Você está na página 1de 7

EXMO(A). SR(A). JUIZ(A) DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CURITIBA.

Pamela Silvano Santiago, brasileira, solteira, estudante, portadora da Carteira de Identidade


nº: 10.427.059-0, inscrito(a) no CPF sob o nº: 097.811.019-62, residente e domiciliado(a) na Rua
Luiz Leão, 01, Curitiba-PR , CEP:80030-010, telefone: 41 996366443 e e-mail:
pamelasanti94@gmail.com, vem, à presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Em face da empresa Restaurante Lider Nelcimara de Fatima de Oliveira, inscrita no CNPJ sob o
n.o 03.706.556/0001-96, com endereço em Avenida Silva Jardim, 1747, Água verde, na cidade
de Curitiba – PR, CEP 80250-200.

Preliminarmente

Da Gratuidade de Justiça

Ex.a, sou estudante de graduação, não auferindo renda trabalhista. Desta forma não possuo
condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem
prejuízo do meu sustento, pelo que requeiro os benefícios da Justiça Gratuita, em todas as esferas
de jurisdição, assegurados pelo Art. 5.o do Código de Proteção ao Consumidor. Para tanto,
acosto declaração de bolsista da PRAE (anexo bolsista.pdf).

1. Dos Fatos

Em 05 de Maio de 2020, às 22:02 da noite, pedi meu jantar no aplicativo para celular Star
Ofertas onde a ré coloca seus anúncios como promoção. Pedi o item PIZZA BIG + BEBIDA,
oferecido pela segunda Ré pelo valor de R$ 40,00 mais taxa de entrega no valor de R$ 5,00,
resultando em um valor total do pedido de R$ 45,00 (prints pág. 3). Já havia ido diversas vezes
ao estabelecimento por conta do valor, e nos tempos de quarentena pedia toda semana com a
empresa (prints pág. 2). Sempre peço minha nota fiscal com meu CPF e diversas vezes não veio
no pedido e lembrava os mesmos por WhatsApp, aplicativo esse que ocorria nosso dialogo.
Sempre nas notas fiscais não vinha descrito como pizza e sim como buffet, pois em
questionamento anterior a ré informou que não conseguiu retirar como pizza.

Com uma demora mais do que ocorre normalmente, às 23:14 o entregador Felipe me envia
mensagem por WhatsApp informando que está na portaria com minha pizza (prints pág. 4).

Já em meu quarto quando fui abrir a pizza, esta estava totalmente fria e era o pedido que
inicialmente fiz. Entrei em contato de imediato com o estabelecimento por WhatsApp e informei
o ocorrido e que não havia tocado na pizza, solicitando assim que viessem trocar pelo pedido
correto, a resposta de quem estava respondendo as mensagens constou somente nota de pedido
do estabelecimento que constava do modo que me trouxeram, insisti informando que no App
Star ofertas fiz o pedido correto e este não era o que eles haviam me mandado, os mesmos me
mandaram mensagem dizendo “ Vc pode colocar conservação”. Não entendi tal mensagem e
insisti perguntando se iriam trazer minha pizza correta, e me informaram que já haviam
encerrado pois pizzaiolo ficava no estabelecimento até 23:00 horas. Continuaram dizendo que o
pedido estava sem catupiry, e que a promoção deles era deste modo, mas colocavam como
sempre me foi entregue, pois tratava-se de exceções.

Informei que no App Star Ofertas estava claro e dizia com catupiry (prints pág. 1), informei que
iria pedir e-mail ao citado App pedindo meu extrato de pedido (prints pág. 12), e informei que
estava decepcionada pois o estabelecimento não deu solução ao meu problema. Eles por sua vez
mandaram o próprio cardápio onde não constava com catupiry e eu insisti falando que não havia
pedido diretamente e sim via app Star Ofertas.

Pedi novamente uma solução para o problema, e não queria que ficassem tentando me provar
que pedi errado, quando tenho provas que meu pedido foi como informado. Foi quando alguém
do estabelecimento me mandou dois áudios e apagou e mandou “Boa noite”. Insisti mais uma
vez se ficaria sem resolução o pedido.

Foi quando um senhora extremamente alterada me mandou dois áudios com os seguintes dizeres:
“desculpa mas eu não preciso provar nada”, “o problema o pedido que foi feito, o pedido foi
feito lombo, apenas isso, agora se você tivesse colocado uma observação em baixo com catupiry,
por que aqui a gente manda para cozinha e é feito conforme vem ali, tá”. Antes de ouvir os
áudios, encaminhei estes a mim mesma, pois eles já haviam mandado anteriormente e apagado, o
que fizeram novamente com os escritos acima. Informei que havia então copiado os áudios pois
a mesma havia apagado novamente. Foi quando em tom de ameaça recebi mais quatro áudios da
mesma pessoa alterada, dizendo: “copia mais esse então”, “agradeço”, “por favor não peça mais
pizza com a gente então, obrigada”, “de atender muito bem aos meus clientes, mas aqueles que
compreendem sabe, que atendem bem também, que tratam a gente bem, não como você, que está
fazendo com a gente aqui, eu estou te falando que encerrou, numa próxima eu poderia te mandar
até uma cortesia de repente uma borda recheada, alguma coisa, mas o que que você quer que a
gente faça nesse horário, por que que você não chegou, logo que o motoca voltou e depois de
meia hora você fala reclamando”. Por fim informei a ela que ele havia entregado agora, e mandei
print dele com horário que informou que estava na portaria 23:15 e como visto minha
reclamação foi 23:25, somente tempo de descer pagar, e subir ao quarto e escrever ao
estabelecimento.

Consciente da importância do registro documental do atendimento para exercer meus direitos de


consumidor, tentei acessar o chat da primeira Ré para solicitar o número da infração. Entretanto,
após a compra ter sido cancelada, às 14:38 (anexo Screenshot_20190426-152259_iFood.pdf),
não foi possível mais acesso ao chat, pois o botão utilizado anteriormente fora inativado. Dessa
forma, enviei uma mensagem pelo aplicativo da primeira Ré relatando o ocorrido e solicitando o
n.o de infração (anexo Screenshot_20190426-151251_iFood.pdf). Entretanto, a primeira Ré
respondeu após alguns dias (solicitação n.o 06743148) finalizando o atendimento, porém sem
fornecer o n.o de infração solicitado (anexo ifood.infração.resposta.pdf).

Foi então que, após atendimento pelo qual passei sofrível humilhação, fui arremessado em uma
trama psicológica torpe e confusa, na qual tive minha honra atacada ao ser acusada de estar
mentindo, sofri ameaça quando a voltar pedir com este estabelecimento, além de ter sido
submetido a um atendimento abusivo, permeado de comportamento passivo-agressivo, registrei
reclamações no PROCON–PR (protocolo 201904020041), (protocolo 201904020042) e no site
Reclameaqui (ID 90999541).

2. Do Direito

De início, impende ressaltar que o caso é típico de relação de consumo, por se tratar de serviço
oferecido e fornecido, mediante remuneração, no mercado de consumo, destinado a pessoas
físicas e jurídicas, senão, vejamos o disposto nos artigos 2.o e 3.o do Código de Proteção ao
Consumidor – CPC, in verbis:

Art. 2.o Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Art. 3.o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, […], distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

[…]

§ 2.o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Assim sendo, deve-se incidir à espécie as disposições do CPC. Outrossim, aplicam-se também à
espécie as disposições presentes na Lei do Servico de Atendimento ao Consumidor – SAC,
constituída no Decreto n.o 6.523, de 31 de Julho de 2008, que regulamenta a Lei n.o 8.078, de 11
de setembro de 1990, onde se define o SAC em seu Art. 2.o, in verbis:

Art. 2.o Para os fins deste Decreto, compreende-se por SAC o serviço de atendimento
telefônico das prestadoras de serviços regulados que tenham como finalidade resolver as
demandas dos consumidores sobre informação, dúvida, reclamação, suspensão ou
cancelamento de contratos e de serviços.

Mais ainda, por se tratar de serviço fundamental, o CPC prevê circunstância agravante em seu
Art. 76.o, inciso V, in verbis:

Art. 76.o São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:

[…]

V – serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou


quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.

O Art. 6.o do CPC versa sobre os direitos básicos do consumidor, dentre os quais o direito à
adequada informação prestada pelo fornecedor, presente no inciso III, in verbis:

Art. 6.o São direitos básicos do consumidor:

[…]

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com


especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

Em consonância com o Art. 9.o da SAC, in verbis:

Art. 9.o O atendente, para exercer suas funções no SAC, deve ser capacitado com as
habilidades técnicas e procedimentais necessárias para realizar o adequado atendimento
ao consumidor, em linguagem clara.

Temos então que, pelas regras que a Ré na organização de seu serviço, onde premia excelência
com publicidade, a presença de destaque de um restaurante tem caráter informativo para o
cliente, indicando excelência em sua prestação de serviço. Isto posto, o incorreto destaque de um
restaurante, o qual presta um serviço de baixa qualidade, induz o consumidor a erro sobre a
qualidade do serviço prestado por esse, constituindo publicação de engodo, infringindo o Art.
37.o do CPC, in verbis:

Art. 37.o É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1.o É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter


publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.

Ademais, a solidariedade da Ré no tocante à responsabilidade sobre a publicidade praticada, está


prevista nos Art. 14.o, Art. 23.o, Art. 25.o, § 1.o, Art. 38.o e Art. 75.o do CPC, in verbis:

Art. 14.o O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

[…]

Art. 23.o A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos
produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

[…]

Art. 25.o […]

§ 1.o Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão


solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

[…]

Art. 38.o O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação


publicitária cabe a quem as patrocina.

[…]

Art. 75.o Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código,
incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor,
administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer
modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de
produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas.

Cumula-se a todo sofrimento que me foi perpetrado pela Ré a ameaça à minha integridade física,
prevista no Código Penal, no Art. 147.o, in verbis:

Art. 147.o Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Ademais, a acusação de eu ser mentirosa, quando na verdade tão somente buscava saber da
situação do meu pedido, consiste de infração ao Art. 39.o do CPC, in verbis:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas:

VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no


exercício de seus direitos;

Na lição de Sergio Cavalieri Filho, “deve ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.” (in
“Programa de responsabilidade civil”, Atlas, 8.a ed., 2008, p. 83). Ora, não tendo cumprido o
pedido correto de meu jantar, quando a contatei para me informar, a Ré me sujeitou a um árduo
calvário que, iniciado às 23:25, culminou no em nenhuma resposta ao meu problema. Nessa
espera, fui atendido por funcionário que estava totalmente alterado a ponto de me enviar áudios
falando para não realizar mais nenhum pedido com estes, e por fim me bloquear.

A angústia do faminto é conhecida por todos, desde os primeiros instantes de vida. Entretanto, o
abalo sofrido por abusos psicológicos só ocorre após o passar do tempo, precedido pela malícia
dos que buscam prosperar artificialmente. Dessa forma, sendo a Ré algozes de minha angústia, é
cristalino o nexo de causalidade entre a ação da Ré e o dano moral da angústia, sofrimento e
humilhação que me foram causados. Ainda, não sendo unicamente compensatória, a indenização
a título de danos extrapatrimoniais tem o caráter punitivo-pedagógico, o qual visa coibir a Ré de
praticar novamente conduta negligente dispensada a consumidor.

3. Dos Pedidos

1. Seja deferida a gratuidade de justiça, nos moldes do Art. 5.o do CPC;


2. Que a parte requerida seja citada da presente ação e intimada para comparecer
pessoalmente/virtualmente à audiência de conciliação, a ser designada no ato da
distribuição, sendo que o não comparecimento importará a pena de revelia;
3. Seja o pedido julgado procedente para condenar a Ré, de forma solidária, a me indenizar no
valor de R$ 3.000,00 por danos morais, pautado na tríplice fundamentação das indenizações
por danos morais, Punitivo – Pedagógico – Compensatório.
Provará o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.
Atribui-se à causa o valor de R$ 3000,00.

Curitiba, 05 de julho de 2020

______________________________________________________

PAMELA SILVANO SANTIAGO

Você também pode gostar