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Apresentação

O seguinte trabalho foi desenvolvido na disciplina de Legislação e Ética Profissional, pelos alunos Andressa Zerbinatti,
Camila Colaço, Felipe Carvalho e Thais Ferreira, da Universidade Católica de Pernambuco, orientados pela professora
Amélia Reynaldo e visa o estudo para intervenções em Imóveis Especiais de Preservação, IEP’s, tomando como base a
sua legislação, que posteriormente será aborda de forma mais crítica, e os parâmetros do lugar, que foram obtidos após
uma análise do entorno.

Introdução
Existem edificações históricas de relevância arquitetônica tombadas à nível municipal pela lei dos IEPs. Essa lei de Nº 16.284/97, outorgada
no ano de 1997 visa proteger o elemento isolado de arquitetura da descaracterização e demolição, tendo sido definitivo para a atual
preservação de diversas edificações em lugares que passaram por um crescimento urbano.
Apesar da sua importância, a lei dos IEPs possui pontos negativos, como a não classificação os parâmetros do lugar para novas edifica-
ções, deixando as construções existentes reféns do plano diretor, que desconsidera as características individuais do imóvel e do entorno;
a consideração do imóvel isolado, não abrangendo o local em que se encontra; a transferência do direito de construir, que em muitos dos
casos, é responsável pela verticalização excessiva na cidade.

Com o desenvolvimento do trabalho, foram obtidos parâmetros referentes ao lugar, que se comparados aos propostos da legislação
vigente e das atuais edificações, obtêm-se valores bastante diferentes, mostrando que atualmente essas construções não respeitam o
lugar em que estão inseridas. Dessa forma, faz-se necessária uma revisão dessa lei, para que os aspectos desfavoráveis sejam corrigi-
dos, os parâmetros do lugar possam ser incorporados e assim possamos ter a preservação da memória da nossa cidade.

Recife, Novembro de 2017 1


Sumário
1
810, ROSA E SILVA PÁG. 5
1.1. Contexto Histórico
1.2. Importância do Imóvel e Elementos da Paisagem
1.3. Análise do Contexto Urbano

2
Parâmetros do Lugar PÁG. 19
2.1. Definicão
2.2. Elementos Intralote
2.3. Parâmetros Identificados
2.4. Diretrizes

3
Ensaio Propositivo PÁG. 25
3.1. Aplicação dos Parâmetros do Lugar
3.2. Esquemas de Implantação Volumétrica

4
Parâmetros do Lugar x Legislação Vigente PÁG. 33
4.1. Volume da Regulamentação Vigente
x Volume dos Parâmetros do Lugar

5
Revisão da Legislação PÁG. 38
5.1. Capítulo 1
5.2. Capítulo 2
5.3. Capítulo 3
5.4. Capítulo 5

Conclusão PÁG. 40

Referências Bibliográficas PÁG. 42

2
Figura 1: Entrada do IEP
Fonte: Elaborada pelos autores
01

810, Rosa e Silva


Contexto Histórico
Em 1762, constrói-se a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, dentro da
fazenda Aflitos; com o passar dos anos, um bairro que leva o mesmo
nome, desenvolve-se ao redor da fazenda.
Restaurada recentemente, a capela encontra-se em ótimo estado de
conservação e continua em funcionamento, estando localizada na Rua
Conselheiro Rosa e Silva nas proximidades da Rua Amélia. Inicialmente,
pertencia ao dono da fazenda, mas hoje permanece nos cuidados da
Paróquia do Coração Eucarístico de Jesus.

Ainda no mesmo bairro, podemos citar como elementos de destaque:

- A sede do clube Náutico Capibaribe e seu estádio de futebol, Estádio de


Barros Carvalho (Estádio dos Aflitos)
- A sede do The British Country Club de Pernambuco
- A Paróquia Coração Eucarístico de Jesus
- A sede da Diocese Anglicana do Recife
- A sede do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE)

Figura 2 e 3: Capela Nossa Senhora dos Aflitos e Igreja do


Importância do Imóvel e Elementos da Paisagem Espinheiro, Respectivamente
Fonte: Elaborada pelos autores
Por se encontrar em uma avenida movimentada que conecta vários
bairros do Recife, o IEP da Av. Conselheiro Rosa e Silva, 810, chama a
atenção dos pedestres que por ali circulam, tendo sido por isso o escolhi-
do para o seguinte estudo, que visa preservá-lo e propor uma renovação
da área.
O bairro dos Aflitos abriga bons exemplares arquitetônicos, sendo alguns
deles preservados por lei, a exemplo da Capelo dos Aflitos que apresenta-
-se em processo de tombamento.
Contudo, outras edificações que compõem a paisagem do bairro estão
desprotegidas, a mercê das transformações urbanas. Sendo assim, é
possível propor que esses elementos sejam transformados em IEPs ou
tombados, para que a história do bairro não seja apagada. Entre os
imóveis que possuem valor arquitetônico e histórico podemos citar o
Figura 4: Edificação do CREMEPE
CREMEPE e a Igreja do Espinheiro.
Fonte: Elaborada pelos autores
5
1860

1945

1968

2005

2013
Figura: Evolução do Bairro dos Aflitos
Fonte: Goolge 6
Mapa de Situação

Escala 1 : 2500
Mapa de Preservação
Imóveis Preservados
Imóveis Passíveis a Tombamento ou se Transformarem em IEP
Escala 1 : 2500
Análise do Contexto Urbano
A partir da análise do contexto urbano, percebe-se que há uma variedade
de usos, contudo o uso é predominante. A área estudada possui vegeta-
ção abundante, tornando o percurso para pedestres muito agradável. As
tipologias, interfaces e gabaritos desse entorno se destacam das seguin-
tes formas:

-Edificações mais atuais possuem uma tipologia pódium, com uma


permeabilidade nula e gabaritos muito altos;
- Edificações mais antigas possuem escala e interface mais proporcio-
nais e convidativas aos pedestres, com uma permeabilidade alta e Figura 5: Uso do Térreo na área estudada.
edifícios multifuncionais; Fonte: Google Earth

O Imóvel Especial de Preservação está localizado em uma área de


Reestruturação Urbana – ARU – sendo enquadrada na Lei dos 12 Bairros
– LEI Nº 16.719/2001, com algumas diretrizes:

- Requalificar o espaço urbano coletivo;


- Permitir a convivência de usos múltiplos no território da ARU, respeita-
dos os limites que estabelece;
- Condicionar o uso e a ocupação do solo à oferta de infra-estrutura
instalada, à tipologia arquitetônica e à paiagem urbana existentes;
- Definir e proteger áreas que serão objeto de tratamento especial em Figura 6: Vegetação na área estudada.
função das condições ambientais do valor paisagístico, histórico e cultural Fonte: Google Earth
e da condição socio-econômica de seus habitantes;
- Respeitar as configurações morfológicas tipológicas e demais caracte-
rísticas especificas das diversas localidades da ARU.

Apesar de a região estudada possuir alta densidade construtiva, as


edificações não ocupam todo o lote, resultado da legislação vigente, que
propõe recuos para as construções. Contudo, o principal elemento para
essa densidade é a quantidade exacerbada de estacionamento, que chega
a acrescentar 40% de área construída na edificação.
Dessa forma, é gerada uma verticalização excessiva, para ainda esgotar
todo o coeficiente de utilização, desconsiderando completamente o lugar
em que estão inseridos. Figura 7: Permeabilidade na área estudada.
Fonte: Google Earth 9
Mapa Legislação
IEP ZAN ZAC - Controlada ZEPH - SPR ZEIS
IPAV ZAC - Moderada ZAC - Restrita ZEPH - SPA ARU
Escala 1 : 2500
Mapa Usos
Habitação Formal Comércio Institucional Educa- Uso Misto Saúde
Habitação Informal Serviço Religioso Shopping Cultural Vazios
Escala 1 : 2500
Mapa Tipologia

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Escala 1 : 2500
Mapa Gabarito
Térreo 3 e 4 Pavimentos 11 a 20 Pavimentos
2 Pavimentos 5 a 10 Pavimentos Mais de 20 Pavimentos
Escala 1 : 2500
Mapa de Cheios e Vazios
Volume Edificado
Espaço Vazio Intralotes
Escala 1 : 2500
Mapa de Densidade Construtiva
Quadra 1 Quadra 3 Quadra 5
Quadra 2 Quadra 4
Escala 1 : 2500
Mapa Permeabilidade
Permeabilidade Nula Permeabilidade Baixa
Permeabilidade Alta Escala 1 : 2500
02

Figura 1: Entrada do Casarão IEP


Fonte: Elaborada pelos autores
Parâmetros do Lugar
Definicão Parâmetros Identificados
Para os projetos de arquitetura como um todo, os parâmetros do lugar são Com o estudo do local, foram identificados os seguintes parâmetros:
essenciais na criação de uma relação entre a construção e o entorno, mas
são especialmente importantes no caso dos IEPs e demais edificações - Para o novo volume, o afastamento frontal pode ser maior que o do IEP e
preservadas, porque determinam o diálogo entre o novo e o histórico o da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, para que esses dois elementos
tornando-se responsáveis pelo respeito aos imóveis protegidos e por históricos sejam ressaltados e possuam visibilidade, sem que se
manter viva a memória arquitetônica. choquem com a nova edificação;

Esses parâmetros são determinados por linhas de forças traçadas a - Os afastamentos laterais e de fundos, por ter anexos existentes, podem
partir da análise do entorno, englobando gabaritos, afastamentos (laterais ser mais reduzidos, onde o volume da intervenção pode-se utilizar do já
e frontais) e afastamentos das edificações já existentes no lote de estudo. existente, tirando a necessidade de demolí-los;

- Com o estudo das linhas de força, o volume encontrado seria em ‘L”, e


dessa forma, seria criado uma passagem entre as duas edificaões e uma
espécie de pátio entre elas, uma transição do hitórico para o contemporâ-
neo. Dessa forma, a intervenção se dialogaria muito melhor com o
existente e teria uma percepção de diferentes estilos arquitetônicos;
Elementos Intralote
- Quanto ao gabarito, para o lote trabalhado, a nova edificação pode se
O IEP tem uma interface menos permeável por possuir sua fachada igualhar a altura do IEP, diferente do que se encontra no entorno estudado.
voltada para a rua completamente fechada por um muro, impedindo o Há a possibilidade da nova edificação ser mais alta, onde se igualaria com
contato entre a edificação e a rua, fator agravado pela vegetação densa, a torre mais alta da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, desde que o
que apesar de expressiva, encobre boa parte do casarão. afastamento para o IEP seja aumentado, com um afastamento progressi-
No terreno existem anexos destinados a estacionamento, apontando para vo.
uma prévia tentativa de apropriação do local, e que segundo a Lei do IEP –
LEI Nº 16.284/97 – esses espaços podem ser mantidos ou não, quando - Já que a vegetação é algo extremamente marcante tanto no bairro em
realizada uma intervenção no terreno. que se encontra, quanto no lote, a nova edificação deveria se moldar a ela
Contudo, o principal problema é a não existência de identificação do também, ocupando os espaços vazios entre uma árvore e outra, mantan-
patrimônio através de placas ou memorial, tornando sua identidade do e valorizando a área verde, visto que as demais regiões do Recife
anônima aos transeuntes. possui um déficit de vegetação.

19
Avenid
a Cons
. Rosa
e Silva

Linhas de Força e Mancha


para a Implantação
Escala 1:1000
Corte Esquemático
Escala 1:1000
Figura: Linhas de Força do Gabarito
Fonte: Googlo Ea
Diretrizes
Para a Manutenção do IEP

- Manter elementos como esquadrias, revestimentos internos e externos,


coberta, entre outros, que estão em bom estado de conservação, pois são
eles que caracterizam o imóvel como um exemplo de arquitetura.

- Aumentar a permeabilidade, com a restauração do antigo fechamento


frontal que era de grade, fazendo com que se tenha uma maior visibilidade
do imóvel;

- Caso necessário, ao restaurar elementos em estado de degradação,


deve-se procurar a melhor técnica para conseguir que eles mantenham o
aspecto original.

- Adaptar o novo uso proposto (museu interativo) aos vãos internos, e se


necessário, ajustar a planta para que não haja transformações desneces-
sárias da divisão existente;

- Manter e restaurar os anexos já existentes, já que um deles faz parte da


arquitetura significativa do imóvel e possui também importância;

- Informar a população: Para que a sociedade compreenda a importância


do imóvel, é necessário o reconhecimento do mesmo, gerando maior
interesse pela sua preservação. Uma forma de tornar o IEP explícito é o
uso de placas de identificação.

Figura 8: Croquis de Intervenções no IEP


Fonte: Acervo dos Autores
23
Diretrizes
Para a Nova Edificação

- Propor novos usos: A partir da análise do contexto urbano, é proposto


um uso cultural e um comercial (museu interativo e restaurante), para que
o comércio gere movimento na região inclusive durante os fins de semana
e o museu mantenha a história tanto do bairro, quanto do Recife, viva para
a população.

- Manter os anexos pré-existentes: Apesar de possuir anexos construí-


dos recentemente para estacionamentos, é possível mantê-los para que
abriguem o apoio do uso comercial.

- Relacionar com o entorno: A nova volumetria deve manter uma relação


tanto com o IEP, quanto com a Capela dos Aflitos, elemento de destaque da
região, e os de elementos intralotes, citados anteriormente.

- Relacionar com as linhas de força: A intervenção do terreno deve seguir


os parâmetros do lugar, obtidos a partir das linhas de força da região,
respeitando e se moldando, assim, ao local. Dessa forma, o novo volume
dialogaria melhor com o entorno, pertencendo a ele.

- Preservar a vegetação: Como o lote possui uma vegetação bastante


característica, é imprescindível que ela seja mantida, e aquelas que
obstruem a visibilidade entre o IEP e a rua sejam devidamente podadas, a
fim de manter um equilíbrio da vegetação natural.

Figura 9: Croquis para a Nova Edificação


Fonte: Acervo dos Autores

24
03

Figura 1: Detalhe da Fachada


Fonte: Elaborada pelos autores
Ensaio Propositivo
Uso: Cultural (Museu Interativo)
Reboco + revestimento externo: Manter e Restaurar o Original
Recomendações para Elementos de coberta: Manter e Restaurar o Original
intervenção no Esquadrias externas: Manter e Restaurar o Original
Vãos internos: Adapta, caso necessário
edifício preservado Piso: Manter e Restaurar o Original
Esquadrias internas: Manter e Restaurar o Original
Reboco + revestimento interno: Manter e Restaurar o Original
Muro/fechamento original: Retomar o Gradio Original

Implantação no lote: Pertos dos anexos, destacando o IEP


Taxa de ocupação: 30% de Ocupação
Recomendações para Afastamento lateral direito: 8 metros
intervenção no Afastamento lateral esquerdo: 3 metros
edifício preservado Afastamento de fundo: 9 metros
Afastamento frontal: 27 metros
Gabarito: 2 Pavimentos, 6 metros
Distância do edifício preservado: 21 metros

Outras considerações
necessárias para nortear - Retomar o gradio original, que foi posteriormente foi alterado por um muro que
a preservação do imóvel não permite uma alta permeabilidade
destaque e construir
novo edifício, quando - O gabarito estabelecido foi de dois pavimentos, mas pode ser acrescido mais
possível um, desde que um recúo maior para o IEP seja dado (afastamento progressivo)

25
Avenid
a Cons
. Rosa
e Silva

Volume Primário com os recúos


Identificados nos Parâmetros do lugar
Escala 1:1000
Avenid
a Cons
. Rosa
e Silva

Recorte da volumetria através de um


Grid, gerando reentrâncias abraçando a
vegetação existente
Escala 1:1000
Avenid
a Cons
. Rosa
e Silva

Esquema de Implantação
da Volumetria obtida
Escala 1:1000
Corte Esquemático
Escala 1:1000
04

Parâmetros do Lugar
Figura 1: Detalhe da Varanda
Fonte: Elaborada pelos autores
x Legislação Vigente
Parâmetros Urbanísticos de Acordo com o Plano Diretor - Lei 17511 de 2008

Figura 9: Volume Permitido pela Legislação Vigente


Fonte: Acervo dos Autores

- Coeficiente de Utilização: 2
- Afastamentos: a) Frontal = 4,75 metros
b) Lateral Esquerdo = 3,35 metros
c) Lateral Direito = 3,35 metros
c) de Fundos = 3,35 metros
- Taxa de Ocupação: 75% de Ocupação
33
Parâmetros Urbanísticos de Acordo com Lugar

Figura 9: Volume Permitido pelos Parâmetros do Lugar


Fonte: Acervo dos Autores

- Coeficiente de Utilização: 0,6


- Afastamentos: a) Frontal = 27 metros
b) Lateral Esquerdo = 3 metros
c) Lateral Direito = 8 metros
c) de Fundos = 9 metros
- Taxa de Ocupação: 30% de Ocupação
34
Figura 1: Detalhe dos Azulejos
Fonte: Elaborada pelos autores
05

Revisão da Legislação
A legislação dos IEP’s foi uma excelente adicição à preservação dos que vai ser implantado na edificação protegida, para que ele não a desca-
imóveis com valor arquitetônico no Recife. Contudo, a lei possui pontos racterize, cabendo ao órgão fiscalizador barrar a implantação de usos
negativos e que em certos aspectos se tornam vagos. Dessa forma, ela incoerentes. O proprietário possui responsabilidade na preservação do
precisa ser revisada, para que a preservação dos IEP’s seja melhorada e imóvel, mas ele não deve custeá-la sozinho, podendo receber auxílio do
que possa ser acrescentados pontos antes esquecidos, governo para manter o edifício conservado.

Capítulo I – dos imóveis especiais de preservação


Capítulo III – das compensações dos estímulos
A legislação considera a edificação como um elemento isolado de arquite-
tura, não abrangendo o entorno, fazendo com que o imóvel fique “perdido” O TDC (Transferência do Direito de Construir), responsável pela verticaliza-
no local em que está inserido. Apesar de permitir uma renovação, na área ção excessiva e inconsequente do bairro de Boa Viagem, é uma forma de
remanescente do terreno, a nova edificação é projetada para um compensação criada para manutenção dos imóveis. No entanto, essa
coeficiente construtivo muito alto e as intervenções necessárias para o prática não se mostra benéfica, principalmente por se valer do coeficiente
imóvel são dificultadas por sua burocratização excessiva, que torna o da LUOS, e não contabilizar a construção do próprio IEP.
processo muito lento e atrapalha o processo de preservação.
É necessário que, ao ceder o direto de construir, o coeficiente utilizado não
Nesse sentido, é preciso que a área de influência do IEP seja considera, possua valores tão altos e não seja utilizado em uma única área de recife.
para que não só o imóvel seja preservado, mas como também o seu Dessa forma pode-se instituir diferentes valores de coeficiente, para cada
entorno, já que faz parte de sua história. Para as novas edificações, os área da cidade, de acordo com as características locais, ou seja, um valor
parâmetros do lugar devem ser incorporados, pois cada local é único e a que ao aplidado não irá ser táo agressivo e afetar brutamente a região
forma como ele influencia sobre o IEP também, fazendo assim, que a nova dessa nova construção.
construção respeite mais o lugar em que está inserido. Já quanto à
burocratização excessiva, ela deveria ser simplificada, pois quanto mais Capítulo V – das infrações e penalidades
rápido for o processo, o imóvel receberá um uso e contribuir para a
sociedade. As punições às infrações são muito brandas, não sendo suficientes para
impedi-las.

Capítulo II – das condições de preservação dos IEPs Dessa forma, as penalidades deveriam ter punições mais severas como a
eliminação permanente do direito de construir, assim como o direito de
As intervenções não costumam beneficiar os IEPs, criando uma relação transferência, ao invés de uma proibição de dez anos; multas mais
de sobreposição do novo ao histórico, com usos que não contribuem para severas para os proprietários, já que eles permitiram que um elemento
preservação e, aliados ao custo da manutenção atribuído unicamente ao histórico fosse abandonado, chegando até ser demolido; em caso de
proprietário, o edifício histórico é dificilmente conservado. descaracterização, o restauro por completo das características originais
da edificação, pois são esses elementos que a destacam na paisagem
Com os parâmetros do lugar sendo considerados, a sensação de urbana.
sobreposição entre o novo e o preservado é diminuída tendo uma conexão
melhor com seu entorno. Ao propor novos usos, deve-se ter cautela ao

38
Figura 1: Fachada Voltada para Rua
Fonte: Elaborada pelos autores Conclusão
Conclusão
O estudo elaborado para o IEP da Av. Cons. Rosa e Silva,
810 é um exemplo de como seria uma intervenção em
imóvel preservado levando em consideração a utiliza-
ção da edificação pré-existente, o entorno e o contexto
histórico-cultural. Essa forma de mediação é necessá-
ria para que os IEPs sejam adequadamente preserva-
dos, sem sofrer descaracterizações por usos incom-
patíveis e gerando uma maior conexão com a popula-
ção através do entendimento do que representa o
imóvel.

Assim, a forma obtida tem características completa-


mente diferentes das edificações atuais, não visando
atingir o máximo do coeficiente construtivo, e sim criar
uma volumetria compatível com o IEP e seu cenário.

A lei dos IEPs precisa ser revisada, porque em certos


aspectos se torna vaga, e não consegue abranger
todas as problemáticas necessárias, permitindo que
construções absurdas sejam implantadas perto
desses imóveis, desrespeitando a memória do Recife.

40
Referências Bibliográficas
Conclusão
- RECIFE, Município do . LEI Nº 17.511/2008: PROMOVE A REVISÃO DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DO RECIFE.. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/plano-diretor-recife-pe>. Acesso em: 01 nov. 2017

- RECIFE, Município do . LEI Nº 16.284/97: DEFINE OS IMÓVEIS ESPECIAIS DE PRESERVAÇÃO - IEP, SITUADOS NO MUNICÍPIO DO RECIFE,
ESTABELECE AS CONDIÇÕES DE PRESERVAÇÃO, ASSEGURA COMPENSAÇÕES E ESTÍMULOS E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.. Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/a1/pe/r/recife/lei-ordina-
ria/1997/1628/16284/lei-ordinaria-n-16284-1997-define-os-imoveis-especiais-de-preservacao-iep-situados-no-municipio-do-r
ecife-estabelece-as-condicoes-de-preservacao-assegura-compensacoes-e-estimulos-e-da-outras-providencias>. Acesso em:
01 nov. 2017.

- RECIFE, Município do . LEI Nº 16.719 /2001: Cria a Área de Reestruturação Urbana - ARU, composta pelos bairros Derby, Espinheiro,
Graças, Aflitos, Jaqueira, Parnamirim, Santana, Casa Forte, Poço da Panela, Monteiro, Apipucos e parte do bairro Tamarineira,
estabelece as condições de uso e ocupação do solo nessa Área.. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAA-
A_K8AI/lei-reestruturacao-urbana-aru-lei-dos-12-bairros>. Acesso em: 01 nov. 2017.

- REPÚBLICA, Presidência da. LEI No 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001.: Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabe-
lece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências.. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 01 nov. 2017.

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