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Hospital Central de Maputo

Departamento de Pediatria
Unidade de CuidadosIntensivos de Pediatria

GlomerulonefriteAgudaPós-infecciosa
Protocolo de Actuação

Elaboradopor :Ivana Dias

(MédicaGeneralista/ Pós-Graduanda emNeonatologia)

Tutora :DraValériaChicamba

(Pediatra e IntensivistaPediátrica)

Abril, 2013
Introdução

As glomerulonefrites agudas pós-infecciosas são caracterizadas por inflamação glomerular,


imunologicamente mediada, secundária a uma infecção prévia, por microorganismos de estirpes
nefritogénicas.

Ocorrem em cerca de 470.000 individuos/ano, de forma esporádica ou em surtos epidémicos, e são


mais comuns nos paises subdesenvolvidos, com condições de higienedeficientes. Cerca de 70-80 % em
crianças entre 2-14 anos, sendo 5% em menores de 2 anos e 10 % em maiores de 14 anos. É mais
frequente no sexomasculino 2:1, e é autolimitada e reversivel.

Etiologia

Classe Agentes / Patologias


Bactérias Streptococcus pyogenes ß hemoliticogrupo A (faringoamigdalite/ piodermite)
Streptococcus viridans/ Staphylococcus aureus (endocardite)
Streptococcus pneumoniae/ Mycoplasma pneumoniae (Pneumonia)
Streptococcus zooepidemicus (leite)
Salmonelatyphy (febretifoide)
Staphylococcus aureus + E.coli+pseudomonas+ proteusmirabillis (Abcesso visceral)
Virus Enterovirus
Influenza, parotidite, sarampo, hepatite
Citomegalovirus, varicela, rubeola, HIV
Parasitas Plasmodium falciparum e malariae
Toxoplasma Gondi
Schistosomamansoni
Filariase
Fungos Aspergillusflavus

QuadroClinico

 Ocorre semanas após a infecção, em dependência do agente etiológico (ex:Streptococcus


pyogenes 1-3 semanas após faringoamigdalite e 3-6 semanas após piodermite)
 Pode-se manifestar sob 4 formas clinicas:

1. Assintomático
- Redução sérica do complemento, hematúria microscópica ,TA normal ou ligeiramente ↑

2. Sindrome Nefritico
- Hematúria macroscópica (40%)
- Edema (90% - palpebral, matutino, bilateral , moderado)
- HTA (60-80%)
- Oligúria (50%) com IRA
+ Sintomas Gerais: febre, mioartralgia, letargia,
cefaleia, lombalgia, anorexia, nauseas
3. Sindrome Nefrótico (2-4%)
- Proteinúriamassiva (20%) e azotémia- risco de IRC

4. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (-0,5%)


- Perda progressiva da função renal em curto periodo de tempo 8dias, semanas, meses)

Complicações

 EncefalopatiaHipertensiva (mais comum)


 Insuficiência Cardiaca Congestiva
 Insuficiência Renal Aguda

ExamesComplementares

Exame Resultado
Urina II hematúria, eritrócitos dismórficos com ↓ do volume corpuscular,
cilindros hemáticos, leucócitos PMN, cilindros hialinos e granulosos,
proteinúria ligeira a moderada
Hemograma Anemia moderada (hipervolémia- hemodiluição)/neutrofilia/ eosinofilia
dependento do tipo da infecção e do tempo
Função Renal ↑ ureia e creatinine em graus variados
Complemento C3 ↓na fase aguda , c4 e c2 normais ou ligeiramente diminuido

Exames especificos para detectar o agente etiológico

Ecografia renal Rim aumentado de volume e ecodenso (exame pouco sensivel)


Biópsia renal Indicações
percutânea ApresentaçãoAtipica
1. Etiologia - falta de antecedenteinfeccioso/ C3 normal
oudiminuidopormais de 6 semanas
2. Clinica - anúria, sindrome nefrótico, urémia prolongada
3. Antecedentes – nefropatia prévia, menor de 2 anos ou maior de
12 anos, história familiar de nefropatias
EvoluçãoProlongada
Inicial – oligúria ˃ de 2 semanas, HTA ˃ 3semanas, macrohematúria ˃
3 semanas, C3 ↓ ˃ 8semanas
Tardia – hematúria + proteinúria ˃ 6 meses, proteinúria ˃ 6 meses,
hematúria ˃ 12 meses
Tratamento

1. Hospitalização
Na UCIPse :compromissoneurológico, renal, pulmonar, imunológico e/ou HTA grave

2. Restriçãohidrosalina (300-400 ml/m2/dia + perdas / sal 2g/m²/dia)

3. Tratamento da infecção

4. Tratamento da hipervolémia
- diurético da ansa – furosemida 1-2 mg/kg repetir se necessárioacada 2-3 h (dose máx
10mg/kg/dia)

5. Tratamento da HTA
- Leve - restriçãosalina + diurético

- Moderada–Grave com sinais de congestão –Furosemida +bloqueadores dos canais de


cálcio [ nicardipina (0,5-1-mcg/kg/min/ dose máx 4 a 5 mcg/kg/min) / nifedipina0,25-
0,5 mg/kg/dia risco de hipotensão e hipertensão rebound]

6. TratamentoComplicações ( ICC/EAP/IRA/DHE)

Nota :Não usar IECA e Poupadores de potássio pela hipercaliémia associada e


Corticóides porque agravam a HTA, edema e hematúria com excepção da GN
rapidamente progressiva.

Encefalopatia Hipertensiva
- É uma emergência hipertensiva e a principal causa de internamento na nossa Unidade

- Caracterizada por cefaleia, visão borrada, náuseas, convulsões , coma

Tratamento

- Objectivo do tratamento↓- 25% dos valores tensionais em 8h

- Fármacos:

 Vasodilatadores
– Hidralazina 0,2- 0,6 mg/kg/dose/ Bolus Ev
- Nitroprussiato de Sódio – 0,3-0,5 mcg/Kg/min – risco de toxicidade por cianeto
 Bloqueadores adrenérgicos
- Labetalol – bolus 0,2 – 1 mg/kg/dose/ Ev e seguido de infusão a 0,25-3mcg/kg/h (diluição
1mg—1ml de DX5%)

Prognóstico/Evolução

- 90% evoluem cura clinica e histológica


- Diurese normalize em 1 semana
- Niveis de creatinina em 3 a 4 semana
- Hematúria em 3 a 6 meses
- Proteinúria pode permanecer por 3 ano sem 15% dos casos e em 2 % por 7 a 10 anos,
dependendo da lesão da membrana basal e quantidade de imunocomplexos no glomérulo.
- Recorrência é rara.
- Principais causas de mortalidade- encefalopatia hipertensiva, edema agudo do pulmão e
hipercaliémia.

Bibliografia

1. Kliegman,Robert; et al. Nelson Textbook of Pediatrics.19ªedição.SaundersElsevier.


2011
2. Avner,Ellis;et al. Pediatric Nefrology.6ªedition.springer.Berlin.2009
3. Cruz-Hernandez, Manuel;et al. Nuevo Tratado de Pediatria. Barcelona
4. Oliveira, Reynaldo Gomes de. Blackbook Pediatria.4ªedição. Black Book Editora. 2011
5. Papanagnou, Dimitrios. Emergent Managemente of Acute Glomerulonephritis. May,
26,2011.
6. Bhimma, Rajendra. Acute Poststreptococcal Glomerulonephritis Differential
diagnoses. March,26,2013.
7. Flynn, Josefh. Managemant of hypertensive emergencies and urgencies in Children.
Oct, 2012
8. Niaudet, Patrick. Poststreptococcal Glomerulonephritis in children. Oct, 2012
9. Niaudet, Patrick. Overview of the patogeneses and cause of Glomerulonephritis in
children. Oct, 2012
10. Baiter, Sheron, et al. Epidemic nephritis in Nova Serrana Brasil. The Lancet. 20,
May,2000.

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