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OPINIÃO E DEBATE

Hemodiálise e o Papel do Farmacêutico


The Role of the Pharmacist in Hemodialysis
Ana Luís Correia de Sampaio Viana1

1. Diaverum, Lisboa, Portugal

Autor correspondente:
Ana Luís Correia de Sampaio Viana, analuisviana@gmail.com
Rua D. Aleixo Corte Real nº5, 6º esquerdo, 1800-166 Lisboa
Recebido: 11/04/2017; Aceite: 21/04/2017

Palavras–Chave: Diálise Renal; Farmacêuticos; Insuficiência Renal Crónica; Papel Profissional

Keywords: Pharmacists; Professional Role; Renal Dialysis; Renal Insufficiency, Chronic

Princípios da hemodiálise sões. Nas clínicas privadas realiza-se HI em curtos


A hemodiálise (HD) é a terapêutica de substituição períodos de tempo mas suficientemente longos para
renal mais frequente a nível mundial e define-se como uma clearance de solutos adequada para prevenir a
um processo de transferência de solutos e solventes uremia.2
entre o sangue do doente e uma solução electrolítica A HD utiliza mecanismos de difusão simples, ultra- 39
de constituição conhecida – a solução dialisante – al- -filtração e convecção, através de uma membrana se-
terando, desta forma, a composição sanguínea. A so- mipermeável.
lução dialisante é composta por uma solução acídica O princípio da difusão é o mais utilizado. Caracteri-
e outra de bicarbonato de sódio, podendo esta última za-se pelo movimento de moléculas de um local onde
ser substituída por um dispensador do bicarbonato a concentração de solutos é mais elevada para um lo-
em pó.1 cal de menor concentração dos mesmos, até que esta
Uma vez atingido o estadio 5 da doença renal crónica concentração seja igualada, derivado de um gradiente
(DRC), no qual o rim perde cerca de 85 a 90% da sua de concentrações. Na HD existe uma solução fisioló-
capacidade de filtração, é praticamente certa a neces- gica designada por dialisante que possui alguns so-
sidade de realização de HD. lutos essenciais em detrimento dos produtos do me-
O seu objectivo é a remoção do líquido em excesso, tabolismo como a ureia e a creatinina presentes no
correcção dos desequilíbrios electrolíticos e ácido- sangue do doente. Assim, através do mecanismo de
-base e a remoção dos produtos de degradação tó- difusão haverá passagem dos solutos para o sangue
xicos para o doente (toxinas urémicas como uréia, e dos produtos do metabolismo para a solução dia-
guanidinas, ácido guanidinosuccínico, sulfato de ino- lisante.1
xidil, miosinositol, β-2-microglobulina, aminas alifá- A ultrafiltração ocorre quando a água é forçada a
ticas e poliaminas).1 passar através de uma membrana pela acção de uma
A HD pode ser intermitente (HI) ou contínua (HC). força osmótica ou hidrostática. As máquinas de HD
Os princípios base da HC são os mesmos da HI, po- actuais, geram pressão negativa do lado do dialisan-
rém, tal como o nome indica, procura-se realizar um te para se obter a ultrafiltração desejada. A pressão
tratamento lento e contínuo. Enquanto na HI se rea- hidrostática positiva do sangue depende de factores
lizam sessões com uma duração média de 4 a 5 horas, tais como o acesso vascular, a velocidade da bomba
geralmente na HC as sessões duram 24 horas, com de sangue e o tipo de dispositivo usado para o acesso
uma frequência de 2 a 3 vezes por semana. A HC é vascular.1
o tratamento de eleição nas unidades de cuidados A convecção é a remoção de solutos de baixo peso
intensivos e permite remover maiores quantidades molecular por arrasto da água onde estas moléculas
de fluido, oferecendo também uma vantagem signi- se encontram dissolvidas. Para solutos de peso mo-
ficativa na remoção de moléculas de grandes dimen- lecular mais elevado a membrana funciona como um

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crivo. Na HD o sangue e o dialisante fluem em fluxo “Os doentes portadores de vírus da imunodeficiência
contra-corrente de forma a optimizar o gradiente de humana (VIH) podem ser dialisados em unidades de
concentração.1 diálise periféricas de cuidados diferenciados, excepto
se apresentarem infecções de elevado grau de conta-
Caracterização de doentes giosidade e risco epidemiológico.”
com insuficiência renal crónica Medicação em hemodiálise
em hemodiálise Após a entrada em vigor do novo sistema de reem-
Os doentes em HD encontram-se, maioritariamente, bolso, designado “preço compreensivo”, as clínicas
acima dos 60 anos de idade, sendo consequentemente de hemodiálise requisitaram junto do INFARMED
doentes polimedicados e com outras comorbilidades licença para aquisição directa de alguns medicamen-
associadas, tais como hipertensão arterial (HTA), tos. Esta medicação inclui, a medicação intradialítica
diabetes e obstrução urinária que são normalmente as necessária para realização do tratamento do doente,
causas da própria insuficiência renal crónica (IRC). a medicação de ambulatório dispensada aos doentes
Para além de um complexo plano terapêutico neces- em quantidade suficiente para um mês e a medicação
sitam de um regime alimentar restrito com controlo de urgência.5
de ingestão hídrica. A medicação dispensada é a necessária para o tra-
São doentes geralmente desmotivados e com uma fra- tamento dos quatro problemas de saúde associados
ca taxa de adesão à terapêutica assim como um eleva- à IRC, em específico para a doença mineral óssea
do número de problemas relacionados com medica- (DMO), anemia, HTA e infecção dos acessos vascu-
mentos (PRMs) detectados. lares.
Numa amostra de 541 doentes a percentagem de A heparina é utilizada no circuito extracorporal
doentes acima dos 60 anos é de 71%, sendo que 61% como anticoagulante. Normalmente é administrada
são do sexo masculino. A percentagem de doentes numa dose inicial intravenosa de 2500 a 5000 unida-
40 com etiologia de HTA é de 25%, de diabetes é de 24% des/hora (ou 50 unidades por quilo de peso corporal)
e 51 % de doentes apresentam outras causas como seguida de uma perfusão contínua de 1000 a 1500 uni-
factor causador da IRC.3 dades/hora, suspendendo a perfusão 15 a 60 minutos
antes do final do tratamento. A sua monitorização é
Medidas gerais de controlo feita pelo tempo de coagulação total ou pelo tempo
de infecção de tromboplastina parcial. No caso de hipersensibili-
A prática deste tratamento nas unidades de HD, segue dade à heparina pode ser utilizado alternativamente
as linhas orientadoras do Manual das Boas Práticas de o citrato e em caso de hemorragia pode ser adminis-
Diálise, Portaria nº 347/2013, de 28 de Novembro,4 que trado como antídoto solução intravenosa de sulfato
apesar de não serem de carácter vinculativo e obriga- de protamina a 1%.1
tório fornecem algumas recomendações que permitem Para tratamento da DMO são utilizados captadores de
o aumento da qualidade e segurança dos tratamentos. fósforo (carbonato de sevelâmero, carbonato de cálcio,
Algumas destas orientações dizem respeito às medi- hidróxido de alumínio, oxihidróxido sucroférrico, ace-
das gerais de controlo de infecção as quais se cum- tato de cálcio, acetato de cálcio + carbonato de magné-
prem efectivamente nas unidades de diálise. sio), cinacalcet e a vitamina D (alfacalcidol).
Assim, doentes portadores do vírus hepatite B (HBV), Para tratamento da anemia é utilizada a epoetina, o
com ou sem hepatite, efectuam o seu tratamento em óxido férrico sacarosado e o ácido fólico.
unidade isolada (UI) e de uso exclusivo para este gru- Para o tratamento da infecção do acesso vascular são
po de doentes. “O pessoal destacado para a UI não autorizados alguns antibióticos e antipiréticos.
deve, durante o seu período de destacamento, deslo- É ainda dispensada medicação em regime de ambu-
car-se a outras unidades, excepto em casos excepcio- latório para tratamento da HTA assim como para
nais como situações de urgência, caso em que deverá tratamento da hipercaliémia (polistireno de sódio e
adoptar os meios de protecção adequados.” polistireno de cálcio) e vitaminas (complexo B).
Para doentes com vírus hepatite C (HCV), recomen- A medicação de urgência é a que está preconizada
da-se que haja monitores de diálise específicos que de acordo com a legislação em vigor e inclui antipi-
podem ser utilizados em doentes negativos, sempre réticos parentéricos, hipotensores de urgência, cor-
que sejam cumpridas as normas de desinfecção e lim- ticosteróides parentéricos, broncodilatadores paren-
peza interna e externa dos mesmos. téricos, anti-arrítmicos parentéricos, antieméticos,

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analgésicos, anticonvulsivantes, anti-espasmódicos com o objectivo concreto de melhorar a qualidade de


da musculatura lisa parentéricos, anti-histamínicos vida do doente através da promoção do uso racional,
parentéricos, protectores gástricos, anticoagulantes, efectivo e seguro dos medicamentos. Utiliza métodos
antídotos, entre outros. inspirados no Dáder entre outros.8
Na dispensação clínica de medicamentos, o FHD
O farmacêutico de hemodiálise acompanha, vigia e controla a preparação e distri-
As funções do farmacêutico de hemodiálise (FHD) buição da medicação prescrita disponibilizando-a
incluem funções técnicas nas quais o farmacêutico em condições clínicas ao doente, ao seu cuidador ou
garante todos os requisitos técnicos e legais do cir- ao lar e, adicionalmente, prestando informação para
cuito do medicamento e funções clínicas onde de- promover a sua correcta utilização.
sempenha intervenções centradas no doente, assim Na reconciliação da medicação (RM), o FHD faz
como prestação de informação relacionada com os a comparação entre a medicação de ambulat ório
medicamentos à equipa multidisciplinar. prescrita pelo nefrologista na clínica de HD com a
As funções técnicas incluem toda a logística associa- medicação prescrita por outros médicos exteriores à
da ao circuito do medicamento desde a sua entrada clínica. As alterações de prescrição ocorrem maiorita-
nas clínicas até a sua dispensa para as salas de diálise riamente nos esquemas terapêuticos de doentes após
(medicação intradialítica) e dispensa de ambulatório hospitalização, transferidos de outras unidades ou
aos doentes. que recorram a outras especialidades médicas. A RM
Para além disso, é da responsabilidade do FHD, contribui para manter a lista da medicação de cada
o cumprimento do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de doente actualizada, assegurando a continuidade te-
Janeiro6, referente ao circuito dos Medicamentos rapêutica no domicílio de forma racional, compatibi-
Psicotrópicos e da Lei nº 21/2014, de 16 de Abril,7 refe- lizando as alterações da medicação, prevenindo erros
rente ao circuito do Medicamento Experimental. relacionados com os medicamentos como duplicação
Apesar de hoje em dia o FHD ainda ser visto pelos ou- e interacções de medicação, e detecção de alergias e 41
tros profissionais de saúde como um “técnico logís- contra-indicações visto que, devido à condição da sua
tico do medicamento”, as suas competências clínicas doença, os doentes IRC apresentam uma vasta quan-
começam cada vez mais a fazer-se sentir em algumas tidade de medicamentos contra-indicados. A Norma
unidades privadas de HD. DGS nº 018/2016 de 30/12/2016 fundamenta a imple-
A inclusão deste profissional de saúde na equipa terá mentação do processo de RM, pelo que nas clínicas
como objectivo melhorar o processo de uso dos medi- de HD o FHD tem um papel preponderante sendo um
camentos e minimizar os resultados negativos associa- profissional qualificado e detentor de formação espe-
dos aos mesmos, como reacções adversas, doses sub- cífica no âmbito deste processo.
-terapêuticas, toxicidade, interacções, entre outras, Na validação farmacoterapêutica das prescrições mé-
contribuindo para o uso racional do medicamento. dicas, o farmacêutico confirma as prescrições médi-
As intervenções clínicas do FHD, designadas por Cui- cas avaliando todos os seus componentes tais como,
dados Farmacêuticos em HD, incluem o seguimento medicamento, dose, forma farmacêutica, frequência,
farmacoterapêutico, dispensação clínica de medica- via de administração, horário das tomas com as carac-
mentos, reconciliação terapêutica, validação farma- terísticas do medicamento e objectivo terapêutico,
coterapêutica das prescrições médicas, farmacovigi- interacções entre medicamentos e contra-indicações.
lância e promoção da adesão à terapêutica, sempre Na farmacovigilância, o FHD tem um papel activo na
acompanhadas de educação para a saúde ao doente detecção, registo e notificação das suspeitas de reac-
e apoio na decisão da prescrição farmacoterapêutica. ções adversas dos medicamentos prescritos para os
No seguimento farmacoterapêutico, o FHD, através seus doentes IRC, quer nos que são gratuitamente dis-
da interação com o doente IRC e cooperando com o pensados pelas clínicas de HD, quer nos que o doente
nefrologista e outros profissionais de saúde, faz um adquire na farmácia comunitária ou hospitalar.
acompanhamento da sua terapêutica interligando- Na promoção da adesão à terapêutica, o FHD avalia
-a com a sintomatologia referida e auxiliando-o por a necessidade de intervenção educacional e compor-
forma a obter o máximo benefício da sua medicação. tamental para combater as barreiras sentidas pelo
É realizado através de uma monitorização e avaliação doente IRC no cumprimento da sua medicação. Para
contínua da farmacoterapia do doente e permite a isso, utiliza como ferramenta a monitorização da
detecção de PRMs assim como a prevenção e reso- adesão a cada um dos medicamentos prescritos de
lução dos resultados negativos da medicação (RNM) forma indirecta, através da análise de adequação do

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consumo real (solicitação da medicação mensal pelo com doenças crónicas ronda os 50%, sendo que esta
próprio doente) versus consumo esperado (em função percentagem diminui significativamente quando se
da prescrição médica), ou de forma directa, junto do reporta aos países em desenvolvimento. A escassez de
próprio doente, através da interacção estabelecida recursos e as desigualdades sociais no acesso aos cui-
farmacêutico-doente. dados de saúde transformam a não adesão num proble-
A educação para a saúde está constantemente presen- ma de grande magnitude, em determinados países”.11
te em todas as intervenções clínicas do FHD, consis- A quantidade de artigos é vasta no que diz respeito à
tindo numa prestação de esclarecimentos ao doente, má utilização dos medicamentos por parte dos doen-
cuidador ou lar relativamente aos medicamentos ins- tes. Seja por informação medicamentosa incorrecta
tituídos na sua terapêutica, de forma personalizada a que origina erros de medicação, seja por falta de ade-
cada indivíduo. são à terapêutica.
Todas as intervenções clínicas do FHD são realizadas Estas situações aumentam potencialmente em vir-
num contexto de equipa multidisciplinar havendo tude das características individuais de cada doente,
uma estrita articulação com o nefrologista respon- porém sabe-se que o doente em HD apresenta uma
sável de cada doente IRC e um apoio na decisão da predisposição acrescida para estas ocorrências.
prescrição farmacoterapêutica ao doente. É necessário, cada vez mais, as várias classes profis-
É ainda considerada uma actividade clínica do FHD sionais de saúde trabalharem em sintonia por forma
a participação em reuniões de cuidados integrados, a poupar esforços e a aumentar a produtividade e al-
reuniões clínicas, comissões multidisciplinares e cance do objectivo principal que é o doente.
reuniões do sistema de qualidade. Nestas, colabora O papel do farmacêutico é preponderante na reso-
efectuando consultadoria sobre os medicamentos de lução deste problema de saúde pública sentido por
uso humano sujeitos e não sujeitos a receita médica e todo o mundo.
sobre os dispositivos médicos, realiza avaliações do Em Portugal, a modalidade de pagamento instituí-
42 binómio custo-benefício dos medicamentos, acompa- da designada por preço compreensivo em HD, surge
nha a evolução do consumo mensal, trimestral e anual como uma oportunidade para o farmacêutico se en-
dos medicamentos de cada clínica em particular, e volver na gestão da medicação do doente IRC, não só
em geral por comparação à média de todas as clínicas técnica, mas também clinicamente.
que constituem a empresa a nível nacional. Ressalve- O trabalho desenvolvido pelos primeiros FHD já se
-se as reuniões de cuidados integrados constituídas faz sentir e é reconhecido cada vez mais pelos outros
por uma equipa multidisciplinar que inclui para além profissionais de saúde, nefrologistas e enfermeiros, que
dos nefrologistas e enfermeiros, um nutricionista, desconheciam as suas capacidades e competências.
um assistente social e o FHD, trabalhando todos em É cada vez mais reconhecida que a formação em far-
sintonia cada um dando o seu melhor contributo em macoeconomia permite uma intervenção na poupan-
prol do doente IRC. (https://vimeo.com/diaverum/ ça efectiva em termos de custo global dos medica-
review/193536941/387869d9c4). mentos, pelo que o FHD será sempre uma boa aposta
no domínio desta área.
Propostas de melhoria O FHD é ainda um profissional apto para realização
Vários estudos revelam o impacto da morbilidade, de formações a outros profissionais de saúde, no-
mortalidade e custos económicos associados à má meadamente, de farmacovigilância, medicamentos
utilização dos medicamentos. dialisáveis, precauções na administração e acondicio-
“Baena, durante o ano de 2000/2001, estudou a preva- namento de novos medicamentos na clínica. A reali-
lência de resultados negativos associados à medicação zação de palestras e “workshops” direccionadas não só
(RNM) na urgência do Hospital Universitário Virgen aos doentes, como também aos seus cuidadores e o
de las Nieves, em Granada. Foram entrevistados 2556 envolvimento dos familiares dos doentes é também
doentes. A prevalência de RNM foi de 33,17% (IC de um factor relevante na promoção do uso racional do
95%), dos quais 73,13% foram considerados evitáveis. medicamento e aumento da adesão à terapêutica.
O custo total dos RNM considerados evitáveis aten- Existe, no entanto, uma lacuna sentida por todos os
didos no mesmo hospital com referência ao ano de FHD que, querendo cumprir com a regulamentação
2001 foi de quase 12 milhões de euros.”9 instituída, têm de adaptar a sua realidade à farmácia
“Segundo a literatura 10 a 70% das histórias medica- hospitalar, que é aquela que mais se assemelha à da
mentosas têm pelo menos um erro”.10 HD.
“Nos países desenvolvidos, a adesão entre os doentes Porém, a HD, é uma área muito específica e que

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deveria ser legislada de forma independente e adapta-


da. Torna-se assim, imprescindível a criação de uma
Referências
1. Gomes A, editor. Manual de Diálise para Enfermeiros: Coimbra:
ordem específica para o FHD, à semelhança das ou-
Edições Almedina; 2011.
tras áreas dentro das Ciências Farmacêuticas.
2. Jacobs C, editor. Optimal Treatment Strategies in end-stage
A criação da carreira do farmacêutico de hemodiálise,
renal failure. Oxford: Oxford University Press; 2002.
não só permitirá uma legislação adaptada e coerente à
3. Diaverum – Renal Services Group [consultado Jan 2017]
realidade da HD, como também valorizará e motivará
Disponível em: https://www.diaverum.com/
este profissional de saúde.
4. Ministério da Saúde. Portaria 347/2013, 28 Novembro. Manual
das Boas Práticas de Diálise
Conclusão e reflexões finais 5. Direcção-Geral da Saúde. Circular Normativa da DGS nº13/
A má utilização dos medicamentos é actualmente um
DQS/DGIDI de 20/08/09
problema de saúde de grande magnitude que provoca
6. Ministério da Justiça. Decreto de Lei nº 15/93 de 22 de Janeiro.
um aumento da morbilidade, da mortalidade e con-
Regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e
sequentemente resulta em maiores gastos em saúde.
psicotrópicos
As unidades de HD, ao incluir os farmacêuticos como
7. Decreto de Lei nº21/2014 de 16 de Abril. Aprova a lei da
membros integrais das equipas multidisciplinares,
investigação clínica
beneficiam de profissionais qualificados e detentores
8. Sabater D, Castro MM, Faus MJ. Método Dáder: Guía de
de formação específica no âmbito do medicamento.
Seguimento Farmacoterapêutico. 3ª ed. Granada: Grupo de
Os cuidados farmacêuticos centram-se essencialmen-
Investigación en Atención Farmacéutica, Universidad de
te no seguimento farmacoterapêutico, reconciliação
Granada; 2007.
da medicação, educação para a saúde e detecção e
9. Santos H e Iglésias P. Seguimento farmacoterapêutico.
resolução de PRMs que resultam num aumento da
Lisboa: Boletim do Centro de Informação do Medicamento,
adesão à medicação e numa melhoria dos resultados
Ordem dos Farmacêuticos; 2008
clínicos dos doentes. 43
10. Direcção-Geral da Saúde. Norma DGS nº018/2016 de
Com efeito, o papel do FHD promoverá um aumento
30/12/2016
da qualidade de vida, aumento da longevidade, dimi-
11. World Health Organization. The World Health Report 2003
nuição das taxas de hospitalização, diminuição de
– Shaping the future. Geneva: WHO; 2003
custos associados à não prevenção do uso racional do
medicamento e diminuição do impacto da doença no
seio familiar destes doentes.
A lacuna existente entre os cuidados relacionados
com a medicação dos doentes IRC é assim preenchi-
da pela inclusão do FHD nas equipas multidisciplina-
res destas Unidades.
Fica a sugestão da criação de uma área adaptada ao
FHD que permita legislar coerentemente o circuito
do medicamento em HD, tal como, formar e motivar
este profissional de saúde nas suas intervenções clí-
nicas.

Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.

Suporte financeiro
O presente trabalho não foi suportado por nenhum
subsídio ou bolsa.

Nota
Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o
novo Acordo Ortográfico.

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