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Entre as muitas variações do tema de que contra a força não há argumentos, en-
contramo s esta conhecid a fábula de La F ontaine, traduzida pelo poeta Ferreira Gullar (La
Fontaine, 1999: 12-14):
O Lobo e o Cordeiro
r Quando
d , Saussure comenta que a palavra nu corresponde ao lat·LIIl nudum, esta,
a~a 1san o a lmgua em sua~ mudanças históricas, já que, a partir de uma semelhança fô-
mca entre ~udum e nu e da mfonnação histórica da antecedência do latim, ele estabelece
uma relaçao entre elas. No entanto, quando analisa a palavra nu como som ou como a
expressão de uma ideia, o ponto de vista histórico deixa de ser pertinente. Como som
tomam-se pertinentes informações fonéticas, e, como expressão de wna ideia, tomam-s;
pertinentes informações semânticas. Assim, dependendo do enfoque com o qual se trata
um dado linguístico, temos um objeto de estudo diferente.
O Curso de Linguística geral teve sua primeira edição em 1916, três anos depois
da morte de Saussure, em 1913. Ao contrário do que se poderia imaginar, tratando-se de
uma das obras mais importantes da Linguística, o volume não foi escrito por Saussure.
Trata-se de uma edição elaborada a partir de anotações de aula de seus alunos. Saussure
ministrou três cursos na Universidade de Genebra. O primeiro data de 1907, o segundo,
de 1908 e o terceiro, de 191 O. Os editores do Curso de Linguística geral foram Ch. Bally,
A. Sechehaye e A. Riedlinger. .
Embora não haja menção ao termo dicotomias no texto do Curso, é assim que se
costuma chamar os quatro pares de conceitos, que fazem urna ~íntese das propostas de
Sauss · ção de um novo objeto teórico para a LmgmstLca. A palavra drcoto-
· · " N~ d
d a ena d. h tomz'a que quer dizer "divisão em partes 1gua1s . ao se eve
· d ure· para
.
mza enva o grego ic .ootomia, presente no texto saussur1ano, que se trata de algo que e,
. em Saussure diz .
. respeito
d ·d eduma d1c ensar de outro modo. Uma dicotomia
. ·d·d no caso
Pensar,
.
d1v1 1 o em 01s, eve-se P
- '"" vuu çoo à Linguístico
Sincronia e Diacronia
(Saussure, 1969:94-116)
Comparando-se sistematicament e d d ,
do-europeu a " língua-mãe" d l . os a o~ dessas lmguas, pode-se chegar ao in-
, 0 attm e de suas "irm~ " Q · ~ , ·
históricos de uma língua . as · uais sao, porem, os reg1stros
que muitas línguas não ;~::~ o mdo-.europeu? A escrita aparece~ tardiamente, de modo
. t ra~ t am registros em documentos escntos. O trabalho do lin-
gu1s a, en . o, orna-se, um trabalho d e reconstruçao ~ de uma língua a partir dos vestígios
que e Ia d e1xa nas lmguas que del a se ongmaram.
· · · reconstrói-se a "mãe" a partir
Ou seja
de suas "filhas"
. e das. "filhas" · com
. ,de. suas "filhas " . F 01· assun ·
' o mdo-europeu, uma língua
que,. sem. deixar registros h1stoncos, foi reconstruída pelo método histórico-compa rativo.
Os lmgu1stas
. do, século XIX busc avam, comparan d o as 1·mguas, orgamza-las · · em grupos e
reconstrmr as lmguas de que os grupos se originavam.
Foi nesse ambiente de pesquisas que Saussure estudou. Seu trabalho acadêmico
versava, basicamente, sobre a Linguística indo-europeia. Seus estudos Mémoire sur !e
systeme primitif des voy elles dans les langues indo-européennes e L 'emploi du génitif
absolu en sanscrit são trabalhos feitos dentro dessa área de pesquisa. Em sua época,
Saussure foi um pesquisador brilhante. A Mémoire foi considerada por Antoine Meillet
como "o mais belo livro de gramática comparada que já foi escrito" (Bouquet, 1997:62).
Deve-se lembrar que seu autor tinha apenas 24 anos quando o escreveu.
A essa Linguística, que trabalha com mudanças que ocorrem nas línguas através
do tempo, Saussure chamou linguística diacrônica ( 1969:96). A esse ponto de vista, ele
opõe uma linguística sincrônica. Diacronia, do grego dia "através" e chrónos "tempo",
quer dizer "através do tempo", e sincronia, do grego syn "juntamente" e chrónos "tempo",
significa "ao mesmo tempo" .
Fazendo uma distinção entre dois pontos de vista diferentes de olhar para o mesmo
fenômeno , Saussure define um novo objeto de estudos para a Linguística. Contrariamente
ao estudo da mudança linguística, o ponto de vista sincrônico vê a língua como um sis-
tema em que um elemento se define pelos demais elementos. No estudo sincrônico, um
detenninado estado de uma língua é isolado de suas mudanças através do tempo e passa a
ser estudado como um sistema de elementos linguísticos. Esses elementos são estudados
não mais em suas mudanças históricas, mas nas relações que eles contraem, ao mesmo
tempo, uns com os outros. Vamos exemplificar. . . . ,,
d fábula "tinha a barriga vazia, não comera o dia mte1ro . Em seu estudo
O L obo a . . b" "
sobre os morfemas do português, Valter Kehd1 (1996:8-9) anahsa o ver o comer nos
BO lntr odu c;õ o à Linguistice
Língua e Fal a
(Saussure , 1969 :26-2 8)
comentada muito rapida-
No item anterior, há uma definição importante que foi
Ela é importante porque é a partir
mente. Trata-se da definição da língua como sistema.
a Linguística. Ela foi comentada
dela que Saussure define um novo objeto de estudo para
tir as orientações sincrônica e
sumariamente porque o que interessava, então, era discu
as, embora possam ser estudadas
diacrônica do estudo da língua. As dicotomias saussurian
umas com as outras.
uma de cada vez, só fazem sentido quando relacionadas
e o Cordeiro. É justamente
Na fábula de La Fontaine, há um diálogo entre o Lobo
ações do Lobo que se demonstra
pela argumentação do Cordeiro e pe]as réplicas e acus
a, a argumentação é inútil por-
o tema de que contra 'a força não há argumentos. Na fábul
Lobo não entenda os argumentos
que contra a força não há argumentos e não porque o
o que o Cordeiro diz, já que, para
do Cordeiro. Suas réplicas mostram que ele entende
diferente. Assim , o que as duas
cada defesa do Cordeiro o Lobo encontra uma acusação
' a, embora cada uma delas tenha
personagens compartilham, ao dialogar, é a mesma língu
uma fala diferente.
duas maneiras de estudar
Se na dicotomia sincronia e diacronia se estabelecem
conceito de língua. Para Saussure,
a língua, na dicotomia língua e fala há a definição do
a é pa~icular: p~rtant~~ a língua é
lingua opõe-se a/al a, porque a língua é coletiva e ajc~l
, a /mgua e s1stemahca e aja/ a
um dado social e a/ala é um dado individual. Além disso
82 Introdução à Lingulstica
é assistemática. Pcssons que !'alam n mesma //11g11a conseguem comuni car-se porque,
apesar das diferentes falas. há o uso da rncsrnu l/11g11a.
Na fábula. qu~ndo o Lobo acusa o Cordeiro com a fala "Como tu ousas sujar a
água que estou bebendo ?" e o Cordeiro responde com a fala "Senhor ( .. .) encareço a
Vossa Alteza que me desculpeis, mas acho que vos enganai s: bebendo, quase dez braças
abaixo de vós. nesta con-enleza, não posso sujar-vos a {1gua", nota-se que ambos usam a
mesma língua, já que as duas falas compartilham do mesmo vocabul{t~io e das mesmas
regras gramaticais: há o uso de palavras comuns, como sujar, bebendo, agua; nas orações,
o complemento é colocado depois do verbo, como na.fala do Lobo_"tu"o~sas (verbo~+
sujar a água que estou bebendo (complemento)" e na.fala do Cordeiro nao posso SUJar
(verbo) + vos a água (complemento)"; há o uso das mesmas vogais e das mesmas con-
soantes em ambas as falas. Enfim, o Lobo e o Cordeiro falam a mesma língua porque
ambos dominam o mesmo sistema de elementos linguísticos, ou seja, palavras, ordem da
colocação das palavras na frase, vogais, consoantes, entre outras propriedades. As falas
são diferentes, mas o sistema linguístico usado para formá-las é o mesmo .
Para Saussure, o objeto de estudos da Linguística é a língua (Saussure, 1969:28),
e não a/ala, de modo que uma língua é definida como um sistema de elementos. Para
entender essa definição, deve-se definir o que é um sistema e o que são os elementos que
formam um sistema linguístico.
Pode-se definir um sistema como um conjunto organizado em que um elemento se
define pelos outros. Um conjunto é uma totalidade de elementos quaisquer. Se eles estão
organizados, isso quer dizer que um elemento está em função dos outros, de modo que a
sua função se define em relação aos demais elementos do conjunto.
Em todas as fábulas, os animais representam funções sociais humanas, por isso é
comum, em decorrência do período histórico a que as fábulas se referem, haver uma corte
em que há um rei e seus súditos. O rei, geralmente, é um leão e seus súditos podem variar
de bois a hienas e chacais . Uma corte é um conjunto organizado em que seus elementos
estão definidos uns em relação aos outros. O que faz do rei ser um rei é o fato de ele não
ser um de seus súditos, o que faz o bobo da corte ser um bobo da corte é ele não ser O rei ,
e assim por diante, na totalidade do conjunto.
Esse conjunto organizad~ e!n que um elemento se define pelos demais é um sistema
_ou sej!, uma estr~turjt.l>oâe:se definir uma língua desse ponfo devi~ ontri~
buição ~ de Saússure que definiu um objeto de estudos dentro da Linguística.
Se a lmgua pode ser estudada como um sistema, ela deve ser definida nos mesmos
t~rmos que um sistema. Portanto, uma língua deve ser definida como um conjunto orga-
rnza~o em qu~ um elemento se define em relação aos demais elementos. Deve-se, em
seguida, defimr ess~s ~!ementas que pertencem a esse conjunto da língua.
deste texto , va mos defi ntr ·
· esses e Jementos como os signos ·
, . Dentro, dos limites
,
· ·
lm-
gu1st1co s. A lmgua e, .portanto , um conJun· to de signos em que um signo se define pelos
. ..
demais signos do con•unt · o que e, um signo linguístico.
o • Deve - se, em segui·d a, defi mr
'J
_A essa al~ra do texto, repete-se o mesmo que ocorreu quando da definição de língua
como sistema no item sincronia e diacwma. .
. · A d fi . _ de signo
- d. . . . e mçao será estudada com mais aten-
çao na 1cotom1a significa nte e signilic di d d ,
_ , ª
, 'J ' o, e mo o que e1a sera tratada, agora, sumariamente.
No entanto, sem ela, nao e passivei compr d , d fi . _ s1stemá . .
, . _ . een er d e mçao hca de /íngua, justamente
porque e com a defimçao de signo que se definem os elementos linguísticos.
►
· , r"º 83
A língua como obíeto do Lingu,s
Um signo linguístico, como já se viu no capítulo sobre a teoria dos signosJ um.a
rela~ : ntre um c~ceito__e_t~ma~mngem acústica (Saussurc, 1969:HO). Um conceito é
~ ã 1de1a, um pensamento que serve para interprct1.Ír o mundo . Uma image m acústica é a
impressão psíquica de uma sequência articulada de sons (vogai s, consoantes e semivogais),
A palavra lobo, por exemplo, é um signo, pois nela o conceito de "mamífero carnívoro.
da família canidae, que habita grandes regiões da Europa, Ásia e Améri ca do Norte" está
associado à sequência de vogais e consoantes que forma a imagem acústica /lobo/. ~
concei1Q.. Saussure cha!_!lou _significacJo e à imagem acústica, significante ( 1969:81 ). O
significado e o significante são as duas fa~e ~dq signo linguístico.
_.,,-::---- Não se deve confundir signo com palavra, A palavra "comer", por exemplo , é um
signo, já que é fonnada pela imagem acústica /komer/ relacionada com o conceito de "in-
gerir alimentos sólidos". No entanto, essa palavra é formada por signos menores , ou seja,
os morfemas. Há em "comer" três morfemas: o radical com-; o morfema -e, que significa
que o verbo pertence à segunda conjugação; e o morfema -r, que indica que o verbo está no
infinitivo. Um morfema também é um signo,já que possui um significado e um significante.
No morfema -r, por exemplo, o significado é o conceito de infinitivo e o significante é a
imagem acústica da consoante /r/. Atenção, a imagem acústica /r / só é um morfema quando
a ela está associado um significado, o /r/ na palavra "rato", por exemplo, faz parte do radical
rat- só como uma consoante, sem ter nenhum significado isoladamente.
A língua, para Saussure (1969:23-24), é um sistema de signos, em que um sig-
no se define pelos demais signos do conjunto. Por isso, ele desenvolveu o conceito de
valor, isto é, o sentido de uma unidade , que é definida por suas relações com outras da
mesma natureza (Saussure, 1969:130-141). Em "comer", o radical só tem o seu valor
linguístico em relação aos demais radicais da língua portuguesa, como o beb- de beber, o
viv- de viver, etc.; o morfema -e, que indica a segunda conjugação, só tem esse valor em
relação aos morfemas -a de primeira conjugação e -i de terceira conjugação. Em ·'loba",
por exemplo , há também um morfema -a, só que é um morfema cujo significado é o de
gênero feminino , porque se define como feminino em relação ao morfema -o, de gênero
masculino. Além do mais, o que define um morfema como radical é a sua relação com os
morfemas desinenciais e vice-versa.
Saussure disse que na língua só há diferenças. Portanto , não só os signos se defi-
nem uns em relação aos outros, mas também os elementos que compõem os significantes,
isto é, os sons, bem como os significados. Assim, o valor do /1/ só é dado em razão de
sua oposição com o /ri, O primeiro só tem um valor dentro do sistema, porque serve para
opor signos como lata e rata. Os significados de ira, ódio, rancor e raiva ganham seu
valor dentro do sistema porque uns se opõem aos outros, cada um tem uma diferença
semântica em relação aos outros.
Pode-se utilizar a metáfora da rede para descrever esse ponto de vista sistemático.
O sistema linguístico pode ser entendido como uma rede, em que cada nó está relacionado
c_om os demais nós que formam a rede, assim como os signos que formam um sistema
linguístico estão relacionados entre si. Concebendo a língua como um sistema de signos,
Saussure (1969:23-24) define um novo objeto de estudos para a Linguística. É dess~ modo
que um ponto de vista detennina um objeto de estudos: quando se observa a língya g_o P...<l!ll.0--
o
. de vista sistemãttco, que. .se--r.coonhc.ce neln .é umlti!iliÜ(ü.ra:Es.!i.e co.Jlill!lto de relações
que as un1dades Íinguísticas mantêm entre si constitui umajàrma. Por isso, Saussure diz
- - - -- -
84 Intro duçã o à Lingulstica
que a língua é forma e não su bstan " ,·,1 t,'ssc con1.u 1110 de dife renças estabelece os cone .
cl< · ~· · . eitos
11cnto e no ' o fônico indeterminado que o apare}h .
·phn
e os sons na massa amor J•ª.do pci 1·s•11
fonador pode produzir. . . .. 1-<,,r 111 c 11101...cs·se conceito, Saussure usa uma metá" o
Parn cxp IC< ' '1 r·1inha, não é seu formato •ora
a do 1.ogo de xadrez. O quc, dc,fine o que. e um, e
nem o mate . '1
. . . , , ·u v •1lor no 1ogo, o u scJ·a sua opo s1çao cm relaçao às demna.
• •- -
Significante e Significado
(Saussure, 1969:79-93)
Paradigma e Sintagma
(Saussurc, 1969: 142-14 7)
. s
P ata ure ·is rchçõcs enlre os. elementos
. ,
linguísticos
f .
podct"h
.., screst•
auss , • ~ '
• d f · , distintos ~·mios defi1111 esses e1om mos. · abcleC1<4.
em d ms om mos ·· ' _
Na fübula de La Fontaine, uma parte da argumentaçao dos dois anirnaisdí· s
eixo de seleção
s1gm an__te, e?~ imagens acusticas semelhantes; e por meio de outros signos, em
cessos morfolog1cos comuns.
89
A língua como objeto do Linguístic a
Saussure, a partir do signo ensinam ento ( 1969: 145-14 7), exempl ifica cada um
desses três modos de ~ssocia ção. Por meio do signffic ado, associa -se ensina mento
ª
a
aprendizagem, educaç ao, etc. _Por meio de seu significante, associa -se ensina mento
comun s,
e/emento , lento, et~. E, por meio de outros signos, cm process os morfol ógicos
-se
ensinamento associa -se a ensinar , ensinem os, etc., por ter O mesmo radical , e associa
desfiguramento, armam ento. etc., por ter o mesmo sufixo. A essas relaçõe s entre os ele-
o,
~1entos do sistema linguís tico Saussu re chama relaçõe s associa tivas ( 1969: 145). Contud
ara se referir às relaçõe s associa tivas entre os signos, a Linguís tica consag rou o termo
p d. , . d
relações pa.ra 1gm at1cas, o gr~go pa,~adéigma, que sig1}J_:.i jÇ11~sl:>, ~empl o.
Assun, estatfelece-s e a dicotom ia paradi gma e sintagm a (Saussu re, 1969: 142-14 7),
na qual se definem , respect ivamen te, as relaçõe s de seleção e as relaçõe s de combin ação
entre os elemen tos linguís ticos.
Saussure definiu , em sentido amplo, as relaçõe s paradig máticas e sintagm áticas.
or
Para tomar operaci onais os conceit os de sintagm a e de paradig ma, a Linguí stica posteri
e
a Saussure vai precisá -los. O paradig ma não é qualqu er associa ção de signos pelo som
pelos sentidos, mas uma série de elemen tos linguís ticos suscetí veis de figurar no mesmo
de
ponto do enuncia do, se o sentido for outro. Assim, no enuncia do foi teu avô, no lugar
teu, poderiam figurar, se o sentido do enuncia do fosse outro, os termos seu, meu, nosso,
o, um, etc. Esses elemen tos constit uem um paradig ma, do qual o falante selecio
na um
uer
tenno para figurar no enunci ado. Por outro lado, no sintagm a não se combin am quaisq
elementos aleator iament e. A combin ação no sintagm a obedec e a um padrão definid o pelo
o
sistema. Assim, por exemp lo, podem -se combin ar um artigo e um nome ~. nesse caso,
artigo deve sempre preced er o nome. Em portugu ês, é possíve l a combin ação o irmão,
mas não a combin ação irmão o. Por essa razão, não se deve confun dir paradi gma com
por
língua e sintagm a com fala. Tanto um uanto mhro pertenc em ao sistema , aquele
e este por
- estabelecer os e emento s que podem figurar num dado ponto da cadeia alada
obedecer ã-uin paârão ng1do de combm ação.
A diferen ça entre as relaçõe s smtagm áticas e as paradig máticas não é a
mesma
o
que existe entre língua e/ala (Saussu re, 1969:2 6-28). Aquela s, por relacio nar no mínim
se
dois elementos linguís ticos, são um tipo de relação em que os elemen tos relacio nados
o
encontram em presenç a um do outro, já as relaçõe s paradig máticas , porque dizem respeit
à seleção entre elemen tos, são um tipo de relação em que o elemen to selecio nado
exclui
tos
os demais elemen tos da relação . Assim, as relaçõe s paradig máticas entre os elemen
linguísticos ocorrem em ausênc ia, ao contrár io das sintagm áticas, que ocorrem pela pre-
sença dos elemen tos relacio nados (Saussu re, 1969: 143). Já língua se disting ue de jàla
porque a definição de língua coincid e com a de sistema de signos e a de fala refere- se
à
realização desse sistema em um ato individ ual de fonação (Saussu re, 1969:2 7). Assim,
ta,nto as relações paradig mática s quanto as sintagm áticas estão no domíni o d ~
nao da.fala, porque dizem respeit o às relaçõe s entre os elemen tos que formam o sistema
~ . Como aja/a é uma realiza ção do sistema linguís tico, ela realiza as relaçõe s de
combinação determ inadas por esse sistema .
O segund o equívo co diz respeit o ao estatuto dos elemen tos relacio nados. Se signo
f~r confundido com palavra , as relaçõe s paradig mática s se dão entre as palavra s de uma
I' C
. ' . as d essa mgua. ontudo , essa
- smtatlc
hngu a e as relaçõe s sintagm áticas são as re 1açoes
confusão entre signo e palavra não deve ser feita. Embor a uma palavra seja um signo,
90 Intro duç ão à Linguí 5t ico
paradigma
João '\
ama Teresa
Raimundo odeia Maria sintagma
Joaquim admira Lil i
assiste J Pin to Fe rna nde s
cigarro
cho col ate
paradigma
.~am .~re
·"ª ,,.mos
beb e ria s --
sin tag ma
par i i sse is
, . .
Em bor a Sau ssu re defina as rela ções· pat.a d.igmat1c as e smt agmáticas bas ica me nte em
. , t· I d a
tennos 1mg ms 1co s, e as po em ser dete n111·na d as em outros sistemas de signos. Ou seja · '
. . _ d' . .. . . .
e ,ar Linguística.
dicotomia pa, a rgma e sm tag ma val 1 a out1 as sem1ologias além da . · ·
os de sem iolo ; Ba1.t·I1es discute ess a apl ica ção dos doi s eix os
·
E_m seu s E/em ent . . g a,
s em out ros sist em as de sig nos alé m da lf n~L~a ( 199 2:61-91 ). Entre eles, Bar the s
de relaçoe eiç ão e ves tu, · ( . . .e1ç_ao, o eix . o smt. agmat1 , . co des cre ve a
a ref O ano 199 2 6 7). Par a a 1ef
comen t
. .a _ . -
os ~ . sto + pratos frio s+ pra tos
sequencia em que os pra tos. sao ser vid , com o a sequencia ant epa
. Os tipo s de ant epa st os, pratos fno · s pratos quentes e sob rem esa s que
quentes + sob rem esa - des
, ·ca sao ' cnt• os pelo eix • o parad1·gmat1 , ·co.
ode m ocu par os lug are s da
. seq uên cia si n tagmat1
P , . . b' - das div • ers as peç as de rou pa
de
Para o ves tua no, o eix o sm tag má tico scr eve a com ma•çao . s de cal ças , cam1sa • ,
soa (ca lça cam i·sa ·
ia, etc )
.. Os div ers os tipo
usadas por um a pes . , , me
e sel eci ona r um , per ten c em ao eix · o par ad'1gma·t·1co.
etc. , dentre os qua is se _ pod .
N. oss o tex to nao .ter mm a com saussure. uas pro pos tas for
s am com ent ada s e de-
· os exp or ape nas os
senvol.v1das por out ros. lmg uis _ tas · De. n tr e ess es d ese nvo lvn nen tos , vam
tiva me nte ,
os.d e du~ la art icu laç a_o da hng uag em e de norma, desenvolvidos, res pec
conceit
iu.
por Andre Ma rtm et e Eu ger no Co ser
da lin gu ag em
Ma rti ne t e a du pl a ar tic ul aç ão
(Martinet, 1978: 10- 17)
com par ti-
pes qui sas que Saussure, poi s am bos
Ma rtin et est á na me sm a trad içã o de trat ar da dup la
da con cep ção sis tem átic a de líng ua. De sua s pro pos tas , vam os
lham ida a nat ure za dos
t, 1978: 10- 12) ,já que nela é dis cut
articulação da lin gua gem (M art ine
elementos ling uís tico s. ent e aiticulada. O que que r diz er isso ?
ma que a ling uag em é dup lam
Martinet afir ca
e-s e ent end er o que é arti cul açã o. Em latim, a palavra articulus signifi
Antes de tudo, dev se
, me mb ro" . Por tan to, qua ndo se diz que a língua é arti cul ada o que
"pa11e, subdivisão
dad es ling uís tica s são sus cet íve is de ser divididas, seg me nta das , re-
quer dizer é que as uni doi s
dad es me nor es. Par a Ma rtin et, tod o enunciado da língua articula-se em
cortadas em uni dad es
iro , arti cul am -se as uni dad es dot adas de sentido. A me nor des sas uni
planos. No pri me pod e
am ado mo nem a pel o ling uis ta francês). A frase Os lobos andavam
é o morfema (ch lob-,
nos seg uin te:; mo rfe ma s: o, arti go definido; -s, mo rfe ma de plural;
ser segmentada rfe ma
nifi ca "gr and e ma míf ero car nív oro da família dos can íde os" ; -o, mo
radical que sig inh ar'' ;
; -s, mo rfe ma de plu ral; and -, radical que significa "da r passos, cam
de masculino ma mo do-
a que ind ica que o ver bo per ten ce à prim eira conjugação; -va, mo rfe
-a, morfem sso al que
ind ica pre téri to imp erf eito do indicativo; -m, mo rfe ma núm ero -pe
~emporal que O as uni dad es
3ª pes soa do plu ral. Ess a é a pri me ira articulação da linguagem. Nela,
indica a o e de sig ni-
ada s de ma téri a tôn ica e de sen tido , ou seja, são com pos tas de significad
são dot me nor es dot ada s
nte. Por tan to, nes se pla no, enu nci ado pod e ser recortado em unidades
fica 0
. Ca~a um a
tido , ou seja , mo rfe ma s, pal avr as, sintagma~ (combin~çõ~s _de palavras)
de sen pod e com bm ar- se
sas uni dad es pod e ser sub stit uíd a por out ra no eixo parad1gmat1co ou
des .
. . .
corn outras no eix o sin tag má tico . tur no, arti cul ar-s e, d1v1d1r-se , em um dad es m~ nor es
Cad a mo rfe ma pod e, por seu
es são os fonemas. O mo rfe ma lob
- pod e arti cul ar-
desprovidas de sen tido . Ess as uni dad
92 Introdução 6 Linguístico
se ~os fonemas /1 /, /oi e /b/: E_ss~ é a se~nda articulação d~ li~guagem. Nesse plano
umdades têm apenas valor distmt:Jvo. Assim. quando se subSt:Jtm O IV do morfema lob. :
/b/ se produz um outro radical, bob-, que aparece na palavra bobo. Pr
A dupla articulação da linguagem é um fator de economia linguística. Co
· ~ ~ l lll Pou
cas dezenas de fonemas , cujas possibilidades de com bmaçao estao onge de ser t ·
·
exploradas em cada 1íngua, fonnam-se D11lhares de um.dades de pnmerra . · odas
articula ,
Com alguns milhares de unidades de primeira articulação forma-se um número ilin-. -Çao.
. . •ultado
de enunciados. Se os homens produzissem um som diferente para expressar cada um d
suas experiências ou para designar cada elemento da realidade teriam uma sobrec ª e
na memória e, além disso, o aparelho fonador não ~eria c~paz de emitir a quanti:!:
de sons diferentes necessários para isso nem o ouvido sena capaz de apreender todas
essas produções fônicas.
di ató pi cas, qu e di ze m
Cose ri~ deten ni 1.1a q~iatro tipos de varia ntes lingufsti cas: as
, que conce rne m às va ri a ntes
respeito às varia ntes regio nais do uso da lfnguu; as diastráticas
que dizem respe ito às vari a ntes /
de uso de difere ntes ~po s socia is de falantes; as dinln sicus,
ônica s, qu e conce rne m às ~
em situaç ões de uso fonna l ou infon nal do discu rso; e as diacr
ce m em deco rrênc ia da faix a
diferenças lingu ística s que, em um deter mina do grupo , apare
s, as varia ntes diacr ônica s são
etária dos falan tes. As varia ntes diató picas são geogrMicu
históricas e as varia ntes diast rática s e diafá sicas , socia i s.
um~ ~ocio lingu ísticy
Com o conc eito ~e nonn a, ~s estud os li~gu ístico s funda m
fatores socia is, geog ráfico s e
que observa com atenç ao as relaç oes entre a lmgu a e os
históricos que deter mina m sua realiz ação.
SAUSU RRE. F de. Curso de linguí stica geral. São Paulo: Cultrix, 1969.
Sugestões de leitu ra
Evide ntem ente, a prime ira suges tão é o Curso de lingu ística
geral. Há uma tradu ção
longo do nosso texto , marc a-
do Curso em portu guês, publi cada pela edito ra Cultr ix. Ao
itos que busca mos discu tir.
mos as págin as em que, nessa ediçã o, estão expo stos os conce
não tratam os neste
Reco mend amos tamb ém a leitur a da obra de autor de que
sauss urian os. A leitur a de
capítulo, Louis Hjelm slev. Ele discu te e repen sa os conce itos
cer subsí dios impo rtante s
Hjelmslev não é fácil , mas, se for feita com atenç ão, pode ofere
lingu agem , dentr o do obj eto
para qualq uer estud ante que queir a dedic ar-se aos estud os da
portu guês são Prole gôm enos
teórico definido por Sauss ure. Suas obras tradu zidas para o
ª uma teoria da lingu agem e Ensa ios lingu ístico s, amba s
da edito ra Persp ectiv a.
enda mos o livro Lin-
Para um estud o das relaç ões entre língu a e di scurso, recom
guagem e ideol ogia, de José Luiz Fiorin , da edito ra Ática.
Nele, o autor, alé m de discu tir as
discu rsiva da lingu agem ,
relações entre lingu agem e ideol ogia nos domí nios da dime nsão
nos domí nios da língu a.
faz uma análi se do que é sistem ático e do que é di sc ursiv o
l
94 Introdução à Linguística