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INTRODUÇÃO
Este trabalho é uma extensão da dissertação de mestrado intitulada “A
trajetória do movimento de mulheres no noroeste do Curdistão: a institucionalização
do confederalismo democrático e da jineologî (1978-2018)”, que analisa o processo
de organização das mulheres curdas a partir de suas articulações nas estruturas
orgânicas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão e as transformações que
contribuem para o desenvolvimento da chamada revolução em Rojava (norte da
Síria) autodeclarada, de fato, em 2012.
As reflexões a respeito da Jineologî enquanto epistemologia crítica e suas
articulações com outros movimentos de mulheres do sul global, especialmente
aquelas da América-latina, serão desenvolvidas na investigação a ser desenvolvida
por uma das autoras deste trabalho. Dessa forma, tendo em vista que a pesquisa
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Assim como bell hooks e Patricia Hill Collins, que destacam a importância de
uma práxis crítica centrada na experiência das mulheres, propomos pensar a
Jineologî, enquanto proposta de ruptura epistêmica, em diálogo com as construções
teórico-metodológicas das autoras negras. Reconhecemos que se tratam de
contextos políticos e sociais radicalmente diferentes e que as autoras negras
centram seus esforços em comprovar a matriz de dominação (Collins 2019) racista
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que informa as hierarquias sociais no contexto norteamericano, algo que não ocorre
no Curdistão. Ainda que as políticas repressivas no Curdistão tenham como
parâmetro os marcadores sociais de caráter étnico, é importante estarmos atentas
as especificidades de cada contexto. Ainda assim, acreditamos que a valorização
das experiências apresentadas pela teoria do ponto de vista e o reconhecimento da
potência criativa das margens presentes nessas abordagens favorecem a
compreensão das narrativas e resistências advindas desde o Curdistão. Dessa
forma, para que compreender o lugar ocupado pelas mulheres dentro do Movimento
de Libertação Nacional torna-se relevante considerar sua trajetória de organização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo indicam que os estereótipos impostos pela ciência
positivista afetam as representações históricas e culturais das mulheres, o que
contribui para a manutenção das estruturas de poder. Em contraposição, a criação
de novas epistemologias, enquanto projetos críticos de reinterpretação coletiva do
conhecimento, apresentam-se como alternativa para a construção de políticas
emancipadoras. Assim como propõem Patricia Hill Collins e bell hooks a construção
de perspectivas com base nesses saberes marginalizados possibilita a construção
de novas formas de resistências e é justamente no contexto adverso e violento
vivido pelas mulheres curdas que Jineolgî se estabelece em busca da transformação
social, dentro e fora do PKK.
Percebe-se, também, que a academia ainda desconhece a potência de
transformação promovida pela luta das mulheres curdas. Ainda que seja um campo
de estudos crescente, explorado, principalmente, por pesquisadores/as da área das
Relações Internacionais e da Sociologia, o material bibliográfico ainda centra-se no
eixo Estados Unidos e Europa, havendo pouco material disponível na América
Latina. Pensando nisso e considerando as narrativas e resistências desenvolvidas
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NOTAS DE FIM
[1] - em referência a segunda grande divisão do Curdistão ocorrida a partir do fim da
Primeira Guerra Mundial com a formação da República da Turquia (1923). Para mais
informações sugerimos: Barkey, H. J. (2000). Turkey's Kurdish question. Rowman &
Littlefield Publishers.
REFERÊNCIAS
Akan, Sara (1992). Women in Kurdistan: a history of their struggle since the '70s. In:
Kurdish Woman: the struggle for national liberation and women's rights.
Interviews and articles. London: KSC-KIC Publications.
Cansiz, Sakine (2017). Toda mi vida fue una lucha. Tomo 1. Buenos Aires: América
Libre.
Dryaz, M. S. (2011). Women and nationalism: How women activists are changing the
Kurdish conflict. SOAS, University of London Website.
Özcan, Ali Kemal. Turkey's Kurds: A theoretical analysis of the PKK and Abdullah
Öcalan. Londres: Routledge, 2006.Kindle Version.
White, D. P. (2015). The PKK: Coming down from the Mountains. Zed Books.