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Emergência – Anna Carolina Ribeiro

Acidente vascular cerebral


Fisiopatologia:
Definição O AVCh ocorre após ruptura de estruturas
São lesões secundárias a um mecanismo vascular, vasculares cerebrais e possui vários mecanismos
com instalação de um déficit neurológico focal, não envolvidos:
convulsivo e repentino, com duração maior que 24h
A compressão ou destruição de tecido cerebral ou
ou com alterações no exame de imagem.
estruturas vasculares
A origem do insulto pode ser isquêmica (AVC
Pode ser causado por hemorragia
isquêmico – AVCi) ou hemorrágica (AVC
intraparenquimatosa o que ocasiona edema nas
hemorrágico – AVCh)
estruturas locais, levando a lesão neurológica.
Outra causa é a hemorragia subaracnóide,
geralmente relacionada à ruptura de aneurisma.
AVC hemorrágico
Etiologia:
Refere-se a sangramentos intracranianos
intraparenquimatosos não traumáticos O mais comum é o AVC hemorrágico hipertensivo,
(espontâneos), relacionados ou não à hipertensão causado por lesão crônica de pequenas artérias
arterial sistêmica (HAS). perfurantes, promovendo fragilidade da parede
vascular e formação de pequenos aneurismos,
Fatores de risco: denominados microaneurismas de Charcot-
Bouchard.
 HAS
 Angiopatia amiloide O rompimento desses aneurismas em geral
 Aneurisma durante um pico hipertensivo, provoca o AVC
 MAV hemorrágico intraparenquimatoso hipertensivo.
 Hemangioma cavernoso (cavernoma)
 Coagulopatia Os locais mais acometidos:
 Uso de anticoagulante ou trombolítico  Putâmen: 30-50%
 Álcool  Tálamo: 15-20%
 Tumor (primário ou metástase)
 Cerebelo: 10-30%
 Infarto venoso (trombose de veia ou seio
 Ponte: 10-15%
central com transformação
 hemorrágica) AVCh por hemorragia subaracnóidea ocorre
 Hiperperfusão (pós-endarterectomia ou principalmente por ruptura de aneurismas
angioplastia) saculares intracranianos. Ocorrem principalmente
 Infecções no SNC (fungo, herpes, em bifurcações arteriais próximas ao polígono de
toxoplasma) Wills, como na artéria comunicante anterior, artéria
 Doença de Moya-Moya (doença comunicante posterior e artéria cerebral média.
cerebrovascular oclusiva crônica-
progressiva estenose ou oclusão da parte
distal da artéria carótida interna, Quadro clínico:
bilateralmente)
 Vasculite HIP: Déficit neurológico focal súbito, dependente da
 Simpaticomiméticos (cocaína, anfetamina, topografia da hemorragia, muitas vezes
efedrina, fenilpropanolamina) acompanhada de cefaleia, náuseas, vômitos,
 Mutação no gene do fator XIII redução do nível de consciência e níveis pressóricos
 Hipocolesterolemia? bastantes elevados.
HSA: cefaleia súbita, geralmente intensa e
holocraniana, é o sintoma inicial mais frequente.
Outros sintomas são: náuseas, vômitos, tonturas e
sinais de irritação meníngea. Pode ocorrer perda de
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consciência e outras manifestações neurológicas  Trombótica (quando é da própria artéria
como déficits motores, sensitivos, distúrbios da envolvida no AVC)
linguagem, crises convulsivas e alterações de  Criptogênica (quando a causa ainda não é
nervos cranianos. Distúrbios autonômicos como elucidada).
bradicardia, taquicardia, alterações
eletrocardiográficas, alterações da pressão Quando o fluxo é interrompido, as células
arterial, sudorese profusa, hipertermia e presentes no SNC, ficam sem suporte de oxigênio
alterações do ritmo respiratório podem ocorrer. e glicose. Após muito tempo nesse estado, ocorre
morte do tecido cerebral dentro da região
isquemiada. Em volta dessa região, encontra-se a
área de penumbra, onde a isquemia é parcial e a
AVC isquêmico lesão cerebral é reversível, se o fluxo sanguíneo
for restaurado. A isquemia leva, também, ao
É uma entidade neurológica causada por fluxo edema cerebral. Ele ocorre dias após o AVC e pode
sanguíneo insuficiente em uma região localizada do causar herniação cerebral.
SNC ou nele todo.
Etiologia embólica:
Os acidentes vasculares cerebrais focais cursam
com déficit decorrente do fluxo sanguíneo cerebral  Cardioembólico: 20% de todos os AVCs
em tempo superior a 24 horas. O fluxo arterial não isquêmicos. A fonte emboligênica é o
é restabelecido, o que resulta em infarto e morte coração, na maioria das vezes com
neuronal. fibrilação atrial com formação de trombo
no AE, seguida pelo IAM de parede anterior
Os acidentes vasculares focais cuja duração do formando trombo no VE e pelas
déficit neurológico é menor, minutos ou horas, são cardiomiopatias dilatadas que formam
chamados de ataques isquêmicos transitórios trombo em VE e/ou AE.
(AIT). A maioria dos AIT cursa com melhora do  Ateroembólico: AVC isquêmico típico dos
déficit em menos de 2 horas; em geral, quando o pacientes hipertensos. A fonte
fluxo sanguíneo não é normalizado em menos de 1 emboligênica geralmente é uma placa
hora, já existe dano neuronal estabelecido. aterosclerótica instável (com trombo) na
carótida comum ou bifurcação carotídea ou
na artéria vertebral.
Fatores de risco:  Trombótico: Mais comum é o AVC lacunar,
definido por infarto de tamanho inferior a
Não Modificáveis – Idade, raça, sexo, pessoa ao nascer
2 cm, causado pela oclusão de pequenas
e história familiar de AVCi ou de AIT.
artérias perfurantes cerebrais.
Não modificáveis:

Quadro clínico:
As manifestações clínicas são causadas por conta
da paralisação do fluxo sanguíneo em determinado
território vascular cerebral.
O déficit neurológico dependerá da artéria
acometida.

Fisiopatologia:
Obstrução súbita do fluxo arterial encefálico. Pode
ser de origem:
 Embólica (quando o trombo é de outra
região fora da artéria que originou o AVC)
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Escala de Cincinatti
SAMU:

 S = Sorrir – Para avaliar se tem desvio de


rima
 A = Abraçar – Para ver se consegue
levantar o braço (força; avaliar simetria)
 M = Música – Para avaliar a fala
 U = Urgência – Precisa chamar o SAMU
rápido

Diagnóstico
Um aspecto fundamental do histórico do paciente
é a capacidade de determinar com segurança o
momento do início dos sintomas. Pacientes que
relatam melhora completa dos sintomas que os
levaram ao hospital não “disparam” o cronômetro
da terapia de reperfusão.

 A hora considerada é a última em que o


paciente foi visto bem  Se ele foi dormir
20h e acordou com sintomas 9h, anotar
20h
Antecedentes cardíacos, doença arterial periférica,
medicamentos utilizados habitualmente, uso de
drogas ilícitas, convulsões, enxaqueca, trauma e
gravidez devem ser investigados durante a
anamnese.
Durante o exame físico, observar a responsividade
do paciente; manter a via aérea aberta; observar a
presença de pulsos em segmentos arteriais
centrais; buscar sinais de trauma na região cefálica
e cervical, lesões orais, turgência jugular, doenças
valvares, sinais de doença arterial coronariana,
arritmias, dissecção de aorta, alterações cutâneas
(icterícia, petéquias, púrpuras), alterações
abdominais e respiratórias.
O exame neurológico deve ser orientado pela
National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS).
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análise especializada do exame em mais 20
minutos.
 Sempre que houver qualquer deterioração
neurológica, um novo exame de imagem
deve ser realizado com o intuito de sempre
se buscarem sinais de sangramento, ou
outros achados que contraindiquem a
terapia de reperfusão

Os seguintes testes diagnósticos devem ser


realizados logo na chegada do paciente com
suspeita de AVCI:

 Glicemia, eletrólitos, função renal,


hemograma, contagem de plaquetas,
atividade de protrombina, atividade de
tromboplastina parcial, eletrocardiograma,
marcadores de necrose miocárdica e
radiografia de tórax.
 Teste de gravidez, exame toxicológico, Tratamento AVCi agudo
enzimas celulares e canaliculares hepáticas
devem ser solicitados caso haja algum sinal Clinicamente:
durante a história ou o exame físico que  Medidas universais de suporte de vida
indique necessidade dessas provas avançado  Avaliar função respiratória e
diagnósticas. cardiovascular.
 Eletroencefalograma é indicado para os  Exames laboratoriais para análises
pacientes que apresentarem convulsão. bioquímicas, hematológicas e da coagulação,
 Sugere-se exame de líquido devem ser prontamente obtidos.
cefalorraquidiano nos casos em que não há
sinais de hemorragia subaracnóidea na
tomografia computadorizada de crânio, Tratamento específico:
mas o paciente apresente sintomas desse
evento.  Uso de alteplase e a trombectomia
 A tomografia computadorizada (TC) de mecânica (quando indicados).
crânio permite uma avaliação detalhada do Além disso deve-se fazer prevenção e
evento, informando a localização, o tratamento das complicações neurológicas e não
tamanho, o território vascular e a presença neurológicas, assim como profilaxia secundária.
de sangramento, o que possibilita um
planejamento a curto e longo prazo do
tratamento.
Trombólise:
 A ressonância nuclear magnética também
faz parte do arsenal propedêutico de  Tempo de evolução do quadro neurológico,
avaliação inicial do AVCI. que não deve ultrapassar o limite de 4,5
 A TC sem contraste é um exame inicial horas até o início da infusão do agente.
relevante, diagnostica tumores cerebrais,  Rt-PA (alteplase) dose de 0,9 mg/kg (dose
sangramentos meníngeos e máxima de 90 mg) em período de 60
parenquimatosos. minutos, sendo inicialmente 10% da dose
 A terapia de reperfusão: o tempo ideal administrada em bolus durante 1 minuto.
entre a chegada do paciente e a realização  Não devem ser administrados
da TC é de 25 minutos e, em adição, uma anticoagulantes ou antiagregantes nas
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primeiras 24 horas após procedimento indicado deve-se reduzir cerca de 15% nas
trombolítico. primeiras 24h.
 Monitorização rigorosa devido a possíveis
complicações hemorrágicas. O medicamento de primeira escolha, no Brasil, é o
 Não se deve atrasar a trombólise para nitroprussiato intravenoso (Nipride).
aguardar resultados de exames
laboratoriais. A exceção é paciente que
recebeu anticoagulante ou há suspeita de Além disso:
sangramentos ou trombocitopenia.  Controle da hipoglicemia - Pode causar
 Glicemia em jejum abaixo de 50mg/dL é déficits neurológicos focais mimetizando
contraindicação absoluta. um avc.
 Controle da hiperglicemia - Pode aumentar
a lesão cerebral. Deve ser mantida na faixa
de 140-180 mg/dl.
 Terapia antitrombótica - É indicado o início
do uso de aspirina dentro de 48 horas do
início dos sintomas.
 Deglutição - Disfagia é comum após um
AVC e constitui um importante fator de
risco para pneumonias por broncoaspiração.
 Elevação da cabeceira - Manter a cabeceira
elevada a 30º na fase aguda do AVC para
evitar aumento da pressão intracraniana e
broncoaspiração.
 Febre - A etiologia da febre deve ser
investigada e tratada. Antipiréticos devem
ser usados para redução da temperatura
em pacientes febris

Trombectomia mecânica:
É indicada para pacientes com AVCi devido a uma
oclusão de artéria calibrosa na circulação anterior
que podem ser tratados dentro de 24 horas do
início dos sintomas ou do último momento que
foram vistos sem sintomas.
Em AVCs extensos também deve-se fazer
trombectomia mecânica.

Controle da pressão arterial:


É comum que haja aumento da PA como um
mecanismo protetor para garantir a perfusão
cerebral.
Para pacientes que foram submetidos à
trombólise é recomendada que a PA esteja menor
Tratamento AVCh na fase aguda
ou igual a 185x110mmHg antes do procedimento e Dado ao grande potencial de deterioração dos
menor ou igual a 180x105mmHg por pelo menos pacientes com HIP (hemorragia
24h após trombólise. intraparenquimatosa) em decorrência de possíveis
complicações como a expansão da hemorragia,
PA não deve ser tratada se estiver menor que
aumento da pressão intracraniana, convulsões e
220x120 mmHg ou o paciente tenha uma doença
hidrocefalia, o paciente deve ser levado para UTI ,
coronária ativa, eclâmpsia, dissecção de aorta ou
já que pode precisar de IOT, ventilação mecânica,
encefalopatia hipertensiva. Quando o tratamento é
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tratamento de hipertensão intracraniana, uso de
anticonvulsivantes, tratamento hemostático e Prevenção secundária do AVC
abordagem neurocirúrgica; bem como o Antiagregação plaquetária
monitoramento e dinâmica de cuidado apropriados
para esses casos.  AVCi: AAS 100-300 mg/dia e/ou clopidogrel
75 mg/dia (se houver intolerância ao AAS
Deve ser feito o controle da PA para valores < 140
ou recorrência do AVC com fatores de
mmHg.
risco controlados).
Deve-se investigar a causa do sangramento
Hipertensão:
(hipertensivo, coagulopatias, malformações
venosas, ruptura de aneurismas, neoplasias).  Iniciar tratamento após a fase aguda.
O sítio do sangramento na TC pode auxiliar no Pressão-alvo a ser atingida: 120/80 mmHg.
diagnóstico  Até 25 minutos é o tempo ideal para A primeira escolha é diurético ou a
fazer tomografia e mais 20 minutos para ler a combinação de diurético e IECA.
tomografia. Diabetes:
O AVCh hipertensivo costuma ocorrer em núcleos  Pacientes com diabetes devem ter um
da base, tálamo, cerebelo e ponte. controle rigoroso de pressão arterial (com
Deve-se evitar hipo/hiperglicemia, tratando com IECA ou com os bloqueadores do receptor
insulina se glicemia > 180 mg/dl. da angiotensina) e lipídios (alvo de LDL < 70
mg/dl). A glicemia deve ser normal ou
Evitar a hipo/hipertermia. próxima do normal (alvo de hemoglobina
glicosada < ou = 7%).
Prevenção para TEP/TVP e úlceras de decúbito
com meias de compressão pneumática Lipídios:
intermitente e mobilização precoce.
 Utilizar estatina em pacientes com AVCi
Não são usados antiepilépticos profiláticos. com hipercolesterolemia (alvo LDL < 100
Em pacientes com monitorização da pressão mg/dl). Em pacientes com alto risco
intracraniana, a pressão de perfusão cerebral deve vascular, o alvo é de LDL < 70 mg/dl.
ser mantida acima de 70 mmHg.  Pacientes com AVCi de origem
presumivelmente aterotrombótica devem
Após drenagem cirúrgica, a PAM não deve ficar usar estatina, mesmo que apresentem o
acima de 110 mmHg. colesterol normal.
Fibrilação atrial:
Deve-se dar suporte clínico ao paciente e fazer  Iniciar profilaxia com anticoagulação oral
tratamento das complicações neurológicas com ajuste da dose de warfarina (INR
(ressangramento, vasoespasmo, hidrocefalia, entre 2-3 – alvo 2,5). Depois de AIT ou
convulsões). AVC menor, a anticoagulaçao pode ser
Tratamento do aneurismo propriamente dito iniciada imediatamente. Casos moderados
(neurocirúrgico x vascular): A escolha do método podem ser iniciados em 5 a 7 dias e, quando
terapêutico depende de: estado clínico do paciente, a área infartada é extensa, o tempo
a localização e características anatômicas do mínimo para o início da anticoagulação pós-
aneurisma roto, a experiência do médico AVC é de algumas semanas (2 semanas).
assistente. Recomenda-se o tratamento precoce  Em pacientes com contraindicação social à
do aneurisma roto, a fim de se prevenir anticoagulação oral, a profilaxia deve ser
ressangramento e facilitar, posteriormente, o feita com AAS 100 mg + clopidogrel 75
tratamento de uma eventual situação de mg/dia. Em pacientes com contraindicação
vasoespasmo. à anticoagulação oral, devido a um maior
risco de sangramento cerebral, é
recomendado AAS (300mg/dia).
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Pontos importantes
Anamnese, exame fisico, glicemia, saturação de
oxigênio, TC crânio são suficientes para definir a
terapêutica -> Não tem motivos para postergar.

O tratamento do AVCi objetiva salvar a área de


penumbra, enquanto houver tecido viável, há
perspectiva terapêutica -> “tempo é cérebro”.

O controle pressórico na fase aguda já tem valores


bem determinados para cada perfil de paciente.
Não menospreze os alvos da PA!

Exames de imagem vêm permitindo


progressivamente determinar áreas de penumbra
passíveis de tratamento mesmo que fora da janela
trombolítica.

Uma TC de crânio normal nas primeiras 24-48


horas do evento não afasta AVCi. O objetivo
principal do exame é afastar sangramento.

A trombólise intra-arterial é uma terapia


promissora, principalmente nos casos em que há
contraindicação à trombólise intra-venosa.

Nem todo AVE é de origem aterosclerótica, fique


atento a qualquer redução da perfusão cerebral
como vasoespasmos, hiperviscosidades, trombos
inflamatórios e tromboses de seios venosos.

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