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PARA QUEM SE ESCREVE?

by

Danilo Pedrosa
JEAN PAUL SARTRE, FILÓSOFO FRANCÊS DO
SÉCULO XX, AUTOR DE TANTOS TEXTOS
FILOSÓFICOS, ROMANCES, PEÇAS DE
TEATRO, ENSAIOS, FICÇÃO, ESCREVEU, EM
1947, “QUE É A LITERATURA?”.
EM SEU TERCEIRO CAPÍTULO, INTITULADO:
“PARA QUEM SE ESCREVE?”, ELE INICIA ASSIM:

Quando me abro para a possibilidade de


“À primeira vista, não haveria dúvida:
escrever, crivo em minha existência os valores
escreve-se para o leitor universal; e vimos,
arraigados por mim mesmo. Enquanto
com efeito, que a exigência do escritor se
indizivelmente admito que meus valores sejam
dirige, em princípio, a todos os homens. Mas
imbricados aos valores de quem lê, estou livre e
as descrições precedentes são ideais. Na
munido de palavras. Minha trincheira é a
verdade, o escritor sabe que fala a combinação cognitiva da harmonia que estou
liberdades atoladas, mascaradas, compondo. Pretendo com o que escrevo
indisponíveis; sua própria liberdade não é conduzir meu leitor da dissonância até a
assim tão pura, é preciso que ele a limpe; é composição, alimento-me da sua fome...
também para limpá-la que ele escreve.“ da sua fome de ler!
(Sartre, 1947)
“É perigosamente fácil ir logo falando de valores eternos:
os valores eternos são muito descarnados. A própria
liberdade, considerada sub specie aeternitatis, parece um
galho seco; tal como o mar, ela sempre recomeça; não é
nada mais do que o movimento pelo qual perpetuamente
nos desprendemos e nos libertamos.” (Sartre, 1947)
JÁ SEI
Estou escrevendo esse
Agora estou preso à Estou escrevendo esse
texto para me libertar
minha própria liberdade texto para o leitor que
de escrever. das amarras de não
quer escrever e que
Uma vez iniciado o encontrar palavras que
também quer ler.
parágrafo, não tem mais combinem com meu
Estou escrevendo esse
volta, vejo pular em minha desejo de escrever.
texto para quem quiser
página palavras, palavrões Estou escrevendo esse
ler Sartre.
e possíveis combinações texto para me libertar da
para possíveis leitores, e angústia de não
ainda haverei de escolher encontrar meu leitor
o tema. numa esquina de
Estou particularmente parágrafos soltos.
Puxa vida!
alienado ao mesmo tempo
que historicamente livre.

Ah, também estou escrevendo esse texto para quem


quiser me ler.
-SENHOR, SEU PEDIDO!

Alimento a um leitor para me destruir


enquanto mundo aqui fora, alimento-me
de um leitor enquanto ele se alimenta de
mim.

Estou do outro lado da rua, observando através da


vidraça de um café, vejo lá dentro meu leitor e minha
personagem, trocam palavras, sentidos, valores e neste
exato momento, Puff! Esqueceram que existe um mundo
aqui fora.
Leio, releio e limpo as palavras que julgo mais agradar
esse encontro.
Eu não estou presente, nem se quer sabem que existe
um autor, lanço palavras que entram pela chaminé e
pairam sobre a mesa.
instagram.com/zarathustrall/
instagram.com/psidanilopedrosa/

https://zlljourney.weebly.com/

Seria capaz eu de escrever uma


conclusão final? Já Estou sem
munições suficientes, além do que,
prefiro não escrever, pois escrever é
angustiar-se com a leitura, escrever
é passar café, ler é bebê-lo e agora
estou para o lado de fora.

FIM
Ref: SARTRE, Jean-Paul.2004. Que é a
Literatura?.3ª Edição. Tradução de Carlos
Felipe Moisés. São Paulo, Abril Cultural.

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