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Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para análise

Testemunho da Escritura: a fé e a Lei — 6Foi assim que Abraão creu em Deus e isto
lhe foi levado em conta de justiça. 7Sabei, portanto, que os que são pela fé são filhos de
Abraão. 8Prevendo que Deus justificaria os gentios pela fé, a Escritura preanunciou a
Abraão esta boa nova: Em ti serão abençoadas todas as nações. 9De modo que os que
são pela fé são abençoados juntamente com Abraão, que teve fé. 10E os que são pelas
obras da Lei, esses estão debaixo de maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele
que não se atém a todas as prescrições que estão no livro da Lei para serem praticadas.
11E que pela Lei ninguém se justifica diante de Deus é evidente, pois o justo viverá pela
fé. 12Ora, a Lei não é pela fé, mas: quem pratica essas coisas por elas viverá. 13Cristo
nos remiu da maldição da Lei tornando-se maldição por nós, porque está escrito:
Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro, 14a fim de que a bênção de Abraão em
Cristo Jesus se estenda aos gentios, e para que, pela fé, recebamos o Espírito prometido.

Cap. 3:6-14

Neste trecho Paulo oferece um argumento a questão que gerada controvérsia entre os Gálatas,
que perante a influência dos judaizantes, retomava a observância da Lei como condição para
ser considerado cristão, quando Paulo defende que é apenas a fé que justifica alguém estar ou
não com o Cristo.

Vai, então, ao início de tudo para o povo judeu, citando o livro de Gênesis e a história de
Abraão, para dizer que ele teve fé. Não havia lei alguma, entretanto, Abraão foi acolhido e
abençoado por Deus. Ao trazer-lhes esta referência, recria o valor e o significado da ligação
co Abraão e analisaremos o texto para compreender este argumento de Paulo.
Abraão é citado no livro de Genesis como o pai da nação judaica e em exemplo de fé e
comunhã com Deus.

“Descendente de Sem, e filho de Tera, que se tornou ancestral da nação hebraica e de outras
(Gn 17:5). Viveu uma vida de notável fé e foi conhecido como o “Amigo de Deus” (2Cr
20:7). A história de sua vida é registrada em Gn 11:26;26:10 e sumarizada em At. 7:2-8.
Uma lista de seus descendentes imediatos, por meio de seus filhos Isaque e Ismael, é dada em
Gn 25:11-19. Abraão declarou sua fé em Deus como o Todo-poderoso (Gn 17:1), Eterno
(21:33), Altíssimo (14:22), Possuidor (Senhor) do céu e da terra (14:22 e 24:3), e jsuto juiz
das nações (15:14) e de toda a humanidade (18:25). Para ele, Javé era justo, sábio, reto,
bom e misericordioso. Abraão possuía íntima comunhão com Deus (18:33, 24:40;48:15) e
recebeu revelações especiais da parte dele por meio de visões e visitas em forma humana
(18:1) ou angélica (22:11,15). (...) Israel era considerado “semente de Abraão” e a ação de
Javé, suscitando tanta gente de um único homem era considerada um cumprimento
particularmente significativo de sua palavra.(...) Sua obediência pela fé ao chamado para
deixar UR e vier como “forasteiro e peregrino” numa vida nômade e sua oferta de Isaque
são registradas como exemplos notáveis de fé em ação (Hb 11:8-19, Tg 2:21)” (J.D.
Douglas – Novo Dicionário da Bíblia)

Paulo não apenas traz a referência de Abraão como um homem de fé para fazê-los ver que a
Lei em si não é suficiente para transformar a vida de um homem, para torná-lo cristão. Ele o
usa o próprio Abraão, pai dos hebreus, como a ponte para que todos os gentios também
adentrassem nesta “nação escolhida” por Deus: “8Prevendo que Deus justificaria os gentios
pela fé, a Escritura preanunciou a Abraão esta boa nova: Em ti serão abençoadas todas as
nações. 9De modo que os que são pela fé são abençoados juntamente com Abraão, que teve
fé.”

O judeu argumentava que a mera descendência física de Abraão o colocava na condição de


eleito de Deus, em detrimento do resto da humanidade. Paulo, no entanto, muda todo este
raciocínio para dizer que o verdadeiro descendente é o que assemelha-se a Abraão, que tem a
sua fé e caminha em comunhão com Deus.

O que Paulo está dizendo aos Gálatas é muito profundo e nos alcança, chamando-nos a
refletir sobre o Cristo em nossas vidas.

Muitas vezes permanecemos na religião acolhida por nossos pais e, conforme fomos criados,
realizamos os atos desta ou daquela religião, como ir ao templo religioso, praticar seus ritos e
estar inserido naquela comunidade.

Com o espiritismo não é diferente, ao adentrarmos no espiritismo, seja através de nossos pais
ou por opção em tempo posterior, em geral, passamos a frequentar alguma casa de oração ou
a um determinado grupo, partilhando de seus costumes. Isto é humano, trata-se de nossa
busca de estar com Deus e entrar em sintonia com o Amor que rege o mundo.

O que Paulo nos está ensinando, é que nenhuma pessoa, nenhum lugar, nenhuma
descendência, nada físico, podem nos conectar ao Pai, mas, como Abraão, é a fé em ação que
irá promover esta desejada comunhão.
Emmanuel nos oferece precioso comentário sobre este caminhar com Deus, tão bem
simbolizado na pessoa de Abraão.

Fonte viva — Emmanuel

Na grande romagem

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por
herança; e saiu, sem saber para onde ia.” — PAULO (Hebreus, 11.8)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é
destinada. A conscrição atinge a todos.

O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia… E nós, por nossa vez, devemos
erguer o coração e partir igualmente.

Ignoramos as estações de contato na romagem enorme, mas estamos informados de que o


nosso objetivo é Cristo Jesus.

Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia? Quantas vezes
transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos
alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o
Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta. Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria


redenção, sem esmorecimento.

Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida,


é a solidão… Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.

Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo
menos, alguns milímetros…

Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual


e progresso na virtude. Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:

Vencendo desertos…

Superando dificuldades…

Varando nevoeiros…

Eliminando obstáculos…

Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.

Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de que o Senhor
nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.
Vivemos num mundo em que a exposição pública é uma constante, as redes sociais oferecem
cenas diárias da vida pessoal e muitas vezes oferecem uma imagem enganosa de uma
felicidade sem fim ou de uma fé sem igual.

Não nos cabe julgar quem quer que seja e, em verdade, ficaria imensamente feliz se todos os
que parecem ter alegria e fé em seus corações nas redes sociais também o tivessem em suas
vidas particulares.

O que nos importa, diante deste estudo, é perceber que cada um de nós é responsável por seu
próprio caminhar e que “Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria
redenção, sem esmorecimento. Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade;
depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão… Ainda assim, é indispensável seguir sem
desânimo.”, como nos ensina Emmanuel.

Há um outro aspecto que Paulo ressalta neste trecho que é importante analisarmos.
Recordemos que ele dá Abraão como exemplo de homem de fé e comunhão com Deus e
amplia o alcance da promessa divina de que todos os seus filhos seriam abençoados para
dizer que isto não se aplicava apenas aos judeus, mas, também, aos gentios, mediante a sua
fé. E isto se tornou possível com a ação do Cristo, com sua vida, morte e ressurreição.

Como, então, compreender os versículo 13 e 14: “13Cristo nos remiu da maldição da Lei
tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no
madeiro, 14a fim de que a bênção de Abraão em Cristo Jesus se estenda aos gentios, e para
que, pela fé, recebamos o Espírito prometido.”

A pior morte nos tempos de Jesus era a crucificação, não apenas por ser profundamente
sofrida, lenta, dolorosa, mas porque havia a prescrição em lei de que “todo aquele que é
suspenso no madeiro é maldito”.

“A lei acarreta benção para o cumprimento, maldição para a transgressão (Dt 27:28).
Cristo, embora inocente, submete-se a urna “maldição” especifica da lei (Dt 2 1, 23), ser
suspenso de um madeiro, para invalidar o regime da lei. Uma lei, segundo a qual um
inocente e condenado (Jo 19,7), não ficara em vigor. Cristo morre para restaurar o regime
de benção e promessa, que só exige aceitação e acolhida com fé (Is 7,7; 28,16 30,15).
Regime inaugurado, antes da lei em Abraão (Gn 15,6) e e confirmado em Hab 2,4 (texto
favorito de Paulo).” Bíblia do Peregrino.

Não houve justiça na sentença que determinou a morte de Jesus, a lei humana falhou e,
conforme a própria tradição judaica, uma lei que condena um inocente não ficará em vigor.

Retornamos, então, ao princípio, a Abraão, que confiava em Deus e seguia-lhe as


determinações, com fé de que acima da justiça dos homens, que é falha, há a justiça de Deus
que nos alcança no tempo oportuno.

Wiliam Barclay comenta esta questão: “ (...) (Deuteronômio 27:26) diz que o homem
que não observa toda a Lei é maldito. Por este caminho a maldição é o fim lógico e
inevitável de tentar justificar-se perante Deus fazendo da Lei o princípio de vida. Mas a
Escritura tem outra afirmação: "O justo por sua fé viverá" (Habacuque 2:4). Desta maneira
o único caminho para uma correta relação com Deus e, portanto, o único caminho para
conseguir a paz, é o da fé, o da aceitação, o da entrega. Mas o princípio da Lei e o da fé são
totalmente antitéticos; não se pode dirigir a vida por ambos ao mesmo tempo; terá que
escolher; e em conseqüência a única escolha lógica é a de abandonar a via do legalismo e
aventurar-se pela da fé tomando a Deus pela palavra e confiando em seu amor.”

Avança o homem em sua trajetória evolutiva, não basta mais parecer bom, o Cristo nos
convida a sermos bons. A Lei e seus costumes davam ao homem a vestimenta para parecer
um homem de Deus, no entanto, o seu coração permanecia enjaulado no egoísmo e no
orgulho, tão próprios da humanidade. O Cristo de Deus vem ao mundo para educar nossos
sentimentos, para nos ensinar que a comunhão com o Pai nos fará retornar ao amor, a paz e a
esperança. A fé não mais será demonstrada através do cumprimento de normas humanas que
são falhas, mas será auferida pela justiça divina que é a única capaz de conhecer o que
realmente vai no mais fundo de cada ser.

Emmanuel nos traz precioso comentário sobre a questão da justiça em nós e com ele
encerramos o estudo de hoje.

Semeador em tempos novos — Emmanuel

Justiça em nós mesmos

Não nos esqueçamos do mundo vasto de nós mesmos, onde a consciência amparada pela razão, nos
adverte, serena e incorruptível, quanto às normas que nos cabe esposar, em favor de nossa
segurança e alegria.

Muitas vezes, recorremos ao parecer dos outros nos assuntos que nos dizem de perto à paz
espiritual, com receio do parecer de nossa própria alma e, quase sempre, apelamos para a
orientação de muitos encarnados e desencarnados, por nos sentirmos incapazes de escutar os avisos
de nossos templo interior, em cujo altar, a Bondade Divina nos concita às obrigações que a vida nos
delegou.

Em muitas ocasiões, queixamo-nos dos companheiros que nos partilham a luta, cegos para com a
nossa posição reprovável diante deles; declaramo-nos desditosos e perseguidos, sem perceber os
calhaus de amargura que lançamos, desassisados, no caminho dos outros e arrojamo-nos a
reivindicações descabidas, sem observar que nós próprios fomos os autores da desconsideração que
nos arrasa ou desprestigia…

Em várias circunstâncias, reclamamos o trabalho do próximo sem dar a mínima parte da quota de
serviço que lhe devemos, exigimos que a tranquilidade nos favoreça, alimentando a guerra silenciosa
e tenaz contra os nossos vizinhos e bradamos contra as perturbações que nos visitam a casa,
cultivando a leviandade e a calúnia, a destruição e a maledicência…

Tenhamos, desta maneira, a coragem de examinar a nós mesmos, ouvindo a própria consciência que
jamais nos engana quanto ao rumo que nos compete seguir.
Decerto, é muito fácil julgar a conduta alheia e repetir a famosa frase: — “Se fosse comigo faria
assim”.

Mas, é sempre difícil atender à justiça em nós mesmos para retificar as próprias atitudes e corrigir os
próprios atos.

Acendamos, cada dia, por alguns instantes, a luz da prece em nosso próprio íntimo e roguemos a
Jesus nos ensine a ver e a discernir para que, através da oração, possamos aprender e servir sem
compromissos escuros nos laços da tentação.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, julho de 2019.

Candice Günther

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