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EFEITOS DE SENTIDO EM LETRAS DE SERTANEJO

UNIVERSITÁRIO
SENSE EFFECTS IN LETTERS OF SERTANEJO UNIVERSITÁRIO

Patrícia Adriana Corrente1

Jacob dos Santos Biziak2


Resumo: Este artigo propõe uma reflexão acerca dos efeitos de sentido explícitos e implícitos
nas letras de duas músicas da modalidade sertanejo universitário da dupla Jorge e Mateus,
músicos que possuem notoriedade no cenário atualmente, e, como uma proposta de ensino de
Língua Portuguesa, a aplicabilidade desta reflexão em sala de aula. A abordagem inicial se deu
a partir do suporte teórico da Análise de Discurso, mais precisamente das obras de Eni P.
Orlandi (1992), levantando os conceitos como Discurso, Ideologia, Silêncio e Interdiscurso, que
encaminharam as reflexões acerca do conteúdo das letras de música. As letras escolhidas — o
corpus deste artigo — vêm carregadas de valores que podem sugerir o machismo e a violência
contra a mulher, porém de uma forma sutil, quase que imperceptível a quem as escuta. Neste
percurso, elas produzem sentidos explícitos, porém, quando se pensa nas formas silenciadas
do discurso, emergem os sentidos implícitos; o trabalho, então, gira em torno destes sentidos
que existem nas formas não-ditas dentro do jogo de linguagem. O objetivo foi fazer releituras
destas letras, a partir de um foco mais crítico e reflexivo acerca dos valores ali contidos e,
assim, instigar este aluno neste movimento reflexivo para que o mesmo possa desenvolver
seus próprios valores acerca do tema.
Palavras-chave: sertanejo universitário, machismo, discurso, mulher.

Abstract: This article proposes a reflection about the explicit and implicit effects of the lyrics in
two songs of the sertanejo universitário modality of the singers Jorge and Mateus, musicians
who have Analysis, notoriety in the current scenario, and, as a proposal of Portuguese
Language teaching, the the applicability of this reflection in the classroom. The initial approach
came from the theoretical support of Discourse more precisely from the works of Eni P. Orlandi
(1992), raising the concepts such as Discourse, Ideology, Silence and Interdiscourse, which
forwarded the reflections on the content of the lyrics of music. The lyrics chosen - the corpus of
this article - come loaded with values that may suggest machismo and violence against women,
but in a subtle way, almost imperceptible to the listener. In this way, they produce explicit
meanings; however, when one thinks of the silenced forms of discourse, the implicit meanings
emerge; the work then revolves around these senses that exist in the non-spoken forms within
the language game. The objective was to re-read these letters, from a more critical and
reflective focus on the values contained there, and instigate this student in this reflexive
movement so that it can develop its own values about the theme.
Keywords: university sertanejo, discourse, woman

1 Graduada em Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do


Centro-Oeste, no Paraná, e pós-graduanda em Linguagens Híbridas e Educação pelo Instituto Federal do
Paraná, IFPR, Campus Palmas - patriciasolim@msn.com
2 Instituto Federal do Paraná, IFPR, Campus Palmas, Colegiado de Letras e de Pós-Graduação

Linguagens Híbridas e Educação, Palmas, Paraná, Brasil. Pós-doutorando com o projeto de pesquisa
“Problemas de enunciação: possíveis relações entre Butler e Pêcheux no estudo discursivo
funcionamento da linguagem”, sob supervisão da Profa. Livre Docente Mônica Graciela Zoppi-Fontana, no
Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. – jacob.biziak@ifpr.edu.br

Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.4, n.1, março de 2019.

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1 INTRODUÇÃO

O sertanejo universitário é um gênero musical muito difundido e presente


atualmente, há quem goste e há quem não goste, e não é este o objetivo desta
discussão, mas como ele se faz presente e produz sentido com suas letras.
Dos anos 2000 para cá, este estilo musical vem se difundindo, pincipalmente,
entre os jovens e adolescentes. Tendo uma gama enorme de intérpretes e
compositores, é a modalidade musical de maior relevância em termos de
mercado, ou seja, é um estilo que está em alta atualmente, como nenhum
outro.

O gênero, assim como o sertanejo, dá ênfase a letras que enalteçam os


sentimentos, o amor, os relacionamentos, enfim, ele fala o que o sujeito que as
ouve vive. A partir disso, ocorrem os processos de identificação deste sujeito,
ou seja, ele gosta porque se identifica, mas talvez não tenha consciência do
que ouve, ou do que pode ressignificar a partir do que ouve. As letras causam
este efeito de “espelho” por parte dos seus interlocutores, pois, o que se
presume, é que as estratégias de alcance sejam baseadas em falar desta
representação deste sujeito que ama, que sofre, que se questiona, que vive os
percalços por qual os personagens das letras passam.

Para efeitos de análise, o corpus deste artigo serão duas letras de


sertanejo universitário da dupla Jorge e Mateus, e o procedimento de análise
se dará através dos efeitos de sentido a partir da interpretação de tais letras,
pensados numa proposta de aplicabilidade em sala de aula. O objetivo será
analisar que efeitos de sentido podemos obter através das letras de músicas
que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, inclusive jovens, numa
proposta de aula.

A partir da releitura/análise destas letras, há, também, uma necessidade


em se discutir as questões de gênero que norteiam a sociedade, as relações
de poder, determinadas por “papéis” dentro do sistema, que podemos obter
através dos sentidos múltiplos que tais manifestações artísticas provocam na
sociedade. À medida que o tema seja um assunto que deva constantemente
ser discutido em sala de aula, local de formação de leitores e de opiniões, os

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alunos devem ser expostos a tais discussões, pois, não só para sua formação
intelectual, opinativa, mas em suas formações ideológicas, em suas formações
como seres humanos, pensadores e, futuramente, formadores de opinião.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

O ensino deve ser pautado no desenvolvimento de um aluno que


perceba os textos que o rodeia e tenha capacidade de discernir, não só
decodificar, mas interpretá-los à medida que lhes são expostos, tendo a
capacidade crítica de perceber o que há por trás deles, ou seja, sua intenção
comunicativa. É preciso abrir o leque de possibilidades de textos a que este
aluno esteja exposto, para assim, o mesmo desenvolver e perceber as
posições que pode ocupar na linguagem, conforme Bakhtin (1997, p. 283) no
conceito de enunciação: “O enunciado - oral e escrito, primário e secundário,
em qualquer esfera da comunicação verbal - é individual, e por isso pode
refletir a individualidade de quem fala (ou escreve). Em outras palavras, possui
um estilo individual.”, por isso deste trabalho que propicie esta reflexão, que
favoreçam este movimento de não apenas decodificar, mas de explorar, de
significar e ressignificar textos e atribuir a eles a sua própria leitura,
ressignificando, assim, a sua própria linguagem e relação com a língua.

Cardozo (2014, p.128), dentro de uma perspectiva pós-estruturalista,


traz o que as teorias pós-críticas ao currículo educacional podem contribuir
para a educação:

As teorias pós-críticas inovam ao trazer ao campo as questões de


identidade/alteridade/diferença, considerando a subjetividade dentro
da pesquisa científica, dando espaço às relações de saber e poder
influenciando na cultura da sociedade, onde tensões advindas de
gênero, raça, etnia e sexualidade trazem à tona o multiculturalismo.

Ou seja, ao contrário do que antes era preconizado, — com relação à


educação tradicional — como o certo/errado, nesta perspectiva é
desconstruído, dando liberdade a interpretações, a opiniões, e não se atendo

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somente a fatos, mas abrindo as portas para que discussões importantes
sejam reforçadas, por meio do acesso a textos diversos, de diferentes gêneros
discursivos, trazendo liberdade tanto no currículo, quanto na formação cultural.
Assim o currículo de outrora é desconstruído, “as teorias críticas e pós-críticas
de currículo deslocaram a ênfase dos conceitos meramente pedagógicos de
ensino/aprendizagem para os conceitos de ideologia e poder como
construtores da identidade social” (CARDOZO, 2014, p.128).

Nesta perspectiva, Pêcheux (1995, p.162) traz a noção de Ideologia e,


quando pensamos na relação entre Ideologia e sujeito, mais especificamente,
na relação entre o aluno e a construção de sua Ideologia, e, por conseguinte,
de sua identidade como sujeito social, pensamos que todo sujeito é
atravessado pela Ideologia e esta se manifesta na e pela língua. A ideologia
possui uma dimensão do inconsciente e, portanto, não possuímos controle
sobre ela:

(...) o funcionamento da Ideologia em geral como interpelação dos


indivíduos em sujeitos (e, especificamente, em sujeitos de seu
discurso) se realiza através do complexo das formações ideológicas
(e, especificamente, através do interdiscurso intrincado nesse
complexo) e fornece ‘a cada sujeito’ sua ‘realidade’, enquanto sistema
de evidências e de significações percebidas – aceitas –
experimentadas. (PÊCHEUX, 1995, p.162)

Pensando o discurso como o lugar de encontro entre língua e ideologia,


temos o que Orlandi e Pêcheux o consideram como tal: “o efeito de sentidos
entre locutores” (ORLANDI, 1992, p. 20). A partir disso, o que se entende por
Interdiscurso nas palavras de Eduardo Guimarães (2005, p. 67): “o
Interdiscurso é a relação de um discurso com outros discursos. No sentindo de
que está relação não se dá a partir de discursos empiricamente
particularizados a priori. [...] Um discurso se produz como trabalho sobre outros
discursos”.

Para Orlandi (1992), o discurso é este efeito dos sentidos, entre o que é
dito e o que é silenciado, na relação de linguagem entre os que dizem, porém
este dito é, para ela, um já-dito, num cenário onde o “autor das palavras” tem

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esta “ilusão” de ser o proprietário do que diz — isto se dá através dos
“esquecimentos”, onde o locutor esquece-se de onde ouviu aquele já-dito pela
primeira vez — mas ele não é, pois suas palavras fazem parte de seu discurso,
um mosaico gigantesco de inúmeros outros discursos, produzido, ainda que
inconscientemente, através de suas formações discursivas, que foram
chanceladas por suas formações ideológicas: “As formações discursivas são
diferentes regiões que recortam o interdiscurso e que refletem as diferenças
ideológicas, o modo como as posições dos sujeitos, seus lugares aí
representados, constituem sentidos diferentes” (ORLANDI, 1992, p. 20).

Com relação ao Silêncio, a autora vê nele muito mais sentido do que é o


dito, dependendo do contexto daquele dizer, as formas dos sentidos que
poderiam existir, e que, ainda que não ditas, existem, têm e produzem sentidos
no jogo da linguagem. O silêncio constitutivo é aquilo que ficou de fora para se
obter sentido, que está implícito de propósito, que foi silenciado, numa relação
entre o que pode e o que não pode ser dito, “um não-dito necessariamente
excluído” (ORLANDI, 1992, p.76); já o silêncio local é o que sofreu censura, o
dito que foi interditado de existir.

Ao fazermos esta relação entre Discurso, Interdiscurso, Silêncio, formas


ditas e formas não-ditas e trazendo tudo isso para um análise de letras de
música, dentro de um contexto escolar, temos vários personagens que irão
trazer as formações discursivas para o jogo da linguagem, os autores das
letras, os alunos, o professor — pensando em sujeitos num ambiente escolar
— , mas, este professor, neste momento, também resgata suas formações
discursivas, através das formações ideológicas, quando constrói seu dizer aos
alunos, ele não é neutro, ninguém é, nenhum discurso é neutro. O trabalho é,
então, tentar fazer emergir os sentidos não-ditos, amenizados, silenciados nas
letras, tentar resgatar ali, ideologias que podem estar escondidas nos sentidos
formados a priori.

Levando em consideração a multimodalidade de textos como recurso


para o ensino, serão analisadas as duas letras de música, conforme Dionísio;
Vasconcelos (2013, p. 19) preconizam:

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Trazer para o espaço escolar uma diversidade de gêneros textuais
em que ocorra uma combinação de recursos semióticos significa,
portanto, promover o desenvolvimento neuro psicológico de nossos
aprendizes (...) vivemos em ambientes de aprendizagem cada vez
mais permeados pelos avanços tecnológicos. Além disso, como o uso
da linguagem é sempre um ato retórico, observar a relação entre a
retórica e a tecnologia é fundamental.

2.1 Proposta de aula

Para que o trabalho se desenvolva de maneira didática, o professor trará


o áudio da música, bem como a letra impressa aos alunos, e, também, a
mesma poderá ser exposta por meio de projetor. A letra deverá ser trabalhada
em forma de recortes, ou pelas estrofes, ou versos separadamente, sempre
levando em consideração o objetivo do trabalho. Deve-se falar aos alunos que
se trata de uma dupla de sertanejo universitário de grande notoriedade no
cenário musical atual brasileiro.

Texto 1:

“Propaganda (Jorge e Mateus)

Ela queima o arroz


Quebra copo na pia
Tropeça no sofá, machuca o dedinho
E a culpa ainda é minha

Ela ronca demais


Mancha as minhas camisas
Dá até medo de olhar
Quando ela tá naqueles dias

É isso que eu falo pros outros


Mas você sabe que o esquema é outro
Só faço isso pra malandro não querer crescer o olho

Tá doido que eu vou fazer propaganda de você


Isso não é medo de te perder amor
É pavor, é pavor
Tá doido que eu vou fazer propaganda de você
Isso não é medo de te perder amor
É pavor
É minha, eu cuido mesmo, pronto e acabou”

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Análise: “Ela queima o arroz/Quebra copo na pia/ Tropeça no sofá,
machuca o dedinho”: A que lugares/espaços, esta mulher (Ela) pertence, ou é
identificada como pertencente, que funções ela pode exercer, segundo esta
estrofe, porque pode ter sido feita esta escolha como recurso para identificar
esta mulher? Será que há aí alguma intenção em desmerecer ou descreditar
esta mulher? Por que é importante para o eu lírico identificar esta mulher
nestes espaços?

“Mancha as minhas camisas”: Por que é importante dizer isso? Se a


personagem não manchasse as camisas, teria mais crédito perante o olhar do
outro? Por que estes discursos ainda são representados?

“Só faço isso pra malandro não querer crescer o olho”: A personagem
não pode ser desejada? Pra haver uma estabilidade, a imagem dela tem de
estar “feia” perante os demais?

“É minha, eu cuido mesmo, pronto e acabou”: Esta mulher pertence a


alguém? Qual é o conceito de “cuidar” nesta perspectiva? O fato de ter um
relacionamento a impede ser admirada pelos outros? Por que o eu lírico
acredita que a mulher sendo descreditada/desmerecida passaria a ser mal
vista pelos outros? Em que medidas isso é garantia a um relacionamento?

Texto 2:

“Contrato (Jorge e Mateus)


Eu vou fazer um contrato
Se liga nas cláusulas
Assina embaixo
E não muda nada

Vai ter que acordar com um beijo todo dia de manhã


E aceitar café na cama com chazinho de hortelã
Ganhar massagem no pezinho na banheira de espuma
E, depois do jantar, a louça é minha e não é sua
Já vou deixando bem claro

Esse contrato é vitalício


Cê tá amarrada aqui comigo
Nesse contrato da paixão

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A rescisão é 1 milhão
De onde cê vai tirar isso?

Esse contrato é vitalício


Cê tá amarrada aqui comigo
Nesse contrato da paixão
A rescisão é 1 milhão
De onde cê vai tirar isso?
Cê tá amarrada aqui comigo”

Análise: “Eu vou fazer um contrato / Se liga nas cláusulas / Assina


embaixo / E não muda nada”: O eu lírico fala de uma posição onde decide o
que é melhor ou não para esta mulher, por que ele acha isso? A letra deixa
uma mensagem de que o homem sabe o que é melhor para a mulher, que ela
não tem controle sobre suas ações, decisões, portanto, o homem fará por ela.

Vai ter que acordar com um beijo todo dia de manhã / E aceitar café na
cama com chazinho de hortelã / Ganhar massagem no pezinho na banheira de
espuma / E, depois do jantar, a louça é minha e não é sua: Por que este “eu”
que fala pensa que são bons argumentos para se assinar um contrato que
envolva um relacionamento? É o suficiente? A opinião da mulher, aqui,
importa? Será que são coisas importantes para esta mulher?

Esse contrato é vitalício / Cê tá amarrada aqui comigo / Nesse contrato


da paixão / A rescisão é 1 milhão / De onde cê vai tirar isso? Há escolhas, aqui,
para esta mulher? Ela tem voz? Ela tem opções em assinar ou não? Parece
uma imposição? Neste momento, é importante o professor nortear a discussão
com os alunos sobre a violência patrimonial a que podem ser expostas as
mulheres, ou seja, como este eu lírico pode determinar o que esta pessoa pode
ganhar financeiramente? Há aí, implicitamente, um controle sobre esta mulher?

O mote central do trabalho com as letras deve ser como as mulheres


destas letras estão sendo caracterizadas, constantemente deve se haver o
questionamento se o que está dito nas letras pode representar/caracterizar
abuso. Por fim, deve se refletir por que estas músicas fazem sucesso, e que
sujeitos estão, aí, representados. Por que ela foi feita desta forma, quais as
intenções comunicativas na produção destas letras e para que público elas são
feitas?

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O trabalho com ambas as letras deve ser recheado de discussões com
os alunos, propiciando a eles o momento de ter voz, de emitir suas opiniões,
suas ideias e visões acerca tanto do material que está sendo trabalhado,
quanto dos valores ali propostos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a língua dentro de uma perspectiva discursiva é pensar que ela


será bombardeada constantemente com as formações discursivas dos falantes,
neste sentido, somos partes de um grande mosaico formado de sentidos
múltiplos, entre o que é dito e o que é silenciado. Na tarefa pedagógica, o
professor pode nortear este trabalho interpretativo, mas ele não é o
responsável pelos efeitos de sentido que os alunos terão ao ter contato com
textos. O que cabe ao professor é propor releituras, que não as óbvias, trazer
reflexões, discussões, debates, com relação às formas de sentido, ditas e
silenciadas, para que os alunos possam ver o que está por trás dos
enunciados. Este trabalho com as letras de música faz com que o aluno
desenvolva este movimento reflexivo numa perspectiva de análise de letra de
música de sertanejo universitário, para que, então, ele tenha parâmetros para
refletir sobre si mesmo, sobre sua linguagem, suas ideias.
A escola, como cenário formador de sujeitos, de opiniões, de ideais,
amparada por seus personagens, neste contexto, o professor, busca incentivar
o aluno nestas reflexões, já que ele ainda é um ser em formação,
demonstrando aí os valores que estão implícitos nos textos que os rodeiam, e
como eles próprios podem ser os propagadores destes valores, sejam bons ou
ruins. Por isso da importância em se trabalhar com uma variedade de textos,
não somente os do cânone literário, para que este aluno possa não só
decodificar e interpretar, mas refletir sobre o que lhe é exposto e formar seus
próprios valores a partir disso.

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REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch, 1895-1975. Estética da criação verbal /


Mikhail Bakhtin [tradução feita a partir do francês por Maria Emsantina Galvão
G. Pereira revisão da tradução Marina Appenzellerl. — 2’ cd. — São Paulo
Martins Fontes, 1997.— (Coleção Ensino Superior)

BRASIL. Parâmetros Currriculares Nacionais/Linguagens, Códigos e suas


Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, 2000.

CARDOZO, G. L. O pós estruturalismo e suas influências nas práticas


educacionais: a pesquisa, o currículo e a “desconstrução”. Pensares em
Revista, 2014. p. 118-134.

DIONISIO, A.P.; VASCONCELOS, L.J. Multimodalidade, gênero textual e


leitura. In: Bunzen, C. Mendonça, M. (org). Múltiplas linguagens para o
Ensino Médio – São Paulo: Parábola Editorial, 2013. P 19-40.

GUIMARÃES, Eduardo. Os Limites do Sentido: um estudo histórico e


enunciativo da linguagem. Campinas: Pontes, 3ª ed, 2005.

ORLANDI, E. P. As Formas do Silêncio. Campinas: Editora da Unicamp,


1992.
PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso - Uma crítica à afrmação do óbvio.
Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

Texto 1: Disponível em: https://www.vagalume.com.br/jorge-e-


mateus/propaganda.html. Acesso em 10/maio/2018.

Texto 2: Disponível em: https://www.vagalume.com.br/jorge-e-


mateus/contrato.html. Acesso em 10/maio/2018.

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Edição especial - VII SE²PIN - Seminário de Extensão, Ensino, Pesquisa e Inovação


do IFPR

Enviado em: 15 dez. 2018

Aceito em: 04 mar. 2019

Editor responsável: Mateus das Neves Gomes

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