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Cebola

Dose adequada
Nutriente crucial para se obter bons resultados na cultura da cebola, o fósforo deve ser
oferecido em quantidade economicamente viável, de modo a proporcionar ganhos em
produtividade e na pós-colheita, durante a fase de armazenamento dos bulbos
Fotos Geraldo Milanez de Resende

E
mbora o fósforo (P) seja mesmo aumentando o suprimento exigidas pelas culturas são em geral Cada vez mais os sistemas
acumulado em pequena a níveis adequados. O suprimento baixas, quando comparadas com o agrícolas buscam maior eficiência
quantidade pela planta adequado de P é, diferentemente nitrogênio e o potássio. No entanto, no uso dos recursos naturais dis-
de cebola, sua participação nos dos demais nutrientes, essencial apesar da menor exigência, os teores poníveis. O fósforo figura neste
processos de absorção iônica, fotos- desde os estádios iniciais de cresci- desse nutriente, bem como a velo- contexto como elemento essencial
síntese, respiração, sínteses, multi- mento da planta. cidade do seu restabelecimento na à produção agrícola, sendo, porém
plicação e diferenciação celular, e É reconhecidamente o nu- solução do solo, não são suficientes finito e insubstituível. O estímulo
herança, denota que é um nutriente triente-chave para a obtenção de para atender às necessidades das às boas práticas para o uso correto
com expressiva ação na formação da produtividade elevada. Tem sido culturas. Como consequência des- de fertilizantes passa das consequ-
produtividade e qualidade do bulbo. o macronutriente que mais fre- ses fatos, nas adubações, é o fósforo ências econômicas do manejo de
Desse modo, limitações na oferta quentemente limita a produção, o nutriente que entra em maiores nutrientes obtidos de fontes não
de P, no início do ciclo vegetativo, havendo aparente contradição entre proporções. Estima-se que a produ- renováveis, tendo foco mais amplo
podem resultar em restrições no a pequena exigência da cultura e a tividade das culturas é limitada pela na direção do desenvolvimento
desenvolvimento, das quais a planta resposta altamente positiva à aduba- sua deficiência entre 30% e 40% das sustentável. Isso considera que os
não se recupera posteriormente, ção fosfatada. As quantidades de P terras agricultáveis do mundo. nutrientes sejam escolhidos com

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No Brasil
N o Brasil, a cebola (Allium cepa) é considerada a terceira horta-
liça mais importante, perdendo para batata e tomate, sendo
consumida in natura em saladas ou como condimento. Dentre as várias
espécies cultivadas pertencentes ao gênero Allium é a mais importante
sob o ponto de vista de volume de consumo e de valor econômico. Em
2012, a produtividade média nacional se situou em torno de 24,7t/ha,
sendo que nos estados de Pernambuco e Bahia, maiores produtores
do Nordeste, alcançaram-se produtividades médias de 29t/ha e 20,4t/
ha, respectivamente.

apresentaram sinais avançados de o preço médio por kg de bulbo de


senescência, como amarelecimento cebola comercializado no Mercado
e seca das folhas e quando mais de do Produtor de Juazeiro no valor de
70% das plantas encontravam-se R$ 1,24 referente ao ano de 2012.
Desenvolvimento da cebola por ocasião da colheita
estaladas. A cura foi realizada ao sol O custo do kg de fósforo, cuja fonte
por três dias e 12 dias à sombra em foi o superfosfato triplo no mercado
a composição e combinação ade- 3,6m2 (3m x 1,2m), sendo utilizadas galpão ventilado. local, foi R$ 3,33 (por kg do ele-
quadas e que sejam aplicados na como a área útil as seis linhas cen- Foram avaliadas a produtivi- mento). Dessa maneira, a “moeda”
dose, época e locais corretos. Nesse trais, retirando-se 0,50m em cada dade comercial (bulbos perfeitos e utilizada nos cálculos, durante
contexto, um experimento foi reali- extremidade (1,80m2). A adubação com diâmetro transversal acima de todo o estudo, foi a própria cebola,
zado para avaliar os efeitos de doses de plantio constou da aplicação de 35mm) e não comercial de bulbos considerando-se a seguinte relação
de fósforo sobre a produtividade e 90kg/ha de K2O e 180kg/ha/ de N. (refugos) (com diâmetro inferior a de equivalência: kg de fósforo aplica-
o armazenamento pós-colheita de As adubações potássica e nitrogena- 35mm) expressa em t/ha, aos 15 do/kg de cebola comercializada igual
bulbos de cebola, calculando-se a da foram divididas em três parcela- dias após a cura, e a massa fresca de a R$ 3,33 : R$ 1,24 = 2,68.
dose economicamente viável e ade- mentos, sendo a primeira realizada bulbo (g/bulbo). A classificação de A dose econômica foi calculada
quada, nas condições do Submédio no plantio (1/3) e o restante (2/3) bulbos comerciais em porcentagem com base na derivada da equação
do Vale do São Francisco. em duas coberturas aos 25 e 50 dias segundo o diâmetro transversal de regressão entre a produção de
após transplantio. Como fonte de (mm) em Classe 2: maior que bulbos e as doses de fósforo aplica-
O experimento nitrogênio se utilizou a ureia, e de 35mm até 50mm de diâmetro e das, tornando-a igual à relação de
O experimento foi conduzido potássio, cloreto de potássio. Classe 3: maior que 50mm até troca, ou seja: dy/dx = a1 + 2a2x
no período de maio a novembro de O transplante das mudas ocor- 90mm. Após o período de cura, = relação de troca.
2011, no Campo Experimental de reu aos 30 dias após a semeadura os bulbos foram armazenados a Para a produtividade comercial
Bebedouro, Petrolina-PE (9º9’ S, em junho de 2011, e o preparo do temperatura ambiente e realizadas não se observaram diferenças entre a
40º29” W, 365,5m de altitude. O solo constou de aração, gradagem e pesagens aos 30 dias e 60 dias, sen- cultivar Franciscana IPA-10 (74,6t/
solo classificado Latossolo Vermelho levantamento dos canteiros a 0,20m do os valores comparados àqueles ha-1) e a Vale Ouro IPA-11 (76,1t/
Amarelo Distróferrico apresentou de altura. As irrigações foram feitas obtidos ao final da cura (15 dias ha), como também não verificaram-
pH (H2O) = 6,1; Ca = 20mmolc através de microaspersão, com turno após colheita), (temperaturas mé- se efeitos da interação com a adu-
dm-3; Mg = 7mmolc dm-3; Na = de dois dias e lâminas de água de dias no período de 27°C, mínima bação fosfatada (Tabela 1). Estes
0,1mmolc dm-3; K = 3,2mmolc 10mm-11mm, calculada em função de 21,5°C, máxima de 33,2°C e resultados são superiores à produ-
dm-3; Al = 0,00mmolc dm-3, P da evaporação do tanque classe A, umidade relativa de 57,7%). tividade média nacional (24,7t/ha),
(Mehlich) = 23,8mg dm-3 e M.O. e os tratos fitossanitários comuns à Também foi determinada a e as dos estados de Pernambuco
= 4,1g/kg e físicas (%): areia= 83; cultura da cebola. dose mais econômica de fósforo e Bahia, maiores produtores do
silte = 10 e argila = 7. A colheita foi realizada em se- para a produtividade de bulbos de Nordeste, com respectivos 29t/
Foram avaliadas cinco doses de tembro de 2011 quando as plantas cebola. Neste estudo, considerou-se ha e 20,4t/ha. Por meio de análise
fósforo (0; 60; 120; 180 e 240kg/ha)
e duas cultivares (Franciscana IPA-
10 e Vale Ouro IPA-11). As doses
de P referentes a cada tratamento
foram distribuídas e incorporadas
manualmente ao volume de solo de
cada unidade experimental, tendo
como fonte de P o superfosfato
triplo (45% de P2O5).
O canteiro constou de oito
linhas de 3m de comprimento, es-
paçadas de 0,15m, com 0,10m entre
plantas, perfazendo uma área total Produção das cultivares ValeOuro IPA -11 e Franciscana IPA-10 na ausência de fósforo

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bulbo). Quanto ao fósforo, maior
massa fresca de bulbos foi obtida na
dose de 131,3kg/ha de P2O5.
A conservação pós-colheita apre-
sentou resultados diferenciados de
doses de P e cultivares, em função
do período de armazenagem. Para
perda de massa (peso) não se cons-
tataram efeitos diferenciados para
cultivares e adubação aos 30 dias
após cura, ocorrendo para a cultivar
Franciscana IPA-10 perdas da ordem
de 12,1% e para a cultivar Vale Ouro
Produção das cultivares ValeOuro IPA-11 e Franciscana IPA-10 na dose de 60kg/ha de fósforo
IPA-11, 13,1%. Para doses se obteve
estatística verificou-se que a dose ser a dose mais adequada para as bulbos de maior tamanho. variação entre 10,1% e 13,1%. No
de 131,7kg/ ha de P2O5 promoveu condições avaliadas da ordem de Os resultados positivos da adu- que se refere à perda de massa fresca
maior produtividade comercial 129,6kg/ha de P2O5 (dose econômi- bação fosfatada alcançados no dos bulbos aos 60 dias após cura, a
(80t/ha), (máxima eficiência física ca). O que provavelmente é justifi- presente estudo devem-se ao seu menor perda foi observada para a
do insumo). cado pelas maiores produtividades papel funcional no metabolismo de cultivar Franciscana IPA-10 (27,2%)
A dose econômica de fósforo alcançadas no presente trabalho, desenvolvimento da cebola. O P é comparativamente à cultivar Vale
para maior produtividade comercial tendo em vista que a recomendação componente estrutural de macro- Ouro IPA-11 (31,9%). Para doses do
de bulbos de cebola (165,40 - 2,68)/ leva em consideração produtivida- moléculas, como ácidos nucleicos, adubo fosfatado houve variações en-
(2 x 0,628) = 162,72/1,256 = de de 40t/ha. Analisando-se pela fosfolipídeos, e adenosina trifosfato tre 27,4% e 30,9% não se detectando
129,6kg/ha de P2O5 foi definida recomendação para outros estados (ATP). Tem papel fundamental quaisquer efeitos favoráveis pelo uso
utilizando-se a equação de regressão como Minas Gerais para a cultura, na divisão celular, na reprodução da adubação fosfatada.
obtida pela análise estatística do estes valores seriam bem superiores, sexuada e faz parte da estrutura Para classificação de bulbos
estudo resultante para a adubação da ordem de 220kg/ha de P2O5, em química de compostos essenciais ao comerciais no que se refere à clas-
em questão. A receita prevista, função de ser o solo classificado metabolismo vegetal, e é essencial sificação de bulbos classe 2 que são
decorrente da adubação, pode ser como média oferta do nutriente. ao crescimento da parte aérea e bulbos de tamanho inferior (maior
determinada pelo aumento de Com referência à produtividade radicular das plantas. Assim, o nu- que 35mm até 50mm de diâme-
produção de bulbos = 10,9t/ha não comercial (refugos) a cultivar triente favorece o desenvolvimento tro), a cultivar Franciscana IPA-10
(produção de bulbos com a dose Vale Ouro IPA-11 com 0,75t/ha se do sistema radicular das hortaliças apresentou maior porcentagem de
mais econômica de P igual a 80t/ mostrou superior à cultivar Francis- aumentando a absorção de água bulbos (14%) em relação à cultivar
ha menos a produção na dose zero cana IPA-10 (0,56t/ha). Verificou-se e de nutrientes; melhorando a Vale Ouro IPA-11 (8%). Com re-
igual a 69,1t/ha). Subtraindo-se o com o aumento das doses do adubo qualidade e o rendimento dos pro- lação à classe 3 que são bulbos de
custo do adubo fosfatado, em quilo- fosfatado uma redução gradativa da dutos colhidos. Especificamente na maior calibre (maior que 50mm até
gramas de bulbo (129,6kg x 3,33 = produção de bulbos considerados cebola, se relaciona a precocidade, 90mm de diâmetro) os resultados
431,57/1,24 = 348kg/ha ou 0,348t/ não comerciais, sendo a menor pro- o maior diâmetro dos bulbos e a demonstraram maior proporção
ha), obteve-se uma receita de 10,5t/ dução estimada na dose de 124,1kg/ produtividade, favorece um amplo nessa classe para a cultivar Vale
ha de bulbos comerciais, ou seja, ha de P2O5. Estes resultados mos- desenvolvimento do sistema radicu- Ouro IPA-11 (92%) comparada à
uma receita líquida da ordem de R$ tram a capacidade de resposta lar, aumentando a absorção de água cultivar Franciscana IPA-10 (86%).
13.020,00 (10,5t/hax R$ 1,24). da cebola à aplicação de fósforo e e nutrientes. A obtenção de bulbos maiores, além
É importante destacar que a alicerça as afirmações de diferentes No que se refere à massa fresca de estar diretamente relacionada
produtividade obtida com a dose pesquisadores que informam que o de bulbo (peso do bulbo) a cultivar com o crescimento no rendimento,
econômica esteve muito próxima da elemento contribui marcadamente Franciscana (119,9g/bulbo) não também aumenta a lucratividade,
produtividade máxima física possí- para uma melhor produtividade da mostrou grande diferença da cul- pois bulbos com diâmetro inferior a
vel, com 98,4%, dessa forma, a apli- cultura, sobretudo, na produção de tivar Vale Ouro IPA-11 (121,1g/ 50mm apresentam menor valor de
cação da dose econômica permitiu
reduzir a aplicação de fósforo, sem
perda significativa da produtividade
de bulbos da cebola.
Salienta-se que a área utilizada
para o experimento apresentou solo
com teor de P (Mehlich) = 24,4mg/
dm-3, o que é considerado bom e
necessitaria de incorporar 90kg/ha
de P2O5, por recomendação técnica
para o estado de Pernambuco. Os
resultados obtidos contrariam em
parte esta recomendação, indicando Produção das cultivares ValeOuro IPA -11 e Franciscana IPA-10 na dose de 120kg/ha de fósforo

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mercado que bulbos maiores.
Com relação à aplicação de
fósforo, se observou para a classe
2 redução linear com o incremento
das doses de P, sendo este valor da
ordem de 1,36% a cada incremen-
to da dose. A dose 240kg/ha de
P2O5 propiciou a menor produção
de bulbos nessa classe (17%), ou
seja, doses menores aumentaram
Produção das cultivares ValeOuro IPA -11 e Franciscana IPA-10 na dose de 180kg/ha de fósforo
proporcionalmente a produção de
bulbos pequenos. Com relação à
classe 3, que são bulbos maiores,
se verificou uma relação inversa,
ou seja, um incremento linear
com o aumento das doses de P,
constatando-se a cada aumento
da dose, 1,8% na produção de
bulbos nessa classe, retratando,
dessa forma, que esse nutriente
Produção das cultivares ValeOuro IPA -11 e Franciscana IPA-10 na dose de 240kg/ha de fósforo
contribui além da melhoria da
produtividade, na produção de Maior produtividade foi obtida produção de bulbos comerciais de tivar Franciscana IPA-10 (27,2%)
bulbos de maior diâmetro. na dose de 131,7kg/ha de P2O5, maior massa fresca e diâmetro. comparativamente à cultivar Vale
Não houve diferenças significa- associada à dose mais econômica Não se verificou perda de massa Ouro IPA-11 (31,9%). C

tivas na produtividade comercial de de 129,6kg/ ha de P2O5. (perda de peso) significativa aos Geraldo Milanez de Resende,
bulbos entre a cultivar Franciscana O incremento das doses de 30 dias após a cura, para doses ou Nivaldo Duarte Costa e
IPA-10 (74,6t/ha) e a Vale Ouro fósforo promoveu redução gra- cultivares. Aos 60 dias após a cura, Jony Eishi Yuri,
IPA-11 (76,1t/ha). dativa na produção de refugos e a detectou-se menor perda para a cul- Embrapa Semiárido

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