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Autor correspondente:
Ana Luís Correia de Sampaio Viana, analuisviana@gmail.com
Rua D. Aleixo Corte Real nº5, 6º esquerdo, 1800-166 Lisboa
Recebido: 11/04/2017; Aceite: 21/04/2017
crivo. Na HD o sangue e o dialisante fluem em fluxo “Os doentes portadores de vírus da imunodeficiência
contra-corrente de forma a optimizar o gradiente de humana (VIH) podem ser dialisados em unidades de
concentração.1 diálise periféricas de cuidados diferenciados, excepto
se apresentarem infecções de elevado grau de conta-
Caracterização de doentes giosidade e risco epidemiológico.”
com insuficiência renal crónica Medicação em hemodiálise
em hemodiálise Após a entrada em vigor do novo sistema de reem-
Os doentes em HD encontram-se, maioritariamente, bolso, designado “preço compreensivo”, as clínicas
acima dos 60 anos de idade, sendo consequentemente de hemodiálise requisitaram junto do INFARMED
doentes polimedicados e com outras comorbilidades licença para aquisição directa de alguns medicamen-
associadas, tais como hipertensão arterial (HTA), tos. Esta medicação inclui, a medicação intradialítica
diabetes e obstrução urinária que são normalmente as necessária para realização do tratamento do doente,
causas da própria insuficiência renal crónica (IRC). a medicação de ambulatório dispensada aos doentes
Para além de um complexo plano terapêutico neces- em quantidade suficiente para um mês e a medicação
sitam de um regime alimentar restrito com controlo de urgência.5
de ingestão hídrica. A medicação dispensada é a necessária para o tra-
São doentes geralmente desmotivados e com uma fra- tamento dos quatro problemas de saúde associados
ca taxa de adesão à terapêutica assim como um eleva- à IRC, em específico para a doença mineral óssea
do número de problemas relacionados com medica- (DMO), anemia, HTA e infecção dos acessos vascu-
mentos (PRMs) detectados. lares.
Numa amostra de 541 doentes a percentagem de A heparina é utilizada no circuito extracorporal
doentes acima dos 60 anos é de 71%, sendo que 61% como anticoagulante. Normalmente é administrada
são do sexo masculino. A percentagem de doentes numa dose inicial intravenosa de 2500 a 5000 unida-
40 com etiologia de HTA é de 25%, de diabetes é de 24% des/hora (ou 50 unidades por quilo de peso corporal)
e 51 % de doentes apresentam outras causas como seguida de uma perfusão contínua de 1000 a 1500 uni-
factor causador da IRC.3 dades/hora, suspendendo a perfusão 15 a 60 minutos
antes do final do tratamento. A sua monitorização é
Medidas gerais de controlo feita pelo tempo de coagulação total ou pelo tempo
de infecção de tromboplastina parcial. No caso de hipersensibili-
A prática deste tratamento nas unidades de HD, segue dade à heparina pode ser utilizado alternativamente
as linhas orientadoras do Manual das Boas Práticas de o citrato e em caso de hemorragia pode ser adminis-
Diálise, Portaria nº 347/2013, de 28 de Novembro,4 que trado como antídoto solução intravenosa de sulfato
apesar de não serem de carácter vinculativo e obriga- de protamina a 1%.1
tório fornecem algumas recomendações que permitem Para tratamento da DMO são utilizados captadores de
o aumento da qualidade e segurança dos tratamentos. fósforo (carbonato de sevelâmero, carbonato de cálcio,
Algumas destas orientações dizem respeito às medi- hidróxido de alumínio, oxihidróxido sucroférrico, ace-
das gerais de controlo de infecção as quais se cum- tato de cálcio, acetato de cálcio + carbonato de magné-
prem efectivamente nas unidades de diálise. sio), cinacalcet e a vitamina D (alfacalcidol).
Assim, doentes portadores do vírus hepatite B (HBV), Para tratamento da anemia é utilizada a epoetina, o
com ou sem hepatite, efectuam o seu tratamento em óxido férrico sacarosado e o ácido fólico.
unidade isolada (UI) e de uso exclusivo para este gru- Para o tratamento da infecção do acesso vascular são
po de doentes. “O pessoal destacado para a UI não autorizados alguns antibióticos e antipiréticos.
deve, durante o seu período de destacamento, deslo- É ainda dispensada medicação em regime de ambu-
car-se a outras unidades, excepto em casos excepcio- latório para tratamento da HTA assim como para
nais como situações de urgência, caso em que deverá tratamento da hipercaliémia (polistireno de sódio e
adoptar os meios de protecção adequados.” polistireno de cálcio) e vitaminas (complexo B).
Para doentes com vírus hepatite C (HCV), recomen- A medicação de urgência é a que está preconizada
da-se que haja monitores de diálise específicos que de acordo com a legislação em vigor e inclui antipi-
podem ser utilizados em doentes negativos, sempre réticos parentéricos, hipotensores de urgência, cor-
que sejam cumpridas as normas de desinfecção e lim- ticosteróides parentéricos, broncodilatadores paren-
peza interna e externa dos mesmos. téricos, anti-arrítmicos parentéricos, antieméticos,
consumo real (solicitação da medicação mensal pelo com doenças crónicas ronda os 50%, sendo que esta
próprio doente) versus consumo esperado (em função percentagem diminui significativamente quando se
da prescrição médica), ou de forma directa, junto do reporta aos países em desenvolvimento. A escassez de
próprio doente, através da interacção estabelecida recursos e as desigualdades sociais no acesso aos cui-
farmacêutico-doente. dados de saúde transformam a não adesão num proble-
A educação para a saúde está constantemente presen- ma de grande magnitude, em determinados países”.11
te em todas as intervenções clínicas do FHD, consis- A quantidade de artigos é vasta no que diz respeito à
tindo numa prestação de esclarecimentos ao doente, má utilização dos medicamentos por parte dos doen-
cuidador ou lar relativamente aos medicamentos ins- tes. Seja por informação medicamentosa incorrecta
tituídos na sua terapêutica, de forma personalizada a que origina erros de medicação, seja por falta de ade-
cada indivíduo. são à terapêutica.
Todas as intervenções clínicas do FHD são realizadas Estas situações aumentam potencialmente em vir-
num contexto de equipa multidisciplinar havendo tude das características individuais de cada doente,
uma estrita articulação com o nefrologista respon- porém sabe-se que o doente em HD apresenta uma
sável de cada doente IRC e um apoio na decisão da predisposição acrescida para estas ocorrências.
prescrição farmacoterapêutica ao doente. É necessário, cada vez mais, as várias classes profis-
É ainda considerada uma actividade clínica do FHD sionais de saúde trabalharem em sintonia por forma
a participação em reuniões de cuidados integrados, a poupar esforços e a aumentar a produtividade e al-
reuniões clínicas, comissões multidisciplinares e cance do objectivo principal que é o doente.
reuniões do sistema de qualidade. Nestas, colabora O papel do farmacêutico é preponderante na reso-
efectuando consultadoria sobre os medicamentos de lução deste problema de saúde pública sentido por
uso humano sujeitos e não sujeitos a receita médica e todo o mundo.
sobre os dispositivos médicos, realiza avaliações do Em Portugal, a modalidade de pagamento instituí-
42 binómio custo-benefício dos medicamentos, acompa- da designada por preço compreensivo em HD, surge
nha a evolução do consumo mensal, trimestral e anual como uma oportunidade para o farmacêutico se en-
dos medicamentos de cada clínica em particular, e volver na gestão da medicação do doente IRC, não só
em geral por comparação à média de todas as clínicas técnica, mas também clinicamente.
que constituem a empresa a nível nacional. Ressalve- O trabalho desenvolvido pelos primeiros FHD já se
-se as reuniões de cuidados integrados constituídas faz sentir e é reconhecido cada vez mais pelos outros
por uma equipa multidisciplinar que inclui para além profissionais de saúde, nefrologistas e enfermeiros, que
dos nefrologistas e enfermeiros, um nutricionista, desconheciam as suas capacidades e competências.
um assistente social e o FHD, trabalhando todos em É cada vez mais reconhecida que a formação em far-
sintonia cada um dando o seu melhor contributo em macoeconomia permite uma intervenção na poupan-
prol do doente IRC. (https://vimeo.com/diaverum/ ça efectiva em termos de custo global dos medica-
review/193536941/387869d9c4). mentos, pelo que o FHD será sempre uma boa aposta
no domínio desta área.
Propostas de melhoria O FHD é ainda um profissional apto para realização
Vários estudos revelam o impacto da morbilidade, de formações a outros profissionais de saúde, no-
mortalidade e custos económicos associados à má meadamente, de farmacovigilância, medicamentos
utilização dos medicamentos. dialisáveis, precauções na administração e acondicio-
“Baena, durante o ano de 2000/2001, estudou a preva- namento de novos medicamentos na clínica. A reali-
lência de resultados negativos associados à medicação zação de palestras e “workshops” direccionadas não só
(RNM) na urgência do Hospital Universitário Virgen aos doentes, como também aos seus cuidadores e o
de las Nieves, em Granada. Foram entrevistados 2556 envolvimento dos familiares dos doentes é também
doentes. A prevalência de RNM foi de 33,17% (IC de um factor relevante na promoção do uso racional do
95%), dos quais 73,13% foram considerados evitáveis. medicamento e aumento da adesão à terapêutica.
O custo total dos RNM considerados evitáveis aten- Existe, no entanto, uma lacuna sentida por todos os
didos no mesmo hospital com referência ao ano de FHD que, querendo cumprir com a regulamentação
2001 foi de quase 12 milhões de euros.”9 instituída, têm de adaptar a sua realidade à farmácia
“Segundo a literatura 10 a 70% das histórias medica- hospitalar, que é aquela que mais se assemelha à da
mentosas têm pelo menos um erro”.10 HD.
“Nos países desenvolvidos, a adesão entre os doentes Porém, a HD, é uma área muito específica e que
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.
Suporte financeiro
O presente trabalho não foi suportado por nenhum
subsídio ou bolsa.
Nota
Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o
novo Acordo Ortográfico.