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FLORES COMESTÍVEIS – SABORES E AROMAS

Dr. Giulio Cesare Stancato


INSTITUTO AGRONÔMICO (IAC)
Centro de Horticultura
Caixa Postal 28
CEP 13012-970, Campinas, SP
e-mail: stancato@iac.sp.gov.br

Diversas espécies de plantas que produzem flores, cujas pétalas e sépalas são
comestíveis, estão sendo cada vez mais empregadas na culinária, acompanhando pratos, saladas
e doces, principalmente na primavera. Existem algumas que são mais conhecidas, pois as temos
em nossa mesa quase que diariamente, como a couve-flor, o brócolis, a alcachofra e a flor de
abóbora. Mas figuram ainda, como comestíveis, os capuchinhos, as rosas, as begônias, as
calêndulas, os amores perfeitos, os crisântemos, as tulipas, as alfazemas e as menos conhecidas
como cravinas e verbenas-limão.
Só que, antes de tudo, é importantíssimo lembrar que as flores utilizadas na
alimentação não são as mesmas comercializadas em floriculturas, pois estas são cultivadas com
produtos químicos que podem causar sérios problemas para a saúde. As flores comestíveis
devem ser adquiridas de produtores especializados, que não utilizam qualquer tipo de agrotóxico
ou outro tratamento químico no seu cultivo. Além disso, é fundamental saber que não são todas
as espécies que podem ser ingeridas. Existem flores que apresentam princípios tóxicos e não
devem ser usadas na alimentação de forma alguma. Exemplos disso são a violeta africana, o
copo-de-leite, a azálea, o bico de papagaio, o lírio, entre outras.
Já, na antiguidade, o uso das flores como alimento era do conhecimento de alguns
povos como, por exemplo, a Althaea officinalis, da família das Malváceas, conhecidas pelos
ingleses como marshmallow. Suas flores cor-de-rosa eram utilizadas em saladas e, da mucilagem
das raízes, faziam-se doces. Além de servir como alimento, essa flor tinha propriedades laxantes.
Mais modernamente, as senhoras inglesas do tempo vitoriano serviam um prato sofisticado, ou
seja, pétalas de rosa cristalizadas. Nos dias de hoje, a rosa é oferecida em saladas, geléias e
tortas.
Como curiosidade, vamos tecer alguns comentários sobre algumas flores comestíveis.

Agave americana: planta das Américas Central e do Sul, suas inflorescências demoram entre 10
e 20 anos. Cultivada no México desde 1561, suas flores são ingeridas com tortilhas. Sua seiva é
fermentada e obtém-se o pulque, bebida da qual, destilada, origina-se a tequila ou o mescal.
Allium schoenoprasum: é a popular cebolinha, usadas em saladas.

Aloysia citriodora: palau ou verbena-limão, suas flores são muito usadas para aromatizar vinhos,
recheios, aves, conservas e sobremesas, além do seu emprego em licores. É originária do Chile e
Argentina.

Althaea rosa: de origem chinesa, é também chamada de rosa-de-Jericó. Suas flores são grandes,
e suas cores podem ser branca, amarela, vermelha ou cor de vinho. Usada em saladas.

Anthemis tinctoria: conhecida como camomila amarela, vinda do sul e centro da Europa, sua
floração ocorre entre julho e outubro, na Europa.

Anethum graveolens: conhecida também como endro ou aneto, suas flores são usadas em picles
de pepino ou de couve-flor.

Averrhoa carambola: chamada de carambola, suas flores são usadas em saladas; seu fruto é
também conhecido como fruto estrela, pois, quando cortado transversalmente, tem formato de
uma estrela. No Brasil, foi introduzida em Pernambuco, pelos portugueses, que a trouxeram da
Índia.

Bauhinia purpurea: sãs flores grandes, de coloração é vermelha ou rósea, sendo usadas em
saladas, especialmente as de peixe como o atum.

Borago officialis: conhecida como borragem, suas flores, quando frescas, têm um tom azul e,
quando mais velhas, passam para rosadas. Sua origem é a Ásia ou do Mediterrâneo. Usadas em
saladas, formam um prato multicor e, segundo dizem, tem sabor de pepino.

Calendula officinalis: é a popular calêndula. Suas pétalas podem ser misturadas ao arroz, ao
peixe, à sopa, aos queijos, iogurtes e omeletes, dando uma coloração como a do açafrão.

Crocus sativus: é o açafrão verdadeiro, uma planta caríssima, pois, para a obtenção de um
quilograma, são necessárias cem mil flores. Usado há séculos em molhos, arroz e aves.

Cucurbita pepo, C. moschata e C. maxima: são as nossas conhecidas abóboras. Podemos comer
suas flores fritas, empanadas em ovo e farinha, recheadas de queijo forte ou, ainda, em sopas.

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Dianthus cayophyllus: conhecida como cravina. Suas flores podem ser consumidas em saladas,
tortas de frutas, sanduíches e também para aromatizar vinagres, geléias, açúcar e vinho. Seu
corante é muito utilizado em confeitaria.

Helianthus annuus: trata-se do girassol. Os botões florais são cozidos, servidos como aspargos e
suas flores em saladas. Já era cultivado por indígenas no norte do México há três mil anos.

Myrtus communis: é a murta e suas pétalas podem ser usadas em salada de fruta.

Pelargonium capitatum: nome científico do gerânio, que é muito usado em saladas.

Tabebuia heptapyla: é o ipê-rosa ou piúva, planta da Mata Atlântica e que floresce de junho a
setembro. A flor cor-de-rosa é comestível.

Tabebuia impetiginosa: é o ipê-roxo, cujas flores também são comestíveis. Floresce de maio a
setembro e é originário da Mata Atlântica.

Tropaealum majus: também conhecida como chaguinha ou capuchinho. De flores vistosas, nas
cores amarela e vermelha. Seu uso teve início no Oriente e as flores, folhas e semente têm gosto
apimentado.

Viola odorata: violeta verdadeira. Quando fresca é usada em saladas, cristalizada, usada para
decoração de bolos, pudins e sorvetes.

O cultivo de flores comestíveis como atividade econômica é um bom negócio, tanto na


Europa como no Brasil. Esses produtos são vendidos especialmente em restaurantes, bufês, e
rede de supermercados. Geralmente, os produtores firmam contrato com seus clientes,
garantindo assim o escoamento de suas produções cujo cultivo é bastante específico.
São indicadas instalações como estufas com telas ou plásticos e sistema de irrigação
adequado. Não existe tratamento com defensivos agrícolas, sendo que o controle de pragas e
doenças é feito a partir de tratos culturais, como poda, limpeza, catação e outras práticas. A área
cultivada somente no estado de São Paulo gira em torno de 10 hectares. Depois de colhidas, as
flores são comercializadas em embalagens especiais que garantem sua integridade e são
transportadas sob refrigeração.

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