilidades para o surgimen-
está fazendo o que sempre fez, isto é, resgatar to de uma sociedade socialmente estratifi-
cada onde as classes sociais, em particular a
-assembly-speech-president-cuba-raul-castro pequena burguesia, deveriam ter sido apagadas
10
A pergunta aqui seria: “próspero e sustentável para pelo socialismo.
quem?” Pois não há duvidas que a introdução de exceções Ironicamente, o Estado cubano sem-
neoliberais criou uma sociedade profundamente dividi-
da em classes sociais e aumentou a discriminação racial pre associou “homossexuais” com o excesso
e econômica no seio da sociedade cubana.

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capitalista e o pequeno burguês, e agora, como parte da assim chamada “oposição leal.”12 Por
por uma virada do destino - ou de ismo - a outro lado, se possível, alguns sairão da ilha
nova economia de mercado misto socialis- e, como Calibán, irão expor e amaldiçoar as
ta promove indiretamente o surgimento de tecnologias de governança e disciplina do
uma pequena burguesia, que, em sua maior Estado.
parte, está longe de ser homossexual ou Atualmente, o Estado cubano está
mesmo queer no sentido amplo do termo.  produzindo sujeitos LGBTQ pelo próprio
Então, quem são as pessoas LGBTQ cujos processo de incorporação (da diferença) e
direitos são promovidos e protegidos pelo neutralização. Isto é feito através das várias
Estado? A questão é importante porque, nes- campanhas de validação no que se refere às
ta situação particular, como em muitos dos diferenças sexuais e de gênero, discursos
seus primeiros trabalhos de política social, de tolerância e inclusão, ou seja, através
o Estado trabalhou de forma muito eficiente de reformulações neoliberais do social. A
ao tentar resgatar alguns dos ​sujeitos LGBT imagem abaixo, realizada em um evento
mais vulneráveis, seja alguém que vive em patrocinado pela CENESEX, é um exemplo
El fanguito,11 alguém com disforia de gêne- visual da fusão de dois poderosos marcado-
ro, gay, negra/o, pobre, profissional do sexo res de identidade e cultura que, até os últi-
ou uma combinação de alguns ou todos os mos anos, eram mutuamente conflitantes:
itens acima. Uma vez resgatado, o Estado expressões de gênero dissidentes e a nação.
capacita esses indivíduos através de um pro- Na imagem, para complicar as coisas ainda
cesso de reconhecimento social e político, e mais, essa fusão está sendo incorporada por
nesse processo garante sua lealdade. O di- uma mulher trans, ou, mais provavelmente,
lema enfrentado pelo Estado, assim como uma Drag Queen.
pelas/os beneficiárias/os de suas exceções é
que, uma vez empoderadas/os, alguns desses
sujeitos leais “que já se beneficiaram da ge-
nerosidade da Revolução,” particularmente
se expostos a comunidades e ativismos LGBT
do exterior, irão muito provavelmente “en-
contrar-se frustradas/os pelos mecanismos
específicos do Estado” (Quiroga, correspon-
dência pessoal, 5 de janeiro de 2016), e irão
contra-atacar de dentro, a partir dos espa-
ços fornecidos pela Revolução, tornando-se

El fanguito é um bairro muito precário ao longo da mar-


11

gem do Rio Almendares, ao lado do histórico afluente Ve- Para uma discussão do conceito de “Oposição leal”, con-
12

dado, em Havana. sulte Dilla Alfonso.

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Figura 1 - Essa imagem foi replicada em diversas páginas de internet ao redor do mundo, inclusive
na página para o público latino da foxnews: http://www.lgl.lt/en/?p=12637

Assim, podemos considerar a gestão e do queer como camp, o fez por meio de um
incorporação de diferenças do CENESEX - processo de subjugação que, em termos,
e, por extensão, do Estado cubano - em re- rompe sua capacidade de emergir como uma
lação à observação de Judith Butler de que epistemologia capaz de produzir uma práxis
“’subjeção’ significa o processo de se tornar de mudanças estruturais duradouras nas es-
subordinada/o pelo poder e também o pro- truturas sociais e políticas. Em outras pala-
cesso de se tornar um sujeito” (2). Portanto, vras, a cuiridade como posição anti-norma-
o próprio processo que está criando sujeitos tiva e anti-ordem social não poderia existir
LGBT em Cuba também está subordinando- “dentro da Revolução,”, que, desde o discurso
-os e neutralizando sua “capacidade de rup- de Castro em 1961, “Palavras aos Intelectuais,”
tura” (HALL, 1977, p. 182, FERGUSON, p. 162), foi vista como o único lugar plausível para
a capacidade crítica para queerizar o status o exercício de agência política e o ativismo
quo oficial. Assim, pergunto se nessas condi- em Cuba.13 
ções a cuiridade como gênero anti-normativo
e forma política de diferenças, pode emergir 13
Foi em seu ubíquo discurso “Palavras aos intelectuais”
(1961) que Castro explicitou as fundações de um mode-
e prosperar em Cuba. No momento, minha
lo binário de governo e governança que moldou não só
resposta é mista: sim e não. O “não” deriva a cultura política e política cultural de Cuba, mas todos
os aspectos da vida na ilha desde então. Estando ou não
do fato de que, enquanto o Estado através do
ciente da longa e ampla influência de suas “Palavras” ao
CENESEX criou a condição de possibilidade definir o tom das políticas e práticas que informaram a
vida em Cuba nos últimos cinquenta e oito anos, o fato

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Lourdes Martinez-Echazábal

Simultaneamente, não há dúvida de que vinte e cinco anos. Tolerâncias sexuais e re-
expressões queer são abundantes nas artes ligiosas, duas das formas mais lucrativas de
- o que é notável dada a capacidade da arte acumulação de capital para o setor popular
para criar críticas sociais afiadas e pungen- da sociedade cubana que vive nas margens
tes. Mas apesar da arte como um meio eficaz do socialismo, no entanto, foram duas das
para a realização da crítica, a questão ainda formas mais visíveis de tolerância sanciona-
continua em relação à capacidade da arte de das pelo Estado durante o Período Especial e
efetuar mudanças políticas estruturais que além - particularmente em contraste com a
levem a novas formas de governança (no sen- intolerância das décadas anteriores. De fato,
tido foucaltiano da palavra), seja sob regimes em geral, a tolerância regulada pelo Estado se
Socialistas, Capitalistas ou Neoliberais, ou, tornou a válvula de escape da Cuba Socialista
no caso de Cuba, um híbrido desses regimes. tardia - assim como o mulato se tornou “a vál-
Esta, suponho, continua sendo a questão vula de escape” (Deglar 1986) das sociedades
central em relação ao potencial da arte para de plantação coloniais e neocoloniais.
implementar mudanças sistêmicas. Na década de 1990, Cuba, como o perso-
Sob um “socialismo próspero e sus- nagem shakespeariano (Hamlet), enfrentou
tentável” em processo de construção, a tole- uma grave situação: “ser ou não ser”, conti-
rância e a normatividade se tornaram parte nuar a existir ou perecer; Cuba escolheu o
integrante das reformulações neoliberais do primeiro. Mas para fazê-lo, para continuar
social, e também da nova governança socia- a existir, teve de se transformar, refazer-se
lista e, junto a outros elementos da reforma e re-comercializar-se tanto em termos eco-
neoliberal do mercado, passou a assinalar nômicos e ideológicos para sobreviver na
a partida de Cuba do Estado de bem-estar nova ordem mundial pós-socialista - sem os
Socialista pré-1989. Certamente, tolerância amplos subsídios fornecido pela ex-URSS,
à homossexualidade e ao dimorfismo sexual sem entregar-se grandemente aos projetos
não são os únicos descendentes desse affair - capitalistas dos EUA e, mais recentemente,
também há a tolerância econômica, a tolerân- sem a ampla ajuda da Venezuela.  O que o
cia religiosa, a tolerância artística e cultural, e futuro promete à luz das transformações
até mesmo a tolerância ideológica que leva ao mencionadas anteriormente pode apenas
que alguns se referem como “oposição leal.” ser especulado.
O resultado dessas mudanças é confirmado Entretanto, muito antes do Período
pelos desenvolvimentos visíveis e palpáveis Especial, Cuba se orgulhava de ser a sobre-
que aconteceram na ilha durante os últimos vivente heroica do imperialismo dos EUA e
de outros acontecimentos mundiais.  Como
é que em seu discurso ele efetivamente construiu uma Juan, o personagem principal do recente e
tipologia rígida – alguém é revolucionário ou contrar-
revolucionário – e topografia – alguém está “dentro da
premiado filme Juan de los muertos, 2012 (João
Revolução” ou está “contra [for a] da Revolução”. Esse pa- dos mortos) - uma comédia brilhante que não
radigma não deixa espaço para nenhum tipo público de
posição ou possibilidade de sujeito no entrelugar, trans*
poupa nada nem ninguém, exceto talvez sua
ou queer.

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Cuba: (im)possibilidades queer na era da tolerância

própria mistura cativante (sancocho) de so- a comida e bens essenciais. E, claro, outro
bras socialistas com despojos nacionalistas êxodo em massa como aquele no porto de
- repete continuamente no filme: “Eu sou um Mariel seria impensável, mesmo quando
sobrevivente. Eu sobrevivi ao Mariel, sobrevi- Cuba continua a ser uma ilha que foge (una
vi a Angola, sobrevivi ao Período Especial, e isla en fuga), sangrando seu capital humano
aquilo que veio depois, e eu também sobrevi- nos pontos cardeais todos os dias.
verei a isso [referindo-se ao apocalipse zumbi Honestamente, não tenho uma res-
que nos é apresentado como espectadores do posta. Após a concatenação de desastres
filme].” Assim, sobrevivência é a palavra fun- proporcionada pelos países do antigo Bloco
damental (tanto para os atores quanto para Soviético, da Ásia e da América Latina sob
os espectadores desta comédia política), so- governos de direita e esquerda neolibe-
brevivência a todo o custo.  Na verdade, em rais e, mais recentemente, pelo advento do
nome de sua própria sobrevivência, o Estado Trumpismo nos Estados Unidos, sugerir que
cubano e sua elite governante criaram seu aquilo de que Cuba realmente necessita é um
próprio tipo de neoliberalismo socialista “retorno à democracia” - como quer que o ter-
tardio. Nessa nova ordem híbrida, tolerân- mo seja compreendido vulgarmente no mun-
cia, como o companheiro afetivo do modelo do de hoje - ou para alguma forma de ordem
político e econômico, tornou-se o paliativo social e econômica pré-1959, é uma discussão
das pessoas, e também um conceito estra- que se estende além do escopo deste artigo
tégico que sustenta sua autocentrada elite e da minha experiência profissional, porque
dominante no poder e facilitou a emergên- não sou treinada com política nem economis-
cia da elite militar e ex-militar , assim como ta - além disso, como indivíduo, eu conheço
os membros do aparato de inteligência do aquilo a que me oponho, mas neste momento
Estado, como empresários e que se tornaram mundial, eu não tenho certeza do que apoio
jogadores proeminentes no mercado global – além da igualdade e justiça social e econô-
de produtos, política, riqueza e influência. mica. Como uma pessoa que exerce crítica
Poderíamos lamentar a adoção de reformas cultural e sabe alguma coisa sobre a história
econômicas neoliberais, com seus projetos e a cultura de Cuba e da América Latina, en-
sociais e políticos por parte de Cuba, mas, tretanto, eu arrisco que, talvez, o único meio
qual seria a alternativa?  viável para que as pessoas LGBTIQ tenham
No que diz respeito às práticas e políti- acesso a justiça e participem de um projeto
cas LGBT atuais, eu acho difícil de acreditar redistributivo de sucesso em Cuba, é cons-
que cubanos LGBT voltariam para o armário, truir e nutrir uma sociedade verdadeiramen-
nem poderia imaginar uma versão do século te revolucionária, uma que pudesse se erguer
21 do UMAP mais do que eu poderia imagi- contra a colonialidade do poder ainda incor-
nar a restauração de um regime de trabalho porada ao Estado cubano pós-1959, desafiar a
voluntário compulsório, ou o desenterrar do normalidade e o modelo binário de agência
cartão de ração como único meio de acesso

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ratificado pelas palavras de Castro em 1961, e Referências


ainda sustentadas por seu sucessor.
ALFONSO, Haroldo Dilla. La Oposición cubana
Em suma, justiça LGTB e outras formas
leal? Havana Times, Havana, 10 jun. 2013.
de justiça só podem prosperar em uma socie-
http://www.havanatimes.org/sp/?p=86471
dade que ofereça aos seus cidadãos a possi-
______. ¿Opocisión leal? Cuba Encuentro,
bilidade de seleção de afiliação política, de
Havana, 29 jul. 2014. http://www.
participar do tipo de ativismo popular que
cubaencuentro.com/opinion/articulos/
não seja impulsionado pelo mercado, de dar Oposicion-leal-319491
voz a críticas e questionamentos, uma socie-
Conducta Impropia. Internos Nestor
dade revolucionária que iria garantir a suas
Almendros e Orlando Jiménez Leal. Distribuição
cidadãs e cidadãos a liberdade de associação, do Cinevista, 1984. Video
juntamente com livre e expansiva criativida-
FERGUSON, Roderick R. Administrar a
de e dissidência e, mais importante, respeito. sexualidade; Ou o novo à institucionalidade.
Tolerância é uma palavra barata e um concei- Radical History Review, v. 100 (208), p. 158-169.
to vexado, que, no final, leva a falhas e con-
HALL, Stuart. The Local and the Global. In:
frontos, nós precisamos abraçar o respeito e Anne McClintock, Aamir Mufti e Ella Shotat
jogar a tolerância na lixeira. E, certamente, (Eds.). Dangerous Liasons: Gender, Nation, and
uma sociedade que cuida do bem-estar (en- Postcolonial Perspectives. Minneapolis: University
tendido não apenas como “ajuda às pessoas of Minnesota Press, 1977.
necessitadas”, mas também, e especialmente, HAMILTON, Carrie. Sexual Revolutions in
como bem-estar no seu sentido holístico) de Cuba. Passion, Politics, and Memory. Capela
seus cidadãos, em vez de criar as condições Hill: A University of North Carolina Press, 2012.
de possibilidade para a emergência de desi- HERNNADEZ BUSTO, Ernesto. 50 años de los
gualdade e injustiça como ocorre atualmente campos de internamiento cubanos, de 2016.
em Cuba. Disponível em: http://www.elespanol.com/
Se Cuba vai ou não ser capaz de se tor- opinion/20160328/113108690_12.html
nar essa sociedade, isso ainda está por vir. Juan de los muertos. Interno Alejandro Brugés.
Mas seja como for, não será suficiente ques- Distribuição do Metrodome, 2012. Vídeo.
tionar e queerizar raça, gênero, e sexualida- NEGRÓN-MUNTANER, Francis. Mariconerías
de, entretanto; a Realpolitik também deve ser de Estado. Mariela Castro, Homosexuales and
questionada e queerizada, juntamente com Cuban Politics. Nueva Sociedad 218 (2008): 163
as fundações da “razão patriarcal” - empres- – 279.
tando o termo da filósofa espanhola Celia PUAR, JABIR. Puar, Jasbir (1 July 2010). Israel’s
Amorós - se desejamos uma epistemologia gay propaganda war.  The Guardian.
queer e suas possibilidades de fazer emergir Retrieved March, 22, 2014.
e dar suporte a uma práxis queer em um fu- QUIROGA, José. Correspondência pessoal. 5
turo não tão distante em Cuba e além.  de janeiro de 2016.

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STOUT, Noelle T. After Love. Queer Intimacy
and Erotic Economies in Post Soviet Cuba.
Durham: Duke University Press, 2014.

Recebido para publicação em 11 jun. 2017.


Aceito para publicação em 17 nov. 2017.

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