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SUMÁBIO

Introdução 13

Unidade 1- Conceitos Gerais 15

Unidade 2- Avaliaço Pré clínica 17

Unidade 3- Suporte Básico de Vida (SBV) 21


Situações Clínicas de Emergências
Médicas em Odontologia 41

Unidade 4 - Alteração e Perda da Consciência 43

Unidade 5- Reações Alérgicas 51


Unidade 6 - Emergências Médicas Relacionadas
às Vias Aéreas 55
Obstrução das Vias Aéreas por Corpos
Estranhos (OVACE) 57
Unidade 7- Convuls£o 63

Unidade 8 - Alterações Cardiovasculares 67

Unidade 9 - Kit de Emergência 73

Referências Bibliográficas 75
INTRODUÇÃO
As emergências médicas podem ocorrer no consuitório odontológico sem nenhuma pre
visibilidade, no obedecendo regras ou padrões. Portanto, estas situações podem acon
tecer com qualquer indivíduo e em diferentes circunstâncias no ambiente odontológico
mesmo antes, durante ou após o atendimento odontológico. Neste contexto, deve-se
considerar que a emergência é um problema médico agudo, com risco imediato para a
vida ou a saúde do paciente se não for manejada com rapidez (Smereka et al., 2019).
Este tema talvez seja pouco valorizado em Odontologia devido à crença de que poucos epi
sódios de emergência médica realmente ocorram em consultórios odontológcos e que es
tas situações såo usualmente brandas quando acontecem. Entretanto, com a evolução da
Medicinaeo consequente aumento da expectativa de vida da populaço, o aumento do
consumo de medicamentos e suplementos, além de hábitos de vida nocivos, atualmente
a possibilidade do profissional atender um paciente com várias comorbidades, que reque
rem cuidados especiais (como cardiopatias, hipertensão arterial e diabetes), é muito maior.
Nestes casos, um simples procedimento que provoque dor ou estresse pode ocasionar uma
resposta endógena indesejável e osurgimento de uma emergência médica. utros fatores,
como uso de drogas ilícitas, risco de interações medicamentosas indesejáveis, e até mesmo
o abuso do tempo em procedimentos mais invasivos realizados em consultórios odontoló
gicos, podem contribuir para a ocorrência de situações de emergência médica.
Um estudo realizado nos Estados Unidos com 4.309 cirurgiões-dentistas por um periodo
de 10 anos revelou situações que variaram de um episódio mais simples (lipotímia) até
situações mais ameaçadoras, como paradas cardiacas e anafilaxias. No Brasil, poucos es
tudos relatam o grau de conhecimento e habilidades do cirurgião-dentista em emergên
cias médicas. Santose Rumel (2006) realizaram um estudo com dentistas do Estado de
Santa Catarina. Os autores observaram que os participantes reconheciam a importância
do tema, mas sentiam-se despreparados para lidar com uma situaço de emergência
médica. Neste estudo, as emergências relatadas com maior frequência foram lipotimia,
taquicardia, crise hipertensiva, reação ao anestésico local e hipoglicemia.
Arsati et al. (2010) avaliaram o conhecimento de 498 dentistas brasileiros e o seu preparo
para lidar com emergências médicas e realizar manobras de suporte básico de vida (SBV) e
ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Os autores constataram que cerca de 75% dos pro
fissionais não se sentiam capazes de lidar com situações graves, como anafilaxia, infarto
e acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, aproximadamente 60% dos profissionais
afirmou que não sabia realizar manobras de SBV e RCP. justificando essa falha pela falta
de atualização sobre o tema ou simplesmente pela falta de aprendizado durante o curso
de graduação.

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De Mauro et al. (2018) avaliaram o conhecimento teórico e a habilidade de 70 estudantes
de odontopediatria sobre SBV em crianças e bebês por meio de um questionário e de
simulação de manobras em manequins. Os resultados mostraram que 58% dos alunos
nunca recebeu treinamento em SBV e apenas 17,1% se sentia preparado para lidar com
uma emergência médica. Na avaliaço prática, 73% e 78% dos participantes não soube
ram realizar manobras de RCP para criançase bebês, respectivamente.
A Lei 5.081 de 24 de agosto de 1966, que regulamenta a prática odontológca no país,
afirma que os dentistas brasileros têm a responsabilidade de iniciar o manejo primário em
pacientes que desenvolvam complicações sistêmicas relacionadas ao tratamento odonto
lógico ou que ocorram durante sua realização, mas estima-se que este tema ainda não
seja contemplado em todos os cursos de graduaçoe de pós-graduação em Odontolo
gia no Brasil (Andrade, Ranali, 2011). Neste contexto, algumas mudanças ocorreram nas
últimas décadas, como a Resolução CFO-25/2002 do Conselho Federal de Odontologia
(combinada com a Resolução CFO-040/2003) que regulamentou a obrigatoriedade de
que a Disciplina de Emergências Médicas em Odontologia deva constar na área conexa
de todos os cursos de especialização. Infelizmente, esta importante medida não se aplica
aos cursos de graduação, e em algumas instituições de Ensino esta disciplina é esquecida
ou pouco explorada.
Adicionalmente, o artigo 135 do Código Penal Brasileiro define que: "deixar de prestar
sOcorro àvitima de acidentes ou pessoas em perigo eminente, podendo fazê-lo, é crime.
Ouseja, é crime de omisso de socorro deixar de prestar socorro a vítima, ainda mais
quando o socorrista é da área de saúde, tendo formação e capacitação para isso, mesmo
que não for causador do evento. Além de ser um crime omitir socorro, a situação pode
ainda se agravar quando se trata de relevância da omisso: No parágrafo 2 deste mesmo
artigo éassim descrito:"A emissão épenalmente relevante quando o omitente devia e
podia agir para evitar o resultado. Odever de agir recai a quem: (a) tenha por lei, obriga
ção de cuidado, proteço ou vigilância, (b) de outra forma aumiu a responsabilidade de
impedir o resultado; (c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado" (Caputo et al., 201 0).
Eimportante ressaltar que a atuaço do cirurgiäo-dentista é regulamentada pelo Código
de Etica Odontológico, em que os seus deveres e direitos fundamentais são atribuídos
para servirem de basee orientaço em diversos aspectos da vida profissional. Ofato é
que cirurgiðes-dentistas podem enfrentar problemas de ordem ética e legal caso ocorram
episódios de emergências em sua prática clínica.

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UNIDADE 1-CONCEITOS GERAIS
acontecimento
A palavra emergência (do latim emergentia) define uma situação crítica,
perigoso ou dificuldade súbita. Equase certo que todos os cirurgiões-dentistas jáestive
emergências
ram ao menos uma vez envolvidos com intercorrências classificadas como
odontológicos. É
médicas, antes, durante ou logo após a realização de procedimentos
importante ressaltar que o cirurgião-dentista pode e deve atuar com determinação, vi
sando a preservar a integridade fisica de seu paciente vitimado por uma condição que se
enquadre como emergência médica.
Como já mencionado anteriormente, a Lei 5.081 de 1966 que trata do exercício da profis
são aponta em seu Artigo 6- Inciso Vll que: "compete ao cirurgião-dentista prescrever e
aplicar medicação de urgência, no caso de acidentes graves que comprometam a vida ea
saúde do paciente." E evidente que, para usar "medicação de urgência" hánecessidade
de procedimentos invasivos para aplicá-los, como a realização de injeção intramuscular ou
endovenosa, poisa latência longa por via oral e o efeito de primeira passagem hepática
podem prejudicar a eficiência da droga.
Desta forma, também é importante que o cirurgião-dentista tenha conhecimento sobre
o Suporte Básico de Vida (SBV). Ressalta-se que as manobras de suporte básico de vida
foram mundialimente padronizadas para estarem ao alcance de qualquer pessoa, e que
hoje jáexistem desfibriladores automáticos externos (DEA) que podem ser usados de ma
neira simples e segura. Portanto, o cirurgião-dentista pode aplicar alguns medicamentos
de urgência, pode usar o desfibrilador, pode dispensar oxigênio e pode aplicar manobras
de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Pode, e considerando o âmbito legal, deve!
Os avanços tecnológicos que cada vez mais pemitem que se previname que se tratem
doenças variadas implicam também no aumento da expectativa de vida das pessoas. Há
estudos projetando que a pirâmide etáia do Brasil em 2050 tenha base estreita e ápice
largo. Assim, éesperado que cada vez mais tenhamos pessoas portadoras de comorbida
des sistêmicas (principalmente os mais idosos) como pacientes da rotina dos consultórios
odontológicos. Neste contexto, será tanto maior a possibilidade de incidência de emer
gências médicas quanto maior fora idade dos pacientes ou quanto maior foro número
de pacientes com sobrevida e compensação orgânica garantida pelos modernos recursos
terapêuticos da Medicina.
Desta forma, e considerando o panorama atual, é importante que os profissionais da área
odontológica considerem a possibilidade da ocorrência de situações de emergência médi
ca (algumas verdadeiramente ameaçadoras àvida) com a prática odontológica

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UNIDADE 2-AVALIAÇÃO PR-CLÍNICA
Aavaliação pré-clínica é fundamental para conhecer a identidade fisiopatológica do pa
ciente. Existem muitos profissionais que ainda realizam procedimentos enm pacientes que
apresentam distúrbios sistêmicos sem o devido conhecimento da condição que possuem,
sem análise dos riscos, sem a implementaç§o de medidas de compensação ou sem a
adoção de cuidados preventivos como a avaliação dos sinais vitais do paciente e controle
adequado de estresse, ansiedade e dor. Adicionalmente, e como abordado anteriormen
te, écada vez mais comum a presença de pacientes com comorbidades sistêmicas no
consultório odontológico, o que torna de extrema importância a adoção de cuidados
adicionais no atendimento odontológico destes pacientes.
Por mais que possa ser um assunto "repetitivo", nuncaédemais enfatizar a necessidade e
a importância da avaliação pré-clínica e todas as suas vertentes: anamnese, exame clinico,
solicitação de exames complementares, troca de informações com médicos, prescrição de
medicamentos, recomendações específicas, dentre outras.
Quando nos referimos àimportância da consulta não nos referimos simplesmente à con
sulta conduzida pelo profissional quanto àespecificidade das condições apresentadas pelo
paciente: doença periodontal, lesão perirradicular, dentre outras. Em cada especialidade,
a consulta éconduzida obedecendo a um raciocínio especifico: sondagem na Periodontia,
teste de sensibilidade na Endodontia, qualidade e quantidade de osso na Implantodontia,
e assim por diante. A consulta que aqui desejamos ressaltar tem outro enfoque. Trata-se
da consulta dirigida, satber se opaciente tem história de doenças na familia, se tem algum
tipo de alergia, se está usando medicamentos, se a doença crônica está controlada e pos
siveis häbitos, por exemplo. Neste contexto é importante conhecer a identidade biológica
do cliente eo histórico do processo saúde-doença que estão relacionados com aquelas
perguntas do prontuário que alguns julgam desnecessárias no atendimento. Todas estas
informações são críiticas para proteger aintegridade do paciente por ocasião do tratamen
to odontológico. Lembre-se: o assunto é emergências médicas. Nos pacientes de risco, a
anamnese dirigida é ESSENCIAL!
Aconsulta dirigida tem muitas etapas ecomeça com aavaliaço de sinais vitais. Éimpera
tivo aferir a pressão arterial e a frequência cardíaca do paciente. Alterações da normalida
de podem sinalizar inúmeras realidades e necessidades: avaliação médica, adiamento do
procedimento agendado, uso de medicamentos, substituiço do anestésico local, dentre
outros.Os valores aferidos também serão exigidos pela equipe hospitalar que atender um
paciente que estivera sob tratamento odontológico e que foi vitimado por uma emergên
cia médica.

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As Tabelas 1 e 2 apresentam os valores de referência para a classificação de pressåo
arterial (medição casual ou no consultório a partir de 18 anos de idade) e dimensões
adequadas do manguito. O profissional deve se atentar aos valores encontrados para
evitar resultados imprecisos. Se necessário, em casos de valores mais elevados,o paciente
deve ser encaminhado para avaliação médica. Jáem casos de emergências hipertensivas
(pressão sistólica acima de 200 mmHg com sinais e sintomas associados, por exemplo), o
profissional deve acionar o serviço médico de urgência.

Tabela 1 Classificação de Pressão Arterial (PA) de acordo com a medição casual ou no consultório a partir
de 18 anos de idade
Valores de referência
Classificação* PA Diastólica (mmHg)
PA Sistólica (mmHg)
PA Otima <120 <80
PA Normal 120-129 80-84
Pré-hipertensão 130-139 85-89

Hipertensäão estágio 1 140-159 90-99


160-179 100-109
Hipertensão estágio 2
Hipertensão estágio 3 > 180 2110
Hipotensão s90 s60
"Quando aPAS eaPAD stuam-se em categoras dferentes, aMAIOR deve ser utilizada para aciassficaçao da Pressäo
Arterial.
Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Artenial, 2020.

Tabela 2 Dimensões do manguito de acordo com a circunferência do membro.


Circunferência do Denominação do Largura do Comprimento da
braço (cm) manguito manguito (cm) bolsa (cm)
s6 Recém-nascido 6

6 a 15 Criança 5 15

16-21 Infantil 21
Adulto pequeno 10 24
22-26
13 30
27-34 Adulto
35-44 Adulto grande 16 38

45-52 Coxa 20 42

Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2020.

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As emergências mais prevalentes estão intimamente relacionadas à ausência de contro
le do medo e ansiedade e podem ser evitadas com cuidados preventivos relativamente
simples. Por exemplo, lipotímia e hiperventilação podem ser prevenidas com adequado
controle do estresse, seja por meio de técnicas de condicionamento, seja pelo uso de
medicamentos como os benzodiazepínicos ou pela sedaço inalatória. Estas e outras mo
dalidades de emergências são totalmente evitadas combinando-se controle de ansiedade
e anestesia local perfeita. O cirurgião-dentista deve sempre considerar que o paciente
não pode sentir dor, sobretudo quando se depara com a possibilidade de emergências
médicas. Ocontrole da dor intraoperatóriaé fundamental para evitar, por exemplo, epi
sódios de angina, crises de asma e ocorrência de infarto. Além disso, a seleção correta
eo uso de doses seguras das soluções anestésicas locais previnem outras modalidades
de emergências, como crises hipertensivas, reações alérgicas e acidentes vasculares. En
fim, esses assuntos (controle de ansiedade e anestesiologia) são próprios da Terapêutica
Medicamentosa, disciplina essencial para a maior segurança e conforto no atendimento
odontológico e que será abordada em outro módulo.

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Material Complementar
Acada semana deste módulo serão disponibilizadas referências bibliográficas
relacionadas aos principais temas abordados no período. Recomenda-se a leitura deste
material como fonte de consulta complementar ao material disponibilizado em cada etapa.

Referências bibliográficas desta semana (semana 1):

Lei n°5.081 de 24 de agosto de 1966.


Disponível em:
https://presepublicajustbrasit.com.br/egistacao/128600/ lei S081-66

Artigo: "Emergência médica na prática odontológica no Estado de Santa


Catarina: ocorrência, equipamentos e drogas, conhecimento e treinamento
dos cirurgiões-dentistas". Ciência &Saúde Coletiva, 11(1):183-190, 2006
Disponível em :htps/iww.scielo.br pdt ss vt in1/z29463.,pdt

Artigo: Arsati F, MontalliVA, Flório FM, Ramacciato JC, da Cunha FL, Cecanho
R, de Andrade ED, Motta RH. Brazilian dentists' attitudes about medical
emergencies during dental treatment. JDent Educ. 2010 Jun;74(6):661-6.
Link para download disponível em:

https://www.researchgate.net/publication/44643327_Brazilian_Dentistsk27 _Artitudes About_ Medical_Emergencies_During_Dental


TreatmentifullfextFileConternt

Artigo: "Knowing your patients." JAm Dent Assoc. 2010 May;141 Suppl 1:3s
7S. Disponível em:
https://jada.ada.org/action/showPdf?pi-s0002-8177%2814%29634723

Artigo: Incidence and characteristics of medical emergencies related to dental treatment:


a retrospective single-center study. Acute Med Surg. 2021 May 1;8(1):e651. Disponível
em: htps://onlineibrary. wiley.com/doi/epdt/10.1002/ams2.651

Artigo: Medical emergencies in dental practice: A nationwide web-based survey of Italian


dentists. Disponível em: https//ww.acbinim.aih govjpmcjaricdey/PMC1006528/padt/(main pdf

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